Foto nº1 > Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67) > Um destacamento a que a malta do 2º Pelotão (+) da CCAÇ 1498 chamou, com graça, "Hotel Bandido de Ponate"
Foto n º 2 > Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)> Uma magnífica foto > Abrindo um abrigo subterrâneo para ase protegere: Armando Teixeira da Silva está ao meio com a pá: de óculos, ao meio, em terceiro plano, o alf mil José Jorge Melo, açoriano de São Miguel.
Foto n º 3 > Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)> Panorama geral do destacamento. Ou um acampamento do Faroeste ? Se
Fig n º 5 > Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)> Um Armando Teixeira da Silcva, "arranjando uns petiscos. "Tudo que vinha á rede era peixe"...
Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Carta de Bula (1953) (Escala de 1/50 mil) > Posição relativa de Bula e Ponate, na margem esquerda do rio Cacheu
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
1. Havia imensos sítios desgraçados na Guiné... Ponate, a noroeste de Bula, era um deles... Pouco ou nada se ouve falar deste topónimo... Temos meia dúzia de referências. As NT chegaram a ter lá um destacamento. Até 6/12/1966. Tosco. Improvisado. Miserável. Teve uma vida breve na nossa guerra... Foi retirado e armadilhado
Reveja-se aqui o texto, de 2015 (*), do nosso camarada Armando Teixeira da Silva (1944-2018), que morreria três anos depois: ex-sold at inf, CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate, 1965/67); era natural de Oliveira de Azeméis mas vivia na Feira:
Ponate, mais um sítio desgraçado: ficava a 13 km, a noroeste de Bula
por Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
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Armando Teixeira da Silva (1944-2018) |
A CCAÇ 1498 (-) ficou em Có, com o 2º pelotão (+) em Ponate e o 3º pelotão (+) em Jolmete
e uma secção em Pelundo.
e uma secção em Pelundo.
Assim, após um dia inteiro de marcha, em que as surpresas se sucediam a cada instante, surgiu, imperceptível, numa área desmatada, um lastimável aquartelamento nunca antes imaginado.
Passado o cavalo-de-frisa, depararam com a mais humilhante miséria:
- um casebre construído em adobes de argamassa, coberto a chapa zincada, para alojamento de pessoal, sem distinção de postos ou classes;
- duas barracas, em colmo, a servirem de cozinha e refeitório;
- três atalaias, a cinco a seis metros acima do solo, com sentinelas cercadas por bidões de gasolina;
- quatro paliçadas em cibes carcomidos sitiavam toda a desgraça.
– Aonde é que nos viemos meter?
Se estavam atónitos à chegada, estarrecidos ficaram quando o sol se escondeu!
A iluminação era a petróleo: candeeiros Petromax em redor do arame farpado e mechas de gaze de em gargalos de garrafas, na caserna, cozinha e refeitório. No resto, a escuridão era absoluta.
Equipamentos destinados a cuidados de higiene? Nenhuns!...Nada que pudesse garantir saúde, bem-estar físico e mental, de modo a evitar doenças. Em vez de latrinas abriam-se valas, fora do arame farpado, e em vez de duches existiam selhas feitas de barris de vinho, serrados ao meio.
O estado das coisas motivou um lamento:
– Tratam-nos como bandoleiros.
A frase inspirou a criação de uma tabuleta para colocar, logo nesse dia, à entrada do principal cavalo-de-frisa: “HOTEL BANDIDO DE PONATE”.
Mas o pior ainda era a falta de água. A privação deste precioso líquido sujeitava o pessoal a riscos diários, em deslocações a Bula, percorrendo 13 Km, em cada sentido, com uma cisterna de 1000 litros atrelada.
Ocupando uma área com cerca de 3000 m2 e sem população à vista, o quartel situava-se nas proximidades da mata de Jol, não muito distante da assombrosa bolanha de Nhaga.
A missão do seu reduzido efectivo consistia em assegurar liberdade de acção entre Bula e o Cais de São Vicente, na margem Sul do rio Cacheu, mantendo-se ao corrente de todos os acontecimentos e em total ligação com o comando do sector.
A segurança das instalações era inquietante: Refúgios ou abrigos, praticamente nem existiam e as paliçadas dificilmente aguentariam um simples ataque. Daí elaborarem um plano de obras a executar em duas fases:
(i) construção de 3 refúgios subterrâneos, bem como um conjunto de chuveiros e latrina, sem dispensar a reconstrução de todas as paliçadas;
(ii) edificação de uma “casinhota”, em blocos de cimento, para instalação de um gerador eléctrico (nada serviu esta edificação, porquanto, embora prometido, o gerador jamais ali apareceu).
Estas obras realizavam-se sem prejuízo das atividades a desenvolver além do arame farpado, ou seja:
- escoltas diárias à cisterna da água,
- patrulhamentos diurnos e/ou nocturnos,
- inspecções às tabancas e consequentes controlos da população indígena,
- reconhecimento de trilhos e caminhos, e de quando em vez,
- montagem de emboscadas.
E como se já não bastasse, ainda ajudavam companhias de intervenção, em operações na confinante e arriscada mata do Jol. Isto é: em Ponate, a missão, além de perigosa, era árdua e difícil.
Até dentro do arame farpado a situação era delicada, sobretudo, pela indigência das instalações e das privações de toda a espécie, no mesmo alimentares. Apesar de tudo lá iam sobrevivendo.
Até que, inesperadamente, uma mensagem, recebida no ANGRC 9, melhora-lhes as expetativas. Bula comunicava-lhes o fim da sua presença em Ponate. O primeiro a saltar, de contentamento, foi o radiotelegrafista. Outra coisa, porém, ainda estava para vir.
Continuando a tradução da mensagem concluíra-se que o próprio quartel, simultaneamente, desapareceria do mapa. Jamais uma mensagem fora tão marcante. Acontecimento para comemorarem de modo muito especial - emborcando cerveja até o stock se esgotar.
Assim, abruptamente, extinguiu-se o quartel de Ponate. Decisão que os maiorais tomaram quando perceberam, a meu ver tardiamente, a evidência dos perigos a que as tropas estavam sujeitas e as condições deploráveis (porventura infra-humanas) em que se encontravam. A mensagem surgiu-lhes ao cair da noite, todavia, a vontade de mudarem de ares era tanta que se dispensaram de dormir. Puseram mãos à obra e foi até ser dia.
Entretanto, já o sol raiava, vêem chegar camaradas especialistas em minas e armadilhas, transportando engenhos explosivos para armadilhar os pontos mais susceptíveis, na expectativa de o IN os virem a despoletar.
Por fim, com as viaturas a abarrotar a seu lado, percorreram, a pé, os 13 Km que os distanciava de Bula, em cujo quartel já tinham missão determinada.
A história da guerra considerá-los-á os derradeiros sobreviventes de Ponate. O calendário assinalava, então, 4 de dezembro/1966. Entretanto a guerra duraria mais sete anos e meio.
Ao que sabemos, jamais outro qualquer quartel ali foi edificado. Naquele espaço de tempo – superior a 10 meses – houve:
- minas que os feriram,
- emboscadas que os massacraram,
- bolanhas que os inundaram,
- picadas que muito os agastaram,
- trilhos e caminhos que os emaranharam,
- tempestades que os atemorizaram.
Armando Teixeira da Silva
ex-Soldado Atirador
CCAÇ 1498/BCAÇ 1876
(Ponate e Bula, 1966/67)
(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Notas do editor LG:







