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segunda-feira, 7 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23054: Memórias do Chico: Refugiado na sua própria terra durante a guerra civil de 1998/99: 200 km e oito dias de aflição, entre Bissau e Fajonquito (Cherno Baldé) - III (e última) Parte: 14-15 de junho de 1998, "lar, doce lar"...


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Centro de Instrução Militar de Contuboel > CCAÇ 2479 / CART 11 (1968/69) > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece (mas parece ser uma cara "familitar", a de futuro soldado da CCAÇ 12) ... A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas, anorte: Ginani (17 km), Talicó (22 km), Canhamina (27 km), Fajonquito (30 km), Saré Bacar (39 km), Farim (96 km)...
 
Foto (e legeenda) © Renato Monteiro (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1972/74 > Rua principal de Fajonquito. Foto do álbum do José Cortes, ex-Fur Mil At Inf (CCAÇ 3549, Fajonquito, 1972/74 

Foto (e legeenda) © José Cortes (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


RECORDAÇÕES DA GUERRA DE BISSAU,
O CONFLITO POLITICO-MILITAR DE 7 DE JUNHO DE 1998


III (e Última) Parte - De 14 a 15 de junho de 1998:  
De Bafatá a Fajonquito


por Cherno Baldé (*)


8º dia, 14 de junho, domingo, Bafatá: recordações dos tempos de estudante e da OPAD - Organização Pioneiros Abel Djassi (1975/79)

Na tarde do dia 14 de junho de 1998, uma semana depois do inicio da guerra ( a 7 de junho), chegámos à cidade de Bafatá. E durante a viagem, para já, o único acontecimento de relevo tinha sido o facto do jovem condutor decidir voltar, ainda, até Nhacra antes de virar o rosto do camião para leste. 

Tive medo sim, por algum momento, por causa dos imprevistos e imponderáveis a que estava sujeito qualquer veículo equipado de motor e assente sobre um monte de ferralha e rodas de borracha. Se acontecesse alguma avaria ao camião seria uma grande desgraça para nós que voltávamos para trás depois de termos alcançado lugares seguros. 

Era uma aventura perigosa. Para me acalmar, dizia a mim mesmo que não havia razão para entrar em pânico e repetia isso várias vezes à minha consciência, mas sempre que olhava para as crianças o medo voltava a me invadir de novo.

Ao atravessarmos a ponte de Finete, perto de Bambadinca, entrámos na zona controlada pelos governamentais que, a acreditar naquilo que tínhamos visto no caminho, oferecia maior segurança as populações civis. Junto à ponte estava um destacamento de tropas da Guiné-Conacri e alguns tanques de guerra dissimulados no meio do arvoredo. Tudo novinho em folha. 

Depois de Bantandjan, finalmente, chegámos à cidade de Bafatá.

Mas antes, o camião atravessou a ponte sobre um braço do rio Geba, por onde corria a água turva carregada de material orgânico com que fertiliza as bolanhas nas suas margens, passou pela antiga fábrica de cerâmica, atravessou a rua Porto, passando pelo Liceu, o nosso velho Liceu onde está situado o memorial de Amílcar Cabral e foi parar no Bairro de Sintchã Bonódji, na saída para Gabú.

Sem contar com o número de pessoas que tinha afluído a esta cidade leste do país, fugindo da guerra de Bissau, não se notava qualquer diferença. Sim, Bafatá era ainda a mesma cidade de sempre, preguiçosamente estendida no dorso de um planalto meio adormecido que tínhamos deixado 27 anos atrás, quando partimos para continuar os estudos em Bissau (em 1979).

Esta cidade não será, certamente, a pior localidade da Guiné, mas para mim foi um inferno durante uns longos anos dos quais conservo uma péssima recordação dos tempos de estudante. Aqui, de rafeiro saído de um antigo quartel de brancos e filho querido de um lojeiro de uma pacata aldeia que, no fulgor da sua inocência, pontapeava o prato de farinha de milho que a avó lhe trazia à noite, tinha-se transformado num verdadeiro cão vadio. Nunca e em lugar algum tinha merecido tanto este animalesco cognome.

Lembrei-me de Boma (situada à frente do quartel), suas árvores frondosas e a água fresca das suas nascentes onde íamos esconder-se das brasas do calor que arrasavam os Bairros situados na parte mais elevada do planalto e a Ponte Nova e onde, também, íamos enganar a fúria das nossas fomes insaciáveis de estudantes sem tecto, fingindo estudar. 

O guarda da plantação de mangueiras e cajueiros nas profundezas de Boma cujo nome era Sekuel (1), nos conhecia de cor e deixava-nos assaltar a sua horta, na certeza de que não adiantava muito tentar impedir-nos. Era uma pessoa dotada de grande humanismo e de bom senso, vacilando entre as suas obrigações de guarda e os sentimentos de piedade para com crianças deserdadas. No princípio ainda tentou, mas rapidamente teria notado que, empurrados pela fome, a nossa insistência e capacidade de resistência eram fora do comum.

 Não tínhamos alternativa. Acabou por nos aceitar como se aceita a presença de animais roedores dentro da própria casa. De facto, durante mais de cinco anos, conseguimos sobreviver graças a nossa perícia em roubar e mendigar peixe e frutas, ora nos mercados ora nas hortas à volta da Cidade.

Foto à esquerda: OPAD - Organização Pioneiros Abel Djassi. Foto de perfil, página do Facebook (com a devida vénia...)


Ali estava Bafatá com os seus habitantes avaros e a sua juventude implacável que aceitava mal a invasão da mocidade mal fardada,  vinda das tabancas ao seu redor a quem apelidavam de mocidade treco (2). 

O certo é que, por qualquer razão, as nossas fardas destoavam sempre dos da cidade. Foi assim no tempo da mocidade portuguesa e foi assim com os pioneiros Abel Djassi. A farda era a mesma, mas a tonalidade das cores era sempre diferente. As meias, calções e sapatilhas não eram tão castanhos como se devia, a camisa era verde ou azul mas não tão verde ou azul como se devia e isto era motivo de chacota e de corre-corre entre os jovens incautos que tinham aceitado a aventura das paradas e acampamentos na cidade. Faziam-no de propósito, para se divertir.

Vindos de Contuboel, Gabú, Sonaco, Cossé, Pirada, Bajocunda, Paunca, Pitche, Bambadinca, Quebo, entre outras localidades, e abandonados numa cidade inospitaleira, o nosso bando era formado por jovens de todas as regiões, de todas as cores, com uma particularidade bem marcante. Todos tinham nascido e crescido com a guerra colonial e todos eram originários de antigos centros de aquartelamento de tropas portuguesas e muitos tinham aprendido as primeiras letras com soldados e oficiais portugueses.

Esta era, para todos os efeitos, a primeira geração formada nas escolas portuguesas dentro da comunidade Fula e talvez de todos os grupos étnicos (chamados gentílicos) na zona leste da Guiné-Bissau. 

A administração portuguesa só tardiamente (com o General Spínola), se tinha resolvido a seguir os conselhos de Teixeira Pinto, ainda no princípio do século XX, de criar escolas para os nativos em todos os postos militares, convencido que, a coragem e irredutibilidade do Guinéu estaria ao mesmo nível do seu obscurantismo (R. Pélissiér – História da Guiné).Mas, no fim, foram o PAIGC e a independência que colheram os louros da formação de quadros,  iniciada na década de 60 e acelerada a partir de 70.

Quando apanhavam um dos nossos durante os saques, os outros vinham em grupo ajudar o companheiro infeliz. Tínhamos regras a que éramos muito fieis, ajudar um ao outro e nunca faltar às aulas, com ou sem fome. Era a mesma lógica no enfrentar das situações de perigo e de necessidade. Roubar ou morrer de fome.


9º dia, 15 de junho, segunda feira, Fajonquito:  "lar, doce lar"...

A nossa estadia em Bafatá, não demorou muito, estávamos apressados. Dormimos uma noite e na manhã seguinte partimos para Fajonquito

Antes de partir, acompanhámos a Djenaba e as suas crianças a fim de apanharem o transporte que os conduziria até Bambadinca donde partiriam para a aldeia dos pais em Cacine, no sul do país. Despendi parte do meu dinheiro para os ajudar a alimentar-se durante o trajecto que seria, longo e, certamente, difícil nessa altura. (Distância Bambadinca-Cacine, 103 km).

Podia estar orgulhoso do meu trabalho, pois apesar das dificuldades, tinha conseguido tirar de Bissau duas famílias, ou seja,  10 pessoas. Também, já não restavam dúvidas que esta guerra iria durar. Foi com este pensamento que me despedi deles e da cidade de Bafatá, rumo à minha terra natal.

Engraçado, agora que estava a alguns quilómetros da minha tabanca, lembrei-me que o meu filho, nascido e criado na cidade, não sabia falar a nossa língua, como dizem os Fulas, era macaco que não sabia trepar

Também eu, alguns anos antes, não sendo filho de gente da cidade, quando me mudei para Bafatá, ainda não falava o crioulo. O meu filho fazia o percurso inverso num contexto e condições diferentes, porém, havia uma constante, era o mesmo país de sempre, a Guiné-Bissau como a Guiné de Cabo Verde, no desequilíbrio da balança, oscilando entre a guerra e a paz.
                                                                   
Bissau, de Junho a Dezembro de 2000
                                                                          
Cherno Abdulai Baldé
__________

Notas do autor:

(1) O sufixo el depois de qualquer nome na língua fula- Sekuel, Gadamael- Contuboel- significa pequenino e, logo, lindo. A beleza, entre os fulas, é algo intimamente associado ao que é pequeno, que não é grande.


5 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23050: Memórias do Chico: Refugiado na sua própria terra durante a guerra civil de 1998/99: 200 km e oito dias de aflição, entre Bissau e Fajonquito (Cherno Baldé) - Parte I: Bissau, 7-11 de junho de 1998

sábado, 16 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13505: Quem era, afinal, o cap art Carlos Borges de Figueiredo, cmdt da CART 2742 (Fajonquito, 1970/72), morto em 2/4/1972, num sangrento domingo de Páscoa? Bem como o infeliz sold Pedro José Aleixo de Almeida? (José Cortes / Luís Graça / Carlos 'Gomes' / Cherno Baldé / António Bernardo)

1. Uma das versões sobre a tragédia de Fajonquito, ocorrida no domingo de Páscoa, de 2 de abril de 1972, já aqui nos foi contada pelo José Cortes, ou melhor, foi-me contada de de viva voz, ao telefone, pelo José Cortes e reproduzida por mim (*).

Recorde-se que o José  Corttes [, foto atual à direita], vive em Coimbra, trabalhou como técnico de manutenção nos SUCH [, Serviços de Utilização Comum dos Hospitais] e  foi fur mil at inf Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74, a companhia que foi render a CART 2742 de que o cap art Carlos Borges de Figueiredo foi comandante até 2/4/1972.

O José Cortes falou-me com emoção desses tempos da Guiné. Ele próprio tem um filho que foi paraquedista e esteve em missões de paz (por ex.,Timor, Bósnia). Mas, como muitos outros camaradas, queixa-se de que nem sempre a família tem pachorra para ouvir as suas recordações da Guiné. Uma das que está bem presente na sua memória é a da morte do capitão e mais três ou quatro militares da companhia (a CART 2742, Fajonquito, 1970/72) que eles foram render.

Recorde-se que a CART 2742, comandada pelo cap art Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo alf mil art Baltazar Gomes da Silva, era uma unidade orgânica do BART 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, tendo assumido a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, e  vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972.. 

O José Cortes  tinha-me prometido contar essa história,k por escrito,  mas só não o fez o fez por, alegadamente, ter "fraco jeito para a escrita". Aqui vai, pois, a sua versão oral (*):

(i) havia um soldado da CART  2742 que, uma vez terminada a comissão, queria ficar na Guiné como civil;

(ii) ao que parece o cap art Carlos Borges Figueiredo manifestou, desde logo, a sua firme oposição à ideia do soldado, de resto  contrária a todo o bom senso e sobretudo ao RDM: ter-lhe ditro;: "se viesrte comigo, voltas comigo!";

(iii)  em consequência, as relações entre  o soldado da CART 2742  e o seu comandante tornaram-se conflituosas; neste contencioso, foi envolvido  também o primeiro sargento;

(iv) a mulher do capitão havia mandado, da metrópole, "dez quilos de amêndoas" (sic)  para distribuir pelo pessoal da companhia; a distribuição foi feita pelo próprio comandante, no refeitório, no domingo de Páscoa, 2 de Abril de 1972;

(v) quando chegou a vez do soldado em questão, o capitão terá passado à frente, num ato que aquele interpretou como de intolerável discriminação;

(vi) o soldado levantou-se, sem pedir a licença a ninguém, e saiu do refeitório;  dirigiu-se ao seu abrigo (ou à sua caserna) e veio para a parada com "duas granadas de mão já descavilhadas", uma em cada mão (umna cena digna dos filmes do Faroeste);

(vii) foi direito à secretaria: o primeiro sargento ter-se-á apercebido, a tempo, das malévolas  intenções do soldado, tendo-se posto a salvo em bom tempo;

(viii) no interior da secretaria, estavam  o capitão, um alferes e um furriel; ninguém sabe o que se terá  passado  lá dentro; o  soldado terá deixado  cair as duas granadas, descavilhadas; o teto da secretaria foi pelos ares;  lá dentro ficaram 4 cadáveres

(ix) mortos, em 2/4/1972, todos do Exército, por acidente (sic), constam os seguintes nomes, na lista dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes:

  • Alcino Franco Jorge da Silva, fur mil;
  • Carlos Borges de Figueiredo, cap art;
  • José Fernando Rodrigues Félix, alf mil;
  • Pedro José Aleixo de Almeida, sold básico.

(x) sabemos que o sold básico Pedro José Aleixo de Almeida era natural de Portel, em cujo cemitério local repousam os seus restos mortais; foi o protagonista desta trágica história (fonte: Portal Ultramar Terraweb > Os mortos em campanha do BART 2920, 1970/72);

(xi) por sua vez, o  alf mil art op esp José Fernando Rodrigues Félix era de Moimenta da Beira em cujo cemitério local está sepultado:

(xii) o cap mil art Carlos Borges de Figueiredo era natural de Vila Pouca de Aguiar; a  sua última morada era Meadela, Viana do Castelo, possivelmente a terra da sua esposa;

(xiii) por último, o fur mil Alcino Franco Jorge da Silva também era de op esp,  sendo natural de Carcavelos. Cascais; está sepultado no cemitério de S. Domingos de Rana;

(xiv) não sabemos o que faziam os dois rangers na secretaria, possivelmente terão vindo em auxílio do capitão com a intenção de desarmar o militar, o sold básico  Pedro José Aleixo de Almeida, que trazia consigo as duas granadas descavilhadas (ou só uma, segundo outras versões), pronto possivelmente para acaber com a sua vida e de quem mais se lhe atravessase no caminho;

(xv)  o José Cortes fala em cinco mortos, mas tudo indica que sejam apenas os quatro que constam da lista da Liga dos Combatentes;

(xvi) li, em tempos, que o caso foi também utilizado pelo serviço de propaganda do PAIGC (nomeadamente pela "Maria Turra", da Rádio Libertação) para desmoralizar as tropas portuguesas: há um documento do PAIGC, no Arquivo Amílcar Cabral, no portal Casa Comum, desenvolvido pela  Fundação Mário Soares (FMS), que faz referência ao sucedido, e e que de momento não consigo localizar;

(xvii) o facto de o insólito caso ter ocorrido em Fajonquito, na fronteira com o Senegal, significa que foi de imediato conhecido da população local, das autoridades do Senegal e do PAIGC; o nosso Cherno Baldé, na altura com 10/11 anos, faz referência, num dos seus postes a este trágico "acidente", que ocorreu a 100 metros, quando ele estava a brincar com outros putos na parada (**);

(xviii) gostaríamos de ter outras versões deste acontecimento; infelizmente não temos ninguém, na nossa Tabanca Grande, da CART 2742 / BART 2920; julgo que seja difícil, ainda hoje, aos camaradas da CART 2742 abordar esta história, tão trágica quanto absurda...


 2. Comentário de L. G.:

Infelizmente, este caso não foi único no TO da Guiné: o acesso fácil a armas de guerra e a usura física e mental da guerra ajudam também a explicar estes surtos de violência patológica que, de tempos a tempos, ocorriam nas nossas fileiras.

Quantos suicídios terão havido no CTIG, ao longo da guerra ? Quantos homícídios terão ocorrido, dentro das NT ? 

Na lógica da hierarquia militar, estes casos eram eufemistica e hipocriticamente tratados como "acidentes com armas de fogo" (sic).... E assim ficarão, para a história - como acidentes, inexplicáveis - , se não houver da parte dos contemporâneas e das testemunhas presenciais destes casos a vontade de contribuir, com depoimentos em primeira mão, para o seu esclarecimento...

Intrigam-nos casos como este. O que podia levar um militar português a querer ficar na Guiné, na vida civil ? 
  • Podia não ter ninguém à sua espera, na sua terra, não ter família, não ter amigosM;
  • podia, por qualquer razão, querer esquecer a sua origem ou condição;
  • podia estar perdido de amores por alguma bajuda;
  • podia estar pura e simplesmente deprimido ou psicótico...

Um indivíduo deprimido ou psicótico pode facilmente perder a noção do perigo, ficar indiferente a uma situação de perigo imediato e iminente, e até desejar a sua própria morte. Não nos parece ter sido uma acção premeditada, pensada e amadurecida a frio... Em princípio, foi uma acção precipitada, irreflectida, impulsiva. O tal "acto de loucura" da "vox populi"... 

A ser verdade que o capitão deliberadamente ou não discriminou o soldado, aquando da distribuição das amêndoas, isso poderá ser sido "a gota de água" que transformou um conflito disciplinar num massacre... No final da comissão de uma companhia, na festa do em que se celebrava o dever cumprido, no domingo (afinal, sangrento) de Páscoa de 2 de Abril de 1972...

3. Comentário do nosso leitor (e camarada) Carlos Gomes (*):

Gostava de comentar o drama da Páscoa de 72 em Fajonquito. Longe de mim fazer juizos de valores, de quem quer que seja, nem fomentar polémicas. Da CCS do BART 2920 fui destacado como enfermeiro para a CART 2742, sediada em Fajonquito,  no periodo de 2 dezembro 70 a 20 maio de 71. Por conseguinte um ano antes do trágico acontecimento [2/4/1972]. Se bem me lembro, foi nesse periodo que também chegou o sold Almeida à CART  2742. Dizia-se que ele vinha dos comandos, expulso  ou castigado.

Conheci o Almeida quase de imediato, pois ele tinha problemas de pele em várias partes do corpo que passei a tratar. Passado algum tempo  apercebi-me  que ele,  Almeida,  tinha algumas pertubações a nivel emocional. Não esqueço a forma maliciosa como a rapaziada o apelidava  ou tratava: Almeida, "apanhado, bate mal da bola, maluco"... 

O Almeida estava sempre a alinhar nas saídas para o mato, dava para perceber que as relações com o comandante da companhia não eram das melhores. Lembro um episódio em que o Almeida lavava os dentes à porta da camarata e o cap Figueiredo lhe chamar a atenção para o que estava a fazer, o que gerou entre ambos alguma discussão.

Como é óbvio,  tambem conheci o cap Figueiredo, algumas vezes lhe prestei assistência. Homem possante e de elevada estatura, era um  eximio jogador de futebol de salão. Pelo que sei era militar de carreira (e não miliciano). As suas atitudes na liderança da companhia,  em vez de gerar confiança, tinham o efeito contrário. Eu sempre que podia,  evitava-o...

2 de Abril  de 1972: Tragédia.  Pelos relatos que me chegaram,  o Almeida passou-se  de todo,  queria o ajuste de contas com o capitão  e o primeiro sargento...Com uma granada na mão, descavilhada, entra na secretaria onde pretende ficar com o capitão  e o sargento. O alf Alcino e o furriel Félix tentaram demover o Almeida. Disse-se que o Almeida gritou para que eles saíssem,  ao alferes e ao  furriel, o que não fizeram ou não tiveram tempo de o fazer. Quanto ao sargento, talvez só ele possa dizer como escapou.

As razões para este acto tavez no concreto nunca se venham a saber, mas duma coisa tenho eu a certeza: actos como estes e tantos outros que aconteceram nesta guerra, não aconteceram por acaso (...)

4. Comentário do Cherno Baldé (**)

(..:) Depois do "acidente" ou melhor do homicidio, a versão que circulou e ficou até hoje entre a população nativa é bem diferente daquela que estou a ler agora na maior parte dos comentários. 

Pela versão que prevaleceu entre nós, alegadamente, o soldado Almeida estava revoltado por não poder voltar à sua terra após várias comissões de serviço, em virtude de um castigo a que estava sujeito e tinha decidido acabar com a sua vida e com ele, também, a do comandante da companhia. Claro que isto faz parte dos rumores que circularam, na ausência de informações oficiais, na altura.

Quero dizer a quem me quiser ouvir, e isto por minha conta, que o Almeida era um soldado "profissional" muito aguerrido que dificilmente poderia levar uma vida civil pacata no meio indígena ou gerindo uma lojeca ou um restaurante para servir a malta europeia numa cidade qualquer da Guiné. 

O Almeida não era um soldado vulgar e via-se claramente que no se tinha integrado na companhia dos restantes soldados milicianos aos quais ele nutria muita pouca consideração e/ou respeito.Tão pouco se podia integrar no meio dos pretos,  embora se identificasse com eles. Penso que, antes de mais, o nosso amigo Ameida (ele era de facto um amigo e defensor das crianças que frequentavam o aquartelamento, ai de quem se atrevesse a fazer mal a uma criançaa na sua presença!) deve ter sido mais uma das inúmeras vitimas daquela guerra terrível. (..)


 

Guiné > Região de Bafatá > Fajonquito > CART 2742 (1970/72) >  "Fajonquito em festa... Com a CART 2742 (1970-72) o ambiente entre a tropa e a população melhorou bastante, atingindo níveis nunca antes vistos. A foto de 1971 (amigavelmente enviada pelo ex-Furriel Mil. José Bebiano), mostra uma calorosa recepção de um grupo de artistas vindos da metrópole para animar a malta. Ao meio e ao lado de uma das artistas pode-se ver o nosso saudoso Cap Carlos Borges de Figueiredo. O rapazinho nas mãos do homem dos óculos escuros é o Carlitos, filho de um soldado português que, mais tarde, iria à procura do pai, tendo aquele recusado o encontro à última da hora. O ex-Furriel José Bebiano, que era de rendição individual, tendo feito toda a sua comissão em Fajonquito poderia, eventualmente, identificar os soldados que acompanham o seu Comandante nesta foto." (Foto de José Bebiaao; legenda de Cherno Baldé).

5. Cherno Baldé > Homenagem póstuma ao Cap Carlos Borges de Figueiredo (**)

(...) Em 1970 chegou uma nova companhia (CART 2742 do Cap Figueiredo) e com ele inaugurou-se o período mais profícuo e dinâmico de Fajonquito. Nessa altura sentiu-se, de facto, que a Guiné estava a mudar e positivamente. Foi nessa altura, também, que acabei por me fixar no quartel como faxina num dos quartos da ferrugem (condutores), onde tinha a clara consciência de estar no meio de amigos, mas nem por isso isento de perigos. Sentia-me a vontade quando estava na caserna com os meus amigos condutores, mas sempre vigilante quando deambulava sozinho dentro do quartel. A idade, o stress provocado pela guerra, as saudades da terra natal e, provavelmente, o sentimento de impunidade por actos considerados menores, propiciavam alguns exageros em forma de brincadeira que não eram sancionados. Claro está que, salvo raras excepções, normalmente os lobos não se comem uns aos outros.

O Cap Figueiredo baniu a proibição da entrada no quartel, abriu as portas aos meninos, mas como contra partida pediu para que todos fossem à escola depois das horas de trabalho de faxina. Não era agradável, mas compensava. Pela primeira vez, foram colocados postes de iluminação na rua principal da vila, para alegria da criançada. Os oficiais da companhia davam apoio aos professores locais dentro e fora das aulas, com modalidades de futebol e ginástica. Foi instituída uma merenda para todos os alunos e prémios aos que se distinguiam nas aulas e nos exames finais, por exemplo, a participação nos campos de férias da Mocidade Portuguesa.

Muitas das pessoas que hoje são quadros nacionais na Guiné-Bissau têm uma dívida de gratidão aos soldados portugueses que, como o Cap  Figueiredo e o grupo dos seus oficiais e sargentos, contribuíram para a sua formação de base. 

O meu caso não é paradigmático porque fui obrigado a ir às aulas que detestava com todas as minhas forças, mas a teimosia dos meus pais, em particular a minha avó, e também, porque o quartel já não servia de refúgio aos refractários, tinha que cumprir as condições do nosso Capitão, depois pouco a pouco o meu horizonte que antes estava confinado à vida da minha aldeia e arredores, foi-se abrindo as maravilhas da ciência e do mundo externo.

Mas como se costuma dizer, Deus escreve direito por linhas tortas, porque,  depois de tudo o que fizeram por nós, estava predestinado que ele e parte dos seus oficiais nunca voltariam à sua terra natal. Eis a razão desta homenagem, também, ao Cap Carlos Borges de Figueiredo.

A toda a sua família e aos que o conheceram ou partilharam parte da sua vida e do seu percurso, quero expressar, em meu nome pessoal e em nome de todos os habitantes de Fajonquito, os meus sentimentos de pesar, mesmo que tardios e enaltecer o comportamento do Cap Figueiredo, como homem e como militar que, a justo título, foi um comandante exemplar para a sua época, que veio, sem medo, para o cenário da guerra trazendo consigo a semente da paz; que sem descurar a defesa dos seus homens, transformou as operações militares em operações para a promoção do desenvolvimento; acreditou na capacidade dos mais novos para a construção de uma Guiné melhor sem esquecer a sabedoria dos mais velhos; que investiu parte dos poucos recursos de que dispunha numa derradeira tentativa de construção dos fundamentos do homem novo que a Guiné tanto precisava.

Carlos Borges de Figueiredo foi oficial e comandante que compreendeu como poucos e soube executar com mestria a nova filosofia que o Gen Spínola queria com a sua politica "Por uma Guiné Melhor” (...)

6. Comentário de António Bernardo [nosso leitor e camarada, mas não registado na Tabanca Grande; pertenceu à CCS/BART 2920]

Muito embora, seja um dos melhores textos do Cherno Baldé (**), o mesmo peca por um  retrato falseado, no que respeita ao cap art Carlos Borges de Figueiredo, cmdt da CArt 2742, sedeada em Fajonquito e subunidade do BArt 2920 (1970/72).

É bom lembrar que, embora ostentasse galões nos ombros, era  um homem boçal, diria mesmo que labrego, igual a muitos outros que comandavam outros homens.

A sua personalidade conflituosa levou ao ajuste de contas, ocorrido no domingo de Páscoa,de 2 de Abril de 1972, e aqui já abordado no post 5938 (*)

António Bernardo
[CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72]
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de março de  2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)

(**) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

(**)   Vd. poste de 15 de agosto de  2014 >  Guiné 63/74 - P13500: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (47): Retrato de uma família - A guerra, a pobreza e a presença dos soldados portugueses

Vd. também  poste de 24 de abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6244: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (14): Cap Figueiredo: Capiton Lelö dahdè ou capitão cabeça inclinada

(...) "O que vou dizer pode parecer paradoxal se não incongruente. O Sr. Carlos Borges de Figueiredo, ao contrário de muitos outros, foi um Capitão pacifista pois ele tinha-se distinguido, sobretudo, pela promoção da educação entre as crianças nativas (o número de alunos na escola local tinha aumentado significativamente facto que poderia estar ligado ao ambiente de paz criado e uma grande sensibilidade pelos problemas sociais da população) e organização de eventos sócio-culturais que, não só afastavam, por algumas horas, o espectro da guerra e da morte entre a tropa mas eram também muito úteis e importantes na construção de relações de aproximação e de confiança com a populaçã local, tão prezada por General Spínola.

Foi nessa altura que, pela primeira vez, recebemos a visita de grupos musicais vindos da metrópole. Numa dessas visitas, lembro-me da presença de uma ou mais mulheres cantavam o Fado. A música era muito morna, lenta demais para o nosso gosto temperado na ritmada, quase violenta dança de tambor mandinga. No meio de tudo isso, não nos escapou um detalhe importante. Notamos a deferençaa e o extremo respeito com que todos a(s) tratavam. O respeito dado àquela(s) mulher(res) contrastava de forma flagrante com a maneira como habitualmente lidavam com as nossas mulheres, fossem elas grandes ou pequenas. E não estou a referir-me, claro esta, à esposa do Capitão que, também, deve ter visitado Fajonquito.

Ele ficou conhecido no meio da populacao local com o nome de Capiton Lelö dahdè o que na lingua fula significa o Capitão cabeça inclinada. Talvez aqueles que o conheceram de perto me possam corrigir, parece que ele tinha o hábito de inclinar ligeiramente a cabeça para um dos lados, daí o nome com que o baptizaram e que fica para a historia." (...)

terça-feira, 18 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12852: Convívios (570): CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74): 29 de março, Sezures, Penalva do Castelo... Notícias, boas, por outro lado, do Cherno Baldé, o "Chico de Fajonquito", que está a trabalhar, em Bissau, num projeto do PNUD - Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento




1. Através de mensagem deixada na página do Facebook da Tabanca Grande, soubemos do anúncio do 15º convívio da CCAÇ 3549 / BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74), que se vai realizar no próximo dia 29, em Sezures, Penalva do Castelo, distrito de Viseu (Vd. localização aqui no mapa do Google).

Aqui fica o lembrete. Não temos mais informações: programa, preços, local de encontro, comissão organizadora...

Nos últmos  anos, um dos organizadores dos convívios anuais da malta da CCAÇ 3549 costumava ser o nosso grã-tabanqueiro José Cortes, autor da série Fajonquito do meu tempo

[, José Cortes, de Coimbra, foto atual à esquerda]. 

De qualquer modo, desejamos desde já aos nossos camaradas da CCAÇ 3549, seus amigos e familiares, uma bela e saudável jronada de convívio no próximo dia 29.

2. Temos, em contrapartida,  boas, reconfortantes, notícias do Cherno Baldé, o "menino e moço" de Fajonquito, o Chico de Fajonquito... [, foto à direita, com os 4 filhos, machos, na "festa do carneiro"]

Há dias perguntei por ele, já que o seu silêncio me estava a preocupar:

(...) "O que é feito de ti, querido amigo e irmão Cherno Baldé ? Estou preocupado com o teu "silêncio"... Ou és tu que não estás bem ou, mais provavelmente, somos nós que estamos mal"... (...)

Resposta, trranquilizadora, com data de hoje, de manhã:

Bom dia, irmão Luís Graça:

Eu estou bem e vocês continuam os mesmos de sempre, irreverentes e amigos da Guine e dos Guineenses.



Acontece que desde 2011 já nao estou no meu pacato mas pobre e desorganizado Ministério das Obras Públicas, primeiro passei pela célula de apoio da UE (Coordenação e gestão dos projetos financiados pelo FED) em Bissau,  e muito recentemente passei para um projeto do PNUD  [, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvinmento] e o tempo escasseia.

Um grande abraço,

Cherno Baldé

segunda-feira, 11 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11236: In Memoriam (145): Domingos de Sousa Torres, sold cond Berliet, CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74)...Funeral, hoje, às 10h30, Capela do Senhor dos Aflitos, Canelas, Vila Nova de Gaia... Até sempre, camarada! (José Cortes)


1. Mensagem de ontem, do nosso camarada José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884,Fajonquito, 1972/74 [, foto atual, à esquerda]:


Companheiros: 

É com bastante pesar que informamos da morte do nosso companheiro, Domingos de Sousa TORRES, que era o condutor da Berliet, na nossa companhia.

O funeral realiza-se 2ª feira, dia 11 de Março de 2013.

Amigo Luis, envio duas fotos do nosso amigo Torres, uma da Guiné e outra mais recente,

O corpo encontra-se em câmara ardente, na Capela do senhor dos Aflitos em Canelas, Vila Nova de Gaia, e o funeral é no dia 11/03/13, às 10.30 .









Mais um dia triste. Mais um companheiro da família da CCAÇ 3549,  "Doixós Poisar", que nos deixa. Saibamos honrar a sua memória e a memória dos demais camaradas que da lei da morte já se libertaram. Até sempre, camarada Torres!




Convívio CCAÇ 3549/BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74) > Canelas, Vila de Gaia >  O Torres é o que está em primeiro plano, ao centro,  de pé, junto da bandeira.


Guiné > Zona leste > Fajonquito > CCAÇ 3549/BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74) >  Da esquerda para a direita: Torres, Sérgio e Moreira... E quem serão aqueles dois "djubis", ao canto superior direito ? Um deles poderá ser o Cherno Baldé...


Guiné > Zona leste > Bafatá > CCAÇ 3549/BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74) >Almoço em Bafatá.  Da direita para a esquerda:  (1) Fur Mil Cortes, (2) Fur Mil Trms Farraia (já falecido) , (3) Torres, (4) (?), (5) Fur Mil Coelho, (6) Lobinho (Padeiro), (7) Magalhães, (8) Brás e (9) Paulo Matos.




Guiné > Zona leste > Fajonquito > CCAÇ 3549/BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74) > > Mecânicos e Condutores: da direita para a esquerda: Pinto (Mecânico), Sérgio (Combustíveis), Torres e Araújo (falecido)...

Fotos (e legendas):  © José Cortes (2011/13). Todos os direitos reservados

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9395: In Memoriam (106): Está de luto a CCAÇ 3549, pelo desaparecimento do Mário da Conceição Guedes Teixeira, o "Porto" (José Cortes)



1. O nosso camarada José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884 (Fajonquito, 1972/74), enviou-nos mais uma triste e lamentável mensagem com data de hoje, dia 24 de Janeiro de 2012.


Faleceu o "PORTO"

Pois é companheiros, o meu companheiro da CCAÇ 3549 - Mário da Conceição Guedes Teixeira -, conhecido na companhia por PORTO, faleceu ontem dia 23JAN12, vítima de doença.

Perdemos mais um amigo e não voltaremos a ter a alegria do Porto nos convívios, nem o ouviremos a cantar “Piriquito vai no mato”.

À família enlutada endereço os meus sentimentos em nome da Companhia de Caçadores 3549.

OBRIGADO,  PORTO.

Em anexo uma foto do Porto a dançar com a sua esposa.

José Cortes
Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9312: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (8): Foto do refeitório do destacamento fronteiriço de Sare Uale, disponibilizada pelo Aristides Gomes Teixeira, o nosso ex-padeiro



Guiné > Zona leste > A posição relativa do destacamento de Sare Uale, mesmo junto à fronteira com o Senegal, e que pertencia a Fajonquito, dentro do triângulo Cambaju, Sare Bacar e Contuboel.  Fajonquito fica na carta  de Colina do Norte (1956) (Escala 1/25000). Sare Uale fica já na carta  de Tendinto (que, por qualquer razão, não está disponível "on line", lapso a corrigir em breve).

Fonte: Carta da Provínica da Guiné (1961). Escala 1/500 000 (Pormenor)


1. Mensagem do nosso camarada José Cortes (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74), com data de 1 de Janeiro de 2012:


Caros amigos,

Desejo,  a toda a tertúlia, um Bom Ano de 2012.


A foto que vai em anexo, foi-me enviada pelo camarada Aristides Gomes Teixeira, que era padeiro e esteve neste destacamento de Sare Uale, durante toda a comissão, por opção própria.


Em fundo era o refeitório do pelotão, que estava aí destacado. Passaram por lá os quatro pelotões da companhia e o companheiro Aristides sempre no seu destacamento durante os 26 meses de comissão.


Um abraço,
José Cortes.


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Nota de CV:


(*) Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8983: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (7): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (2)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8983: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (7): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (2)



Publicamos hoje o segundo grupo de fotos enviadas pelo nosso camarada José Cortes (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74) ao nosso tertuliano Cherno Baldé - O Chico de Fajonquito - actualmente Director do Gabinete de Estudos e Planeamento no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau, desta feita referentes aos diversos Encontros da CCAÇ 3549.





1.º Encontro, em Viseu, 25 anos depois de Fajonquito. O quinto e o sexto em cima, são o Mandinga e o Celestino

As nossas mulheres acompanham-nos em todos os Encontros

A minha esposa

O portador da Bandeira Portuguesa é o Mandinga

Eu e a minha esposa

Em baixo: Pinto (Mec), Alf Mil Nelson (falecido), Martins (TRMS), Porto, e três elementos de outra Companhia

Os nossos Encontros são sempre uma festa

O Celestino e o Cunha

Um dos nossos últimos Encontros

Encontro de Canelas. O Torres é o que está em primeiro plano junto da bandeira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8973: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (6): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (1)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8973: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (6): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (1)



Integrada na série "Fajonquito do meu tempo" do nosso camarada José Cortes (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74), apresentamos uma troca de correspondência entre este nosso camarada e um dos seus meninos da Guiné, o nosso tertuliano Cherno Baldé (Engenheiro) actualmente a exercer funções de Director do Gabinete de Estudos e Planeamento no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau.



1. Mensagem de José Cortes endereçada a Cherno Baldé no passado dia 19 de Outubro:

Caro Cherno,
É com bastante prazer que mantenho este contacto contigo, e tenho muito gosto em te fazer recordar os teus tempos de menino.
Vou tentar esclarecer as dúvidas que me pões com respeito às fotografias.

Slide nº 3 - Pois é mesmo o Magalhães Condutor. Não sei o que é feito dele, nunca apareceu aos encontros.
Slide nº 4 - Eu sabia que ias gostar de ver o Dias nessa foto, é a única que tenho com ele.
O Araújo, é mesmo o que tu pensas, também era Condutor. Nunca apareceu aos encontros, porque faleceu antes de 1999, ano em que nos começamos a encontrar.
Slide nº 5 - O Torres, como já te disse vive em Canelas, perto de Vila Nova de Gaia, e está bem.
O Sérgio, tem uma empresa de pneus no norte do país, também o vemos todos os anos.
O Moreira, também tem aparecido aos encontros, e também está bem de saúde.
Slide nº 10 - O Oscar era um operacional do 3º pelotão.
Slide nº 12 - A pessoa que está de pé na 3ª fila é Dias Corneteiro, que estava integrado no 2º pelotão.

Brevemente, irei enviar-te um relato do que tem sido a história da Família Deixós - Poisar, desde o regresso de terras da Guiné.
Aí vai mais uma foto para matares saudades.

Um abraço,
José Cortes


2. Mensagem de Cherno Baldé para José Cortes:

Caro amigo José Cortes,
Já vi e revi vezes sem conta a ultima foto que me enviaste e cada vez é mais forte a minha convicção de que o rapazito mais pequeno que aparece na foto a direita, sou eu em pessoa. Como já disse antes, o colega é o Adama Sunto o qual não tive grandes problemas para reconhecer, eu e ele éramos muito amigos quase que inseparáveis dentro e fora do quartel, portanto é muito lógico que estivéssemos juntos a espreitar nas  Transmissões.

Julgo que o soldado, em primeiro plano, é o teu amigo, o Furriel Farraia. Veja a legenda que produzi na foto, em anexo, e diz-me se corresponde aos factos.

Vi a lista dos nomes inscritos na lápide do poste da bandeira que deve corresponder aos militares mortos pelo soldado Almeida em Abril de 1972, à testa da qual esta o nome do Cap. Figueiredo. Gostaria de saber quando foi feita esta pequena lápide em jeito de memorial aos soldados mortos
no rebentamento da(s) granada(s).

Um abraço amigo,
Cherno Abdulai Baldé
Chico de Fajonquito.

PS. Caso não vejas nisso qualquer inconveniente, gostaria de enviar esta imagem ao nosso amigo Luís Graça a fim de a juntar à colecção das minhas fotos no Blogue.


3. Finalmente a mensagem que Cherno Baldé enviou ao nosso blogue em 21 de Outubro:

Caro amigo Luís Graça e companheiros,
A busca do ex-Soldado Condutor-Auto Dias, cujo nome completo era Manuel Alberto Dias dos Santos, que foi meu amigo e protetor no aquartelamento de Fajonquito acabou por confirmar o pior dos meus pressentimentos, pois ele já não está entre nos, tendo falecido em 2005. O seu desaparecimento constitui uma grande perda para a família e para mim, também, que apesar do tempo e do desgaste da memória ainda tinha alguma esperança de o reencontrar um dia. Todavia, ainda nem tudo está perdido pois, alguns dos seus companheiros estão vivos e de boa saúde, segundo informações do nosso amigo e membro da TG, José Cortes, e pode ser que um dia reencontre alguns.

O José Cortes foi muito prestimoso, e foi quem me deu toda esta informação e ainda me enviou algumas fotos do seu tempo de Fajonquito. Com elas, revivi um pouco daquele tempo em que assistia a todos os jogos, a todos os acontecimentos dentro e fora do quartel. O José Cortes ou simplesmente Cortes para os putos do quartel, era um excelente jogador, possuidor de remates "fodidos" à Eusébio. Por incrível que pareça, numa delas descobri um garoto pequeno e magricela que, tudo leva a crer ser o Chico (eu) o incorrigível rafeiro de Fajonquito, na companhia de um colega. Já solicitei autorização ao José Cortes para poder enviar ao arquivo do blogue esta e mais outras fotos de Fajonquito que ele me enviou recentemente. Ainda não recebi a resposta, mas acho que ele não levara a mal, pois não consegui resistir a tentação de te pôr ao corrente das nossas frutuosas trocas de informação, assim como esta maravilhosa descoberta de uma fotografia com, quase, 40 anos de idade.

De facto, eu era assim, pequenino e traquina, comia pouco e dormia mal em lugares incertos, perseguido por sobressaltos de medos e angústias de alguém que obedecia pouco e vagabundeava mais. De alguém que, muito cedo, queria ser ele próprio, livre de partir ou de ficar, livre de amar ou de odiar, livre de abordar tabus e descobrir enigmas, livre de viver ou de morrer, inclusive no meio de diabos brancos, desconhecidos e do inferno que foi a desgraçada guerra da Guiné que destroçou vidas, fez órfãos e viúvas, quase... quase tudo, por nada (ao escrever estas palavras, que espero não sejam muito duras, não fixo o olhar para uma certa direção, viro-me sim, para o sul e, também, para o norte). Ele era tão apegado ao quartel e seu reboliço, sempre curioso, metido em jogos, brincadeiras e deambulações à volta que, quase, nada escapava aos seus atrevidos olhos de criança.

Por agora, se quiserem, acho que podem publicar as fotos onde está o meu amigo Dias, a equipa de futebol de salão com o Cap. Sao Pedro e aquela do memorial da bandeira, que representa um importante marco da presença dos soldados portugueses em Fajonquito, das tragédias humanas que sempre acompanham as guerras e da minha inevitável presença no aquartelamento de Fajonquito. Para as restantes fotos, agradecia que informassem ou solicitassem ao dono legitimo, José Cortes.

Com um grande abraco,
Cherno AB
Chico de Fajonquito


4. Segue-se uma série de fotos referentes a Fanjoquito, publicadas com a expressa autorização do nosso camarada José Corte. Em próximo poste serão publicadas as restantes fotos, estas referentes aos Encontros da Família Deixós-Poisar.

Fajonquito, casa do Vilela. Eu e o Alaje

Almoço em Bafatá . Da esquerda para a direita: Paulo Matos, Brás, Magalhães, Lobinho (Padeiro), Fur Mil Coelho, ?, Torres, Fur Mil Farraia e Fur Mil Cortes

Mecânicos e Condutores: Pinto (Mec), Sérgio (Combustíveis), Torres e Araújo (falecido)

Torres, Sérgio e Moreira

O terceiro é o falecido Dias

Parque auto - Eu, Fur Mil Bica e Fur Mil Farraia (falecido)

Rua Principal de Fajonquito

1- Em primeiro plano: O Fur Mil Farraia das Transmissões, CCAC 3549 (1972/74), junto a bandeira em cuja base se encontra uma lápide feita em memória do Cap. Carlos Borges de Figueiredo e os Soldados mortos no acidente do caso Almeida em Fajonquito no ano de 1972.
2- Ao fundo: As instalações dos serviços das Transmissoes da Companhia.
3- Na varanda da casa estão os rafeiros Adama Sunto e Francisco (Chico), de verdadeiro nome Cherno Abdulai Baldé

Eu e um menino (não sei quem é)

De pé; Cap. São Pedro, Ferreira, Cunha, eu e Fininho. Em baixo: Esteves, Óscar e Fur Mil Pina

Entrada do quartel

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6061: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (5): A mina A/P que estropiou o Vasconcelos na estrada para Cambajú