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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22115: Manuscrito(s)(Luís Graça) (200): Soneto do paciente do IPO - Lisboa, dedicado à equipa da unidade 3 do serviço de radioterapia que cuida de ti com gentileza, humanidade, competência e empatia...


Lisboa > Palhavã > Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil... Em 2023 vai fazer cem anos... Foi em 1923, na I República,  sendo ministro da Instrução António Sérgio (1883-1969), que nasceu o futuro Instituto Português de Oncologia (IPO), designação dada em 1930. Graças à visão estratégica do seu fundador, o médico Francisco Gentil (Alcácer do Sal, 1878 - Lisboa, 1964) , o IPO ficou desde logo ligado à Faculdade de Medicina, mas com total autonomia financeira e administrativa. O primeiro pavilhão começou a receber doentes em 1927. Em 1948, foi inaugurado o bloco hospitalar central (foto acima), com projeto do arquiteto alemão Hermann Distel (1875-1945), o mesmo que projectou, em 1938, os Hospitais de Santa Maria (Lisboa) e São João (Porto).  Faz parte hoje do SNS - Serviço Nacional de Saúde. (LG)

Fonte: IPO de Lisboa > História (com a devida vénia)

Soneto do paciente do IPO

por Luís Graça

[Com a minha gratidão para com as técncas de radioterapia Dina, Maria João, Rosa e a estagiária Inês,  da jovem e fantástica equipa da unidade 3 do serviço de radioterapia do IPO de Lisboa... Há várias semanas que passo por lá, de manhã, em tratamento... E enquanto a máquina [, um "acelerador linear",] me "bombardeia" com radiações ionisantes, em estou deitado a olhar para uma "nesga de céu azul" donde se destaca um ramo de macieira, árvore sagrada na antiguidade clássica: conto e reconto mentalmente, todas as manhãs, de segunda a sexta, os 17 flores da macieira (três ainda em botão), cada flor com 5 pétalas e 20 estames... Ao todo são, 70 pétalas e 280 estames... E na semana passada, para me ajudar a passar o tempo e esquecer a dor provocada pelo controlo dos esfíncteres, fiz este soneto, que só posso dedicar a quem tão bem cuida de mim, com grande gentileza, humanidade, competência e empatia... Sempre que temos 1 minuto, enquanto elas imobilizam o meu corpo com precisão milimétrica, vamos comunicando verbalmente, o que é fundamental na relação terapêutica.] 


Hoje não quero ver as flores da macieira

Na nesga de céu desta sala de tortura,

É p'ra teu bem, mas é dia de amargura,

Diz o teu anjo da guarda, à cabeceira.


Aqui tens de aprender a ser paciente,

Vir de reto limpo e cheia a bexiga,

E confiar na radioterapia amiga,

Que te bombardeia algures no baixo ventre.


É a próstata, meu Deus, que te deu sinal,

Coisa que no céu nunca te aconteceria,

Belisca-te, estás vivo, mas não imortal.


Ao mal o mal, diz o hipocrático aforismo,

Faz da tua dor princípío de alegria,

E a quem cuida, sim, dá medalhas... de heroísmo!


Lisboa, IPO, Serviço de radioterapia, unidade 3

16 de abril de 2021

___________

Nota do editor:

Útimo poste da série > 6 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22074: Manuscrito(s) (Luís Graça) (203): Para a Joana, que hoje faz anos: "E os adultos, esses, já morreram todos. Só ficaram as crianças, sozinhas, a envelhecer” (Louise Glück | Frederico Pedreira, "Uma Vida de Aldeia", Lisboa, Relógio de Água, 2021, p. 133)

Vd. também poste de 28 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22047: Manuscrito(s) (Luís Graça) (201): O pôr-do-sol no Atlântico, no tempo do não-tempo do confinamento (Luís Graça)

(...) Na unidade 3 da radioterapia do IPO, o teu "céu" (iluminado) é a foto de um ramo de macieira ["Malus domestica"], com 17 flores (3 ainda em botão)... Cada uma das 14 flores tem cinco pétalas. brancas, e 20 estames... "Be patient"!.... Afinal é apenas meia hora por dia em que tens de estar de barriga para o ar, absolutamente imóvel, as mãos pousadas no peito... O único escape a que te podes dar ao luxo é (re)contar mentalmente as flores, as pétalas e os estames das flores da macieira... projetadas no tecto.

É uma boa terapia para a ansiedade inicial e a claustrofobia: ajuda-te a passar o tempo deste não-tempo enquanto o robô anda à volta do teu corpo, "bombardeando-te" com radições ionisantes... Protésico e agora radioactivo... Não, emenda a radioterapeuta Dina. É um tratamento não invasivo, avançado, seguro... Confia nos teus anjos da guarda!.

A flor, branca, da macieira tem sobre os frágeis seres humanos (mesmo os mais durões que andaram na guerra) um efeito mágico, tranquilizante, securizante e promissor. A esperança é uma crença poderosa. Talvez o "truque" não passe de um placebo, mas tem uma eficácia terapêutica simbólica, não menos poderosa que as radiações. A flor da macieira não está lá por acaso, no meio daquele "bunker" das tecnologias da saúde de ponta... E ficaste frustrado quando, por lapso, um dia não acenderam a luz do teto... (Dizem-te que nas outras unidades os motivos que enfeitam o "céu do paciente", são diferentes: nuvens, ondas do mar, palmeiras, outras árvores de fruto...)


Hércules roubando as maças do Jardim das
Herpérides. Detalhe do mosaico romano dos 
Doze Trabalhos  de Hércules (Llíria, Valência , 
Espanha ) (séc. III d.C.). Museu 
Arqueológico Nacaional de Espanha. 
Foto de Luis García ( Zaqarbal )
(2006). 
Fonte: Cortesia de Wikimedia Commons.

A macieira simboliza a vida, a saúde, o amor, a sabedoria, a felicidade no futuro mais que perfeito,.. Quiça a inortalidade. 
Está presente em muitas das mitologias da nossa antiguidade. Na mitologia grega, a Mãe-Terra, Gaia, deu uma macieira a Hera, como prenda de casamento com Zeus, o deus dos deuses... Na nossa cultura judaico-cristã, a macieira é a árvore do conhecimento e a maçã um fruto proibido... 

Afinal, os deuses têm alguns dos defeitos dos humanos: tãmbém são possessivos, ciumentos, vingativos e... cruéis: a macieira sagrada estava no Jardim das Hespérides, e era bem guardada por um dragão, Ladão. Ao herói Hércules (, o nosso Adão...) foi incumbida a tarefa ("hercúlea") de roubar uma maçã daquela árvore. Um dos doze trabalhos de Hércules era justamente "ir roubar" ao pomar de Hera, onde crescia a macieira que dava as maçãs douradas (ou "pomos de ouro" da imortalidade... Hera odiava Hércules, 
filho bastardo de Zeus... 
 Pobres de nós, que precisamos de deuses e de heróis!... 
Mas isso ajuda-nos a suportar a nossa condição mortal, 
pensando que somos heróis, mais do que homens, menos que deuses!)
 
Contas e recontas as 14 flores de macieira na tua nesga de céu, artificial, mais as 70 pétalas, brancas, e os 280 estames. Um pequeno suplício de Sísifo, aceitável, de segunda a sexta-feira. Só tens que aprender a controlar os esfíncteres. Vais de bexiga cheia (e o reto limpo...) com 0,666 litros de água da EPAL (que sempre é mais barata). "Dia de purga, dia de amargura", diz o aforismo hipocrático... Mas já lá vai o tempo do nosso senhor dom João V em que se escrevia nos muros do Hospital Real de Todos os Santos: "Em Lisboa nem sangria má, nem purga boa"... Espantoso, não há grafitos nos muros do IPO de Lisboa... Os grafiteiros têm medo do cancro que se pelam!... O IPO é, de certo modo, um campo sagrado...

Um dia destes talvez saia um poema... à flor da macieira, e às meninas, delicadas e dedicadas, da equipa multidisciplinar da unidade 3 da radioterapia do IPO. Mal se comunica, cuidadores e pacientes, porque está tudo cronometrado ao minuto. Há 7 unidades destas, é um verdadeira linha de montagem. Segunda-feira, quando voltares ao tratamento, no fim podes riscar mais um "pauzinho" no teu "vademecum": das 28 sessões prescritas faltar-te-ão só 22... E na terça, 21, e na quarta, 20, na quinta, 19...

(...) Como no tempo do não-tempo da Guiné, em que não havia calendário, e o tempo do não-tempo da guerra era contado por riscos nas paredes sujas dos "bunkers"... ou das casernas. Não havia céu nem imagens de flores de macieira, apenas rachas de cibes, chapas de bidão e terra batida. Nem muito menos te estava prometida a imortalidade e o estatuto de semideus (ou herói) de Hércules...

Há quem se queixe de tudo e de nada. Podias queixar-te da Pátria que te roubou 36 meses de vida... Mas para quê ? Afinal, entraste no segundo ano da "comissão de serviço" imposta por esta maldita pandemia de Covid-19. E ainda ninguém  te viu apresentar queixa na competente repartição do Olimpo. Disseram-te que não valia a pena: afinal, há casos muito mais graves que ocupam o tempo do não-tempo do teu Criador...

Espera, ao menos, que Zeus e Hera continuem a estimar, e a cultivar, nos jardins do Olimpo, as macieiras... E que Higia, a deusa da saúde, te proteja...E lembrando-te sempre que a palavra terapeuta, que vem do grego "therapeuthes", é apenas um "medium, aquele que faz a ligação com o deus que cura... Cuidar e curar não é a mesma coisa. Cuida-te. Ámen.(...)

sábado, 18 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21179: Da Suécia com saudade (77): Os Vikings, os capacetes... e os cornos (, que só aparecem em 1820 e que hoje são de plástico, "made in China") (José Belo)

José Belo
1. Mensagem de José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:



Date: terça, 14/07/2020 à(s) 09:58

Subject: Os Vikings...Os capacetes...Os cornos.


Caro Luís 

Estando o mundo,e não menos os Estados Unidos,a atravessar uma situação infelizmente sobre o controle de um daqueles políticos messiânicos que sempre surgem nestas ocasiões, será talvez a altura mais apropriada para esclarecer alguns leitores do blogue (sempre interessados nestas coisas civilizacionais!)quanto ao facto de os Vikings [, ou víquingues,]usarem,ou não,cornos nos seus capacetes de combate. 

Porquê misturar os States nesta Saga?

Simplesmente porque ,nos tempos mais modernos,terem sido as superproduções de Hollywood, e alguns autores de banda desenhada (também),  responsáveis pela mesma.

Sem entrarmos em profundas dialéticas quanto a costumes,necessidades,instintos sexuais dominantes da natureza humana, etc, etc, etc....e nos "etc" está sempre muito do dramático destas coisas...

Será óbvio que as prolongadas e regulares viagens destes heróis destemidos para locais sempre distantes, não só lhes traziam as riquezas e a muito cobiçada fama pessoal,como uma enorme possibilidade (estatística!) de usarem os famosos cornos, não sobre o capacete de combate mas.....por debaixo do mesmo!

Poucos,dos que profundamente se interessam por este particular da nossa cultura tão Ibérica ,terão dificuldades em compreender que as mitológicas mulheres escandinavas durante estas prolongadas e incertas viagens dos seus companheiros, não procurassem "fontes de calor". Gostei desta imagem digna de um Luciano de Castilho!

(E aqui há que relembrar os infindáveis, escuros e gelados Invernos locais que em tudo abonam em favor das virtudes femininas escandinavas.)

"Fontes de calor" certamente fáceis de encontrar entre alguns "chicos espertos" Vikings que sempre se desculpavam com a última gripe para não se ausentarem das quentes lareiras...oferecidas.

E para mais,porque andariam estes guerreiros a navegar de um lado para o outro com tão especiais capacetes, tão fáceis de serem arrancados pelos adversários nos combates corpo a corpo?

Para não referir o facto de serem recebidos com gargalhadas nos campos das batalhas na Península Ibérica,na sua tão única e original cultura sobre o assunto.

Mas facto é que os tais cornos não existiam nos capacetes vikings. Historiadores e arqueólogos estão hoje em total acordo quanto a isto.

Julga-se ter este mito surgido em 1820 com a publicação de uma coletânea de lendas Escandinavas por um artista sueco contratado para ilustrar as histórias.

Teria,erradamente, buscado fontes de inspiração nas roupas típicas de algumas tribos Celtas e Germânicas,entre as quais era comum o uso de peles e cornos de animais nas suas cerimónias ...religiosas.

Anos mais tarde este mito veio à generalizar-se quando, entre 1848 e 1874, o compositor alemão Richard Wagner escreveu uma série de quatro Óperas,  chamadas "O Anel dos Nibelungos " onde as personagens eram originárias da mitologia nórdica e apareciam em cena vestindo peles e usando elmos com cornos.

O resto? Hollywood,autores anglo-saxônicos  de bandas desenhadas,e as nossas imaginações.

A feliz imagens ficou estabelecida,para proveito das lojas de vendas de recordações turísticas em Estocolmo e Oslo, com os seus ridículo elmos de plástico barato adornados com cornos...made in China!

Um abraço do J.Belo

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Nota do editor:


domingo, 14 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21075: Manuscrito(s) (Luís Graça) (185): por favor, não destruam o que resta da caixinha de Pandora, porque nela ainda está o segredo da nossa salvação, a Esperança, o veneno do mal que nos liberta do mal


Estátua de Pandora (1861), 
de Pierre Loison (1816-1886). 
Paris, palácio do Louvre. 
Cortesia de Wikimedia Commons





A Caixinha de Pandora


por Luís Graça


Os deuses criaram a primeira mulher,
e puseram-lhe o nome de Pandora.
Diziam os gregos antigos que fora por castigo,
como presente envenenado,
oferecido aos homens,
a quem Prometeu, o titã, tinha dado o fogo,
roubado aos céus.

Na sua fabricação,
à imagem e semelhança dos deuses,
trabalharam Hefesto e Atena,
sob as ordens do próprio Zeus,
e com o auxílio do resto do Olimpo.

Cada dividindade se esmerou
e lhe deu uma qualidade:
a graça,
a beleza,
a meiguice,
a paciência,
a compaixão,
a persuasão,
a generosidade,
a inteligência emocional,
a sensibilidade,
a sensualidade,
o sexto sentido,
a graciosidade na dança,
a arte da sedução,
o erotismo,
o talento para a cozinha,
a destreza para os trabalhos manuais,
o amor maternal…

Porém Hermes, o pérfido

inocolou, às escondidas,  no  coração de Pandora,
(, quiçá com a cumplicidade do próprio Zeus,)
o vírus da traição,  da mentira, da intriga, do ciúme e da intolerância.

Zeus, o colérico e vingativo pai dos deuses
e de todas as demais criaturas,
mandou então a sua obra-prima
para a terra, qual cavalo de Tróia.
Epimeteu, irmão de Prometeu, estava por este avisado:
- Do céu nunca virá nada de bom!
Nunca aceites nenhum presente divino…

Deslumbrado com a sua beleza,
Epimeteu tomou Pandora como esposa.
Em casa, ele tinha uma misteriosa caixa
que outrora lhe enviara o céu.
Pandora fora instada a nunca a abrir,
em circunstância alguma.
Mas a curiosidade feminina foi superior às suas forças.
Outros dizem
que era... o seu dote de casamento,

um presente envenenado.

… Lá dentro, na caixa de Pandora,
estavam todos os males,
todos os cavaleiros do apocalipse
a fome, a guerra, a morte
 e todas as doenças
a começar pela peste, a pior das doenças,
que haveriam de afligir a humanidade,
até ao fim dos séculos dos séculos…
sem esquecer todas as sementes do mal:
a estupidez, o fanatismo, a intolerância, o ódio, o racismo. 

Mas, no fundo da caixa, ficou ainda
um resto do recheio original,
o único elemento que não se chegara a libertar,
porque Pandora, assustada,
ainda conseguira fechar a tampa,
na derradeira fracção de segundo …
E esse elemento era… a Esperança,
disfarçada de mal !

Apesar do erro, terrível,  irreparável,
Pandora vai permitir aos homens,
empunhar com orgulho o archote de fogo
que lhes dera Prometeu,
manter acesa a luz ao fundo do túnel,
manter vivo esse outro fogo do conhecimento e da paixão,
dominar alguns dos piores males
que estiveram prestes a destruir a humanidade,
todos os holocaustos e pandemias,
conquistar o direito ao futuro,
lutar contra a doença e a morte,
alimentar a esperança,
combater o fatum, a condenação ao absurdo,
levá-los, enfim, aos seres humanos
a superar as limitações da sua condição animal...

Com Pandora, não somos definitivamente criaturas divinas,
nem obras-primas da criação,
somos assumidamente seres livres,
humanos,
frágeis,
vulneráveis,
mortais,
bons e maus,
fortes e fracos,
mas donos do nosso destino.

Com Pandora, tornámos irrisórios os deuses,
libertámos criadores e criaturas,
deixámos a suburbanidade do Olimpo,
humanizámos a vida,
hospedámo-nos no sistema solar,
começámos a escrever a história, 
com muitos erros e crimes, é verdade,
mas escrevemos,
e  ganhámos a terra como nossa casa comum,
conhecemos a vertigem e o sabor
da aventura e da liberdade...


Pandora, nossa mãe negra, branca, amarela, vermelha...
mãe de todas as cores do arco-íris,
Não, Pandora, não és a fonte de todos os males,
não és o pecado original,
és afinal “a que tudo dá",
em grego.


Com Pandora somos fogo e estopa,
mas já não vem o diabo... e assopra!
Para quê o diabo,
se voltámos a ter, de volta,
a caixinha de Pandora,
agora domada e explicada às criancinhas,
e outrora mortal brinquedo dos deuses ?

Por favor, não destruam 
o que resta da caixinha de Pandora,
porque nela ainda está o segredo da nossa salvação, 
a Esperança, o veneno do mal que nos liberta do mal...


Lisboa, 8/3/2010. 
Versão 2, Lourinhã, 13/6/2020

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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16830: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte V: Anexos A água: o(s) suplício(s), de Sísifo e de Tântalo (1)


















Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



História da “feitoria” de Mansambo, com foral a partir de 21 de abril de 1968







1. Quinta parte do trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens" (*), realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (*)


Sísifo ...foi condenado pelos deuses, por toda a eternidade (!), a empurrar  uma enorme pedra,  com suas próprias mãos até ao cume de uma montanha. Chegado lá, a pedra rolava novamente montanha abaixo, e o suplício continuava, uma, duas, três, infinitas vezes, inútil e estúpidamente...

"O trabalho de Sísifo" exprime o absurdo de muitas vidas humanas, como a dos Viriatos da CART 2339, em Mansambo.

Tântalo, por sua vez,  por ter tentado enganar os deuses,  foi lançado, por castigo ao rio Tártaro, nunca pondo saciar a sua sede (... nem matar a sua fome),  já que, ao aproximar-se da superfície da água esta se escoava...

O suplício de Tântalo refere-se, assim, ao sofrimento daqueles que desejam ansiosamente algo que está aparentemente ao alcance da mão mas a que esta nunca poderá chegar...A água foi um dos bens essenciais que escasseava em Mansambo e  que os Viriatos aprenderam muito cedo a respeitar como algo de vital e de  sagrado... (LG)