quarta-feira, 18 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1970: Stresse pós-traumático de guerra: o caso do ex-Alf Mil, sem abrigo, de Faro, e o serviço de apoio da ADFA (Luís Nabais / Lusa)


1. Mensagem do nosso Camarada Luís Nabais,

Meus caros:

Apareceu já hoje, na ADFA, um ex-combatente, para consulta de stresse de guerra.
A ver se conseguimos fazer isto andar com os tais 10, e que assim se crie uma frente, que permita, num futuro breve, receber mais.

A possibilidade de alguns virem a ser considerados ADFA não é excluida, segundo conversa havida com o José Arruda.

Infelizmente tudo é lento neste País, mas o primeiro passo está dado.
Vamos dar as mãos.

Abraço
Luis Nabais


2. Segunda mensagem do Luís Nabais:

Foi publicado hoje no Correio da Manhã [ vd. recorte que se junta]. Sem comentários, a não ser: não poderá haver inter-ajuda?


3. Comentário do co-editor V.B.:

Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho, o Luís Nabais não se reformou, trata dos nossos Camaradas em situação de fragilidade. Como se vê pela notícia do Correio da Manhã, os efeitos da guerra colonial só vão deixar de sentir-se quando já não houver ninguém para contar a vida que eles viveram.
vb
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Sem-abrigo de Faro > Ex-alferes recupera

Henrique Vieira, sem-abrigo de Faro, chegou ontem com um sorriso rasgado e lágrimas nos olhos ao Centro de Reinserção Social da Comunidade Vida e Paz, em Sobral de Monte Agraço, para aí receber tratamentos.

Este ex-alferes na guerra de Angola (70/73), de 56 anos, paralisado e numa cadeira de rodas, não consegue extrair da memória as imagens da guerra.

"A guerra não estava a terminar porque não sonhávamos com o 25 de Abril, confessa à Lusa".

A pressão emocional, devido ao stresse de guerra, tê-lo-á conduzido ao consumo de liamba e de bebidas alcoólicas, deixando-o num "estado de nervos", que o levava "a correr com os filhos e a mulher de casa", motivando o divórcio, que o separou para sempre da esposa.

Henrique Vieira é o primeiro sem-abrigo ex-combatente a ser recebido num centro de acolhimento, no âmbito de um acordo estabelecido entre a Liga dos Combatentes e a Associação dos Combatentes para apoiar antigos veteranos de guerra.

O ex-alferes conta que permaneceu em Angola até 1991, por altura da guerra civil, quando decidiu vir para Portugal, onde passou a residir com a mãe, levando uma vida de boémia e arrastando-se até "altas horas da madrugada pelas ruas".

Do levantamento efectuado só nos três centros de reinserção social da Comunidade Vida e Paz existem 22 utentes que são ex-combatentes das guerras do ultramar.

Lusa

Fonte: Correio da Manhã, 18 de Julho de 2007.

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