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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25927: (Ex)citações (429): Ainda a situação do nosso camarada guineense Seco Mané. Sei que há boa vontade a rodos mas quanto a resolver mesmo o problema, tudo com dantes (Morais da Silva, Coronel Art Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Coronel Morais da Silva (ex-Cap Art, CMDT da CCAÇ 2796, Gadamael; instrutor da 1.ª CCmds Africanos, Fá Mandinga; Adjunto do COP 6, Mansabá, 1970/72), com data de 8 de Setembro de 2024:

Meus caros camaradas

A propósito da deplorável atitude do HFAR e do CEMGFA, logo que soube da situação do combatente Seco Mané difundi, em 2 de Agosto, o texto que anexo e enviei não só aos meus camaradas como à PR, Min. Defesa, CEMGFA e CEME. Como nada mais soube, julguei o assunto encaminhado. Infelizmente, na passada 6ª feira, o Presidente do Núcleo de Lisboa da ADFA, senhor Janeiro, informou-me que a papelada já estará pronta mas o nó continua.

Não consigo entender porquê o CEMGFA não ordenou imediatamente ao HFAR para tratar o ex-militar Seco Mané ultrapassando a burocracia que tudo asfixia. Caramba, comandar é incompatível com lassidão e muito menos com inacção.

O cor. Armando Ramos acaba de me fazer o ponto de situação da iniciativa que desenvolveu há alguns dias acompanhado do Fernando. Sei pois que há boa vontade a rodos mas quanto a resolver mesmo o problema, tudo com dantes. Mais um exemplo do que somos como equipa eficiente, porque joga bonito, mas INEFICAZ porque não mete golos!

Abraço
Morais da Silva


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2. Transcrição do texto que o Coronel Morais da Silva enviou à PR, Ministério da Defesa, CEMGFA e CEME:

Caros camaradas
Há dias horríveis e hoje foi um deles.
Visitei a ADFA onde, pela voz do presidente da delegação de Lisboa, Sr. Janeiro, soube das situações aflitivas e de miséria em que vivem, alquebrados e velhos, ex-combatentes da guerra do Ultramar.

Eis alguns exemplos pungentes:
- pensões da ordem de 300€, doentes e deficientes, sem eira nem beira
- amputados, aguardando ANOS para substituição/manutenção de próteses que lhes garantam alguma mobilidade
- nativos militares na guerra, que vêm a Portugal (de que já foram nacionais!) na esperança de ser tratados das mazelas que os afligem e que esbarram nas barreiras da indiferença.

A última vítima da indiferença dos actuais mandantes é Seco Mané que já foi militar português enquanto a guerra precisou dele durante 11 anos e 195 dias sendo agora um guineense com 75 anos. Ferido gravemente na Guiné (Bedanda) foi tratado no HMP em 1974 após o que regressou à Guiné.

Velho e alquebrado conseguiu vir a Lisboa à procura de tratamento para as mazelas da perna ferida e o inaudito aconteceu. O HFAR recusa-se a tratá-lo porque não é nacional e, portanto não pode ser considerado Deficiente das Forças Armadas. Onde já chegamos!
Temos agora gente boa, liderante na ADFA, a tentar remover a muralha burocrática que nos asfixia, com um Ministério da Defesa inoperante e nominal e um CEMGFA incapaz de ordenar o tratamento imediato do militar ferido ao serviço de Portugal.

Tutelas e Chefias destas, que não respeitam o passado dos que combateram em África, não merecem ser respeitadas e envergonham os velhos profissionais que combateram e bem conhecem as trágicas consequências da guerra.

Nada mais acrescento que não seja dar-vos conta da minha indignação e revolta.

Abraço e muita saúde
Morais Silva
02Ago24

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Notas do editor

Vd. post de 8 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25923: Ser solidário (272): Actualização da situação do processo do nosso camarada guineense Seco Mané, que em Portugal procura resolver a sua precária situação de saúde resultante de ferimentos contraídos em combate ao serviço do Exército Português (Fernando de Jesus Sousa)

Último post da série de 22 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25197: (Ex)citações (428): O sistema AAA, do final da II Guerra Mundial, que "defendia" o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau no meu tempo (António J. Pereira da Costa, cmdt da Btr 3434, mai 71/ mar 73)

domingo, 8 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25923: Ser solidário (272): Actualização da situação do processo do nosso camarada guineense Seco Mané, que em Portugal procura resolver a sua precária situação de saúde resultante de ferimentos contraídos em combate ao serviço do Exército Português (Fernando de Jesus Sousa)

1. Fazendo um ponto da situação do caso do nosso camarada guineense, Seco Mané, recebemos ontem, dia 7 de Setembro de 2024, esta mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, DFA (ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71):

Boa tarde Carlos
Espero que te encontres bem e com saúde.
É tempo de fazer o ponto da situação, quero informar e agradecer a quantos mostraram solidariedade, ao meu amigo e camarada de Bedanda, Seco Mané.

Ainda não está nada resolvida a situação em relação ao internamento no Hospital das Forças Armadas, mantém-se na mesma, em relação à sua subsistência está igual.
Porém, eu estou mais do que nunca otimista, estive na quinta feira, acompanhado de um grande amigo meu, o Coronel Armando Marques Ramos, no Arquivo Geral do Exército para indagar sobre o processo dele, fomos também à Presidência da República e ao Estado-Maior do Exército.

Foi importante este bater de portas, pois pude constatar que todas elas estão abertas a este meu amigo, o processo está em andamento acelerado, e vim convicto que brevemente irá ser internado no hospital a fim de lhe colocarem uma prótese no joelho e ser presente a uma junta médica.
Pude constatar que a pressão exercida por muitos camaradas junto da Presidência da República foi benéfica e ajudou a desbloquear a situação.

Em meu nome e do Seco Mane, o nosso obrigado e um reconhecimento de gratidão a quantos têm ajudado financeiramente para a sua subsistência.
Eu irei dando notícias sobre o evoluir da situação.
Fernando de Jesus Sousa ao centro, tendo à sua esquerda, com camisa azul, o camarada Seco Mané e à direita o seu filho que o acompanha em Portugal

Abraço fraterno
Fernando Sousa

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Notas do editor:

Sobre este assunto vd. posts de:

27 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25691: Agenda cultural (855): Reportagem que fiz acerca de um soldado de Bedanda, do meu pelotão, ferido três vezes em Bedanda. Para ver no dia 29 de Junho, sábado, às 22h30 no NOW - Informação Privilegiada (Fernando Jesus Sousa, DFA)
e
1 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25706: Direito à indignação (17): Seco Mané, antigo Combatente da CCAÇ 6, não tem direito à nacionalidade portuguesa nem aos tratamentos a ferimentos recebidos em combate, nos anos 70, na então Guiné Portuguesa, ao serviço de Portugal (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

Último post da série de 17 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25851: Ser solidário (271): 25.ª Expedição da Missão Dulombi à Guiné-Bissau. Reportagem da jornalista Carolina Cunha da CMTV, que pode ser vista no Youtube

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25706: Direito à indignação (17): Seco Mané, antigo Combatente da CCAÇ 6, não tem direito à nacionalidade portuguesa nem aos tratamentos a ferimentos recebidos em combate, nos anos 70, na então Guiné Portuguesa, ao serviço de Portugal (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de hoje, 1 de Julho de 2024:

Caros amigos
Fui alertado por amigos desta notícia saída na Revista Sábado, e que também foi transmitida no canal Now ontem ou sábado às 18.30
Trata-se de uma situação incrível, como é habitual, de desprezo e abandono daqueles que lutaram sob a bandeira portuguesa.
Sugiro que fosse objecto de publicação nos blogues, pedindo a quem puder e tiver influência para isso, a ajuda a este combatente guineense.
Afinal as gémeas brasileiras tiveram a nacionalidade de um dia para o outro, mas este camarigo que combateu ao nosso lado anda de "herodes para pilatos", num desprezo total pela sua vida.
https://www.sabado.pt/portugal/amp/amigos-na-guerra

Ainda sobre o assunto enviei hoje ao Presidente da República, ao Primeiro Ministro e Ministro da Defesa Nacional, o email que anexo.

"Exmo. Sr. Presidente da República
Reporto-me à notícia da Revista Sábado n.º 1052, que refere um antigo combatente guineense, Seco Mané, que serviu nas Forças Armadas Portuguesas, tendo sido ferido em combate, e que vive agora uma situação desesperada em Lisboa.
Trata-se de obter a nacionalidade portuguesa, (o que é estranho não lhe ser de imediato concedida, tendo ele sido para todos os efeitos um militar português, quando a outros sem essa condição já a têm), para que possa ter direito os tratamentos de saúde inerentes, ainda, aos seus ferimentos em combate por Portugal.
Sou um antigo combatente da Guiné, de 1971 a 1973, e esta situação, (para já não falar de outras) afigura-se-me uma vergonha para Portugal.
Venho assim, junto de V. Exa, solicitar todo o seu empenho para que tal situação seja resolvida no mais curto espaço de tempo, porque é de toda a justiça que tal aconteça para quem entregou parte da sua vida pela Pátria.
Tudo está explicado na referida notícia.

Com os melhores cumprimentos
Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves
Ex- Alferes Miliciano de Operações Especiais"

Páginas da Revista Sábado. Reprodução com a devida vénia

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2. Nota do editor:

É certo e sabido a falta de consideração e o abandono a que estão sujeitos os antigos Combatentes, sejam eles brancos ou pretos.
Vi, na Now TV, a reportagem do nosso confrade Fernando Jesus Sousa, que quis o destino encontrasse um seu velho camarada da CCAÇ 6, o Seco Mané, num corredor da Associação dos Deficientes da Forças Armadas, em Lisboa, que vive em condições precárias em Portugal, com o seu filho, para tentar, junto do Hospital Militar de Lisboa, resolver um problema que tem a ver com ferimentos recebidos em combate, em Bedanda nos anos 70, ao serviço do Exército Português.
Como reza a notícia, estranhamente não tem direito à nacionalidade portuguesa apesar de o seu cartão de militar exibir as cores da nossa, e da dele, bandeira.

Lendo o caso na Revista Sábado, o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves tomou a iniciativa de enviar ao Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro Ministro e Senhor Ministro da Defesa, uma mensagem a dar conhecimento desta injustiça, pedindo ao mesmo tempo os seus bons ofícios no sentido de que se resolva este assunto no mais curto espaço de tempo possível.

O que sugiro? Que cada um de nós envie mensagens similares, o Joaquim Mexia Alves não se importa que se utilize a mensagem dele, às entidades abaixo citadas para que sintam que estamos todos unidos, portugueses de Portugal e camaradas guineenses que não tendo optado pelo nacionalidade portuguesa, tenham direito a ela quanto mais não seja para terem acesso ao tratamento das mazelas advindas de ferimentos em combate.

Para vos facilitar a vida, indico a maneira mais prática de aceder aos respectivos formulários de contacto.
Presidente da República: https://www.presidencia.pt/contactos/formulario-de-contacto/
Primeiro Ministro: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/primeiro-ministro/contactos
Ministro da Defesa Nacional: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/area-de-governo/defesa-nacional/contactos

Não me lembro de alguma vez vos ter pedido alguma coisa, desta vez faço-o para que juntos façamos sentir a quem de direito que ainda existimos e que nem sempre as nossas petições são dinheiro, também queremos os direitos e o respeito que nos são devidos enquanto antigos Combatentes.
Não estamos a pedir, estamos a exigir.


Carlos Vinhal

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Em tempo:

3. Mensagem de Joaquim Mexia Alves enviada ao Fernando de Jesus Sousa hoje mesmo, dia 2 de Julho de 2024:

Caro Fernando Sousa
Sou combatente da Guiné, 71/73, e amigos meus chamaram-me a atenção para a história do Seco Mané e da vergonha que é toda aquela situação.
Já enviei emails para o PR, PM e MDN sobre o assunto e alertei o blogue da Tabanca Grande para dar cobertura à história, tal como fiz na página da Tabanca do Centro no Facebook e vamos fazer também no nosso blogue.
https://tabancadocentro.blogspot.com/2024/07/p1484-adaptado-da-revista-sabado-e.html

Pergunto é se podemos ajudar também financeiramente.
A Tabanca do Centro faz todos os meses um almoço com combatentes da Guiné e não só, na zona de Monte Real, ao qual vem gente de todo o lado, inclusive de Lisboa.
Quando pagamos o almoço, damos sempre, os que podem, claro, para ajudar os combatentes em dificuldade.
Eu sou o fiel depositário desse dinheiro, (que não é muito), mas serve precisamente para isso e ao longo destes anos temos ajudado alguns combatentes.

Ora o Seco Mané, quanto a mim, está perfeitamente indicado para essa ajuda se assim achares que o devemos fazer.

Fico à espera da tua resposta e até lá envio um forte abraço
Joaquim Mexia Alves

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Nota do editor

Último post da série de 10 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24467: Direito à indignação (16): Senhores da RTP, retirem dos arquivos aquelas provocatórias, hipócritas e desajustadas imagens da visita de 'Nino' Vieira ao marechal António de Spínola, no Hospital Militar Principal (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25691: Agenda cultural (856): Reportagem que fiz acerca de um soldado de Bedanda, do meu pelotão, ferido três vezes em Bedanda. Para ver no dia 29 de Junho, sábado, às 22h30 no NOW - Informação Privilegiada (Fernando Jesus Sousa, DFA)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, DFA (ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71) com data de hoje:

Como vai a saúde, a família, a vida, o amor e a felicidade?
Se puder, gostaria que desse conhecimento na Tabanca de Bedanda e em outros meios relacionados, de uma reportagem que fiz acerca de um soldado de Bedanda, do meu pelotão.
Este homem foi ferido três vezes e, quando se deu o 25 de Abril 1974, estava internado no Hospital Militar em Lisboa. Em julho do mesmo ano foi enviado para a Guiné, com um ferro numa perna que ainda hoje mantém.

A transmissão vai passar no dia 29 de Junho, sábado, no canal 9 NOW, às 22h30.

Obrigado pela atenção.

Grande abraço
Fernando Sousa


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Em tempo:

2. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa com data de 27 de Junho de 2024:

Tive agora a confirmação, que o programa que anunciei, é no dia 29, sábado, à mesma hora, 22h30.
Lamento Luís Graça, ter anunciado o evento no dia errado, mas só há pouco me confirmaram.
Obrigado pela atenção. Espero que alguns Bedandenses vejam, muito em especial o último comandante de Bedanda Gastão da Silva, de quem eu não consigo o contacto e bem precisava!

Um abração a ti Luís Graça e a todo o pessoal.
Fernando Sousa

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Nota do editor

Último post da série de 5 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25481: Agenda cultural (855): Apresentação do livro "Margens - Vivências de Guerra", de Paulo Cordeiro Salgado, dia 9 de Maio de 2024, pelas 18 horas, na UNICEPE, Praça de Carlos Alberto, 128 - Porto (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp)

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25670: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte I




1. A partir da História do BART 2917 (de 15/11/69 a 27/3/72) podemos obter mais alguns dados informativos sobre os 3 Pel Caç Nat que operaram, no setcor L1 (Zona Leste, região de Bafatá)



I. O dispositivo inical das NT na zona de ação do BART 2017, em junho de1970 era o seguinte (referem-se apenas os Pel Caç Nat) (*):
 
  • Pel Caç Nat  52 > Bambadinca
  • Pel Caç Nat  54  > Missirá
  • Pel Caç Nta 63 >  Fá Mandinga

Havia um Gr Comb na Ponte Rio Udunduma, que era rendido  de 3 em 3 dias numa escala que incluía 5 Gr Comb: 4 da CCAÇ 12 (Bambadinca) e 1 um do Pel Caç Nat 52 (Bambadinca)

 Posteriormente foram introduzidas as seguintes alterações ao dispositivo inicial, nas datas a seguir indicadas:

  • em 18 out 70, o Ple Caç Nat 52 vai para Fá Mandinga;  
  • em 19 out 70,  desloca-se o Pel Caç Nat 63 para Missirá;
  • em 20 out 70,  o Pel Caç Nat 54 vem para Bambadinca.
 
Em 2 de julho de 1971, nova rotação destas subsunidades africanas:
  • Pel Caç Nta 52 > Missirá:
  • Pel Caç Bat 54 > Fá Mandinga;
  •  Pel Caç Nat 63 > Bambadinca 

De 26 de julho  a 9 de setembro de 1971, o Pel Caç Nat 54 é destacado para Bafatá,  regressando depois a Fá Mandinga. Nessa altura, é o Pel Caç Nat 63 a ir para Bafatá, donde regressa, a Bambadinca , em 26 de outubo de 1971.
 
E parece ser o Pel Caç Nat 63 que vai "inaugurar" o destacamento de Mato Cão.  


II. Estas três subunidades, ao tempo do  BART 2917, foram comandadas por:

  • Pel Caç Nat 52: 


(i) até Até 24.jul 70, alf mil at inf  Mário António Gonçalves Beja Santos; 

(ii) de 24.jul 70 até para além do regresso do BART 2917 à Metrópole, alf mil at inf Alferes Miliciano Atirador Nelson Alberto Wahnon Reis.



  • Pel Caç Nat 54:

(i) até 18 nov 70, alf m,il at inf Correia (desconhece-seo o nome completo); 

(ii) de 18. nov 70 até para além do regresso do BART 2917 à Metrópole, alf mil Hélder P. R. Martins;


  • Pel Caç Nat  63:

(i) até 1 jul 71, alf mil at art Jorge Pedro Almeida Cabral (1944-2021);

(ii) de 11 jul 71 até 27 mar 72, alf mil at Manuel David Coelho, da  CART 2714 (que estava em Mansambo);

(iii)  em 2 jul 71 o alf mil Arsénio Pires, inicialmente nomeado como Comandante do Pel Caç Nat  63, foi colocado na CART 2714, em substituição do alf mil at Manuel David Coelho.


O "alfero Cabral" (1944-2021), no meio, entre dois dos seus homens do Pel Caç Nat 63


III. Outras transferências de pessoal:

  • em 30 jun.71 foi transferido da CART 2716 (Xitole) para o Pel Caç Nat 52, o fur mil at  Atirador Paulo Ferreira CRUZ [ou Paulo Pereira Cruz];
  • em 16 set 71 foi colocado no Pel Caç Nat  63 o fur mil at Jorge Abreu Batista  da CART 2715 (Xime):
  • em 23 set 71 foi colocado no Pel Caç Nat 63 o fur mil at  Sérgio Oliveira Carvalho Pinto, da CART 2714 (Mansambo);

  • António Branquinho (1047-2023)
    em 24 set 71 por ter terminado a sua comissão de serviço no CTIG  marchou para Bissauo fur mil at António Júlio Abrunhosa Branquinho (1947-2023),  do Pel Caç Nat  63, a fim de aguardar transporte para a Metrópole;
  • em 7 dez 71 foi colocado no Pel Caç Nat 63 o fur mil at Loureiro,  da CART 2714 (Mansambo), onde se encontrava desde 19 out 71;
  • em 15 dez 71 regressou à CART 2715 (Xime) o fur mil at Jorge Abreu Batista. (encontrava-se destacado no Pel Caç Nat 63 desde 16. set 71).

IV. Recomplementos 

JULHO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- Alferes Miliciano Atirador Nelson Alberto Wahnon Reis 80063969;

- Furriel Miliciano Atirador Manuel Augusto Castro Silva 12709969;

- Soldado Atirador Francisco Lopes 82054167;

- Soldado Atirador Tiburcio Gomes Ofany  82055367;

- Soldado Atirador Mama  Obralé 82036266;

- Soldado Atirador Ogo Baldé 82023766;

  • Pel Caç Nat  54

- 1º Cabo Atirador Roberto Pina Araújo 82022165;

- 1º Cabo Atirador Armando António Silva 82038664;

- 1º Cabo Atirador Dino Vieira 82074665;

  • Pel Caç Nat  63

- 1º Cabo Atirador João S. Guilherme 16335969;

- 1º Cabo Atirador Joaquim S. Freitas 17722969;

- Soldado Atirador Jango Candé 82055065;


AGOSTO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- Soldado Atirador Paté Mané 82060167:

  • Pel Caç Nat 54

- Furriel Miliciano Atirador Alfredo J. S. Freitas 14037769;

- Furriel Miliciano Atirador José Mário  C. Ferreira 06205370;

- Furriel Miliciano Atirador José A. L. Pires 10684269;

  • Pel Caç Nat  63

- 1º Cabo Atirador António S. Barroso 05674470;

- 1º Cabo Atirador António M. S. Araújo  17925969;

SETEMBRO DE 1970


  • Pel Caç Nat 52

- Furriel Miliciano Atirador João  M.M. Branco 07125668;

- Soldado Atirador Mamassali Baldé 82063867;

- Soldado Atirador Bacar Baldé 82057465;

- Soldado Atirador Mango Baldé 82057165

- Soldado Atirador Seco Umaro Baldé 82055266;

- Soldado Atirador Tunca Sanhá 82037066;

  • Pel Caç Nat 63

- Furriel Miliciano Atirador Carlos E. C. Nunes Amaral 14288269;

- 1º Cabo Atirador Sanassi Baldé 82052865;

- Soldado Atirador Indouque Queta 82052265;


OUTUBRO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- 1º Cabo Atirador Fodé Mané 82023866;

- Soldado Atirador Adulai Embaló 82049567;

- Soldado Atirador To mango Baldé  82057465;

  • Pel Caç Nat 63

- 1º Cabo Atirador José Sangá 82016164;

- Soldado Atirador Braima Candé  82014060;

- Soldado Atirador Holdé Embaló 82035565;

NOVEMBRO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- 1º Cabo Atirador António A. F. Rocha 05955270;

- Soldado Atirador Sambaro Baldé 82095264;

  • Pel Caç Nat 54

- Alferes Miliciano Atirador Hélder P- R. Martins  07543668;

- 1º Cabo Atirador Fernando Vasco Menoita 00762170;

DEZEMBRO DE 1970

  •  Pel Caç Nat 54

- Soldado Atirador Adi Jop  82077770

- MARÇO DE 1971


  • Pel Caç Nat 54

- Soldado Atirador Sambaro Embaló 82092068;

- 1º Cabo Atirador Manul Augusto Gaspar12528870;

  • Pel Caç Nat 63

- Soldado Atirador Braima Jau 82035066;

ABRIL DE 1971

  • Pel Caç Nat 54

- 1º Cabo Atirador Amílcar Prazeres Pereira  11702470;

  • Pel Caç Nat  63

- 1º Cabo Atirador Cralos José Pereira Simplício  12687370.

(Continua)

(Seleção, revisão/ fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 4 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25600: O armorial militar do CTIG - Parte I: Emblemas dos Pelotões de Caçadores Nativos: dos gaviões aos leões negros, das panteras negras às águias negras...sem esquecer os crocodilos

terça-feira, 4 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25601: História do Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/74) (Manuel Seleiro, ex-1º cabo, DFA, 1968/70)






Guiné > Região de Cacheu > São Domingos (?) > s/d (c. 1968-70) > Pel Caç Nat 60 > Foto de grupo


Foto (e legenda): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Pel Caç at 60 (Divisa: "Fortuna, audácia")


O 1º cabo Manuel Seleiro,
levantando uma mina A/P,
em 13/11/1969, na Estrada  de
São Domingos .Susana - Varela,
  

1. Excertos de poste de 7 de maio de 2019 do blogue do Pel Caç Nat 60, criado pelo Manuel Seleiro


(i) o Pelotão de Caçadores Nativos 60  foi criado em 7 de maio de 1968, em São Domingos, região do Cacheu;

 (ii) estivemos com o BCÇ .1933, CCS, CCAÇ 1790, CCAÇ 1791m São Domingos,  d emaio a novembro de 1968;

(iii) seguimos para Ingoré, onde ficámos com a CCAÇ 1801 de novembro de 1968 até agosto de 1969;

(iv) regressámos a S. Domingos, em agosto de 1969 onde trabalhámos com a CCV  2539;

(v) o Pel Caç Nat 60 ficou em S. Domingos / Susana,
 até ao ano de 1974 (quando foi extinto);

(vi) o primeiro comandante do Pel Caç Nat 69 
 foi o ex-alf mil  Luís Almeida;

Hugo Guerra: comandou
o Pel Caç Nat 55 (Gandembel
e Ponte Balana, 1968/69)







(vii) foi rendido pelo ex-alf mil Nélson Gonçalves;

(viii) a 13 de novembro de 1969,  a viatura em que seguia o ex-alf mil Gonçalves, acionou uma mina anticarro sendo ferido com gravidade;

(ix) de novembro a janeiro, o pelotão foi comandado 
pelo ex-fur mil Rocha.

(x) em janeiro de 1970 o ex -alf mil Hugo Guerra 
comandava o Pelotão;

(xi) no dia 10 de março de 1970 é ferido, juntamente c
om 1º cabo Manuel Seleiro que  desativava uma mina antipessoal.


2. Lista de militares do Pel Caç Nat 60, divulgada
pelo Manuel Seleiro, na sua página  Luar da Meia Noite:

Alferes, comandantes:

Alf Mil Luís António Gonçalves Almeida - Atir
Alf Mil Nélson Gonçalves - Atir, "DFA"
Alf Mil Hugo António Constantino Guerra - Atir , "DFA"
Alf Mil Manuel Maria Pereira da Rocha - Atir
Alf Mil António Inverno - 72/74 - Ranger
Alf 'Comando' João Uloma - Africano, Atir

Furriéis:

Fur Mil Isaías Barbosa Leão - Atir,  67/69
Fur Mil José Lopes Fazendas - Atir,  67/69
Fur Mil Manuel Martins Viana de Sousa - Atir, 67/69
Fur Mil Manuel Marques Pereira da Rocha - Atir,  69/70, "DFA"
Fur Mil Manuel de Jesus Neves - Atir, 69/71
Fur Mil Moreira- Atir 

Cabos / soldados:

1º Cabo Manuel Maria Magalhães - Atir,  68/70
1º Cabo Manuel Seleiro  - Caçador, 68/70, "DFA"
1º Cabo ' Comando' Agostinho - Africano, Atir
Gilat - Sold africano,  Atir
Guilherme de Oliveira Marques - Sold Trms, 68/70
Luís Fidalgo - Sold Atir,  68/70
Pedro - Sold africano,  Atir
Malan Seide - Sold africano, Atir
Augusto - Sold africano, Atir
Cavaleiro - Sold africano, Atir
Malan - Sold africano, Atir
Armando - Sold Atir,  68/70

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Nota do editor:

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25543: Notas de leitura (1693): "Quando os Cravos Vermelhos Cruzaram o Geba", por Tony Tcheka (nome literário de António Soares Lopes Júnior); Editorial Novembro, 2022 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Outubro de 2022:

Queridos amigos,
Foi com imensa alegria que estive com o Tony Tcheka, ele honrou-me participando na sessão de lançamento de Rua do Eclipse. E deu-me este livro extraordinário "Quando Os Cravos Vermelhos Cruzaram o Geba", quatro contos, todos eles invulgares, habituados como estamos a ver os portugueses a falar da tropa africana que combateu do lado português e foi execrada por quem se comprometera honrá-la, como manda a reconciliação; habituados que estamos a ver os portugueses a abordar o 25 de Abril na Guiné, é completamente inesperado, e merece ser saudado com ambas as mãos esta prosa ousada, desmistificadora, que só me parece possível a quem viveu todas estas situações de um fim de Império e sonhou pôr-se ao serviço do seu país, que tanto o dececionou. Como escreve o editor, Tony Tcheka é o escritor da madrugada, do dia inicial inteiro e limpo, com os pés e o coração divididos entre Lisboa e Bissau.

Um abraço do
Mário



Tony Tcheka, um corajoso denunciador de segredos e mentiras (1)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se "Quando os Cravos Vermelhos Cruzaram o Geba", o seu autor é o jornalista e escritor Tony Tcheka (nome literário de António Soares Lopes Júnior), nascido em Bissau em 1951, Editorial Novembro, 2022. É muito mais do que uma surpresa literária, ficamos assombrados com a ousadia deste guineense que rompe com mitos, palavras de ordem e dogmas de fé em que a política bissau-guineense é exuberante. 

Como escreve Pires Laranjeira no prefácio, “Trata-se de um livro corajoso, com seus contos estéticos, contos-ensaios, contos-testemunhos, contos-de-casos sociológicos – e – ontológicos, para ler de um fôlego e entrar numa área da vida guineense que a literatura nunca tocou, a dos guineenses que assumiam identidade portuguesa e dela não queriam abdicar, mesmo mergulhados em grandes infortúnios. Com conhecimento, compreensão e ternura contando a amargura de destinos malparados. Em última instância, todo o livro aborda o Estado-Nação formado por competências antigas e modernas, herdadas das colonizações (dos impérios antigos do oeste africano e do oeste europeu) e da revolução independentista, em que o valor consuetudinário continua a ter muita força e a revigorar na terra branku”.

Não é uma prosa de lamber as feridas, não há aqui qualquer manipulação a tirar esqueletos do armário, são contos de quem experimentou duas realidades, a colonial e a independentista, esventra agora os tiques, sopesa os arquétipos de cada uma das situações, e expõe a dura realidade de como o 25 de Abril de Portugal e a independência da Guiné-Bissau revolveram mentes, expuseram contradições e paradoxos, fomentaram silêncios imperativos, forjaram golpes de Estado indocumentados e interditos de discussão pública, montaram cavalas, os ajustes de contas mais ignóbeis, o que Tony Tcheka nos vem dizer é que os cravos vermelhos chegaram ao Geba e os vencedores mostraram uma total inabilidade em gerar uma reconciliação após tão dolorosa guerra, fratricida e divisora.

É arrepiante a leitura do primeiro conto Pekadur di Sambasabi, esta Sambasabi é uma tabanca onde depois do 25 de Abril regressa o seu filho de nome mais notável, Capiton Basinho Bikas ou Alferes Mon di Ferro. Logo o seu nascimento dá que pensar, ele veio ao mundo mas morreu o seu irmão gémeo. Nos anos em que decorreu aquela guerra, as suas façanhas galvanizavam os serões, até se esquecia o seu verdadeiro nome, João Bicanka Sory Bá. Quis ser enfermeiro, houve mesmo promessa de padre missionário, sonho gorado. Alistou-se no Gabu, os seus feitos heroicos deram condecorações. 

E um dia aconteceu o 25 de Abril, andou por reuniões, tudo lhe parecia estranho, sentia não ter lugar naquele espaço novo em reconfiguração, estava a viver num cenário jamais pensado. Esteve na reza na Mesquita Grande de Pilum, depois foi rezar o Pai-Nosso e o Credo na Sé Catedral de Bissau. Confuso com tudo quanto aqui se passava, voltou à terra natal, à sua tabanca acolhedora, bem no Leste recôndito da Guiné. Em Sambasabi, o Capiton discorre todo o fio daquela memória, o poder dos ancestrais, o despotismo do progenitor, o não ter tido oportunidade de estudar, ter-se tornado num destemido combatente, voltava agora pronto a trabalhar a terra, tem uma plantação frondosa com bananeiras, laranjais, mangueirais. O seu passatempo guarda-o numa sacola, histórias aos quadradinhos.

Tony Tcheka é luminescente a descrever-nos a sua infância no Leste, a sua formatação militar, o seu património religioso. Na tropa, começou por baixo, guia e batedor, fez recruta em Bolama, foi depois selecionado para um curso especial, ainda pertenceu a uma unidade especial de comandos que viria a ser a génese dos comandos africanos. Ele e os seus homens eram um verdadeiro caterpillar de limpeza, ganhou estatuto de figura mítica. Agora, tudo acabou.

Em Sambasabi recebe uma visita inesperada, é alguém que vai em fuga, um fuzileiro guineense de nome Musna Na Faiõe, avisa-o de que é tempo de perigos, chegaram os ajustes de contas, Capiton decide ficar, tem uma explicação: 

“Se não posso fugir de mim mesmo, como e porquê fugir dos outros? Se não me reencontrar aqui onde tenho o meu umbigo enterrado, jamais serei eu. São muitos anos à procura de mim mesmo”. 

E apareceram 30 guerrilheiros, vieram-no buscar, ficará detido no quartel de Mansoa, conversará com um amigo, Djondjon di Nha Maria Benta, falam da literatura aos quadradinhos, desabafa: 

“Sou um homem a quem na adolescência arrancaram a alma. Nunca me encontrei. Pensei ter despertado, mas não. Não pude viver os meus sonhos. Nunca fui eu. Nesta vida, fui o que os outros de mim fizeram”.

Tony Tcheka não necessita de falar dos fuzilamentos nem das patranhas que foram inventadas de uma sublevação absurda de tropa especial e outra, o mais ridículo de tudo é que nenhum daqueles homens não detinha uma só arma, uma só bazuca, uma só granada. E desses fuzilamentos que mais pareciam aplacar o descontentamento interno forjando um inimigo fantasmático que atrasava o progresso do país, passa-se para quase o tempo presente. 

Já estamos em 2017, o septuagenário de Musna Na Faiõe, sentado na sua casa de construção precária, na zona da Amadora, assiste a uma notícia da RTP-África, é o protesto de uma centena de membros da Associação de Antigos Combatentes, filhos e familiares das Forças Armadas Portuguesas, frente à Embaixada de Portugal em Bissau, reivindicando o cumprimento do acordo celebrado depois do 25 de Abril e não cumprido. O antigo fuzileiro pega no telemóvel e liga para um camarada das matas da Guiné, fala-lhe da notícia, mas qual cumprimento de acordo, quem se dignou a respeitar tanto sacrifício consentido e sangue derramado? 

“Nós somos os mortos-vivos navegando num rio sem água. E o que somos nós hoje? Digo-te já: Entrudos! Fomos promovidos a entrudos… Sem esperar por qualquer reação, num gesto brusco Musna Na Faiõe desligou o telefone, enterrando-se no velho cadeirão”.

O leitor que se prepare para mais, como nos adverte o editor, temos pela frente “um entrelaçamento de culturas; aprendemos com os dialetos, as lendas, as tradições e os costumes, desta narrativa histórica romanceada, que nos adverte para o quanto é necessário ‘pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro’”.

Se Tony Tcheka já nos surpreendera por ser o estro mais flamejante e dolorido desta impenitente Guiné-Bissau, revela-se nesta obra um artista de mil prodígios.

Tony Tcheka
Antigos combatentes das Forças Armadas portuguesas na Guiné Bissau, Global Imagens, com a devida vénia
Lançamento do livro “Quando os cravos vermelhos cruzaram o Geba”, de Tony Tcheka, no Centro Cultura Português em Bissau, maio de 2022

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 17 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25536: Notas de leitura (1692): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (3) (Mário Beja Santos)

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25136: S(C)em Comentários (27): Amadu Djaló 'versus' Abdulai Jamanca ? Um, filho de pais "estrangeiros" (originários da Guiné-Conacri), seria "uma espécie de mercenário, a soldo do regime"; o outro, "era da nobreza fulacunda, cioso de defender o chão fula" (Cherno Baldé, Bissau, "dixit"


Guiné > Bissalanca > O 1º cabo 'cmd'  Abdulai Queta Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra pelo coronel Kruz Abecasis (Cmdt da BA 12) em 10 de Junho de 1967 (?). Foto do álbum  nosso editor jubilado Virgínio Briote. (Comentário de Vb: Luis Graça, a foto do Abdulai Djamanca a ser condecorado pelo, julgo, então Brigadeiro (ou General?) PilAv Krus Abecasis não é da minha autoria. Foi-me oferecida pelo Sargento Tudela do GrCmds Vampiros e penso que foi tirada em Junho de 1967 (?) em Bissau. De resto já a vi inúmeras vezes na Net.V Briote 4 de fevereiro de 2024 às 22:05,)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > O 1º  cabo 'cmd' Amadu Bailo Djal´o, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no seu livro, na pág. 149, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.).

Fotos (e legendas): Arquivo doBlogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2'024)


1. Excerto de um comentário do nosso colaborador permanente Cherno Baldé (*), que tem de ser apreciado com "pinças", dada a ambiguidade semântica e conceptual da expressão aqui usada ("uma espécie de mercenário").

Tanto o Cherno Baldé como o Amadu Djaló, infelizmente já falecido, são dois membros, muito queridos da nossa Tabanca Grande. Este comentário tem de ser contextualizado no âmbito da séri em que foi produzido, e cujpo título é, inequivocamente,  a melhor homenagem que podemos produzior a um amigo e camarada de armas: "Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano": 

(...) Relativamente aos episódios relatados por Amadu Bailo Djaló (*), pode-se concluir, simplesmente, que ambos os lados já estavam cansados da guerra. 

No entanto, penso que a postura do tennete Jamanca teria sido a mais adequada naquelas circunstâncias concretas, pois a guerrilha nunca cumpria suas promessas e sempre que acenavam com a paz, estariam a adormecer as atenções para poder montar uma cilada mortífera. 

Não podiam confiar e, demais a mais, os dois homens (Jamanca e Amadu Djaló) lutavam por objectivos diferentes conforme suas origens e interesses, o ten Jamanca era da nobreza fulacunda, ciosa de defender o Chão fula enquanto que o Amadu Djaló, filho de pais originários da Guiné-Conacri, seria uma espécie de mercenário a soldo do regime. 

Estas nuances étnico-tribais não eram do conhecimento dos chefes militares ou eram pouco consideradas. (...) (**)

1 de fevereiro de 2024 às 18:34 

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Notas do editor:

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24767: Os nossos camaradas guineenses (48): Mamadu Uri Djaló, meu primo, CCAÇ 727, CCAÇ 1586, CCAV 1662, Pel Caç Nat 65 (Piche, Canquelifá, Buruntuma e Boé, 1965/68) e TECNIL (Cufar, 1972), procura camaradas (Souleimane Silá, Luxemburgo)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Reboque de máquinas da TECNIL destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma.. 

Foto (e legenda): © Carlos Alexandre (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Emblemas de algumas subunidades por onde passou 
o Mamadu Uri Djalõ, que atualmente vive na Amadora.




1. Mensagem do Souleimane Silá, natural de Catiõ, a viver atulamente no Luxemburgo, membro da Tabanca Grande nº 881.

Data - quinta, 12/10/2023, 17:41
Assunto - Pedido de memórias
 

Boa tarde, Sr Luis.


Aceite mantenhas de camarada de blogue.

À pedido dum primo meu,  faço chegar ao nosso blogue de Tabanca Grande a mensagem que segue:

(i) Ele pertenceu a:

Companhia 727;
Cavalaria 1662; 
Comp Caç 1586; 
Pelotão nativo 65;

(ii) serviço militar 1965/68; Pitche/Canquelifa/Buruntuma/Boé;

(iii) do seu nome Mamadu Uri Djaló;

(iv)  actualmente a residir na Amadora, Lisboa. 

E mais; 

(v) ele trabalhou na Tecnil, motorista na construção do aeroporto de Cufar, em 1972.

Ele pede e agradece possibilidade de obter lembranças daquela época (colegas, locais, imagens e demais testemunhos).


Agradecimentos e abraços de
Souleimane SILA, Luxembourg


2. Resposta do editor LG:

Meu caro Souleimane Silá, obrigado pelo teu contacto. Vamos lá a vcr se conseguimos ajudar o teu primo, que é meu vizinho da Amadora (tenho casa em Alfragide, mas vivo agora a 70 km, a norte, na Lourinhã).

Temos referências, no nosso blogue, a todas as subunidades a que pertenceu (?) (ou por onde passou) o Mamadu Uri Djaló. Carrega nos links, tens informação mais detalhada, fotos, contactos, histórias, etc. E também sobre a TECNIL, a empresa de obras públicas que fez todas ou quase todas as estradas da Guiné, além de outros empreendimentos, como aeródromos, etc.

Da  Tecnil temos um topógrafo, o António Rosinha,  que trabalhou, na Guiné-Bissau, no tempo do Luís Cabral e do 'Nino' Vieira  (de 1987 a 1993) (e também fez a tropa e a guerra em Angola). É um dos "históricos" da Tabanca Grande, autor da série "Caderno de notas de um Mais Velho". Vè se o teu primo tem fotos e outras memórias desse tempo em que trabalhou na Tecnil, como motorista, em Cufar, em 1972.

O ideal era o Mamadu Uri Djaló fazer como tu: ingressar no blogue, mandar as duas fotos da praxe (uma do "antigamente", outra mais atual)... E falar um pouco mais sober ele e o seu tempo na Guiné.

Estas subunidades costumam fazer convívios anuais. Talvez o teu primo possa juntar-se a eles num próximo convívio anual, em 2024. Talvez algum antigo camarada de armas consiga reconhecê-lo ao fim destes anos todos, mais de meio século.

Mantenhas para ti e para o teu primo. E continua a dar notícias. Precisamos que faças a ponte com os teus patrícios que foram comnbatentes durante  a guerra colonial.  Não é fácil chegar até eles e eles a nós.

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CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66): temos cerca de duas dezenas de referèncviass no blogue (.Carrega no linlk, poderás encontar alguns dos postes.)

CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Béli, Madina do Boé, Bajocunda, Copa, Canjadude, 1966/68) (tem uma dúzia de referèncias):

CCAV 1662, "Os Piriquitos" (Nova Lamego e Piche, 1966/68): temos escassas referèncias (menos de meia dúzia);

Pel Caç Nat 65, "Leões Negros" (Piche, Buruntuma, Bajocunda, etc.): tem 13 referèncias;

TECNIL (tem 21 referèncias)-
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23586 Os nossos camaradas guineenses (47): Tala Biu Djaló, ex-alf 2ª linha, cmdt Pelotão de Milícias (Bedanda, 1965/69), e ex-fur graduado 'comando, 1ª CCmds Africanos (Fá Mandinga, 1969/70), desaparecido em Conacri, em 22/11/1970, no decurso da Op Mar Verde (Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1621, Cufar, e CCAÇ 6, Bednda, 1966/68)

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24726 Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (10): I want you, dead or alive!



O célebre Tio Sam, desenho por J.M. Flagg... Cartaz norte-americano, de 1917, inspirado no original britânico, de 1914. Foi usado pelo exército norte-americano para recrutar soldados tanto para a Primeira como para a Segunda Guerra Mundial. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia.


À memória:

do Umaru Baldé,, menino de sua mãe,  que morreu de sida e tuberculose, no terminal da morte que dava pelo nome de Hospital do Barro, em Torres Vedras; membro da nossa Tabanca Grande a título póstumo);

do Abibo Jau (o gigante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, fuzilado em Madina Colhido, logo a seguir à independència da Guiné.Bissau);

do Joaquim de Araújo Cunha (1948-1970), que o Abibo Jau trouxe às costas, da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, até Madina Colhido, o primeiro de seis mortos e nove feridos graves da Op Abencerragem Candente, em 26/11/1970, trágica lista onde se incluem os nomes do Ribeiro, do Soares, do Monteiro, do Oliveira, todos da CART 2715, e ainda o nosso guia e picador Seco Camará;

do cap art Victor Manuel Amaro dos Santos (1944- 2014),  primeiro cmdt da CART 2715, que começou a morrer nesse fatídico dia de 26/11/1970;

do Abdulai Jamanca (cmdt da CCAÇ 21, fuzilado também em Madina Colhido que eu conheci em Fá Mandonga, por ocasião da formação da 1ª CCmds Africanos);

do Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015). membro da nossa Tabanca Grande, e o único comando africano, ao que se saiba, que escreveu e publicou em vida as suas memórias;

do Iero Jaló (o 1º morto em combate, da CCAÇ 12, em 8/9/1969);

do Manuel da Costa Soares (sold cond auto, da CCAÇ 12, morto em Nhabijões, em 13/1/1971, por uma mina A/C, sem nunca ter chegado a conhecer a sua filha);

do Luciano Severo de Almeida (furriel mil, da CCAÇ 12,  que "morreu de morte matada", já como paisano, após o regresso da guerra, em data que ninguém sabe precisar);

do José Carlos Suleimane Baldé (c. 1951-2022), que chegou a estar encostado ao poilão de Bambadinca para ser fuzilado. tendo sido salvo 'in extremis' pelos homens grandes de regulado Badora; membro da Tabanca Grande;

do António da Silva Baptista (1950-2016), o "morto-vivo" do Quirafo, membro da nossa Tabanca Grande;

 de todos os demais camaradas  de armas, brancos e pretos, mortos em combate no TO da Guiné, ou feitos prisioneiros, ou abandonados à sua sorte, depois do regresso a casa ou da independência da Guiné-Bissau;

de todos os soldados desconhecidos de todas as guerras;

enfim, dos mortos da minha terra que lutaram pela pátria na batalha do Vimeiro,  em 21 de agosto de 1808.
 

I want you, dead or alive!


F_d_r_m-te, meu irmão! Enganaram-te, meu irmãozinho! Traíram-te, amigo! Deixaram-te para trás, camarada!

Não, não era este país milenário que vinha no cartaz de promoção turística, com montes, vales,  montados, e charnecas, com rios, praias e enseadas, com fama de gente patriótica, clima ameno e aprazivel, riqueza gastronómica, brandos costumes e forte sentido identitário. 

Não, não era esta a terra prometida onde corria o leite e mel... 

“I want you”, disseram-te eles, e tu respondeste sem hesitar: “Pronto!”. 

Meu tonto, disseste "presente!", mesmo sem poderes avaliar todas as consequências presentes e futuras da tua decisão, em termos de custo/benefício.

Decidiste com o coração, não com a razão, deste um passo em frente, abnegado e generoso, mesmo sem saberes onde era o distrito de recrutamento, e sem sequer conheceres o teatro de operações, o estandarte, o fardamento, a ciência e a arte da guerra, o comandante-chefe ou até mesmo a cara do inimigo. Nem sequer o RDM, o regulamento de disciplina militar nas principais línguas do mundo.

Um homem não vai para a guerra sem fixar a cara do inimigo, sem reconhecer a voz do inimigo, pode ser que seja teu pai, mãe, irmão, irmã, vizinho, amigo, ou até mesmo um estrangeiro, um pobre e inofensivo estrangeiro, apanhado à hora errada no sítio errado, num dos setes caminhos de Santiago ou na peregrinação a Meca. 

Camarada, um homem não mata outro homem só porque é estrangeiro, ou é branco, ou é preto, ou tem os olhos em bico. Ou só porque não pensa ou não sente como tu. Ou não come carne de porco como tu. Um homem não puxa o gatilho ou saca da espada, sem perguntar quem vem lá!

Enfim, não se mata um homem, de ânimo leve, gratuitamente, só porque alguém o elegeu como teu inimigo. Malhado ou corcunda, tuga ou turra, rojo ou blanco, cristão ou mouro, comunista ou fascista, bárbaro ou romano.

Não, meu irmãozinho, não eram estes outdoors e muros grafitados, ao longo da picada, não, não era este trilho, que era pressuposto levar-te do cais do inferno do Xime às portas do paraíso em Bagdá..

Sim, porque no final, meu irmão, há sempre alguém a prometer-te o paraíso, o olimpo, o panteão nacional ou a cruz de guerra com palma, um coro de anjos e querubins, ou a prenda nupcial das 72 virgens  para os mártires.... em troca da dádiva suprema da tua vida, do teu corpo, da tua alma ou da tua liberdade (no caso de teres o azar de ser apanhado à unha pelo inimigo que te espreita por detrás do bagabaga).

Todos te querem, todos te queremos. "I want you”, sim, quero-te, mas por inteiro, quanto mais não seja para tirar uma fotografia contigo, beber um copo contigo, não vales nada cortado às postas, decepado, decapitado, dinamitado, ou, pior ainda, perdido, errático, com stress pós-traumático,  sem bússola nem mapa, levado para o campo de prisioneiros do Boé ou fuzilado no poilão de Bambadinca ou de Madina Colhido. Ou para forca de Ariz dos anos sombrios das nossas guerras fratricidas de 1828-1834.

Fuzilado, és um cadáver incómodo, apanhado, és um embaraço diplomático, pior do que tudo isso, doente psiquiátrico, apátrida, refugiado... Deixas de ter valor de troca, muito menos valor de uso, diz o comissário político da base central do Morés, de Kalashnikov em punho. 

Não, não foi este destino que compraste, com o patacão do teu sangue, suor e lágrimas, enganaram-te, os safados, os profetas, os iluminados, os gurus, os estrategas, os generais e os seus ajudantes de campo, os burocratas da secretaria, os recrutadores, a junta médica, os psicotécnicos, os instrutores e até os historiadores que escrevem direito  por linhas tortas.   Ou a corte que fugiu para o Brasil para que o Napoleão não pudesse apanhar a rainha louca e o seu filho primogénito, João.

“Guinea-Bissau, far from the Vietnam”, alguém escreveu no poilão de Brá ou na estrada de Bandim, a caminho do aeroporto, tanto faz, "Tuga, estás a 4 mil quilómetros de casa”. 

Ou então foi imaginação tua, pesadelo teu, deves ter sonhado com essa placa toponímica, algures, numa noite de delírio palúdico, deves tê-la visto a sul do deserto do Sará no avião da TAP de regresso a casa. Um pesadelo climatizado. Carregaste no botão errado. Ou então foi um erro de casting. Ou um sonho de menino esse de ires para os rangers, os páraa, oa comandos ou os fuzos.

Alguém sabia lá onde ficava a Guiné, longe do Vietname, alguém se importava lá com o teu prémio da lotaria da história, mesmo que em campanha te tenhas coberto de honra e glória!

Acabaram por te meter num avião “low cost” ou num barco de lata, ferrujento, deram-te um pontapé no cu ou cravaram-te a tampa do caixão de chumbo. "Bye, bye, my friend. Fuck you, man”. Nem sequer te desejaram "Oxalá, inshallah, enxalé, que a terra te seja leve!"

“País de merda!"... Tinha razão o polícia, racista, que te quis barrar a entrada no aeroporto de Saigão (ou era Lisboa ? ou era Amsterdão?). 

Quem disse que os polícias de todo o mundo são estúpidos ? Até o polícia racista entende o sofisma do país de merda: “Pensando bem, soletrando melhor, país de merda, país de merda, só pode ser o meu”.  Por que todos os outros fazem parte da rede turística do paraíso. 

Os gajos estavam fartos de ti, meu irmão, meu camarada, meu amigo. Os gajos pagavam-te, se preciso fosse, para se verem livres de ti, vivo ou morto, devolvido à procedência, usado e abusado.

“I want you, alive or dead”, porque na contabilidade nacional tudo tem de bater certo, diz o cabo RM, readmitido. Todo o que entra, sai, é o deve e o haver do escriturário, encartado, mesmo que seja merda: “Garbage in, garbage out”, se entra merda, sai merda, diz o gajo dos serviços mecanográficos do exército.

Procuraram-te por toda a parte, os fotocines, do Minho ao Algarve, do Cacheu ao Cacine, só te queriam fotogénico, bem comportado, escanhoado, ataviado, de botas engraxadas, se possível herói de capa e espada, medalhado, condecorado, de cruz de guerra ao peito, mesmo que viesses amortalhado, as persianas dos olhos fechadas,  as mãos sobre o peito em derradeira oração, o enorme buraco atrás das costas, feito por um bálizio de 12.7, cozido e recozido pelo cangalheiro da tropa.

E tu ? Sabias lá tu o que era a pátria, onde ficava a tabanca da pátria, onde começava e acabava o chão da pátria ?!...

 Muito menos sabias a geografia da guerra, as nossas geografias emocionais,  Aljubarrota, Alcácer Quibir, Vimeiro, Waterloo, Nambuangongo, lha do Como, Gandembel,  Guidaje, Guileje, Gadamael,  Madina do Boé, Ponta do Inglês, Madina/Belel, Morés, Caboiana, Fiofioli... Ah!, e La Lyz!... Ah, e  o desembarque da Normandia!... Ah!, e Dien-Bien-Phu onde combateste pela Legião Estrangeira!...

Conhecias lá tu, da pátria,  a anatomia e a fisiologia , o intestino grosso e delgado, o que é que a pátria comia, o que é que a pátria defecava, ou até mesmo o que é que a pátria sentia e pensava, se é que a pátria deveras sentia e pensava.

Queriam-te sedado, anestesiado, amnésico, de preferência, sobretudo amnésico, alienado, aculturado, desformatado, paisano, só assim eles te queriam de volta ao teu anódino quotidiano, à tua origem obscura, à tua Sintchã qualquer-coisa, ao teu Montijo, â tua Ventosa do Mar...

Meu irmão, meu pobre camarada, fizeste por eles o trabalho sujo que compete a qualquer bom soldado em qualquer guerra. Mas nem como soldado eles te trataram, nem sequer como mercenário te pagaram, em espécie ou em géneros.

Afinal a guerra acabou, como todas as guerras acabam, até mesmo a guerra dos cem anos teve um fim com o seu rol de mortos, feridos e desaparecidos, a sua nave de loucos, a sua vala comum dos esquecidos...

 “Para quê mexer agora na merda, ó nosso cabo ?!”, interpela o sorja da companhia. “Boa pergunta, meu primeiro, mas há muito já que eu não cheiro, a guerra embotou-me os sentidos”.

Luís Graça
Lourinhã, Vimeiro, 18/7/2015.

Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21/8/1808).

Revisto em 1/9/2023, 84 anos depois do início da II Guerra Mundial.
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24626: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (9): Requiem para um paisano