Mostrar mensagens com a etiqueta Flora Gomes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Flora Gomes. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23681: Agenda cultural (818): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - Parte II: Guiné, Angola, a memória e as novas batalhas. Mesa redonda, dia 8, às 15h00 (Cinema São Jorge) e às 19h00 (Cinemateca)






Fotogramas, com a devida vénia, do filme de Flora Gomes, o pai do cinema guineense (n. Cadique, 1949), "Mortu Nega" (Morte Negada, em português, ou "aqueles a quem a morte recusou")... Voltou a passar no doclisboa, este ano, no passado dia 6 de outubro.. Mas está aqui disponível, no You Tube (falado em crioulo, com legendas em inglês e em português), em versão integral. Tem como protagonista uma poderosa e bela figura feminina, Diminga, uma "mãe coragem" (interpretada por  Bia Gomes). Ver aqui sinopse, enquadramento histórico, ficha artística e técnica do filme.

Na caixa de comentários ao poste P23676 (*), escreveu o António Rosinha: "Conheço de Flora Gomes dois filmes sobre a Guiné, este, "Mortu Nega", e os "Olhos Azuis de Onta". Muito interessantes. Penso que já poderia ter produzido outros sobre a sua terra" (6
de outubro de 2022 às 17:06).

A "primeira longa-metragem do realizador guineense Flora Gomes" já passou em tempos ba RTP, mas não o encontro na RTP Play, possivelmente por causa dos direitos de autor). Sinopse:  "Este filme, nas palavras do seu autor, é uma parábola africana. Conquistada a independência das colónias e eliminado o colonialismo português, a questão que se levanta é a África do século XXI. Uma África ? e é isso que Flora Gomes insinua ? que África não será sem as suas crenças, os seus mitos, a sua filosofia, a sua cultura." 

1. Este ano, na sua 20ª edição, o doclisboa tem na secção "Retrospectiva", dedicada à "questão colonial", um total de 35 filmes (de curta, média e longa metragem), que vão passar entre 6 e 16 deste mês. Continuamos, a título meramente informativo, a listar os filmes que vão passando cada dia. Neste caso, no próximo dia 8, sábado.

08 Out — 10:30 / 87’
Culturgest Pequeno Auditório

15 Out — 19:00 / 87’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro

A obra de Mario Marret, só recentemente reencontrada e restaurada, filmada em plena guerra na Guiné, já aflorava a questão das escolas de mato – um eixo fundamental da acção do PAIGC nas zonas libertadas. A relação entre a terra, a luta e a aprendizagem estão no coração dos dois filmes de Filipa César e Sónia Vaz Borges, a partir do arquivo em Navigating the Pilot School e da experiência física e sensorial em Mangrove School.


Nossa Terra
Mario Marret
1966/Guiné Bissau/35’

Nossa Terra é um filme de combate, um filme urgente, rodado durante a guerra de guerrilha na luta pela independência da Guiné-Bissau em meados dos anos 1960. “Era um testemunho. Não interessava o formato, a câmara, essas coisas todas. Estava um cineasta presente. O cineasta tem de estar no lugar onde o mundo se [...]


Navigating the Pilot School

Navigating the Pilot School
Filipa César, Sónia Vaz Borges
2016 /Portugal /12’

Frequentemente subestimadas enquanto tal, as guerras de libertação anti-coloniais foram também empreitadas de educação a grande escala. Considere-se as estratégias educativas seguidas pelo agrónomo Amílcar Cabral e o PAIGC. Entre elas, a Escola Piloto para “formar os melhores estudantes das nossas escolas nas zonas libertadas e [serem] integrados no nosso [...]

Mangrove School

Mangrove School
Filipa César, Sónia Vaz Borges
2022/Alemanha, França, Portugal/35’

“Voltámos à Guiné-Bissau para investigar as condições dos estudantes nas escolas da guerrilha nos mangues. Em vez disso, rapidamente nos tornámos nós próprios os alunos e a primeira lição era como andar. Se se caminhar direito, colocando primeiro o calcanhar no chão, imediatamente se escorrega e cai nas represas dos [...]

08 Out — 15:00 / 90’
Cinema São Jorge Sala 2

MESA REDONDA: A QUESTÃO COLONIAL

08 Out — 19:00 / 97’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro


A beleza que atravessa o Carnaval da Vitória, que regista o primeiro Carnaval de Angola independente em 1976, não esconde o trauma de vinte anos de guerra colonial, que se prolongará na violência da guerra civil. Vinte anos mais tarde, Sissako parte em busca de um amigo, e de si mesmo, e encontra um país cujas feridas resistem às simplificações históricas.

Esta sessão decorre no âmbito do projecto FILMar, operacionalizado pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, integrado no Mecanismo Financeiro de Apoio EEA Grants 2020-2024.



Carnaval da Vitória

Carnaval da Vitória
António Ole
1978/Angola/39’

Filmado nas ruas de Luanda, Lobito e Benguela, o filme foca em particular os trabalhadores que se dividem entre os seus locais de trabalho e os preparativos e ensaios que culminam no dia da primeira grande festa da Angola independente: o “Carnaval da Vitória”. Esta sessão decorre no âmbito [...]




Rostov-Luanda

Abderrahmane Sissako
1997/Alemanha, Angola, Bélgica, França, Mauritânia/60’

Abderrahmane Sissako saiu da Mauritânia para Rostov, na Rússia, em 1980, para estudar cinema. Aí, fez amizade com Baribanga, um combatente pela liberdade angolano. 16 anos mais tarde, com uma fotografia de Baribanga no bolso, Sissako decide ir a Angola, um país ainda em convulsão, e procurar o seu companheiro há muito perdido. O [...]

(Continua)

[Seleção / revisão / fixação de texto / subtítulos / negritos / itálicos, para efeitos de edição deste poste: LG. ]
__________

Nota do editor:

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23676: Agenda cultural (817): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - Parte I: Lugares: Guiné-Bissau, Senegal, Argélia, Angola, dias 6 e 7


Fotograma do filme "J'ai huit ans" (França, 1969, 10'). Cortesia de doclisboa2022


1. Aí está o nosso querido e aclamado doclisboa, na sua 20ª edição. Um  slogan que já se tornou um ícone: "Em Outubro todo o mundo cabe em Lisboa"... É uma referência a nível mundial este festival do cinema (documental). Organização notável da Apordoc - Associação pelo Documentário. Palmas para eles e elas que fazem estas coisas acontecer na nossa terra. 20 edições é obra. E a continuidade sem quebra da qualidade...

Das diversas secções (são 12), destacamos, para os leitores do nosso blogue, a Retrospectiva > A Questão Colonial. 

Vão passar, só nesta secção 35 filmes de curta, média e longa metragem.  Todos os filmes são legendados em português. Com a devida vénia, selecionámos os filmes que vão ser exibidos hoje e amanhã, na Cinemateca Portuguesa e no Cinema São Jorge.   

Eu, que sou fã do doclisboa, desgraçadamente, vou estar, durante a semana, na Lourinhã, a fazer fisioterapia... Espero que alguns dos nossos cinéfilos possam lá dar um salto e escrever duas linhas (críticas) sobre um ou mais destes filmes... Alguns, seguramente, serão polémicos...

Vamos apresentando, ao longo dos dias, a programação relativa a esta secção. Destaque para o filme "Mortu Nega" do realizador Flora Gomes (Guiné Bissau, 1988, 93’), considerado o filme "fundacional" da cinematografia guineense. Passa hoje, dia 6 de outubro, às 15:30, na Cinemateca Portuguesa,  Sala M. Félix Ribeiro.

Quem não puder vê-lo na sala de cinema, tem-no aqui, no You Tube. Falado em crioulo, com legendas em inglês e em português. Versão integral. 

Flora Gomes nasceu em Cadique, em 1949. Ver aqui sinopse, enquadramento histórico, ficha artística e técnica do filme "Mortu Nega", que em português quer dizer "morte  negada"). 

2. O texto  e as imagens, a seguir, são extraídos do programa do doclisboa'22, incluindo as sinopses dos filmes que aqui se reproduzem para mera informação dos nossos leitores. Como não os vimos, a não ser alguns excertos do "Mortu Nega", não podemos ter opinião sobre eles:

Parafraseando Sartre, algumas reflexões sobre a questão colonial… no cinema. No caso, cingimo-nos à história recente, ao continente africano e às antigas colónias portuguesas e francesas. 

O ponto de partida é o fim da Guerra da Argélia – simbolizando o fim das colónias francesas, habilmente mantidas sob o jugo neocolonial – que coincide com a decisão do Estado Novo de avançar para a guerra colonial. 

Rapidamente, a revisitação dos materiais das “colecções coloniais” revela-se desajustada, condicionada à recontextualização, que reduz o cinema ao documento. 

A viagem deriva, então, para os cineastas solidários e sobretudo o nascimento dos cinemas africanos. Resta saber se, como Ousmane perguntava a Rouch, quando houver muitos cineastas africanos, os cineastas europeus deixarão de fazer filmes sobre África.

Dois momentos fundacionais do cinema guineense e da colaboração de Flora Gomes e Sana na N’Hada, gestos híbridos entre ficção e reconstrução, em busca da imagem de um país e de um povo. O funeral de Amílcar Cabral, finalmente realizado com honras de Estado após a independência, simboliza o nascimento da nação e "Mortu Nega" o seu nascimento cinematográfico.

06 Out — 15:30 / 117’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro




O Regresso de Amílcar Cabral
Djalma Fettermann, Flora Gomes, José Bolama, Josefina Crato, Sana na N'Hada
1976/Guiné Bissau, Suécia/32’

Primeira produção de cineastas guineenses após a libertação do colonialismo português em 1974, O Regresso de Amílcar Cabral documenta a transferência dos restos de Amílcar Cabral de Conacri (onde foi assassinado em Janeiro de 1973) para Bissau em 1976. Uma cobertura intrigante do evento solene, gravações de canções guineenses e [...]

Mortu Nega

Mortu Nega
Flora Gomes
1988/Guiné Bissau/93’

Mortu Nega cobre o período entre Janeiro de 1973, durante os meses finais da guerra contra os portugueses, até à consolidação de uma Guiné-Bissau independente, em 1974 e 1975. O filme começa no mato com um transporte na rota de abastecimento de Conacri para a frente. A heroína, Diminga, e [...]

06 Out — 19:00 / 86’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro



Africa on the Seine

Afrique sur Seine
Mamadou Sarr, Paulin Soumanou Vieyra
1955/Senegal/21’

De acordo com o Decreto Laval dos anos 1930, os projectos de filmes estavam sujeitos a censura prévia. Neste contexto, os realizadores não obtiveram autorização para filmar em África e, em vez disso, fizeram esta curta sobre as vidas de africanos em Paris. O filme revela questões de estudantes sobre [...]


La Noire…
Ousmane Sembène
1966/França, Senegal/65’
Diouana, uma jovem de uma aldeia senegalesa, deambula por Dacar todos os dias à procura de trabalho. Apesar da enorme oferta de mulheres desempregadas, dada a sua subserviência, é “escolhida” para ama de uma família francesa rica. Quando tem autorização para se mudar para França para viver com eles, parece [...]



07 Out — 16:45 / 68’
Cinema São Jorge Sala 3

Nestes filmes, rodados por cineastas militantes e solidários que desafiaram a censura em França, condensam-se os anos de violência da Guerra da Argélia – vividos no presente e na frente de combate em Algérie en flammes ou nas imagens que dela trazem as crianças exiladas na vizinha Tunísia em J’ai huit ans – e a força de esperança do país no Ano Zero da independência.


J'ai huit ans

J'ai huit ans
Olga Baïdar-Poliakoff, Yann Le Masson
1962/França/10’

Crianças argelinas, sobreviventes da Guerra da Argélia e refugiadas em campos tunisinos, mostram os acontecimentos trágicos que viveram através de desenhos que elas próprias fizeram. Banido em França durante 12 anos e apreendido 17 vezes, o filme foi sobretudo exibido clandestinamente.


Algérie en flammes

Algérie en flammes
René Vautier
1958/França/23’

Primeiro filme rodado no maqui do Exército de Libertação Nacional em 1956-57. O objectivo destas imagens da guerra, filmadas na zona de Aurès-Nementcha, era manifestar apoio popular à organização armada e encorajar o diálogo para a paz. O filme circulou imediatamente pelo munto inteiro, excepto em França, onde foi exibido [...]

Algérie, année zéro

Algérie, année zéro
Jean-Pierre Sergent, Marceline Loridan-Ivens
1962/França/35’

Seis meses após o fim da guerra, o filme esboça um retrato comprometido de uma Argélia recém-independente a braços com a enorme tarefa de reconstrução social e económica. O país é retratado pelas suas vozes rurais e urbanas, carregando as cicatrizes do colonialismo e a ameaça do terrorismo da OAS [...]


07 Out — 19:30 / 68’
Cinemateca Portuguesa Sala Luís de Pina

Uma sessão no limiar da história de Angola, entre a independência duramente conquistada e a ameaça da guerra civil, num breve momento de esperança no futuro da jovem nação. A passagem da câmara das mãos dos camaradas cineastas europeus para os jovens cineastas angolanos acontece também neste momento que o futuro não concretizou.


Nascidos na Luta, vivendo na Vitória
Asdrúbal Rebelo
1978/Angola/18’
Retrato das crianças nascidas ainda durante a guerra, membros dos Pioneiros – a organização juvenil do MPLA. Como o título prenuncia, o filme é feito num momento em que, no rescaldo do trauma da Guerra de Independência, se vive um momento de esperança no futuro de Angola e da revolução.


Guerre du peuple en Angola

Guerre du peuple en Angola
Antoine Bonfanti, Bruno Muel, Marcel Trillat
1975/França/51’´

O filme centra-se na situação vivida em Angola em Junho de 1975, quando a declaração de independência desencadeia uma guerra civil. Os cineastas, que aí se deslocaram para formar jovens angolanos, regressam com este filme, apresentando de forma inequívoca a guerra como a luta das pessoas e do seu movimento [...]

(Continua)

[Seleção / revisão / fixação de texto / subtítulos / negritos / itálicos, para efeitos de edição deste poste: LG. ]
_________

Notas do editor:

Último poste da série > 5 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 – P23675: Agenda cultural (816): "Despojos de Guerra", mini-série da SIC, a ir para o ar nos próximos dias 6; 13; 20 e 27 de Outubro, no fim do Jornal de Noite. No dia 20, o episódio é dedicado aos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa, "o casal mais strelado do mundo"

quarta-feira, 6 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11203: PAIGC: Dispositivo militar, antes do 25 de abril (História do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74, ed. revista, melhorada e aumentada por Jorge Canhã0)











N a zona oeste,. e ao longo da fronteira senegalesa, o PAIGC beneficiava das bases de M' Pacck, Campada, Sikoum, Cumbamory, e Hermacono






Na região leste, o PAIGC dispunha das bases,  situadas em território da Guiné-Conacri, de Foulamansa / Kaorané / Missirá, Foulamory, Kambera [, também designada por Madina do Boé]  e Koundara (centro logístico)


Na região sul, o PAIGC dispunha de duas bases fundamentais, situadas na Guiné-Conacri, Kandiafara e Boké (centro logístico).





1. Dispositivo militar do PAIGC. Infografia constante da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), conforme versão em formato pdf, revista, melhorada e aumentada por Jorge Canhão, ex-fur mil at inf, 3ª CCAÇ.

Desconheço  a origem deste documento, o mapa  com a distribuição das forças do PAIGC. Mas presumo que seja de meados de 1973, e seja nosso, oriundo do próprio Quartel General (QG).  O mapa, inserido logo no início do documento, ocupa uma página. Foi recortado por mim, em diversas partes (quadrantes), de modo a tornar-se mais legível. È pena que o Jorge não tenha citado a fonte. Mas tudo indica que é, de facto,  um documento nosso,  até pelas  letras desenhadas a escantilhão.(Repare-se que há correções, a "corretor branco",  da responsabilidade do Jorge Canhão):

No início da história da unidade  há uma nota do Jorge Canhão, que diz o seguinte: 

"As páginas deste documento em pdf não correspondem, como é obvio,  às páginas dos documentos originais, devido às alterações de forma, feitas por mim.

Fiz este trabalho no sentido de não se perder através dos tempos como mais facilmente acontece com documentos em papel, fi-lo também e principalmente como homenagem aos camaradas mortos na Guiné, assim como todos aqueles que já não estão connosco, mas que fizeram parte deste grande grupo de camaradas que pertenceram ao Batalhão de Caçadores 4612/72.

Quero também agradecer aos camaradas que nos forneceram fotocópias da História do Batalhão, e aqueles que por outros meios também me ajudaram e deram o pontapé de saída para que este trabalho fosse possível.

Os mapas aqui presentes foram tirados de livros editados, e outros documentos foram conseguidos na internet. Abraços para todos. Jorge Canhão, ex-furriel miliciano atirador de infantaria da 3ª Compª do BCaç 4612/72.

É também chegada a altura de homenagear o nosso camarada Jorge Canhão, que está a recuperar de recentes problemas de saúde. Desejamos-lhe rápidas melhoras e queremos que regresse, em boa forma, ao nosso convívio. Vamos fazer-lhe uma grande receção em Monte Real, no dia 22 de junho de 2013, por ocasião do VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande.

2. Uma leitura rápida do mapa permite-me tirar as seguintes conclusões:

(i) O PAIGC nunca conseguiu um presença efetiva, em homens e armas, no chão manjaco (Teixeira Pinto), no chão felupe (São Domingos), no chão bijagó  (Bolama), no chão fula (zona leste, eixo Bambadinca-Bafatá-Nova Lamego, com centro em Bafatá);

(ii) Foram muito importantes, para o PAIGC, ao longo da guerra (1963/74) as suas bases de retaguarda, nos dois países limítrofes, a começar pela Guiné-Conacri, que sempre apoiou abertamente a guerrilha, como no próprio Senegal, que tolerava a presença dos guerrilheiros...

(iii)  Com tempo e pachorra, poder-se calcular os efetivos totais do PAIGC, sabendo-se que, de acordo com o Supintrep 31, as equivalências numéricas eram as seguintes:

Bigrupo = 44
Bigrupo reforçado= 70
Grupo de artilharia= 50
Grupo de morteiros 82= 23
Grupo de canhões s/r= 23
Grupo de foguetões 122= 16
Pelotão de antiaéreas= 16
Grupo de morteiros 120= 40
Grupo de comandos= 50
Grupo especial de bazucas (RPG)=  20

(iv) Na zona do Xime/Xitole,  no final da guerra, parece haver apenas 2 bigrupos de infantaria (= 90 homens) e 2 grupos especiais de RPG (= 40), o que totaliza menos de 130 homens em armas, cerca de metade das forças estimadas no meu tempo, em 1969/71 (, estimativa que apontava para 5 bigrupos + artilharia);

(v) Os grupos especiais de artilharia (míssil terra-ar Strela), estão referenciados nas regiões fronteiriças: Kandiafara, e Kambera (no sul); Foulamannsa e Coumbamory (no norte);  no interior, a exceção parece ser o Morès e Sara, a norte do Geba; e o sul (Regiões de Quínara e Tombali): ao todo 4 grupos...

(vi) Os grupos de foguetões 122 mm (Graad ou "jato do Povo)" também estão localizados de preferência nas zonas fronteiriças; 

(viii) Enfim, esta infografia vale o que vale, sabendo-se que o PAIGC e as NT tinham  estratégias diferentes ao nível da sua implantação no terreno...

3. Reproduz-se a seguir um excerto (pp. 18/19) do relatório da 2ª Rep., já aqui transcrito na íntegra:

Vd. poste de 4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21








[Admitimos que esta estimativa peque por excesso... Em toda a parte do mundo os burocratas militares tendem a revalorizar  poder bélico do inimigo para se valorizarem a eles próprios ou poderem negociar mais meios com o  poder politico... Aliás, foi justamente isso que o PAIGC fez, depois da morte de Amílçcar Cabral, com os seus aliados internacionais...

Mas, ao fim de mais de um a década de guerra, o PAIGC tinha graves problemas de recrutamento humano, tal como nós... Em 1974,  a população civil e a guerrilha (Exército Popular e milícias) estão exaustos, cansados e com graves problemas de saúde, a avaliar por várias fontes internas... O tema do "mútuo cansaço da guerra" é glosado, por exemplo, no notável filme do Flora Gomes, de 1978, Mortu Nega (a morte negada), que passou há dias, em 2 de março,  na RTP África... Diga-se de passagem que se trata da primeira longa metragem do cinema do novo país lusófono... e que me surpreendeu agradavelmente; um grande filme de um grande cineasta, Tenho pena de o não ter visto exatamente desde o início].

domingo, 18 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3756: RTP1, As Duas Faces da Guerra (2): A Guiné sempre e a Diana Andringa às vezes... (Rui A. Ferreira)


Cartaz do filme

1. Mensagem do Rui Alexandrino Ferreira:


Assunto - A Guiné sempre e Diana Andringa às vezes


Meu caro Luís:

Tal como me recomendaste, ouvi com atenção a mensagem que a jornalista nos quis transmitir no programa televisivo que a nossa TV pública passou em hora nobre (*). O PAIGC é que eram os bons e nós tropas Portuguesas os maus.

É uma opinião a que logicamente tem todo o direito. Não será muito abonatória para o soldado português, englobando nessa designação todos quanto no cumprimento do Serviço Militar Obrigatório passaram pelas fileiras do Exército na Guiné e não só.

Gerações que durante treze arrastados e sofridos anos de guerra que extenuou, sacrificou, estropiou, mutilou a juventude de Portugal. Tudo aguentaram para dar ao poder político tempo mais que suficiente para lhe arranjar uma solução e que acabou por nunca acontecer.

Que tendo suportado contrariedades sem conta desde o desprestígio acelarado que as Forças Armadas vinham sofrendo, o descrédito em que foram caindo os mais altos escalões da hierarquia, a erosão a que a rotina da guerra conduziu, a desmotivação do Quadro Permanente, a mobilização praticamente total do contingente anual possível com a evidente perca da qualidade humna, a queda acentuada dos níveis de instrução, a justiça e falta de ideal da própria guerra acabaram por erigir mais uma epopeia de Portugal em África.

Numa África inóspita e desconhecida para a maioria, traiçoeira e perigosa onde se multiplicavam adversidades que iam da falta de água potável à má alimentação, das doenças tropicais endémicas às sexualmente transmissíveis, dos excessos do clima à precaridade ou inexistência de instalações, da ausência de material de guerra e logístico moderno, aligeirado ou de fácil manuseamento, o que contrastava com a rápida evolução e modernização do material usado pela guerrilha e que se acabou por chegar a uma situação que reporto única nos tempos e no mundo de um Exeréito Regular se encontrar em inferioridade técnica de meios.

Quer se viram confrontados com uma guerra onde o antagonista moralisado, matreiro, adaptado ao terreno, valorisado por anos sucessivos de luta, explorando as nossas fraquezas e melhorando os procedimentos a que pramaticamente só tinham para opor a abnegação, a capacidade de sofimento, a camaradagem, o espírito de sacrifício, um inacreditável poder de adaptação, um providencial sentido de desenrascanso, um extremo desembaraço, demonstraram uma imensa grandesa de alma.

Que se viram defraudadas nos seus sacrificios, vãos os seus esforços, inúteis as suas canseiras e inglórias tantas mortes.

Que se vejam esquecidos pelos seus próprios, muito mais preocupados em bajular o inimigo de então do que a reconhecer as dificuldades da sua acção. Que ve tentar amenizar, fazer esquecer ou nem disso falar do genocídio das tropas africanas que conosco e por nós combateram, que comprometemos com o slogan dum Porftugal do Minho a Timor e que desarmámos com promessas de integração num futuro Exército da Guiné com acordos com o PAIGC que sabíamos muito bem que não iam cumprir.

Genocidio que se pretende justificar com a pretensa violência com que essas tropas africanas actuavam. Que sorrateira e deliberadamente se esquece que se durante a guerra ambos estavam armados depois disso só uns tinham as armas. E como é diferente a situação. Ambos armados: matar ou morrer ou simplesmente morrer para os desarmados.

Não me parece, pois, que tenha sido uma justa abordagem do que sa passou, não me parece isenta, nem a homenagem que mereciam os soldados de Portugal que na Guiné deram tudo até a própria vida por aquilo que então se acreditava ser a defesa da Pátria.

A minha sincera homenagem ao meu herói - o soldado de Portugal. Que ninguém tenha vergonha nem de o ter sido nem do muito que fizemos pelo povo da Guiné.

Um grande abraço do
Rui Alexandrino Ferreira



__________________

Notas de L.G.:

(*) As Duas Faces da Guerra, filme-documentário, transmitido na RTP1, em duas partes, nos dias 14 e 15 de Janeiro de 2009, às 21.30h.

Ficha técnica:

Argumento e Realização: Diana Andringa e Flora Gomes; Imagem: João Ribeiro: Som Armanda Carvalho Montagem Bruno Cabral Produtor Luís Correia Produção Lx Filmes

Portugal, 2007, 105’, P/B e Cor, Betacam Digital, som 2.0, formato 4:3, Português e Crioulo

© Lx Filmes 2007
(P) Midas Filmes 2007

Filme estreado no DocLisboa2007, Lisboa, Culturgest, 19 de Outubro de 2007

Sinopse:

"Luta de libertação para uns, guerra de África para outros: o conflito que, entre 1963 e 1974, opôs o PAIGC às tropas portuguesas é visto, desde logo, de perspectivas diferentes por guineenses e portugueses. Mas não são essas as únicas “duas faces” desta guerra: mais curioso é que, para lá do conflito, houve sempre cumplicidade: 'Não fazemos a guerra contra o povo português, mas contra o colonialismo', disse Amílcar Cabral, e a verdade é que muitos portugueses estavam do lado do PAIGC.

"Não por acaso, foi na Guiné que cresceu o Movimento dos Capitães que levaria ao 25 de Abril. De novo duas faces: a guerra termina com uma dupla vitória, a independência da Guiné, a democracia para Portugal. É esta 'aventura a dois' que é contada pelas vozes dos que a viveram".


Participantes:

Chico Bá, Paulo de Jesus, Filinto de Barros, Agnelo Lourenço Fernandes, Sulei Baldé, Carlos Sambú, Amílcar Domingues , António Iria Revez, Teresa Barbosa , António Lobato, Manecas Santos, Osvaldo Lopes da Silva, João Marques Dinis, Vasco Lourenço, Pedro Pires, Ansumane Sambú, António Marques Lopes, Lassana Njai, Alfredo Santi, Mário Pádua, Manuel Boal , Maria da Luz (Lilica) Boal, Fernando Baginha, Amélia Araújo, Leonel Martins, Pedro Gomes, José Mendes Sentieiro, Mbana Cabra, Manuel Monge, Agnelo Dantas, Dalme Embundé, Féfé Gomes Cofre, Assana Silá, Alexandre Coutinho e Lima, Mamadi Danso, Assana Silá, Dauda Cassamá, Aladje Salifo Camará, Isabel Coutinho e Lima Manuel Batoréo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2558: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (8): Correio do Torcato Mendonça


Pensar em Voz Alta


1. Correio do Torcato Mendonça.
Deixemo-lo discorrer, pensar em voz alta, sem comentários, limitando-nos apenas a sublinhar uma ou outra passagem.


Meus Caros Editores,

Escrevi uma mensagem com um "esqueleto". Deixou de o ser e segue devidamente coberto. Se presta ou não é outro assunto. É uma terapia, blogoterapia…as madrinhas de guerra não seriam uma aeroterapia?

Neste dia de chuva e mais chuva tratei de vários atrasos…acabei por passar pelo blogue e lembrei-me de mandar este escrito. Foi antes junto a outro – O Livro – em esqueleto coitado. Se está vestido, vai…

Li o Texto do ex- paraquedista Rebocho e, se me é permitido, faço (...) breves considerações:

1- O acesso à correspondência de alguém, só deve ser invocada se antes o " dono dela " deu autorização. Ou não ficou esclarecido ou eu não percebi. Há uma autorização a outra pessoa.

2- Um furriel e um alferes milicianos eram praticamente iguais. Um tinha 3 vês, virados para baixo a que chamavam divisas (salvo erro), o outro tinha um traço chamado galão. Iam para a tropa para o CSM ou COM por terem habilitações literárias diferentes. A instrução era igual ou pouco diferia. Estou certo ou errado?

Conheci furriéis que deviam ser eles a comandar os que o comandavam a eles… No CIOE os cabos milicianos mandavam os aspirantes fazer uma completa de x… Meu aspirante uma… olha toma.

Porque não podia o Casimiro saber…. Bem se fosse dissertar política internacional com o Professor Adriano Moreira – por quem tenho o maior respeito – certamente era diferente…pois…presunção e água benta…

3- Isto é que vai aqui uma moenga…é do tempo. MAS: OS MILICIANOS SÃO MILICIANOS E OS DO QP SÃO DO QP. E AQUI HÁ UM PROBLEMA DO QP!

O 1º Sargento da minha Companhia tinha um trauma por nunca poder ter galões… O Parreira Fur Comando conheceu-o noutra comissão em Bigene, creio eu! Ora eu gosto e respeito muita gente que é ou foi do Quadro Permanente ou do QP.

Malhas que o Império teceu… e ainda hoje faz eco…
Um abraço,
Torcato Mendonça
torcatomendonca@gmail.com

PENSAR EM VOZ ALTA

A - (História; Guileje; a Verdade necessária Sempre)

1 – Bissau; - hoje, 23 de Janeiro 08. Já é passado. Estamos a 27, na rápida voragem dos dias.

Dizia eu nesse dia 23, em mensagem desabafo, ao Virgínio Briote:

Virgínio Briote,

hoje, pela manhã, como é meu hábito, abri o blogue. Li o Post sobre a diáspora. Àquela hora tinha intenção de o fazer a correr. Mas não, voltei atrás e reli. No dia anterior, se não me engano, aconteceu-me ler, parar e voltar atrás, reler e ler até ao fim um escrito de um ex-combatente de Mondim de Basto. Agora, embora por razões diferentes voltei a fazê-lo.
Nos últimos dias, comecei, perante o que leio, o teor dos assuntos abordados e por outras razões ou motivos a questionar-me sobre o blogue. Fiz aquele comentário ao P 2456 – finito.

Ontem li no JN, pag. 60, Olhares cruzados…uma visão de Diana Andringa sobre a guerra colonial. O M. Lopes mandou e-mail com o que o jornalista escreveu. Diz ela ao jornalista: … lá não há nenhum ódio aos portugueses…há uma espécie de turismo sentimental…!
Concordo com o turismo, desconheço os ódios. Não os tenho pessoalmente a ninguém, mas isso não interessa.
Leio o Post da diáspora; a troca de mensagens, a ausência de quadros guineenses, a Crónica de um Descrente e o poema relatando o Bissau de hoje, os comentários que depois aparecem – quer sobre estas questões, quer sobre o Simpósio – concordo, não ignoro o que naquela terra se passa e penso: de facto isto fortalece as minhas dúvidas dos últimos tempos.

Havendo, para mim, situações dissonantes “fiz” um escrito. Chamar-lhe-ia – Heróis Obscenos ou Geração do Hummer ou Da Mata ao Dancing. Perdeu o titulo o interesse, fiz delete e tudo se esfumou… é melhor assim.
O escrito ficou na cabeça. A idade vai diluir e escrever não se faz quando queremos… Acho o meio milhão de visitas uma vitória, vista de vários prismas, de um homem – o Luis Graça. Mesmo que ele queira partilhar com outros; o livro do Beja Santos um acontecimento bonito; o Simpósio será o que os homens de boa vontade quiserem e oxalá sirva o desenvolvimento de uma terra de que gosto, mas não é minha e, a palavra principal é dos guineenses… um país com uma mortalidade infantil de 200 em cada 1000 nados-vivos, um país que lutou de armas na mão… Bem, não continuo.

É certamente ilegítimo questionar assim. Mas vejo um pastor católico (sou anticlerical) ir fazer, com outros, uma viagem para entregar um Jeep, medicamentos e etc. Oxalá tudo corra bem para eles. Incongruência minha? Talvez! Mas porque não ficam com um Hummer? Gasta muita gasolina? Ou podem dizer: pois é mas tu (eu) nunca mais voltas á Guiné.
Certo. Eu sei que não posso voltar. Nada me inibe, contudo, de criticar ou lutar pela ajuda de um povo que merece uma vida melhor e desmerece certos compatriotas…páro mesmo… concordo com o teu comentário e a resposta; com o Descrente e o Poeta esperando que se tornem crentes e não tenham, no futuro, razão para escrever assim.
Espero sair uns dias, talvez ainda esta semana. Não sei ainda ao certo, como não sei a minha relação bloguista. Depois de meados de Fevereiro se verá. Escrevo, sobre vários assuntos e acrescento a Guiné. Tenciono, recomeçar as Estórias de José II e fazer uma análise, em abordagem diferente, à minha participação, como Militar e graduado do Exército Português.
Estive no lado errado da História? Nada disso! Causa injusta? Bem, vamos fazer a abordagem por aí…
Não faço cc, como é meu hábito, ao Luis Graça e por isso o endereço é diferente. Talvez guarde e reencaminhe depois. Não o chateio agora. Eram só duas palavras. Assumo-as todas Camarada. Sempre.
Um abraço,

Depois destas palavras, podia e devia estar mudo e quedo deixando fluir os acontecimentos. Não vou, com qualquer escrito travar ou desviar minimamente algo do seu normal percurso. Posso até parecer um sujeito sem prática solidária. Mas:

Continuo, neste pensar em voz alta, correndo o risco ou tendo a certeza de estar a mensagem fora de contexto do que, a seguir abordo.
Talvez não tenha sido explícito. O que a seguir escrevo não ser a continuidade do atrás escrito. Prefiro contudo continuar a pensar em voz alta.

2 - Hoje, 27 de Janeiro, no Suplemento P2 do jornal O Público, a páginas 3, vem uma frase de Konrad Adenauer – “A História é a soma das coisas que poderiam ser evitadas”. Concordemos ou não com ele, politicamente ou nesta frase, se a adaptarmos á Guerra – Colonial ou do Ultramar – sentimos haver, nesta definição, algo de verdade e correlacionada ela.

Efectivamente, a história poderia ter sido escrita de outra forma se a soma das coisas tivessem sido evitadas. Foi uma guerra que, se não fosse o autismo da classe dirigente, mesmo depois de iniciada, poder-se-ia ter evitado. A generalização a toda a classe dirigente pode ser injusta. Houve quem pensasse, nesse tempo, de forma diferente.

Não cabe aqui e agora fazer história. Deve-se, isso sim, relatar as memórias, os factos vividos, da forma mais fiel e real que nos for possível.
O somatório desses relatos levará, quem de direito a fazer uma análise historiográfica correcta. No caso concreto, serão pois os historiadores a juntar essas coisas. Contudo, aqui interessa focar mais a Guiné, sabendo antecipadamente a impossibilidade de dissociar uma parte do todo. Conscientes disso, sabendo as limitações para uma análise de uma guerra na qual participamos, pretensioso seria ir mais além do que comentá-la de forma ligeira. Vejamos então:

Na Série Televisiva – RTP1 – A Guerra, do jornalista Joaquim Furtado, existem depoimentos importantíssimos para se compreender a Guerra nos vários cenários.

Pode ser um trabalho valioso e um contributo importante para o estudo futuro desse período da nossa história. É um trabalho jornalístico, parece-me não pretender ir mais além, tendo, nesta I Série, valiosa pesquisa documental e importantes depoimentos.

São relatos, com opiniões divergentes de participantes de um e do outro lado. Essa riqueza de informação será determinante, no futuro, que se quer breve, juntamente com outros trabalhos, para compreender e escrever, essa parte da nossa história e dos outros povos intervenientes.

Esperamos pela II Série, pois, certamente, no seguimento da primeira mais esclarecedora e rica se tornará, propiciando os tais importantes elementos de estudo.

O filme de Diana Andringa e do guineense Flora Gomes – As Duas Faces da Guerra – tem abordagem diferente e dá-nos, da guerra na Guiné, uma visão mais profunda.

É um documentário que mostra a guerra, como o título indica em, pelo menos, duas visões diferentes. Há analogia no título com uma moeda, o verso e o reverso. Não é moeda de “Eixo Vertical”. Ou seja, ao passarmos do verso para o reverso temos a visão diferente e livre a abrir-nos caminhos para, no futuro ou porque não já agora, serem exploradas as vivências de quem esteve dos dois lados do conflito e tem dele, logicamente, opinião ou visão diversa.

É um Documentário importante. Sentido fortemente por quem assiste ao filme. Principalmente pelos que viveram aqueles acontecimentos. Sem nos apercebermos somos para lá transportados.
Os relatos são feitos de forma pausada, clara, objectiva. Fala-se da ausência de ódios, entre os antigos intervenientes – não sejamos ingénuos, entre a maioria deles – ou ainda do sonho de Amílcar Cabral. Como seria a Guiné sem o seu desaparecimento?
Temos outro relato importante sobre a internacionalização da guerra e a participação de Cubanos, Jugoslavos, Russos e outros.
Pena não termos uma mais forte amostragem ou depoimentos sobre a chacina de muitos Guineenses que ao nosso lado lutaram.
É um documentário a merecer reflexão e debate. É imprescindível para a análise da nossa memória colectiva futura.

No Blogue, Luis Graça e Camaradas da Guiné, existem já inúmeros depoimentos, comentários e relatos de vários acontecimentos importantes do conflito. Felizmente nem sempre convergentes. Alguns, a que foram chamadas questões fracturantes, essas divergências são mais fortes. Noutros, sobre questões diversas, a crítica, se correctamente feita, é sempre salutar, repõe ou aproxima-se, assim mais da verdade.

Curioso, foi ler a chamada de atenção a um tertuliano (creio eu) menos atento, de Diana Andringa sobre a I Série de A Guerra, esclarecendo a interrupção e a vinda de uma II Série. Desse modo, defende o seu colega Joaquim Furtado. Não com o intuito de defesa mas, quanto a mim, com o objectivo de esclarecer.

De forma diferente temos o esclarecimento, correcto e oportuno, do nosso Camarada de Artilharia e dos Comandos a um Camarada Paraquedista. Entre militares parece mais agreste a resposta. Nada disso, quanto a mim claro.
Efectivamente não há peças de artilharia 10,6. Havia, isso sim, obuses 10,5. Quanto a quem era ou não o Comandante do CAOP 5 foi, pelo Coronel Nuno Rubim, novamente e documentalmente esclarecido.

Talvez seja o acontecimento mais dramático da guerra na Guiné. Por isso, o cuidado no relato dos factos do que efectivamente aconteceu. Em debate sereno, certamente com opiniões diversas dos acontecimentos vividos pelos intervenientes, procurando consensos pois, só assim, se poderá descrever, em verdade, esse período.

É difícil relatar tão dramáticos acontecimentos. Mesmo feito por quem os viveu. Até a semântica pode adulterar o relato. Abandonar versus fugir.

A decisão de abandonar, de sair de um aquartelamento militar deve ser terrível, dificílima para ser tomada. Mas esse acontecimento tem que ser relatado. Analisado com os depoimentos das duas partes. Não só aquele, outros daquela guerra devido á sua importância, merecem tratamento profundo porque alguns são determinantes no desfecho da mesma.

Temos os exemplos do Como, de ficar e mais tarde abandonar Cachil, Balana, Madina do Boé e do desastre do Cheche. Ou acontecimentos passados em Gadamael e, no Norte, em Gudaje, ou o assassinato de quatro oficiais e outros militares – mais conhecido pelo caso dos 3 majores – ou certas tomadas de posição militar e política; por uma Guiné melhor, não bombardear ou não emboscar em certas ocasiões.
Por isso a necessidade de serem os intervenientes, se possível de ambos os lados, a relatar o outrora acontecido, sem receios de criticas, de divergências, de fracturas. A guerra, contada por quem a fez será certamente, para o futuro histórico mais fiel.

Devemos aceitar com humildade as vivências diferentes, a critica, sempre salutar se objectiva – repito –, para contribuir no esclarecimento do período 1961/74, na Guiné 36/74, aqui mais focado.

Não o podemos dissociar de toda a Guerra Colonial, do Ultramar ou de Libertação e incluir o estudo da história da colonização daqueles territórios, das suas gentes e, se feita agora, mais de trinta anos depois da independência, tentar entender o que se tem passado, sem análise tida com ingerência, ou que se passou nos anos de pós independência.

Daí a importância que dou, de forma subjectiva claro, ao Simpósio de Guilije. Pode abrir-se uma porta de futuro. Pode a nossa geração – a que fez a guerra – ou, porque não todos os que o desejarem, contribuir par um desenvolvimento conjunto, partilhado em liberdade, em desenvolvimento sustentado, pois disso estão, ainda hoje, carentes os nossos Povos.

Não queria, por razões óbvias – apesar da minha ínfima participação – falar da importância do Blogue Luis Graça e Camaradas da Guiné. Parece-me contudo ser, para o relato histórico desse período – 63/74 – de enorme importância.

É difícil ou utópico mesmo pensar que a verdade plena vai ficar plasmada no relato histórico. Será o relato mais fiel e verdadeiro possível. Era óptimo conseguir isso.

Vou fazer uma citação: - de quantas mentiras se faz uma verdade – de J. Eduardo Águalusa.
Aproveitamento meu, em parte desconstextualizada do que ele quis dizer. Serve-me no entanto para a minha visão histórica de muitos acontecimentos e isso não o queria para estes.
__________
Revisão / Fixação de texto / Sublinhados: vb