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terça-feira, 23 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25771: Aristides de Sousa Mendes - Um dos nossos grandes que eu admiro (Carlos Silva, ex-fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) - II (e última) Parte: Visita ao museu da História do Holoscausto / Yad VaShem, Israel, Jerusalém, 2017

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

~
Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


1. Continuação da publicação de fotos relativas ao Aristides de Sousa Mendes (Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, 1885 - Lisboa, 1954), o cônsul de Bordéus, que, para ser fiel a Deus e à sua consciência, teve de desobedecer aos homens (neste caso, a Salazar).

São fotos do álbum d0o  Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71), advogado, natural de Gondomar, régulo da Tabanca dos Melros, com 145 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 20/7/2007.(*)

Nesta segunda parte mostram-se imagens da sua visita (em companhia da esposa e de uma irmã, fotos nº 4 e 5), ao Museu de História do Holocausto, em Jerusalém, em 2017. (Em hebraico, Yad VaShem, criado em 1953, foto nº 6).

A foto nº 7, no interior do museu é o "hall dos nomes das vítimas do Holocausto, de origem judia" (há mais de um milhão ainda por identificar).  

Na foto nº 8, a legenda diz (em inglês e hebraico): "Um envelope postal e um selo, emitidos em memória de Sousa Mendes, em Portugal, 1995. Na parte inferior do selo pode ler-se: 'Lisboa, a porta para a liberdade- com a sua assinatura salvou milhares de vidas' ".

Na foto nº 9, pode ler-se: "Aristitides de Sousa Mendes, Portugal: por sua iniciativa própria, emitiu vistos de entrada em Portugal a milhares de refugiados judeus em França". 

A entrada no museu é gratuita, mas sujeita a inscrição prévia "on line". Três portugueses figuram aqui com o titulo de "justos entre as nações": além de Aristides de Sousa Mendes (nº 264,  entrado em 1996), Carlos Sampaio Garrido (nº 11758 /2010) e Joaquim Carreira (nº 12893 /2014).

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editort:

Último poste da série > 21 de julho de  2024 > Guiné 61/74 - P25768: Aristides de Sousa Mendes - Um dos nossos grandes que eu admiro (Carlos Silva, ex-fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) - Parte I: Casa do Passal (Cabanas de Viriato), Museu do Holocausto (Jerusalém) e capas de livros

domingo, 21 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25768: Aristides de Sousa Mendes - Um dos nossos grandes que eu admiro (Carlos Silva, ex-fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) - Parte I: Casa do Passal (Cabanas de Viriato), Museu do Holocausto (Jerusalém) e capas de livros


Foto nº 1 > Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, Casa do Passal, em restauro (c. 2018)


Foto nº 2 >  Foto nº 2 > Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, Casa do Passal, em restauro (c. 2018) > Cartaz, afixado na parede exterior, mostrando a casa em ruínas


Foto nº 3>  Israel > Jerusalém > 2017 > Museu do Holocausto / Yad Va Shem 

  
Foto nº 4 >  Lisboa > Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11 > 31 de outubro de 2017, às 18h30 > Sessão de lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto" (da autoria de António Moncada S. Mendes; Lisboa, Editora Desassossego, 2017, 352 pp. )  > Apresentação a cargo da historiadora Irene Pimentel.



Foto nº 5 > Lisboa > Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11 > dia 31 de outubro de 2017, às 18h30 > Sessão de lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto" > O Carlos Silva e o autor

 

Foto nº 6 > Dedicatória, a Carlos Silva, do autor do livro, António Moncada S. Mendes, neto de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954)










Fotos de 7 a 13 > Capas de livros sobre Aristides deSousa Mendes, da biblioteca do Carlos Silva

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2024. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Carlos Silva,
Jerusalém, 2017

1. Mensagem do Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71), advogado, natural de Gondomar, régulo da Tabanca dos Melros, com 145 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 20/7/2007.


Data - sábado, 20/07/2024, 20:06
Assunto - Aristides Sousa Mendes


Meu Caro Luís


A propósito do Post 2755 e 25762 sobre o Cônsul Aristides Sousa Mendes e relativamente à inauguração como Museu da Casa do Passal situada em Cabanas de Viriato, onde pelo carnaval se faz a tradicional “Dança dos Cus”, c
oncelho  de Carregal do Sal, já lá estive 3 vezes, porque tenho dois amigos/camaradas que são daquela localidade, sendo um da minha CCaç 2548.

Fui levado em 2015 pelo camarada mais velho da CCav 1905 ( Companhia dos Bigodes ) que foi sediada em Teixeira Pinto e Bissorã, o qual me levou a visitar a povoação e o cemitério local para ver o jazigo onde jaz Aristides Sousa Mendes.

O dito camarada, Carlos Rodrigues, falou-me desta figura ímpar da nossa História que eu não conhecia, tendo eu ficado maravilhado com o que ele me ia contando sobre o seu conterrâneo, pois, embora pequeno ainda chegou a conhecê-lo e toda a azáfama que havia em torno daquele palacete.

Deste modo, envio-te umas fotos de 2015 e 2018 da Casa do Passal e do cemitério.

A partir daí fiquei muito interessado em conhecer verdadeiramente a História do nosso cônsul em Bordéus e os seus feitos, pelo que fui adquirindo alguns livros sobre a sua personalidade e dos quais junto fotos das capas dos mesmos, assim como do livro que adquiri no Palácio da Independência em Lisboa na altura da sua apresentação em novembro de 2017 e da autoria do seu neto António Moncada Sousa Mendes, que tem a sua dedicatória.

Em setembro de 2017 estive em Israel e claro fomos a Jerusalém onde tive a oportunidade de visitar o Museu do Holocausto/ Yad Va Shem e aí a Senhora que nos atendeu perguntou-nos de que nacionalidade éramos, tendo eu respondido que éramos portugueses e face a esta resposta foi de uma simpatia inexcedível, de mediato informou-me que figurava no Museu um “Justo” português de seu nome Aristides Sousa Mendes, pelo que fez várias cópias sobre o seu historial e ofereceu-me, bem como, explicou-nos onde se encontrava exposto, só que não se podia tirar fotos, mas como sempre o fruto proibido … eu consegui fazer duas fotos que junto e outras.

Podes, se assim entenderes fazer a respectiva publicação

Abraço
Carlos Silva
20-07-2024

sábado, 18 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25538: O Cancioneiro da Nossa Guerra (20): Nemíades e bolanhíades, as "ninfas" ao estilo camoniano imaginadas pelos "Cobras" da CCAÇ 2549 (Cuntima, Nema e K3 Farim, 1969/71), do ex-cap inf Vasco Lourenço


Capa do livro de Vasco Lourenço - N6o regressso vinham todos: relato da Companhia nº 2549. Lisboa: Editorial Notícias, 1997, 103 pp.  (1ª edição, 1975) (A guerra colonial em livros, 3). (*)


1. Não
 temos muitas referências à CCAÇ 2549 (Cuntima, Nema e K3, 1969/71): apenas 15. O que se explica por uma razão: não temos nenhum representante dessa subunidade do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) na nossa Tabanca Grande. O seu comandante, o então  cap inf Vasco Lourenço  (**) e uma das figuras mais conhecidas do MAF (Movimento das Forças Armadas),  tem também apens 26 referências.

Uma dos primeiros livros a sair ao 25 de Abril de 1974 com testemunhos da experiência da  guerra colonial foi justamente o "No regresso vinham todos":  o ex-cap Vasco Lourenço dá a cara, o livro tem o contributo de outros graduados:

  • alf mil Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira)
  • alf mil Carvalho (Luís Fernando da Silva Carvalho)
  • alf mil Sampaio (João Borges Frias Sampaio)
  • fur mil Leonel
  • fur mil Paulo (Armindo Aníbal Pinto da Costa Paulo)
  • fur mil Brotas (Francisco António Brotas)
  • fur mil Mano Nunes (António Manuel Mano Nunes)

O mais representado nas 103 páginas do livro é o ex-alf mil Ferreira, de seu nome completo Manuel do Carmo Ferreira (**). E é da sua autoria,  as estrofes que a seguir se reproduzem e que são uma paródia, inspirada nos nossos "Lusíadas", do Luís de Camões. Destaque para as figuras mitológicas criadas pelo Ferreira: as "nemíadas" (referência a Nema, nos arredores de Farim) e as "bolanhíadas" (de "bolanha)... (Ou sejam: as "ninfas" de Nema e das bolanhas...) .O tom, poético-burlesco, é o de outras letras "parodiadas", em que se exaltam os "perigos" e "trabalhos esforçados" e se anseia pelo regresso a casa. 

O Ferreira é decidifdamente nortenho pelo uso da variante regional "désteis" e "fizésteis" (2º pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos "dar" e "fazer").


Nemíadas

Da piriquitagem afastada,
Se narra com verdades e conscicência
A vida triste desventurada
Dos heróis da paciência;
Como à força de tanta calcadela
Perdendo a malta a potência,
Fugiu de Cuntima que alto berra:
Pobre Companhia, quem te desterra ?

E vós, bolanhíadas minhas,
Que às pernas energia tirais,
Ajudai-me a preencher estas linha
Com umas verdades cruais, reais;
Deixemos de lado as queixinhas,
Sejamos connosco sicneros, leais,
Diagmos a verdade. Nada nos demove...
Falemos dos lixados da 49!!!

De Cuntima connosco veio
A má sina o esgotamento;
O trabalho não encontra freio
Ao mirarmos o novo aquartelamento,
E monumentos tão cheio,
Que as obras têm seguimento.
É operacional ? É de Engenhria )
ão, é construtora. É de Infantaria...

Do outro lado que a distância cala
Nos destinam ruinas em montão;
E vê-lo se estremece, se perde a fala,
Nos pôem em mãos um trabalhão;
E o que mais nos irrita, nos abala,
Era saber só em Cuntima a inspeção.
É mesmo de encarar este desmando:
Como é possível tão perto do comando ?

Há tanta coisa p'ra fazer
Nesta vila tão trópica, tão pacata
Que a Compnhia tem de  oferecer
Quatro diáras para arranjar a sucata,
Mas mais tarde vão verde
Os ditos que lançará a malta
- Vós,  da 49, que ajuda désteis ?
Nada tendes a dizer, nada fizesteis...

Narro agora as colunas, narro as picadas,
De uma companhia tão lixadsa
Que durantte um ano só viu emboascadas,
Sonhou vida mais regalada;
Que gramou constantes chuvasdas
E ferradelas da atroz mosquitada.
Que, matando a febre de Sitató,
Foi pilhada na bolsa de Faringó.

Meses de tragalho e esgotamento
Ficam lembrados neste papel;
De Cuntima, o reordenamento,
Em Nema, emboscando Lamel.
Que mais teremos de tormento ?
Qual será o róximo pimcel ?
Deixemos a roleta rodar,
Até quando podem as forças durar ?

Trista sina nos fazem acarretar
Não lobrigo a vida folgada:
A Companhia continua a penar,
Há sempre mais trapalhada.
Quando acabaremos de emboscar
Essa maldita carreirada ?
Estou a ver isto tantas vezes
Que penso só daqui a nove ou dez meses...

Depois de tantaas fornicadelas,
Há de vir por força a bonança,
E então firmes nas canelas
Acabará para todos a estafança;
E em copos afogaremos todas elas
Quando deixarmos esta matança.
E a caminho da nossa terra
Gritaremos: camaradas,  acabou a guerra! (***)

Alferes miliciano Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira) (****)

(Revisão  /  fixação de texto: LG)


(Foto à esquerda: o nosso camarada Manuel do Carmo Ferreira, ainda cadete em Mafra, c. 1968; cortesia de Carlos Silva,  poste P2525)





2. Ficha de unidade  CCAÇ 2549 / BCAÇ 2879

Identificação; BCaç 2879
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes
Cmdt: TCor Inf Manuel Agostinho Ferreira | TCor Inf António José Ribeiro | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto
2.° Cmdt: Maj Inf Alexandre Augusto Durão Lopes
OInfOp/Adj: Maj Inf Lourenço Calisto Aires

Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Manuel Landeiro | Cap Mil Art José Manuel Lopes do Nascimento
CCaç 2547: Cap Mil Art José Fernando Covas Lima de Carvalho |! Cap Mil Art João José Pires de Almeida Loureiro
CCaç 2548: Cap Mil Inf Luís Fernando da Fonseca Sobral
CCaç 2549: Cap Inf Vasco Correia Lourenço
Divisa: -
Partida: Embarque em 19ju169; desembarque em 25Jul69 | Regresso: Embarque em 26jn71

Síntese da Atividade Operacional

Em 4ago69, substituindo o COP 3, assumiu a responsabilidade do Sector O2 (Oeste Dois), novamente transferido para esta zona de acção, com a sede em Farim e abrangendo os subsectores de Cuntima, Jumbembém, Canjambari e Farim. 

Em 25abr71, foi incluída na zona de acção do sector a área do destacamento de Binta, transferida do COP 3. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Desenvolveu intensa actividade operacional, particularmente orientada para a contrapenetração nas linhas de infiltração de Lamel e Sitató, para a segurança e controlo dos itinerários, para impedir a instalação de bases inimigas na sua zona de acção e ainda para a segurança, defesa e construção de aldeamentos e promoção socioeconómica das populações.

Pelos resultados obtidos e pela acção continuada de contrapenetração, destacam-se as operações "Camélia", "Caminhos Detidos", "Barragem Contínua" e "Corvina", entre outras.

Do armamento capturado mais significativo, salienta-se: 2 canhões sem recuo, 6 metralhadoras ligeiras, 43 pistolas-metralhadoras, 25 espingardas, 3 LGFog, 660 granadas de armas pesadas e mais de 155 mil munições.

***

A CCaç 2549 seguiu em 30jul69 para Cuntima, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCaç 1789, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector em 4ag069 e ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 17Ju170, por troca com a CCaç 2547, foi colocada em Farim, com um pelotão destacado em Saliquinhedim /K3, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector e colaborando também no esforço de contrapenetração no corredor de Lamel.

Em 12jun71, foi rendida pela CArt 3358 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 110 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 127/129.

Sobre Cuntima, ver a carta de Carolina do Norte (1956), escala 1/50 mil
_____________

Notas de  leitura:


(***) Último poste da série > 17 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25535: O Cancioneiro da Nossa Guerra (19): O "soneto do artilheiro" (17º Pel Art + CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73)

domingo, 24 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24997: Boas Festas 2023/24 (12): Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887; José Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF e Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879


1. Mensagem natalícia, em forma de poema, do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68):

ANTIDEUTERONOMIO II

adão cruz

No tempo em que as sardinheiras das varandas dos pobres
faziam parte dos nossos sonhos
florindo em poemas de sol e de cor
no tempo em que as andorinhas
teciam grinaldas de vida nos beirais
no tempo em que os rios bordavam a terra de areia branca
no tempo em que a brisa sussurrava
por entre as flores
e as fontes murmuravam seus amores
a aurora da nossa inquietação tinha o cheiro a maçãs
e o pulsar das coisas vivas
e o levíssimo sorriso dos jardins do paraíso.
Tudo amávamos em nobre sentimento de exaltação
o mundo era transparente e fácil de amar
e cheirava a feno
a razão ondulava a frágil seara
em suave alento na quietude universal da liberdade
como harmoniosa mulher suspirando ao vento.
Tão inocente amor
tanta alegria
quem pensaria que os rios de pranto
haveriam de chegar um dia
em negra nuvem de calado voo.
Não podemos deixar que a nuvem negra
se abata sobre nós e o pensamento…
e o pensamento nos agarre no desértico silêncio
sentados ao vento
no falso sol da varanda da ilusão
e da erosão da consciência adormecida.
Não podemos deixar que a todos nos transforme
em filhos da morte
filhos de nenhum lugar e de toda a parte
figuras do vale das sombras
esgueirando-se nas sombras de outras sombras
sonâmbulos fantasmas
sem gestos de vida que nos façam acordar.
E quando for dia de sol bem alto
porque haverá sempre um dia
a rasgar a deuteronómica nuvem negra
que ameaça os campos do futuro
e o sereno assombro das pedras
e os peixes verdes dos poemas
e os rubros sorrisos que cheiram a mar
e os passos dos que aprendem a andar
e os rios que correm nos olhos de uma criança
e a memória sem tempo
jamais a exaltação da santidade
estará na morte e nas cinzas da cidade.
E não haverá espinhos nos olhos
e aguilhões nos flancos da vida…
E não haverá armas de destruição maciça
no coração das mães dos filhos exterminados.
Na diáfana manhã de um novo dia
apenas a plangente harmonia de um Stabat Mater.


********************

2. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF  (Piche e Bissau, 1970/72):

Meus amigos
Estamos em plena época de "Festas Felizes", "Boas Festas", "Feliz Natal", "Bom Ano Novo", etc., coisas do mesmo género, que se costuma ouvir muito por estes tempos.
São expressões sentidas?
São expressões vazias de sentido?
O que leva as pessoas a repeti-las, ano após ano, na maior parte das vezes sem darem conta do que podem realmente significar?
Repetem por simples impulso automático? Por hábito? Por convenção social?

Os meus amigos mais antigos já sabem que eu, por estas alturas, fico sempre um pouco menos sensível a esses tipos de manifestações.
Por isso, sinto-me menos propenso a veicular, a verbalizar (de viva voz, ou por escrito), tais desejos de aparente bondade, piedade, até de solidariedade.

Então, por tal, peço que me desculpem de não ser um "contributor da moda" e não interagir assim tanto nesse sentido, sendo que não tomo a iniciativa de desejar "Feliz Natal" e limitando-se a agradecer o que me enviam.

Com votos de boa saúde, para vós e familiares, e de um melhor Ano Novo, que se avizinha e que seja de facto um Novo Ano.

Saúdo-vos com um "Festas Felizes"
Hélder Sousa


********************

3. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71):

Meus Caros Amigos e Camaradas
Tabanqueiro Mor Luís e Carlos Vinhal

2023 - É Natal - A todos os meus amigos e camaradas da Tabanca Grande e seus familiares desejo um Feliz Natal e um Ano Novo 2024 com paz e saúde

Com um grande abraço
Carlos Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24994: Boas Festas 2023/24 (11): José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56; Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 14 e João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil do BENG 447

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24828: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXVIII: um centro de instrução de Comandos em Mansabá, nas barbas do PAIGC, às portas do Morés


Guiné > Região do Oio > Mansabá > Placa toponímica assinalando a entrada de Mansabá para quem vinha de Cutia


Guiné > Região do Oio > Mansabá > c. 1970/72 > Vista da tabanca.  

Fotos (e legendas)  © Carlos Vinhal  (1970). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Oio > Farim > c. 1969 / 71  Nas margens do Cacheu, em Farim.

Foto (e legenda)  © Carlos Silva (1970). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais de nove dezenas de referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não  lhe permitaram ultimar.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";

(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra)M

(xxii) assalto ao Irã de Caboiana, com a 1ª CCmds Africanos, e o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor;

(xxiii) vamos vê-lo a dar instrução a futuros 'comandos' no CIM de Mansabá, na região do Oio, no primeiros meses do ano de 1973, e a fazer algumas extras (e bem pagas) com o grupo do Marcelino, aoi serviço do COE, que era comandado pelo major Bruno de Almeida; mas não nos diz uma única sobre essas secretas missões; ao fim de 12 anos de tropa, é 2º sargento e confessa que está cansado...


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXVIII:

 Um centro de instrução de Comandos em Mansabá, nas barbas do PAIGC, às portas do Morés 

No final de 1972, eu era 2º sargento,
estava com muitos anos de guerra, sentia-me muito cansado

Num dia daqueles entrei no gabinete do major Almeida Bruno, comandante do Batalhão de Comandos, e pedi-lhe que me transferisse para uma companhia africana. Depois de olhar para mim, mandou chamar o 1º sargento e pediu-lhe o meu processo.

Começou a folheá-lo e, uns momentos depois, mandou chamar o tenente Jamanca. Nisto entrou o Marcelino da Mata [1] e, logo a seguir o Jamanca.

O major, dirigindo-se ao Jamanca, perguntou-lhe porque é que ainda não tinha sido entregue o meu processo de promoção. Como o Jamanca ficou calado, o comandante voltou a fazer a pergunta e o Jamanca continuou calado. Nessa altura, o Marcelino disse que no batalhão já se vendiam os postos e que era por isso que não gostava de lá estar [2].

O comandante não ficou muito satisfeito com esta saída do Marcelino e mandou-o estar calado.

Amadu, vais ser oficial. E a questão do vencimento vai resolver-se.

Uma semana depois, talvez, estava na cantina quando me chamaram ao telefone.

−Amadu, sabes com quem estás a falar?

Eu não reconheci a voz e respondi que não, que não sabia quem me estava a telefonar.

− É do Comando-Chefe, é o Ramos[3]!

− Olá. meu capitão, está bom?

E, depois começámos a falar, até que me convidou a ir ter com ele.

Fui sem demora. Quando o vi, ele perguntou-me se eu queria escolher um furriel e dez soldados, que fossem da minha total confiança e passasse a sair com ele[4], para o mato.

Nesse mesmo dia chamei o furriel Facene Sama. Eu gostava do Facene, tanto como se fosse meu filho. Disse-lhe:

− Escolhe dez homens da tua completa confiança e apresenta-te na parada com eles, com as vossas armas e mais dois RPG2 e uma HK 21. Quando estiverem prontos, chama-me. Entretanto, fui buscar a minha arma, os equipamentos e um rádio AVP 1.

O grupo já estava formado quando me dirigi ao encontro deles. Passei-lhes revista, inspeccionei as armas e os respectivos equipamentos e disse-lhes que estivessem prontos para saírem no dia seguinte às 07h30.

No dia seguinte, começámos a sair com o Marcelino da Mata e com o capitão paraquedista Ramos. Por cada saída eu recebia mil escudos e o furriel e os soldados quinhentos.

Estas acções duraram três a quatro meses, com uma a duas saídas por semana, ao mesmo tempo que me mantinha nos Comandos em Brá e saía sempre que o meu grupo estava escalado.

Tive conhecimento que ia haver um curso em Mansabá, logo nos inícios de 1973. Eu andava muito cansado e, quando vi o meu nome na lista de instrutores, pedi para me trocarem. Quando teve conhecimento do meu pedido, o capitão Matos Gomes mandou-me chamar.

− De que é que eu estou cansado, meu capitão? De tantas correrias, de marchas forçadas!

− Não vais correr, Amadu, quem corre são eles, tu vais mandar, vais controlar as corridas e as marchas.

Três dias depois, lá fui eu, outra vez, numa coluna de viaturas, para Mansabá. Chegámos atrasados, já passavam das 16 horas. Tinha havido um acidente com alguns feridos, na curva de Nhacra, logo a seguir à povoação.

Eu levei a minha mulher e o Braima Baldé e o Bailo Djau também levaram as deles. Depois de chegarmos fomos procurar alojamentos.

No dia seguinte começou o curso[5]. Nos três primeiros dias comemos muito mal, não havia carne. Não estávamos a passar muito bem e, então fui falar com o capitão, comandante da companhia, a ver se nos podia arranjar carne.

Que havia um homem, chamado Malan, que matava o gado e que, quando precisavam de carne, falavam com ele.

Eu, o alferes Carolino Barbosa e os sargentos Braima Bá e Bailo Djau andámos de casa em casa, à procura do homem até que o encontrámos sentado na varanda. Cumprimentou-nos mas não nos mandou entrar.

Quando lhe fizemos o pedido, disse que não, que só mataria com a autorização do capitão. Nós dissemos-lhe que tinha sido o capitão que nos tinha indicado o nome dele, mas mesmo assim recusou, dizendo que o capitão tinha que falar directamente com ele.

Vimos um furriel ali perto, dentro de um jipe e pedimos-lhe que transmitisse ao capitão que estávamos ali por causa da carne, mas que o homem dizia que só na presença do capitão é que o caso se podia resolver.

Não demorou muito, chegou um jipe com um alferes que, a mando do capitão, disse que o homem podia matar vacas para o nosso consumo. No dia seguinte, de manhã, tínhamos a carne que precisávamos. E á tarde, quando estava com o capitão Matos Gomes perguntei-lhe se era possível organizar uma coluna para Farim. Porque eu tinha parentes lá, que tinham muito gado. Arranjava pastor, trazia-o para Mansabá e era capaz de arranjar carne de vaca a 11 escudos o quilo.

Saímos no dia seguinte, de manhã, em coluna, e ainda não eram 11h00 já estávamos em Farim. Contactei os parentes, juntámo-nos à beira dos correios, falei-lhes do que precisava, começámos a negociar e chegámos a acordo. E pedi para eles me arranjarem também alguém, voluntário, que fosse comigo para Mansabá.

O gado estava numa bolanha ali perto. Ajudaram-me a escolher vinte e duas vacas e depois atravessámos o rio, ao encontro da coluna que estava na outra margem do rio Cacheu.

A partir dessa altura, passámos a fornecer a carne à companhia, a uma cantina e à serração. Quando abatíamos uma vaca dividíamos a carne.

No decorrer da instrução de comandos havia quase sempre azares. No curso que estávamos a dar[6], um soldado[7] de meu grupo foi atingido mortalmente por um colega e um outro foi ferido na prova individual[8].

Num dia em que o capitão Matos Gomes se tinha deslocado a Mansoa, saímos para fora do arame farpado e andámos na mata. O nosso capitão ainda não tinha regressado mas, como estava no programa do curso, jantámos à pressa para nos prepararmos para a instrução nocturna.

O alferes[9], que o nosso capitão tinha deixado a substituí-lo, perguntou-nos o que íamos fazer.

− Vamos sair para a instrução nocturna.

− Não me responsabilizo pela saída do quartel, à noite. Só quando o nosso capitão vier[10]!

Contrariados, porque a instrução nocturna fazia falta, fomos aos quartos mudar de roupa. Depois dirigi-me a casa do padre da Mesquita, que era meu amigo. Estivemos a conversar e, quando chegou um homem que o vinha visitar também, despedi-me e comecei a dirigir-me para o quarto. Quando estava quase a entrar na estrada alcatroada, de um momento para o outro vi o céu muito claro e logo a seguir tiroteio à volta do arame farpado. O fogo de armas automáticas e os rebentamentos não me deixavam regressar para o quartel.

Decidi voltar a casa do padre. Quando cheguei, vi-a a arder, de uma ponta a outra. Voltei para a Mesquita e encontrei muita gente lá dentro, militares europeus e outras pessoas. Como não havia bombeiros, alguns militares vieram do quartel com água. Toda a gente tentava apagar o fogo, que tinha tomado conta da casa.

Quando o PAIGC cessou o ataque, soubemos que tinham sido atingidas mortalmente três pessoas, um casal idoso e um rapaz[11].

Voltaram a atacar o aquartelamento quando o curso estava a terminar. Desta vez, utilizaram armas pesadas, mas tiveram pouca pontaria, as granadas caíram todas fora do quartel e da povoação.

No final do curso, regressámos a Bissau e começámos os preparativos para o treino operacional que iria começar com uma das maiores operações de comandos. Quase 500 homens, o batalhão inteiro, comandado pelo major Almeida Bruno. 

(Continua)
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Notas do autor e/ou do editor VB:

[1] Nota do editor: Marcelino da Mata, na altura 2º sargento, chefiava o grupo “Os Vingadores”, sediado na Amura, que dependia do COE, comandado pelo major Almeida Bruno.

[2] O ambiente entre nós nem sempre foi o melhor. Havia rivalidades étnicas que se cruzavam com os problemas que ocorriam em qualquer unidade militar.

[3] Nota do editor: capitão António Joaquim Ramos, paraquedista, em missão no COE do Comando-Chefe

[4] A missão era levar a efeito assaltos a acampamentos IN, juntamente com o grupo “Os Vingadores” do 2º. sargento Marcelino da Mata.

[5] Nota do editor: foi o primeiro curso realizado em Mansabá. Os anteriores tinham sido realizados em Fá Mandinga. A ideia de Mansabá partiu do major Almeida Bruno, para marcar a diferença relativamente ao anterior, pois este era o primeiro curso realizado sob a responsabilidade do Batalhão de Comandos da Guiné, criado em 2 de novembro de 1972. A ideia era estabelecer um Centro de Instrução de Comandos e a localização tinha a ver com a situação operacional. Era um desafio ao PAIGC, um centro de instrução de Comandos nas barbas do Morés.

[6] Nota do editor: em 21 abril 1973.

[7] Nota do editor: Saranjo Baldé, durante a limpeza da sua arma, segundo a versão oficial.

[8] Prova individual, numa pista de combate no exterior do quartel, com obstáculos e progressão com tiro real.

[9] Nota do editor: alferes da 35ª CCmds, comandante de um grupo de combate.

[10] A instrução nocturna era feita habitualmente na zona da pista, na direcção da estrada para Bafatá, ou nos terrenos junto à estrada Mansabá-K3-Farim. Aproveitava-se, assim, a instrução para criar instabilidade no PAIGC.

[11] No quartel caíram várias granadas e um foguete de 122 abriu um buraco na parede do bar.

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 22 de outubro de  2023 > Guiné 61/74 - P24780: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXVII: assalto, da 1ª CCmds Afriicanos, com o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor, ao irã da Caboiana, em outubro de 1972

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24623: Fauna e flora (23): o hipopótamo-comum, pis-cabalo em crioulo (Hippopotamus amphibius) apanhado nas bolanhas de Farim (Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf, CCaç 2548 / BCaç 2879, Jumbembem, 1969/71)


Guiné : Região do Oio > Farim > 1970 > "Quem não se acredita que não havia hipopótamos no rio Cacheu? Aqui está o malandro que dava cabo dos arrozais". Foto do precioso álbum do Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf,  CCaç 2548 / BCaç 2879 (Jumbembem, 1969/71).(*)

Foto (e legenda): © Carlos Silva  (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

Pis-Cabalo (em crioulo) ou hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius) > Um dos mamíferos protegidos na Guiné-Bissau. Não confundir com o hipopótamo-pigmeu, dado como extinto na Guiné-Bissau há 50 anos (**). 

Fonte: Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau. República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Deparatmento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d. (Já não está disponível em formato pdf, no sítio do IBAP,  fomos recuperá-lo através do Aqruivo.pt).

https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf


Temos uma série dedicada à "Fauna e flora", em especial da  Guiné-Bissau. Esperamos mais contributos dos nossos amigos e camaradas da Guiné que fazem também deste blogue uma importante fonte de informação e conhecimento  (***).
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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24414: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano; Parte XXX: A guerra pela população (pp. 204-206)


Guiné > Região do Oio > Farim > Aproximação à pista de Farim. Foto de Carlos Silva, ex-fur mil, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71) (publicada, a preto e branco, no livro, na pág. 205)

Guiné > Região do Oio > Farim > O rio Cacheu em Farim.  Foto de Carlos Silva, ex-fur mil, (publicada, a preto e branco, no livro, na pág. 204)


Guiné > Região do Oio > Farim > O rio Cacheu em Farim.  Foto de Carlos Silva (publicada, a preto e branco, na pág. 206)

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim.



1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano:


Parte XXX:  A guerra pela populaçãpo (pp. 204-206)


Depois de várias saídas, a nossa companhia comandada pelo Tenente Zacarias Saiegh, partiu para Bissau, com a missão de executar duas acções, uma na zona de Bissum Naga[1] e outra na área de Farim.

Na zona de Bissum Naga, tivemos contacto com o PAIGC por duas vezes. Num dia, um dos nossos grupos, junto ao rio, capturou armas e granadas ao PAIGC. No dia seguinte, outro grupo nosso foi apanhado pelo IN, quando estava numa fonte a transportar água[2] e teve um ferido.

Duas companhias incompletas, a 1ª e a 2ªCCmds, comandadas também pelo Saiegh, embarcaram de avião para Farim, onde chegámos às 11h00. Depois, seguimos, a pé, da pista para o cais, onde ficámos até cerca das 16h00.

Entrámos para uma embarcação comercial e partimos, como quem ia para Binta[3]. A meio do rio, o barco encostou à margem esquerda, amarrámo-nos às árvores e saltámos para terra. Depois de reagrupados, rumámos na direcção de Oio Tiligi[4]. Entrámos na mata, fizemos um alto para comer qualquer coisa e mudamos para um local onde pernoitámos.

Logo de manhã, bem cedo, dirigimo-nos para a zona onde tinham sido referenciados acampamentos do PAIGC.

A certa altura, não muito longe desses locais, ouvimos barulho de vozes e tomámos as disposições para o assalto. Não sabíamos se era pessoal armado ou só população. Como os sons das vozes vinham de vários locais, separámos o nosso pessoal.

Fomo-nos aproximando na direcção das vozes, deparámos com barracas com população civil e, sem dar um tiro, recuperámos as cerca de trinta pessoas que encontrámos.

Em marcha rápida saímos do local, com o objectivo de evitar contacto armado, uma vez que tínhamos entre nós crianças, velhos e mulheres. Sabíamos que eles conheciam a zona melhor que nós e mantivemos o ritmo da marcha até encontrarmos um local que nos pareceu relativamente seguro para dormir um pouco. 

Como estávamos no mês do Ramadão demos às pessoas a nossa ração de combate para quebrarem o jejum.

Ao romper da aurora dirigimo-nos para a margem do rio Cacheu e, depois de muito andar, avistámos o barco, que estava encostado a umas árvores, numa zona em que o rio faz uma curva. Não foi fácil meter toda a gente na embarcação mas conseguimos.

Chegámos ao cais de Farim, entre as 15 e as 16h00 e apresentámo-nos no comando do batalhão[5]. Um capitão disse que quem tivesse onde dormir que podia ir e regressar no dia seguinte, aí pelas oito horas.

Eu e mais alguns colegas fomos para o bairro de Sinchã, onde a maioria dos moradores era da minha etnia. Não estavam à nossa espera e não tinham condições para nos dar comer e alojamento mas nada nos faltou e dormimos bem até de manhã.

No dia seguinte, conforme estava determinado, encontrámo-nos na pista à espera dos aviões que chegaram por volta das 09h00[6].

(Continua)
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Notas do autor e/ou do editor literário (VB):

[1] Nota do editor: a cerca de 17km a norte de Binar.

[2] Nota do editor: esta acção na zona de Bissum Naga, executada pelas 1ª e 2ª CCmds, foi elaborada pelo COE, comandado pelo Major Almeida Bruno, e decorreu entre 18/22 Outubro 1971 na mata do Choquemone.

[3] Nota do editor: destacamento da CArt 3358.

[4] Tiligi, palavra mandinga que significa pôr-do-sol.

[5] Nota do editor: BArt 3844.

[6] Nota do editor: acção no Tancroal (rio Jagali, Ganturé-Cacheu), sector de Farim, comandada pelo Major Almeida Bruno, entre 29 Outubro/01 Novembro 1971.

[Seleção / Revisão e fixação de texto /  Subtítulo / Negritos:  LG]
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