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terça-feira, 11 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19883: (In)citações (134): Os Coirões de Mampatá, CART 2519 (1969/71) (Mário Pinto, 1945-2019)




Tabanca de Mampatá



Estrada da morte Buba - Aldeia Formosa


Fotos (e legendas): © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto de um poste publicado pelo Mário Gualter Pinto (1945-2019) no seu blogue "CART 2519, Os Morcegos de Mampatá"... 

É uma pequena homenagem da Tabanca Grande ao nosso camarada que deixou ontem a Terra da Alegria (*)




10 de julho de 2009 > Os Coirões

por Mário Pinto


(...) Saudo o nosso cap Jacinto Manuel Barrelas, coirão-mor da nossa Cart 2519, padrinho do nosso cognome "Os Coirões de Mampatá", que todos os anos no nosso convívio anual o despromovemos à classe de Capitão,  sob a sua cumplicidade,  uma vez que o mesmo é coronel na reserva.

O termo "coirão" ficou célebre no nosso convívio pelo mesmo que, cada vez que se dirigia a um suburdinado,  utilizava o termo, por isso ainda hoje utilizamos simbolicamente.

Os coirões formaram a CART 2519,  os "Morcegos de Mampatá", que nos anos 1969/1971 estiveram na Guiné, em Buba, Aldeia Formosa e Mampatá:


  • Nas picadas de Sare de Usso;
  • No corredor de Uane;
  • Na estrada da morte Buba-Aldeia Formosa;
  • Nas operaçoes que fizemos, nomeadamente "Novo Rumo" e "Diamante Azul";
  • Nos ataques que sofremos;
  • Nos roncos que fizemos;
  • Nos mortos e feridos que tivemos;
  • Nas colunas que fizemos;
  • Na obra social que realizámos: duma tabanca sem nada, construimos uma escola, uma enfermaria,um heliporto, uma cantina, uma cozinha,um depósito de géneros, um balneário e outras infra-estruturas do campo militar defensivo.


Estruturámos um corpo de milícias e um pelotão de nativos.

Enfim cumprimos a nossa parte,  por isso nos tornámos célebres e respeitados,  só lamento que alguns que nos deviam respeito,  o não façam e que cada vez que os oiço falar na comunicação social só dizem disparates.

Mário Pinto (**)

[Revisão / fixação de texto: LG]


2. O poeta da CART 2519, Edmundo Santos, ex-fur mil, escreveu os seguintes versinhos a propósito dos "coirões de Mampatá":


OS MORCEGOS
por Edmundo Santos


Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.
Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.

Ai!, uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os Morcegos,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos Coirões de Mampatá.

Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um Morcego.

Fonte: CART 2518, Os Morcegos de Mampatá > 29/9/2011


_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > Último poste da série > 4 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19855: (In)citações (133): Entre maio e dezembro de 1972, na altura em que estive com os "Gringos de Guileje", a situação era relativamente calma, a CCAÇ 3477 era temida e respeitada pelo PAIGC...As coisas alteram-se sobretudo em maio de 1973, ao tempo da CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje" (Luís Paiva, ex-fur mil art, 15º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/74)

(**) Vd, poste de 11 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19882: In Memoriam (343): Mário Gualter Rodrigues Pinto (1945-2019), ex-fur mil art, CART 2519 (Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71)... Era chefe de cozinha, e vivia no Barreiro... O corpo já seguiu para a capela mortuária da igreja do Lavradio, Barreiro, e o seu funeral realiza-se esta tarde pelas 16h15 (Herlânder Simões / Luís Graça)

sábado, 27 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A bordo do T/T Uíge que levou o pessoal até Bissau, em maio de 1969: os fur mil  Edmundo Santos, à esquerda, e o Mário Pinto, à direita. Foto do álbum do Mário Pinto, reproduzido aqui com a devida vénia.


Foto: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




A comissão na Guiné


A comissão na Guiné,
tão custosa e dolorida,
nunca nos faltou a fé
de regressarmos com vida.


Graças à nossa unidade,
transpondo qualquer maré,
não se esquece, na verdade,
a comissão na Guiné.

Deixar a vida civil
foi difícil à partida
entrar numa guerra hostil,
tão custosa e dolorida.

Ter firmeza no andar,
saber onde pôr o pé,
pensar em poder voltar,
nunca nos faltou a fé.

Lutar no mato foi duro,
não havia outra saída,
senão pensar no futuro,
de regressarmos com vida.


Saídos de Bissau, com rumo ao sul


Saídos de Bissau, com rumo ao sul,
embarcámos numa lancha da marinha,
sulcámos águas calmas, céu azul
e chegámos a Buba já noitinha.

Assentou-se arraial nesse quartel
e algum tempo tivemos de ficar,
foi-nos dada a missão e o papel
de fazer segurança e patrulhar.

Depois de Buba, a nossa companhia
foi destacada para ir p´ra Mampatá,
a coluna militar onde seguia,
sofreu vários ataques até lá.

Nesse local estivemos vinte meses
até findar a nossa comissão,
lutámos e sofremos muitas vezes
em nome de um país, de uma nação.

O regresso a Lisboa já não tarda,
deixámos a Guiné, missão cumprida,
é a esperança no futuro que se aguarda
e que nos faz voltar de novo á vida.


Quem me dera que esta guerra

Quem me dera que esta guerra,
Por que estamos a passar,
Pois todo o mal que ela encerra,
Faz-nos sofrer e pensar.
Quem me dera que esta guerra
Pudesse um dia acabar.

Quem me dera não ser alvo
Do perigo que nos espreita,
Procuro estar são e salvo
E de saúde perfeita.
Quem me dera não ser alvo
De apanhar qualquer maleita.

Quem me dera regressar
na posse dos meus sentidos
e o futuro desenhar
em vários tons coloridos.
Quem me dera regressar
p´ra abraçar os entes queridos.
Quem me dera que acabasse
o regime em Portugal
e um governo se instalasse
de salvação nacional.
Quem me dera que acabasse
a guerra colonial.

Quando saímos p'ro mato


Quando saímos p´ro mato,
Há uma tristeza,
É sempre um momento ingrato
E de incerteza,
O perigo espreita
E a malta suspeita
Que haja emboscada.
Devemos estar atentos,
Ver os movimentos
Em toda a picada.

É em Mampatá
que fica o quartel,
dá-nos confiança,
também segurança
e um certo bem estar.

A malta dirá
de modo fiel
que não te esquecemos,
decerto teremos
algo a recordar.

Toda a nossa companhia
foi destemida,
não nos faltou valentia,
logo á partida
não mostrar receio

Talvez fosse o meio,
eficaz e forte,
e reconhecer
p´ra sobreviver
foi preciso sorte



Texto: © Edmundo Santos (2017). Todos os direitos reservados. [ Edição / revisão / fixação de texto: .Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Mário [Gaulter Rodrigues] Pinto:

Data: 18 de novembro de 2017 às 13:45
Assunto: Novos versos alusivos à nossa comissão na Guiné

Caro Luis:

Recebi este e-mail do meu camarada e amigo Edmundo, com  uns versos recentes que fez,  como explica. Uma vez que fala de um telefonema que com ele tiveste, e não sabendo se os mesmos te foram enviados,  aqui os envio com a aprovação do Edmundo.

Um abraço

Mário Pinto
_______________

Mensagem do Edemundo Santos, [novembro de 2017]

Amigo Mário Pinto;

Votos sinceros de melhorias na tua saúde e na da tua esposa. Felizmente eu e a minha mulher cá vamos andando bem.

Estou a escrever-te e a enviar-te uns versos que fiz, antes do almoço que eu e o José Ramos organizámos em Benavente. Um deles foi cantado depois do almoço, para além daqueles dois que tu já fizeste o favor de publicar no Blogue dos Morcegos de Mampatá ( "Fado da Metralha" e " Estou farto deles tirem-me daqui" ).

Há um indivíduo que me telefonou na semana passada, que é o [Luís] Graça,  e me perguntou se eu tinha versos para publicar e eu disse-lhe que tinha feito estes, que te estou a enviar, por ocasião do último almoço em Benavente.

São letras simples que eu adaptei a algumas músicas de fado. Vão em primeira mão e espero que sejam do teu agrado.

Um abraço do Edmundo


2. Nota do editor LG:

Mais um contributo para "o cancioneiro da nossa guerra"...  Já aqui falámos do Edmundo Santos, fur mil da CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosda e Mampatá, 1969/71) (*).  Estive, em novembro último, à fala com ele, através do telemóvel.  Mandou-me, por intermédio  do seu amigo e camarada Mário Pinto, mais uns versos, ao gosto popular alentejano, que ficam bem no "cancioneiro de Mampatá".  Os versos não traziam título. O Edmundo e o Mário têm sido alguns dos dinamizadores dos convívios anuais do pessoal da CART 2519, também conhecidos por "Os Coirões de Mampatá".

Reforço aqui o meu convite para o Edmundo passar a integrar a nossa Tabanca Grande. Lisboeta, reformado, vive em Pedrógão Grande. O nosso obrigado ao Mário Pinto.

 _____________

Nota do editor:

(*) Vd. os dois primeirso postes da nova série:

8 de novembro de  2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha


CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A bordo do T/T Uíge que levou o pessoal até Bissau, em maio de 1969, : o Edmundo Santos, à esquerda, e o Mário Pinto, à direita.  Foto do álbum do Mário Pinto, reproduzido aqui com a devida vénia.

Foto: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuamos a reunir as peças, dispersas pelo blogue, do "cancioneiro da nossa guerra"... De facto,  são já algumas dezenas, entre quadras ao gosto popular,  sonetos, versos decassílabos parodiando os "Lusíadas", textos poéticos livres, poemas, hinos, letras de canções, baladas, fados, etc. (*)

No essencial,  são letras produzidas ao longo da guerra (1961/74), mas também no pós-guerra... e nalguns casos, muito depois do nosso regresso.  Nem todas têm autoria, mas em quase todas elas há um "sentido coletivo", ou procuram interpretar um "sentir coletivo", centrando-se o seu conteúdo nas peripécias da tropa e na guerra, e tendo por cenário a Guiné.

Nem todos estes textos poéticos eram canções (como o "Cancioneiro do Niassa", por exemplo). Uns tinham (ou poderiam ter tido) suporte musical, outros não. Preocupámo-nos sobretudo com a recolha das letras que corriam o risco, isso, sim, de se perderem para sempre... Num caso ou noutro, conseguimos identificar a música que lhe estava associada (, em geral, era parodiada, como acontecia com o "Cancioneiro do Niassa").

Este material poética, independentemente da sua qualidade literária, tem interesse documental, tem um matriz socioantropológica, fala de nós, das nossas vidas na Guiné, fala de uma geração anónima, esquecida, mal tratada, fala de lugares perdidos e achados,  de topónimos estranhos, fala inevitavelmente da trilogia "sangue, suor e lágrimas", fala inevitavelmente da fome e da sede que passámos, mas também fala de coragem, de camaradagem, de saudade, etc.

Continuamos a apelar aos nossos leitores para continuarem a alimentar esta série. Acreditamos que há ainda muitas "canções e outros poemas de guerra" esquecidos no "baú da memória" dos ex-combatentes que fizeram a guerra da Guiné (1961/74)... É trabalho para nós, mas também para os nosso filhos e netos... que, com o gravador de som do telemóvel podem registar letras e músicas que os seus pais e avós ainda se lembram dos tempos da Guiné.

As referências a este tópico já são muitas, no nosso blogue, para cima mesmo de uma centena.


2. Hoje temos o gosto de vos apresentar, pela mão do nosso grã-tabanqueiro Mário Pinto, alguns letras do Edmundo Santos que ficarão para sempre associadas ao "cancioneiro de Mampatá"... 

O Edmundo irá abrir o caminho a outros camaradas, com engenho, jeito, arte e talento para a escrita poética como será o caso do nosso Zé Manuel Lopes, mais conhecido pelo seu pseudónimo literário, Josema.  [O José Manuel de Melo Alves Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, é natural da Régua.]

O Mário Pinto e o Edmundo Santos, por sua vez,  eram ambos furriéis da CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71).

Sobre o poeta, e seu camarada, Edmundo Santos escreveu, em 1 de agosto de 2009,  o Mário [Gaulter Rodrigues] Pinto, na página que ele próprio criou, "CART 2519, Os Morcegos de Mampatá"

(...) "Gostaria de falar do nosso camarada e amigo fu mil  Edmundo [Santos],  do 2.º Grupo de Combate, figura controversa da nossa Companhia.

O Edmundo era natural de Lisboa, do antigo bairro da Picheleira,  oriundo de uma família operária e trabalhadora, pois seu Pai era da CARRIS. Cresceu e aprendeu a contestar o regime vigente, como talvez nenhum de nós o pensasse, fruto da sua educação familiar. Por isso era contestatário permanente mas de uma alma grandiosa (, do tipo despir a camisa para dar ao seu amigo). Por o Edmundo ser o único furriel desponível do 2.º Gr Comb, eu algumas vezes nele fui integrado e vi muitas vezes o seu estado de espírito quanto ao conflito.

O Edmundo tinha sido meu contemporanio na EPA [, Escola Prática de Artilharia,]  e por isso convivímos assiduamente. Quem não se lembra dos seus versos e fados que todos nós,  bem ou mal cantarolávamos nos nossos momentos de ócio:  "De pica na mão lá vai a maralha", o fado da "Metralha" ou o "Adeus, Aldeia", versos e fados da sua autoria, são pecúlios que ficarão sempre na nossa memória." (...)



Cuiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 2519 (1969/71) > Resultado da explosão de uma mina A/C... Apesar da má qualidade da imagem, vê-se do lado direito a viatura sinistrada, uma GMC, e do lado esquerdo um corpo no chão.



Cuiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 2519 (1969/71) > O pesadelo dos fornilhos e das minas anticarro (A/C) e anti-pessoal (A/P), colocadas nas picadas, nos trilhos, nas bermas da estrada... Daí a importância  (e o stresse) da "picagem" do terreno, que era efetuada por uma secção de "picadores" ou "picas" (vocábulo, subs. masc.,  que ainda não vem grafado nos nossos dicionários, com esta aceção, sinómimo de picador, tal como não vem agrafado o vocábulo "pica", subs. fem, que designava a vara que terminava, com um prego ou ponta de aço, e que servia justamente para "picar" o terreno e detetar minas e fornilhos)


Fotos: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



3. Segundo a ficha da unidade, a CART 2519 era uma companhia independente, mobilizada pelo RAL 3, partiu para o CTIG em 7 de maio de 1969 e regressou em 17 de março de 1971. Esteve sediada em Mampatá, e o seu único comandante foi o cap art Jacinto Manuel Barrelas.

Recorde-se por outro lado o que o Mário Pinto,o cronista da CART 2519, escreveu sobre a missão da sua companhia, em Mampatá: 

"A CArt 2519 a que eu pertencia quando se instalou em Mampatá , por volta do fim de agosto de 1969, depois da construção da estrada Buba-Aldeia Formosa, de má memória, recebeu como missão interceptar as colunas do PAIGC no corredor de Missirá que se deslocavam de sul para norte via Nhacobá-Uane-Xitole. Para cumprimento desta missão todos os dias um Grupo de Combate reforçado fazia emboscada no dito corredor em quanto outro Gr Comb patrulhava as imediações perto do corredor."(...).

As companhias do "mato", independentes, metropolitanas ou africanas, adidas aos batalhões ou aos comandos de agrupamento operacional (CAOP, COP), erm "usadas e abusadas" por "eles",  os "senhores da guerra", os oficiais superiores... E muitas eram "sobrecarregadas", em termos de atividade operacional, por compração com as unidades de quadrícula que faziam parte dos batalhões... Em suma, havia filhos e enteados...

Np CTIG, no "mato", o ambiente operacional era de de grande tensão, levando ao fim de meses, à exaustão física e emocional,  e isso está bem retratado nestas três etras do Edmundo Santos que o Mário Pinto recolheu e publicou na sua página e, depois, foram reproduzidos, com a devida vénia no nosso blogue (**).

Espero que ainda haja mais letras destas no "baú" do Edmundo, Santos que, para surpresa minha, se revela um poeta talentoso, com recursos estlílisticos acima da média, sabendo fazer bom uso do humor, da ironia, do sarcasmo... Constou-me que ele continua a fazer poesia, vou ver se lhe telefono e o convido, pessoalmente, para integrar a nossa Tabanca Grande, dando-nos assim a honra de sentar  à sombra do nosso simbólico e sagrado poilão!

Seria interessante também saber, junto do Mário Pinto, que músicas (de canções, baladas ou fados da época) acompanhavam estas letras... Como ele recorda, "eram versos e fados que todos nós, bem ou mal,  cantarolávamos nos nossos momentos de ócio"... O cantar, em grupo, e geralmente de copo na mão, na caserna dos soldados ou nos bar de sargentos (, locais que em geral os oficiais, mesmos os milicianos, não frequentavam fora das "horas de serviço"), ajudava a exorcizar os nossos fantasmas, a "desopilar", a aliviar a tensão...Como diz o povo, "quem canta, seu mal espanta"...

Os ventos (da contestação, da revolta e de esperança) que começavam a soprar na metrópole, com a chamada "primavera marcelista", também chegam à Guiné...a avaliar pela forma e conteúdo destas letras do Edmundo Santos. (LG)

PS - Já falei com o Edmundo Santos, que vive em Lisboa, e que aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, Ficou de me dizer, por mail, que músicas de fado eram cantadas com estes versos (em geral, em festas de anos da rapaziada...). Vai-me mandar também mais algumas letras que escreveu mais recentemente, sobre os tempos de Guiné, e que não chegaram a  ser cantadas, com acompanhamento de guitarra e viola, como estava previsto, num dos últimos encontros do pessoal da CART 2519, em 2013,  em Benavente. 


OS MORCEGOS

por Edmundo Santos



Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.
Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.

Ai!, uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os 
Morcegos,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos 
Coirões de Mampatá.

Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um 
Morcego.

Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá > 29/9/2011


ESTOU FARTO DELES, TIREM-ME DAQUI!

por Edmundo Santos


Tenho corrido 
manga de estradas,
que em tão má hora eu conheci,
tenho caído em emboscadas,
estou farto deles, tirem-me daqui!

Noites no mato,  debaixo de água,
são realidades que eu já vivi,
tenho a alma cheia de mágoa,
estou farto deles, tirem-me daqui!

Muita fominha tenho passado,
por causa dela me ressenti,
tenho o corpito todo enfezado,
estou farto deles, tirem-me daqui!


Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá >  28/9/2009


FADO DA METRALHA

por Edmundo Santos



De pica na mão,
lá ia a maralha
com toda a metralha,
de olhos no chão;
para não haver falha,
piquem bem o trilho,
tomem atenção;
sou de opinião
que, se houver fornilho,
ai que Deus nos valha!

E, naquela estrada,
junto ao cruzamento,
as dores que me deste,
mais uma emboscada,
no meu pensamento,
nessa mata agreste
e os bombardeiros,
fiéis companheiros,
em qualquer momento
iam atacando
e 
turras matando,
sem dó nem lamento.

Adeus, Mampatá,
quero-te esquecer,
fizeste sofrer
quem andou por cá,
pronto a combater,
ó maldita terra
onde nada há,
e digo-te já
que toda esta guerra
foi dura a valer.


Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá > 25/9/2009

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]