Pensar em Voz Alta
1. Correio do Torcato Mendonça.
Deixemo-lo discorrer, pensar em voz alta, sem comentários, limitando-nos apenas a sublinhar uma ou outra passagem.
Meus Caros Editores,
Escrevi uma mensagem com um "esqueleto". Deixou de o ser e segue devidamente coberto. Se presta ou não é outro assunto. É uma terapia, blogoterapia…as madrinhas de guerra não seriam uma aeroterapia?
Neste dia de chuva e mais chuva tratei de vários atrasos…acabei por passar pelo blogue e lembrei-me de mandar este escrito. Foi antes junto a outro – O Livro – em esqueleto coitado. Se está vestido, vai…
Li o Texto do ex- paraquedista Rebocho e, se me é permitido, faço (...) breves considerações:
1- O acesso à correspondência de alguém, só deve ser invocada se antes o " dono dela " deu autorização. Ou não ficou esclarecido ou eu não percebi. Há uma autorização a outra pessoa.
2- Um furriel e um alferes milicianos eram praticamente iguais. Um tinha 3 vês, virados para baixo a que chamavam divisas (salvo erro), o outro tinha um traço chamado galão. Iam para a tropa para o CSM ou COM por terem habilitações literárias diferentes. A instrução era igual ou pouco diferia. Estou certo ou errado?
Conheci furriéis que deviam ser eles a comandar os que o comandavam a eles… No CIOE os cabos milicianos mandavam os aspirantes fazer uma completa de x… Meu aspirante uma… olha toma.
Porque não podia o Casimiro saber…. Bem se fosse dissertar política internacional com o Professor Adriano Moreira – por quem tenho o maior respeito – certamente era diferente…pois…presunção e água benta…
3- Isto é que vai aqui uma moenga…é do tempo. MAS: OS MILICIANOS SÃO MILICIANOS E OS DO QP SÃO DO QP. E AQUI HÁ UM PROBLEMA DO QP!
O 1º Sargento da minha Companhia tinha um trauma por nunca poder ter galões… O Parreira Fur Comando conheceu-o noutra comissão em Bigene, creio eu! Ora eu gosto e respeito muita gente que é ou foi do Quadro Permanente ou do QP.
PENSAR EM VOZ ALTA
A - (História; Guileje; a Verdade necessária Sempre)
1 – Bissau; - hoje, 23 de Janeiro 08. Já é passado. Estamos a 27, na rápida voragem dos dias.
Dizia eu nesse dia 23, em mensagem desabafo, ao Virgínio Briote:
Virgínio Briote,
hoje, pela manhã, como é meu hábito, abri o blogue. Li o Post sobre a diáspora. Àquela hora tinha intenção de o fazer a correr. Mas não, voltei atrás e reli. No dia anterior, se não me engano, aconteceu-me ler, parar e voltar atrás, reler e ler até ao fim um escrito de um ex-combatente de Mondim de Basto. Agora, embora por razões diferentes voltei a fazê-lo.
Nos últimos dias, comecei, perante o que leio, o teor dos assuntos abordados e por outras razões ou motivos a questionar-me sobre o blogue. Fiz aquele comentário ao P 2456 – finito.
Ontem li no JN, pag. 60, Olhares cruzados…uma visão de Diana Andringa sobre a guerra colonial. O M. Lopes mandou e-mail com o que o jornalista escreveu. Diz ela ao jornalista: … lá não há nenhum ódio aos portugueses…há uma espécie de turismo sentimental…!
Concordo com o turismo, desconheço os ódios. Não os tenho pessoalmente a ninguém, mas isso não interessa.
Leio o Post da diáspora; a troca de mensagens, a ausência de quadros guineenses, a Crónica de um Descrente e o poema relatando o Bissau de hoje, os comentários que depois aparecem – quer sobre estas questões, quer sobre o Simpósio – concordo, não ignoro o que naquela terra se passa e penso: de facto isto fortalece as minhas dúvidas dos últimos tempos.
Havendo, para mim, situações dissonantes “fiz” um escrito. Chamar-lhe-ia – Heróis Obscenos ou Geração do Hummer ou Da Mata ao Dancing. Perdeu o titulo o interesse, fiz delete e tudo se esfumou… é melhor assim.
O escrito ficou na cabeça. A idade vai diluir e escrever não se faz quando queremos… Acho o meio milhão de visitas uma vitória, vista de vários prismas, de um homem – o Luis Graça. Mesmo que ele queira partilhar com outros; o livro do Beja Santos um acontecimento bonito; o Simpósio será o que os homens de boa vontade quiserem e oxalá sirva o desenvolvimento de uma terra de que gosto, mas não é minha e, a palavra principal é dos guineenses… um país com uma mortalidade infantil de 200 em cada 1000 nados-vivos, um país que lutou de armas na mão… Bem, não continuo.
É certamente ilegítimo questionar assim. Mas vejo um pastor católico (sou anticlerical) ir fazer, com outros, uma viagem para entregar um Jeep, medicamentos e etc. Oxalá tudo corra bem para eles. Incongruência minha? Talvez! Mas porque não ficam com um Hummer? Gasta muita gasolina? Ou podem dizer: pois é mas tu (eu) nunca mais voltas á Guiné.
Certo. Eu sei que não posso voltar. Nada me inibe, contudo, de criticar ou lutar pela ajuda de um povo que merece uma vida melhor e desmerece certos compatriotas…páro mesmo… concordo com o teu comentário e a resposta; com o Descrente e o Poeta esperando que se tornem crentes e não tenham, no futuro, razão para escrever assim.
Espero sair uns dias, talvez ainda esta semana. Não sei ainda ao certo, como não sei a minha relação bloguista. Depois de meados de Fevereiro se verá. Escrevo, sobre vários assuntos e acrescento a Guiné. Tenciono, recomeçar as Estórias de José II e fazer uma análise, em abordagem diferente, à minha participação, como Militar e graduado do Exército Português.
Estive no lado errado da História? Nada disso! Causa injusta? Bem, vamos fazer a abordagem por aí…
Não faço cc, como é meu hábito, ao Luis Graça e por isso o endereço é diferente. Talvez guarde e reencaminhe depois. Não o chateio agora. Eram só duas palavras. Assumo-as todas Camarada. Sempre.
Um abraço,
Depois destas palavras, podia e devia estar mudo e quedo deixando fluir os acontecimentos. Não vou, com qualquer escrito travar ou desviar minimamente algo do seu normal percurso. Posso até parecer um sujeito sem prática solidária. Mas:
Continuo, neste pensar em voz alta, correndo o risco ou tendo a certeza de estar a mensagem fora de contexto do que, a seguir abordo.
Talvez não tenha sido explícito. O que a seguir escrevo não ser a continuidade do atrás escrito. Prefiro contudo continuar a pensar em voz alta.
2 - Hoje, 27 de Janeiro, no Suplemento P2 do jornal O Público, a páginas 3, vem uma frase de Konrad Adenauer – “A História é a soma das coisas que poderiam ser evitadas”. Concordemos ou não com ele, politicamente ou nesta frase, se a adaptarmos á Guerra – Colonial ou do Ultramar – sentimos haver, nesta definição, algo de verdade e correlacionada ela.
Efectivamente, a história poderia ter sido escrita de outra forma se a soma das coisas tivessem sido evitadas. Foi uma guerra que, se não fosse o autismo da classe dirigente, mesmo depois de iniciada, poder-se-ia ter evitado. A generalização a toda a classe dirigente pode ser injusta. Houve quem pensasse, nesse tempo, de forma diferente.
Não cabe aqui e agora fazer história. Deve-se, isso sim, relatar as memórias, os factos vividos, da forma mais fiel e real que nos for possível.
O somatório desses relatos levará, quem de direito a fazer uma análise historiográfica correcta. No caso concreto, serão pois os historiadores a juntar essas coisas. Contudo, aqui interessa focar mais a Guiné, sabendo antecipadamente a impossibilidade de dissociar uma parte do todo. Conscientes disso, sabendo as limitações para uma análise de uma guerra na qual participamos, pretensioso seria ir mais além do que comentá-la de forma ligeira. Vejamos então:
Na Série Televisiva – RTP1 – A Guerra, do jornalista Joaquim Furtado, existem depoimentos importantíssimos para se compreender a Guerra nos vários cenários.
Pode ser um trabalho valioso e um contributo importante para o estudo futuro desse período da nossa história. É um trabalho jornalístico, parece-me não pretender ir mais além, tendo, nesta I Série, valiosa pesquisa documental e importantes depoimentos.
São relatos, com opiniões divergentes de participantes de um e do outro lado. Essa riqueza de informação será determinante, no futuro, que se quer breve, juntamente com outros trabalhos, para compreender e escrever, essa parte da nossa história e dos outros povos intervenientes.
Esperamos pela II Série, pois, certamente, no seguimento da primeira mais esclarecedora e rica se tornará, propiciando os tais importantes elementos de estudo.
O filme de Diana Andringa e do guineense Flora Gomes – As Duas Faces da Guerra – tem abordagem diferente e dá-nos, da guerra na Guiné, uma visão mais profunda.
É um documentário que mostra a guerra, como o título indica em, pelo menos, duas visões diferentes. Há analogia no título com uma moeda, o verso e o reverso. Não é moeda de “Eixo Vertical”. Ou seja, ao passarmos do verso para o reverso temos a visão diferente e livre a abrir-nos caminhos para, no futuro ou porque não já agora, serem exploradas as vivências de quem esteve dos dois lados do conflito e tem dele, logicamente, opinião ou visão diversa.
É um Documentário importante. Sentido fortemente por quem assiste ao filme. Principalmente pelos que viveram aqueles acontecimentos. Sem nos apercebermos somos para lá transportados.
Os relatos são feitos de forma pausada, clara, objectiva. Fala-se da ausência de ódios, entre os antigos intervenientes – não sejamos ingénuos, entre a maioria deles – ou ainda do sonho de Amílcar Cabral. Como seria a Guiné sem o seu desaparecimento?
Temos outro relato importante sobre a internacionalização da guerra e a participação de Cubanos, Jugoslavos, Russos e outros.
Pena não termos uma mais forte amostragem ou depoimentos sobre a chacina de muitos Guineenses que ao nosso lado lutaram.
É um documentário a merecer reflexão e debate. É imprescindível para a análise da nossa memória colectiva futura.
No Blogue, Luis Graça e Camaradas da Guiné, existem já inúmeros depoimentos, comentários e relatos de vários acontecimentos importantes do conflito. Felizmente nem sempre convergentes. Alguns, a que foram chamadas questões fracturantes, essas divergências são mais fortes. Noutros, sobre questões diversas, a crítica, se correctamente feita, é sempre salutar, repõe ou aproxima-se, assim mais da verdade.
Curioso, foi ler a chamada de atenção a um tertuliano (creio eu) menos atento, de Diana Andringa sobre a I Série de A Guerra, esclarecendo a interrupção e a vinda de uma II Série. Desse modo, defende o seu colega Joaquim Furtado. Não com o intuito de defesa mas, quanto a mim, com o objectivo de esclarecer.
De forma diferente temos o esclarecimento, correcto e oportuno, do nosso Camarada de Artilharia e dos Comandos a um Camarada Paraquedista. Entre militares parece mais agreste a resposta. Nada disso, quanto a mim claro.
Efectivamente não há peças de artilharia 10,6. Havia, isso sim, obuses 10,5. Quanto a quem era ou não o Comandante do CAOP 5 foi, pelo Coronel Nuno Rubim, novamente e documentalmente esclarecido.
Talvez seja o acontecimento mais dramático da guerra na Guiné. Por isso, o cuidado no relato dos factos do que efectivamente aconteceu. Em debate sereno, certamente com opiniões diversas dos acontecimentos vividos pelos intervenientes, procurando consensos pois, só assim, se poderá descrever, em verdade, esse período.
É difícil relatar tão dramáticos acontecimentos. Mesmo feito por quem os viveu. Até a semântica pode adulterar o relato. Abandonar versus fugir.
A decisão de abandonar, de sair de um aquartelamento militar deve ser terrível, dificílima para ser tomada. Mas esse acontecimento tem que ser relatado. Analisado com os depoimentos das duas partes. Não só aquele, outros daquela guerra devido á sua importância, merecem tratamento profundo porque alguns são determinantes no desfecho da mesma.
Temos os exemplos do Como, de ficar e mais tarde abandonar Cachil, Balana, Madina do Boé e do desastre do Cheche. Ou acontecimentos passados em Gadamael e, no Norte, em Gudaje, ou o assassinato de quatro oficiais e outros militares – mais conhecido pelo caso dos 3 majores – ou certas tomadas de posição militar e política; por uma Guiné melhor, não bombardear ou não emboscar em certas ocasiões.
Por isso a necessidade de serem os intervenientes, se possível de ambos os lados, a relatar o outrora acontecido, sem receios de criticas, de divergências, de fracturas. A guerra, contada por quem a fez será certamente, para o futuro histórico mais fiel.
Devemos aceitar com humildade as vivências diferentes, a critica, sempre salutar se objectiva – repito –, para contribuir no esclarecimento do período 1961/74, na Guiné 36/74, aqui mais focado.
Não o podemos dissociar de toda a Guerra Colonial, do Ultramar ou de Libertação e incluir o estudo da história da colonização daqueles territórios, das suas gentes e, se feita agora, mais de trinta anos depois da independência, tentar entender o que se tem passado, sem análise tida com ingerência, ou que se passou nos anos de pós independência.
Daí a importância que dou, de forma subjectiva claro, ao Simpósio de Guilije. Pode abrir-se uma porta de futuro. Pode a nossa geração – a que fez a guerra – ou, porque não todos os que o desejarem, contribuir par um desenvolvimento conjunto, partilhado em liberdade, em desenvolvimento sustentado, pois disso estão, ainda hoje, carentes os nossos Povos.
Não queria, por razões óbvias – apesar da minha ínfima participação – falar da importância do Blogue Luis Graça e Camaradas da Guiné. Parece-me contudo ser, para o relato histórico desse período – 63/74 – de enorme importância.
É difícil ou utópico mesmo pensar que a verdade plena vai ficar plasmada no relato histórico. Será o relato mais fiel e verdadeiro possível. Era óptimo conseguir isso.
Vou fazer uma citação: - de quantas mentiras se faz uma verdade – de J. Eduardo Águalusa.
Aproveitamento meu, em parte desconstextualizada do que ele quis dizer. Serve-me no entanto para a minha visão histórica de muitos acontecimentos e isso não o queria para estes.
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Revisão / Fixação de texto / Sublinhados: vb