terça-feira, 17 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)

1. Mensagem do Torcato Mendonça:

Luis Graça:

Talvez no e-mail, de dia treze – em que o assunto era... O Passado – tenha sido pouco elegante, ou mesmo, rude. O Coronel (1) abriu-me uma, duas ou mais vezes o blogue. A primeira tudo bem, depois, e após a leitura na Única do Expresso, da semana passada, da reportagem sobre o jet-set angolano, foi o tal clique.

Não está ainda bem. Não se esquece facilmente. É necessária outra atitude. Fico satisfeito, em saber que, em Março de 2008 vai haver um Simpósio – A Memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné. Parece uma incongruência, mas não. Há determinados acontecimentos, pessoas e não só a despoletarem, em mim, certas atitudes.

Repara que África diz-me muito. A Guiné, o Povo Guineense muito mais. Muitos dirigentes, do passado e do presente, nada me dizem. Um Psi, ou o trabalho da psicóloga Ângela Maia pode dar uma ajuda. É um trabalho com interesse. O V. Briote fez uma chamada de atenção à reportagem vinda na Notícias Magazine deste domingo. Têm vindo aqui neste blogue muitos textos sobre o tema. Não é, ao fim e ao cabo, este blogue uma terapia, um lugar onde pela escrita, pela leitura, por outras formas de participação, uma maneira em terapia, de exorcizar fantasmas do passado? É uma área que te diz mais respeito, não por sofreres de ou teres necessidade de, mas por uma questão profissional.

Além disso a maneira aberta como discutimos, a frontalidade e a liberdade na abordagem dos temas propiciam, a meu ver, o cimentar de sã convivência entre todos, não tendo visão ou fomentando, antes pelo contrário, um pensamento minimalista mas, isso sim, plural.

Qualquer atitude, como a do Passado não pode ser exemplo e, menos ainda, redutora dessa liberdade de expressão e pensamento. Temos que, aos poucos, lentamente, ir fomentando uma maneira de ajudar, de exigir que todos, desde que necessitem, tenham ajuda com dignidade. Que finalmente terminem com A GUERRA SEM FIM. Penso que é tempo de dizer BASTA.

Como sempre, alonguei a escrita, este amontoado de palavras para dizer: talvez me tenha excedido no comentário ao Comandante [da emboscada] do Quirafo e é preciso dar apoio, com dignidade, a todos os que precisam de parar a guerra. Apoiem trabalhos com exigência científica que retratem a realidade. Cumpram o prometido!

A nossa geração é especial, não deve, não teme, não se envergonha de nada. E paro.

Um abraço,
Torcato

2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Apesar de trinta e tal anos passados, há ainda muitos assuntos melindrosos e, apesar de todo este tempo decorrido, alguns ainda estão muito frescos, especialmente para quem os viveu. Porque, para muitos de nós, os factos embora possam ter ocorrido há três dezenas de anos, têm-nos acompanhado ao longo da vida. É como se estivessémos ainda debaixo de fogo, com feridos aos gritos.

Foram 13 anos, sem tréguas, 13 anos de fogachada, morteiradas, bazucadas, foguetes, 13 anos de minas e armadilhas de todos os tipos. Mas também não escassearam provas de amor ao povo guineense e àquela terra nesses 13 anos distantes.

O actual coronel das Forças Armadas da Guiné-Bissau, chefe da guerrilha, IN nos nossos tempos, merece-nos respeito como combatente, que muito dele deve ter dado por um ideal. Em sentido, é como me ponho, quando vejo alguém do nosso lado ou do deles, em linguagem antiga, dar a cara pelo que fez. Tal como em sentido me perfilo pelos nossos camaradas que deram a vida no Quirafo e por todos, de um lado e doutro, lá deixaram o que de melhor tinham, a vida ou bocados dela.

E, trinta e poucos anos depois, como é bom ver que há muito mais a juntar que a separar os povos guineense e português.

vb
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Nota de v.b.:

(1) Vd. post de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)

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