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segunda-feira, 14 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23076: (De)Caras (185): Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atuou em Jabadá, para os militares da CCAV 2484 (1969/70) (Manuel Antunes / Fernando Feio)... mas também em Galomaro, em 1971, ao tempo do BCAÇ 2912 (António Tavares)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné > Região de Quínara > Jabadá > CCAV 2484 (1969/70) >  A cantora ié-ié Isabel Amora, atuando para os militares do aquartelamento, que ficava na margem esquerda do Rio Geba. Fotos do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)

Fotos (e legenda): © Manuel Antunes (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] 


1. O nosso camarada, Manuel Antunes, que vive há mais de meio século em Toronto, Canadá, acaba de confirmar o nome da artista que atuou para ele e os seus camaradas, os  "Dragões de Jabadá" (Fotos nº 1 e 2), em data que não precisa, mas que só pode ter sido entre 4 de março de 1969 e 9 de dezembro de 1970 (A CCAV 2484 / BCAV 2867 assumiu o subsector de Jabadá em 4 de março de 1969, e foi rendida em 9 de dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.)

Quem primeiro identificou a cantora (Foto nº 2) foi o Francisco Feio, ex-1º cabo mecânico, também da CCAV 2484: "Isabel Amora, nome artístico, tenho fotos dela e dos outros dois artistas que estiveram no mesmo concerto" (11 de março de 2022 às 22:55, comentário ao poste P23069 (*)

O Manuel Antunes mandou mais duas fotos desse espectáculo com a tal Isabel Amora (Fotos nº 1 e  4). Tudo indica que, nesse espectáculo, a artista tenha aparecido com duas indumentárias diferentes: vestido curto, mas de manga comprida e minissaia (Fotos nºs 1 e 2) e blusa de manga curta e calça à boca de sino (Fotos nº 4 r 5).  

Na primeira atuação, está ao nível dos espectadores, uns sentados, outros de pé, e outros ainda empoleirados numa árvore. O local pode ser a parada do quartel ou as proximidades de alguma das casernas. Na  segunda atuação, está num plano mais alto, num murete, junto à parede de um edifício. 

Na foto nº 3 pode ver-se um pormenor dos sapatos, que parece estarem parcialmente enlameados ou sujos com terra. Na foto nº 5, destaca-se um elemento, feminino, que parece estar a tocar teclas (ou piano elétrico). O Fernando Feio  fala em "mais dois artistas que estiveram no concerto".

2. Quem era a Isabel Amora, que entretanto já morreu, em 2020, com 74 anos?

Segundo elementos que recolhidos na Net, foi uma "pioneira vocalista pop entre nós e que hoje em dia poucos porventura recordarão" (**)... Nasceu na Amora, concelho do Seixal, distrito de.Setubal em 1946.

Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)

(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)


Com Paula Amora, sua prima, Isabel faz o duo Elas, com supervisão do músico Carlos Portugal.  "Entre 1971 e 1972 gravam cinco discos, contando com arranjos de Pedro Osório e com originais de Portugal e de Luís Romão (com percurso de destaque então a solo).

Mas em Jabadá  Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a  fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).

(...) "Ainda em 1971, este duo pop canta na inauguração do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, e participa no único Festival da Canção da Guarda, com 'Sim, Meu Amor Foste o Primeiro'. Depois dos dois últimos discos do duo, em 1972, Isabel Amora ainda cantou em Moçambique a solo e fez teatro alguns anos mais tarde, mas os tempos de glória tinham ficado para trás."

(...) "Em 1972 fizeram uma tournée por todas as praias de Portugal - Concurso Miss Praia 72 - com o patrocínio duma Rádio, com um grupo de músicos de Almada. Participam no programa televisivo que passa na RTP1 - Canal13 - todas as segundas feiras à noite. Programa esse que era gravado no Teatro ABC nos sábados anteriores no Parque Mayer, em Lisboa. (...)

(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)



3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):

(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.

"Os Militares e a População local durante umas horas esqueceram a guerra. Existem fotos comprovativas dos artistas em Galomaro. Acabada a actuação os artistas seguiram viagem para Bafatá ou Bambadinca." (*)

Ficamos sem saber quem promoveu o espectáculo em Jabadá (e noutros sítios, como Galomaro): O Movimento Nacional Feminino (MNF)?A atriz Helena Félix (Porto, 1920 - Lisboa, 1991)?  O pai da Eunice Muñoz, que se chamava Hernâni Cardinali Muñoz, e que era o empresário da Isabel Amora?... 

Enfim,  será que estes e outros empresários  fizeram digressões, com artistas da Metrópole,  pelos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique), independentemente do Movimento Nacional Feminino? Nesse caso, quem pagava? Era o Exército?

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17968: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 2: A recruta no Porto


José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74. Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo hoje autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção). Senta-se debaixo do poilão da Tabanca Grande no lugar nº 756.


Fotos: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O autor em Amarante, onde vive hoje, reformado como bate-
chapas. 
1. Prosseguimos a pré-publicação do próximo livro do nosso camarada José Claudino Silva, de quem o nosso editor recebeu hoje a seguinte mensagem:

Estás à vontade para o que quiseres publicar em relação ao que te enviei.

Só irei publicar o livro no próximo ano. Consegui um excelente preço por exemplar e tenho um amigo a corrigir-me o texto, o  que ainda demora uns dias.

Logo que o livro esteja pronto vou propor fazer apresentações por todo o país nos eventos organizados pelas várias associações.A  minha real prioridade é, através dessa ideia, viajar e aproximar o quanto possível todos os ex-combatentes. Se vendo ou não algum livro é irrelevante.

Quero conhecer histórias como a minha e só assim o poderei conseguir. Nestes últimos tempos percebi que cada classe hierárquica tem uma visão diferente da guerra colonial e quero ao meu jeito verificar as discrepâncias que noto nos vários relatos.
Será o meu contributo para memória futura.

Um enorme abraço. Claudino


2. Resposta do nosso editor:

Obrigado, José Claudino,  pela tua rápida resposta às minhas dúvidas sobre o que publicar ou não da versão (ainda em revisão) do teu terceiro livro. O que estamos a fazer é um pré-publicação da versão que me mandaste (119 pp., com cerca de 70 pequenos capítulos).

Já foram publicados bastantes livros de autores que são membros da nossa Tabanca Grande. E praticamente todos editados  primeiro no blogue (nalguns casos, depois...), num série.  Esse facto não lhes retirou leitores, antes pelo contrário. O que é importante é fazer a promoção do livro, aqui e através de sessões de lançamento em vários pontos do país, nos nossos encontros. Podes contar connosco para isso e não só: se precisares de alguém para te escrever um prefácio ou fazer a apresentação do livro podes contar comigo e outros camaradas da Tabanca Grande.

Parabéns por já teres um editor, ou um gráfica, que te apresentou um orçamento em conta. Fazes bem em mandar fazer uma boa e completa revisão de texto, aspeto que muitas vezes é descurado por quem publica pela primeira vez, ou em editoras que te obrigam a pagar a parte a revisão de texto.  Nada é mais desagradável, para quem compra um livro, do que ver um texto, em papel (ou em suporte digital...) demasiado "gralhado".. Uma coisa é uma gralha ou outra que escapa ao revisor de texto. Outra coisa, é teres erros de ortografia, sintaxe, pontuação, formatação, impressão, etc.

Obrigado pela tua generosidade. Prometo que vais ter leitores desta tua série, atentos, interessados e críticos, se bem que solidários e generosos.  Um alfabravo do editor LG


4. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 2:  A recruta [no Porto]

[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. Por outro lado, respeitamos a vontade do autor de, aparentemente, não seguir o Acordo Ortográfico em vigor. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Prátia", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


2º Capítulo: A RECRUTA

No dia 4 de Janeiro de 1972 escrevia a primeira carta como soldado.

“Isto aqui é bestial a comida até nem é muito má. Não devo ir a casa pois não me deram a farda”- Para no dia 10 escrever. “Agora já sei marchar, se não, o alferes manda dar-me uma carecada. Ai o meu cabelinho já o tenho curto de mais e ele ainda acha que está grande!” Sem dramas, acrescentava: “O papel que meti para sair por amparo familiar não vale nada. Paciência tenho de gramar 3 anos.”

Interessante, foi a frase da minha avó, quando me viu fardado pela primeira vez;
Ai Dino! O que te fizeram!

Logicamente, 15 dias depois já me apetecia dar um tiro, ou pôr uma bomba naquela merda toda, só que ainda não sabia disparar. Nem fazer bombas. Também a comida, que entretanto mudara de nome para rancho, já não era tão boa. Felizmente, dia 21 ia haver uma festa no quartel e eu ia estar de faxina, na cozinha.

Após um mês de recruta, mais precisamente no dia 8 de Fevereiro [de 1972], um pouco melancólico, escutava, à noite, a canção “Mais dans la lumière” de Mike Brant, um cantor pop de origem israelita que viveu entre o sucesso e a tragédia (suicidou-se em Abril de 1975 com apenas 28 anos,em Paris).. Mesmo não sendo fã dele, naquele tempo era bastante famoso e o título agradava-me. Embora não soubesse francês, consegui saber que significa. “Mas na luz”. Se a música era sobre a luz, a minha vida tinha tudo para nos próximos anos, ser muito escura.(**)

Ser recruta na cidade do Porto foi muito interessante. Mais de metade dos meus camaradas de armas nunca tinham saído das suas aldeias e eu, que já tinha visitado o Porto muitas vezes, acabei por ser o guia de alguns. Escusado será dizer que os locais, aonde mais os levava, eram locais de má fama; mas quem acabou por ter má fama fui eu. Já havia quem me considerasse um autêntico gigolô. Que culpa tinha eu de conhecer o Porto, da Via Norte à Rua Escura? E mais. Pagarem-me um café, ou uma gasosa, por os guiar até lá. Eu nem bebidas alcoólicas bebia. Se queria algum favor, de uma das mulheres, tinha de pagar como os outros. Excepto a Luísa, mas essa gostava mesmo de mim!

(Continua)
________________

Notas do editor:

(*) Vd. primeiro poste da série > 11 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17961: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 1: Aprovado para todo o serviço militar

(**) "Mais dans la lumière", de Mike Brant

Letra (aqui com a devida vénia)

L'ombre étend son manteau
Et ton corps est déjà bien plus chaud
Et je vois dans tes yeux
Une larme, un aveu.

Mais dans la lumière
Tes yeux crient bien plus fort
Je t'aime, je t'aime, je t'aime, je t'aime.

Mais dans la lumière
C'est une arène d'or où
Je me bats au corps à corps.

Mais dans la lumière
Tes yeux crient, je t'adore
Je t'aime, je t'aime, je t'aime, je t'aime.

Mais dans la lumière
C'est une eau bleue qui dort où
Je me baigne encore

La nuit revient bientôt
Pour éteindre le feu de ma peau
Et mon sang n'est plus fou
Car tes yeux sont trop doux-

Mais dans la lumière
Tes yeux crient bien plus fort
Je t'aime, je t'aime, je t'aime, je t'aime-

Mais dans la lumière
C'est une arène d'or où
Je me bats au corps à corps.
Òù je me bats au corps à corps,
Je t'aime, je t'aime, je t'aime, je t'aime.

Mais dans la lumière
Tes yeux crient bien plus fort, je t'aime
Je t'aime, je t'aime, je t'aime.

Mais dans la lumière
C'est une arène d'or où
Je me bats au corps à corps.

Mais dans la lumière
Tes yeux crient bien plus fort
Je t'aime, je t'aime, je t'aime, je t'aime
Mais dans la lumière-

Autor: Renard Jean
Compositeur: Renard Jean
Editor: Editions Des Alouettes,Amplitude Editions Musicales
Para saber mais:

sábado, 19 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...


Foto nº 1A > Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis, à direita Renato Monteiro, seguindo-se o Oliveira, o José Nascimento e  o Fernandes


Foto nº 1


Foto nº 2 A > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, fur Renato Monteiro,  um dos picadores e  o fur José Nascimento


Foto nº 2


Foto nº 3A  > Xime > CART 2520 > c. 1970 > 1º. srgt  Vaz à direita, a seguir furriéis Nascimento e Soares...

Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 4 A A>  Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da direita para a esquerda:  sentados, fur Monteiro, fur Durão e 2º. srgt  Zé do Ó. De pé, também da direita para a esquerda, fur Costa, fur Nascimento e Mancaman, filho do chefe dos picadores [, Mancaman Biai].

Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime | CART 2520 (1969/71)

Fotos (e legendas): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 11 do corrente,  do nosso amigo e camarada algarvio José  Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71):

Caro amigo e camarada Carlos Vinhal,

Aqui vai a história de um pequeno episódio passado entre o fur mil Renato Monteiro e o 1º. srgt Vaz,  da minha Cart 2520.

Já tive a felicidade de me encontar algumas vezes com o Renato Monteiro [, hoje escritor e fotógrafo,], mas o 1º. sgrt Vaz nunca mais o encontrei, creio até que já faleceu, gostava de o ter encontrado para lhe dar um grande abraço, isto apesar de ter havido algumas divergências entre nós, contudo existiu sempre muito respeito e sã camaradagem.

Um grande abraço,
José Nascimento 


2.  Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10) > A música das nossas vidas: "Isabelle, Isabelle, Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz

por José Nascimento


Isabelle era a música preferida do furrriel Renato Monteiro e esta com alguma frequência dava umas voltas no pequeno gira-discos que morava no balcão do pequeno bar de sargentos no Xime.

Isabel vivia em Vila Real, ou nas suas proximidades, na longínqua Metrópole, amada esposa do 1º. sargento Vaz a quem já tinha dado dois rebentos, um na pré adolescência, o outro alguns anos mais novo. Já com alguns meses de Guiné,  a saudade do 1º. Vaz pela sua Isabel roía-lhe a alma.

Sempre que se proporcionava, o Renato Monteiro saltava para dentro do balcão do bar e punha às voltas a sua Isabelle preferida. Só que de tanto ouvir "chamar" por Isabelle,  a do Charles Aznavour, o 1º. sargento Vaz lembrava-se da sua Isabel, a que tinha ficado a milhas de distância,  e a sua cabeça também começava às voltas, girava, girava, ou melhor, entrava em parafuso.

Até chegou ao ponto de tentar proibir que o Monteiro ouvisse a sua música preferida, fazendo uso do maior número de divisas amarelas que ostentava sobre os seus esqueléticos ombros.

"Monteiro, não quero ouvir essa música",  vociferava o 1º. sargento.

"Mas se eu gosto?!," retorquia o furriel.

Normalmente ou era um, ou era outro que cedia e quando era o 1º sargento, refugiava-se na secretaria, batendo com alguma violência a já carcomida porta que a separava do bar de sargentos.

Até que um dia...

Mais uma vez o Monteiro liga a pequena máquina e entra em rotação a sua Isabelle, Isabelle, Isabelle mon amour (**).

De repente salta de dentro da secretaria, qual fera enfurecida,  o 1º. sargento Vaz.

"Outra vez Monteiro?!",  berrou.

Dirige-se ao pequeno gira-discos, saca a Isabelle do rotativo prato e exclama furioso:

"Agora só vai ouvi-lo no fim da comissão".

Enraivecido, enfia-se na secretaria e mete o pequeno disco no cofre aí existente e fecha-o à chave.

Não sei qual foi o destino desta Isabelle, se foi libertada ou se ficou prisioneira no cofre da CART 2520,  mesmo sem ter ido a julgamento. (***)

Um grande abraço para esta Tabanca que cada vez será maior.

José Nascimento
______________


(**) Letra da canção de Charles Aznavour (c. 1965/66):

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Les heures près de toi
Fuient comme des secondes
Les journées loin de toi
Ressemblent à des années
Qui donnent à mon amour
Un goût de fin du monde
Elles troublent mon corps
Autant que ma pensée

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Tu vis dans la lumière
Et moi dans les coins sombres
Car tu te meurs de vivre
Et je me meurs d'amour
Je me contenterais
De caresser ton ombre
Si tu voulais m'offrir
Ton destin pour toujours

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

[Letra reproduzidas com a devida vénia, a partir daqui:
http://www.paroles.net/charles-aznavour/paroles-isabelle#OXimuDIQg7WdWApW.99]

[Vd. também oágina oficial do cantor: Charles Aznavour (n. 1924),  O cantor francês, de origem arménia, vai atuar em Lisboa no próximo dia 10 de dezembro de 2016...Aos 92 anos!!! ]

Tradução (rápida) de LG:

As horas perto de ti
fogem como segundos,
os dias longe de ti
parecem  anos,
dando ao meu amor
um gosto de fim do mundo,
e perturbando tanto o meu corpo
como o meu pensamento

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

Tu vives na luz
e eu em cantos escuros,
porque tu morres de vida
e eu morro de amor.
Contentar-me-ia
em acariciar a tua sombra
se tu quisesses oferecer-me
o teu destino para sempre.

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

(***) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12684: Memória dos lugares (263): O Xime, ao tempo da CART 2520 (1969/71), comandada pelo cap mil António dos Santos Maltez, natural de Aveiro (Renato Monteiro)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15449: O PIFAS de saudosa memória (19): O Armando Carvalhêda no programa "Canções da Guerra", do Luís Marinho, na Antena Um: "O PIFAS, o Programa das Forças Armadas, era mais liberal do que a Emissora Nacional"...

  

A mascote do Programa [de Informação]  das Forças Armadas (PIFAS), da responsabilidade da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica. Autor desconhecido. 

Imagem, enviada pelo nosso camarada Miguel Pessoa, cor pilav ref (ten pilav, Bissalanca, BA 12, 1972/74). 



1. O Armando Carvalhêda é outro dos grandes senhores da rádio (*) que passou pelo Programa das Forças Armadas, o popular PIFAS, entre abril de 1972 e  setembro de  1973, conforme ele recorda em conversa com o Luís Marinho, no programa da Antena Um, Canções da Guerra.  O seu depoimento pode ser aqui ouvido, em ficheiro áudio de 4' 55''.

Segundo o Armando Carvalhêda, o PIFAS,  transmitido pela Emissora Oficial da Guiné, era "mais liberal" do que a estação oficial, transmitindo  canções de "autores malditos",  como José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Zeca Afonso, que não faziam parte da "playlist" (como se diz agora) da Emissora Nacional, em Lisboa.

Armando Carvalhêda.
 Foto: cortesia do blogue Expressões Lusitanas
Eram os próprios radialistas, os locutores de serviço, jovens a cumprir o serviço militar e coaptados para a Rep Apsico, para o Serviço de Radiodifusão e Imprensa, que faziam "a pior das censuras", que era a autocensura...

O Armando dá um exemplo,  com o LP do José Mário Branco, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (que tinha sido editado em Paris, em 1971)... Havia um consenso tácito sobre algumas músicas que não deviam passar no PIFAS. Neste LP, era,  por exemplo,  o "Casa comigo, Marta!"...



Estava-se na época do vinil, o LP tinha seis faixas, de cada lado,... Intencionalmente ou não, ele uma vez deixou "cair" a agulha da cabeça do gira-disco na faixa do "Casa comigo, Marta" (cuja letra, "subversiva",  para a época, de crítica social corrosiva, se repoduz abaixo; recorde-se que o portuense José Mário Branco, compositor e músico,  era um conhecido opositor ao regime e à guerra colonial, estando exilado em Paris)... 

Ainda de acordo com o Armando Carvalhêda, o PIFAS era o produzido pela  Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica, a APSICO, a 2ª Rep do Com-Chefe, na Amura, por onde passaram nomes ligados ao 25 de Abril como Ramalho Eanes  e Otelo Saraiva de Carvalho. [Em 1969/71, o Serviço de  Radiodifusão e Imprensa foi chefiado por Ramalho Eanes.]

Mais diz  o conhecido autor e realizador de rádio, que não havia "confronto direto" com a Rádio Libertação do PAIGC  (e, portanto, com a "Maria Turra", a locutora do IN, a Amélia Araújo), "embora a gente os ouvisse e eles a nós"...

O Armando Carvalhêda lembra-se com emoção das gravações áudio  que fez, por toda a Guiné,  por ocasião das gravação das mensagens de Natal e Ano Novo. Recorda-se, em particular,  do Natal de 1972: havia soldados emocionados que recebiam o pessoal do PIFAS com grande entusiasmo e carinho. Num aquartelamento, o comandante já tinha selecionado quem iria falar para a rádio.  Um dos soldados que ficara de fora da lista,   quis "meter uma cunha" ao Armando Carvalhêda, oferecendo-lhe o fio de ouro que trazia ao pescoço...

Também se lembra do programa de discos pedidos, que era feito pelo  "senhor primeiro" [, o 1º sargento Silvério Dias] e a "senhora tenente [, a esposa, Maria Eugénia Valente dos Santos Dias]. Em geral o que passava então, nesse programa de discos pedidos, eram as "canções românticas", em voga na época, com letras de fazer chorar as pedras da calçada… O PIFAS recebia centenas, milhares de cartas/aerogramas com pedidos para passarem canções...

Já aqui temos falado do Armando Carvalheda, de resto conhecido do nosso grã-tabanqueiro Hélder Sousa,  dos tempos de juventude. Não sei se ele nos acompanha, ao nosso blogue, de qualquer modo ele tem a "porta aberta", na Tabanca Grande, para partilhar, connosco, mais memórias do tempo de Guiné, em geral,  e do PIFAS, em particular. Alguém aqui escreveu que ele estava colocado em Gadamael quando foi requisitado para o PIFAS. Já trabalhava na rádio, na vida civil, antes de ir para a tropa. (LG)




Um poema de Natal enviado de Farim, dezembro de 1967,  pelo  2º srgt art  Silvério Dias,  da CART 1802, mais tarde radialista no PIFAS (de 1969 a 1974)... O aerograma (edição especial de Natal do MNF) era endereçado à D. Maria Eugénia Valente dos Santos Dias, que morava em Carnide, Lisboa. Já na altura era um "poeta de todos os dias", o nosso camarada e grã-tabanqueiro Silvério Dias, um jovem de 80 anos... [Vd. aqui o seu blogue].

Foto: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

________________
  
Casa Comigo, Marta
Música e ntérpretação: José Mário Branco
Álbum: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1971)

Chamava-se ela Marta,
Ele Doutor Dom Gaspar,
Ela pobre e gaiata,
Ele rico e tutelar,
Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par
Mas Marta estava farta, mais que farta de o aturar.
- Casa comigo, Marta,
Que estou morto por casar.
- Casar contigo, não, maganão,
Não te metas comigo, deixa-me da mão.

- Casa comigo, Marta,
Tenho roupa a passajar,
Tenho talheres de prata
Que estão todos por lavar,
Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar,
Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar
Casa comigo, Marta,
Tenho roupa a passajar.
- Casar contigo, não, maganão
Não te metas comigo, deixa-me da mão

- Casa comigo, Marta,
Tenho acções e rendimentos,
Tenho uma cama larga
Num dos meus apartamentos,
Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos,
Empresto e hipoteco e transacciono investimentos.
Casa comigo, Marta,
Tenho acções e rendimentos.
- Casar contigo, não, maganão,
Não te metas comigo deixa-me da mão.

- Casa comigo, Marta,
Tenho rédeas p´ra mandar,
Tenho gente que trata
De me fazer respeitar,
Tenho meios de sobra p´ra te nomear
Rainha dos pacóvios de aquém e além mar.
Casas comigo, Marta,
Que eu obrigo-te a casar
- Casar contigo, não, maganão,
Só me levas contigo dentro de um caixão.

A música pode ser aqui ouvida.
A letra foi aqui recolhida. [Fixação de texto por LG.]

 ________________

Notas do editor:

(*) VIVA A MÚSICA! - Música ao vivo cantada na nossa língua. Um programa de Armando Carvalhêda.

Desde 1996, a ANTENA 1 tem no ar o programa VIVA A MÚSICA!, único espaço regular no panorama áudio-visual nacional que apresenta semanalmente, durante uma hora música cantada na nossa língua, ao vivo e em directo.

O programa desenrola-se no Teatro da Luz, em frente ao Colégio Militar, em Lisboa, todas as Quinta-feiras, entre as 15h00 e as 16h00, e é produzido por Ana Sofia Carvalhêda e realizado e apresentado por Armando Carvalhêda.
Por aqui desfilaram já quase todas as grandes figuras da música cantada em português como são os exemplos de: Carlos do Carmo, Pedro Abrunhosa, Ala dos Namorados,..

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15386: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (2): A visita, à sede da companhia, do Conjunto Académico João Paulo, em 24 de agosto de 1968



Foto nº 1 > Ao centro, um dos elementos do conjunto João Paulo, fardado, com o posto de alferes, dando autógrafos... Seria  o viocalista,  Sérgio Borges ?


Foto nº 2 > O João Paulo Agrela, ao centro, o fundador do grupo, Está fardado, e era furriel (. Morreu em 23/4/2007)



Foto nº 3 > Foto do grupo com militares da CART 1690 

Foto nº 4 > João Paulo (ou Sérgio Borges ?) ao centro, e à sua dois alferes da CART 1690  (um deles, à civil, o Alfredo Reis) e o 1º sargento



Foto nº 5 > Não sabemos quem é levado em ombros. Presume-se que seja um dos elementos do grupo, talvez o vocalista Sérgio Borges (1943-2011) ou então um dos alfgeres da CART 1690. Só o Alfredo Reis poderá esclarecer... De qualquer modo, foi um dia diferente, foi um dia de festa em Geba, o 24 de agosto de 1968...


Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 > 24 de agosto de 1968 > O conjunto musical João Paulo em digressão pela Guiné... Tal como no caso de  outros artistas populares na época, como a Florbela Queiroz, a digressão à  Guiné do Conjunto Académico João Paulo
era uma  iniciativa do Movimento Nacional Feminino (MNF). Este  conjunto fez digressões também por Angola e Moçambique,  durante a guerra colonial, além de países estrangeiros como os EUA. (Por exemplo, um ano depois, estavam em Moçambique a atuar para o BART 2838, 1968/70).

Foram fundadores do grupo, madeirense, pioneiro da música "rock" em Portugal (a par de Os Sheiks, Os Conchas, Chinchilas, Duo Ouro Negro, Quarteto 1111 e Demónios Negros, entre outros) os seguintes elementos:   João Paulo Agrela (1942-2007) (teclas), Carlos Alberto Gomes (guitarra), Rui Brazão (guitarra ritmo), Ângelo Moura (baixo), José Gualberto (bateria, falecido em 2004) e Sérgio Borges (1943-2011) (vocalista).  Não sabemos se todos estes participaram nesta digressão à Guiné, em 1968 ou se estavam na altura a cumprir o serviço militar na Guiné... Três ou quatro elementos do grupo passaram pelo EPI (Mafra), onde fizeram a recruta, no turno de setembro de 1966... Como se vê, dois anos depois  ainda estavam na tropa... Do tempo de Mafra, ficou a canção (pouco conhecida) O Salto (disponível no You Tube).

Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG] (*)



Fotograma do vídeo (2' 43''), disponível no You Tube, com a composição O Salto, de 1966, retrato algo cáustico da instrução que era dada na EPI, na famosa Máfrica, por onde passaram alguns dos elementos do Conjunto Académico João Paulo. A voz que se ouve, belíssima, era a do talentoso Sérgio Borges, já falecido. O vídeo utiliza, sem o citar, várias fotos do nosso blogue... Disponível aqui.





Comjunto Académico João Paulo > Os elementos do grupo fizeram, todos,  o serviço militar. Foto: Cortesia da página Sérgio Borges e o Conjunto Académio  João Paulo - Clube de Fâs


Não há indicação de data nem local... Mas a foto pode muito bem  ter sido tirada em 1968, em Bissau, junto ao palácio do governador geral. (Parece-nos descortinar ao fundo uma das paredes laterais do palácio)... Na foto veem-se os seis elementos do conjunto, de camuflado, prontos para partir para o mato (?), mais o alferes do QG que, muto provavelmente, fazia de relações públicas ou de elemento de contacto (?).


1. Foi assim que a agência Lusa deu a notícia da morte do João Paulo:

Morreu João Paulo Agrela, do Conjunto Académico João Paulo
Agência LUSA24 Abr, 2007, 18:33 

(Fonte: RTP, com a devida vénia)

O corpo do artista está em câmara ardente na igreja de Nossa Senhora de Fátima, da Cova da Piedade, e o funeral realiza-se quarta- feira, às 14:00, no cemitério do Feijó.


Capa de um LP com compilações do grupo. Foto:
Cortesia de Sérgio Borges e o Conjunto Académio
João Paulo - Clube de 
Fãs. O João Paulo é o primeiro da
da esquerda, de camisola vermelha,
O Conjunto Académico João Paulo, um dos mais populares grupos musicais portugueses dos anos 60, era constituído por João Paulo Agrela, Sérgio Borges (o vocalista), Carlos Alberto, Rui Moura e Gualberto, todos eles estudantes.

Antes da explosão do "rock" em Portugal, o Conjunto gravou versões de cantores de sucesso da altura como Adamo, Gilbert Bécaud e Charles Aznavour, mas são da sua autoria duas das canções que os tornaram mais conhecidos: "Hully Gully do Montanhês" e "Milena (a da Praia)".




O êxito do conjunto "impôs" a sua vinda da Madeira para Lisboa, onde o empresário Vasco Morgado o contratou para espectáculos no Teatro Monumental e a rádio emitia os seus trabalhos com regularidade.

A projecção do vocalista do grupo [, Sérgio Borges,], que iniciou uma carreira a solo, acabaria por determinar o fim da carreira do conjunto, que tinha tido uma participação no Festival RTP da Canção, em 1966, com «Nunca Direi Adeus».


A Valentim de Carvalho editou em 1993 alguns dos êxitos do grupo num CD intitulado "Os grandes  êxitos do Conjunto Académico João Paulo".  (**)


2. Sobre a história do Conjunto  Académico João Paulo, que era muito popular entre a nossa tropa, no nosso tempo,  ver ainda:



(ii) Sérgio Borges e o Conjunto Académico João Paulo - Clube de fãs

Um facto, desconhecido para muitos, é a revelação da Cecília Supico Pinto na sua biografia, escrita por Sílvia Espírito Santo ("Cecília Espírito Santo,o rosto do Movimento Nacional Feminino, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008, pp. 144): foi ela que "conseguiu que os músicos do 'Conjunto João Paulo' cumprissem o serviço militar actuando no mato em digressões pelas 'províncias' ".

Ela sabia, de resto, da experiência norte-americana na II Guerra Mundial, da importância que tinham, sobre o moral das tropas em África,  as atividades de natureza lúdica, como os espetáculos musicais ao vivo, feitos por artistas em voga, vindos da metrópole.

Enfim, uma forma barata, para o MNF, de entreter a malta... Como é sabido, esta mulher podia tudo, tendo acesso direto e privilegiado a Salazar...


Dois antigos alferes da CART 1690: Alfredo Reis (à esquerda)
e Domingos Maçariço (à direita). 24 de julho de 2010:
recordando, 42 anos depois, o ataque ao destacamento de
 Banjara. Foto: Alfredo Reis (2010)
3. As fotos (acima. numeradadas de 1 a 4) são do álbum do ex-alf mil Alfredo Reis que, tal como o A. Marques Lopes, pertenceu à CART 1690. juntamente com o António Moreira e o Domingos Maçarico  (. Os quatro dão-nos a honra da sua presença à sombra do poilão da Tabanca Grande).

O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. Sabemos que não é muito fã da Net...

As fotos chegaram-nos por intermédio do A. Marques Lopes.  A seleção, a legendagem e a organização temática são dele, A. Marques Lopes. (*)

Nesta data, 24/8/1968, o A. Marques Lopes já não estava na CART 1690: depois de regressar da metróple, onde esteve em tratamento e convalescença de um ferimento em combate, foi colocado em Barro, na região do Cacheu, na CCAÇ 3.

Além da sede (Geba), o Alfredo Reis esteve nos destacamentos, alguns dos quais, como Banjara e Cantacunda, eram os piores "buracos" do CTIG na época. (LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15371: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (1): Eu e o meu pelotão em Cantacunda (Parte I)

(**)  "Os Grandes Êxitos do Conjunto Académico João Paulo", compilação, Vadeca / EMI 7-243-8-27483-2-8, 1993: Track listing:

1 Eu tão só (Et pourtant) | 2 Capri C'est Fini | 3 Ma Vie | 4 Se Mi Vuoi Lasciare

5 Hully Gully do Montanhês | 6 Se Piangi, Se Ridi | 7 Non Son Degno di Te

8 Milena, A da Praia | 9 Ciao | 10 Nunca Direi Adeus | 11 Stasera pago Io 12 | L'amour Est Bleu

13 Cosa Vuoi da Me | 14 Kilimandjaro | 15 Onde Vais Rio que Eu Canto | 16 Canção de madrugar

17 Corre Niña

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15127: Agenda cultural (424): "Canções da Guerra", um programa da Antena 1, todos os dias, a partir de 14 do corrente, de 2ª a 6ª feira, às 10h45, 14h55 e 20h55, com António Luís Marinho...

1. Canções da Guerra, um programa da RTP, Antena 1, todos os dias, de 2ª a 6ª feira, a partir de 14 do corrente:

Sinopse:

A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções. Desde logo, o hino "Angola é Nossa", criado logo após o início da rebelião em Angola que levou a uma guerra que durou 14 anos.

As canções ligadas à guerra falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam, de forma mais dissimulada ou mais direta, a própria guerra.

Em programas diários de cerca de 5 minutos, vão apresentar-se as canções cujo tema é a guerra colonial, enquadradas por uma pequena história, que pode ser a da própria canção, do seu autor, ou um episódio que com ela esteja relacionado.

Antena 1, de 2ª a 6ª feira às 10h45, 14h55 e 20h55. (*)


2. Ficha Técnica:

Título Original: Canções da Guerra
Com: António Luis Marinho
Produção: Joana Jorge
Autoria: António Luis Marinho (**)

3. Cinco episódios disponíveis até hoje:



(...) Como sigo o seu blog, que é um referencial importante para quem se interessa pelo tema da guerra de África, gostaria de lhe propor que divulgasse o programa mas, sobretudo, que incentive os seguidores do seu blog a enviarem sugestões de músicas e histórias ligadas a elas. (...)

(***) Letra de Santos Braga e música de Duarte Pestana:

(...) Quando a guerra teve início em Angola, em Março de 1961, o governo português decidiu responder prontamente, enviando milhares de soldados para combater naquele território africano. No final de 1961, já combatem em Angola 33 mil e 500 soldados portugueses. Era necessário, no entanto, convencer a população portuguesa, de aquém e além- mar, para a necessidade daquela guerra.

Era preciso que ninguém duvidasse de que Angola fazia parte de Portugal.

Assim nasceu, em Junho de 1961, o hino “Angola é nossa”, com música de Duarte Pestana e letra de Santos Braga, interpretado pelo coro e orquestra da FNAT – Federação Nacional para a Alegria no Trabalho.

Trata-se de uma notável peça de propaganda. Um hino heróico e triunfalista, que se tornou de imediato numa espécie de hino de Angola, que fechava e abria as emissões de rádio e era cantado nas escolas. (...)




(****) Letra de Felix Bermudes e João Bastos, música de António Melo:

(...) Nos primeiros meses a seguir ao início da guerra em Angola, não houve inspiração para construir canções inspiradas no conflito. Só quando a guerra entrou na rotina das famílias portuguesas é que começaram também a surgir as primeiras canções, inicialmente de apoio aos soldados e à sua participação naquela guerra.

Por isso, o “Fado das trincheiras”, composto em 1940 para o filme “João Ratão”, de Jorge Brum do Canto, que conta o regresso de um soldado português da frente de batalha da I guerra mundial, começou na ser tocado assiduamente nas rádios, agora interpretado pelo grande fadista Fernando Farinha.

A letra é de Felix Bermudes e João Bastos, e a música de António Melo. (...)



(*****) Na Hora da Despedida:

(..:) Em 1966, a fadista Ada de Castro estreia-se no teatro de revista, no teatro Maria Vitória, na peça “Tudo à Mostra”. Foi ali que cantou o fado “Na hora da despedida”, que se tornaria num grande êxito.

Numa altura em que as opiniões já se dividiam claramente entre o apoio e a rejeição à guerra do ultramar, este fado cumpria inteiramente as três características destas canções de apoio aos soldados portugueses: a resposta ao apelo da pátria e o cumprimento do dever, a despedida e as saudades e desejo de regresso. (...)




(******) Raul Solnado:

(...) Com a guerra no ultramar ainda localizada só na frente de Angola, Raul Solnado apresenta, em outubro de 1961, na revista “Bate o Pé”, um dos maiores êxitos da sua longa carreira: “A guerra de 1908”.

O disco seria editado em abril de 1962 e bateu todos os recordes de venda de discos.

Ainda em 1962, Raul Solnado volta ao tema da guerra, com um número genial: “É do inimigo?”, na revista “Lisboa à Noite”, no Teatro Variedades.

A ridicularização da guerra, num texto notável, que a implacável censura deixou passar. (...)



(*******) Letra de Reinaldo Ferreira e música de Adriano Correia de Oliveira:

(...) Em 1964, Adriano Correia de Oliveira grava um disco de quatro faixas, onde inclui um poema do luso-moçambicano Reinaldo Ferreira, musicado por José Afonso: “Menina dos olhos tristes”.

O disco é rapidamente proibido, mas a canção fica e circula pelos meios clandestinos.

Em 1969, José Afonso grava um single com o título “Menina dos olhos tristes”, também retirado pela censura.

Falar de soldados que morriam, não era possível para a censura do regime. Na verdade, nos 14 anos de guerra, morreram perto de nove mil soldados portugueses, 14 mil ficaram deficientes físicos e muitas dezenas de milhares afetados psicologicamente. (...)



sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15049: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (33): "Canções da Guerra", programa diário na Antena 1, a partir de 7 de setembro... Sugestões e histórias precisam-se (Luís Marinho, RTP - Gabinete de Projetos Especiais)

1. Mensagem de ontem, de Luís Marinho, da RTP - Gabinete de Projetos Especiais


 Data: 27 de agosto de 2015 às 10:02

Assunto: CANÇÕES DA GUERRA


Caro Luis Graça,

Vamos iniciar a partir de 7 de setembro um programa diário na Antena 1, que se chama "Canções da Guerra". A ideia é apresentar diariamente uma canção que esteve direta ou indiretamente ligada á guerra de África. Envio-lhe em anexo o texto de apresentação.

Como sigo o seu blog, que é um referencial importante para quem se interessa pelo tema da guerra de África, gostaria de lhe propor que divulgasse o programa mas, sobretudo, que incentive os seguidores do seu blog a enviarem sugestões de músicas e histórias ligadas a elas.

Estou ao seu dispor para todos os esclarecimentos que entender necessários,

Muito obrigado e parabéns pelo seu trabalho.

Luis Marinho
RTP – Gabinete de Projetos Especiais


2. CANÇÕES DA GUERRA

APRESENTAÇÃO

A guerra colonial durou 14 anos. Mobilizou quase um milhão de soldados portugueses e várias centenas de milhares de guerrilheiros angolanos, guineenses e moçambicanos.

A exemplo do que aconteceu noutras guerras prolongadas, para além de outras manifestações artísticas, a música também teve inspiração no conflito.

Desde logo, um hino composto logo no início da guerra de Angola.

Depois, o aproveitamento de fados antigos, inspirados na I Guerra Mundial, regravados por artistas populares.

Ao longo dos anos, a guerra inspirou outras canções. Umas, de apoio aos soldados, mas outras foram compostas por artistas no exílio, contra a guerra.

Na verdade, também na música as opiniões estavam divididas, mas cada vez mais, com o passar dos anos, se manifestavam contrárias ao conflito em três frentes em África.

As canções de protesto não eram ouvidas em Portugal através da rádio, por exemplo, uma vez que estavam proibidas pela censura. Eram ouvidas e cantadas em reuniões políticas clandestinas e em convívios universitários, muitos deles interrompidos pela intervenção da polícia.

Nos quartéis do mato africano, os militares ouviam todo o tipo de música. E também adaptavam músicas conhecidas, com letras escritas sobre a sua vida no mato.

As mais célebres constituem hoje o denominado Cancioneiro do Niassa, uma interessante colectânea que revela muito do sentimento dos soldados.

Na guerrilha, a música também esteve presente, quer com hinos dos diferentes movimentos independentistas, quer com canções de incentivo à luta.

É esta recolha de cerca de sete dezenas de músicas, as canções da guerra, que agora apresentamos.

Um programa de Luís Marinho, com produção de Joana Jorge.

Músicas com História, para ouvir de segunda a sexta, na Antena 1, a partir de 7 de setembro.



3. Nota biobibliográfica sobre António Luís Marinho:

(i) nasceu em Lisboa, em 1954;

(ii) é jornalista desde 1981;

(iii) trabalhou em todos os géneros da Comunicação Social: imprensa, rádio e televisão;

(iv) na RTP, desempenhou, entre outros, o o cargo de director geral de conteúdos de rádio e televisão;

(v) é autor dos livros Operação Mar Verde – Um Documento para a História,[vd. nota de leitura do nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos]; e 1961 – O Ano Horrível de Salazar, ambos editados pela Temas e Debates e pelo Círculo de Leitores;

(vi) foi coautor, com Joana Pontes, da série de treze documentários televisivos intitulada Século XX Português, emitida na SIC;

(vii) concluiu o curso de especialização em História Contemporânea, na Universidade Nova de Lisboa; 

(viii) frequenta o 3º ano do curso de doutoramento em Ciências da Comunicação, no ISCTE.

(Fonte:  adapt. de Wook, com a devida vénia)

4. Comentário de LG:

Meu caro Luís Marinho:

Parabéns pelo projeto, que aproveito para divulgar, e obrigado pelas palavras simpáticas que nos dirige. Na realidade, não fazemos História com H grande, mas sem as nossas histórias com h pequeno, a grande será ou seria sempre mais pobre e redutora... Refiro-me, naturalmente, àquele pedacinho de História que nos coube na rifa: Guiné, 1961/74...

Para suia informação, temos um marcador que lhe deve interessar, com cerca de 15 referências: "as músicas das nossas vidas"... Vamos apelar aos nossos camaradas que integram a Tabanca Grande e que alimentam o nosso blogue, para que retomem este tema... O Pifas [, mascote do Programa das Forças Armadas,] é outro marcador que lhe pode interessar, a si e à equipa radiofónica que está a fazer o programa "Canções da Guerra"...

Vou-lhe mandar o meu nº de telemóvel. Sei que frequenta as terras da minha natalícia Lourinhã, já o tenho visto por aqui, aos fins de semana.  Gostaria de o conhecer pessoalmente, para trocarmos ideias sobre este projeto. Sinta-se à vontade para me contactar por telemóvel ou email. Boa sorte para o programa a que vou /vamos estar atentos. De resto, a Antena 1 é a minha rádio... LG

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de agosto de  2015 > Guiné 63/74 - P15041: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (32): O "making of" de um projeto de ajuda ao Hospital de Cumura (João Martel e Ana Maria Gala)