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domingo, 17 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27126: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (7): A noite de consoada de 1968 em Fulacunda: houve batatas com bacalhau e couves, sessão de cinema (um grande filme de cobóis de 1959...), um ataque à canhoada pelos "vizinhos" que eram belicosos, e até "fake news", a de que o quartel tinha caído em poder deles...



Cartaz do filme "O Homem das Pistolas de Ouro" (título original: "Warlock", EUA, 1959, 115 minutos)... Passou no "cine-ao-ar-livre" de Fulacunda, na noite de natal de 1968. Mal começou o filme, ouviram.se as primeiras canhoadas do PAIGC. (Os "turras" sempre foram uns desmancha-prazeres e, neste caso, queriam ver o filme à borla; não havia cinema nas "áreas libertadas")

Imagem e sinopse: Cortesia da RTP Programas (com a devida vénia)


Sinopse 

Um "western" clássico, com Henry Fonda, Richard Widmark e Anthony Quinn : Warlock (título original do filme, EUA, 1959; realização de Edward Dmytryk) é uma pequena cidade dominada por um bando de pistoleiros. Depois de numerosos assassinatos, os cidadãos elegem Clay Blaisdell (Henry Fonda), como xerife da cidade. Clay é um pistoleiro profissional, sempre acompanhado pelo seu fiel amigo Tom Morgan (Anthony Quinn), e Johnny Gannon (Richard Widmark), que tinha em tempos, pertencido a esse bando.

Jessie Marlow (Dolores Michaels), conhecida como "Angel de Warlock", apaixona-se por Clay, mas este tem, acima de tudo, a sua atenção centrada no confronto com o líder do bando de pistoleiros, Abe Mcquown (Tom Drake).




1. Mais um pequeno texto do Joaquim Caldeira, grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf,  CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69); vive em Coimbra; é autor do livro "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)



A Noite de Consoada de 1968

por Joaquim Caldeira (*)


O bom do capitão tudo fez para que a consoada fosse a mais parecida possível com a tradicional. Até conseguiu arranjar batatas, bacalhau, couves, nozes, castanhas e vinho.

Após a ceia, seria projetada num lençol preso a uma das paredes de uma caserna desativada, uma película cinematográfica, cujo tema estava mesmo a condizer: “O Homem das Pistolas de Ouro”. Protagonizado por, entre outros, os grandes actores Henry Fonda e Anthony Quinn.

Pobre cabo Lima. Era sempre a ele que se pediam sacrifícios na hora de comer. Teve por missão chefiar uma equipa que cozinhava para aquela tropa toda. E às vezes nem o furriel Estanqueiro sabia o que mandar cozinhar porque não havia o quê.

Mas naquela noite até havia batatas com bacalhau e couves, seguidas de nozes, castanhas e vinho. Tudo regado com azeite. E tudo a postos. Houve tempo para comer, beber com moderação, até porque a ração de bebida era muito curta, mas de boa vontade.

Depois, enquanto as sentinelas eram substituídas para a refeição, deu-se início à projeção do filme para o que havia dois homens do serviço de fotocine do exército, cuja missão era projetar o filme e não se borrarem de medo.

E começou o filme e começaram a ouvir-se tiros de canhão. Eram demasiado ruidosos para serem do filme. E fizeram tanto estrago que o filme prosseguiu sozinho e penso que só acabou quando faltou a corrente elétrica que era desligada sempre que ocorria um ataque.

Cada qual correu já de arma na mão, que também jantou ao nosso lado, em direção ao abrigo mais próximo e vai de defender a pele o melhor que podia e sabia.

Ao fim de cerca de meia hora, o rescaldo era do quartel quase destruído, vários feridos. Não havia mortos militares, mas na tabanca havia mortos provocados por uma canhonada que rebentou numa habitação.

O resto não conto. É trágico demais para ser lembrado. Apenas uma homenagem ao cabo Melo que passou a noite a chorar por ter que construir os caixões para os mortos e nem madeira tinha para tal. Serviu-se da madeira das caixas do bacalhau. Foste um herói, grande amigo.

De manhã, ainda cedo, tocou o meu telefone - depois conto o episódio do telefone - e quando atendi era a minha namorada que já sabia do que tinha acontecido. Queria saber notícias mais próximas do real daquelas que, prazenteiramente, foram transmitidas por Manuel Alegre, na sua Rádio Argel.

Mas naquela noite e naquele local, haviam 180 homens que tinham em Portugal os seus familiares e amigos e que alguns destes ouviriam a falsa notícia de que o quartel de Fulacunda tinha sido ocupado pelo PAIGC.
 
(Texto enviado em 9/8/2025, 17:28 | Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27089: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (6): A noite do Adriano, um herói desconhecido

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26386: Humor de caserna (95): Os meus Natais de 66 e 67 no HM 241, em Bissau (António Reis)


Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > Natal de 1967 > "Foto que me foi oferecida pelo grande amigo  António Malheiro (natural de Lamego, vive no Porto)."


Foto (e legenda): © António Reis (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1423 > Monumento funerário, à memória dos Fur Mil Condeço e Boneca, mortos na tarde de 24 de dezembro de 1966 (ainda evacuados para o HM 241). (****)

Foto (e legenda): © Ex-1º Cabo Gandra / Hugo Moura Ferreira (2006). 
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68; natural de Avintes, V. N. Gaia, é membro da nossa Tabanca Grande, nº 882; é autor de dois livrinhos de memórias da Guiné; tem página no Facebook... Vai fazer 81 anos no próximo dia 28 de fevereiro.

Gosto de reler o seu título "A minha jornada em África", com as as suas pequenas histórias do dia dia do HM 241 (Bissau), onde há uma sempre uma mistura de ternura, compaixão, humanidade, humildade, gratidão... e ironia". Tem uma boa memória.

Algumas delas tem perfeito cabimento na nossa série "Humor de caserna". Como esta que vamos aqui reproduzir, com a devida vénia, "Os Natais"...

Ele passou dois, no CTIG, o de 1966 e 1967. Um, o de 66, passado em família, a grande família do hospital, onde não faltaram oficiais e sargentos, médicos e enfermeiros, esposas que vieram da metrópole, etc., e onde não faltou nada do bom e do melhor... O de 67, bom... "também não foi mau", mesmo sem convidados... À boa melhor maneira portuguesa, ele justifica-se: havia quem estivesse pior, no mato...

Os meus Natais de 66 e 67 no HM 241, em Bissau...

por António Reis


O de 66 foi um Natal passado em família, a família do hospital mais os convidados. 

As mesas forma postas cá fora; foram os oficiais médicos e os não médicos, os sargentos... Foram muitas esposas da metrópole para passarem o Natal.

Para quem estava habituado a pouco como eu, diria que nada faltou. Na nossa mesa andava, à vez, um de nós quase sempre de pé para desenrascar o que faltava.

Para quem estava em guerra foi um bom Natal, mas para que não esquecêssemos que estávamos em guerra, não faltaram  os helicópteros com mortos e feridos, por mais de uma vez, uma das quais com um capitão, já morto (**), e outra com dois furriéis gravemente feridos.

Um deles, se bem me lembro era uma figura do mundo do desporto, conhecido por "furriel boneco": ficaram ambos na minha enfermaria. Não me lembro se morreram os dois, mas pelo menos o "boneco" morreu. (***)

Assim se passou o Natal de 66, só que depois veio janeiro e passámo-lo, nós, as praças, a comer "bianda" (arroz) ao almoço e "bianda" ao jantar, para pagar a fatura do que foi gasto na noite de Natal.

No Natal de 67, como não foram  convidados nem médicos nem sargentos, nem ninguém estranho ao serviço, passámo-lo no nosso modesto refeitório, feito em hexágonos de cimento, tendo como telhado chapas de zinco, sem nada a lembar qiue era o Natal.

Não foi mau, porque outros o passaram metidos em abrigos que tinham furado, ou tinham sido feitos com camadas de troncos de árvores, e  a frazerem uma prece para chegarem ao dia seguinte.



Fonte: António Reis, "Os Natais". In: A minha jornada de África, 1ª ed., s/l, Palavras e Rimas, Lda, 2015, pp. 75/76,

(Revisão/ fixação de texto, título: LG)

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Notas do editor:

(*) Ultimo poste da série > 11 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26377: Humor de caserna (94): "Ó meu alferes, telefone à minha mulher e diga-lhe que morri a pensar nela!" ... Ou para o que davam as sezões!... (Alberto Branquinho, "Cambança Final", 2013)

(**) Vd,. poste de 17 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4968: In Memoriam (32): Cap Mil Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, CART 1613, morto pelo Sold Cavaco, na véspera do Natal de 1966

(***) Não era alcunha mas apelido: "Boneca" e não "boneco": José Manuel Caracol Boneca, algarvio de Portimão...Vd. aqui os dois furriéis, gravemente feridos, que vão morrer no HM 241 na Consoada de 1966, ambos vítimas de rebentamento de uma armadilha, no Cachil:

Álvaro Nuno Florentino Condeço, fur mil at inf, CCAÇ 1423 / BCAÇ 1858, natural de Évora,

José Manuel Caracol Boneca,  fur mil sapador,  CCAÇ 1423 / BCAÇ 1858, natural de Portimão.


(****) Vd. poste de 18 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2361: O meu Natal no mato (4): Cachil, 1966: A morte do Condeço e do Boneca, CCAÇ 1423 (Hugo Moura Ferreira / Guimarães do Carmo )

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26329: Tabanca da Diáspora Lusófona (28): o luso-canadiano, de origem madeirense, João E. Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) - Parte II

 


Foto nº 13  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma > Natal de 1968 >  



Foto nº 14  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) >  Nova Lamego > Natal de 1967


Foto nº 15  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s(l > s/d > Equipa de futebol




Foto nº 16A e 16 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma
 > c. abril 68 / mai 69 >: Equipa de futebol... O Eusénio é sehundo de pé, a contar da esquerda para a direita.




Foto nº 17 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma > 1969 > Equipa de futebol dos condutores... (Mas a melhor era a das transmissões, diz o Zé Rosa Neto...). O Eusébio é o primeiro da esquerda, na primeira fila.




Foto nº 18 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Nova Lamego
 > 1967 >  "Quem se recorda destes jovens ? *ara ajudar a indificá-los aqui vão os seus nomes:e, primeiro plano da direita, Anibal, Santos, Eusebio, Pereira, Lemos;  em baixo Pires, Monçáo, Guimarães,  Fafe"

Fotos (e legendas): © João E. Abreu (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Eusénio Abreu

1. Estamos a selecionar, editar e publicar,  com a devida vénia,   algumas das fotos do nosso camarada João Eusébio Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742, "Os Panteras" (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) Tem cerca de duas dezenas de fotos disponíveis "on line" na sua página do Facebook (Joáo E. Abreu).

 É amigo do Facebook da Tabanca Grande. Temos em comum o amigo (e camarada) Abel Santos (ex-sold at inf,  também da CART 1742), que muito tem contribuído para que os "Panteras" de Nova Lamego e Buruntuma  não sejam votados ao esquecimento. Já trouxe com ele mais quatro camaradas da CART 1742:


(i) 
António Joaquim Oliveira, ex-1.º cabo quarteleiro (membro da Tabanca Grande nº 760);

(ii) Jaime da Silva Mendes, ex-sold at inf, natural de Braga (senta-se à sombra do nosso poilão mnp lugar nº 762);

(iii) José Rosa Neto, ex-1.º cabo radiotelegrafista, grão-tabanqueiro nº 823;

(iv) José Horácio Dantas, ex-1.º cabo at art, apontador de bazuca, natural de Lama, concelho de Barcelos (grão-tabanqueiro nº 765);


Já  convidámos o João Eusébio Abreu a entrar para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Ficaríamos honrados cokm a sua presença. Precisaamos que nos responda para o nosso email: 

 Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:


Regúlo da Tabanca da Diáspora Lusófona: João Crisóstomo, Nova Iorque:

crisostomo.joao2@gmail.com
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sábado, 28 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26320: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte V: Um ano depois, pelo Natal de 73, dá-se iníco à Op Estrela Telúrica: "Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade" (António Graça de Abreu, CAOP1, Cufar, 22, 25 e 26 de dezembro de 1973).



Foto nº 1




Foto nº 2


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CAOP1 > c. 1973/74 > Em cima, o António Graça de Abreu, em Cufar, no rio Cumbijã (foto nº 1); na foto seguinte (nº 2), posando de camuflado, no aeroporto de Cufar, em janeiro de 1974, com Miguel Champalimaud.

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Um ano depois do início da Op Grande Empresa (*), o Cantanhez continua a "ferro e fogo"... É o que se deduz da leitura do incontornável diário do  António Graça de Abreu, de que já publicamos,  em tempos,  extensos excertos, com a devida autorização do autor. 

Estamos a falar do  "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp)

Recorde-se que o nosso António Graça de Abreu:

(i)  chegou a Bissau a 24/6/1972, vindo de DC-6, de Lisboa;

(ii) foi colocado no CAOP1 - Comando de Agrupamento Operacional nº 1, sediado em Canchungo (Teixeira Pinto);

(iii) era alferes miliciano, com a especialidade de atirador de infantaria, reclassificado por incapacidade parcial em "Secretariado, Serviço de Pessoal";

(iv)  chegou a Canchungo, de helicóptero, a 26, de manhã;

(v) nunca identifica, no livro,  o seu primeiro comandante, coronel paraquedista [ Raul Durão, durão de apelido e durão no exercício da autoridade];

(vi) tinha um diário, onde escrevia quase todos os dias (ou, em alternativa, cartas e aerogramas que mandava à sua mulher, num total de 347, até ao fim da comissão, em  17/4/1974);

(vii)  teve os seus primeiros "trinta e cinco dias de férias em Portugal" de 7 de novembro a 17 de dezembro de 1972 (período em que não tem quaisquer notas no seu Diário); (uns dias antes, a 12, começara a Op Grande Empresa, no sul da Guiné);

(viii)   passou depois por Mansoa (Parte II do Diário) para acabar a sua comissão, sempre no CAOP1, em Cufar, no sul da Guiné (Parte III).

É desta III parte do seu diário, que transcrevemos as suas entradas relativas aos dias 22, 24 e 26 de dezembro de 1973. É já com-chefe e governador da Guiné o gen Bettencourt Rodrigues. 

É em Cufar que o António Graça de Abreu passa o seu Natal de 1973, o seu segundo Natal na Guiné, numa época claramente de escalada da guerra no sul... 

Estava em curso mais uma grande operação no Cantanhez, a Op Estrela Telúrica, na sequência  da Op Grande Empresa (reconquista e reocupação do Cantanhez, península do Cubucaré, dezembro de 1972-junho de 1973). 

Como ele escreveu ironicamente, "Natal, sul da Guiné, ano de 1973, operação 'Estrela Telúrica.' Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade". 



2. Excertos do Diário da Guiné:


(...) Cufar, 22 de dezembro de 1973 

Deixei a cidade [de Bissau], deixei o frenesim das gentes, os motores, a poluição, a confusão e regressei ao bucolismo do campo, à nada pacata aldeia africana, aos rebentamentos de granadas, foguetões e bombas, às cabeças alteradas pela guerra, ao desamor e aos medos.

Ao descer do Nordatlas na pista da Cufar, deparei-me logo com a nossa ambulância à espera, pronta para as evacuações para Bissau. Mais um morto e oito feridos, fuzileiros estacionados no Chugué,  atacados no rio Cumbijã,  mesmo em frente a Cufar.

Preparam-se grandes operações na zona. Os comandos africanos vêm cá para baixo fazer mortos, ter mortos. Ontem – isto é muito animador! – deslocaram-se para Cufar mais dois médicos (um cirurgião e um anestesista) mais uns tantos enfermeiros. Trouxeram uns quilos largos de aparelhagem médica e cirúrgica, e materiais para primeiros socorros, enfim temos um aparato clínico capaz de assustar o menos medroso.


Os pobres vão morrer com a certeza de que morrerão bem acompanhados e assistidos.

Por estes dias, chegarão mais quinhentos homens, três companhias de comandos africanos, mais a minha conhecida 38ª de Comandos e ainda talvez paraquedistas. Estes homens vão tentar a “limpeza” do Cantanhez. Em Bissau, encontrei alguns alferes amigos da 38ª que me puseram a par do que se espera com esta operação. Os rapazes também estão receosos, o moral não é elevado.


Entretanto, os Fiats continuam a bombardear aqui à nossa volta, com poucos resultados, parece que os guerrilheiros já possuem abrigos à prova da nossa aviação.

Cufar, 24 de dezembro de 1973 


Tempo de Natal. Paz na terra aos homens de boa vontade, na Guiné em guerra.

Fui a Cadique com o meu coronel, de sintex, dez quilómetros descendo o rio Cumbijã.  

Os pobres de Cadique,  a 1ª C/BCAÇ 4514/72  , que tiveram dois mortos na terça-feira passada, estão a entrar na engrenagem da loucura. Já houve soldados que se recusaram a sair para o mato. Outros, ou os mesmos, na confusão de uma flagelação, atiraram com uma granada de mão ao tenente-coronel,  comandante do batalhão que não o atingiu por pura sorte. 

O tenente-coronel não tem culpa do sofrimento e da morte dos seus homens, limita-se a cumprir ordens, não pode pegar no batalhão e marchar sobre Bissau, ou sobre Lisboa. De resto, entre os muitos oficiais do QP que tenho conhecido, este tenente-coronel é um dos homens mais humanos e sensíveis ao sofrimento dos seus subordinados.

A zona de Cadique é terrível, os guerrilheiros deixaram construir a estrada para Jemberém e agora passam o tempo a dinamitá-la e a emboscar as NT. Sabotaram os sete pontões do trajecto, abriram enormes brechas no asfalto, em vários sítios. 

Para arranjar a estrada, a tropa de Cadique avança com camionetas carregadas de terra e troncos de árvore. Depois dos primeiros dois quilómetros, começam a ser flagelados. Quem quer caminhar para a morte?

Os dias estão tão bonitos! Frescos, serenos, com pouca humidade, manhãs de sol que abrem os braços para os homens, o fumo a sair das tabancas e a espalhar-se sobre os campos, como em Portugal. A natureza não tem culpa da insensatez, do desvario da espécie humana.


Cufar, 26 de dezembro de 1973

Graças ao Natal, umas tantas iguarias rechearam as paredes dos nossos estômagos. Houve bacalhau do bom, frango assado, peru para toda a gente e presunto, bolo-rei, whisky e espumante à discrição, só para oficiais. 

Fez-se festa, fados, anedotas, bebedeiras a enganar a miséria do nosso dia a dia.

Hoje, 26 de Dezembro, acabou o Natal e, ao almoço, regressámos às cavalas congeladas com batata cozida e, ao jantar, ao fiambre com arroz.

Isto não tem importância, importante é a ofensiva contra os guerrilheiros do PAIGC desencadeada na nossa região com o bonito nome de “Estrela Telúrica”. Acho que nunca ouvi tanta porrada, tantos rebentamentos, nunca vi tantos mortos e feridos num tão curto espaço de tempo. E a tragédia vai continuar, a “Estrela Telúrica” prolongar-se-á por mais uma semana.

Tudo começou em grande, com três companhias de Comandos Africanos, mais os meus amigos da 38ª CCmds, fuzileiros e a tropa de Cadique a avançarem sobre o Cantanhez. O pessoal de Cadique começou logo a levar porrada, um morto, cinco feridos, um deles alferes, com certa gravidade. 

Ontem de manhã, dia de Natal, foi a 38ª de Comandos a “embrulhar”, seis feridos graves entre eles os meus amigos alferes Domingos e Almeida, hoje foram os Comandos Africanos comandados pelo meu conhecido alferes Marcelino da Mata,[1] com dois mortos e quinze feridos. Chegaram com um aspecto deplorável, exaustos, enlameados, cobertos de suor e sangue. Amanhã os mortos e feridos serão talvez os fuzileiros… No dia seguinte, outra vez Comandos ou quaisquer outros homens lançados para as labaredas da guerra. 

O IN, confirmados pelas NT, só contou seis mortos, mas é possível que tenha morrido muito mais gente, os Fiats a bombardear e os helicanhões a metralhar não têm tido descanso.

Na pista de Cufar regista-se um movimento de causar calafrios. Hoje temos cá dez helicópteros, dois pequenos bombardeiros T-6, três DO, dois Nordatlas e o Dakota. A aviação está a voar quase como nos velhos tempos. 

Os helis saem daqui numa formação de oito aparelhos, cada um com um grupo constituído por cinco ou seis homens, largam a tropa especial directamente no mato, se necessário os helicanhões dão a protecção necessária disparando sobre as florestas onde se escondem os guerrilheiros, depois regressam a Cufar e ficam aqui à espera que a operação se desenrole. 

Se há contacto com o IN e se existem feridos, os helicópteros voltam para as evacuações e ao entardecer vão buscar os grupos de combate novamente ao mato. Ontem, alguns guerrilheiros tentaram alvejar um heli com morteiros, à distância, o que nunca costuma dar resultado.

Sem a aviação, este tipo de operações era impossível. Durante estes dias os pilotos dormem em Cufar e andam relativamente confiantes, há muito tempo que não têm amargos de boca. Os mísseis terra-ar do IN devem estar gripados porque senão, apesar dos cuidados com que se continua a voar, seria muito fácil acertar numa aeronave, com tanto movimento de aviões e hélis pelos céus do sul da Guiné.

Cufar fica a uns quinze, vinte quilómetros da zona onde as operações se desenrolam. Todos os dias, às vezes durante horas seguidas, ouvimos os rebentamentos e os tiros dos “embrulhanços”, das flagelações. É impressionante o potencial de fogo, de parte a parte. Os guerrilheiros montam também emboscadas nos trilhos à entrada das matas onde se situam as suas aldeias. Aí as NT começam a levar e a dar porrada, e não têm conseguido entrar nas povoações controladas pelo IN.

Natal, sul da Guiné, ano de 1973, operação “Estrela Telúrica.” Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade.

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Nota do autor:

 [1] Sobre o acidentado percurso do alferes Marcelino da Mata, ver a narração pessoal da sua participação nesta guerra em Rui Rodrigues, (coord.), Os Últimos Guerreiros do Império, Editora Erasmos, Amadora,1995, pp. 195-213.

(Revisão / fixação de texto, para publicação no blogue: LG)

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sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAV 8352/72 (1972/74) > Vista aérea do futuro aquartelamento


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > 2014 >  Perímetro defensivo, em esquema aproximado, sobre imagem atual, do Google Earth (com a devida venia...). CCaboxanque fican maragem esquerda do Rio Cambijá: vd. infografia abaixo)


Fotos do álbum do nosso grão-tabanqueiro, nascido em Angola, Lobito, Rui Pedro Silva, que foi sucessivamente:

(i)  alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971);

(ii)  ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72);

(iii) cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74). 

Passou 3 Natais no mato (em Angola, 1971, e na Guiné, Caboxanque, em 1972,  e Cadique, em 1973).


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça E Camaradas da Guiné ] (*)




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cobumba, Cufar, Caboxanque, rio Cumbijã e seu  afluente, o rio  Bixanque.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné   (2024).

 *


 Dois amargos natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973)

por Rui Pedro Silva


A 21 de dezembro de 1972 a CCav 8352, que eu comandava, desembarcou em Caboxanque, no âmbito da operação Grande Empresa (**), iniciada a 12 de dezembro, a qual tinha como objetivo a ocupação do Cantanhez.

A IAO no Cumeré durou 15 dias e logo marchámos para Cufar,  divididos em dois grupos: o  primeiro grupo deslocou-se de Noratlas a 19 de novembro de 1972 e o segundo de LDG a 21, e  com ele todo o equipamento para a instalação de uma companhia: do equipamento de cozinha às tendas e colchões pneumáticos, das viaturas ao gerador, das armas e munições às rações de combate, etc.

Para todos nós era seguro que não íamos render uma outra companhia e, ao chegar a Cufar, desde logo ficou claro que não seria aquele o nosso destino. Logo no desembarque recebi instruções para conservar o material carregado nas viaturas e tudo o resto guardado num improvisado “armazém”.

Nesse momento ainda não sabíamos da operação a que estávamos destinados. Nas quatro semanas que estivemos em Cufar realizámos operações de patrulhamento da zona, segurança à pista e ao porto e à construção da estrada Cufar - Catió. 

Da sede do batalhão, em Catió [BCAÇ 4510/72, Sector S3, em 1/7/73], vinham insistentes recomendações para nos concentrarmos na segurança da estrada. Havia um claro desentendimento entre os responsáveis em Cufar e a sede do Batalhão. 

A segurança na estrada mantinha-se 24 horas por dia,  rodando por todos os grupos de combate da companhia de Cufar  [CCAÇ 4740/72, em 1/7/73] e da minha  [CCAV 8352/72 ] e portanto não se percebia a insistência.

A preocupação de Catió resultava do facto de estar em curso uma manobra de diversão procurando atrair o PAIGC para aquela zona,  levando-o a mobilizar os seus efetivos para Cufar e assim garantir uma menor resistência à entrada das nossas tropas no Cantanhez. 

Esta manobra teve pleno êxito. O PAIGC foi surpreendido com a entrada das nossas tropas em Cadique [CCAÇ 4540/72, em 1/7/73, rendida em 22/7 pela 1ª C/BCAÇ 4514/72 mas só regressou a Bissau em 17/8]  e Caboxanque,  não oferecendo qualquer resistência nos primeiros dias.

 A Op Grande Empresa foi muito bem descrita no livro “A Última Missão”,  do sr. cor pqdt Moura Calheiros. Como tive oportunidade de lhe dizer na altura da publicação:

“A sua narrativa permite ao leitor ter uma visão mais abrangente da guerra na Guiné e, ao mesmo tempo, navegar consigo no seu PCA, progredir com os seus bigrupos nas missões mais arriscadas, partilhar a angústia das decisões mais difíceis, confrontar-se com a orientação estratégica do Comando-Chefe, conhecer a atuação da guerrilha, viver a vida de um militar naqueles duros tempos e cumprir a nobre missão de resgate dos militares portugueses falecidos e sepultados na Guiné. 

"Ao ler as páginas deste seu livro revejo e identifico pessoas com quem partilhei uma parte importante da minha vida e situações em que a minha companhia esteve também envolvida e que constituem pedaços da história dos paraquedistas, das forças armadas portuguesas e do nosso país.”

Recomendo vivamente a leitura deste livro a quem ainda não o fez porque nele revemos, cada um de nós, ex-combatentes, uma parte da nossa história. Cerca de seis meses depois,  e em resultado da Op Grande Empresa,  existiam 7 novos aquartelamentos
 [no Cantanhez] :

  • Cadique,
  • Caboxanque,
  • Cafal,
  • Cafine,
  • Jemberem,
  • Chugué
  • e Cobumba.

O COP 4, comandado pelo sr. ten-cor pqdt Araújo e Sá, comandante do BCP 12, coadjuvado pelo seu segundo comandante e oficial de operações, maj pqdt Moura Calheiros,  foi a unidade operacional responsável pela operação.

Mas fiz esta longa introdução para abordar o tema do Natal.

Os quatro dias que mediaram desde a nossa entrada em Caboxanque até ao Natal de 1972, foram preenchidos em ciclópicas tarefas de instalação da companhia, segurança no perímetro defensivo e reconhecimento da zona operacional.

O perímetro tinha cerca de 3,5 km  (Fotos  nº 1 e 2) e só foi possível garantir a segurança de Caboxanque instalando os grupos de combate e cada uma das suas secções ao longo da linha de defesa, ficando a CCav 8352 instalada em metade do perímetro virado a norte e a CCaç 4541 na metade virada a sul. 

Instalados em valas cavadas em contrarrelógio, sem arame farpado e apenas separados da mata do Cantanhez por um largo espaço que as maquinas da engenharia terraplanaram, com a ração de combate a alimentar a nossa fome, a noite escura a servir de cobertor e a angústia de podermos ser surpreendidos pelo PAIGC nessa nossa tão frágil posição, assim se encontravam os militares sob meu comando, carregando sob os meus ombros a enorme responsabilidade do que lhes pudesse acontecer naquelas difíceis circunstâncias.

No dia de Natal a companhia estava dispersa pelo perímetro de Caboxanque, um grupo de combate tinha saído com um bigrupo paraquedista, em patrulhamento, e em Cufar ainda permaneciam alguns militares da companhia, guardando todo o material que lá tinha ficado. 

Sem meios frio a funcionar e portanto sem géneros frescos,  as refeições limitaram-se às rações de combate e a uma sopa improvisada com o pouco que diariamente se trazia de Cufar.


Foto nº 3
Estes foram dias muito difíceis para todos. Numa fotografia que aqui junto (Foto nº 3)  podem verificar como eram feitas as distribuições das refeições ao longo do perímetro. Quando o Unimog que fazia este serviço chegava junto da última secção já a refeição que transportava estava fria.

Um ano antes, no 
Natal de 1971, estava em Angola, nos Dembos, na sede do BCAÇ 3840 sediado em Zemba e na escala de serviço coube-me ser o oficial de dia. (...)

Natal de 1973 foi passado em Cadique para onde a CCav 8352 tinha sido enviada, por um mês, no âmbito da Op Estrela Telúrica que envolveu entre outras forças o Batalhão de Comandos. (Vd. o que escreveu, no seu "Diário da Guiné", o nosso camarada António Graça de Abreu, então em Cufar, no CAOP1).

 Instalados em condições muito precárias, sempre com grupos de combate em acção, principalmente junto à estrada Jemberem – Cadique, este foi o terceiro e o nosso pior Natal em guerra.

Dois dias antes do Natal um grupo de combate da minha companhia e outro da companhia de Cadique foram emboscados quando vinham render outros 2 grupos de combate da CCav 8352 que eu naquele dia comandava. 

Em resultado da emboscada houve mortos e feridos entre os militares da companhia de Cadique.

A moral do pessoal de Cadique estava a um nível muito baixo e assistimos a alguns actos de desespero, como a recusa a sair para operações ou tentativas de acionar uma granada defensiva junto do comando. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto,  parênteses retos, título: LG)


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Notas do editor:
 
(*) 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 5 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25583: Fotos à procura de...uma legenda (181): Bambadinca, Natal de 1968: Hoje há leitão à Bairrada à mesa do Zé Soldado (Manuel da Costa, ex-sold maqueiro e barbeiro, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Vésperas de Natal de 1968 > O sold maqueiro Manuel da Costa, de bata branca, finge que faz a "vistoria sanitária" aos leitões que irão à mesa natalícia... Leitões "turras", por certo comprados nas tabancas de Nhabijões, consideradas sob "duplo controlo"... Mas a legenda pode ser melhorada pelos nossos leitores (*)... Por exemplo: "o vagomestre perdeu a cabeça"... Ou: "Leitões ? Só de aviário!...". Ou ainda: "Comprados ? Os balantas não os vendiam aos 'tugas', só se fossem 'atropelados' pelo burrinho"...

Foto (e legenda) : © Manuel da Costa (2015).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Manuel da Costa é o barbeiro mais famoso de Dalvares, Tarouca. Foi sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), pertencendo aos serviços de saúde , chefiados pelo saudoso alf mil médico David Payne. E lá também exerceu a arte de barbeiro, escanhoando caras e rapanda couros cabeludos de oficiais, sargentos e praças.

Tem uma página na Net (Nova Barbearia Costa). Foi profissionamente motorista de longo curso. Reformado, tomou conta e remodelou a barbearia do seu pai.(**)

Da sua página do Facebook (ele é também amigo da nossa página, Tabanca Grande Luís Graça),  tomámos a liberdade  de lhe pedir emprestada esta imagem, que fala por si (vd. acima): o nosso soldado maqueiro a exercer, com rigor e vigor, a autoridade de vedor das carnes que hão de ir às mesas  da Consoada (embora separadas) da Nobreza, do Clero e do Povo, em Bambadinca, 1968...

Acrescenta ele, bem humorado: 

(...) Esta foto foiu irada nas vésperas do Natal de 1968 onde estou numa brincadeira fazendo crer que estava a examinar os leitões. Chamaram-me na barbearia que era junto à cozinha e refeitório geral para os praças e cabos. O que está em tronco nu é o cabo cozinheiro Carneiro e o do camuflado era o cozinheiro Teixeira, já falecido" (...)

(...) Fiz parte da Companhia Comandos e Serviços (CCS) do Batalhão de Caçadores 2852. estava ligado à enfermagem como maqueiro, mas dado a minha profissão de barbeiro que tinha na vida civil desde 1964, comecei a desempenhar essa arte na barbearia do comando, alternando sempre que era preciso vir à enfermaria e aos domingos sempre que o ilustre e saudoso médico Dr. David Payne, já falecido, precisava, lá ia eu fazer psíco às Tabancas só para rapar os cabelos das feridas crónicas dos civis. (...).

Já em tempos o convidei a ingressar no blogue da Tabanca Grande. Ele tem hitórias para contar e mais fotos para partilhar. Não sei se tem aparecido nos convívios anuais da malta de Bambadinca (1968/71): nunca o encontrei, mas eu também sou pouco assíduo (em 28 convívios, fui a meia dúzia)... 

De qualquer modo, o Manuel da Costa será bem vindo ao nosso blogue. (**)

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 30 de maio de  2015 >  Guiné 63/74 - P14680: Efemérides (190): o ataque a Bambadinca foi há 46 anos, em 28/5/1969, recorda o barbeiro mais famoso de Dalvares, Tarouca, o Manuel da Costa, que foi sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2852 (1968/70)

quinta-feira, 31 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23127: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte II: Bindoro, Natal de 1970: visita do gen Spínola

Foto nº 1 >  Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Natal de 1970 > Destacamento de Bindoro > Visita no gen Spínola e do capelão José Torres Neves: vieram de Bissá para Bindoro, de helicóptero.


 Foto nº 2A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Natal de 1970 > Destacamento de Bindoro > Visita no gen Spínola (1)

Foto nº 2B > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Natal de 1970 > Destacamento de Bindoro > Visita no gen Spínola (2)


Foto nº 2C > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Natal de 1970 > Destacamento de Bindoro > Visita no gen Spínola (4)


 Foto nº 2D > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Natal de 1970 > Destacamento de Bindoro > Visita no gen Spínola (4)


 Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Natal de 1970 > Destacamento de Bindoro > Visita no gen Spínola (5)

Fotos (e legenda): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)-

Organização e a seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e  Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolara, ainda no ativo. Vai fazer 86 anos.
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domingo, 9 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22891: Antologia (80): O Natal, mesmo na guerra, é quando um homem quiser (e puder)... (Jorge Cabral, 1944-2021)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Missirá > Pel Caç Nat 63 > 1970 ou 1971 > O Alf Mil At Art Jorge Cabral mais o seu amigo Malan.

Foto (e legenda): ©  Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. As mensagens que acompanhavam as  "estórias cabralianas" eram sempre curtas, para não dizer telegráficas. Como esta que acompamnhou a "estória cabraliana" nº 30 (Natal em Novembro). (*)

Querido Amigo, Para ti e todos os Tertulianos, o Bom, o Melhor, o Óptimo!

Estar vivo é já celebrar o Natal!

Abraço Grande
Jorge

PS - Junto Foto. Regressado de uma operação, tinha sempre à minha espera o meu Amigo Malan


Republico a "estória" como homenagem ao nosso "alfero Cabral" (**), o "alter ego" de Jorge Cabral (1944-2021).  A sua sensibilidade humana e o sua capacidade de contar uma pequena história em meia dúzia de linhas continuam a surpreender os seus leitores e admiradores...  "Um Natal em Novembro", chamou-lhe. Em plena guerra. No regulado do Cuor, em "terra de ninguèm". Afinal, o Natal, mesmo na guerra, é quando um homem quiser (e puder). Um texto de antologia (***).


2. Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro

por Jorge Cabral


Amanheceu igual, só mais um dia em Missirá. Para o Mato Cão, vai o Alferes, uma secção, e o maqueiro Alpiarça. É lá chegar, esperar, ver o barco e voltar. Não há tempo para o sonho – do outro lado nem Gaia, nem Almada…

Já estamos de regresso, ouvimos restolhar. Vem aí gente. Neste lugar só podem ser os turras. Claro que, como sempre, o Alferes empunha apenas o seu pingalim e, em vez do camuflado, enverga camisa branca e calções de banho.

Paramos, agachamos, aguardamos. Porra, e se são muitos? Apanhado à mão, assim vestido, pensa o Alferes… Mas não, são três mulheres e um bebé. Doente, muito doente, informa a jovem mãe. Quem são, de onde vêm, ninguém pergunta.

Monta-se segurança, rodeando a mãe, o filho e o Alpiarça. O bebé está muito mal, quase não respira.
- Dá-lhe soro, aspira o muco, alivia-lhe os brônquios – grita o Alferes, subitamente médico.

Arrebita o bebé, elas agradecem e partem. Não perguntou o Alferes para onde, mas não era difícil adivinhar…

Foi em Novembro, estava calor, o Menino era Braima e não Jesus, nenhuma estrela iluminava o céu, e o Alferes não se parecia com os Reis Magos. Porém ainda hoje, ele acredita, que ali no meio do mato, naquela tarde, aconteceu Natal.

Jorge Cabral

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2369: Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro (Jorge Cabral)

(**) Vd. poste de 8 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22890: "Alfero Cabral cá mori": Lista, por ordem numérica e cronológica,  das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte II: de 20 a 39