Mostrar mensagens com a etiqueta Dicas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Dicas. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10988: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (2): A adaptação

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, da nossa grã-tabanqueira Anabela Pires, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, nascida em Moçambique, reformada, amiga dos nossos  grã-tabanqueiros JERO e Alice Carneiro... Esteve na Guiné-Bissau cerca de três meses (, de meados de janeiro a meados de abril de 2012), a trabalhar como voluntária no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, em Iemberém, Região de Tombali, Parque Nacional do Cantanhez. Chegou em Iemberém, do dia 17/1/2012. E fiquei hospedada nas instalações locais da AD, a ONGD que é dirigida pelo nosso amigo Pepito (*)


2. Diário de Iemberém, por Anabela Pires [, que escreve de acordo com a antiga ortografia]  > Parte II

 20 de Janeiro de 2012 [A adaptação]
São quase 10 horas da noite. Estou constipada. As noites e manhãs têm estado frescas, eu não trouxe um pijama de meia estação e só agora desencantei o meu xaile indiano que estava na mala que ainda não tive tempo de desmanchar. Os dias têm sido bem ocupados!

Hoje é sexta-feira, feriado na Guiné, e vêm 9 pessoas passar o fim-de-semana prolongado aqui aos bungalows. Estive até há pouco à espera deles com a Maria Pónu e a Satu mas, como se atrasaram, e me sinto adoentada, vim para casa.

A vinda destes clientes ocupou-me o dia de ontem e de hoje a acompanhar/ensinar a Mariama e a Maria Pónu a preparar os 3 bungalows que têm no conjunto 10 camas. Creio que ficaram acolhedores, com as condições existentes neste momento. Pela primeira vez colocaram uma jarra com flores em cada bungalow. As jarras foram feitas de garrafas de água de litro e meio (de plástico)! Não havia outras e aqui na tabanca também não as há à venda.

Muito há a melhorar mas a Mariama, que limpa estes alojamentos e faz as camas, pareceu-me com boa capacidade de aprendizagem e sensibilidade para este tipo de trabalho. As suas mãos alisavam os lençóis com delicadeza. Pela primeira vez limpou o chão com uma esfregona (costumam limpá-lo com um trapo molhado) e gostou. Disse-me que faz menos dores nas costas, que é mais fácil. Ainda não se atreve a falar português mas creio que compreende a maior parte do que digo.

À tarde estive com a Satu a fazer as Laranjas da Rosinda mas sem licor de whisky. Para além daqui não existir tal coisa, a Satu é muçulmana e como tal não poderia provar as laranjas se elas levassem álcool. A ideia é apresentar as laranjas de outra maneira que não seja ao natural, para variar.

A Satu cozinha muito bem mas carrega no sal! Hoje comi uns peixinhos fritos com um molho e batatas-doces fritas. Estava uma delícia, o almoço! Se não tiver cuidado, penso que em vez de emagrecer vou engordar! Ontem trabalhei com ela as ementas para este fim-de-semana. A maior dificuldade são os legumes que não existem por aqui. Com tantos afazeres acabei por não enviar uma SMS de parabéns à Fátima Real e ao Vasquinho do Celso. Não me esqueci dos aniversários mas aquilo que não fiz logo de manhã acabou por me passar!

E agora vou-me deitar pois de manhã terei de fazer, com a Satu, uma tarte de coco e banana, receita da Odile, para o almoço. Espero que não saia asneira pois nunca a fiz, não tenho balança e o coco em vez de seco é fresco! Bem, falta dizer que a Satu é a senhora que explora o restaurante que a AD construiu e que serve os turistas que cá vêm. Ah, e é minha vizinha, casada com o técnico agrícola da AD, o Abubacar Serra, responsável pelo sector de Bedanda. São aqui o meu “porto de abrigo”.

21 de Janeiro de 2012  [Os bangalós] 


[Foto à direita, créditos fotográficos: AD - Acção para o Desenvolvimento, 2008. Vd. aqui precário]

Levantei-me antes das 7 horas mas só agora, às 8 horas, começo a ver alguma coisa dentro de casa. É das coisas que mais me está a custar – a falta de luminosidade dentro das casas mesmo quando lá fora já é ou ainda é dia. Contribui para isto o facto de aqui existirem muitas árvores, enormes, entre as quais mangueiras, que fazem muitas sombras. É uma grande vantagem quando ando na rua mas dentro de casa há pouca luz. Sempre tive dificuldade em trabalhar com pouca luz e aqui tenho de lidar com isso. Ainda ontem, quando fomos limpar os bungalows quase não se via nada lá dentro. Têm umas janelinhas pequenas, para protecção do calor, mas dificilmente se vê o que está sujo. Assim é difícil fazer uma boa limpeza. Temos de pensar numa solução para isto.

Bem, tenho de me ir vestir mas queria registar que a esta hora oiço todos os dias o som do varrer dos meninos do Abubacar. Varrem as folhas que caem todos os dias em abundância no terreiro em frente às nossas casas. Estamos no Inverno, apesar de durante o dia eu transpirar. As vassouras são de pauzinhos e ainda assim, até agora, não consegui comprar uma e outra não tenho. Varrem curvados. Ainda terei de apurar se sofrem da coluna mais ou menos do que nós.

22 de Janeiro de 2012 [ Aqui há pão fresco]

[Foto à esquerda: meninos de Iemberém, 9 de dezembro de 2009; créditos fotográficos, João Graça, 2013]

Ontem à noite já não estranhei o restolhar que ouvia lá fora logo depois de apagar a luz. Há dias atrás, ouvi restolhar tanto lá fora a partir da meia-noite! Não imaginando o que pudesse ser, pensei que talvez andassem javalis por aqui à procura de comida.

De manhã levantei-me e vi o meu vizinho padeiro a trabalhar no forno do pão. Pensei que ele estava a começar o trabalho mas de repente vi que o pão já estava cozido! Então percebi que o barulho que tinha ouvido durante a noite era ele a varrer o forno do pão! Ri-me sozinha da minha ignorância e imaginação.

O meu vizinho padeiro começa a fazer pão à meia-noite e pela manhã, quando me levanto, vou à varanda buscar pão fresquinho. Só é pena ele não trabalhar todos os dias mas aqui os padeiros são amigos e têm estabelecida, entre si, uma rotação de produção. Ainda não sei quantos padeiros existem em Iemberém mas produzem rotativamente. Hoje comi pão acabadinho de fazer mas recebi visitas e logo de manhã o pão acabou. Por sorte o negócio correu bem ao meu vizinho e ele já está a fazer outra fornada, sem ainda ter dormido. Os pães são do tipo cacete e as pessoas andam com eles nas mãos como em França.


 [A visita da Cadi]

Falando nas visitas ….. a Cadi, mãe da Alicinha , foto à esquerda, maio de 2010,] , afilhada da Alice Carneiro, veio visitar-me. É tão bonita e elegante a Cadi! Como aliás muitas das mulheres guineenses. E que bem que se vestem, muitas vezes até quando andam a trabalhar mas sobretudo quando saem da sua tabanca e em dias de festa.

A Cadi já fala razoavelmente português. O seu marido [, António Baldé, fula de Contuboel, com casa em Caboxanque, futuro apicultor,]  está em Lisboa e há 2 anos que não vem cá. Ela mora em Farim de Cantanhez, uma tabanca que fica aqui a uns 10 km. É uma pena ela não viver em Iemberém, poderia ajudá-la a preparar-se para ir para Portugal ter com o seu marido. Mas o mais preocupante é que ela anda doente. Diz-me que sente calor na barriga, diz-me que é do estômago, que tem a tensão baixa mas …. não vomita, quis comer pão com queijo. Depois ouvi-a tossir e fiquei a pensar se não será algum problema pulmonar. Ela veio hoje a Iemberém, a pé, para tentar arranjar transporte para ir a Bissau ao médico.

(Continua)

[Legendas, subtítulos ou notas dentro de parênteses retos, a par das fotos, são da responsabilidade do editor]
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10978: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (1): A chegada


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Mensagens publicitárias... Esta intriga-me, o anúncio do carpinteiro Khadim Rassoul (?)corta um bocado do início e do fim da mensagem que está escrita na parede: [...] Dona Lídia mindjer ku sibi trata [...] fidju matchu  Deus na dal bom sorte [...] na é mundo.



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009  > Também é domingo para os muçulmanos...


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Uma manhã calma de domingo... e que Deus ou Alá e os  bons irãs protejam a Guiné-Bissau...





















Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > O barco, o Expresso dos Bijagós, um antigo cacilheiro do Tejo, parte todas as semanas às sextas-feiras e regressa no domingo... É uma festa! É o acontecimento da semana, em Bubaque... Toda a vida social da ilha ali concentrada, naquelas horas de domingo... A azáfama aumenta com a hora da partida do barco, depois do almoço... Quem parte leva saudade, quem fica, faz a festa...  Para saber mais sobre Bubaque e outras ilhas do arquipélago Bolama-Bijagós, ver aqui, em Rotas & Destinos... [Uma das coisas que eu não sabia  é que Bubaque esteve ocupada pelos alemães durante a I Guerra Mundial... Não se pode saber tudo]. (LG)





Guiné-Bissau > Bissau > 13 de Dezembro de 2009 > 18h45 > Chegada, a a Bissau, do Expresso dos Bijagós, vindo de Bubaque... Partiu às 14h45... São portanto quatro horas de viagem...

Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Gracça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele  fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém (*). 

O fim de semana,  de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós (**).  Dia, 13, à tarde, estava na hora de regressar a Bissau, que na segunda feira era dia de trabalho: visita médica (obrigatória) aos colaboradores da AD -Acção para o Desenvolvimento, a ONG do Pepito... que  o trabalho de um jovem médico pode ser pouco, na Guiné-Bissau, mas quem não o aproveita... é louco. Mas dia 13, domingo, o diário do nosso Dr. João Graça só tem duas linhas... Em contrapartida, temos muitas fotas... (LG)



13/12/2009, domingo > Bubaque-Bissau

9.1. O porto encheu-se para despedida. É um verdadeiro acontecimento.

___________

Notas do editor:


(**) Sitografia sobre o Arquipélago Bolama-Bijagós... Algumas sugestões:

(i) Blogue de Nené Montenegro (Lisboa), em português e crioulo > Mulher Bijagó

(ii) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7164: Meu pai, meu velho, meu camarada (22): Bijagós, memórias de menino e moço (Manuel Amante)

(iii) IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas,  Guiné-Bissau, Bissau

domingo, 17 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7138: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (2): Matacanha (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 14 de Outubro de 2010:

Caros Luís, Vinhal, Briote e M. Ribeiro:
Recebam antes de todo o mais um grande abraço de amizade e consideração. Recebam também um forte apoio e um bem-hajam pelo magnífico trabalho tão meritoso e interessante que vêm desenvolvendo no Blogue, apesar de infiltrações despropositadas daqui e dali, às vezes, o que não será fácil de lidar e daí a sobressair a Vossa classe e personalidade na moderação.

Serve este, para enviar em anexo um trabalho meu que vem na sequência do que fiz no post 7012. Agora dedicado ao Capítulo II – Matacanha.
Rui Silva


2- Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA
(Bissorã, Olossato, Mansoa - 1965-67)

(I) Paludismo
(II) Matacanha
(III) Formiga “baga-baga”
(IV) Abelhas
(V) Lepra
(VI) Doença do sono


Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:
As 4 primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo). As 2 últimas (Lepra e Doença do sono), embora as constatássemos - houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


MATACANHA - II
Matacanha , Bitacaia, Bicho-do-pé ou Tungíase.
Agente causador: Pulga Tunga penetrans


Logo ali mesmo em Brá começaram os termos de crioulo e outros talvez já do calão guineense a entrar-nos nos ouvidos.
Os “velhos” tropas ali sediados, julgo que uma Companhia de Comandos ou parte dela (se calhar andava por lá o Briote nessa altura (fins de Maio/princípios de Junho de 1965) e outros também já de camuflado coçado faziam do crioulo quase a língua oficial e única, e então termos como manga, manga di chocolate, ronco, catota , corpo, corpo di bó, djubi, sabe di mais, Bó cá miste, etc., eram correntes. E não havia outro modo se não entrar nessa também. Quem não aprendesse a “língua” local podia perder o comboio.
Ainda hoje nos Convívios anuais da Companhia esses termos são usados.

Quem andava por ali descalço foi também logo prevenido da matacanha. Isto já dizia respeito a um bicho que se metia nos pés… Quem andasse descalço habilitava-se assim a este hospedeiro, avisavam os “velhos”, e o que era muito chato.
Do Paludismo já éramos conhecedores até antes de embarcar e algo prevenidos ao deixarmos a metrópole, agora, matacanha?

Mas a nossa preocupação ali em Brá, na altura, era ir ao Tropical (mais abaixo ficava o Solar do Dez) comer um churrasco antecedido dumas entradas de ostras em molho picante servido num pires bem regadas com cerveja (nunca mais uma cerveja soube tão bem) e depois passar pela esplanada arborizada do Bento (5.ª Repartição).

Nos poucos meses que estivemos depois em Bissorã, isto da matacanha terá passado ao lado, pelo menos que eu me apercebesse, mas, no Olossato (longa estadia - ~1 ano-) manga dela.

Ainda sem bem conhecimento deste bicho, o passar pelo interior da Tabanca, nos regulares passeios da malta, via-se por vezes um “Bloco operatório” ao ar livre. Sentado num mocho, o paciente de perna esticada sobre outro mocho.
De volta do pé o cirurgião de bisturi na mão (pau afiado) fazia qualquer coisa. Trabalho de pedicure não nos parecia… adiante.
Indiferentes a isto (?), passávamos ao lado. Já nas bajudas a lavar a roupa em meio pipo (ou selha) parávamos mais um bocado.

Mas depois constatou-se que aquela cena de intervenção cirúrgica na Tabanca relacionava-se afinal com a matacanha e que o trabalho devia ser feito por cirurgião experiente e muito cuidadoso, isto é feito por um artista.
Os nativos tratavam e sabiam de tudo. Imaginação a quanto obrigas!

Da vegetação e do denso arvoredo do mato vinham sempre as ferramentas apropriadas (não esquecer as eficazes escovas de dentes).
Descalço então ninguém da tropa andava (já o nativo quando muito usava umas sandálias de plástico, os que as usavam), muito menos em chão de terra e poeirento (no Olossato não havia outro), já os chinelos de borracha com tira entre os dedos quase ninguém os dispensava embora houvesse que nem assim era de confiar.

Não tardou então que na Enfermaria aparecessem casos (embora raros) de matacanha.
Os enfermeiros com agulha esterilizada e com paciência (esta era bem requerida) faziam o trabalho com destreza. O novelo ou “ervilha” tinha que ser retirado sem REBENTAR, senão…
Este bichinho normalmente escolhia o dedo grande do pé e junto à unha.

Bom, tínhamos o já bem conhecido inimigo aéreo (o tal de Anopheles) e agora tínhamos de contar com o terrestre também. Esta pulga de 1mm dava um pincho de 1 metro e tinha uma facilidade de se entranhar na pele embora “avisasse” primeiro com comichão irritante. A matacanha fêmea (sempre as fêmeas, claro está) é que era o perigo. O macho morria após copular. Para nós mais valia ser o contrário, para nos livrar da peste. Aquele desgraçado mais valia deixar-se de sexo.

O perigo da matacanha era então as infecções que podia originar subsequentemente a uma operação mal sucedida, isto é, não tirar aquela “ervilha” intacta.
Na Companhia, um “poeta”, julgo que o meu amigo Furriel Belchior, chegou a fazer uma música versada que abordava a matacanha, de que só me lembro (que pena não saber hoje toda) dos primeiros acordes:

“Olha a bolanha
Que está cheia de matacanha"…


Provérbio em crioulo da Guiné (onde entra a matacanha) e sua tradução em Português:
Kusa ki mankañ kuda, tarda ki lingron sibil (O que faz a matacanha conhece-o à muito o lingueirão)

Segue duas descrições sobre a matacanha reproduzidas de sites na internete

Reproduzido, com a devida vénia, de:
www.abcdasaúde.com.br – Dermatologia-Dermatozoonoses - Tungíase
Nome popular:
Bicho-de-pé.
O que é?
É a enfermidade causada pela tunga penetrans, um tipo de pulga que habita lugares secos e arenosos, sendo muito encontrada nas zonas rurais, chiqueiros e currais.


A Pulga (Tunga penetrans)
~ 60 vezes o seu tamanho natural (este é de ~1 mm.)Como se adquire?

A pulga fêmea penetra a pele, onde suga o sangue do hospedeiro (os principais são os homens e os suínos) e começa a produzir ovos que se desenvolvem e serão posteriormente eliminados no solo. Os ovos depositados passam a alimentar-se do sangue do hospedeiro. Ao desenvolverem-se, podem chegar à dimensão de uma ervilha. Expelidos os ovos, o parasita completa o ciclo vital.

O que se sente?
Manifesta-se por discreto prurido na fase inicial, com posterior aparecimento de sensação dolorosa.

Como o médico faz o diagnóstico?
O exame mostra pápula amarelada com ponto escuro central que é o segmento posterior, contendo os ovos. As lesões são encontradas nos pés, geralmente, ao redor das unhas e planta. Pode ocorrer infecção secundária, com dor local e secreção purulenta.

Como se trata?
O tratamento consiste na enucleação da pulga com agulha estéril e desinfecção. É possível destruí-las com electrocautério ou electrocirurgia após anestesia tópica. Se houver infecção secundária, é indicado o uso de antibióticos.

O novelo ou “ervilha” (pelo tamanho). A fêmea da matacanha já em período de gestação bastante adiantado (foto reproduzida, com a devida vénia, de Wikipédia)

Como se previne?
Através do uso de calçados em áreas suspeitas e eliminação das fontes de infestação com DDT, BHC ou fogo.

Reproduzido, com a devida vénia de:
De: http://m.opais.net - Bitacaia veio com ingleses – José Kaliengue

A bitacaia foi introduzida em África em 1872 pelos tripulantes do navio inglês Thomas Michell que atracou no porto de Ambriz, Angola, vindo do Rio de Janeiro.
Este dado consta de um artigo científico do Dr. Nuno A. A. Castelo Branco publicado em 1983 no n.º 31 da Revista Portuguesa de Medicina Militar.

Na altura, Nuno Castelo Branco, hoje na reforma, era o médico chefe das OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico) e director clínico e anátomo patologista do Centro Médico Calouste Gulbenkian. O texto foi escrito com base numa rigorosa investigação e com apoio em diversas obras de especialistas ingleses, americanos, franceses e espanhóis.

A pulga da bitacaia, a Tunga Penetrans, é referida como existindo anteriormente nas Américas onde estaria confinada nos tempos pré colombianos. No entanto, existem descrições de suspeitas da existência da T. Penetrans em África no século XIV, antes, portanto, da descoberta da América por Cristóvão Colombo. As implicações históricas que daí advêm e o facto da descrição da doença não ser absolutamente conclusiva leva-nos a considerar, por ora, como historicamente válida a data de 1872 lê-se no artigo.

Em 1526, Gonzalo Fernandes de Ovido y Valdes Oviedo, um espanhol, fez a primeira descrição precisa do parasita. Em Angola, onde a matacanha, ou bitacaia, é extremamente comum, há quem a aponte como uma calamidade com consequências económicas, além das físicas.

A fêmea grávida da matacanha, a única pulga endoparasita do homem (o macho morre após a cópula), penetra obliquamente na pele do hospedeiro e aumenta extraordinariamente de volume produzindo um enorme número de ovos que, quando maduros, são expelidos para o exterior. A pele dos pés é o sítio de eleição para a localização da matacanha.

No entanto, a matacanha pode instalar-se em quase todas as regiões do corpo. Além do homem a pulga da matacanha parasita todos os animais de sangue quente.

Pé com matacanha –fotos reproduzidas, com a devida vénia, de :nedo.gumed.edu.pl (Parasitoses-astrópodes)

Não mata

A matacanha não é um problema de saúde pública , afirmaram a O PAÍS o professor Luís Távora Tavira, médico especialista em Medicina Tropical, no Hospital Egas Moniz em Lisboa e o Dr. Mário Fernandes, médico cardiologista angolano.

Os médicos dizem que esta espécie de pulga encontra-se em locais sujos ou degradados. Na pele humana provoca uma inflamação que causa uma sensação desagradável e um género de furúnculo ou panarício. Porém, ninguém morre de matacanha.

É um problema de deterioração das condições de higiene e tem a ver com as condições sociais e de saneamento. As pessoas que andam descalças nesses lugares têm mais probabilidade de a apanhar, explicam.
Mário Fernandes adianta que além de não representar qualquer impacto sobre a economia, a bitacaia nem é um vector de transmissão do tétano, como afirmam algumas pessoas.

Segue: Formiga “baga.baga” - III
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 20 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7012: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (1): Paludismo (Rui Silva)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7012: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (1): Paludismo (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 16 de Setembro de 2010:

Caros amigos Luís Graça, Vinhal, M. Ribeiro e Briote:
Recebam desde já um grande abraço e o maior desejo de que estejam bem de saúde e boa disposição.

Junto, envio um trabalho que se virem de algum interesse publiquem no Blogue.
Qualquer vossa decisão será sempre bem aceite.

Há mais histórias para contar do meu “Páginas Negras com salpicos cor-de-rosa” (no presente não é o caso) e também dos salpicos alguma coisa.

Mais um abraço.
Até sempre
Rui Silva


2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã, Olossato, Mansoa - 1965-67)

(I) Paludismo
(II) Matacanha
(III) Formiga “baga-baga”
(IV) Abelhas
(V) Lepra
(VI) Doença do sono


- Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:

As 4 primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo); as 2 últimas (Lepra e Doença do Sono), embora as constatássemos - houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


PALUDISMO - I

Esta doença não demorou a entrar na 816 ou não começássemos logo a ser atacados pelo agente causador (o Anopheles) mal pusemos os pés na Guiné.
Pele branquinha e sangue fresco, bom pasto para aqueles sanguessugas.
Os 13 primeiros dias em Brá (trampolim para o mato) foram dormidos sem mosquiteiros. Foi um tal atacar! O pessoal passava a vida a “tocar harpa”, como dizia o meu amigo Furriel Baião (já falecido) ao apontar um camarada a coçar-se desesperadamente com as unhas das mãos, logo ao limiar do dia. Afinal aprendemos todos a tocar harpa (uns mais desesperados que outros). A picada do mosquito, em alguns quase não se via sinais da dita, noutros era cada verdugo(!). Curiosa a reacção tão diversa da epiderme no pessoal. Mas todo o mundo se coçava. Já o nosso Primeiro (1.º Sargento Rodrigues, também já falecido) era alérgico, ou parecia ser, às picadas dos mosquitos, pois era vê-lo à noite (altura do ataque em massa) vestido de pijama de algodão fininho e de chinelos de tira, com o peito desnudado e de calças arregaçadas qual turista usufruindo da frescura da noite. Mosquitos não eram com ele. Seria de ele ser da terra dos presuntos (Lamego) e aqui estaria o antídoto? Fazia-nos cá um asco, pois a maioria à noite vestia-se do pescoço às pontas dos pés para não deixar um milímetro da pele à mostra.

Era um suplício querer desfrutar da frescura da noite e estar vestido quase “à inverno”.
Concluímos que a cor preta nas camisas ou nas meias ainda os atraíam mais.
Vínhamos então a saber que era através da picadela do mosquito que podíamos apanhar o Paludismo.

O meu amigo açoriano Furriel Vieira dormia todo vestido, isto ainda em Brá e, como se disse, sem mosquiteiros. As meias verdes militares, compridas, apanhavam as calças do pijama bem até cima e uma outra meia fazia de gorro. Só ficavam as narinas e a boca ao ar livre… para respirar. O medo não era do Paludismo mas sim o da irritação
Que quadro! Aquele calor e um homem todo tapado. Mas dormia, dormia até mais do que os outros.

Havia mosquitos por todo o lado, todos de longa palhinha para nos sugar. Apareciam mais à noite, muitos mais perto das Bolanhas e de outras águas estagnadas. E Uaque, mais lá para diante na comissão, com água por todo o lado. O rio ali tão perto e bolanhas alagadiças por todo o lado.

Ali em Uaque os mosquitos eram às carradas e até o “Lion Brand” dava a impressão que os alimentava.
Quando deixamos Brá para Bissorã aqui já passamos a ter mosquiteiros.

Houve vários casos de Paludismo na Companhia, mas, que eu soubesse, ninguém precisou de ser hospitalizado. Da Icterícia já não se podia dizer o mesmo e no Hospital via-se por ali muita gente amarelinha, alguns em trânsito para a metrópole para uma cura mais cuidada. De comprimidos a injecções, o Paludismo desaparecia logo, o que era preciso era ser bem diagnosticado, o que não parecia difícil, e a terapêutica, logo aplicada, era eficaz.

Era corrente dizer-se que até 38º de temperatura uma dose de comprimidos chegava. Para além daquele valor só de injecção.
Apenas conheci (foi-me contado) um caso de morte por Paludismo e no Hospital Militar de Bissau, que foi de um Fuzileiro que morreu do Paludismo.
Dizia-se que só se morria por desleixo ou incúria, por pavor a injecções e outras fobias, isto é, se se deixasse andar…

A febre, sintoma típico desta doença, era alta, e por vezes, em casos não valorizados, subia até o mercúrio encostar no valor mais alto do termómetro e então aqui a malta dizia que fulano tinha “rebentado” o termómetro.

O Paludismo era por vezes confundido com Dengue mas julgo que esta doença (viral) de sintomas semelhantes aos do Paludismo (parasitária) era mais uma doença sazonal (após chuvas) enquanto o Paludismo era uma presença constante ou não houvesse mosquitos todo o tempo e a toda a hora.

Às quintas-feiras lá tomávamos a nossa pastilha de Quinino como medida preventiva. O Furriel enfermeiro Molhinho (Ludgero) lá se encarregava disso. Mas havia quem não o tomasse. Fiquei ali a saber que havia quem tivesse aversão à tomada de pastilhas, uma espécie de fobia. Não as conseguiam engolir…

A conclusão que se tirou é que era uma doença perigosa e mortal, mas de cura relativamente fácil, daí…


O que se segue foi retirado da Internet cuja reprodução, com a devida vénia, se pede a autorização devida ao autor

O paludismo (malária) é uma infecção dos glóbulos vermelhos causada pelo mPlasmadiu, um organismo unicelular.

O paludismo transmite-se através da picada do mosquito Anopheles fêmea infectado, por uma transfusão de sangue contaminado ou então por uma injecção dada com uma agulha previamente utilizada numa pessoa infectada.

Existem 4 espécies de parasitas (Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae) que podem infectar os humanos e causar paludismo.

Os medicamentos e os insecticidas têm feito com que o paludismo seja muito raro nos países mais desenvolvidos, mas a infecção continua a ser muito frequente nos países tropicais. As pessoas originárias dos trópicos em visita a outros países ou os turistas que regressam dessas áreas estão por vezes afectados e causarão, possivelmente, uma pequena epidemia.

O ciclo de vida do parasita começa quando um mosquito fêmea pica um indivíduo infectado. O mosquito aspira sangue que contém parasitas do paludismo, os quais chegam às suas glândulas salivares.

Quando o mosquito pica outra pessoa, injecta parasitas com a sua saliva.
Uma vez dentro da pessoa, os parasitas depositam-se no fígado, onde se multiplicam. Amadurecem no decurso de 2 a 4 semanas e depois abandonam o fígado e invadem os glóbulos vermelhos.
Os parasitas multiplicam-se dentro dos glóbulos vermelhos, o que finalmente faz com que eles rebentem.

Plasmodium vivax e Plasmodium ovale podem permanecer nas células do fígado enquanto vão, periodicamente , libertando parasitas maduros para a corrente sanguínea, provocando ataques com os sintomas do paludismo. Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae não permanecem no fígado. Contudo, se a infecção não for tratada ou receber uma terapêutica inadequada, a forma madura do Plasmodium falciparum pode persistir na corrente sanguínea durante meses e a forma madura do Plasmodium malariae durante anos, provocando ataques repetidos com os sintomas do paludismo.



Sintomas e complicações

Os sintomas costumam começar entre 10 e 35 dias depois de um mosquito ter injectado o parasita na pessoa.
Em geral, os primeiros sintomas são febre ligeira e intermitente, dor de cabeça e dor muscular, calafrios juntamente com uma sensação de doença (mal-estar geral).
Às vezes os sintomas começam com arrepios e tremores seguidos de febre, os quais duram entre 2 e 3 dias; confundem-se frequentemente com a sintomatologia da gripe. Os sintomas subsequentes e os padrões que a doença segue variam para cada tipo de paludismo.


Dados para recordar acerca da malária

- Os medicamentos preventivos não são 100% eficazes.
- Os sintomas podem começar um mês ou mais depois o indivíduo ter sido infectado por uma picada do mosquito.
- Os primeiros sintomas são inespecíficos e costumam confundir-se com os da gripe.
- É importante estabelecer um diagnóstico rapidamente e começar o tratamento, particularmente para a malária por P. falciparum, que é mortal, chegando a 20% das pessoas infectadas.

No Paludismo por Plasmodium falciparum pode verificar-se uma alteração da função cerebral, complicação denominada malária cerebral. Os sintomas consistem em febre de pelo menos 40º C, dor de cabeça intensa, vertigens, delírio e confusão. O paludismo cerebral pode ser mortal. Em geral afecta as crianças, as mulheres grávidas e os turistas que se dirigem para zonas de alto risco.
No paludismo por Plasmodium vivax pode haver delírio quando a febre estiver alta mas, se não for esse o caso os sintomas cerebrais não são frequentes.

Em todas as variedades de paludismo, o número total de glóbulos brancos costuma ser normal, mas o número de linfócitos e de monócitos, dois tipos específicos de glóbulos brancos, aumenta.
Em geral, se o paludismo não for tratado, aparece icterícia ligeira e o fígado e o baço aumentam de volume. É frequente que a concentração de açúcar no sangue (glicose) diminua ainda mais nas pessoas que têm uma grande quantidade de parasitas. Os valores de açúcar no sangue podem descer posteriormente naqueles que são tratados com quinina.

Às vezes o paludismo persiste apesar de no sangue aparecerem apenas números baixos de parasitas. Os sintomas incluem apatia, dores de cabeça periódicas, sensação de mal-estar, falta de apetite, fadiga e ataques de calafrios e febre. Os sintomas são consideravelmente mais ligeiros e os ataques não duram tanto como o primeiro.

Se um indivíduo não receber tratamento, os sintomas do paludismo por Plasmodium vivax, por Plasmodium ovale ou por Plasmodium malariae regridem espontaneamente em 10 a 30 dias mas podem recorrer com intervalos variáveis. O paludismo por Plasmodium falciparum é mortal, chegando a 20% dos afectados.

A febre hemoglobinúrica é uma complicação rara do paludismo causada pela ruptura de uma grande quantidade de glóbulos vermelhos. Em seguida liberta-se um pigmento vermelho (hemoglobina) na corrente sanguínea. A hemoglobina, que é logo excretada com a urina, faz com que esta apresente uma cor escura. Esta febre ocorre quase exclusivamente nos doentes com malária crónica por Plasmodium falciparum, especialmente nos que foram tratados com quinina.


Diagnóstico

O médico suspeita que um indivíduo apresenta malária quando este tem ataques periódicos de calafrios e febre sem causa aparente. A suspeita é maior se, durante o ano anterior, a pessoa visitou alguma zona na qual o paludismo é frequente e se, além disso, o seu baço aumentou de volume. O facto de se identificar o parasita numa amostra de sangue confirma o diagnóstico.
É possível que sejam necessárias mais do que uma amostra par estabelecer o diagnóstico, porque a taxa de parasitas no sangue varia com o passar do tempo. O resultado do laboratório deve identificar a espécie de Plasmodium encontrado no sangue, porque o tratamento, as complicações e o prognóstico variam conforme a espécie.


Prevenção e tratamento

As pessoas que vivem em zonas endémicas ou então que viajam para lá devem tomar as suas precauções. Podem utilizar insecticidas com efeitos de longa duração quer dentro das suas casas quer nas zonas anexas, colocar redes nas portas e janelas, usar mosquiteiro sobre as suas camas e aplicar repelente contra mosquitos na pele. Também devem usar roupa suficiente, em particular depois do pôr-do-sol, protegendo a pele o mais possível contra as picadas dos mosquitos.

É possível iniciar algum tipo de medicação para prevenir o paludismo durante a viagem a uma zona endémica. O medicamento começa a ser tomado uma semana antes, continua-se durante toda a estada e prolonga-se durante mais um mês depois de ter abandonado a zona. O fármaco mais frequentemente utilizado é a cloroquina. Contudo, muitas zonas do mundo têm espécies de Plasmadium falciparum que são resistentes a este fármaco. Outras medicações compreendem a mefloquina e a doxiciclina. No entanto, a doxiciclina não pode ser tomada por crianças menores de 8 anos ou mulheres grávidas.

Nenhuma terapêutica é completamente eficaz no momento de evitar a infecção. Os turistas que tenham febre enquanto se encontram numa zona infestada de malária deverão ser examinados de imediato por um médico. O indivíduo pode começar a tomar, por conta própria, uma combinação de fármacos como a pirimetamina-sulfadoxina, até conseguir ajuda médica.

O tratamento depende do tipo de malária e de, na zona geográfica em concreto, existirem espécies de parasitas resistentes à cloroquina. Para um ataque agudo de malária por P. falciparum numa zona que se sabe possuir espécies resistentes à cloroquina, a pessoa pode tomar quinina ou receber quinidina endovenosa. Noutros tipos, a resistência à cloroquina é menos frequente e, por consequência, a pessoa afectada toma-a, habitualmente, seguida de primaquina.

Segue: MATACANHA (II)
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6579: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (10): Golpe-de mão à “casa-de-mato” de Cussondome

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5882: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (22): Ida à Guiné, a pé

1. Mensagem de Fernando Gouveia, (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2010:

Caro Carlos:
Costumo ser mais ou menos regular no envio das minhas estorietas.
Desta vez atrasei-me muito. Tenho razões para isso. Sou uma pessoa que quando tenho uma preocupação, paro tudo o resto para resolvê-la. A “estória” de hoje explicará tudo.

Antes porém, quero dedicar esta “estória” ao sexto aniversário do Blog.

Não direi que, desde há um ano, quando descobri o Blog, a minha vida tenha mudado 180 graus, mas 20 ou 30, isso mudou.

No aniversário do Luís Graça referi o que já no primeiro email, lhe havia escrito em relação ao Blog: -“Já tenho que ler até ao fim da vida”.

Durante quarenta anos nada me fez mexer nas memórias da Guiné. PARA ISSO FOI PRECISO O BLOG, QUAL CAVILHA, DE UM FORNILHO REPLETO DE RECORDAÇÕES MULTICOLORIDAS.

Um abraço a todos os Bloguistas.
Fernando Gouveia

P.S. – E por falar em memórias da Guiné, aproveito para referir que a minha exposição “Memórias Paralelas da Guerra Colonial – Guiné 1968-70” (agora com mais fotos e horário alargado) vai mudar, no dia 26FEV10 para a galeria do Instituto das Artes e Ciências - Fundação Dr. Luís Araújo, na Praça Carlos Alberto, no Porto (quase em frente à Ordem do Carmo), onde se manterá até ao dia 12MAR10.


Um olhar e um sorriso (da actual exposição)

Consertando as redes (da próxima exposição)
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ - 22

Ida à Guiné, a pé


Como todos sabem, há muita gente que por várias razões costuma ir a pé a Fátima. Pois bem, a mim tem-me andado a passar pela cabeça, “como que ir à Guiné a pé ou melhor dizendo, de carro”. Tudo na sequência das conversas que tenho mantido com os camaradas dos almoços na Tabanca de Matosinhos.

Por várias vezes lá se aflorou o assunto. O camarada Pimentel tem-me andado a azucrinar a mente no sentido de ir com eles, de carro, no fim de Fevereiro. O Rego diz-me que também vai, apesar de não se sentir a cem por cento. O João Rocha, não indo, foi-me dizendo que da vez anterior foi, apesar dos seus problemas de saúde.

Verdadeiramente estou entre a espada e a parede. A desculpa, e não é desculpa, que sempre lhes tenho dado para não ir, é o estado deplorável da minha coluna. Apesar de aguentar perfeitamente umas centenas de quilómetros nas nossas estradas e umas dezenas, aos saltos, nos caminhos do “meu” Nordeste Transmontano, cinco mil quilómetros sempre é outra coisa.

Também já se pôs a hipótese de ir e vir de avião, juntando-me ao grupo lá na Guiné, mas não é bem a mesma coisa. A viagem África afora, seria a viagem da vida de uma pessoa.

Sei que não se irá encontrar o território como o deixei, embora agora em paz. Por força do desenvolvimento global, aquelas gentes aspiram hoje a algo que o “global” não lhe pode dar. As pessoas aproximaram-se dos “grandes centros” e aí a miséria prolifera tal como cá.

Pese tudo isso, fui lá muito feliz,  como diria o outro…Tive lá sorte e mais sorte. Foi lá que eu e a minha mulher tivemos a nossa primeira casa, na tabanca de Rocha. Foi lá, na zona comercial, que comprámos a réplica em plástico da nossa filha Joana, que não chegámos a ter (só dois rapazes). Toda aquela gente afável, muita da qual se considerava portuguesa como nós, foi votada, fruto das circunstâncias, ao abandono por parte dos portugueses. Agora parece assistir-se a um vaga de fundo solidária. Espero que não seja tarde demais.

Mas voltando atrás, quero referir que estou a escrever estas linhas depois de ir ao médico tentar mostrar uns exames ao estado dos meus ossos, exame esse que já tinha em meu poder há algum tempo. As conversas em Matosinhos apressaram a necessidade de tirar as dúvidas mas aconteceu que o médico não me atendeu e estou a entender isso como mais um sinal no sentido de protelar a decisão.

Pois bem, podem crer que neste momento para mim ir à Guiné, de carro, me parece tão arriscado como qualquer outra pessoa ir a pé.

Passaram-se uns dias, o médico deu-me luz verde, mas ao mudar uns móveis em casa tive uma crise de coluna. Foi a gota de água. Lá se foi por água abaixo a viagem da minha vida. Resolvi que iria, mas agora de avião. Parto no dia 3 de Março para me encontrar com o grupo que vai de carro e que deve chegar à Guiné no mesmo dia.

Há dias, um camarada escrevia no Blog que estava emocionado com a sua próxima ida à Guiné. Não quero ser monopolista, mas se a minha emoção não for muito maior, será pelo menos igual.

Ir a Roma e não ver o Papa é como para mim ir à Guiné e não ir a Bafatá. Claro que irei. O Chico Allen já me disse que até posso ir e vir no mesmo dia num “toca-toca”. Ir a Madina Xaquili, à minha guerra, seria ouro sobre azul. Lá se verá dessa possibilidade.

Já tenho a mala feita.
A emoção é muita

Até à vinda,  camaradas
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5705: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (21): As diversas formas do medo

terça-feira, 31 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4118: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (5): Finalmente chegados a Mampatá

1. Fotos e texto enviados pelo nosso camarada e amigo José Manuel Lopes, ex- Fur Mil, CART 6250, Os Unidos de Mampatá, (Mampatá, 1972/74), que ilustram e narra a sua recente viagem à Guiné com visita particularmente sentida a Mampatá (continuação).

Finalmente chegados a Mampatá

Após uma viagem de quase 6000Kms, havia que recuperar, e o local perfeito era mesmo João Landim, perto de Bissau na estrada para Bula, bangalôs de 2, 3 ou 4 quartos, com ar condicionado e casa de banho. A preços que variavam entre 20 a 25€ por hóspede, discutíveis como tudo na Guiné. Quatro quilómetros na estrada para Bula existe uma nova ponte, a ponte Amílcar Cabral, construída por uma empresa espanhola, depois de Bula a travessia do Rio Cacheu ainda se faz de jangada, mas por pouco tempo mais, pois a Empresa Soares da Costa está quase a finalizar uma ponte que vai facilitar muito o acesso a S. Domingos, Susana, Varela e à fronteira com o Senegal, por S. Domingos.

Os dois primeiros dias foram preenchidos a rever Bissau, que não conhecia muito bem, pois só lá havia estado de passagem quando da chegada da Companhia à Guiné em Junho de 1972, por mais duas vezes para vir de férias e no fim da comissão em Agosto de 1974 cerca de três semanas.

A cidade cresceu imenso, mas o seu aspecto não é muito agradável, muitas ruas quase sem alcatrão, as casas a precisar de cuidados. O antigo Palácio do Governador, edifício bonito, está muito degradado e quase sem telhado. Um aspecto positivo, o estado de conservação da Catedral, que se encontra limpa e asseada. Existem alguns edifícios novos, o Banco, um bom hotel no caminho do Aeroporto e a cidade está cheia de um comércio intenso espalhado pelas ruas do centro da cidade. Há um restaurante muito agradável, na rua da Pensão Coimbra, uma esplanada onde se pode comer desde um bom cozido à portuguesa, uma substancial feijoada ou um chabéu de frango para quem quiser um prato tradicional.

No terceiro dia o grupo estava a organizar uma ida às ostras, mas para os Unidos de Mampatá o destino era o Sul para a Região do Quebo (Aldeia Formosa), mais precisamente Mampatá, onde tinham chegado em 1972 e saído em 1974, 25 meses depois. A ansiedade era muita, rever os nossos companheiros de armas, o Amadu, o More, as lavadeiras que nos tratavam da roupa, rever o local da horta onde os Eng,s Agrícolas Zé Pedro Rosa e José Manuel Miranda Lopes cultivaram as alfaces e tomates, que tanto jeito fizeram para a nossa dieta alimentar. Rever o laranjal de Colibuia, o Fonte de Ieroiel onde nos abastecíamos de àgua, o corredor de Uane, o corredor da morte para Guiledje, a estrada construída de Aldeia Formosa, Mampata, Ieroiel, Cumbijã, Nhacuba, mas que nunca chegou a Salencaur pois o 25 de Abril entretanto chegou. E partimos logo de manhã, pois a vontade de chegar era mais que muita. A viagem era longa o Jeep Maverick, onde seguiam o Nina, ex-Furriel Mecânico, o António Carvalho, ex-Furriel Enfermeiro, o José Manuel ex-Furriel de Armas Pesadas, o Lobo do Batalhão de Aldeia Formosa, que nos precedeu um ano, era de 1971. No Mercedes ia um condutor da nossa Companhia, o José Eduardo dos Santos Alves e a corajosa esposa, no outro Jeep seguia outro casal, o Santos e a não menos decidida companheira. Este um veterano que esteve em Guiledje e Empada também no Sul, Guiledje junto à fronteira da Guiné Conakry e Empada junto a um braço do Grande Rio de Buba.

Acompanhados pelo António, que vive em Coimbra e tem a família em Buba, lá partimos na direcção de Mansoa, depois Porto Gole e em seguida Bambadinca. Cinquenta e sete quilómetros depois de Bambadinca chegamos ao Xitole, sempre a andar sem parar, apesar de passarmos em locais que eram novidade para todos nós, pois o nosso objectivo há muito estava definido. Chegamos ao Saltinho, local belíssimo e de paragem obrigatória com um rio de águas frescas, uns rápidos espectaculares e uma estância de caça nas instalações do antigo quartel. Local aprazível onde se encontravam alguns amantes da caça. Não resisti em dar um mergulho, o local convidava e eu estava mesmo a precisar. Quebo (Aldeia Formosa) apenas a 18Kms, Mampatá Forreá a 25, mas ninguém da minha Companhia conhecia o local, pois ficava fora da nossa zona operacional. A beleza do sítio e a frescura das águas do Corubal bem teriam merecido várias visitas de 72 a 74, mas nunca nos foram distribuídos panfletos com propaganda daquela estância!!! Os militares do Saltinho guardavam aquela preciosidade em exclusivo para eles. Uns invejosos!!!

Chegamos a Quebo (Aldeia Formosa), terra do Lobo, que no ano anterior já lá tinha estado. Agora percebo, porque ele regressa logo no ano seguinte. Três amigos à espera, o Puto Reguila, que 38 anos depois continua a ser o Puto Reguila, com quem o Lobo partilhava as refeições no tempo da guerra e mais dois habitantes de Quebo, com quem criou fortes laços de amizade. A recepção é dum calor humano intenso, a alegria daqueles homens em se reverem é notória. O Lobo fica na Aldeia que o recebe em grande, irá mais tarde ter connosco a Buba onde vamos ficar de motorizada de boleia com um dos filhos de uns dos amigos que fez em Quebo. Chegamos a Mampatá, a aldeia tem menos população. Naquele tempo as populações devido à guerra, haviam abandonado os campos de cultivo e aldeias de origem fixando-se nos aldeamentos controlados pelo nosso exercito, era mais fácil concentrar as populações nos locais onde houvesse tropa, assim muitas aldeias foram abandonadas. Acabada a guerra era tempo de regressar às origens e assim ficarem mais perto dos locais onde fazem as suas plantações. Hoje existe gente em Uane, Nhacuba, Cumbijã e ao longo de quase toda a estrada que liga Quebo a Buba.

A estrada de Bissau a Buba (240Kms) está em muito bom estado é há transportes regulares todos os dias. Saímos da estrada e entramos em Mampatá, o primeiro edifício continua a ser a escola primária, o alcatrão da estrada para Nhacubá quase não existe, lá está a Sala do Soldado, o depósito de viveres o chão do Fur. Vagomestre Martins. O encantador bar dos graduados já não existe, era uma sala rectangular ligada a uma Tabanca redonda com o telhado em colmo, do antro de tantas bebedeiras e jogos de Lerpa e King, nada resta. O Carvalho corre à procura da sua enfermaria e seu lar durante mais de dois anos. O Nina procura a sua primeira oficina, dá conta que o Mangueiro grande no centro da aldeia já não existe e aponta o local onde se estacionavam as viaturas à sua responsabilidade. Eu olho em volta à procura do Heliporto, junto ao qual se encontrava o paiol de munições da minha responsabilidade de 72 a 74. Mas nada encontro, nada reconheço, o mato tudo cobriu. Procuro com a ajuda de habitante local e lá descubro as ruínas do depósito de munições, mais à frente o cimento do heliporto. Vêem-me à memória coisas que me fazem estremecer. Parece que ouço o ruído do Héli a chegar para levar o Arnaldo, Furriel da CCAÇ 18 que havia sido gravemente ferido. O Arnaldo Pinto Teixeira, havia sido transferido de Teixeira Pinto para Aldeia Formosa no dia 3 de Janeiro de 1973, integrado num grupo de combate da CCaÇ 18, tinham naquela altura por missão juntamente com a minha Companhia, a Companhia de Cavalaria do Capitão Vasco da Gama, fazer a protecção na construção da nova estrada. Pensei nunca mais o ver, senti que lhe estava a mentir ao apertar-lhe a mão e dizer: - Tiveste sorte isso não é nada e vais tirar umas férias, esta merda para ti acabou. Encontrei-o mais tarde numas Festas do Socorro, já recuperado. Hoje este meu conterrâneo vive no mesmo Concelho que eu, em Santa Marta de Penaguião.

Há muito para ver, trouxe muitas fotos para recordar e mostrar às gentes daquele tempo, mas se faz tarde e temos de chegar a Buba antes do anoitecer. Prometemos voltar no dia seguinte para distribuir a prendas que trouxemos de Portugal. Os tugas voltaram gritavam alguns. Soube que More morrera.

Amadu outro dos milícias da minha Companhia vivia agora em Uane, sua terra natal e no caminho para Buba. Ao passarmos em Uane não resisti e pedi ao Nina que parasse, mostrei a foto de Amadú e logo o reconheceram, não estava, fora para a bolanha trabalhar e ainda não regressara. Um miúdo diz - é meu pai, eu vou chama-lo. Esperamos ainda um bocado, mas a bolanha devia ser longe, tínhamos de ir para Buba a fim de procurar onde ficar. Prometemos voltar no outro dia.

Buba está enorme, cresceu para fora do antigo Quartel e ao longo da estrada. Lá esta o Cais com ar de abandonado, como o barco que lá se encontra ancorado. Nas margens do Rio Grande existem 4 estalagens, 3 no braço para o lado direito e 1 do braço do lado esquerdo. Fomos parar a uma bem agradável mesmo junto ao rio, com uma casas com quartos duplos e casa de banho privada, só que o banho era de balde, à fula. Local simpático explorado por uma cidadã romena casada com um guineense. Servia refeições e podíamos cozinhar. O jantar foi nessa estalagem e as senhoras do Santos e do Leça prometeram no dia seguinte ir comprar peixe para o almoço.

Logo de manhã ao acordar fomos surpreendidos com as notícias vindas de Bissau. Havia morrido num atentado no QG o Chefe das Forças Armadas e de madrugada o Presidente da Republica fora assassinado em sua casa. Aguardavam-se problemas e ficamos preocupados com os nossos camaradas que ficaram em Bissau. Os telemóveis entraram em serviço e a calma regressou, tudo estava em paz e fiquei surpreendido com a indiferença mostrada pelas populações. Estava tudo calmo como nada tivesse acontecido. As personagens em causa não deviam ter muita credibilidade e estima.

Mas havia muito a fazer, muitas emoções para viver e Amadú estava de certeza à espera de nós.

Em Uane uma multidão nos aguardava, Amadu quase na mesma, magro alguns cabelos a branquear e rodeado das mulheres e dos filhos. Um abraço aguardado à trinta e cinco anos. Apresenta-me os filhos um a um. Pergunta pelo Carvalho, o Capitão Marcelino, o Furriel das minas e armadilhas (Vilas Boas), lembra-se de imensa gente. Faz imensas perguntas e está na altura de distribuir sapatos, camisolas, lapiseiras. Mas esta não é a nossa terra e todos estão desejosos de voltar a Mampáta mesmo ali ao lado.

Em Mampatá a escola está cheia, muita gente fica de fora e o material que levamos vai ser entregue aos professores pois não chega para as encomendas. As lapiseiras devem chegar para todos, o outro material é que não e nos causa uma certa frustração. Falamos com os professores e um deles me entrega um mapa estatístico do inicio do ano lectivo.

Existem duas escolas em Mampatá. Uma oficial que funciona na antiga escola à entrada da Aldeia com 417 alunos e outra privada com cerca de 40 alunos a funcionar numas antigas instalações do exército.

O Professor da escola oficial 8208 é Saído Candé com o BI 10541-22 Código de vencimento nas Finanças 3723 Tm 6643300 e Nº. Conta Bancária Banco da União S.A. 26501006397-90


Mapa Estatístico da Escola da Região do Tombali-Sector do Quebo Mampatá Forreá

1.ª Classe... 62 rapazes - 45 meninas - Total.. 107 alunos
2.ª Classe... 34 rapazes - 33 meninas - Total... 67 alunos
3.ª Classe... 36 rapazes - 28 meninas - Total... 64 alunos
4.ª Classe... 36 rapazes - 26 meninas - Total... 62 alunos
5.ª Classe... 40 rapazes - 35 meninas - Total... 75 alunos
6.ª Classe... 30 rapazes - 12 meninas - Total... 42 alunos
Totais...... 238 rapazes -179 meninas - Total.. 417 alunos

Há falta de tudo, menos salários em atraso dos professores. Livros, cadernos, lapiseiras, lápis, gramáticas, dicionários.

Não deve ser difícil organizar uma recolha de material e faze-lo chegar por uma transportadora. O António que vive em Coimbra poderá dar uma ajuda na maneira como fazer chegar o material até Mampatá. O primeiro dia em Mampatá foi intenso, contudo havia muito ainda para fazer, muitos locais para visitar. Os dias seguintes iriam ser pequenos para reviver 26 meses de emoções à força esquecidas, tanto tempo afogadas, reprimidas, como a querer branquear uma culpa que não tem razão de existir.

Saltinho

Saltinho

Mampatá > Homens grandes

Residencial em Buba

Buba

Quebo

Entrada de Mampata com aquele que se disse filho de branco

Encontro com Amadu

Infantario de Buba

Fotos: © José Manuel Lopes (2009). Direitos reservados

__________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 26 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4081: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (4): Senegal e Guiné-Bissau

quinta-feira, 26 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4081: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (4): Senegal e Guiné-Bissau

1. Fotos enviadas pelo nosso camarada e amigo José Manuel Lopes, ex- Fur Mil, CART 6250, Os Unidos de Mampatá, (Mampatá, 1972/74), que ilustram a sua recente viagem à Guiné com visita particularmente sentida a Mampatá.

Mercado do Peixe em St Louis

Ponte do Eiffel

Carros puxados a burros o maior meio de transporte do interior do Senegal

Fronteira Senegal/Guine Bissau

Guiné

Festa na aldeia

A Guiné é indiscutivelmente uma terra fertil

Palácio do Governador em mjuito mau estado

A vaca no tejadilho nestes carros tudo se transporta

De boleia e à sombra

Fotos: © José Manuel Lopes (2009). Direitos reservados

__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4061: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (3): Do Trópico de Câncer à Mauritânia (2.ª Parte)