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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22629: In Memoriam (413): Torcato Mendonça (1944-2021), ex-alf mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... Homenageando também um casal que sempre soube, em vida, amparar-se mutuamemnte, "na saúde e na doença" (Luís Graça)


Fundão > 27 de Janeiro de 2007 >  O Torcato Mendonça (TM) que eu conheci, pessoalmente,no Fundão, sua terra adotiva... Foi lá que casou com a Ana Lurdes e onde nasceram os seus filhos, dois rapazes. O TM  que encintrou para a nossa Tabanca Grande em 2006, participou pelo menos em cinco dos nossos encontros nacionais, de 2007 a 2011.


Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Tabanca Grande > A Ana, que veio a conduzir do Fundão, para acompanhar o seu José (alter ego do Torcato Mendonça). 

A Ana Lourdes de Mendonça foi coordenadora dos serviços administrativos do conceituado Jornal do Fundão (que alguns de nós assinávamos na Guiné, ao tempo da guerra, a par do Comércio do Funchal, do Notícias da Amadora e outros).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Agora que o nosso querido amigo, camarada e colaborador Torcato Mendonça deixou a Terra da Alegria (*), e nos deixou tristes, inconsoláveis e mais pobres, vou recuperar escritos antigos em que falo dos dois, do José e da Ana, um casal por quem sempre tive admiração e carinho porque souberam, ao longo da sua vida em comum,  amparar-se um ao outro "na saúde e na doença". A Ana, felizmente, continua viva e vai por certo continuar a acompnhar o nosso blogue (**)


Em 17 de maio de 2008, veio de longe, do Fundão, das faldas da Gardunha, a conduzir, com o seu José ao lado (que pode mas não deve fazer tantos quilómetros ao volante), só para estar com os seus (dele) camaradas da Guiné... Le coeur oblige, mon bijou... E o que tem de ser tem muita força, diz o provérbio: a doença, traiçoeira, que vem trazer negrura às nossas vidas, apreensão aos que nos amam, incerteza aos que nos rodeiam, finitude aos nossos projectos, angústia para o jantar, pesadelos às tantas da madrugada...

Nem um ai nem um ui: a Ana (Mendonça, por casamento) viveu, em silêncio, o seu drama, individual e familiar... No píncaro do Verão... Por uns tempos, o José desapareceu (ou melhor não apareceu, recolheu-se, não se expôs, preparou-se, como nos duros tempos de Mansambo, da CART 2339, mobilizou toda a sua energia para fazer face à devastação)....

Como é que a nós, distraídos com as nossas blogarias - tu, Carlos, tu, Virgínio, eu, Luís - , não nos ocorreu que algo estava errado nessa pesada cortina de silêncio, puxada pela mão do Torcato Mendonça, o TM, um homem com lugar ao sul e que gostava de pensar em voz alta ? 

Em meados de dezembro de 2008,  escrevi-lhe, ao TM,  o seguinte:

"Um bj para a tua Ana, que é uma mulher de armas e que já sei que voltou ao trabalho... A vida é dura, José, aqui ou em Mansambo... Mas também pode ser bela, se tiver afecto(s): amor, paixão, amizade, camaradagem, emoção, compaixão, poesia... 

Diverte-te, se puderes: 'Esta vida são dois dias e o Carnaval são três'... Mas há, pelo menos, uma certeza: 'Quem de novo não morre de velho não escapa'... 

Uma coisa que a guerra da Guiné não nos deu, foi serenidade... Pelo contrário, trouxe-nos inquietude (que é mais do que inquietação). Em contrapartida, aprendemos a enfrentar a morte e a não temê-la: 'Temer a morte é morrer duas vezes' ... E tu és, para nós todos, um exemplo vivo e corajoso, de como um homem pode sorrir à morte com meia cara ou meio coração, parafraseando o título da narrativa autobiográfica do grande escritor José Rodrigues Miguéis, um lisboeta de Alfama (1901) que morreu longe da Pátria, da Mátria e da Fátria (Manhattan, N.Y., 1980). 

Que esta tertúlia, a nossa Tabanca Grande, seja, ao menos para ti, um pouco da Fátria perdida em Mansambo, em Bambadinca e em tantos lugares da Guiné onde sofremos e fomos solidários"...

A Ana, que voltou ao seu José, passou a acompanhar desde então com solicitude mas também com a máxima das discrições as nossas blogarias... E o Natal de 2008 surpreendeu-me (e emocionou-me) com o seguinte cartão do José onde se podia ler:

"Luís Graça: Um beijo agradecido pela simpatia posta na mensagem (de força) enviada através do Torcato e que eu li. Votos de um Feliz Natal extensivo a toda a Família. Ana Lourdes de Mendonça"...

Somos, afinal, um blogue de afectos e de histórias, mas também de gente solidária... Por um momento, por uma vez ao menos, eu senti que valeu (ou valia)  a pena esta tontaria de querer juntar o fio de tantas meadas, de destar tantos nós da memória, de inquirir estas tantas vidas que foram/são as nossas (parafraseando o belo título do antigo blogue do Virgínio Briote)... Por um dia senti que também podemos fazer bem a alguém...

Senti que as palavras também podem matar, também podem ferir, também podem destruir; senti que as palavras vêm muito antes das balas, e que são as palavras que nomeiam a morte e desencadeiam a guerra, muito antes dos obuzes e dos aviões e dos carros de combate, das minas e armadilhas...Mas também senti que as palavras, em seu sítio, também podem dar conforto, animar, dar força... Senti-me feliz por saber que a Ana, que eu mal conhecia, passava os testes todos de sobrevivência... e estava apta, apartir de então,  para enfrentar o futuro, pronta para o que desse e viesse...

Em de dezembro de 2008, voltámos a pôr a Ana a sorrir, na nossa fotogaleria, como no dia 17 de Maio de 2008, na Ortigosa... E desejámos-lhe Boas Festas:

"Boas Festas,  quentes e boas como as castanhas da tua Cova da Beira... Há castanhas na Gardunha ? Por mim, só conhecia as cerejas, que são as melhores do mundo. E o requeijão... Ah! o requeijão do Fundão. Ah!, e o Torcato, o José, o Mendonça, o Viriato (o santo patrono da CART 2339)!... Ah!, e agora a Ana, mulher da vida do José, e nossa camariga."

Nessa altura aumentou o meu conhecimento (e reconhecimento) da geografia do amor, da amizade, da solidariedade, da humanidade... E por isso eu pedia paar lhe escreverem o nome, no quadro escuro, a giz, onde listamos as nossas mulheres, as nossas companheiras de uma vida, as nossas camarigas: Ana, simplesmente Ana.. Um exemplo de tenacidade e de coragem, para todos nós. 

E mais disse: 

"Temos orgulho em ti, José!... Temos orgulho em ti, Ana. Deixa-me, José, deixa-me, Ana, oferecer-vos, por fim, este poema do meu modesto poemário... Para ler nos dias de chuva miudinha e de tristeza, quando só apetece colar a cara à vidraça da janela virada para o absurdo da doença, do azar, da morte, com o maciço central da Serra da Estrela a aniquilar-nos... No fim, perceberás, Ana, e tu, José, o sentido do título. ("Poemombro, ou o ombro amigo", de Luís Graça,  2004. revisto em 2008) (**) .


PS - O TM (Torcato Mendonça) comentou seca e laconicamente: "Luís,  depois escrevo...agora não, agora não... abraço-te...somente...forte...sentido... desculpa se te molho o casaco...é uma lágrima de facto... recebe o meu abraço Amigo TM

19 de dezembro de 2008 às 10:03 (**)
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domingo, 22 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2974: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (12): Mais algumas fotos ao acaso (Mário Fitas)

Por ordem aleatória, aqui ficam mais umas fotos do nosso Encontro Nacional no dia 17 de Maio, em Montereal, enviadas pelo nosso camarada Mário Fitas, ou Mário Vicente, autor de Pami Na Dondo, A Guerrilheira.

Nesta mesa pontuam, Carlos Santos, sempre presente nos nossos Encontros, mas que teima em não aderir à nossa Tabanca Grande; António Santos; Fernando Franco, ao telemóvel, as pessoas importantes são assim; o seu inseparável amigo António Baia, e o meu capitão Jorge Picado.
De pé, David Guimarães; eu e o Silvério Lobo, que conheci pessoalmente só em Montereal, apesar de morar em Matosinhos.


França Sores conversa com um camarada que não consigo identificar e, à sua esquerda, Vasco Ferreira acompanhado de sua esposa. Mais três senhoras completam este grupo.


Estes três camaradas vieram juntos ao Encontro. O nosso Ten Cor Ref Rui Alexandrino Ferreira, autor do livro Rumo a Fulacunda; Martins Julião e Carlos Santos.


Rui Alexandrino Ferreira, Idálio Reis, Virgínio Briote e Delfim Rodrigues escutam atentamente o António Batista (ao centro) o nosso morto-vivo do Quirafo.


Mais um grupo de bons camaradadas. Raúl Albino; Vacas de Carvalho; Henrique Matos; Mário Beja Santos, autor do livro Diário da Guiné 1969-1969, Na Terra dos Soncó e, por último, mas não menos importante, Paulo Santiago. O último camarada, lamentavelmente, não consigo identificar.


O ex-Cap Mil Jorge Picado em amena conversa com o nosso camarada França Soares.


Na penumbra, conspirando, Henrique Matos, Torcato Mendonça e Jorge Cabral. Salientemos a colaboração destes dois últimos camaradas que animam o nosso Blogue com as suas intervenções, Histórias de Mansambo e Estórias Cabralianas.


Atentos aos fadunchos brilhantemente interpretados pelos artistas da casa, estão o António Baia (de pé) e o Fernando Franco (sentado). Encoberto pela senhora que está em primeiro plano, adivinha-se o nosso camarada António Santos.


Neste grupo de camaradas estão: o nosso médico Vitor Junqueira; um camarada que lamento não identificar (quem me ajuda?); António Graça de Abreu, autor do livro Diário da Guiné Lama, Sangue e Água Pura; Delfim Rodrigues; Maurício Esparteiro e Vacas de Carvalho.


Nesta foto, Carlos Marques Santos está acompanhado da senhora dona Irene e de sua filha dona Maria Irene, respectivamente, sogra e esposa do nosso camarada Virgínio Briote.


Este grupo é composto por António Barroso; Francisco Silva e esposa; Álvaro Basto e esposa, à sua direita.

Fotos: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

Selecção das fotos e legendas da responsabilidade do editor

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Nota de CV:

(1) Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Silêncio, diz-se poesia!... O Joaquim Mexia Alves, confidenciando-nos que às vezes tem saudades da Guiné, do Mato Cão, do Rio Geba (1)...

O Joaquim Mexia Alves foi alferes miliciano de operações especiais, tendo passado, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, por três unidades no TO da Guiné: (i) pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas); (ii) ingressou depois no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão); e (iii) terminou a sua comissão na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74). O Pel Caç Nat 52 estava na altura afecto ao mesmo batalhão.

Vídeo (3' 05''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes


Sentado na minha cadeira (2),
Cerveja na mão,
Fito os olhos no longe,
Tão longe,
Que vai para além do horizonte.
O Sol começa a descer ,
Lá ao fundo,
Para os lados do Enxalé,
E os seus raios de luz
Tocam a terra de sangue
E pintam o ambiente de vermelho.
O momento é mágico,
Porque não há nada mais bonito
Que o Pôr do Sol na Guiné.
Na bolanha,
Junto ao Geba
(Que se ouve a murmurar),
Passa um pequeno tornado.
Quase que o podia agarrar!
Ao meu lado,
O Furriel Bonito.
Deve estar a meditar
No que é que eu estarei...
A pensar!
Estou para aqui, isolado,
Vivendo como uma toupeira
Debaixo de terra,
Cercado de arame farpado.
A letargia da rotina diária
Toma conta de mim
E tanto me faz
Que o dia nasça
Como chegue ao fim.
Fecho os olhos por um momento.
Estou em Monte Real!
É fim de tarde,
Hora de banho
E vestir a preceito,
Que o meu pai não deixa
Que se jante no Hotel
Sem uma roupa de jeito.
Já lá vem o chefe de mesa
Que tem muito que contar,
Fala-me da carne e do peixe,
Tenho a boca a salivar.
Tocam-me no ombro!
Esfumou-se o meu sonho!
É o Mamadu que me diz,
Com o seu sorriso:
«Alfero,
O comer está pronto.»
O que lhe falta
Em smoking de profissão,
Excede em alegria
E dedicação.
Levanto-me,
Olho em redor.
Nas pequenas tabancas,
A luz das fogueiras
Ilumina a escuridão
Da falta de luz.
Abano a cabeça,
Para afastar o torpor,
E grito bem alto
Com a minha voz forte,
A afastar o temor:
«Pessoal,
vamos morfar,
que nunca se sabe,
quando isto vai acabar!»


Monte Real, 29 de Março de 2008
(Fixação e revisão do texto: LG)

Poema (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)

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Notas de L.G.:

(1) Vd poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2886: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (10): Homenagem ao António Batista (Joaquim Mexia Alves)

Vd. também poste de 17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

21 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2868: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (7): Homenagem a um camarada, poeta e viticultor, o José Manuel

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2855: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (2): A estreia mundial do Fado da Guiné

(2) Vd. poste de 30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2888: Dando a mão à palmatória (13): Cada esposa ao seu marido (Antero Santos/Carlos Vinhal)

1. O nosso camarada Antero Santos chamou a nossa atenção, e com razão, para um engano na legendagem de uma fotografia no poste P2856.


Caro Luís Graça

Lapsos acontecem – agradeço o favor de alterar Magalhães Ribeiro para Antero Santos; a Maria Fernanda Abreu é a minha esposa.

Um abraço
Antero Santos
25/05/2008

2. Para que não fiquem dúvidas, mesmo estando já rectificada a legenda no P2856, voltamos a publicar a fotografia em causa (1).



Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Na mesa das senhoras, a Maria Fernanda Abreu (esposa do Antero Santos) e a Graciela Santos (esposa do António Santos, que estava desolado por não encontrar ninguém dos Morteiros, nem do Gabu....).

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

À Maria Fernanda, ao Antero e ao Eduardo Magalhães apresentamos as nossas desculpas pela troca involuntária de esposas e maridos.

CV

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Nota do co-editor CV:

(1) Vd. poste de 18 de Maio de 2008> Guiné 63/74 - P2856: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (3): Quem vê caras, (também) vê corações

Guiné 63/74 - P2886: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (10): Homenagem ao António Batista (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do Jaoquim Mexia Alves:

Caro Luis

Envio uma coisa que escrevi e me foi inspirada pela história do António Baptista.

O assunto é sensivel por isso deixo ao teu cuidado o que quiseres fazer ao texto, que é uma coisa simples e despretenciosa.

Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves

Ah, e prometo deixar de escrever tanto!!!!


2. Na hora da minha morte... ou uma homenagem ao António Batista, o único morto-vivo que conheço
por Joaquim Mexia Alves


Tinha acabado de chegar.
Um ajuntamento de pessoas chamou-lhe a atenção.
Não lhe bastava o bater do coração descompassado de tanta saudade,
para agora ainda por cima estar a viver aquela sensação insistente,
que lhe segredava ao ouvido:
-É contigo, é contigo, vai ver o que se passa!
Com algum temor e timidez aproximou-se daquela gente,
que afinal era a sua gente.
Distinguiu algumas caras suas velhas conhecidas,
mas achou estranho porque olhavam para ele,
como se ele ali não estivesse.
Num impulso estava para tocar no ombro do velho Francisco,
que lembrava-se bem era o dono da tasca,
mas algo dentro de si lhe disse para estar quieto,
para não fazer nada, para ficar só a ver.
Misturou-se naquela gente,
que estava triste,
pois uns choravam e outros iam repetindo coisas como:
- Era tão novo…não merecia isto…como é que isto foi acontecer.
Percebeu que devia ser um funeral,
e pensou:
-Raios partam, logo no dia em que regresso
é que havia de haver um funeral aqui na terra!
Ao longe viu os seus pais, e outros da sua família, amigos, conhecidos,
enfim toda aquela gente que ele tinha deixado quando partira.
Mas algo continuava a dizer-lhe para se manter calado,
para não dar nas vistas,
para ir apenas vendo o que se passava.
Foi-se aproximando
e já conseguia distinguir o caixão do desgraçado que tinha morrido.
Algumas caras olhavam agora para ele com uma expressão incrédula,
mas ele não lhes ligou nenhuma.
Queria saber quem era o morto,
era uma curiosidade que o estava a atormentar.
Mais perto já conseguia ouvir o Padre
que agora encomendava a alma do…
-Porra, era o seu nome!
Gaita o que é que se passava?!
Percebeu então que estava a ser enterrado num caixão,
apesar de estar ali, vivinho da silva.
Serenamente, (apesar de tudo a gozar a expectativa),
disse a um daqueles que estava ao seu lado
e de quem não se lembrava da cara:
-Sabes quem é que está ali a ser enterrado?
O outro respondeu um pouco desconfiado:
-É um desgraçado que morreu na Guiné.
Olhou-o nos olhos e disse-lhe a rir:
-Pois é! Mas fica sabendo que o gajo, sou eu!!!
O outro deu um grito, as cabeças voltaram-se para ele
e foi um pandemónio.
Houve desmaios, cheliques, gritinhos, berros, fugas a correr, apertões, apalpões, enfim de tudo um pouco,
mas a verdade é que à noite a festa foi rija na aldeia.
Foi a mais triste e ao mesmo tempo mais alegre,
foi a mais falada e comentada chegada à sua terra,
de um soldado da Guiné.
Apesar de tudo teria sido bom
que assim tivesse acontecido,
mas infelizmente não foi!
Muitas pessoas sofreram e ainda hoje sofrem,
e este país que foi tão lesto a enterrar quem não tinha morrido,
é muito lento a desenterrar quem afinal está vivo!
Homenagem ao António Baptista, o único morto-vivo que conheço! (1)

Monte Real, 26 de Maio de 2008
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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra

Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia >O António Batisto falando do seu cativeiro (Conacri e Madina do Boé, 1972-1974) (1), para o Luís Graça (que fez o vídeo), o Paulo Santiago, o Jorge Cabral e a Maria Alice. No final, vê-se ainda o Álvaro Basto e a esposa, antes da despedida.

Vídeo (5' 42''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes


Em boa hora o Álvaro Basto tomou a iniciativa de trazer com ele o António Batista (2), o morto-vivo do Quirafo (3), cujo drama a todos nos sensibilizou e comoveu. Este nosso camarada e amigo, que vive hoje na Maia (depois de ter sido enterrado, em 1972, no cemitério da sua freguesia natal, Moreira), faz parte da nossa Tabanca Grande e aguarda, com legítima ansiedade e expectativa, o fim deste terrível pesadelo que tem já 36 anos: de facto, ainda não foi reconhecida, de jure, a sua situação de prisioneiro de guerra, com eventual direito à respectiva pensão, ao abrigo do Decreto-Lei nº 161/2001, de 22 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 170/2004, de 16 de Julho.

De acordo com o preâmbulo do ciatado diploma legal, a concessão da referida pensão está condicionada por dois requisitos: (i) a prova de que o interessado esteve efectivamente prisioneiro nas ex-colónias; (ii) a demonstração de que se encontra em situação de carência económica.

Não sei se o segundo requisito se aplica ao António Batista que trabalhou no aeroporto Sá Carneiro e presumo que já esteja reformado. Penso que o problema maior do nosso camarada é ainda vencer a burocracia militar e demonstrar que esteve efectivamente prisioneiro do PAIGC, primeiro em Conacri (desde a sua captura em 17 de Abril de 1972) e depois na região do Boé, presumivelmente já depois da declaração da independência (ou seja, a partir de 24 de Setembro de 1973).

No vídeo que agora se aprensenta ele contou-nos as condições em que viveu no cativeiro. Falou-nos também de um outro companheiro de infortúnio, pertencente ao mesmo batalhão (BCAÇ 3872, que estava sediado em Galomaro, 1972/74), mas de outras companhia (que estava em Cancolim). Ele acabou por se lembrar do nome do seu camarada de infortúno (o António Manuel Rodrigues), que conseguiu fugir do cárcere em Março de 1974 e, seguindo ao longo do Rio Corubal, chegar ao Saltinho ou próximo do Saltinho, onde foi resgatado pelas NT.

Esse camarada é natural da Régua, é conhecido do nosso José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Inf Op Esp, que estava na CART 6250, em Mampatá (1972/74) quando o resgate se deu... Esse ex-prisioneiro, que era maltrado pelos seus carcereiros devido alegadamente ao seu comportamento agressivo, foi levado do Saltinho para Aldeia Formosa e dali para Bissau, por via aérea.

O António Manuel Rodrigues, o Chega-me Isso, alcunha de família por que é conhecido na Régua, vive miseravelmente, tem todos os sintomas do stresse pós-traumático de guerra, não procura nem aceita ajuda dos seus antigos camaradasda Guiné, tem conflitos com as autoridades locais, em suma, é mais um caso chocante de uma camarada nosso que não morreu na Guiné mas a quem a Guiné destruiu a vida. O José Manuel prometeu-me dar a sua identificação completa. A nossa Tabanca Grande vai tentar ajudá-lo.

Aqui fica entretanto o depoimento do António Batista. Recorde-se que ele só libertado em 14 de Setembro de 1974. Fazia parte de um grupo de 7 prisioneiros em poder do PAIGC, no Boé, que foram trocados, no aquartelamento de Aldeia Formosa, por 35 prisioneiros em poder das NT. Pelo lado das novas autoridades da Guiné-Bissau, assistiram à cerimónia Manuel dos Santos (Sub-Secretário Informação e Turismo), Carmen Pereira (membro do Conselho de Estado) e Iafai Camará (Cmdt Aquartelamento de Aldeia Formosa).

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Notas dos editores:

(1) Vd. último poste desta série: 23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2877: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (8): Até 2009, camaradas ! (Mário Fitas)

(2) Vd. o já vasto dossiê sobre António Batista:

25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)


1 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2497: O dossiê António da Silva Batista: um caso de indignidade humana (Torcato Mendonça)


31 de Janeiro de 2008 Guiné 63/74 - P2494: Sr. Ministro da Defesa, parece que não há Simplex que valha ao António da Silva Batista! (Paulo Santiago)


8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2422: Quem terá sido o Camarada que ficou na campa do António Baptista? (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)


25 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)


21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2371: O Sold António Baptista não constava das listas de PG (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)


28 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2140: Tabanca Grande (35): Notícias do Tony Tavares (CCAÇ 2701) e do António Batista (CCAÇ 3490) (Ayala Botto)


9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2040: No almoço da tertúlia de Matosinhos com o António Batista, o nosso morto-vivo do Quirafo (Paulo Santiago)


30 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BART 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)


26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1999: Vamos arranjar uma caderneta militar nova para o António Batista (Rui Ferreira / Paulo Santiago)


24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1991: O Simplex, o Kafka e o Batista ou a Estória do Vivo que a Burocracia Quer como Morto (João Tunes)


24 de Jullho de 2007 > Guiné 63/74 - P1990: Carta aberta ao Cor Ayala Botto: O caso Batista: O que fazer para salvar a sua honra militar ? (Paulo Santiago)


23 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1986: António da Silva Batista, o morto-vivo do Quirafo: um processo kafkiano que envergonha o Exército Português (Luís Graça)


22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)


22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)


21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)


17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins-Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)



(3) Sobre a tragédia do Quirafo, Vd. posts de:

21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)


17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)


12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)


15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)


28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)


26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)


25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)


23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2877: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (8): Até 2009, camaradas ! (Mário Fitas)



O Mário Fitas com o António Batista e o Luís Graça no IIIº Encontro em Monte Real.
Foto: © Helder de Sousa (2008). Direitos reservados

Mensagem do Mário Fitas (ex-Furr Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66)


A memória rejuvenesce, avivando-se.Tão longe e, contudo lá mesmo lá. As nuvens aglomeradas sopradas por vento tornado. O tarrafo e a lama das bolanhas.
A dor antiga presente. Mas com que alegria se revive o pesadelo!

É só quem está presente sente o envolvimento do colectivo abraço fraterno.

Vale a pena relembrar António Aleixo:

Com orgulho, um militar
regressa à pátria, mostrando
a cruz que ganhou matando
irmãos que o queriam matar
.

Se nos pudessem falar,
os que tombaram por terra
tinham que nos perguntar:
que ganhamos com a guerra?


Até 2009!

Para toda a tabanca, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã,

Mário Fitas
__________
Fixação do texto: vb

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2868: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (7): Homenagem a um camarada, poeta e viticultor, o José Manuel Lopes

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Silêncio, canta-se o fado... Ou melhor, depois de um belo momento musical, com a estreia (a nível mundial!) do Fado da Guiné, na voz rouca mas castiça do nosso fadista de serviço, o Joaquim Mexia Alves (1) - enfim, nas piores... condições acústicas possíveis -, houve também um momento poético, praticamente improvisado, em que os artistas foram o Luís Graça, nosso editor (que foi dizer um poema do nosso camarada José Manuel Lopes, ou Josema) e o Joaquim, de novo, dizendo um poema que ele próprio outrora escrevera no Mato Cão, um poema nostálgico, já aqui reproduzido (2)...
Temos o registo (audiovisual) desses dois momentos e vamos partilhá-los com os amigos e camaradas da nossa Tabanca Grande e os demais frequentadores deste blogue... 

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Duas companheiras da nossa tertúlia, duas mulheres ligadas ao Douro e ao vinho: à esquerda, a Maria Alice, do Douro Litoral, co-produtora de vinho verde (Quinta de Candoz); e à direita, a Maria Luisa Valente, da Régua, Alto Douro, que produz vinhos maduros na sua Quinta da Senhora da Graça, entre eles o premiado Pedro Milhanos (Tinto Reserva 2005, Doc Douro).
No caso do José Manuel Lopes quisemos fazer-lhe uma pequena mas justa homenagem: (i) ao nosso camarada (ex- Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá , 1972/74), (ii) ao nosso poeta (que nos mandou meia centena de poemas da sua produção dessa época que chegou até aos nossos dias) e (iii) ao nosso vitivinicultor do Douro que nos presenteou, à hora da refeição, com um magnífico Pedro Milhanos, tinto, Reserva 2005, Doc Douro, de se lhe tirar o chapéu... Passou em todas as provas e em todos palatos.
Aqui fica, pois, na voz do Luís Graça, em nome de todos nós, essa pequena, singela, terna homenagem ao nosso Josema, ou simplesmente José Manuel (3), extensivo à sua esposa Maria Luísa da Silva Valente, que é também uma mulher de armas.

Vídeo (2' 17''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta série:
19 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2859: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (6): Fotos do David Guimarães, o nosso tertuliano nº 3

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2858: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (5): Mais caras e corações...

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2857: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (4): Mais caras e corações...

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2856: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (3): Quem vê caras, (também) vê corações

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2855: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (2): A estreia mundial do Fado da Guiné

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2854: O nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (1): Foi bonita a festa, Joaquim e Carlos: Obrigados!

(2) Vd. poste de 30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

(3) Vd. poste de 17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2859: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (6): Fotos do David Guimarães, o nosso tertuliano nº 3

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Os nossos dois violas: o J. L-. Vacas de Carvalho e o David Guimarães... O bichinho já vem de longe. Já na Guiné (um em Bambadinca, 1970/71), outro no Xitole (1970/72), eles davam de beber a dor e animavam-nos com a sua viola, nas longas noites daquele tempo...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > À mesa: o Julião, o Carlos Santos e o David...
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Uma mesa exclusivamente feminina... Até pareciam as meninas da Supico Pinto... Com uma vantagem: estas deram-nos e continuam a dar-nos o apoio de rectaguarda que é indispensável a um combatente... Ontem como hoje...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > À chegada: o David ao meio, entre o intendente Fernando Franco e o atirador de infantaria Carlos Marques dos Santos (organizador, com o Paulo Raposo, do nosso I Encontro Nacional, Ameira, Montemor-O-Novo, 2006).

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Entrada para o Restaurante... Não era o Arco de Triunfo, mas... por aqui passaram os amigos e camaradas (90!) que se quiseram associar ao III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia...



Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um slide-show com o álbum fotográfico do David Guimarães ...

Fotos: © David Guimarães (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do David Guimarães, com data de ontem, enviada através da lista de correio electrónico da nossa Tabanca Grande (1):

ORA, SANTO DOMINGO...
NA MINHA MÁQUINA SAIRAM ESTAS FOTOGRAFIAS...QUE CHEGUEM A TODOS E ...UM GRANDE ABRAÇO.

DAVID GUIMARÃES


2. O Fernando Franco, um homem do BINT (que nos matava a fome e a sede, mandou-nos, por sua vez, esta nota singela de agradecimento e de apreço pelo trabalho dessa parelha que se chama Joaquim Mexia Alves & Carlos Vinhal a quem cabem os louros pela organização do evento:

Amigo Luis Graça, tem este meu mail a finalidade de prestar homenagem aos nossos organizadores, Carlos Vinhal e Joaquim Mexia Alves, pelo o êxito do nosso terceiro encontro em Ortigosa – Monte Real, pois foi fenomenal.

Por este andar cada um melhor que o anterior, daqui a alguns anos o encontro da nossa Tertúlia, terá que ser feito a bordo de algum paquete de luxo, num cruzeiro há Guiné.

Dou-te também os parabéns pelo êxito do nosso blogue, pois as visitas são uma correria, muito perto das 650.000 visitas. Para além disso as caras novas que vão aparecendo, tanto nos almoços como no blogue, são uma constante, as histórias contadas e vividas na primeira pessoa deixam muitas vezes angústias, mas também saudades desses tempos em que a nossa juventude foi posta à prova.

Um forte abraço para todos os tertulianos, sem esquecer aqueles que visitam o nosso blogue.

Fernando Franco
Venda Nova - Amadora

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Nota dos editores:

(1) Vd. postes anteriores, de P2858 a P2854, relativos ao nosso III Encontro Nacional

domingo, 18 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2858: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (5): Mais caras e corações...

O IIIº Encontro da Tertúlia

Imagens (II)

17 de Maio 2008
Em Monte Real
Fotos e legendas: © Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.




Aqui ainda estávamos no início... dava-se um jeito ao micro...os casacos já estavam nas cadeiras... Ainda não eram 13h mas a fome já apertava...



Aproveitava-se para se pôr a conversa em dia... que um camarada da Guiné tem conversa para dar e vender




Só nesta mesa estão dois antigos Cmts do 52 (Pel Caç Nat), o Henrique Matos e o M Beja Santos. O Paulo Santiago (Cmdt do Pel Caç Nat 53) parece aguardar que o Vítor Junqueira tire o casaco...


O Rui Ferreira, o Mário Fitas e outro Camarada (que, estou certo, me vai desculpar não me recordar agora o nome... Ah!, já sei, o Julião, que costuma acompanhar o Carlos Santos, o Rui e o Victor Barata, ex-FAP, que desta vez não pôde vir).




O Mário Fitas, o António Batista e o Vacas de Carvalho, o Joaquim Almeida e o neto, (ambos de Matosinhos. Estará o Mário Fitas a pensar em escrever outro livro? À sua direita, o Julião, fumando o seu cachimbo...


Então, a vitela estava tenrinha, deve estar a perguntar à mesa o Mexia Alves, com o Paulo Santiago ao lado. Sentado, de frente, o Delfim Rodrigues (um conhecedor da cultura dos Felupes), que passou a comissão entre Suzana e Varela.


Cá fora, que lá dentro a tentação das mesas era muita, a Tertúlia desfazia-se em grupos. O França Soares, de óculos na testa deve estar a recordar a CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 e os tempos que passou em Mansoa, entre 1971/73. O seu parceiro de conversa é o ex-Cap Mil Jorge Picado, que veio de Ílhavo.


O Helder Sousa, em 1º plano, e o Beja Santos (preocupado com as correcções para o seu Diário da Guiné II ?) entre o Graça de Abreu e o Raúl Albino.


O Vítor Junqueira, sorridente... A seu aldo, de pé, mais um fotógrafo, o José Armando Almeida, de Albergaria a Velha (esteve em Bambadinca, na CCS / BART 2917, 1970/72, onde Fur Mil Trms).


As nossas Mulheres..no meio da guerra...


A Guiné, uma cruz que temos que carregar connosco até ao fim das nossas vidas... Não ouvi, mas não me admirava que alguma o tivesse dito...


Então Rui, e esses ossos, parece perguntar o Luís ao Rui Ferreira, tenente-coronel na situação de reforma, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda... (Outros estão na forja).

O Paulo Santiago, o Mário Beja Santos, o Vítor Junqueira...
E foi assim que a minha espécie de máquina viu o nosso III Encontro Nacional.
vb.

Guiné 63/74 - P2857: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (4): Mais caras e corações...

O IIIº Encontro da Tertúlia

Imagens (I)

17 de Maio 2008
Em Monte Real
Fotos e legendas: © Virgínio Briote (2008). Direitos reservados





Quinta do Paul, nma Ortigosa, perto das termas de Monte Real: entrada para o restaurante. Um local sossegado, muito espaço, bons acessos e boa comida.


O Luís Graça abre o III Encontro. Ao seu lado, os organizadores do Convívio, os incansáveis Joaquim Mexia Alves e o Carlos Vinhal.

O Álvaro Basto, com o Carlos Vinhal ao lado, apresenta o homem do Quirafo, o António Batista, que foi muito acarinhado por todos.


Feliz por tudo se estar encaminhar no bom sentido, o nosso "morto-vivo" apresenta-se à Tertúlia. No final da breve exposição, o Batista foi saudado com uma grande salva de palmas.



Chegou a vez ao Coronel Coutinho e Lima, presente pela 1ª vez nos nossos Encontros.



À porta (que a lei do tabaco também se aplica às cachimbadas), o Jorge Cabral, o celebrado autor das estórias cabralianas, não perde uma palavra dos novos participantes. Em primeiro palno, de costas, o Torcato Mendonça.

O David Guimarães e o Vacas de Carvalho, a combinarem os acordes para o fado da Guiné...



... enquanto o António Graça de Abreu aproveita para uma dedicatória no seu Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura (que já saiu em 2007 e que se está a vender bem).



O Carlos Vinhal faz contas, não à vida, mas aos Comes & Bebes...


O José Teixeira punha a conversa em dia com um Camarada, que apareceu pela primeira vez, nos nossos encontros: o Jaime Machado, também de Matosinhos... O Jaime esteve em Bambadinca, entre 1968 e 1970, à frente do Pel Rec Daimler 2046... A seguir é que veio o J. L. Vacas de Carvalho, que comandou o Pel Rec Daimler 2206 (1970/71)...




Era preciso mexer as pernas. Dois Carlos, o Vinhal e o Marques dos Santos e um Fernando, o Franco, todos em excelente forma física como se pode ver.

À provável pergunta do Torcato, para quando a saída de o Diário da Guiné, Parte II, o Mário Beja Santos parece responder: lá para meados de Novembro, e vamos ter festa de arromba...

Continua. vb.

Guiné 63/74 - P2856: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (3): Quem vê caras, (também) vê corações

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um convidado especial, que veio de Matosinhos, trazido pelo Álvaro Basto: o nosso tertuliano António Batista da Silva, a quem chamamos, com ternura, o morto-vivo do Quirafo... Pareceu-me um homem precocemente envelhecido. A verdade é que a Pátria lhe foi mais do que madrasta, uma megera...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um outro tertuliano, entrado recentemente: o Cor Art Ref Coutinho e Lima, que está a escrever um livro sobre a sua decisão de retirar as NT e a população civil de Guileje, em 22 de Maio de 1973... É aqui abraçado pelo ex-Fur Mil Op Esp J. Casimiro Carvalho, da CCAV 8350, que agradece em seu nome pessoal e da sua família ao então major, comandante do COP5, a decisão de abandonar Guileje, decisão essa que terá salvo a vida a muita gente... Recorde-se que o Casimiro Carvalho teve um comportamento heróico na defesa de Gadamael, para onde se refugiaram as NT e a população civil vindos de Guileje...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Idálio Reis, o homem-toupeira e o herói de Gandembel CCAÇ 2317, 1968/69), trocando impressões com o nosso anfitrião, o calmeirão do Joaquim Mexia Alves...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um novo membro da nossa Tabanca Grande, Francisco Silva, com a esposa... Esteve connosco recentemente na Guiné-Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008). É ortopedista, nascido na Madeira, e trabalha no Hospital Amadora-Sintra. Antes de ser médico, foi pára-quedista, esteve por pouco na CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), tendo depois ingressado no Pel Caç Nat 51 (Jumbembém, no norte, junto à fronteira com o Senegal), onde foi subsituir o comandante, morto em plena parada por um dos seus soldados... Uma história, triste e exemplar, que ele irá em breve aqui contar... Pelo menos, prometeu-me.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Dois recentes tertulianos, da direita para a esquerda: o José Manuel Lopes, da Régua, que trouxe com ele, além da esposa, Maria Luísa Valente, o vinho que ambos produzem e que é um vinho ganahador, um vinho que nos consolou o corpo e a alma, o Pedro Milhanos, Tinto, Reserva 2005, DOC Douro; a seu lado, o António Manuel Sucena Rodrigues (que veio de Oliveira do Bairro, acompanhado da esposa, Rosa Maria): foi Ful Mil Inf na CCAÇ 12, no período final da guerra (1972/74). Voltou já depois do 25 de Abril, em Agosto, se não me engano. Contou-me as peripécias que foi a ida da CCAÇ 12 para o Xime e a também as conversações entre a malta da CCAÇ 12, da CCAÇ 21 (comandada pelo Cap Comando Jamanca, que seria mais tarde fuzilado, em Madina Colhido) e o PAIGC, na zona leste.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Raul Albino que só pôde almoçar connosco, já que teve de regressar a casa por motivo de morte (já esperada) de uma velha tia que vivia num lar, e que decidiu morrer neste sábado... Acabou por levar com ele, no regresso a Lisboa, O Mário Beja Santos (que tinha uma festa de família), bem como o Maurío Esparteiro (tanto ele, como o Raul, pertenciam à CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70). Ainda tive tempo de trocar com ele impressões sobre o futuro do blogue e da nossa tertúlia. É um bnom camarada, com experiência informática, já que foi um colaborador da IBM. Está, além disso, a editar o segundo livro sobre a história da sua companhia.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Mário Fitas, ou melhor, Mário Vicente, o aclamado criador da Pami Na Dondo, a guerrilheira... Recorde-se que ele foi Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, os Lassas de Cufar (1965/66). É natural de Elvas e ainda tem muitas histórias para contar. O pai e o avô viveram, intensamente, as repercussões da guerra civil espanhola, ali às portas de casa. Como qualquer bom alentejano, o Mário é um excelente contador de histórias.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Coronel, ainda no activo, Pereira da Costa, e a esposa (que, muito sensibilizada, nos disse ter muitas e boas recordações da Guiné; desafiei-a a partilhar essa experiência connosco, no nosso blogue).


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Na mesa das senhoras, a Maria Fernanda Abreu (esposa do Antero Santos) e a Graciela Santos (esposa do António Santos, que estava desolado por não encontrar ninguém dos Morteiros, nem do Gabu....)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Na mesa das senhoras, ds esquerda para a direita: a Zélia Neno (esposa do Xico Allen, e que eu gostei de rever), e Delinda Lobo (esposa do Silvério Lobo)... Tanto o Silvério como o Xico Allen foram dois bons companheiros de aventura na viagem recente à Guiné-Bissau...


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Ainda na mesa das senhoras, a Maria Alice (esposa do Luís Graça), tendo à sua esquerda a Isabel Coutinho.


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Victor Vaz, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAÇ 12 (1971/72), a meio, entre o Vitor Junqueira (que é médico e que organizou o ano passado o nosso II Encontro Nacioanl em Pombal, tendo apanhado recentemente um susto, de saúde, na Argentina aonde se deslocou em viagem de lazer e turismo), e o nosso sinólogo, tradutor e poeta António Graça de Abreu, autor de Diário da Guiné, publicado em 2007, pela Guerra e Paz Editores (Recorde-se que o nosso Graça de Abreu foi alferes miliciano no CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Da direita para a esquerda, sem qualquer conotação político-ideológica: Vitor Junqueira, Paulo Santiago, Mário Beja Santos e Henrique Matos. Em cima da mesa, duas garrafas do Pedro Milhanos, já vazias... E ainda estavamos nas entradas...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O dono do medalhado Pedro Milhanos (Tinto, Reserva 2005, Doc Douro), o José Manuel Lopes, à direita, falando com o Carlos Vinhal, no meio, e o Torcato Mendonça, à esquerda.

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Continua
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Notas de L.G.

(1) Vd. postes anteriores desta série:


18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2854: O nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (1): Foi bonita a festa, Joaquim e Carlos: Obrigados!

18 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2855: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (2): A estreia mundial do Fado da Guiné