Capa do livro de Vasco Lourenço - N6o regressso vinham todos: relato da Companhia nº 2549. Lisboa: Editorial Notícias, 1997, 103 pp. (1ª edição, 1975) (A guerra colonial em livros, 3). (*)
1. Não temos muitas referências à CCAÇ 2549 (Cuntima, Nema e K3, 1969/71): apenas 15. O que se explica por uma razão: não temos nenhum representante dessa subunidade do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) na nossa Tabanca Grande. O seu comandante, o então cap inf Vasco Lourenço (**) e uma das figuras mais conhecidas do MAF (Movimento das Forças Armadas), tem também apens 26 referências.
Uma dos primeiros livros a sair ao 25 de Abril de 1974 com testemunhos da experiência da guerra colonial foi justamente o "No regresso vinham todos": o ex-cap Vasco Lourenço dá a cara, o livro tem o contributo de outros graduados:
- alf mil Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira)
- alf mil Carvalho (Luís Fernando da Silva Carvalho)
- alf mil Sampaio (João Borges Frias Sampaio)
- fur mil Leonel
- fur mil Paulo (Armindo Aníbal Pinto da Costa Paulo)
- fur mil Brotas (Francisco António Brotas)
- fur mil Mano Nunes (António Manuel Mano Nunes)
O mais representado nas 103 páginas do livro é o ex-alf mil Ferreira, de seu nome completo Manuel do Carmo Ferreira (**). E é da sua autoria, as estrofes que a seguir se reproduzem e que são uma paródia, inspirada nos nossos "Lusíadas", do Luís de Camões. Destaque para as figuras mitológicas criadas pelo Ferreira: as "nemíadas" (referência a Nema, nos arredores de Farim) e as "bolanhíadas" (de "bolanha)... (Ou sejam: as "ninfas" de Nema e das bolanhas...) .O tom, poético-burlesco, é o de outras letras "parodiadas", em que se exaltam os "perigos" e "trabalhos esforçados" e se anseia pelo regresso a casa.
O Ferreira é decidifdamente nortenho pelo uso da variante regional "désteis" e "fizésteis" (2º pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos "dar" e "fazer").
Nemíadas
Da piriquitagem afastada,
Se narra com verdades e conscicência
A vida triste desventurada
Dos heróis da paciência;
Como à força de tanta calcadela
Perdendo a malta a potência,
Fugiu de Cuntima que alto berra:
Pobre Companhia, quem te desterra ?
E vós, bolanhíadas minhas,
Que às pernas energia tirais,
Ajudai-me a preencher estas linha
Com umas verdades cruais, reais;
Deixemos de lado as queixinhas,
Sejamos connosco sicneros, leais,
Diagmos a verdade. Nada nos demove...
Falemos dos lixados da 49!!!
De Cuntima connosco veio
A má sina o esgotamento;
O trabalho não encontra freio
Ao mirarmos o novo aquartelamento,
E monumentos tão cheio,
Que as obras têm seguimento.
É operacional ? É de Engenhria )
ão, é construtora. É de Infantaria...
Do outro lado que a distância cala
Nos destinam ruinas em montão;
E vê-lo se estremece, se perde a fala,
Nos pôem em mãos um trabalhão;
E o que mais nos irrita, nos abala,
Era saber só em Cuntima a inspeção.
É mesmo de encarar este desmando:
Como é possível tão perto do comando ?
Há tanta coisa p'ra fazer
Nesta vila tão trópica, tão pacata
Que a Compnhia tem de oferecer
Quatro diáras para arranjar a sucata,
Mas mais tarde vão verde
Os ditos que lançará a malta
Se narra com verdades e conscicência
A vida triste desventurada
Dos heróis da paciência;
Como à força de tanta calcadela
Perdendo a malta a potência,
Fugiu de Cuntima que alto berra:
Pobre Companhia, quem te desterra ?
E vós, bolanhíadas minhas,
Que às pernas energia tirais,
Ajudai-me a preencher estas linha
Com umas verdades cruais, reais;
Deixemos de lado as queixinhas,
Sejamos connosco sicneros, leais,
Diagmos a verdade. Nada nos demove...
Falemos dos lixados da 49!!!
De Cuntima connosco veio
A má sina o esgotamento;
O trabalho não encontra freio
Ao mirarmos o novo aquartelamento,
E monumentos tão cheio,
Que as obras têm seguimento.
É operacional ? É de Engenhria )
ão, é construtora. É de Infantaria...
Do outro lado que a distância cala
Nos destinam ruinas em montão;
E vê-lo se estremece, se perde a fala,
Nos pôem em mãos um trabalhão;
E o que mais nos irrita, nos abala,
Era saber só em Cuntima a inspeção.
É mesmo de encarar este desmando:
Como é possível tão perto do comando ?
Há tanta coisa p'ra fazer
Nesta vila tão trópica, tão pacata
Que a Compnhia tem de oferecer
Quatro diáras para arranjar a sucata,
Mas mais tarde vão verde
Os ditos que lançará a malta
- Vós, da 49, que ajuda désteis ?
Nada tendes a dizer, nada fizesteis...
Narro agora as colunas, narro as picadas,
De uma companhia tão lixadsa
Que durantte um ano só viu emboascadas,
Sonhou vida mais regalada;
Que gramou constantes chuvasdas
E ferradelas da atroz mosquitada.
Que, matando a febre de Sitató,
Foi pilhada na bolsa de Faringó.
Meses de tragalho e esgotamento
Ficam lembrados neste papel;
De Cuntima, o reordenamento,
Em Nema, emboscando Lamel.
Que mais teremos de tormento ?
Qual será o róximo pimcel ?
Deixemos a roleta rodar,
Até quando podem as forças durar ?
Trista sina nos fazem acarretar
Não lobrigo a vida folgada:
A Companhia continua a penar,
Há sempre mais trapalhada.
Quando acabaremos de emboscar
Essa maldita carreirada ?
Estou a ver isto tantas vezes
Nada tendes a dizer, nada fizesteis...
Narro agora as colunas, narro as picadas,
De uma companhia tão lixadsa
Que durantte um ano só viu emboascadas,
Sonhou vida mais regalada;
Que gramou constantes chuvasdas
E ferradelas da atroz mosquitada.
Que, matando a febre de Sitató,
Foi pilhada na bolsa de Faringó.
Meses de tragalho e esgotamento
Ficam lembrados neste papel;
De Cuntima, o reordenamento,
Em Nema, emboscando Lamel.
Que mais teremos de tormento ?
Qual será o róximo pimcel ?
Deixemos a roleta rodar,
Até quando podem as forças durar ?
Trista sina nos fazem acarretar
Não lobrigo a vida folgada:
A Companhia continua a penar,
Há sempre mais trapalhada.
Quando acabaremos de emboscar
Essa maldita carreirada ?
Estou a ver isto tantas vezes
Que penso só daqui a nove ou dez meses...
Depois de tantaas fornicadelas,
Há de vir por força a bonança,
E então firmes nas canelas
Acabará para todos a estafança;
E em copos afogaremos todas elas
Quando deixarmos esta matança.
E a caminho da nossa terra
Gritaremos: camaradas, acabou a guerra! (***)
Alferes miliciano Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira) (****)
(Revisão / fixação de texto: LG)
Em 4ago69, substituindo o COP 3, assumiu a responsabilidade do Sector O2 (Oeste Dois), novamente transferido para esta zona de acção, com a sede em Farim e abrangendo os subsectores de Cuntima, Jumbembém, Canjambari e Farim.
Desenvolveu intensa actividade operacional, particularmente orientada para a contrapenetração nas linhas de infiltração de Lamel e Sitató, para a segurança e controlo dos itinerários, para impedir a instalação de bases inimigas na sua zona de acção e ainda para a segurança, defesa e construção de aldeamentos e promoção socioeconómica das populações.
Depois de tantaas fornicadelas,
Há de vir por força a bonança,
E então firmes nas canelas
Acabará para todos a estafança;
E em copos afogaremos todas elas
Quando deixarmos esta matança.
E a caminho da nossa terra
Gritaremos: camaradas, acabou a guerra! (***)
Alferes miliciano Ferreira (Manuel do Carmo Ferreira) (****)
(Revisão / fixação de texto: LG)
(Foto à esquerda: o nosso camarada Manuel do Carmo Ferreira, ainda cadete em Mafra, c. 1968; cortesia de Carlos Silva, poste P2525)
2. Ficha de unidade CCAÇ 2549 / BCAÇ 2879
Identificação; BCaç 2879
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes
Cmdt: TCor Inf Manuel Agostinho Ferreira | TCor Inf António José Ribeiro | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto
2.° Cmdt: Maj Inf Alexandre Augusto Durão Lopes
OInfOp/Adj: Maj Inf Lourenço Calisto Aires
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes
Cmdt: TCor Inf Manuel Agostinho Ferreira | TCor Inf António José Ribeiro | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto
2.° Cmdt: Maj Inf Alexandre Augusto Durão Lopes
OInfOp/Adj: Maj Inf Lourenço Calisto Aires
Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Manuel Landeiro | Cap Mil Art José Manuel Lopes do Nascimento
CCaç 2547: Cap Mil Art José Fernando Covas Lima de Carvalho |! Cap Mil Art João José Pires de Almeida Loureiro
CCaç 2548: Cap Mil Inf Luís Fernando da Fonseca Sobral
CCaç 2549: Cap Inf Vasco Correia Lourenço
Divisa: -
Partida: Embarque em 19ju169; desembarque em 25Jul69 | Regresso: Embarque em 26jn71
CCS: Cap SGE Manuel Landeiro | Cap Mil Art José Manuel Lopes do Nascimento
CCaç 2547: Cap Mil Art José Fernando Covas Lima de Carvalho |! Cap Mil Art João José Pires de Almeida Loureiro
CCaç 2548: Cap Mil Inf Luís Fernando da Fonseca Sobral
CCaç 2549: Cap Inf Vasco Correia Lourenço
Divisa: -
Partida: Embarque em 19ju169; desembarque em 25Jul69 | Regresso: Embarque em 26jn71
Síntese da Atividade Operacional
Em 4ago69, substituindo o COP 3, assumiu a responsabilidade do Sector O2 (Oeste Dois), novamente transferido para esta zona de acção, com a sede em Farim e abrangendo os subsectores de Cuntima, Jumbembém, Canjambari e Farim.
Em 25abr71, foi incluída na zona de acção do sector a área do destacamento de Binta, transferida do COP 3. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.
Desenvolveu intensa actividade operacional, particularmente orientada para a contrapenetração nas linhas de infiltração de Lamel e Sitató, para a segurança e controlo dos itinerários, para impedir a instalação de bases inimigas na sua zona de acção e ainda para a segurança, defesa e construção de aldeamentos e promoção socioeconómica das populações.
Pelos resultados obtidos e pela acção continuada de contrapenetração, destacam-se as operações "Camélia", "Caminhos Detidos", "Barragem Contínua" e "Corvina", entre outras.
Do armamento capturado mais significativo, salienta-se: 2 canhões sem recuo, 6 metralhadoras ligeiras, 43 pistolas-metralhadoras, 25 espingardas, 3 LGFog, 660 granadas de armas pesadas e mais de 155 mil munições.
***
A CCaç 2549 seguiu em 30jul69 para Cuntima, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCaç 1789, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector em 4ag069 e ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 17Ju170, por troca com a CCaç 2547, foi colocada em Farim, com um pelotão destacado em Saliquinhedim /K3, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector e colaborando também no esforço de contrapenetração no corredor de Lamel.
Em 12jun71, foi rendida pela CArt 3358 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 110 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 127/129.
Em 17Ju170, por troca com a CCaç 2547, foi colocada em Farim, com um pelotão destacado em Saliquinhedim /K3, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector e colaborando também no esforço de contrapenetração no corredor de Lamel.
Em 12jun71, foi rendida pela CArt 3358 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 110 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 127/129.
Sobre Cuntima, ver a carta de Carolina do Norte (1956), escala 1/50 mil
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Notas de leitura:
(*) Vd, poste de 16 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5657: Notas de leitura (55): No Regresso Vinham Todos, de Vasco Lourenço (Beja Santos)
(**) 23 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: As Nossas Tropas - Quem foi quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril
(****) Vd. poste de 15 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)
9 comentários:
... já houve ocasião, em tempo e locais apropriados, de me pronunciar sobre a epígrafe desse livrinho escrito pelo kamarada VCL Don Melena y Pá - presidente vitalício da A25A -, cujo, além de farsas, contém iniludível mentira: no regresso vieram todos, menos um.
Carlos Gabriel Nunes, nascido em Avis, furriel miliciano atirador n/m 00609869 integrado na CCac2549/BCac2879/RI15-Tomar, no sábado 10Out1970 cometeu suicídio no aquartelamento de Farim, sendo que a versão oficial é de "tiro inopinado, acidente por outros motivos"; encontra-se inumado no cemitério paroquial da sua naturalidade, onde a sua Alma descansa em Paz.
Além da carência de rigor histórico, conviria, a bem da honestidade intelectual e da sanidade mental dos Portugueses, cessar de vez com louvaminhas a tudo quanto se diz e se escreve a propósito e/ou despropósito do 25A...
Daqui mando um abraço fraterno aos camaradas da 2549 e 2547, que comigo palmilharam o mato e as bolanhas da zona de intervenção de Cuntima, abraço extensivo à 2548 que esteve em Junbembem. Durante o mês de Dezembro de 1970 esteve o meu grupo integrado como reforço da 2549, executando interdições no corredor de Lamel. O fur. mil. Carlos Gabriel Nunes, tinha ido substituir o fur. mil. Eduardo Biscaia, evacuado com hepatite. Efectivamente, todos os homens que integravam a 2549 à data do embarque para a Guiné regressaram.
Abraço
Eduardo Estrela
António Biscaia e não Eduardo Biscaia.
As minhas desculpas. As
Sr. Eduardo Estrela, que em 1969-1971 serviu Portugal na Província Ultramarina da Guiné como furriel miliciano atirador de infantaria integrado na CCac14/CTIG,
Agradeço a particularidade do seu à-parte relativo à circunstância em que o malogrado Carlos Gabriel Nunes substituiu na CCac2549 um outro militar daquela subunidade.
Não tendo, manifestamente, v. pertencido à Unidade comandada por VCL, aqui veio na perspectiva de desmentir o que, sustentado em comprovada e indesmentível factualidade, afirmei - e reafirmo - no meu precedente comentário.
Cpts
Como é óbvio eu não desminto absolutamente nada. Limitei-me a mencionar o facto do malogrado Carlos Gabriel Nunes ter ido substituir o António Biscaia. Todos os militares da CCaç 2549 embarcados para a Guiné em julho de 1969 regressaram.
Cumprimentos
Nema e não "Nerma", peço desculpa, aos nossos leitores, do erro no topónimo, que aparece no subtítulo.
Eduardo Francisco Cruz Estrela, decerto na sua afinada percepção deverá ter entendido o meu absoluto desinteresse em trocas-de-galhardetes e/ou rodriguinhos, consigo ou quaisquer intervenientes deste 'blog'.
No que fez, é óbvio não se ter "limitado a mencionar um facto", tão somente a lançar soez provocação, acobertada pela não despicienda circunstância de ser camarada do proprietário deste 'blog'.
A sua desconversa, com a minha pessoa, termina aqui.
Passe bem.
Passe v. melhor
Meu caro Eduardo
As madeiras primárias utilizadas na construção de violinos, violoncelos e violas são o abeto para o tampo superior; e o bordo para o tampo inferior, as partes laterais e o braço. A estrutura é reforçada interiormente com salgueiro, e para as cravelhas e o ponto é utilizado ébano. Era com estes materiais que Antonio Stradivari construía os seus instrumentos. Especula-se sobre o tratamento que o luthier dava à madeira que utilizava; contudo, provas científicas mostram que elementos químicos como fluoreto, bórax, crómio e sais de ferro estão presentes na composição da mesma.
Abraço, saúde e boas caldeiradas.
Valdemar Queiroz
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