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sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24882: Memória dos lugares (451): Farim no ano de 1971 (José Carvalho, ex-Alf Mil da CCAÇ 2753)

1. Mensagem do nosso camarada José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), com data de 22 de Novembro de 2023:

Caros Amigos,

Faço votos para que se encontrem bem.
Ao ver as excelentes fotos com que o Patrício Ribeiro nos presenteou, recordei-me que o dito monumento fazia parte das minhas reportagens fotográficas em Farim, durante o ano de 1971.

Envio então duas fotos: a primeira com o meu amigo Vitor Junqueira, aguardando o transporte para Farim e a segunda no referido monumento ainda completo.

Boa saúde e abraço do
José Carvalho



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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24498: Memória dos lugares (450): Quinta de Candoz

terça-feira, 13 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22370: O nosso livro de visitas (212): Ildeberto Medeiros, ex-1º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72)... Açoriano, vive nos EUA e quer integrar a Tabanca Grande

1. Mensagem de Ildeberto Medeiros, nosso leitor  e camarada:

Date: sábado, 12/06/2021 à(s) 12:17
Subject: Tabanca Grande

Sou um ex-combatente da Guiné, ex-1º cabo condutor da CCAÇ 2753, "Os Barões Mansabá, K3 (1970/ 1972)

Sigo o vosso "site" para melhor recordar esses tempos que por lá andei, porque recordar é viver. Já me tentei regisitar e não consigo.

Actualmento vivo nos Estados Unidos. Gostava de saber se me podiam ajudar com este problema?

Um abraço, Luís
Ildeberto Medeiros


2. Resposta do editor LG:

Meu caro Ildeberto, já devia ter respondido ao teu pedido. I'm sorry, time management now is a big problem for me...

Vou ver se te ajudo:

(i) não te podes registar automaticamente no nosso blogue como membro da Tabana Grande (que conta já com 842 membros, 103 dos quais, infelizmente, já falecidos); mas o teu nome não me é estranho, tens feito comentários a postes aqui publicados;

(ii) tu podes ser, já amanhã, o nº 843: só preciso que me mandes as duas fotos da praxe: uma do teu tempo de Guiné (1970/72), e outra mais atual; (se não souberes como se manda, por email, pede ajuda a alguém das tuas relações, mais desenrascado nestas coisas da Internet);

(iii) já te apresentaste, hoje mesmo, embora laconicamente: estás situado no tempo e no espaço, pertenceste à CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72), eras 1º cabo condutor auto;

(iv) serás o primeiro açoriano da tua companhia a juntar-se, no nosso blogue, aos ex-alf mil Vítor Junqueiro e José Carvalho, e ao ex-fur mil Francisco Godinho, que são "continentais", como então a gente dizia; contigo, passarão a haver quatro "barões";

(v) mesmo com alguma dificuldade na escrita do português (, podes também escrever em inglês se te sentires mais à vontade), conta-nos depois algo mais sobre a tua vida, na tropa e depois da tropa, incluindo algumas das tuas recordações da Guiné mas também dos Açores; podes mandar algumas fotos digitalizadas, através do nosso endereço de email, o mesmo que usaste na tua última mensagem: luis.graca.prof@gmail.com


Terei, teremos todos, muito gosto e alegria em acolher-te aqui à sombra do nosso poilão, a árvore sagrada da Guiné, como bem te lembras... Ainda hoje tive o prazer de conhecer pessoalmente o José Carvalho (ex-alf mil, foto à esquerda) e de almoçar com ele, em Peniche... Embora meu vizinho (ele mora no Bombarral, e eu na Lourinhã), só agora tivemos a oportunidade de nos vermos "ao vivo e a cores"... 

O José Carvalho, hoje médico veterinário, por certo deve lembrar-se de ti, ao reconhecer-te na foto ou nas fotos  de 1970/72 que nos vai mandar. 

Falámos ao almoço dos "Barões do K3" e eu sou testemunha do carinho e apreço que ele ainda hoje manifesta por vocês, açorianos, da CCAÇ 2753. Foi ele, de resto, quem em fevereiro passado nos deu a triste notícia da morte do vosso antigo comandante, o cap mil art João Domingues da Rocha Cupido.

Conto contigo. Aguardo as tuas boas notícias. Best wishes. Good luck, good health. LG
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Nota do editor:

Último poste da série >11 d junho de 2021 > Guiné 61/74 -P22274: O nosso livro de visitas (211): João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, PTE - Pelotão de Transportes Especiais, Batalhão de Engenharia nº 447 (Bissau, 1968/71)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21710: Fichas de unidades (14): CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72)

Ficha de unidade > Companhia de Caçadores nº 2753

Identificação:  CCaç 2753 [Tem mais de 3 dezenas de referências no blogue]

Unidade Mob: BII 17 - Angra do Heroísmo

Cmdt: Cap Mil Art João Domingues da Rocha Cupido

Divisa: "Noblesse Oblige"

Partida: Embarque em 08Ag070; desembarque em 17Ag070

Regresso: Embarque em 26Jun72




Síntese da Actividade Operacional

Após o desembarque, ficou colocada em Brá (Bissau), a fim de se integrar no dispositivo e manobra do COMBIS em substituição da CCaç 2445, com um pelotão destacado em Safim e João Landim, onde substituíu idêntico efectivo da CArt 2520, colaborando na segurança e protecção das instalações e das populações da área.

A partir de 30Nov70 e até 17Dez70, substituída dias depois pela CCaç 2754, deslocou um pelotão por semana para Mansabá, a fim de integrar o dispositivo e manobra do COP 6, com vista à segurança e protecção da continuação dos trabalhos de asfaltagem da estrada Mansabá-Farim.

A partir de 21Dez70, em substituição da CCaç 17, assumiu a responsabilidade do destacamento de máquinas de Bironque e, em face do andamento dos trabalhos, em 13Jan71, do destacamento de Madina Fula.

Em 02Mar71, instalou-se em Saliquinhedim [K3], para onde já seguira um pelotão em 15Fev71, assumindo a responsabilidade do subsector então novamente reactivado.

Em 22Fev72, foi substituída em Saliquinhedim pela CCaç 3 e foi transferida para Mansabá, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em 23Fev72, em substituição da CArt 2732, no mesmo sector do COP 6.

Em 24Mai72, foi rendida no subsector de Mansabá pela CArt 3567, permanecendo, no entanto, nesta zona de acção em reforço da guarnição local até 19Jun72, após o que recolheu a Bissau a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações:

Tem História da Unidade (Caixa n." 85 - 2." Div/c." Sec, do AHM). (**)

Excerto de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), p. 391

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21472: Fichas de unidades (13): CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894 (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Béli, Madina do Boé, 1966/68)... E recordando algumas das melhoras fotos do alentejano Manuel Coelho, que foi fur mil trms de "Os Tufas"

(**) Vd. poste de 5 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida

Guiné 61/74 - P21708: Álbum fotográfico de José Carvalho (3): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (II e última Parte)


 Foto nº 9 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753  (1970/72) >  K3 >  Jantar de inauguração da messe de oficiais e sargentos. Da esquerda para a direita; Furriéis Milicianos Chambel Prates, JoãoTavares, João Serralha, Manuel Moutinho, Alf Mil Ramires, 1º Sargento Leão, Alferes Milicianos Vitor Junqueira, Cândido Pereira, Furriéis Milicianos Alfredo Silveira, [elemento não identificado],  Enf Almerindo Carvalho, Manuel Tavares [, elemento não identificado], e, de costas,  2º Sargento Manuel Mexia



Foto nº 8 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753  (1970/72) > K3 >    Elementos da CCaç 2753 na margem sul do Rio Cacheu: em 1º plano Alf Mil Ramires, José Carvalho, Vitor  Junqueira, Fur Mil A. Silveira e Pedro; em 2º plano, Fur Mil António Tonhá e 1º Cabo Cond [Ildeberto] Medeiros


Fotos (e legendas): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Álbum fotográfico do José Carvalho > 
CCAÇ 2753 - ”Os Barões” e o K3 (II e última parte) (*)

José Carvalho: (i) ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 
(ii) médico veterináruio; 
(iii) vive no Bombarral]

 

 A companhia,  também apelidada “Os Açorianos" [Foto nº 8, acima], enceta um conjunto de trabalhos na área da reabilitação das edificações, melhorando consideravelmente a zona da cozinha, da cantina, casernas e construindo a messe de oficiais e sargentos, com zona de refeições e bar.  [Foto nº 9, acima]

Também deixámos um espaço com piso cimentado, dedicado à prática do voleibol e ainda a escola ficou com a “cara lavada”.

 Em Maio de 71, o COP 6 passa a ser comandado por um homem e militar notável, o Major de Cavalaria António Valadares Correia de Campos.

Operacionalmente,  “Os Barões” tinham já angariado um estatuto de boa reputação operacional, nas diversas situações em que estiveram envolvidos, pelo que,  com o novo comandante do COP 6, foram-lhe atribuídas missões mais exigentes e complexas.

Durante a permanência no K3, a companhia realizou múltiplas operações em conjunto, particularmente com a 27ª Companhia de Comandos, mas também com forças paraquedistas [, BCP 12],  a CCaç 2732 e outras.

Realizou várias operações, helitransportadas, igualmente por via fluvial com desembarques de LDM, em vários locais na margem sul do rio Cacheu.

No conjunto destas operações, “Os Barões” não registaram qualquer vítima mortal, tendo um ferido grave (mina A/P) e alguns ligeiros. O IN sofreu considerável número de baixas confirmadas, bastantes feridos, destruição de acampamentos, várias capturas de armamento, até de combatentes e de população sob o seu controlo.

Vários foram os louvores do Comando e,  numa das operações face aos resultados obtidos, com número assinalável de baixas ao IN, com captura de elevada quantidade de armamento (armas e munições), destruição de várias moranças, celeiro e recuperação de população controlada pelo IN, deslocou-se ao terreno, o General Comandante Chefe, António de Spínola, para felicitar o comandante das forças da CCAÇ 2753.

Do jornal "Nhau" publicaram-se somente 5 números, todos enquanto permanecemos no K3 e hoje sorrio quando observo a frase "Visado pela censura", seria provavelmente uma pequena provocação...

Admitindo o Comandante Chefe encontrar, ao comando das NT, um oficial de patente mais elevada, ficou surpreso quando o Alf Mil Vitor Junqueira se lhe apresentou como comandante das forças no terreno, naquele dia. Em muitas outras situações de sucesso, este valente e corajoso oficial miliciano foi o actor principal! [O Vitor Junqueira é membro da nossa Tabanca Grande desde a primeira hora, vive em Pombal, tem cerca de 90 referências no nosso blogue.]

A companhia revelava um elevado espírito de corpo, grande capacidade operacional, elevada disciplina em combate e uma sólida camaradagem entre os seus elementos.

Em Outubro de 1971 o Comandante da Companhia, Cap Mil Art João Domingos da Rocha Cupido, escreve no número 4 do jornal da companhia, "Nhau", o porquê da designação de “Os Barões”.
Assim escreve a dada altura:

”(...) Ao longo de já catorze meses de comissão, não há dúvida que os soldados da 2753, pela forma como reagiram a todo o esforço que lhe foi pedido, como reagiram a todas as contrariedades, como encararam com toda a confiança as missões mais arriscadas, mostraram bem as suas qualidades, mostraram bem a sua nobreza, mostraram bem que merecem o nome de “Os Barões, mas a nobreza, nobreza de carácter, acarreta obrigações, cria responsabilidades. Eis pois o lema da companhia: A Nobreza Obriga”


Uma página (a 2 ?) da  "Nhau", revista da CCAÇ 2753", nº 4, outubro de 1971. Diretores: alf mil Carvalho, fur mil Silveira... Destaque o editorial "Noblesse Oblige", assinado pelo cap mil J. Cupido.


«

Foto nº 10 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753  (1970/72) > Madina Fula >     O Alf Mil José Carvalho (à esquerda) com o Cap Mil Art João Cupido, na véspera da mudança da CCaç 2753 para o K3, na estrada, em frente ao destacamento de Madina Fula.



Durante a permanência de “Os Barões” no K3, o IN perdeu alguma iniciativa ofensiva, malgrado as informações de reforços de efectivos e armamento pesado, na região do Morés, reagindo sempre fortemente às frequentes penetrações das NT, em zonas de refúgio e acampamentos. 

Saliquinhedim, por sua vez, sofreu algumas flagelações com morteiro 82 e canhão S/R, a última das quais no dia 1 de Janeiro de 1972. 



Foto nº 11 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753  (1970/72) >  K3 >  Início da noite de 31 de Dezembro 1971 > 1º Srgt Leão, Fur Mil Chambel Prates, Fur Mil Mec Auto Francisco Godinho, Fur Mil Pedro, Sold. Corneteiro (barman da messe) Manuel dos Santos, [, elemento não identificado], eu, Fur Mil José Faia e, ao fundo Sold Reis.



O IN reagiu á provocatória noite de passagem de ano, em que um grupo da CCaç 2753 foi festejar o Novo Ano, na zona de Madina Fula, com disparos de armas ligeiras, após o “Toque de Silêncio”, executado pelo nosso corneteiro, o saudoso Manuel dos Santos. [Foto nº 11]

A artilharia de Farim, resolvia estas situações, com as nossas indicações, dos prováveis locais de origem dos ataques.

Na fotografia com que termino este álbum, estou com vários elementos do meu pelotão na parada, com uma gazela abatida, a quando da realização de uma coluna auto a Mansabá.[Foto nº 12]

O animal atravessou a estrada, umas dezenas de metros à frente da primeira viatura (, uma Berliet, ) onde eu ia, e com um único tiro de G3, incrédulo,  vi o animal tombar, a cerca de 100 metros da estrada. Recuperada e colocada na viatura, ainda mais incrédulo fiquei quando verifiquei que a bala tinha
atingido a gazela no pescoço, junto à base do crânio. Garanto que não é história de caçador…




Foto nº 12 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753  (1970/72) > K3 >    Alguns elementos do 2º Pelotão. A partir da esquerda: Roberto Mendonça, eu, Barbosa, Santos Carvalho, [, elemento não identificado], [elemento não identificadio], ”Faial”, Freitas, [elemento não identificadi],  Grilo, Bettencourt e José Estrela

Em finais de Fevereiro de 1972 deixámos o K3 e novo desafio esperavanos em Mansabá!




Bombarral, José Pimentel de Carvalho, 2020
  [, médico veterinário  e novo membro da Tabanca Grande, nº 807]
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sábado, 25 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807


O alf mil inf José Carvalho, CCAÇ 2753, Os Barões do K3,  (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába,  1970/72)
 

O médico veterinário José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã; novo membro da Tabanca Grande com o nº 807. . Fotos (e legendas): © José Carvalho  (2029). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Pimentel de Carvalho, médico veterinário e novo membro da Tabanca Grande, que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 807:

Data: 14/04, 18:40 (há 10 dias)

Assunto: Inscrição como membro da Tabanca Grande

Boa tarde Luís Graça,

Depois de há bastante tempo visitar regularmente o blogue, que considero ser uma obra notória e importante para a história recente de Portugal, por isso felicito os seus obreiros, neste período de confinamento, em que até consigo ter tempo…, concretizo a decisão de apresentar a minha inscrição para membro da Tabanca Grande.

Sou oriundo do concelho do Bombarral, vizinho da Lourinhã, em cujo concelho iniciei a minha actividade profissional, na industria avícola, quando a mesma começava a ser uma das principais actividades económicas da região.

Teremos até amigos comuns, um dos quais que recordo com saudade, o Álvaro Carvalho, condiscípulo no Liceu de Leiria, nos anos sessenta, ambos com o mesmo encarregado de educação local, e irmão do meu colega e amigo homónimo José Carvalho.

Nasci em 1948, no Bombarral, José Júlio Faria Pimentel de Carvalho, fui incorporado no Exército Português em Julho de 1969, na EPI Mafra, passei pelo BI 17, Angra do Heroísmo, onde se formou a CCaç  2753, "Barões do K3",  e chegámos à Guiné em Agosto de 1970. 

A companhia finalizou a comissão em Junho de 1972 e eu com a incumbência da comissão liquidatária, em inicio de Agosto.  

Fui Alf Mil Inf tendo passado, entre 1970 e 1972 por Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansabá.

Junto-me a mais dois ”Barões”, que são membros veteranos da Tabanca Grande, o grande Amigo Vítor Junqueira, com quem ultimamente tenho convivido nos almoços da Tabanca do Centro,  e o Francisco Godinho.

Profissionalmente desenvolvi a minha actividade de Médico Veterinário, predominantemente na área da avicultura e na industria farmacêutica (saúde animal).

Em ficheiro anexo envio as duas fotografias requeridas, uma de 1972, outra desta semana e proponho no futuro enviar outras da Guiné, que porventura os distintos editores, avaliarão do interesse ou não da sua publicação.

Termino felicitando e agradecendo o notável esforço de todos Tertulianos, que ao longo destes anos, têm contribuído para o enorme sucesso do blogue.

Um abraço do
José Pimentel de Carvalho


2. Comentário do editor LG:

Caro José Carvalho: os amigos dos meus amigos meus amigos são... Além disso, como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, o que esbate logo eventuais distâncias... Seguramente que já nos encontrámos por aqui, na Lourinhã, e, como soi dizer-se nestas circunstâncias, "a tua cara não me é estranha"... 

E começas logo por citar dois grandes amigos de infância, o Álvaro Carvalho, médico psiquiatra (Lourinhã,  1948 - Lisboa,  2018) (e meu colega de escola primária, um amigo de toda a vida: tem aqui, neste blogue, pelo menos 3 referências, textos meus de apreço, saudade e homenagem) e o José Andrade de Carvalho, seu mano, também médico veterinário como tu. Em suma, sempre fui amigo da família, incluindo a Hermínia.

Quanto ao Vitor Junqueira, há muito que nos honra com a sua presença na Tabanca Grande, organizou o nosso II Encontro Nacional, em Pombal, em 2007, Tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue e dele já publicámos algumas das nossas melhores histórias. Há uns anos a esta parte deixou de ser tão assíduo, o que é humanamente compreensível: andamos para aqui a blogar desde 2004...

O Francisco Godinho ainda há pouco tempo o encontrei na Casa do Alentejo. Também nos honra com a sua presença, contando com quase 3 dezenas de referências no nosso blogue.

Naturalmente, não precisas de cartas de recomendação: estás aqui de pleno direito, como ex-combatente no TO da Guiné,  e já te sentei no lugar n.º 807, à sombra do nosso secular, mágico, protetor e fraterno poilão... Como sabes, não havia tabanca sem poilões, e a nossa tem um muito grande, justamente para poder caber, sob a sua frondosa copa, todos os nossos camaradas... (e alguns amigos/as, que, não tendo sido militares, têm uma relação especial com a Guiné).

É caso, de  resto, para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. E, no teu caso, não preciso de lembrar que a nossa Tabanca é Grande, justamente porque nela cabemos todos nós, com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar. E uma vez, que não há mais nenhum José Carvalho, ficas com o nome por que  foste batizado e és conhecido, e que passa, a partir de agora, a figurar na nossa lista alfabética, de A a Z, na coluna estática do lado esquerdo do blogue. (Se preferires, podes ficar como José Pimentel de Carvalho, como és conhecido profissionalmente.)

Sendo tu já um leitor de longa data do nosso blogue, sabes quais são as nossas regras editoriais e o nosso "modus faciendi": textos e fotos para publicação mandas, como fizeste agora, para um dos editores. Tratamos depois do resto.

És naturalmente bem vindo e seguramente recebido de braços abertos por todos/as. Não tenho, assim de cor, a certeza de ter algum bombarralense como grã-tabanqueiro... Conheço o Patuleia, mas ele foi combatente em Angola, embora tenha cá bons amigos e camaradas, como o António Marques, da  minha CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): estiveram muito juntos, no Hospital Militar Principal, em recuperação, em 1971/72.

Desculpa só agora responder-te: poderia desculpar-me com a situação atual criada pela pandemia de COBID-19 e  com  o "teletrabalho" (, que, de resto,  já existe há muito entre nós,  editores, em boa verdade desde o início do blogue, em 23/4/2004)... Mas não, precisava apenas de ter uma horinha para te dar bom andamento ao teu pedido e apresentar-te aos demais camaradas e amigos.

Vejo, por outro lado, que somos também da saúde pública, e portanto com mais afinidades, para além da Guiné e dos nossos comuns amigos da Lourinhã.  Estás apresentado, desejo-te boa saúde e longa vida, e aguardo as tuas próximas histórias.

A tua CCAÇ 2753 tem 27 referências no nosso blogue. Vão aumentar, seguramente, com a tua partilha de memórias (e afetos).
Luís Graça

PS - O nosso coeditor Carlos Vinhal é teu contemporâneo, esteve  em Mansabá,  entre abril de 1970 e março de 1972. Foi Fur Mil At Art, com a especialidade de minas e armadilhas da CART 2732.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17971: (De) Caras (99): Saia uma sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira, ex-alf mil, CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim / K3, Mansabá, 1970/72; médico reformado, Pombal)

1. Já não temos notícias, desde 23 de setembro de 2011, há seis anos (!), do nosso camarada Vítor Junqueira (ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá, 1970/72), hoje médico, reformado, e a viver em Pombal.  Foi o organizador do II Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2007, em Pombal.


Ele tem 64 referências no nosso blogue e escreveu alguns dos nossos melhores postes...  Em 30 de novembro de 2010 disse-nos, numa nota deixada na caixa de comentários (*) que estava bem de saúde e "conectado"... Sabemos pelo seu gosto pelas viagens, ou não fora ele, noutras vidas, oficial da marinha mercante. É seguramente um  daqueles nossos camaradas que já deu várias vezes a volta ao mundo...

Lembrei-me dele e, sem pedir-lhe licença, vou republicar aqui um dos textos mais saborosos que ele nos deixou e que os nosso "periquitos" (os membros da Tabanca Grande entrados nos anos mais recebtes) têm também o direito (e a obrigação) de conhecer...

Já na altura, considerei a história da sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" como  uma daquelas histórias dos nossos encontros e desencontros com aqueles povos amigos e hospitaleiros da Guiné, que um dia teria de figurar na antologia do nosso blogue!...  (Ele não me chegou a mandar, e ainda bem, a receita do "cabrito pé de rocha, manga di sabe"). (**)


2. Cabrito pé de rocha, manga di sabe

por Vítor Junqueira


Quando a minha Companhia [, a CCAÇ 2753,] aterrou em Bissau, após uns dez dias de viagem no velho N/M T/T (era mais ou menos esta a sigla para navio motor  de transporte de tropas) Carvalho Araújo (#), fomos acolhidos no cais do Pidjiguiti por malta que eu não conhecia de lado nenhum, que soltava uns piu-piu esquisitos cuja razão de ser não entendia. 

Soube ali que eram os choferes, velhinhos, das camionetas que nos haveriam de conduzir ao destino. As viaturas, alinhadas em coluna ao longo do cais, estavam a ser carregadas enquanto as entidades superiores tratavam da papelada. Até ao desembaraço da Companhia, e enquanto carrega, não carrega, os piu-piu acossavam-nos de todos os lados. Comecei a ficar enervado e com apetite!

Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres "casa de pasto, vinhos e petiscos".

Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde, minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem...
– Cabrito?
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.

Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa... Pedi uma laranjada.

Ali fiquei encostado ao balcão a vê-la rasgar a carcaça e nela acomodar o conduto. Ia magicando com os meus botões o quanto as aparência iludem. Aquela mulher enorme era um monstro de simpatia, nos gestos, no brilho do olhar, na doçura da voz. Acho que começou ali a minha paixão pela Guiné. Serviu-me com delicadeza numa pequena mesa de pinho, carunchosa e coxa, que só se mantinha de pé porque estava encostada à parede.

Comi. E que bem me soube. Ao fim de tantos dias a comer a lambeta de bordo, que nem era má, mas à qual o balanço do navio retirava todo o requinte, aquele petisco caiu-me que nem ginjas. Paguei em escudos, recebi o troco em pesos e saí animado com a perspectiva das vindouras patuscadas de cabrito pé de rocha que já se perfilavam no meu horizonte de expedicionário. Fosse parar aonde quer que fosse, não faltaria caça daquela, pois se até na cidade se encontrava ao dispor... Aquele cabrito era mesmo delicioso. E o apelido pé de rocha? Devia estar relacionado com o habitat do animal. Altas montanhas com os picos cobertos de neve, pensei eu. O Kilimanjaro devia ficar ali perto, provavelmente.

Juntei-me ao resto da guerra, a quem dei conta das minhas descobertas e lá vou com a tropa toda, sob um altíssimo astral, direito ao AGRBIS (eu sabia lá o que isso era!). À nossa espera estava um hangar, sem portas, sem janelas, sem luz e com milhões de mosquitos, gordos e ferozes. Nos oito dias seguintes dormimos em cima dos ferros das camas porque colchões também não havia para distribuir. E quanto à bianda, ração de combate ao almoço, ração de combate ao jantar. Sobremesa, sempre à base de mancarra que umas garotas apareceram por ali a vender dentro de uns penicos que transportavam à cabeça.

O problema maior era a água. Na altura grassava uma epidemia de cólera no território pelo que nos aconselharam a beber só água engarrafada. Resultado, ao terceiro dia estava não só falido, como via as dívidas a acumularem-se. É que a única água engarrafada disponível que havia era a Perrier, usada no tratamento do whisky, que eu comprava a oitenta mil réis cada garrafa, no bar dos oficiais do Depósito de Adidos que ficava ao lado. Escusado será dizer que, por essa razão ou outra qualquer, houve caganeiras monumentais.

E eis que recebo guia de marcha para ir comandar os destacamentos de Safim e João Landim.

Força instalada, faço o reconhecimento da zona e concluo que no que respeita a infra-estruturas de apoio como tasca, restaurante, animação (batuque e bajudas), posso considerar-me um homem de sorte. Tenho ao dispor um fundo de maneio e o seu parente, o inevitável saco azul. Agora sim, tinha qualidade de vida. Permitíamo-nos comer quase à la carte. Além disso, por ali não se ouviam tiros. Perfeito...

É neste contexto que, estando um dia a bater uma galharda sesta, sou acordado subitamente por um militar que me vem perguntar se pode ir lá fora dar um tiro com a G3...
– A quem? – perguntei.
– Não sei bem de que se trata – diz ele – É um gajo da população que está ali à porta de armas a pedir que vá alguém à tabanca abater uma peça de caça.
– Alto e pára o baile – disse eu, meio desconfiado. – Quem lá vai sou eu.

Visto os calções num ápice, enfio os chinelos, pego na canhota que tinha dependurada à cabeceira da cama e, todo nervoso, antecipando um presunto de gazela para o tacho, dirijo-me ao cavalo de frisa que servia de porta de armas.

Lá estava o homem. Pareceu-me inofensivo. Pediu-me que o seguisse, enquanto, num crioulo que eu já começava a entender, me explicava que se tratava de um cabrito pé de rocha que andava por ali a vaguear. Nisto aponta para o cocuruto de uma árvore e diz:
– Pessoal, olha ali. Por favor mata ele...

Fiz um único disparo. Aos meus pés caiu um bruto babuíno (macaco-cão) que devia pesar para aí uns trinta quilos. 

Dispensei a minha quota-parte da caçada! (##)

Vítor Junqueira (***)

[Revisão / fixação de texto: LG]
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Notas do autor:

(#) Esta foi a última viagem do Carvalho Araújo. De Lisboa para Bissau, navegou notavelmente adornado a estibordo. No regresso, ouvi dizer que chegou pelo seu pé a Cabo Verde, tendo sido depois rebocado até ao seu destino final.

(##) Voltei a comer cabrito pé de rocha, muitos meses depois e, desconhecendo a ementa, numa acção de Psico. Outra delícia! Um dia destes mando a receita.
________________

Notas do editor:

(*) 30 de novembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7363: Que é feito de ti, camarada ? (1): Prakistou, diz o Vitor Junqueira, mas não desconectado

(...) Pois, meus caros, eu prakistou, mais ou menos bom de corpo, de cabeça, dirão vocês e, não é verdade que ande por aí, meio perdido, meio desconectado. Estou convosco todos os dias, normalmente mais do que uma vez por dia! Aprecio a matéria dada, revejo-me nalguma prosa e, tacanho que sou, apenas pressinto na verve a corda lírica, vibrante e fácil, dom de apenas alguns tertulianos. (...)

(**) Vd. poste de 11 de novembro de  2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira)

(***) Último poste da série > 24 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17901: (De)Caras (99): o comandante do BCAV 2868 (Bula, 1969/70), o ten cor cav Carlos José Machado Alves Morgado, mais o com-chefe António Spínola, em Pete, em 9/11/1970 (Victor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...



 Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Mato Cão  > Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijoes.


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Preparando peixe do rio


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > O furriel João Santos, já em fim de comissão.


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  A mascote, o "Pixas"...


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   "Pequenas diversões"...

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Fotos do álbum de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73), e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74), subunidade que ele desmobilizou e onde terminou a sua comissão já depois do 25 de Abril... É  membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730. Nascido em Lisboa, tem raízes na Marteleira e Miragaia, concelho da Lourinhã, pelo lado materno.




1. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) > Experiências gastronómicas (Parte II)

Segunda parte do texto enviado em 7 do correntes com 4 histórias, duas passadas em Cufar, região de Tombali, no sul da Guiné (*),  e as restantes no Mato Cão, na zona leste, na região de Bafatá, setor L1 (Bambadinca). 


III – O Padeiro de Mato de Cão 


O pão é um alimento extraordinário que caso não tivesse sido criado há mais de 6.000 anos na Mesoptâmia, provavelmente a existência humana tivesse sido comprometida. Não conheço ninguém que não goste de pão nas suas múltiplas formas de fabrico e, em particular, nós,  portugueses, não o dispensamos para acompanhamento ou mesmo como elemento principal de uma refeição.

Em Mato-de-Cão [ou Mato Cão]  embora o efectivo dos europeus se limitasse a dez elementos, um deles tinha a “especialidade” de cozinheiro que também abrangia a de “padeiro”. Infelizmente tratava-se de uma pessoa com enormes limitações cognitivas, recordo-me que entre outras confusões achava que “valor declarado” e “louvor declarado” eram a mesma coisa e, não fora as grandes dificuldades de recrutamento da época , o nosso jovem “cozinheiro” seria certamente adstrito ao contingente de básicos.

Na cozinha,  dada a simplicidade e a repetição dos menus,  as coisas iam correndo, mas no que dizia respeito ao pão, o homem não se safava e a nossa dentição só resistia devido aos vinte e poucos anos de uso que tinha na altura e o produto do nosso padeiro só era tragável numas sopas de café.

Propus-me a alterar esta situação, para mim desastrosa,  e com calma e paciência arranjei umas medidas para que ele respeitasse as quantidades de farinha e fermento, indiquei-lhe o tempo da levedar da massa, mas continuavam a sair pedras,  ao invés de pães do nosso forno. A paciência perdida e um exemplar da padaria na cabeça do “cozinheiro/padeiro” que ia originando um traumatismo craniano no funcionário,  levou-me a desistir de o transformar num padeiro capaz.

Ma,  como o homem é criativo e sabe aproveitar as oportunidades, um soldado do pelotão [de caçadores nativos] 52, o Jobo Baldé, abordou-me com oportunidade e a sua habitual irreverência: 
– Alfero, Jobo passa a fazer o pão para o pessoal! 
– Não sabes fazer pão, Jobo, não te metas nisto que arranjas problemas.
–  Jobo sabe fazer pão, alfero, deixa experimentar e vais ver.

Perante sua insistência e convicção e no desespero de não haver outra alternativa,  resolvi experimentar as aptidões do Jobo para novo responsável da padaria. Expliquei-lhe as medidas para a farinha e para o fermento, o tempo para levedar,  e ele atacou de imediato a nova função. 

Não sei se por milagre ou se pelas aptidões inatas do Jobo, no dia seguinte quando este me chamou para ver o pão acabado de cozer,  tive das grandes alegrias gastronómicas da minha vida. O pão estava quente, tinha crescido por obra do fermento e da forma carinhosa com a massa tinha sido tratada, o som da batida no “lar” parecia um tambor a acusar uma boa cozedura e o abrir a crosta estaladiça evidenciava um miolo macio, fumegante e com um cheiro delicioso. Regalámo-nos de imediato com pão quente e manteiga e o Jobo ganhou o lugar!

O Jobo estava feliz com a nova função e cumpria-a com pontualidade, brio e grande competência. Posteriormente ensinei-o a fazer merendeiras com chouriço e ele começou a produzi-las sem grande esforço de explicação. Quando as tinha cozido trazia-me de imediato uma e eu recordava as que a minha avó fazia na Marteleira, [, Lourinhã,]  quando era dia de cozedura. 

No que dizia respeito ao pão, tínhamos atingido, graças ao Jobo Baldé, a felicidade. O Jobo também estava feliz, era casado com uma mulher,  bem mais velha,  que ele herdara do irmão entretanto falecido. Embora esta mulher fosse divertida e senhora de um grande sentido de humor,  já tinha perdido o fulgor e a beleza da juventude e o nosso amigo e saudoso Jobo Baldé, quando acabava de fazer o pão, tinha sempre visitas de exuberantes bajudas a quem ofertava uns pães a troco de inconfessáveis favores. 

Luís Mourato Oliveira: foto atual
A felicidade conquista-se com pequenos acordos e cedências. Estávamos todos satisfeitos…até as bajudas.

IV – Macaco em Mato de Cão

Sempre na pesquisa de petiscos e novos sabores para variar a nossa rotineira cozinha, um dia o soldado Tomango Baldé, o maior “pintoso” do pelotão, depois de alguns convites para comer o fígado de “bandido” quando apanhássemos um, veio sugerir que petiscássemos macaco cão.

A primeira ideia foi imediatamente recusada, embora ele defendesse que iríamos reforçar a nossa força com a do inimigo abatido e cozinhado, este prato estava longe de poder ser bem acolhido por nós, a não ser que o “bandido” fosse uma gazela tenrinha ou um javali bem gordinho, contudo a ideia do macaco cão não era totalmente de deitar fora. 

Os guineenses comiam macaco cão com regularidade, esta iguaria era até muito apreciada e havia quem achasse a carne do macaco semelhante à do cabrito, por isso aceitámos comer um quando a caça o permitisse. [vd. postes sobre macaco cão, também conhecido por "cabrito pé de rocha". ]

Um dia o Tomango apareceu com um macaco cão acabadinho de ser caçado e, como não podíamos voltar com a palavra atrás, o animal foi para a cozinha para ser preparado. O aspecto do bicho era devastador depois de esfolado,  pois tinha mais semelhanças com um humano recém-nascido do que com um cabrito, foi colocado a marinar em vinha de alhos e, depois para o forno, para aquecer os nossos estômagos no jantar do dia.

Havia poucos candidatos para a degustação, mas depois de cortado e arranjado no forno com as batatinhas assadas,  apresentava um aspecto comestível, até atractivo e a abrir o apetite. Os menos receptivos ao manjar foram alterando as suas posições, alguns após provar até repetiram e o tabuleiro ia ficando vazio. 

O grande companheiro e amigo Santos, o furriel mais antigo do 52, era dos menos entusiasmados com o manjar, mas perante o exemplo dos outros camaradas que já tinham esquecido o que estávamos a comer, lá pegou num bracinho do bicho que parecia estar bem passado, atirou-se a ele e ainda deu umas dentadas. De repente e quando já ninguém esperava, desata a correr para a parada e, pelos sons que chegavam à cobertura de chapa ondulada a que chamávamos refeitório, estaria a libertar o seu estômago sofredor não só do petisco acabado de deglutir, mas também de todas as refeições ingeridas nos últimos dias.

Passado algum tempo, já recuperado do esforço libertador daquela comida que o estômago se recusou a receber, perguntei-lhe:
 – Então, Santos, não gostaste do cozinhado? 

Ele ainda amarelo e enjoado respondeu que não foi pelo paladar, que nem estava mau, o que o enjoou foi a pilosidade do sovaco do bichinho que não tinha sido convenientemente depilado.

Luís Mourato Oliveira



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão, na margem direita do Rio Geba Estreito > 1973 > Pel Caç Nat 52 > O Alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, com o Tomango Baldé, um dos mais antigos soldados do Pelotão, segurando um macaco-cão [ou macaco-fidalgo ? (LG)].

Foto (e legenda) : © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Sugestão de leitura complementar (LG):

Poste de 11 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias deBissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe"  (Vitor Junqueira)

(...) Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres, casa de pasto, vinhos e petiscos.

Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra ... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde,  minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem ...
– Cabrito? 
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.

Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão,  contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa ... Pedi uma laranjada. (...)
_______________

Nota do editor:

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9074: O nosso blogue em números (22): Foi assim que eu vos conheci, irreverentes; foi assim que vos reencontrei, controversos... (Cherno Baldé)


Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto fotográfico de Amílcar Ventura > "Foto 13 - Encontro das Altas Chefias de Pirada depois do 25 de Abril [de 1974]".

Fotos (e legendas): © Amílcar Ventura (2009)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário, ao poste P9063, da autoria do querido amigo guineense Cherno Baldé [, primeiro da esquerda na primeira fila, foto ao lado,  Fajonquito, 1975, ] 



Caros amigos,


Foi assim que eu vos conheci, irreverentes;
Assim vos reencontrei, controversos;
No espaço deste nosso blogue e Tabanca Grande;
Espero e faço votos para que possam continuar a discutir, ainda por muito mais tempo;
Enquanto tiverem forças e engenho;
Enquanto ainda quiserem e puderem concordar ou discordar;
Apoiados na vossa consciência, na vossa capacidade de discernimento e de bom humor.


Eu acho que, neste blogue, há espaço para toda a gente se exprimir livremente, bastando para isso que sejamos um pouco mais tolerantes e abertos na recepção que fazemos das opiniões dos outros. Mas, às vezes, tenho a impressão que alguns camaradas se esquecem de que já não estão dentro das trincheiras dos tempos de outrora...


Senti alguma incompreensão na forma como foi recebido o Vitor Junqueira da última vez que ele reapareceu no blogue, com a apresentação do trabalho de um amigo guineense, depois de uma prolongada ausência, malgrado o seu "(...) chacun sa putain!...", que a seu tempo foi apreciado e criticado sob diferentes pontos de vista, não se tendo manifestado qualquer sentimento de ofensa ou de vitimização.


Senti alguma incompreensão em relação ao vosso camarada Amílcar Ventura que foi, literalmente, "banido" do blogue por ter feito declarações que denunciavam a sua visão e postura "alegadamente" diferentes e não conformes as regras de jogo da guerra colonial.


Como já disse alguém, no dia em que não houver diferençaas e todos tiverem a mesma visão e opinião sobre a vida e das coisas que a governam, será o fim da vida deste blogue onde nos reunimos com o prazer de ouvir histórias de outros tempos, das "nobas" da Guiné-Bissau e das "nobas" dos nossos amigos e camaradas.


Um grande abraço,


Cherno Baldé
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Nota do editor:


Último poste da série > 20 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9069: O nosso blogue em números (21): A propósito dos 3 milhões de visitas... Sondagem... Fotos de Nova Lamego, de Tino Neves

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8814: Agenda Cultural (157): Apresentação do livro De Campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho, dia 24 de Setembro de 2011, pelas 16 horas na UNICEPE, Porto

1. A pedido do presidente da direcção da Unicepe, que é seu amigo, o nosso camarada Vítor Junqueira (ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72) , em mensagem de hoje, 23 de Setembro de 2011, deu-nos conta da apresentação do livro De Campo em Campo, de autoria de Norberto Tavares de Carvalho, no próximo sábado 24 de Setembro, na cidade do Porto.

Passamos a dar notícia, baseados em elementos fornecidos pela editora. E saudamos o aparecimento do nosso camarigo Vitor Junqueira de quem há muito não tínhamos notícia.


Apresentação do livro De Campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho,  dia 24 de Setembro de 2011, pelas 16 horas, na UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, Praça de Carlos Alberto, 128-A.


DE CAMPO EM CAMPO, de Norberto Tavares de Carvalho


Trata-se de uma empolgante narrativa da guerra colonial, por alguém que a viveu de corpo e alma, do primeiro ao último momento. Futebolista nato, Bobo Keita cruzou-se no estrangeiro com o Presidente Kwame Nkrumah, do Gana, do qual ouviu a mensagem que o preparou para os lances que iria efectuar no campo político. Respondendo ao apelo de Amílcar Cabral, foi com elegância e convicção que fez a sua preparação militar num país do ex-bloco comunista.

Calculista, cedo entendeu que os amuletos não passavam de meras fantasias e passou a interessar-se pelos conhecimentos e técnicas mais ligados à lógica. "Não ouves o zumbido da bala que te ceifa a vida porque a sua velocidade é superior à do som."

Foi assim que o ex-futebolista se formou como militar no emaranhado de trepadeiras e lianas que formam o traiçoeiro solo da Guiné-Bissau. Lutou no Norte e no Leste, comeu ratos e macacos, bateu-se como um leão, foi ferido mas nunca perdeu o ânimo. Sobretudo depois da morte de Cabral.

Último Comandante a entrevistar-se com o Amílcar Cabral poucas horas antes da sua morte, Bobo Keita participou na captura do assassino e na libertação de Aristides Pereira.  Por outro lado, o domínio aéreo, outrora da exclusividade do exército português,  foi posto em causa, logo a seguir,  com o míssil Strela e o Grad, na primavera de 1973. 

A morte do líder viria a intensificar os campos de batalha até que, no dia 25 de Abril de 1974, deu-se o golpe de estado em Portugal, antecedente lógico que permitiu o desanuviamento tanto esperado.

Membro da delegação do PAIGC que participou nas negociações de Londres e de Argel, Bobo Keita afirma que o ambiente entre as duas delegações não foram sempre tão cordiais como se pretendeu. Para ilustrar um desses momentos de tensão, foi quando perante um impasse a delegação do PAIGC anunciou que ia regressar e retomar a guerra. O Dr Mário Soares teria elevado a voz,  frisando bem alto: "Guerra, guerra, vocês só pensam na guerra...!".

Com a assinatura dos Acordos de Argel, os homens de Cabral regressaram efectivamente mas para preparar a fase de transição da retirada do exército português. Foi assim que, no dia 13 de Outubro de 1974, Bobo Keita escoltava, com o devido brio e respeito, o último Governador Colonial da Guiné, o Brigadeiro Carlos Fabião que ia apanhar o avião que o conduziria a Portugal. A cena marcou o fim da guerra colonial na Guiné e também o fim desta empolgante narrativa. (Fonte: Adapt. de Unicepe)


O Autor (segundo ele próprio)

Nasci na Guiné-Bissau onde fiz os meus estudos primários, secundários e universitários. Em Novembro de 1972, estudantes travaram-se de razões com o General António de Spínola. Pus-me logo à cabeça do movimento. Do palácio do Governador fui conduzido à prisão da PIDE/DGS. Solto, criei a minha célula juvenil paralelamente às minhas actividades no seio de militantes do PAIGC que operavam em Bissau. Preso em Maio de 1973, fui condenado a 3 anos de trabalhos forçados. O "25 de Abril" restituiu-me a liberdade. Pude então dar corpo às minhas tendências poéticas e literárias. Participei na primeira Antologia dos poetas da Guiné-Bissau. Chefe do Departamento da Cultura da Juventude Africana Amílcar Cabral (1977-1980), Chefe dos Serviços da Migração (1978-1980), fui preso na sequência do golpe de estado do 14 de Novembro de 1980 na Guiné-Bissau. Após 36 meses de isolamento e 6 meses de trabalhos forçados, fui libertado. Com o pretexto de retomar os meus estudos universitários interrompidos, em 1983 abandonei o meu país e emigrei-me para a Suiça. Diplomado no Instituto dos Altos Estudos Especializados de Genebra, professor e Master Europeu em Mediação, trabalho como funcionário e faço parte da lista dos Mediadores Civis do Estado de Genebra. Sou fundamentalmente Combatente da Liberdade da Pátria.

(Fonte: Unicepe)

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UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL
Praça de Carlos Alberto, 128-A
4050-159 PORTO
Telefone (351) 222 056 660
Unicepe@net.novis.pt
http://www.unicepe.com
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8805: Agenda Cultural (156): Exibição do filme Quem vai à Guerra, de Marta Pessoa, dia 30 de Setembro de 2011 no Centro Cultural da Malaposta, Olival Basto

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8488: Agenda Cultural (139): 115.º Jantar de Amizade UNICEPE, dia 1 de Julho de 2011, com apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973), do guineense Julião Soares Sousa + mais fado de Coimbra


O grupo de fado de Coimbra Cantus do Rio (Imagem, reproduzida com a devida vénia, do sitio da Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL)

1. Mensagem recebida há poucos minutos no nosso Blogue:


Caro Luís Graça:

Eu tinha pedido ao nosso comum amigo Vítor Junqueira para providenciar a colocação da notícia que segue abaixo mas, pelos vistos, ele estará ausente e não tratou do caso.
Embora em cima da hora, ainda pode colocar?


Cordiais cumprimentos,
Rui Vaz Pinto

Presidente da Direcção
UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL
Praça de Carlos Alberto, 128-A
4050-159 PORTO
Telefone (351) 222 056 660
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115º Jantar de Amizade UNICEPE
Sexta-feira, 1 de julho de 2011, 19h45m


- “Amílcar Cabral (1924-1973) - Vida e morte de um revolucionário africano”, livro do Professor Doutor Julião Soares Sousa  (resultado de uma longa investigação para o doutoramento concluído na Universidade de Coimbra) (i) será apresentado pelo Professor Doutor Armando Teixeira Carneiro, Director do ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, de Aveiro.


- Momento musical pelo grupo CANTUS DO RIO (ii). 30 a 40 minutos com a guitarra portuguesa (Luís Marques), guitarra clássica (Paulo Larguesa) e uma voz (António Dinis).

- Ementa: Água, sopa de legumes, bacalhau com espinafres, vinho maduro tinto Dão Quinta de Roriz, semi-frio de maracujá, café, vinho do Porto Poças. Preço: 15,00 €


- Inscrições para unicepe@net.novis.pt ou telef 22 205 66 60


Traz outro amigo também! (Após o jantar, cerca das 21h30, entrada livre)


(i) Julião Soares Sousa

É atural de Bula (República  Guiné-Bissau). Filho de Soares Sousa e de Amélia Mendonça, licenciou-se em História pela Universidade de Coimbra em 1991. Concluiu o Mestrado em 1996, com a classificação máxima de MUITO BOM, e doutoramento na mesma Universidade em 2008, com Distinção e Louvor por unanimidade. É o primeiro guineense Mestre e Doutorado pela Universidade de Coimbra.


É Investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e Professor Convidado no Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (Aveiro), onde lecciona a cadeira Cultura e Conflito, do Mestrado em Segurança Defesa e Resolução de Conflitos e da Pós-Graduação em Criminologia.


Tem proferido várias conferências em Portugal e no estrangeiro (Brasil, Dinamarca, França, Hungria, Espanha, Cabo Verde, Guiné-Bissau.

(ii) Cantus do Rio

Éum projeto musical desenvolvido em Coimbra desde Abril de 2011. É constituído por António Dinis (voz), Luís Marques (guitarrra portuguesa) e Paulo Larguesa (guitarra clássica). Faz apresentações públicas ou privadas, de sessões musicais ligadas ao universo do fado de Coimbra isto é, do canto e das guitarras.


António Dinis foi também fundador do Grupo de Fados e Guitarradas de Coimbra Verdes Anos . Já actuou no 43º aniversário da UNICEPE (http://www.verdesanos.com/index.html )


Paulo Larguesa também já actuou no 98º Jantar de Amizade (http://unicepe.com/jantares/jantares/98_jantar/98_jantar.html ) e no 46º aniversário (http://unicepe.com/jantares/jantares/46_aniversario/46_anos.html )
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Nota do Editor

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8465: Agenda Cultural (138): 16.º Aniversário da AORN, Comemorações e apresentação do Anuário da Reserva Naval, 1976-1992

domingo, 30 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7695: Convívios (289): 8.º Encontro da Tabanca do Centro - A Poda (Vítor Junqueira)

1. Mais um belíssimo texto do nosso camarada Vítor Junqueira, a propósito da sua participação no 8º. Encontro da Tabanca do Centro em Monte Real, no passado dia 26 de Janeiro.

Qualquer pretexto serve para uma escrita simples, direta, agradável e percetível, com a marca VJ.

2. Mensagem de Vítor Junqueira (ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), com data de 28 de Janeiro de 2011: 

Caros amigos,
Tive o privilégio de ser convidado a participar no 8º encontro da Tabanca do Centro que decorreu no passado dia 26/01.
A propósito, envio este texto que gostaria de ver publicado se e quando assim o entenderem.

Desde já, o meu agradecimento acompanhado de forte abraço do
VJ


Pose descontraída de Vítor Junqueira (à esquerda da foto) durante o III Encontro da Tabanca Grande em Ortigosa, no ano de 2008. À direita, outro notável da nossa Tertúlia, o camarada Jorge Cabral e o seu inseparável cachimbo.
Foto de José Armando F. Almeida


A Poda

O mail chegou atempadamente. Numa escrita bonita, perfumada de amizade, intimava-me o nosso amigo Joaquim Mexia a comparecer na simpática localidade de Monte Real no dia 26/01 a fim de participar no oitavo encontro dos Tabanqueiros do Centro. Imprimi para não esquecer e, como o Benjamim do Sérgio Godinho, respondi dobrando o canto do sim.

De Pombal, onde tenho o meu tugúrio, até Monte Real, vai o salto de uma pulga. Avancei pela Bajouca até Monte Redondo onde tomei a 109 no sentido de Leiria e, em menos de nada, apreciava a modernidade das novas rotundas e variante que permitem o acesso fácil e rápido à vila termalista. Assim pensava eu! Ao contornar a segunda daquelas obras de engenharia urbana, deparo com um sinal a proibir o trânsito através da principal via de acesso ao centro do burgo. Num posto de abastecimento ali à mão, indaguei das razões do desaforo. Fiquei a saber que, por determinação da senhora Câmara, ninguém passava, pois estava em curso a poda das árvores que ladeiam aquela via. Que grande poda, pensei! Mal podia imaginar que me estava reservada uma poda idêntica ao deixar a localidade. Não fosse o aconselhamento paciente de alguns indígenas, e por lá teria pernoitado. Segui então o caminho alternativo que me indicaram e dei comigo a pastar numa série de vielas, becos e quelhas até “dar com eles”. Na verdade, não foi difícil. Qual logotipo de ultra sexagenários que somos, avistei um grupo de senhores envergando o fatinho domingueiro, grande prevalência de cãs pontuadas aqui e além por algumas carolas completamente desabitadas. Frente ao café Central, conversavam em pequenos grupos congregados pela intimidade de um conhecimento mais antigo.
Apertei mãos, dei e recebi palmadas de simpatia nas costas até chegar ao maior (na estatura e na função!), que me recebeu com um caloroso abraço. A partir desse momento passei a jogar em casa dado que, às primeiras impressões, o terreno me parecia estranho visto muitos dos presentes serem camaradas com os quais ainda não havia privado e daí, um certo acanhamento da minha parte.

Julgava eu, mal, que iria encontrar no máximo para aí uma dúzia de pessoas, atendendo ao qualificativo da Tabanca que é do “Centro”. Afinal, deviam estar para cima de três dezenas, incluindo muitas que vieram do norte e da região de Lisboa. Como seria de esperar o Mexia estava como peixe na água e não seria de esperar outra coisa já que esta é, definitivamente, a sua praia. Uma organização irrepreensível não tardou a convidar-nos a abancar no restaurante da Preciosa, praticamente do outro lado da rua. Com garbo (e garfo!), atacámos o seu afamado cozido à portuguesa onde impera a couve lombarda cozida no caldo das carnes e uma morcela de arroz, cuja confecção só pode ter sido conseguida através da usurpação de receita da minha terra, porque a legítima, de arroz, é nossa. Para que conste, só em Pombal e suas freguesias!

O almoço decorreu em clima muito animado, de tal modo animado que, o anfitrião teve de mandar dois berros à militar para se fazer ouvir quando quis comunicar aos presentes, a oferta de um mapa da Guiné primorosamente emoldurado que depois de assinado por todos passou a fazer parte do espólio da galeria de obras pendentes nas paredes do Preciosa’s. Curiosamente, na minha “mesa” não se falou de guerras, fossem elas passadas ou destas mais literárias! Nem sequer houve qualquer comentário acerca do sucesso do Algarvio ou da vã expectativa do Homem de Argel. Falou-se de passeios, das recentes promoções a avô de alguns camaradas e da saúde que já vai claudicando.

Aproximava-se o término do nosso encontro. Eu sou como o Zezito, não gosto de finais de festa e as despedidas são sempre penosas. O fim de tarde de um dia esplendoroso parecia-me toldado por uma nuvenzita de angústia. Como o sol de Inverno, não tenho calor, diz a Simone. Acompanho-a. Tomado pela melancolia, apertei algumas mãos e, com um genérico “até à próxima, camaradas”, remeti-me à minha individualidade algo solitária, de regresso a casa. Enquanto conduzia, não pude evitar certa reflexão.

Para trás acabava de deixar amigos, alguns que nunca tinha visto, mas que agora já eram “família”. Como é possível ligarmo-nos assim a pessoas que mal conhecemos? Será este mais um sortilégio do nosso passado comum? E como se compreende que vivências que partilhámos na juventude possam cimentar amizades de hoje, mesmo as mais recentes? Porque nos juntamos e o que é que verdadeiramente buscamos nestes convívios que não almejamos noutras tertúlias? Porque nos despedimos sempre com um certo “amargo de boca” e na mente, aquela dúvida existencial: Até quando? Tudo quanto posso alvitrar é que continua bem vivo dentro de cada um de nós o básico instinto de grupo decorado com umas pinceladas de civilização, que nos leva, em momentos de grande stress, a reconhecer, amar e proteger “os nossos”.

Desde pixote, venho assistindo (pela televisão) àquela cerimónia em que uns velhinhos depositam flores nas campas de distintos republicanos. A coisa deve ser importante e digna de celebração porque se mantém, passados tantos anos. Para mim, que já nasci republicano, diz-me niente e, não fosse o cinco de Outubro ser feriado, bem podia passar-me de todo ao lado.

Também tenho presente a homenagem que sempre se prestou em locais públicos como na Batalha, aos caídos nas pelejas de 1914/1918. Daqueles heróis altamente medalhados, não resta um, e tenho dúvidas se os seus netos e bisnetos sabem que tiveram um avô ex-combatente ou se a esse facto atribuem algum valor.
E nós? Que pensarão as novas gerações, nascidas em paz e democracia, destes velhotes que se encontram de vez em quando para, julgam eles, nada mais do que uma almoçarada? Quais as memórias e valores que conseguimos deixar-lhes? Parece que os ouço dizer: Ora, não há pachorra! Oxalá possam dizê-lo sempre ao longo das suas vidas, e que a dura realidade não lhes mostre da forma mais cruel, porque é que em certos momentos, não existe alternativa às armas nem ao derramamento de sangue. Que me perdoem os mais pacifistas.

Tal como as árvores da rua principal de Monte Real, a minha geração está a sofrer a poda que a lei da vida a todos impõe. Começou a acelerar o passo, e a que ritmo! Mas ainda somos muitos. Recusamos mordomias, exigimos reconhecimento e respeito. E num momento muito complicado para milhares dos nossos concidadãos, queremos com o nosso exemplo e dignidade mostrar-lhes que antes deles, outros suplantaram tempos muito difíceis em que estava em causa, não o salário ao fim do mês, mas a vida ao fim do dia.

Fazendo um apanhado muito sumário deste encontro de “camarigos” (esta é para polir um pouco o ego do Mexia já que foi ele quem inventou o termo, se não estou em erro!), tenho a dizer o seguinte:

- Quanto aos costumes: É para manter.

- Quanto ao local: O “Centro” do país, como todos sabem é Pombal.

- Quanto aos participantes: E venham mais cinco.

- Quanto à ementa: Não está mal, mas nada tenho contra os regionalismos. Não me incomoda trocar o patriótico cozido à portuguesa pelo leitão à Bairrada, por exemplo.

- Quanto às libações: Sugiro que sejam consumidos apenas dois tipos de bebidas, nacionais e importadas.

- Relativamente à frequência, apenas duas vezes ao dia, às refeições e nos intervalos.

E com estas ressalvas que venha o nono e o décimo e todos quantos a estaleca nos for permitindo.

A todos os presentes, quero deixar o meu muito obrigado pelos agradabilíssimos momentos de convívio e camaradagem que neste dia pudemos compartilhar.

VJ
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7526: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (27): Votos de Feliz Ano Novo... e mais umas coisitas (Vítor Junqueira)

Vd. último poste da série de 8 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7572: Convívios (204): 8º Encontro da Tabanca do Centro - Encontro de Ano Novo (Joaquim Mexia Alves)