terça-feira, 9 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21986: Facebook...ando (62): Um dos que participou na Op Mar Verde foi o 2.º Srgt Fuzileiro Domingos Demba Djassi, a quem dei trabalho depois de desmobilizado, e que desapareceu em 21 de março de 1975 (Mário de Oliveira, BIssau e Alcaide, Fundão)

1. Do Mário [Serra] de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68)

[foto à esquerda: Mário Serra de Oliveira, ex-1.º cabo escriturário, BA 12, Bissalanca, 1967/68; é autor de "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser" (Lisboa: Chiado Editora, 2012, 542 pp, preço de capa 16€, lirvo escrito sob o pseudónimo de Mário Tito; sob este perfil, também assina vários blogues]

(i) nasceu em 1945 em Alcaide, Fundão;

(ii) aos 14 anos, foi para Lisboa a trabalhar como “marçano” numa mercearia;

(iii) posteriormente, enveredou pela indústria hoteleira, trabalhando em Lisboa, Algarve e Viana do Castelo;

(iv) ingressou no exército e, após recruta, foi transferido para a Força Aérea (, como 1.º cabo escriturário, BA 12, Bissalanca, 1967/68);

(v) na prática, cumpriu a sua comissão em Bissau na Messe de Oficiais da FAP;

(vi) assistiu ao 25 de Abril, período de transição para a independência;

(vii) foi empresário hoteleiro em Bissau, antes de regressar definitivamente ao fim de 14 anos e meio, tendo trabalhado ainda  na Embaixada dos EUA em Bissau;

(viii) dali, embarcou num navio sismográfico, como cozinheiro chefe rumo a Inglaterra, Holanda, Escócia (Mar do Norte);

(ix) acabou de chegar aos Estados Unidos juntamente com sua esposa, ao serviço da embaixada de Portugal em Washington;

(x) mais tarde, trabalhou cerca de 20 anos na Embaixada da Alemanha, também em Washington;

(xi) reformado, voltou à sua terra natal;

(xii) tem página no Facebook > Mário de Oliveira;  tem mais de 35 referências no nosso blogue; entrou para a Tabanca Grande em


2. Comentário do Mário Serra de Oliveira a um poste da  página do Facebook da Tabanca Grande,  de ontem, e relacionado com o lançamento do livro "Ataque a Conacry: história de um golpe falhado", de José Matos e Mário Matos e Lemos (Lisboa, Fronteira do Caos, 2021, 170 pp.)

Entre eles [, os que participaram na Op Mar Verde], estava o 2.º Srgt Fuzileiro Domingos Demba Djassi... a quem dei trabalho depois de desmobilizado. (**)

A um ponto, e como eu tinha mais que um local, ele passou a ser o "meu braço direito" do restaurante "A Tabanca". Foi ali que, no dia 21 de Março de 1975, prenderam 3 ex-comandos africanos, sendo que, o 4.º estava de folga. 

É de notar que 21 de Março de 1975 foi uma 6.ª feira, dia de folga do Djassi, porque ele era muçulmano e, por isso estaria na Mesquita, junto ao bairro do Pilão. Quando prenderam os 3, também levavam outro que não tinha sido militar mas que tinha uma "barbicha" um pouco maior que a do Djassi. 

A ideia deles era que, o da barbicha fosse o Djassi. Eu fiquei à porta de mãos na cabeça, com 4 "kalas-ti-o-ti-fodes" apontadas por 4 paigecês  armados até aos dentes. Ali, eu, ao ver o da barbicha também debaixo de prisão... falei em crioulo para ele, "onde é ki bó na-bai? (como que perguntando "onde é que tu vais"!)... "R mim cá sibe" (eu não sei). respondeu ele. "Intão por ki bó no fala qui bó no foi tropa"? 

Porque eu sabia que ele não tinha sido tropa ao nosso lado. Foi a sorte dele, porque um paigecê pergunta-me onde esta o outro (, o Djassi). Não sei... porque ele está de folga. Bem, largaram o outro da barbicha, deram ordens para encerrar o estabelecimento e levaram os 3. 

Nunca mais os vi, nem ao Djassi. Mais tarde constou-se que foram 14.800 fuzilados ou mesmo enterrados ainda a mexer. Lá me safei, depois de me ameaçarem que me pusesse a pau, porque o nome constava na lista negra!!! Oh lari-lolela, tal e qual. 

Mais tarde encerrei tudo e procurei trabalho na Embaixada dos EUA já então em Bissau. A minha mulher foi para cozinheira do embaixador e eu para "encarregado do pessoal local".
__________



5 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luís, "kalas-ti-o-ti-fodes" sendo corruptela (crioulo) de kalashnicov é merecedora fazer parte do glossário do blogue.
Quanto ao resto é mais um triste testemunho para a história.

Abraço
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, tivemos a mesma ideia ao mesmo tempo...

Essa corruptela do nome da Kalash é de antologia!... E vou grafá-la no nosso pequeno dicionário, segundo a tua sugestão...

Estou a imaginar a (triste) cena, e ao mesmo tempo a apreciar a grande calma aparente do nosso Mário, na altura empresário em Bissau... Estou-me, de resto, a lembrar dos textos que ele aqui publicou há ja uns largos anos... Tem um apurado sentido de humor, ou não fora um dos nossos muitos portugueses das sete partidas que, desde miúdos, aprenderam a comer o pão que o diabo amassava...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... esclarecimento:
Domingos Demba Jassy [ou Domingos Ensá Djassi], foi registado no DFE21 como Cabo Fuzileiro Especial nº 006/69/G (desde a formação até à extinção daquele destacamento em 1974. Terá sido fuzilado pelo PAIGC, em data e local algures durante o ano de 1975.
Paz à sua Alma.

Valdemar Silva disse...

Conforme dados apurados pelo o nosso camarada José Marcelino Martins, no ano de 1973 a nossa força militar no teatro de operações era a seguinte:
- total no teatro de operações 149.090

- total na Guiné 32.035
- tropa metropolitana 25.610
- tropa recrutamento local 6.425

É referido o fuzilamento de cerca 14.800 naquela data, provavelmente em Bissau não haveria este número de ex-nossos militares, pelo que para se chegar a este número estariam incluídos muita gente não militar entre os fuzilados.
Seria importante informação mais precisa acerca deste número de fuzilamentos.

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Caro veterano FZE/RN José Joaquim Caldeira Marques Monteiro de Macedo,
Mtº obg pelo seu testemunho; e pela informação relativa à data e local de fuzilamento do malogrado FZE Domingos Demba Djassi.
Melhores cumprimentos,
JC Abreu dos Santos