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domingo, 23 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22934: In Memoriam (425): Vasco Pires (1948-2016), um grande abraço, camarada, amigo e companheiro, lá onde estiveres!... Só agora soube do teu falecimento (Carlos Arnaut, ex-alf mil , 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)


Vasco Pires (Anadia, 1948- Porto Seguro, Brasil, 2016), ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, é o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu, 1972.


Foto (e legenda): © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72, tem dez referências no nosso blogue; entrou para a Tabanca Grande em 12/9/2020):


Data - 23 jan 2022 12:32
Assunto - Vasco Pires


Bom dia, caro Luís.

Só hoje, ao ler o nosso blogue, tive conhecimento da funesta notícia do desaparecimento do meu camarada e amigo Vasco Pires, galante comandante do pelotão de obuses de Gadamael (*).

Como só me juntei à Tabanca Grande em 2020, embora já seguisse o blogue há tempos, não soube do seu falecimento quando vós atempadamente o noticiaram.(**)

A inevitável contagem decrescente da nossa geração levou prematuramente este meu camarada e amigo, do meu curso de Vendas Novas, mas com quem não me cheguei a cruzar no TO da Guiné, nem em Bissau calhou encontrarmo-nos, já que quer um quer outro só por ali passámos de raspão.

Foi com imenso prazer que, anos mais tarde, estava eu envolvido na montagem com dois amigos de uma unidade de preparação e engarrafamento de aguardente, que o fornecedor dos nossos depósitos em aço inox fosse a empresa do Vasco Pires.

Grandes abraços e vários almoços intermináveis, em Peniche e em Anadia, selaram contratos e levaram-nos de regresso aos tempos de cadetes e suas patifarias, lembrando figuras do curso, tentando adivinhar por onde andariam.

Soube, tempos mais tarde, por um dos seus comerciais que ele tinha saído do País, perdendo-lhe então o rasto já que eu próprio também deambulei para outras latitudes.

As memórias perduram, um grande abraço Vasco, lá onde estiveres. (***)

Carlos Arnaut
_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22928: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (1): CART 6252/72 (Bissássema, Tite, Gadamael, Bafatá, 1972/74)

(**) Vd. poste de 31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22928: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (1): CART 6252/72 (Bissássema, Tite, Gadamael, Bafatá, 1972/74)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 6252/72, "Os Indiferentes", 72-74... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Brasil > Bahía > Porto Seguro > Novembro de 2013 > O Vasco Pires (1948-2016), ex-alf mil. cmdt, 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72),  com o seu amigo e camarada, Arménio Cardoso, da CART 6252/72, Os Indiferentes (Gadamael, 1972-74)

(...) "Na semana passada recebi a honrosa visita do meu amigo e nosso camarada Arménio Cardoso - CART 6252/72, que também bebeu das 'águas escuras e amargas' do Rio Sapo. Lembrando quantos dos nossos por lá ficaram e outros tantos voltaram mutilados no corpo e/ou na a<lma, tivemos pois que concluir que somos todos privilegiados sobreviventes.

Há tempos ouvi o depoimento de um membro da E Company, 506 Infantry Regiment (United States), do tão mediatizado Band of Brothers, dizia ele que muitas décadas depois, nas frias noites do rigoroso inverno aqmericano, quando ia para a cama, falava para a esposa:
- Ainda bem que não estou em Bastogne!

Eu também, sem fazer comparações, claro, no fim desses dias em que a vida parece "Madrasta", penso:
- Ainda bem que não estou em Gadamael." (...) (*)

Foto (e legenda): © Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há ainda muitas companhias e subunidades, mobilizadas para o TO da Guiné, entre 1961 e 1974, que não têm qualquer representante na nossa Tabanca Grande, nem nenhuma ou apenas algumas, escassas, referências no blogue. 

É o caso da CART 6252/72, com apenas meia dúzia de referências no blogue nem nenhum representante, registado. Não sei se o Arménio Cardoso, que vive no Brasil, e era amigo do Vasco Pires (1948-2016), nos acompanha ou nos lê,
 esporadicamente. Se sim, gostava que ele se juntasse a nós.  

Há uma página do Facebook com o nome CART 6252/72 "Os Indiferentes",  criada pelo Luís Francisco Gouveia, ex-fur mil trms: telem  964 153 392 | email:  luisfsgouveia@gmail.com

O nosso mail é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com


Ficha de unidade > Companhia de Artilharia n.º 6252/72

Identificação: CArt 6252/72

Unidade : Mob: RAP 2 - Vila Nova de Gaia

Crndt: Cap Mil Inf Jorge Manuel Gonçalves Pereira de Melo | Cap Mil Inf Jorge Joaquim Lage

Divisa: "Os Indiferentes" 

Partida: Embarque em 230ut72; desembarque em 230ut72

Regresso: Embarque em 25Ag074


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 230ut72 a 17Nov72, no CMl, em Cumeré, seguiu em 18Nov72 para Bissássema, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3327.

Em 08Dez72, assumiu a responsabilidade do subsector de Tite, então com a sede da subunidade em Bissássema, deixando um pelotão em Tite e sendo integrada no dispositivo e manobra do BArt 6520/72. 

Em meados de Abr73, a sede da subunidade foi transferida para Tite, tendo então ficado dois pelotões em Bissássema.

Em 30Jun73, foi rendida, por troca, pela CCaç 4743/72, marchando em 04Jul73 e 19Ju173, por escalões, para Gadamael, onde assumiu a responsabilidade do subsector, a partir de 06Ju173, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 5, e onde sofreu fortes flagelações e ataques ao aquartelamento, até 12Ag073.

Em 08Fev74, foi rendida pela CCav 8452/72, do antecedente ali colocada em reforço, tendo recolhido temporariamente a Bissau.

Em 15Fev74, seguiu para Bafatá, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3884 e depois do BCaç 4514/72, com vista à realização de patrulhamentos, emboscadas e batidas na zona de acção.

Em 17Ag074, foi substituída no serviço de guarnição de Bafatá pela CCS/BCaç 4514/72 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.? 120 - 2." Div/Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág.  485.

_________

Nota do editor:

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22504: Pequeno dicionário da Tabanca Grande (13): "Máfrica" (termo irónico, para não dizer sarcástico, para designar a EPI, sita em Mafra), grafado por Vasco Pires e por Rui Alexandrino Ferreira


Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1964 > Curso de Sargentos Milicianos (CSM) > "Mafra, 26 de Janeiro de 1964 > O 1.º pelotão, da 1.ª Companhia, ao 2.º dia de tropa"... Pormenor: todos equipados de Mauser... Foto do álbum do nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67).

Foto (e legenda): © Veríssimo Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. "Máfrica" é um vocábulo da nossa gíria castrense e consta do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, tendo sido "grafado" pelo nosso saudoso Vasco Pires (Vilarinho do Bairro, Anadia, 15/6/1948 - Porto Seguro, Baía, 31/10/2016) (foi alf mil art, cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; entrou para a Tabanca Grande em 27/9/2012; tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue).

Alguns excertos do seus postes com o descritor "Máfrica:

&&&

 (...) Eu venho lá da Bairrada pofunda, que na década de 50 era mais conhecida como terra da batata, ao invés de terra do vinho, o vinho ainda se vendia a granel.

(...) A minha infância e adolescência foi passada em escolas da região, seguida de uma passagem de cinco anos pela efervescente cena coimbrã da segunda metade da década de 60.

Em 69, saí desse "borbulhar" de novas ideias e atitudes, para a disciplina EPI na "Máfrica" de tantos de nós. Logo começou a minha boa sorte, de ter camaradas, subordinados e superiores que me ajudaram nesta caminhada de três anos pelos quartéis de Portugal e África. (...) (*)

&&&

(...) Mas éramos todos muito inocentes, aí com facilidade o sistema nos enquadrava com um Tenente e dois Cabos Milicianos e às vezes, poucas, um Sargento.

Poucos dias depois receosos de perder o fim de semana, íamos-nos tornando instrumentos de um sistema que durante tantos anos (63 a 74), enquadrou uma geração de pouca sorte.

O processo começava aí: "Máfrica", Vendas Novas, Tavira, Caldas da Rainha... E lá íamos nós, mais ou menos convencidos e eficientes agentes, enquadrar outros mais, pelos quartéis de Portugal e de África. Mafra e Tavira, eram o início de um processo de inserção no sistema de muitos milhares, que a propaganda chegou a fazer pensar, que estavam "dilatando a Fé e o Império". (...) (**)

&&&

(...) De qualquer, a grande escola de cadetes e fábrica de oficiais que depois seguiam para os teatros de operações do ultramar, a grande 'Máfrica' (a expressão é do nosso grã-tabanqueiro Vasco Pires), que terá formado dezenas e dezenas de milhares de oficiais subalternos e comandantes operacionais, era, como em qualquer parte do mundo, uma verdadeira "instituição totalitária" ("total institution") no sentido forte, sociológico, do termo.

Se não, vejamos alguns traços comuns às instituições e organizações a que poderíamos aplicar a tipologia desenvolvida, e,m 1961, pelo sociólogo americano Erving Goffman (Asyluns: essays on the social situation of mental patients and otther inmates. New York: Anchor, 1961).(...) (***) 

&&&

(...) Então, "Máfrica" exprimia a reação,  de jovens inocentes e provincianos que se julgavam na vanguarda da modernidade e pensavam que iam mudar o mundo, à disciplina militar, reforçada, por ser num curso acelerado [o COM].

No meu caso, o impacto foi "amortecido", pois dormia e comia fora do quartel [EPI]. (...) (****)

&&&

(...) Tempos atrás, lendo uma matéria, lembrei de cartaz que vi em um dos quartéis por onde passei, talvez "Máfrica" [EPI, Mafra]. Dizia: "O boato fere como uma lâmina " (se não falha a memória).

Quantos boatos não passaram na nossa vida militar? Muitos fabricados pela contra-informacão, outros gerados pelos nossos medos. Logo propagados nos "jornais da caserna". (*****)

2. Comentário de Fernando Ribeiro ao poste P22489 (******):


(...) "Máfrica" - Estive cerca de seis meses a frequentar o COM em Mafra e tenho que puxar muito pela memória para me lembrar de ouvir alguém chamar "Máfrica" a Mafra. De que eu tenha a certeza, só ouvi uma vez, mas admito que tenha ouvido mais uma vez, no máximo duas. Fora isso, sempre ouvi chamar Mafra a Mafra. Confesso que acho estranha esta insistência na palavra "Máfrica", mas se calhar a minha memória é que já não é o que era. (...)

3. Comentário do editor LG:

Em relação a Mafra, as "memórias" são das personagens do conto, não do autor, o contista (******).  Quarenta anos depois é natural que haja contaminação entre "ditos" e "feitos" de diferentes épocas. 

Relativamente ao termo "Máfrica" temos, no nosso blogue, 14 referências   (*******)... E Mafra tem sessenta. A EPI cerca de metade.

Máfrica deve ser termo da gíria coimbrã, era uma forma irónica (para não dizer sarcástica, ) de identificar a EPI, situada em Mafra... O nosso saudoso Vasco Pires, que morreu no Brasil, usava-o muito... Mas também o angolano, nascido em Sá da Bandeira (hoje, Lubango),  Rui Alexandrino Ferreira, no seu livro "Rumo a Fulacunda" (2.ª edição, 2003, Palimage Editores, Colecção Imagens de Hoje, 415 pp.). Veja-se este excerto:

(,,,) Para lá [EPI, Mafra,] me vi empurrado, pois naquela altura, corria o ano de 1964, não havia Curso de Oficiais a não ser no continente. Infantaria só mesmo lá-. E como o rapaz Rui nem tinha padrinhos, nem certamemte servia para outra coisa... e sobretudo porque as necessidades eram "carne para canhão", ou seja, combatentes, nem vale a pena acrescentar mais nada...

"Muita chuva, muito vento, muita merda e...um convento". Eram com estes sábios, esclarecidos e esclarecedores termos que pela voz do povo se definia aquele "paraíso"- E como a voz do povo  mais não é do que a voz de Deus, já para não referir  quaisquer outras vozes - é claro - que afirmava, que "pior que África só mesmo Máfrica", correspondia em absoluto com a realidade no que dizia respeito  à chuva, ao vento e ao convento. Esqueceram-se de acrescentar o frio e a "merda que restava só podia ser mesmo a tropa".

Tropa que apesar de tão mal tratada, fazia com que a vila perdesse a  monotomia e espantassse a modorra de cada vez que se apresentava para a recruta mais uma fornada de "jeijão verde" (alcunha com que os locais brindavam os milicianos em geral, quer se tratassem de soldados-cadetes do Curso de Oficiais, ou de soldados-instruendos do Curso de Sargentos. Por grosso e atacado eram agrupados ao molho  e todos equiparados ao mesmo vegetal)" (pág. 49).

O Vasco Pires, emigrado no Brasil desde 1972, e que só descobriu o nosso blogue em 2012, não leu por certo o livro do Rui Alexandrino Ferreira. (*******)
_________





(******) Vd. poste de 27 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22489: A galeria dos meus heróis (41): De companheiros de infortúnio a amigos para a vida - Parte I (Luís Graça)

quinta-feira, 7 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19558: Tabanca Grande (473): António C. Morais da Silva, cor art ref, ex-cap art, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga e adjunto do COP 6 em Mansabá (em 1970) e cmdt da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1971/72)


Foto nº 1> Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2796 > 1971 > Chegada da coluna a Guileje > Ao centro, o cap art Morais da Silva, empunhando a sua Kalash; à sua esquerda, que o  o alf mil  Esteves;  à direita, o furriel vaguemestre Oliveira...  Das flagelações e ataques do PAIGC estão  há fortes vestígios nas paredes do edifício do Comando.


Foto nº 1 > > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2796 > 1971 > Chegada da coluna a Guileje > À esquerda, o  cap art Morais da Silva, empunhando a sua Kalash; à direita, o alf mil  Esteves.


Foto nº 2 > O cor art ref António C. Morais da Silva, que vive na Amadora, e que foi também professor na Academia Militar, e é especialista em investigação operacional

Fotos (e legendas): © António C. Morais da Silva  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro, cor art ref António Carlos Morais da Silva,  que vem na sequência do convite formulado pelo editor Luís Graça (*)

Data: quarta, 6/03/2019 à(s) 16:08

 Meu caro camarada Luís Graça

Já devia ter respondido à mensagem anterior mas deve ter havido uma gatilhada e … lá foi ela. Felizmente surgiu agora nova oportunidade…

Não sei como lhe "pagar" a gentileza, paciência e tempo que tem gasto comigo, que não seja anuir ao seu convite e pedir-lhe a bênção para ser aceite nesse alfobre, que admiro e estimo, dos "amigos e camaradas da Guiné".

Estou umbilicalmente ligado ao TO da Guiné onde nunca voltei por me saber incapaz de "sobreviver fisicamente" ao deslocamento até Gadamael onde ficou uma parte de mim.

Nas 3 linhas curriculares que sugere, gravo o seguinte:

Cadete aluno nº 45/63,
Morais da Silva
(i) Nascido em Lamego,  descendente de centenários lamecenses, cresci no liceu Latino Coelho rodeado de gente a que me ligam laços de grande fraternidade;

(ii) ingressei na Academia Militar em 1963  [, sendo o cadete-aluno nº 45/63,  e]  cumprindo o sonho da infância;

(iii) terminado o curso,  demandei Angola como Alferes, pisei as terras do Leste no Lucusse e posteriormente em Ninda nas CArt 1452 e 1701;

Galhardete da CCAÇ 2796, os "Gaviões"
(Gadamael e Quinhamel, 1970/72).
Cortesia de Adolfo Cruz.
(iv) ainda continuei a comer "o pão que o diabo amassou" no CIC [, Centro de Instrução de Comandos], onde frequentei, com sucesso, o curso de Comandos.

(v) regressado a Lamego, casei, fui bafejado com um filho e por lá andei como instrutor nos cursos de Comandos;

(vi) em Setembro de 1970 fui "escolhido = empurrado" para zarpar para a Guiné onde fui andarilho: Instrutor dos Comandos Africanos do João Bacar Jaló, adjunto do COP 6 em Mansabá e em Janeiro de 1971 "escolhido=empurrado" para voar para Gadamael e assumir o comando da CCaç 2796  [, Gadamael e Quinhamel, 1970-1972],  que tinha perdido em combate o seu comandante, Cap Assunção Silva, meu amigo e camarada de curso;

(vii) uma vez mais repeti a toma do "pão que o diabo amassou" mas logrei conduzir a minha tropa a "terra firme", parafraseando o meu amigo artilheiro Alferes Vasco Pires, que Deus tem;

(viii) de volta ao chão natal, andei cerca de duas dezenas de anos a comandar e ensinar "coisas artilheiras" e da matemática na Academia Militar, onde cabe referir a participação no pronunciamento do 25 de Abril; ainda, deslocamentos para a EPA, GAC/Brigada Mecanizada Independente, RALIS, IAEM e Fort Sill (EUA);

(ix)  como sempre me dei bem com os números e com a racionalidade da matemática, dediquei-me à Investigação Operacional de que sou um dos pioneiros cá do burgo quer na AM [Academia Militar,] quer na universidade;

(x) um dia "vasculharam" a minha coluna quatro vezes sem sucesso o que coincidiu com o fim do SMO [Serviço Militar Obrigatório]; alquebrado e incapaz de acompanhar a mudança no Exército, considerei terminado o meu sonho de prosseguir na carreira,  reformando-me com o posto de Coronel.

Afinal, falhei ao prometido das 3 linhas e deslizei para 4 (longas). Como "Papa do blogue",  fará o favor de extrair o que entender conveniente.

António C. Morais da Silva,
 hoje
A foto [nº 1, acima] que envio foi obtida em Gadamael quando da chegada de mais uma longa coluna a Guilege. Empunhando uma AK, aguardo que o pessoal se apronte para controlo estando à minha esquerda o meu Alferes Esteves, à direita, recostado, o meu vaguemestre Furriel Oliveira e rodeado pelo PAIGC sempre presente nas mazelas das paredes do edifício do Comando.

Na outra foto brindo à nossa saúde [, foto n.º 2, acima].

Com um abraço e o meu obrigado,

Morais Silva
Amadora


2. Comentário do editor Luís Graça:

Temos já mais de quatro  dezenas de referências ao cor Morais da Silva [ou Morais Silva, como ele assina as suas mensagens].  O nosso camarada de armas (e meu colega do ensino superior universitário] passa a sentar-se  no lugar nº 784, à sombra do poilão da Tabanca Grande. (**)

É uma pessoa que muito prezo, pela sua independência, frontalidade e exigência intelectual e moral. Nas "3 linhas curriculares" que lhe pedi, ele não mencionou, certamente por modéstia, a atribuição que lhe foi feita da Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma, pela sua brilhante e corajosa atuação no TO da Guiné, nomeadamente à frente da CCAÇ 2796, em Gadamael.

Temos vindo a publicar, da sua autoria, a série  "In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva)" (***).

O Morais da Silva acompanha de há muito o blogue e conhece as nossas regras de convívio. Resta-nos agradecer-lhe, em nome de toda a Tabanca Grande, a honra que nos dá, e sobretudo pela partilha do seu labor e do seu saber. 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19553: Dando a mão à palmatória (30): o cap inf Cirilo de Bismarck Freitas Soares, natural de Matosinhos, morreu em 26/5/1965, quando atingido por fogo inimigo numa emboscada na zona de Piri, norte de Angola (Morais Silva, cor art ref)

(**) Último poste da série >19 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19305: Tabanca Grande (472): Carlos Silvério, natural de Ribamar, Lourinhã, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73)... Senta-se finalmente à sombra do nosso poilão no lugar nº 783, o número (azarento) do seu tempo de recruta na EPC, em Santarém...

(***) Vd. último poste da série > 1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19542: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XVI: Cirilo Bismarck Freitas Soares (Matosinhos, 1918 - Piri, Angola, 1965)

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18715: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIV: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (II)


Foto C64  > Com Salazar, amigo e padre, Santiago de Compostela,  28-4-1965.


Virgílio Ferreira, aspirante a oficial miliciano,
Porto, junho de 1967. Foto para o BI militar,

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue.


GUINÉ 1967 /69 1967/69 > ÁLBUM DE TEMAS > T001 – SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO > CURSO DE OFICIAIS MILICIANOS (COM) > EPI | MAFRA; EPAM | LUMIAR, LISBOA - Parte II

Perguntei ao Virgílio Teixeira se não tinha fotos  "à civil", antes da tropa... Como estudante, por exemplo ... Pretendia ilustrar um pouco melhor a sua história de vida antes de ir parar à Máfrica...(como lhe chamava, à EPI, em Mafra, o nosso saudoso Vasco Pires) (*).

Sempre voluntarioso e disponível, o nosso camarada Virgílio Teixeira mandou-me um lote de fotos, digitalizadas, algumas de fraca qualidade, que eu selecionei, editei e mas decidi, de comum acordo, publicar agora...

Afinal, todos temos/tivemos pai, mãe, irmãos, família, namorada(s), vizinhos, amigos, colegas de escola e de trabalhado... Mas. os que ainda estão vivos/as, têm direito à reserva de imagem...

Obrigado, ao Virgílio, por nos mostrar esta parte, mais pessoal e íntima, da sua vida de "paisano" mas que não vamos partilhar com a Tabanca Grande... Fica apenas este registo: a sua vida de mais de 7 décadas (infância, adolescência, juventude e idade adulta...) foi toda passada no Norte.  Recorde-se ainda que  o pai e o irmão velho eram militares (, tendo ambos passado, nomeadamente, pela Índia Portuguesa). O seu irmão Jorge esteve  inclusive no campo de Pondá como prisioneiro de guerra, cerca de 5 meses(1961/62). (*)


2. Notas e lgendagem:

Fotos de civil, anteriores ao serviço militar:

Estas fotos foram agora retiradas do baú com mais de 50 anos, a maioria em mau estado, outras de fraca e fraquíssima qualidade, mas para já foi o que encontrei. Estão numeradas com FC – Fotos Civis sequencialmente, e sem nenhuma ordem de antiguidade.

Foram à pressa digitalizadas sem muitas condições e de muito pequena resolução, foi o meu filho que fez este trabalho, sem os equipamentos necessários, por isso é o que tenho. Para fazer melhores terei de ir ao Porto, deixar lá as fotos, passado uma semana ir buscar, e depois pagar 5€ por cada 3 fotos digitalizadas, e isso fica para outra vez.

As datas e locais podem ser não totalmente certos, pois não há nada escrito nas fotos, só algumas têm datas, mas serão sempre anteriores a 1966. Mas de todas elas, peço-te que publiques apenas a seguinte:

Foto C64 – Foto a cores, da esquerda para a direita, sou eu de capa e batina, o Prior da Igreja de São Tiago de Compostela, depois o Manuel Salazar, um homem à civil, também espanhol, deve ser o Sacristão, e outro estudante de capa, que conhecemos lá. Viajem feita à boleia, com uma agravante de termos ficado ao relento num local depois de Arcos de Valdevez, chamado Extremo. À noite faltou a boleia até Valença, e ficamos no meio do ‘mato’. Uivos de lobos, frio de rachar, passamos a noite na cabina de uma camioneta abandonada, com as capas à volta de nós, para minorar o frio. Depois de manhã rápido chegamos a S. Tiago de Compostela. A foto tem a data de 28-Abril de 1965. Data da revelação. O padre prior depois de contarmos as nossas aventuras, ofereceu-nos estadia e comida para dois dias. Mas passamos mal aquela noite no Extremo, terra que nunca mais esqueci.

(Continua)
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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16745: Blogoterapia (282): Reflexões sobre a morte no adeus ao Vasco Pires (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

Super Lua
Foto: © Luís Graça


1. Em mensagem do dia 16 de Novembro de 2016, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos esta reflexão à volta da vida e da morte, a propósito do recente falecimento do saudoso camarada Vasco Pires:


REFLEXÕES SOBRE A MORTE NO ADEUS AO VASCO PIRES

Nós somos os homens, os seres eleitos, para quem Prometeu roubou aos deuses o fogo da imortalidade, tendo sofrido um castigo terrível pelo seu crime. Todos, enquanto seres pensantes vivemos essa promessa de imortalidade, que não passa de uma ilusão, pois acaba sempre num acidente mortal que pode ter várias causas: Acidentes de carro, de barco, de avião de motociclo, por armas de fogo, explosivos, doenças prolongadas ou fulminantes, falhas orgânicas várias e outras.

A morte leva os sábios, aqueles que parecem ter atingido na Terra a sabedoria dos deuses, como leva os ignorantes, os mais simples, os que vivem mais de acordo com a natureza sem procurar decifrar os seus segredos.

A morte do homem é um mistério que vem interromper o curso de uma vida, que sendo um paradoxo, pois parece que nascemos para morrer, só se compreende quando aceitamos a ordem natural do universo e nos integramos nela, nesse eterno retorno do Inverno e da Primavera, que a uns mata e a outros faz nascer.

Por essa ordem seremos seres finitos, em que se misturam a sabedoria, a ciência, a arte e a técnica, a estupidez, a imperfeição, o mau-gosto, a lucidez e a loucura. Quisemos subir tão alto para no final termos o mesmo destino de todos os outros animais ditos irracionais. Será que ao morrermos, nos segundos finais da nossa vida, teremos a percepção de que vamos deixar de existir, voltar ao nada donde viemos? Voltar a ser o pó donde viemos, de que falam as Sagradas Escrituras: “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar” (Gen. 3, 19).

A morte traz-nos o fim de todas as ambições e de todos os maus defeitos associados, a vaidade, o orgulho, a inveja, mas não nos torna melhores, nem mais santos mesmo quando purificados pelo fogo e transformados em cinzas no silêncio dos cemitérios. Seremos julgados pelos nossos actos pelos que nos sobreviverem mas não seremos punidos ou louvados por eles. Os mais virtuosos e puros, os que mais se privaram, os que menos pecaram terão o mesmo fim dos malvados, dos desumanos, dos desalmados, dos sanguinários e da canalha que pulula pela terra inteira.

No final, para todos, será o não-ser que não se atinge na contemplação nem se define por combinações ou jogos de palavras. Todas as tentativas de o compreender ou explicar falham por excesso ou por defeito. Poderei vir a mudar e até tornar-me num adepto fervoroso de alguma religião adepta da salvação, mas a minha verdade actual, pela ausência de qualquer fé, leva-me a estes pensamentos um pouco desgarrados, ainda que respeite as crenças de todos os meus semelhantes.

A morte do nosso grande camarada Vasco Pires, mais novo um ano do que eu, pelo choque causado, volta a trazer-me ao pensamento este tema recorrente que me tem acompanhado, por períodos com maior ou menor insistência, desde a adolescência, quando comecei a tomar consciência de que estava condenado a morrer um dia.

Gostava muito das opiniões que o Vasco escrevia sobre alguns textos meus e sobre muitos textos de outros camaradas e identificava-me muito com elas. Admirava a forma clara, leal, sóbria, delicada e humana com que se exprimia mesmo quando por vezes discordava dos outros. Tinha um conjunto de qualidades e virtudes que nem todos temos, pelo menos a mim não me sobram e o mais provável é que me faltem.

O Vasco deixou-nos, todos o sabem, no dia 31 de Outubro, era Outono em Vilarinho do Bairro, terra onde nasceu. Subitamente, suavemente, como uma folha que cai, soltou-se da árvore da vida, sem fazer ruído, presumo eu. Pelas nossas raízes rurais, com todas as vantagens e inconvenientes de crescermos em comunidades pequenas bastante repressivas e vigiadas, onde. a par de tabus e restrições antigas. se cultivavam também virtudes ancestrais, que os nossos pais e avós nos procuraram inculcar, senti-me muito próximo dele. Fomos tantos que saímos dessas aldeias do interior, e o interior começava logo a 10 quilómetros das grandes cidades, os mais intelectualizados divididos entre o fascismo, a democracia, o comunismo e o anarquismo, pois a pressão totalitária, a ignorância política, o amor pela liberdade, essa jovem sedutora e sem preconceitos, e a curiosidade, podiam-nos arrastar para qualquer desses caminhos do idealismo ou por outros caminhos de obediência a inclinações mais físicas e sensoriais.

Pela impressão que me ficou do que conheci dele através do que escreveu, e eu li, pareceu-me que terá havido afinidades que nos aproximavam, sem nunca ter um conhecimento definitivo sobre o assunto, já que nunca, para pena minha, tive uma conversa pessoal com ele.

Gostaria de ter ido, no dia 5 de Novembro, à missa de 7.º Dia em sua memória por dois motivos:
Para sentir no ambiente natural e paisagístico onde ele nasceu se conseguia intuir um pouco mais do seu espírito, para o conhecer melhor e procurar ter com ele uma comunhão espiritual mais próxima;
Para falar com alguém, camaradas, familiares ou conterrâneos dele que me ajudassem a construir melhor a boa imagem, mas incompleta que guardo dele. Infelizmente não pude ir a essa missa por motivos familiares que não me deram qualquer saída.

Acredito que há homens que são bons, puros, justos, grandes, solidários, antes de morrerem, ao Vasco Pires, recordá-lo-ei sempre como pertencendo a essa galeria de notáveis.

Preciso de boas referências para continuar esta caminhada incerta, e tu camarada és uma boa referência, como esta lua cheia, que hoje brilha no céu, com mais intensidade.

Quando morrer não quero encontrar-te porque tu estarás em lado nenhum, o mesmo lugar para onde eu irei, mas enquanto for vivo não te esquecerei, continuarás a ser esse meu amigo tão distante e tão próximo pelas vivências portuguesas e africanas, por sonhos e ideais realizados ou não.

Até sempre camarada!

Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16571: Blogoterapia (281): o nosso blogue, um excecional serviço público ao dispor de todas as gerações, nacionais ou além fronteiras, onde se escreve e faz ciência histórica (Jorge Araújo)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16685: In Memoriam (270): Vasco Pires (1948-2016): missa do 7º dia, amanhã, 5, sábado, às 19h00, na igreja matriz de Arcos de Anadia, Anadia



Brasil , Bahía, Porto Seguro > Novembro de 2013 > O Vasco Pires com o seu amigo e camarada, Arménio Cardoso, da CART 6252/72, Os Indiferentes (Gadamael, 1972-74)

Foto (e legenda): © Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(...) "Na semana passada recebi a honrosa visita do meu amigo e nosso camarada Arménio Cardoso - CART 6252/72, que também bebeu das 'águas escuras e amargas' do Rio Sapo. Lembrando quantos dos nossos por lá ficaram e outros tantos voltaram mutilados no corpo e/ou na a<lma, tivemos pois que concluir que somos todos privilegiados sobreviventes.

Há tempos ouvi o depoimento de um membro da E Company, 506 Infantry Regiment (United States), do tão mediatizado Band of Brothers, dizia ele que muitas décadas depois, nas frias noites do rigoroso inverno aqmericano, quando ia para a cama, falava para a esposa:
- Ainda bem que não estou em Bastogne!

Eu também, sem fazer comparações, claro, no fim desses dias em que a vida parece "Madrasta", penso:
- Ainda bem que não estou em Gadamael." (...)






Vasco Pires (1948-2016): notícia necrológica








BI de cidadão nacional do Vasco Pires

1. Celebra-se amanhã, na Anadia, dia 5,  sábado, pelas 19h00, missa  do 7º dia em honra da memória do nosso querido camarada Vasco Pires (Vilarinho do Bairro, Anadia, 15/6/1948 - Porto Seguro, Baía, 31/10/2016). (*)

O Vasco, que vivia no Brasil desde 1972, deixa 3 filhos, Mónica, Vasco e Catarina Pires. Tinha ainda a irmã, Isabel, a residir em São Paulo.

O elemento de contacto é o seu afilhado, Pedro Araújo, natural de Anadia, que nos deu a triste notícia e que já nos agradeceu também as "elogiosas palavras a respeito do Vasco" (**)... E acrescenta: "Foi ele que me enviou sempre os links para os postes que enviava para o blog da Tabanca Grande".

Páginas do Facebook dos familiares mais próximos:

Mónica Pires,  filha (deixou de ser atualizada desde 25/11/2015);

Isabel Pires, irmã.

Pelo que sabemos o Vasco terá morrido, de morte súbita,  em casa, em Porto Seguro, Bahía, de complicações respiratórias, e na sequência de uma gripe. O corpo foi cremado em Porto Seguro e as cinzas enviadas para São Paulo. 

À família enlutada, aos amigos e aos camaradas mais próximos, vai o nosso abraço solidário. 

O editor LG


2. Convidam-se os nossos leitores a visitar a sua série "Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires)", de que se publicaram, 16  postes, o último dos quais há 2 anos (****). 

Era  membro da nossa Tabanca Grande desde  27/9/2012 (*****). Era um querido camarada da diáspora lusitana, como ele próprio se nos apresentou:

(...) "Prezado Luís Graça: fico muito grato pela cordial acolhida, bem como pelo convite. Sou um desses milhões da multicentenária diáspora Lusitana. Em 1972 saí de Portugal, e por aí ando até esta data. Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blog; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blog, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadas de distância." (...)

Era seu editor, sempre dedicado e delicado, o Carlos Vinhal a quem o Vasco tratava por "padrinho".

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Postes anteriores:

18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado

11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

15 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

21 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11858: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (11): Terra firme e o pântano - Dois grandes líderes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e ex-Cap Art.ª António Carlos Morais Silva

25 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

23 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

16 de março de 2013 &amp;gt; Guiné 63/74 - P11262: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (8): Terei estado no "bem-bom de São Domingos"?

9 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11223: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (7): Fotos de um líder, do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

3 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11185: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (6): ...onde também tem lealdade, dedicação e competência

24 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11148: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (5): "Alfero di canhão"

31 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

14 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (3): A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva, 1º comandante da CCAÇ 2796, e meu amigo~

16 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10535: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (2): Como fui parar a Gadamael, por acção do meu pai e reacção do 'Paizinho' ...

13 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...

(*****) Vd. poste de 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16668: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (104): reencontro, através do blogue, ao fim de quase meio século, de 4 amigos bairradinos e antigos alunos do CNA - Colégio Nacional de Anadia, e que estiveram nos TO da Guiné (Vasco Pires, Paulo Santiago e Manuel Reis) e de Angola (Acácio Conde)... Um deles, Vasco Pires (1948-2016), acaba de nos deixar... Entrou para a nossa Tabanca Grande em 27/9/2012, vivia no Brasil desde 1972


Portugal > s/l > s/d >  O Vasco Pires (1948-2016), fardado, já possivelmente aspirante a oficial miliciano, talvez em 1970, ano em que foi mobilizado para o TO da Guiné, em rendição individual. O pai, a seu lado, era o professor José Martins Pires, licenciado pela Universidade de Coimbra,


Universidade de Coimbra >Faculdade de Letras > 19 de dezembro de 1930 > Cartão de estudante do futuro professor do ensino secundário José Martins Pires, e pai do Vasco Pires (1948-2016).



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 23º Pel Art (1970/72) > A partir da esquerda: fur mil art Oliveira, um graduado da Companhia de Comandos Africana (?), o alf mil art Vasco Pires, cmdt do 23º Pel Art, e o fur mil art Kruz, os seus "furriéis operacionais", que o Vasco estimava muito mas de quem infelizmente perdeu o rasto.

Fotos: © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os primeiros contactos do Vasco Pires (1948-2016) com o nosso blogue datam de 5 e 7/2/2012 (*). A apresentação oficial à Tabanca Grande ocorreria mais tarde,  em 27/9/2012 (**). 

Natural da Anadia, aluno do CNA - Colégio Nacional da Anadia, filho do professor José Martins Pires, rapidamente reencontraria, através do blogue, ao fim de quase meio século,  três colegas do tempo do Colégio, que também passaram pelo ultramar, durante a guerra: o Paulo Santiago e o Manuel Reis (Guiné) e o Acácio Conde (Angola). Os dois primeiros são membros da nossa Tabanca Grande.

Eis aqui os seus comentários originais (2012), que voltamos a reproduzir neste poste de homenagem a um grande bairradino do Brasil e nosso camarada da Guiné, que acabamos de perder (****).

De qualquer modo, estes reencontros vieram comprovar a nossa velha máxima: o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (*****).


(i) Paulo Santiago [ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]

Foi um "clic" ao ler Vasco Pires. Há muitos anos, alguém me disse que estavas no estrangeiro, e que estiveras na Guiné, não imaginava que tinha coincidido com a minha estadia.

Tu eras filho do professor Pires que era colega do meu pai, viemos de bicicleta desde Anadia a uma festa aqui em Aguada [, Águeda,] estás lembrado?

Este blogue, criado pelo Luís Graça é, na verdade, um grande ponto de encontro.

Não tenho ideia de te ter encontrado após a minha saída do Colégio e ida para a ERA [, Escola de Regentes Agrícolas,] de Coimbra, e, sendo assim, não trocávamos palavras há quase cinquenta (50)
anos... Impressionante!!!

Continuo a andar lá para os lados de Anadia... Estou velho (estamos) mas vou à Moita treinar rugby com os Veteranos do Moita-Rugby Clube da Bairrada... Há quem diga que tenho uma "pancada" mas vou-me sentindo bem.

Não imaginas o bem que foi ter-te encontrado aqui, neste blogue, ao fim de tantos anos... Gostei e fiquei sensibilizado pelo "encontro". Nesta fase da vida, as velhas recordações são um bálsamo.

Vasco, recebe um grande abraço,
Paulo Santiago


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição: LG].


(ii) Manuel Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74]:

Amigo Vasco.

Já deixei o meu comentário no poste do Paulo Santiago, mais à frente. Fiquei surpreendido por te ver neste Blogue. Sabia, no entanto, que estavas no Brasil.

Não fazia a mínima ideia que tinhas passado pela Guiné e muito menos em Gadamael, julgava-te no Brasil no início da Guerra Colonial e os nossos amigos comuns como o Acácio [Conde], nunca a se referiram a tal, quando te recordávamos nos convívios dos antigos alunos do Colégio de Anadia.

Lembras-te do Coronel Beirão (hoje General), nosso Professor de Educação Física e irmão da Drª Maria de Lurdes, nossa digníssima professora de Matemática? Pois bem, encontrei-o lá na Guiné, procurou-me para sacar dados sobre Guileje. Tive de me furtar a almoçar com ele, não estava disposto a abrir-lhe o jogo, sabendo de antemão que pertencia no Serviço de Informações.


 (iii) Acácio Conde [, Aveiro]

Malhas que o acaso tece... Viajando pelas páginas da internete um pouco ao Deus dará, acabo de descobrir contactos de três amigos contemporâneos de juventude que a vida se encarregou de separar. 

A marca comum que nos juntou no Colégio Nacional em Anadia e vos juntou na guerra colonial da Guiné-Bissau sem saberem uns dos outros,  a mim mandou-me para Angola... Tenho-vos encontrado esporadicamente mas desconhecendo no concreto esse elo de ligação das vossas vidas. 

Afinal o mundo continua pequeno e redondo: o Vasco Pires, o Paulo Santiago e o Manuel Reis são os amigos a que me refiro e de quem guardo memórias de juventude. Este blogue que por vezes tenho visitado,  pela sua qualidade e capacidade de mobilização que consegue junto de muitos dos ex-militares que nas décadas de 60 e 70 estiveram em África e que continuam a partilhar entre si memórias e momentos de vida em comum...

A estes amigos em particular envio um forte abraço, com desejo de boa saúde, esperando que nos possamos juntar um dia aqui por Aveiro, onde vivo vai para 40 anos. Seria uma grande alegria que se concretizasse esse encontro. 

Cordialmente,
Acácio Conde
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



(...) Comentários (posteriores) dos leitores a este poste:

(i) Vasco Pires (ex-comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande)

Prezados, com as devidas ressalvas de mais de quarenta anos de distância, não posso afirmar se essas fotos são de Gadamael Porto. O que posso afirmar, é que quando cheguei em Gadamael, penso que em finais de 1970, para assumir o comando do 23° Pelart, os espaldões já estavam prontos, bem como as casas do reordenamento (com teto de zinco), que foram ocupadas pelo pessoal da artilharia, inclusive a primeira casa, junto à cerca do quartel, foi ocupada por mim e pelos valorosos e esforçados Furriéis [Oliveira e Kruz]. Cordiais saudações.

Domingo, fevereiro 05, 2012 7:45:00 PM


(...) vascopires@yahoo.com disse...

Prezado Luis Graça, 

Fico muito grato pela cordial acolhida bem como pelo convite. Sou um desses milhões da multicentenária diáspora lusitana, que em 1972 saiu de Portugal, e por aí ando até esta data.  Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blogue; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blogue, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadas de distância. Cordiais saudações. (...)




Guiné 63/74 - P16665: Inquérito 'on line' (79): Com 60 respostas, até ontem às 18h, e a dois dias de "fecharem as urnas", temos apenas 11 casos de deserção no CTIG... Precisamos de chegar às 100 respostas... e nomear a(s) companhia(s), no CTIG, em que tenha havido um ou mais casos de desertores, antes do embarque e/ou depois do embarque: depoimentos, precisam-se!


Foto nº 1


Foto nº 2

"O Homem a Quem Chamaram G3"... O fuzileiro António Trindade Tavares,  o célebre G3, que desertou em 1968... Acabou por apanhar cinco anos de prisão pelo crime de deserção... Aqui no forte de Elvas, s/d (foto nº 1). Nasceu em Lisboa (em 1944) (foto nº2).

Fotos da página do Facebook, do seu livro, com a devida vénia. Sobre o autor e o livro, clicar aqui para saber mais:

"A história de António teria tudo para ser igual a tantas outras. Nascido em Lisboa durante os tempos de racionamento da Segunda Guerra Mundial e pobreza do Estado Novo, criou-se e cresceu pelas ruas de Alcântara e do bairro do Alvito, entre cowboiadas, tiro aos pardais, pancadarias, gazeta à escola e trabalho infantil até ser chamado para a Guerra Colonial. 

"Como tantos outros Fuzileiros, viu-se na Guiné tentando chegar vivo até ao fim do seu tempo de tropa, mas umas rodadas de cerveja com as pessoas erradas desviaram-lhe a vida do curso previsto. A partir deste momento ficou para sempre conhecido como G3, um nome que jamais o largaria, a personificação da resistência anti-fascista, traições à pátria de Salazar e terrorismo militar. Hoje, meio século depois, a sua história é finalmente contada." (Fonte: Sítio do Livro).

Vd. também a qui a nota de leitura que o  Mário Beja Santos fez sobre o livro.


1. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NA MINHA UNIDADE (COMPANHIA OU EQUIVALENTE) NÃO HÁ CASOS DE DESERÇÃO"



Os 60 primeiros resultados (às 18h00 de ontem)


1. Nenhum, na metrópole  > 31 (51%)

2. Nenhum, no TO da Guiné  > 41 (68%)

3. Um, na metrópole  > 11 (18%)

4. Dois, na metrópole  > 3 (5%)

5. Três ou mais, na metrópole  > 2 (3%)

6. Um, no TO da Guiné  > 8 (13%)

7. Dois, no TO da Guiné  > 1 (1%)

8. Três ou mais, no TO da Guiné > 0 (0%


O prazo de resposta ao inquérito termina na 5ª feira, dia 3/112016, às 15h34.


2. Comentários dos nossos camaradas no poste P16655 (*)

(i) Vasco Pires [, falecido ontem, em Porto Seguro, Brasil]

Na minha unidade, o 23° Pel Art, não teve deserção, e continuo achando muito pouco provável havê-la, pois os soldados, que tinham até três mulheres, tinham um poder aquisitivo muito superior à maioria da população. Lamento não ter números concretos para apresentar.


(ii) Luís Graça

Vasco, não tens que "pedir desculpa"... Na minha guineense CCAÇ 12, também não houve deserções...  Primeiro, eles eram todos fulas e tinham um ódio de morte ao PAIGC...  E depois recebiam todos o equivalente a um pré de um 1º cabo metropolitano: 600 pesos (soldados de 2ª classe, do recrutamento local) + 24,5 pesos por dia por serem desarranchados)... O 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé, que tinha a 4ª classe, ganhava mais (em patacão) do que o colega metropolitano, por ser desarranchado...

Ao fim do mês, eram cerca de 1.350 pesos, para um simples soldado de 2ª classe (!), "português da Guiné"... Na Guiné na época, era muito dinheiro...  Em escudos da metrópole, e aplicando a taxa de desvalorização de 10% em relação ao peso, eram 1.215 escudos!...  Em 1969, 1.215 escudos equivaleriam hoje a 361,21 € ...

O PAIGC não pagava pré, nem em pesos, nem escudos, nem rublos, nem em dólares, nem coroas suecas... Só prometia, para os vencedores e os sobreviventes, a glória da independência!... O problema é que o heroísmo não enche barriga nem dá para alimentar duas mulheres, no mínimo, e um rancho de filhos...

Os nossos soldados guineenses ganhavam mais do que os médicos cubanos, essa é que é a verdade!... A terem desertado (, o que não me parece que tenha acontecido com companhias africanas como a CCAÇ 12, no final da guerra no TO da Guiné; pode ter acontecido em Angola e em Moçambique...), só poderia ter sido pela clara perceção de que nós, os tugas, os estávamos prontos para os abandonar...

Felizmente, eu não estava lá, no pós 25 de abril, nem assisti a esse momento doloroso da passagem de testemunho da história... Acredito que tenha sido dilacerante para os "últimos soldados do império"... E foi seguramente mais trágico para os nossos camaradas guineenses que apostaram no cavalo errado...


(iii) António Silva

Também estive na Guiné,  na CCaç 2790. Tivemos um desertor, um alferes, que segundo diziam foi de férias de mobilização e nunca mais voltou.


(iv) Joaquim Ruivo

Enquanto estive na Guiné (de outubro de 61 a fevereiro de 64), tive conhecimento de 2 casos de deserção: um alferes miliciano da minha unidade (cabo-verdiano) e um 1ª cabo cripto. Este último, segundo consta,  falava aos microfones duma emissora dum país africano, que não me lembro qual. O 1º cabo cripto deu muitos problemas no sector das transmissões porque tiveram que alterar todos os códigos...


(v) José Cruz

Na minha companhia, CCAÇ 3306,  em Jolmete, houve um desertor, um furriel. Ah! mas conheço um desertor do exército que, depois do 25 de Abril, veio para o país e arranjou colocação como funcionário público. Professor. Eu tive de emigrar.


(vi) [Joaquim ?] Mendes

Correndo o risco de estar a ver mal o inquérito, pergunto-me sobre a sua validade,  dado permitir que vários militares da mesma companhia assinalem o mesmo desertor dando origem a erro grosseiro.
Sugiro que o voto implique referenciar a unidade em causa para assim reduzir a multiplicação dos desertores (que não serão muitos).


(vii) Tabanca Grande (editor)

Camarada Mendes, tens razão... Mas o objetivo da "sondagem" é permitir-nos falar justamente destes casos... Não temos a veleidade de fazer um "estudo científico" sobre o fenómeno da deserção na Guiné... A nossa amostra será sempre "enviesada"... Este não é o instrumento apropriado...

Além disso, esta funcionalidade do Blogger, o nosso servidor, tem muitas limitações técnicas.... Não posso fazer duas perguntas ao mesmo tempo, nem muito menos perguntas abertas: por exemplo, qual foi o nº da companhia?

De qualquer modo, temos em média um membro da Tabanca Grande por companhia... Não haverá grandes riscos de sobreposição... E há companhias que nem sequer estão aqui representadas...

É importante que a malta responda e diga o que respondeu ... Eu já o fiz, na minha CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 não houve desertores, nem antes nem depois do embarque... E aqui não contam os boatos de caserna, o que se ouviu dizer, etc. Queremos factos, casos concretos (se é que os houve, em cada uma das nossas companhias)...


(viii) Luís Graça

Até 1965, haveria "apenas" 9 desertores tugas, que se passaram para o "outro lado"... A fonte (insuspeita) é o 'Nino' Vieira... Será também razoável considerar como desertores uma série de rapaziada, que deixou as nossas forças armadas para se juntar ao movimento liderado por Amílcar Cabral... Estou a lembrar-me de diversos guineenses que frequentaram, com aproveitamento, o 1º Curso de Sargentos Milicianos, em Bissau, em 1959... O caso mais conhecido é o Domingos Ramos, um dos "generais" do PAIGC...

Um dos 3 desertores de Fulacunda, em 1965, era, de seu nome completo, o António Manuel Marques Barracosa [e não Barricosa...], de 23 anos, com o posto de 1º cabo miliciano...

Seria mais tarde, dois anos depois, em maio de 1967, um dos 4 implicados na assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, liderado por Hermínio da Palma Inácio, 46 anos, fundador e dirigente da LUAR, com a colaboração de Camilo Tavares Mortágua, 34 anos, e Luís Benvindo, 25 anos.  O assalto, no valor de mais de 29 mil contos na época (c. 146 mil euros, na moeda de hoje), teria sido até então o maior roubo de sempre em Portugal. Julgado à revelia, o Barracosa foi condenado a 13 anos. Perdeu-se aqui o seu rasto...

Os casos de deserção, não na metrópole, mas já no TO da Guiné, são, de facto, poucos ao longo da guerra, de tal modo que os nomes dos desertores são sobejamente conhecidos: Aqui vão mais três:

Manuel Alberto Costa Alfaiate, antigo fuzileiro naval; desertou em fevereiro de 1970; Manuel Fernando Almeida Matos, 1º cabo, chegou à Guiné em janeiro de 1969, participou em várias operações, sobretudo na região de Bula, e desertou em abril; Manuel Veríssimo Viseu, natural de Mértola, nascido em 1946, pertenceu à 15ª Companhia de Comandos, combateu em Jabadá, chegou à Guiné em Maio de 1968; quando a 15ª Companhia de Comandos estava em Cuntima, atravessou a fronteira e apresentou-se ao PAIGC.


(viii) Acácio Jesus Nunes

Na CCaç 2312, apareceu lá um tipo em rendição individual, esteve poucos meses e em Bula pirou-se com a arma. Foi o único e por onde andámos não me constou caso idêntico.  Este meliante foi acusar na rádio Conakry um alferes e o capitão de crimes que nunca se cometeram contra a população. Além de cobarde,  foi aldrabão.


(ix) José Colaço

A maior fuga à guerra não eram os desertores, mas, creio eu e até prova em contrário,  foram os refractários que a partir,  dos 13 anos, mais ou menos,  até serem chamados à inspecção e incorporação nas forças militares,  preparavam a fuga não se apresentando quando eram chamados.

Havia vários estratagemas: muitos dos filhos dos senhores de então eram admitidos como trabalhadores por influências, cunhas na OGMA em Alverca,  e assim se safavam de ir à guerra.
Por isso esta sondagem fica muito carente das fugas da ida à Guerra do Ultramar.


(x) António J. Pereira da Costa

As técnicas de "fuga" de que o Colaço fala eram legais e algumas até tinham reversos, como é o caso da ida para a pesca do bacalhau.

Creio que estamos a falar dos que não foram de todo e não aproveitaram, talvez por não saberem, os diferentes, mas poucos furos da lei.

Ao Jesus Nunes lembro que a propaganda é isto mesmo. O uso de depoimentos e testemunhos "prestados" por desertores faz parte dela. Recordo o depoimento do ten comando graduado  Januário, que desertou em Conakry com o respectivo Gr Comb. Cmds [no decurso da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970, 1ª Companhia de Comandos Africana / Cmds Africana],  antes de serem todos fuzilados, que está nesta linha. Não temos ideia nenhuma das informações que prestaram ao In e como é que elas lhes foram sacadas.

Não sei se o desertor, isto é, o que foge para o In ou para outras regiões, depois de incorporado, não terá de ter uma boa dose de coragem. É cortar com tudo e recomeçar, sem poder voltar atrás... Houve camaradas nossos que foram recambiados da Suécia, por não terem aceitado colaborar, mesmo indirectamente, com os guerrilheiros.

Estes são pontos a considerar na apreciação do problemas. De qualquer modo, parece-me que já avançámos ao fixarmos a diferencia entre desertor, faltoso e refractário.


(xi) Vasco da Gama

Também o nosso capitão Vasco da Gama teve o seu desertor.... Convite para revisitar um dos seus postes, da série "Banalidades da Foz do Mondego", de 15/6/2009:

 (...) "Temos os que embarcaram connosco e que deram o salto quando vieram de férias à metrópole. Aconteceu a um furriel da minha companhia, o Pereira, a quem os Tigres designam por furriel fugitivo ou fugitivo, tout court. O seu não regresso à minha Companhia ainda me levou a ser ouvido pelo Pide de Aldeia Formosa que achou estranho o facto de eu não ter desconfiado de nada…

"O fugitivo foi a um dos primeiros convívios da nossa Companhia, alguns anos após o 25 de Abril. Acreditem que nenhum de nós lhe cobrou o que quer que fosse, muito embora nunca mais tivesse aparecido. Conversámos e ele apenas referiu que não conseguia aguentar a situação que a nossa Companhia estava a viver e que tinha tido a oportunidade de se pirar. Eu sei que apenas pensou nele e os outros que se lixem, mas para quê fazê-lo sofrer mais com o nosso julgamento?

"Cada um é como cada qual e quão diferente foi a atitude do nosso José Brás que, de férias em Portugal, recebeu a notícia da morte dos seus camaradas, o Dias e o Oliveira que morreram sem ele em Xinxi-Dari. Nem o pai o convenceu a dar o salto e o Mejo iria continuar a ser a sua pátria por mais algum tempo…. “E sem precisar de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão…” (...)

(xii) Mário Pinto

O fuzileiro António Trindade Tavares,  o célebre G3, que desertou em 1968 do seu destacamento em Bissau... Por acaso já contei a sua história aqui no Blogue. Era meu vizinho aqui no Lavradio.


Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos, aberto a "assimilados" > 1ºs cabos milicianos Mário Dias (à direita, na segunda fila, de pé), Domingos Ramos (à esquerda, na primeira fila) e outros... De entre os militares que frequentaram o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM), em Bissau, em 1959, houve vários casos de deserção para o PAIG

"De cócoras, a partir da esquerda: Domingos Ramos; um outro cujo nome não me lembro mas que também foi para a guerrilha; e depois o Laurentino Pedro Gomes. De pé: não me recordo o nome mas também foi para a guerrilha; Garcia, filho do administrador Garcia, muito conhecido e estimado em Bissau; mais um de cujo nome não me recordo; eu [, Mário Dias]; e mais outro futuro guerrilheiro."

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006). Todos os direitos reservados
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