Guiné > Bissum Naga > CCAÇ 1497 > Março/abril de 1967 > Início da construção do aquartelamento... Como se pode ver, estas construções davam-nos cá uma qualidade de vida... Foto do álbum de Carlos Gomes Ricardo, cor inf DFA (ex-alferes da CCAÇ 1496 / BCAÇ 1876,
Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-capitão, CCS/QG/Bissau e cmdt da CCAÇ 3,
Guidaje, 1970/72) (*)
Foto e legenda: © Carlos Ricardo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Do nosso leitor, de origem guineense, Martinho Arroz:
De: Mart Arroz <m2arroz@yahoo.com>
Data: 10 de julho de 2017 às 00:25
Assunto: Procuro foto
Antecipadamente endereço os meus agradecimentos. Sou de Bissum-Naga, era eu criança, mais ou menos tinha aproximadamente 8-10 anos de idade, quando foi instalado o aquartelamento de Bissum (Naga).
Eu era uma das tantas crianças que trabalhava no quartel. Eu concretamente estava no posto de rádio. Lá estava o cabo Pinheiro, era delgadinho e estava um gordo cujo nome não me lembro. O Pinheiro deu-me nome de Fula-Fula e Martinho.
O caso é seguinte: Meu pai entregou arma de IN (turras). A partir dessa entrega, eles, turras, começaram à procura do meu pai para o matar. Foi assim que ele foi morto pelo IN (turras). Meu pai não era milícia, era civil.
Tenho certeza que, quando ele fez a entrega da arma, foi fotografado. Penso que o acto da entrega da arma foi nos anos... fins de 1967 ou princípios de 1968.
Nesse quadro peço o favor de ajudarem-me a encontrar essa fotografia, ficaria muito grato pela vossa ajuda. (*)
Vivo em Portugal, concretamente em Sesimbra, Cotovia.
2. Comentário do nosso editor Carlos Vinhal, ao encaminhar o assunto para mim e para o nosso colaborador permanente José Martins:
Caros amigos:
Esta é que é mesmo difícil. Que fazemos?
Ab, Carlos
3. Resposta do "consultório militar" do Zé Martins:
Bom dia, Carlos
Há situações que mais vale serem mortas à nascença, do que alimentar esperanças.
O blogue não é uma "agência estatal" e, portanto, não se move nos meios militares à vontade.
A foto, a existir, não está "ali a olhar para nós". Estará dentro de um dossiê ou até digitalizada, se é que chegou às mãos do arquivo, e não se sabe qual.
Se o blogue quiser ser "politicamente correcto", em minha opinião, poderá facultar a informação de que o Arquivo Histórico Militar está localizado nas instalações do Museu Militar, Largo Caminhos de Ferro 2, 1100-105 LISBOA, telefone 800 205 938.
Há ainda o Arquivo Histórico Ultramarino, Calçada da Boa-Hora, nº 30, 1300-095 LISBOA, Tel 210 30 91 00, E-mail Geral:
ahu@ahu.dglab.gov.pt
Com toda a estima e consideração, vai um quebra-ossos.
Zé Martins
4. Comentário de LG:
Sobre
Bissum Naga temos cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue. Sabemos que foi a CCAÇ 1497 quem, entre 17 de março de 1967 e 14 de setembro de 1967, construiu (ou iniciou a construção de) o aquartelamento e assumiu a responsabilidade do subsetor então criado. O nosso camarada Carlos [Gomes] Ricardo foi alf inf [QP] desta companhia (**), e pode por certa ajudar-nos a responder ao pedido do Martinho Arroz.
No fim desse período,em 14 de setembro de 1967, a CCAÇ 1497 foi rendida pela CCAV 1747 (Bissum, 1967/69).
Os factos referidos pelo Martinho, a terem ocorrido em finais de 1967, princípios de 1968, seriem então do tempo da CCAV 1747 (1967/69).
Sobre a
CCAÇ 1497 /BCAÇ 1876 (
Fajonquito,
Binar,
Bissum e
Bissau, 20/1/1966 - 4/11/1967), há três referências no blogue. Teve 2 comandantes: cap inf Carlos Alberto Coelho de Sousa, e cap mil art Carlos Manuel Morais Sarmento Ferreira.
Quanto à
CCAV 1747 (Farim e Bissum, 20/7/1967.- 7/6/1969) teve como comandante o cap mil inf Manuel Carlos Dias. Desse tempo e lugar temos no nosso blogue pelo menos dois testemunhos: o do José Saúde, contando as desventuras do seu amigo Toy Sardinha, ferido em combate na véspera do natal de 1967 (***) e do João Martins. alf mil do pelotão de artilharia, que chegou a Bissum a 21/12/1967, ali teve o seu batismo de fogo. e ali permanceu até junho de 1968 (****).
A CCAV 1747 deve ter sido substituída pela
CCAÇ 2465 (Có e Bissum, 1969/70), comandada pelo nosso grã.-tabanqueiro António Melo de Carvalho, ex-cap inf, hoje cor ifn ref..
Em resumo, quem pode ter uma cópia da fotografia pedido pelo Martinho é a rapaziada da
CCAV 1747 [, guião, à direita, gentileza do Carlos Coutinho]. Vamos contactar o José Saúde e o João Martins, já que não temos ninguém, registado na Tabanca Grande, pertencente a essa subunidade que esteve em Bissum, quase toda a comissão, desde setembro de 1967 a junho de 1969. Os coronéis Carlos Gomes Ricardo e António Melo de Carvalho também nos podem dar alguma pista,
Bem hajam a todos!
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Notas de leitura:
(*) Último poste da série > 25 de abril de 2017 >
Guiné 61/74 - P17282: Em busca de... (275): duas crianças do Oio, levadas durante a guerra, uma para Mansabá, Saliu Seidi, e outra para o Olossato, Malam Cissé, e depois para Portugal... Parece que os dois rapazes se encontraram uma vez com [o sueco] Lars Rudebeck em Portugal... Pede-se encarecidamente notícias do seu paradeiro (Manuel Bivar / Sadjo Turé, INEP, Bissau)
(**) Vde. poste 13 de fevereiro de 2014 >
Guiné 63/74 - P12712: Tabanca Grande (426): Carlos Gomes Ricardo Cor Inf DFA (ex-Alferes da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-Capitão, CCS/QG/Bissau e CMDT da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72)
(***) Vd. poste de 7 de outubro de 2013 >
Guiné 63/74 – P12125: Estórias avulsas (70): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)
(...) Bissum-Naga
Chegámos a Bissum a 21 de Dezembro [de 1967], portanto, na semana que precede o Natal, pelo que, como de costume, e talvez para esquecer as saudades das famílias que nessa quadra ainda são mais intensas, iniciámos a operação “Bolo Rei”, a que se seguiu a operação “Cavalo Orgulhoso”.
Tive uma adaptação particularmente difícil, porquanto logo nos meus primeiros dias tivemos feridos e mortos, e, na véspera de Natal, de forma imprópria de gente civilizada, houve um elemento considerado afecto ao inimigo que foi muito, mas muito maltratado, pelo que fiquei a saber da selvajaria de que também éramos capazes. Foi um dos piores locais da Guiné por onde passei.
Terra de balantas, etnia altiva e independente, nunca me senti muito bem visitando as palhotas e interagindo com a população, dir-se-ia que, ao longo de cerca de 500 anos de convivência os nossos povos tiveram muito poucos contactos.
A tabanca localizava-se entre o aquartelamento e o rio Cacheu, ao longo da estrada, de modo que eramos atacados apenas dos quadrantes Sul e Este. Nós e a população éramos frequentemente sujeitos a flagelações por parte do IN que nos atacava tanto de dia como de noite, pelo que, durante os meses que estive lá, dormi sempre sem saber o que eram uns lençóis e um pijama. (...)