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sexta-feira, 2 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26753: VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - IV (e última) Parte: de 9 a 19 de abril de 2025: um país, de cultura riquíssima, onde algumas das suas melhores tradições, como o Fase Matan, correm o risco de perder



A foto e a legenda é da página do Facebook do Nunes José Nunes Martins, com data de 27 de março ·

"Imagem com história verdadeira:  Primeiro Ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, visita surpresa e celebra com a comunidade o 7ºaniversário da Escola São Francisco de Assis "Paz e Bem". Rui Chamusco sorri ao ver Xanana com tanto interesse na concertina aos ombros da menina que alegremente o recebe.

A imagem vale por mil palavras! (Nota: trata-se uma das  imagens oficiais do Governo de Timor!)



Rui Chamusco

1. Mensagem do Rui Chamusco, ainda em Díli, Timor-Leste, mas que entretanto já regressou à sua casa, na Lourinhã, Portugal, a 20 mil km de distância 

Data - sábado, 19/04, 13:00 (há 12 dias)
Assunto - Crónicas de Tiumor-Leste

Estimados amigos,

Desde a Terra do Sol Nascente,  os meus votos de Boas Festas de Páscoa. 

Que a alegria de Jesus Ressuscitado seja a nossa força e esperança num mundo melhor.

Quase a chegar ao fim desta minha estadia, envio-vos um cheirinho das últimas crónicas que escrevi.

Um grande abraço,  Rui

 
2. O Rui  Chamusco é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2024. Tem mais de 60 referências no nosso blogue.  Natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. É um dos cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015, com sede em Coimbra, com outros amigos, o luso-timorense Gaspar Sobral e a  malcatense  Glória Sobral. A ASTIL fundou em Boebau, nas montanhas de Liquiçá, uma escola, a ESFA (Escola São Francisco de Assis), em 2018. Voltou a Timor-Leste, em 2025, pela sexta vez. 



VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - IV (e última) Parte: de 9 a 19 de abril de 2025: um país, de cultura riquíssima,  onde algumas das suas melhores tradições, como o Fase Matan, correm o risco de perder



 
09.04.2025, quarta – As promessas são para ser cumpridas…

A seguir ao VII aniversário da ESFA prometi que eu voltaria a passar mais uns dias em Boebau antes de regressar a Portugal. E assim fiz… No dia 9 deste mês eu mais o inseparável Eustáquio (o que é que eu aqui faria sem este precioso amigo?), lá vamos nós outra vez a caminho da Escola São Francisco de Assis. E, já sabemos, que cada vez que vamos ou vimos de Boebau, temos de contar com as dificuldades e os imprevistos do percurso.

Estes dias tem chovido muito por cá, e há que contar com os buracos mais acentuados, com os lamaçais, com as terras que deslizaram para os caminhos, cvom os montes de pedra e areia que depositaram à borda desses caminhos devido às obras em curso promovidas pelo programa de desenvolvimento rural que está a ser implementado pelo governo timorense. Apesar de alguns melhoramentos já verificados, o baloiço e a aflição dão sempre cabo deste corpo que está cada vez mais escangalhado e em que o Pdi (Porra da Idade) faz questão de se fazer notar. Mas pronto. 

Como disse a primeira vez que a professora Cristina visitou Boebau,  “ vale a pena tanto esforço porque estas paisagens enchem-nos a alma. Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”… 

Então cá estamos nós a dar apoio a esta comunidade escolar de alunos, professores e todos aqueles que de uma forma ou de outra estão envolvidos neste projeto solidário.


10.04.2025, quinta – Outra vez com as portas fechadas

A casa dos professores está cheia. Desta vez pernoitamos nela seis pessoas, umas a dormir nos colchões que são três, outras a dormir no chão. Eu sou sempre um privilegiado, talvez por consideração em ser velho ou por respeito ao abô Rui, destinam-me sempre um quarto com colchão. 

Até aqui tudo bem. O pior é quando acontece o imprevisto. Eu tenho o costume, quando estou em Boebau, de me levantar várias vezes durante a noite para passear, para ver as paisagens ao luar, para ouvir as ribeiras que passam de ambos os lados, ou até para outras coisas. Ontem já passava da meia noite quando, regressando desse passeio noturno, me preparava para entrar de novo em casa. Então não é que a porta, que eu deixei aberta quando saí, estava bem fechada à chave? 

Que grande “tampa” me deram. E eu a pensar quem foi, quem não foi e a ter de tomar uma decisão ad hoc. Cá fora está frio, lá para dentro não posso ir, que fazer? Seis ou sete horas ao relento dão cabo de mim. A chave da escola também está lá dentro. E o tempo ia passando enquanto maus pensamentos me atormentavam, até que tomei a decisão de dar a volta à casa, e bater suavemente na porta traseira procurando que alguém ouvisse e me abrisse a porta. 

Depois de algum tempo alguém perguntou: 

– Quem é?

– É o Rui!” – respondi eu.

E quando ouço a chave da porta a desandar, todo o meu ser se aliviou. Afinal o Eustáquio e o professor Alarico ainda estavam conversando na sala.

 Quem fechou a porta?– perguntei.

– Foi o Alarico. Ele não sabia que o Tiu estava fora  disse o Eustáquio. 

Depois, foi rir à gargalhada com os comentários que fazíamos. Mas aprendi bem a lição: nunca mais sair à noite sem levar a chave comigo.


11.04.2025, sexta – Histórias da História: o homem que viajou na ponta de canhão

De vez em quando aparecem histórias destas por aqui. Depois de chegarmos a Ailok Laran, e enquanto bebíamos um café, o Eustáquio chamou-me a atenção para o senhor que conversava lá fora com o irmão Mari (Mário). 

– Quem é o Senhor? – perguntei.

– É o Apeo (Pedro)   
– respondeu. 

Então é assim. O Apeo no tempo da invasão indonésia em Timor Leste, não sei se em luta pela resistência timorense ou noutra situação, foi ferido pelos invasores, que atacavam com carros de combate. Como não tinham outro meio de transporte, colocaram o homem ferido na ponta do canhão, e assim foi transportado para Dili a fim se ser assistido. 

Pois o homem que andou na ponta de um canhão, aqui está ainda bem vivo e fresquinho, a fazer visita e companhia a este amigo Mari. Grande Apeo!...

14.04.2025, segunda  – O que fazer, quando não há nada para fazer?



Sim, há dias assim. E então, quando estás em terra estrangeira, privado dos meios de locomoção a que está habituado, ou seja sem o teu carro, dependente de segundos, o tempo que estás parado parece uma eternidade e suscita talentos não habituais que frequentemente não utilizamos, sobretudo a leitura e a escrita. 

E é por isso que estou escrevendo: E é por isso que por ser escritor durante as minhas seis estadias neste país irmão Timor Leste que as minhas crónicas já estão a chegar às trezentas páginas. Não fora Timor Leste o e projeto de solidariedade em que estamos empenhados, nada destes escritos teriam vindo a lume. Até por isso, valeu e vale a pena ter estado em Timor. 

Hoje é Dia de Ramos. E, enquanto eu estou retido neste habitáculo onde escrevo, uma multidão de gente está-se movimentando para participar na celebração deste evento religioso, o primeiro da semana santa que na igreja católica hoje se inicia. Uma semana repleta de rituais, de celebrações que nos levam à festa mais importante do calendário litúrgico: a Páscoa, a Ressurreição, a vida nova.

 Para os que têm fé e acreditam esta é a grande notícia: Cristo venceu a morte. Ressuscitou!... A Ressurreição de Cristo é a garantia da nossa ressurreição. “Se com Ele morremos, com Ele vivemos, com Ele cantamos: Aleluia!”

16.04.2025, quarta – “Rapaziada da vida airada…” / Cerimónia do “Fase Pima”

Hoje foi o dia escolhido pelos construtores da campa da Aurora (a saudos esposa do Eustáquio) para fazer o “remate”. Embora eles já tenham terminado a obra há bastantes dias, só agora a deram por acabada. E eu perguntava ao Eustáquio: 

– Já terminaram ?

– Sim! – disse ele. 

– Então por que deixaram aqui os materiais (baldes, colheres, fios, etc…)? 

– Porque agora tem de haver o ritual da lavagem dos materiais e a celebração. Aqui, em Timor é assim, faz parte da nossa cultura. Temos de fazer a cerimónia do “Fase Pima” (que, traduzido do tétum quer dizer “lavagem das mãos).

Fiquei estupefato, e a pensar comigo: "mais comes e bebes, mais bebedeiras, mais cigarros, mais despesas para a família.” 

Então logo de manhã aparecem os três moços que construíram a campa, que mais não vi fazer do que ouvir músicas nos telemóveis, fumar cigarros e um pouco de conversa. Depois do almoço é que foi a festa. Começaram a juntar-se junto à campa a rapaziada da vida airada, alguns já bem nossos conhecidos pelos seus excessos alcoólicos e pelas figuras tristes que daí lhes advêm. E não foi certamente para rezarem pela alma da Aurora, mas sim para entre copos, alguma comida, música e muitos cigarros, se divertirem e fazerem a festa à sua maneira. 

Coitada da Aurora! O que dirá ela perante estes festejos?... Ela que me perdoe, mas não são nada ao meu gosto. Mas, por respeito aos mortos e aos vivos deste país, que tem a sua tradição e cultura identitária, tenho de respeitar e aceitar que façam assim.

18.04.2025, sexta feira santa – Da terra para o mar…

Há dias assim. Hoje, sexta feira santa, quando tudo fazia crer que não havia nada para fazer, surge um convite depois do almoço. O Fred (Frederico Sobral),  filho do Abeca, veio convidar-me para ir a Casait visitar o projeto de criação de tartarugas, que desde há três anos vem desenvolvendo um pequeno grupo de doze voluntários, em prole da preservação desta espécie marinha. 

Anui sem hesitação, e sem demoras pusemo-nos a caminho no jipe da família,  um Pajero Patrol, que mesmo a cair aos bocados, arrancou todo contente pelas ruas e estradas que nos conduzem de Ailok Laran ao local do destino. 

A título de memória, foi este carro que me(nos) levou a primeira vez a Boebau e que consta em descrições nas Primeiras Crónicas de 2016. Carregado com viajantes como eu, a Adobe, a Glória, o Afun e o condutor Fred, depressa galgou os quilómetros do percurso, deixando-nos mesmo á beira mar, junto às pequenas instalações onde os ovos e as pequenas tartarugas dão início às suas vidas. 

Este projeto que muitos já conhecem porque o visitaram ou viram reportagens televisivas sobre o mesmo, e que, sem qualquer apoio do Estado ou de outras entidades procuram manter apesar das muitas dificuldades, por exemplo muitas das tartarugas bebés morrem por falta de
alimento apropriado (gema de ovos), é um exemplo do empenho e dedicação destes doze jovens que, sem qualquer remuneração monetária, fazem este belo trabalho de procurarem os
ovos na praia, arranjar os tanques incubadores, alimentar os bebés e devolver estas novas criaturas ao seu habitat natural que é o mar. 

De vez em quando são anunciados os dias em que se vai fazer o lançamento no mar, E é então que as pessoas interessadas, e sobretudo as crianças das escolas, se deslocam para vivenciar este espetáculo único. Nós tivemos o privilégio de, orientados pelos amigos Frederico Sobral e N… Braz (dois dos fundadores deste movimento) conhecermos ao pormenor todas estas etapas. 

E confesso que tive uma emoção enorme quando eles apareceram com três pequenas tartarugas, cada uma dentro de uma metade de coco, a nadarem e nos disseram para dar o nome a cada uma. E eu adiantei: Glória, Adobe e Rui, e assim foram batizadas. Depois, cada um de nós com o seu bebé, entramos um pouco no mar e, ao sinal de contagem de três a zero, largamos as meninas carinhosamente, até vê-las desaparecer. 

Foi-nos dito que as fêmeas, porque já está gravado no seu ADN, vão voltar. Que mais não seja para pôr os seus ovos. À semelhança de São Francisco de Assis direi:

“Louvado sejas meu Senhor por todas as tuas criaturas, e especialmente pelas irmãs tartarugas
que são tão lindas e belas. De Ti,  Altíssimo nos fazem lembrar”.

19.04.2025, sábado – O “Fase Matan”

Logo de manhã, ao consultar as notícias no Facebook, deparo com uma publicação do jornal nacional  "Diligente” que me surpreendeu e passo a registar nesta crónicas.

Sendo eu ávido da cultura timorense, não poderia ficar insensível a tal publicação, mais a mais envolvendo rituais em que os protagonistas são as crianças.





"Cresce com dedicação ao trabalho. Aprende a limpar a tua casa, a preparar a terra e a plantar o teu próprio alimento"


Quando ver é mais do que olhar: a tradição do Fase Matan em Timor

Jornal “Diligente” |  Rilijanto Viana | 19 de abril de 2025 (reproduzido com a devida vénia)


Segundo a crença dos timorenses, a tradição do Fase Matan — que significa literalmente “lavar os olhos” — é realizada para garantir que, no futuro, a criança desenvolva uma visão clara e apurada. Além disso, marca simbolicamente a libertação da mãe, permitindo-lhe voltar a sair de casa e usar água fria. Contudo, esta prática começa a rarear na sociedade atual, levando os praticantes a apelar à preservação deste ritual ancestral.

O sol ainda mal iluminava as montanhas de Dare, aldeia situada a cerca de dois quilómetros de Díli. Eram seis da manhã. Crianças corriam e brincavam sob tendas improvisadas; mulheres mais velhas preparavam comida nas cozinhas; e os homens estendiam um tapete à entrada da casa. As famílias começavam a juntar-se para dar início à cerimónia.

Sobre o tapete, foram colocados dois pratos cheios de água, folhas, um anel e uma moeda de dez centavos. Ao lado, também estavam a noz de areca e cigarros tradicionais. Dentro da casa, a tia Rosa de Aleixo trazia às costas um cesto, uma alavanca e uma catana, enquanto o tio Virgílio Fátima carregava o bebé recém-nascido, segurando um caderno e um lápis nas mãos.

Pouco depois, saíram do quarto. Lá fora, todos os familiares se levantaram para os acompanhar, caminhando lentamente até à esteira, colocada a cerca de três metros de distância. Quando chegaram, tia Rosa começou a cortar as ervas com a catana e, com a alavanca, abriu um pequeno buraco na terra, dizendo em voz alta: 

“Cresce com dedicação ao trabalho. Aprende a limpar a tua casa, a preparar a terra e a plantar o teu próprio alimento.”

De seguida, o tio Virgílio sentou-se com o bebé na esteira e, com grande delicadeza, passou as folhas sobre os olhos da criança, dizendo: “Lavo os teus olhos para que no futuro vejas tudo claramente.” Depois, pegou no anel e repetiu o gesto, pronunciando:

“Lavo os teus olhos para que no futuro possas ver toda a tua família, sejas sábio e saibas observar o mundo à tua volta.”

Terminada esta fase, o tio abriu o caderno onde estavam escritos o nome completo e a
data de nascimento do bebé, e murmurou-lhe ao ouvido: “

"O teu nome é Queinaya Viana de Aleixo. Este caderno e este lápis são para tu segurares, escreveres e estudares, para que tenhas pensamentos brilhantes.”

Ergueu então o bebé em direção ao sol nascente, para que recebesse a luz e a energia do novo dia. Após este gesto, tanto o tio como a tia esfregaram os próprios olhos com as folhas, a Moeda e o anel, como sinal de proteção. Os restantes membros da família também repetiram o ritual, esfregando estes objetos nos olhos.


Os familiares presentes na cerimónia também devem lavar seus olhos para os proteger

Foto: Diligente


Um gesto ancestral para proteger e abençoar a criança


 
 A cerimónia do Fase Matan é realizada desde tempos ancestrais. Costuma acontecer três dias ou uma semana após o nascimento. De acordo com a tradição, lavar os olhos do bebé evita que a sua visão se torne “cinzenta” e também assinala o momento em ue a mãe pode voltar a usar água fria.

Além da cerimónia, a ocasião é também um momento de convívio comunitário. Familiares e vizinhos trazem ofertas práticas como sabonete, sabão em pó, fraldas e toalhas para dar as boas-vindas ao recém-nascido.

Afonso Aleixo Bareto, representante da família, explicou que o Fase Matan é uma prática para pedir matak malirin — a bênção natural — para que a criança cresça saudável. “Se não realizarmos esta prática, no futuro a criança poderá não compreender bem o mundo”, alertou.

A cerimónia deve ocorrer antes do nascer do sol, para que a criança aprenda a levantar-se cedo e desenvolver hábitos de responsabilidade. Afonso sublinhou ainda que todos os que assistiram ao parto — seja em casa ou no hospital — devem participar no ritual de lavar os olhos, como forma de proteger a própria visão.

Entre os materiais essenciais estão água retirada diretamente de uma nascente natural, para garantir frescura e pureza; folhas da planta ai lauk, conhecidas pela sua energia vitalizante; um anel ou uma moeda de dez centavos, símbolos de luz e roteção visual e materiais agrícolas e escolares, para orientar o bebé no trabalho e no estudo.

“O ai lauk cresce perto da nascente e é ele que dá vida à água, por isso consideramos
que ele transmite essa energia vital ao desenvolvimento da criança”, explicou.

As mulheres realizam o ritual dentro da casa, simbolizando o trabalho doméstico, enquanto os homens realizam-no no exterior, representando o trabalho agrícola.

O cesto, a catana e a alavanca representam a ligação da criança à agricultura, enquanto o caderno e o lápis incentivam a sabedoria e o estudo. “Se estes materiais não acompanharem o bebé, ele poderá crescer com preguiça de trabalhar e estudar”, afirmou Afonso.


As diferentes práticas do Fase Matan em Timor

Tomás Alves Madeira, de Letefoho, Ermera, explicou que na sua comunidade o Fase Matan é sempre feito de madrugada, para que o bebé receba a bênção da luz das estrelas e do sol. O ritual inclui medir o bebé dos pés à cabeça — gesto simbólico para que a criança cresça saudável e alta — e passar uma moeda de dez centavos nos olhos do bebé.

“É necessário realizar o Fase Matan para que a criança possa receber a luz das estrelas e  do sol, de modo a que os seus olhos fiquem claros e consigam ver tudo com nitidez”, destacou.

Tomás contou que, durante a cerimónia, os familiares colocam água num prato e adicionam uma moeda de dez centavos, que é depois colocada em frente à casa, juntamente com bua malus (noz de areca e betel, em português). 

“Pegamos numa moeda de 10 centavos para passar nos olhos do bebé, para que os seus olhos brilhem como a lua e as estrelas. E não é apenas para proteger os olhos do bebé, mas também para todos os familiares, para que ninguém fique com a visão cinzenta demasiado cedo”, explicou.

Disse ainda que, durante o processo, deve ser escolhida uma pessoa para realizar a medição do bebé, passando as mãos dos pés até à cabeça, com o objetivo de que, no futuro, a criança possa crescer com boa estatura. Após essa medição, a criança é levada para fora de casa para se realizar o ritual do Fase Matan, utilizando a água e a moeda que foram previamente colocadas no prato. “Depois, o bebé é erguido em direção ao nascer do sol, para que possa receber a força e a bênção da luz do dia”, explicou.

Tomás Madeira concordou que o Fase Matan é uma tradição feita para conceder atak malirin (bênção da natureza) ao bebé e que, ao mesmo tempo, serve como um ritual de libertação, permitindo que tanto o bebé como a mãe possam voltar a sair de casa e sentar-se ao ar livre.

João Rui Lemos, de Laclubar, Manatuto, descreveu o ritual como uma espécie de “batismo cultural”. Na sua tradição, além de lavar os olhos, a família entorna água sobre a moleira do bebé e anuncia-lhe oficialmente o nome, geralmente herdado dos avós. Caso o nome escolhido não seja o adequado (por exemplo, se o bebé chorar muito), a família procura outro nome dentro da linhagem familiar.

A pessoa que carrega o bebé: espelho do seu futuro

Os praticantes do Fase Matan acreditam que a pessoa que carrega o bebé durante o ritual influencia o seu caráter futuro. Por isso, a escolha é criteriosa. O homem torna- se o Aman Kous (“pai acolhido”) e a mulher, a Inan Kous (“mãe acolhida”).

Afonso explicou: “Se escolhermos alguém que não respeita os outros ou que tem maus
comportamentos, a criança poderá crescer com essas mesmas características.”

“Se escolhermos uma pessoa que gosta de causar problemas, que não respeita os outros e age com arrogância, esse comportamento refletir-se-á na criança”, disse Afonso. Mencionou que essa situação aconteceu na sua própria família. “A minha filha, agora, fala muito, tal como a tia que a acolheu durante o Fase Matan“, afirmou.

Tomás Madeira acrescentou que, mais tarde, realiza-se outra cerimónia chamada
Oidu (“trazer para fora”), na qual o bebé é levado para fora de casa com utensílios agrícolas
e materiais escolares, reforçando a ligação entre trabalho e estudo.

Disse que a pessoa escolhida para carregar o bebé para fora de casa deve ter boas atitudes e conhecimento, pois, no futuro, esses comportamentos refletir-se-ão na criança à medida que crescer.

“Quando uma criança é traquina e as pessoas comentam que ela não respeita ninguém, as famílias perguntam logo aos pais: ‘Quem levou a criança para fora de casa durante o Fase Matan?’ Se os pais indicarem uma pessoa conhecida por esse tipo de comportamento, então as famílias dizem: ‘É por isso que o comportamento do teu filho ou filha é igual ao dessa pessoa;”, explicou.

Um apelo urgente: preservar uma tradição em risco

Apesar da sua importância cultural, o Fase Matan está a desaparecer, sobretudo devido à modernização e às mudanças nos valores familiares. Afonso Aleixo explicou que, mesmo onde ainda se pratica o barlaque (casamento tradicional), a cerimónia já enfrenta dificuldades.

“Se a casa sagrada deixar de dar importância a estas práticas, a tradição poderá desaparecer. Podemos registá-las por escrito, mas a sua verdadeira força está na prática”, lamentou João Lemos.

Tomás Alves Madeira observou que, em Ermera, a tradição ainda resiste, mas nas famílias que se mudaram para Díli o ritual tem vindo a perder-se.

Todos apelam para que se continue a praticar e a investigar o Fase Matan, para que as gerações futuras possam conhecer e valorizar esta herança ancestral. “Precisamos que os estudantes pesquisem, registem e divulguem esta tradição, porque ela está seriamente ameaçada de desaparecer”, concluiu Tomás.

Entre a luz e a cegueira

Em Timor-Leste, a visão não é apenas física: é também um dom espiritual, um guia para a vida. O ritual do Fase Matan reflete esta conceção ancestral — lavar os olhos do recém-nascido para que ele possa ver o mundo com clareza, sabedoria e responsabilidade.

Este simbolismo ecoa também na literatura timorense, nomeadamente no romance Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo, de Luís Cardoso. A protagonista, Beatriz, nasce com olhos enormes e mágicos, mas é vendada para ser protegida das dores do mundo e por julgarem que ela padece de uma doença. Paradoxalmente, é ela, cega para o exterior, quem melhor compreende as verdades escondidas, enquanto aqueles que mantêm os olhos abertos permanecem presos à ignorância e à ilusão.

Tal como em Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, Luís Cardoso mostra-nos que ver fisicamente não significa necessariamente compreender. A verdadeira cegueira é espiritual: é não querer ver, é não querer saber. Em Timor, nas tradições como o Fase Matan, preserva-se o valor de ensinar a ver para além do imediato — de formar crianças capazes de interpretar o mundo com lucidez e compaixão.

Num país onde a visão representa tanto uma bênção como uma responsabilidade, osrituais e as histórias lembram-nos que, mais importante do que abrir os olhos, é aprender a ver. Como diria José Saramago, no seu Ensaio sobre a Cegueira, “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

Texto e fotos:  Rilijanto Viana | Jornal “Diligente” |  19 de abril de 2025  

(Revisão / fixação de texto para publicação no blogue: LG)

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Nota do editor:

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domingo, 6 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26657: VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: 22 de março, um dia histórico para a Escola de São Francisco de Assis, com a visita-surpresa de Kay Rala Xanana, o 1º ministro de Timor Leste




Timor Leste > Município de Liquiçá > 22 de março de 2025 > Não foi "a preciso a montanha ir a Maomé"... Desta vez, foi "Maomé que foi à monhanha"...






O 1º ministro da República Democrática de Timor-Leste (RDTL), Kay Rala Xanana Gusmão faz uma visita-surpresa â Escola de São Franscisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, suco de Leotela, município de Liquiçá, na festa da celebração do 7º aniversário da sua fundação.

 E deixa uma mensagem de esperança com vista à resolução dos problemas pendentes (o mais grave, a falta de professores diplomados, fornecidos e pagos pelo governo da RDTL: ao fim de 7 anos, continua a funcionar com 5 professores voluntários, sem as habilitações exigidas por lei; a escola, privada,construida por iniciativa da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste, sediada em Coimbra, Portugal,   é frequentada por 102 alunos, 54 meninas e 48 rapazes, que vivem no suco de Leotela, sem acesso à esc0la pública. (Mesmo em Timor Loro Sa'e, a terra do sol nascente, em tétum, o sol quando nasce ainda não é para todos...)

Créditos fotográficos: Média - GPM / RDTL (República Democrática de Timor-Leste, com a devida vénia)... Fonte: Página do Facebook do 1º Ministro da RDTL, Kay Rala Xanana Gusmão



1. O  Rui Chamusco  é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2024. Tem 78 anos, é natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. Está reformado, mas ativo e proativo.

 É um dos cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), pensada em 2015, criada legalmente em 2017, com sede em Coimbra, com outros amigos, o luso-timorense Gaspar Sobral e a malcatense Glória Sobral. É uma instituição privada de solidariedade social sem fins lucrativos.

Esta é  uma grande história de amizade e solidariedade. Com esta, é a sexta vez  que o "avô" Rui viaja até Timor, desde 2016. Em geral, fica lá no mínimo 3 meses,  dedicando-se de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, onde estão as raízes da família Moniz Sobral, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, suco de Leotala, município de Liquiçá, que no dia 19 de março de 2025 celebrou o seu 7º aniversário. (Mas a festa só foi no sábado, dia 22.)

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz Sobral) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral. É tratado como avô, tio ou pai. Ou malae (branco) e agora, mais recentemente, por katuas (velhote), à medida que os 78 anos começam a pesar. Mas, claro, ninguém lhos dá... em Portugal. Em Timor, um país extremamente jovem, quem vai para os 80 é um katuas (velhote, mas respeitado).



VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: 22 de março, um dia histórico para a Escola de São Francisco de Assiz, com a visita-surpresa de  Kay Rala Xanana, o 1º ministro de Timor Leste 



21.03.2025, sexta  – Preparando o VII aniversário da ESFA

Confesso que sinto algum desânimo e deceção. Todos os convites formulados e entregues a pessoas e entidades não tivemos qualquer resposta. Algumas pessoas e amigos com quem contávamos, à última da hora, não puderam participar. Das cartas enviadas ao senhor Primeiro Ministro Xanana Gusmão e ao senhor vice-primeiro Ministro Assanami Sabino também não houve resposta. 

Foi então que disse para o Eustáquio: “Não faz mal. Vamos celebrar o aniversário entre nós (professores, alunos, famílias)”. E elaborei um pequeno programa para o efeito, simples mas bonito, que a seguir apresento.

ESCOLA SÃO FRANCISCO DE ASSIS “PAZ E BEM” 
– Boebau / Manati – Leotalá

VII aniversário

1. Boas vindas

- Eustáquio
- Hino da Escola

2. Imposição de tais

3. Celebração:

- Cântico “Vamos aclamar o Senhor”

- Cântico das criaturas

- Música “Amazing Grace” com leitura da Oração de S.Francisco

- Cântico “Nós damos graças ao Senhor”

4. Inauguração do muro de proteção

- Leitura do poema “O Muro” de Alberto Oliveira

- Música de acordeão e canas, paus, pedras

5. Canções portuguesas:

- “A Chuva” )

- “A dar-te um beijo” ) Adobe

- Abre a janela /As modinhas / É bom camarada

6. Parabéns a você

- Canto dos Parabéns


- Corte e distribuição do bolo e do champanhe

7. Almoço para crianças e adultos

8. Visita às instalações da escola e casa dos professores


Depois de um pequeno ensaio com a Adobe e o Eustáquio, achamos que já estávamos preparados para o dia seguinte. Toca a descansar…”Vamos a la cama que hay que descansar / Para que mañana podamos trabajar” (canção espanhola para as crianças irem para a cama).

22.03.2025,  sábado – VII aniversário da ESFA


De manhã cedinho, toca a levantar para que a hora marcada iniciemos a viagem até Boebau que, como sempre, será uma aventura no bom e no mau sentido: caminhos difíceis em que tanto veículos como pessoas têm de andar aos saltos, e onde nós os mais velhos,  katuas,  ficamos feitos num oito, todos escangalhados, mas também paisagens muito bonitas, com pessoas amáveis que nos dão o “bom dia!"... 

 nossa chegada já se ouviam as crianças da SFA cantando, sob o comando de Titânia, uma nossa antiga aluna que agora frequenta a escola CAFE de Liquiçá. Logo que descemos as escadas, toda aquela gente corre para nós para o ritual do “beija mão”, ou outros cumprimentos mais ocidentais. 

Mais ou menos à hora prevista, começou a realização do programa, que não foi cumprido na íntegra porque, a um determinado momento, começou a avistar-se um carro da polícia, seguido de mais seis carros de Estado. E, num grito, alguém anunciou: “Xanana!...Xanana!"... 

Foi um autêntico reboliço que se gerou. Programa interrompido, para ir receber o Sr. Primeiro Ministro e todo o seu séquito. Ao som de palmas e de aclamações, eu e o Eustáquio fomos ao seu encontro, e depois de uma saudação efusiva, perguntei: “Porque não nos respondeu?”. E ele respondeu: “Quis fazer-vos uma... surpresa!”

E pronto, a partir daqui o programa teve que ser alterado mas não na totalidade. Continuamos a pequena cerimónia, agora com a presença de altas individualidades e do povo de Boebau que ao saber da presença do Kay Rala Xanana se aglomerou na escola e nas redondezas.

Ficamos muito bem impressionados com a simplicidade, a empatia e a capacidade desta personagem emblemática para Timor Leste e para o mundo. O sr. Primeiro ministro falou e disse coisas importantes, cantou e orientou a cantoria, distribuiu comida às crianças, tirou fotografias com quem solicitou, etc…

 Embora já tivéssemos um bolo de aniversário, ele preocupou-se de trazer um bolo de aniversário enorme, bonito, aonde podemos ler “ Escola S. FRANCISCO DE ASSIS “ Paz e Bem”/ VII aniversário / 22 de Março de 2025”, e que depois cortou e partilhou pelas crianças e adultos. 

Trouxeram também carregamento de sacos de arroz, caixas de supramin, caixas com garrafas de óleo, livros para as crianças e caixas com camisolas (t-shirt), que oportunamente serão distribuídos pelas famílias mais carenciadas.

Depois do almoço para adultos e crianças, e depois de uma prolongada sessão de fotografias, chegou a hora da partida. Todos agradecemos esta agradável surpresa e, ao som de palmas e de agradecimentos, o senhor Primeiro Ministro e seus acompanhantes procederam à retirada, até porque tinham ainda de marcar presença noutro evento. 

Dia memorável em Boebau. Dia memorável para a ESFA. Diz-se por cá, que este dia vai ficar para sempre, e que há dois acontecimentos que ficam na história de Boebau, a saber: a inauguração da Escola São Francisco de Assis e a visita do Senhor Primeiro Ministro Kay Rala Xanana Gusmão.

E assim o VII aniversário da ESFA se tornou num facto histórico. Imaginam com certeza o nosso inebriamento, a nossa alegria, a nossa satisfação. A visita do Sr. Primeiro Ministro foi muito importante, que muito agradecemos. Mas não é de menor importância a sensibilidade

Assim, e a pedido dele, estamos a preparar um pequeno portefólio sobre a escola, de modo a ser-lhe entregue durante estes oito dias. Depois veremos. Mas temos esperança que, desta vez, ou “vai ou racha”, porque há pessoas em lugares de chefia que podem tomar essa decisão.

“Sursum corda!” (Corações ao alto!)

22.03.2025 – A seguir…

Embora extenuados pelo cansaço corporal e pelas fortes emoções, tivemos de pensar também no regresso a Dili. Mas a chuva era tanta e o nevoeiro tão intenso que não ousamos fazer a viagem. Não valia a pena arriscar. Tivemos então que decidir pernoitar em Boebau, para amanhã regressar à capital. 

E vai daí, tivemos tempo para tudo: para entregar as prendas e os donativos dos padrinhos, para em amena cavaqueira bebermos o café timorense, e para mais uma vez. sermos “instrumentos de paz”. Já não é a primeira vez que sou chamado para
exercer tal função perante situações conflituosas, às vezes até muito violentas. Talvez porque sou katuas e malai,  e porque sou associado à figura de São Francisco de Assis e à escola “Paz e Bem”, todos têm um grande respeito e carinho por mim. O grande interlocutor destas situações é sempre o Eustáquio que me disse” Tiu, temos de ir a casa de… para falar com… e para ele(a) perdoar e fazerem as pazes”. 

Missão cumprida. Fizemos o que devíamos, e o resto cabe a Deus. Mas, parece que deu resultado. À noite, na casa para os professores, cada um procurou o seu canto para poder descansar.

23.03.2025, domingo – O regresso à base

Logo de manhã, porque temíamos que a chuva e o nevoeiro nos boicotassem o caminho, aí vamos nós. Nada de relevante, a não ser os buracos e a lama (manteiga) em alguns troços do caminho, o leito da ribeira que não tem dez metros que sejam direitos, a boa estrada de Liquiçá a Dili e, para a gente não se habituar, o calvário dos caminhos (mercado de Perunas e seguintes) que nos trazem até aqui, em Ailok Laran. 

Normalmente, seja na ida ou na vinda, fazemos uma paragem antes da descida para qualquer direção, a fim de arrefecer o motor da pickup e dos fumadores engolirem o fumo de dois ou três cigarros. 

O local da paragem é um sítio lindíssimo, donde se avistam paisagens maravilhosas aonde predominam árvores de grande porte (20 a 30 metros de altura, com uma copa a condizer) – a madre cacau – que abriga os cafeeiros. Ouve-se um som muito intenso que é produzido pela grande quantidade de cigarras que povoam a copa destas árvores. 

Foi então que o Eustáquio me saiu com esta: “Quando eu era garoto, à noite acendíamos uma fogueira, e as cigarras atraídas pelo fogo caíam em cima do lume, ficavam assadas e a gente comia”. 

Ora aqui está mais uma descoberta, mais um grande petisco. Mas não as comeram todas, como se pode verificar pelo som atordoador que ouvimos. Dó que, se a moda pega, não há cigarra que resista, e teremos mais uma espécie em vias de extinção.

25.03.2025, terça – Carta de Agradecimento


Hoje fomos entregar no Palácio do Governo, Gabinete do Sr. Primeiro Ministro a carta de agradecimento pela visita surpresa que nos fez, assinada por mim e pelo Eustáquio, em nome da ASTIL de Portugal e da ASTILMB de Timor Leste, em nome das crianças e adultos da Escola São Francisco de Assis, em nome do povo de Boebau. 

Jà ontem tivemos uma reunião de trabalho com o amigo Rui Pacheco, técnico do governo na área de apresentação de projetos, que se disponibilizou para elaborar um pequeno dossiê sobre a ESFA, a fim de ser entregue ao primeiro ministro Xanana Gusmão e ao vice primeiro ministro Assanami Sabino, que eles próprios me solicitaram. 
 
O Ministro Ray Kala Xanana pediu-me em Boebau para lhe fazer chegar esse relatório nos próximos oito dias. Tudo faremos para que assim seja. E esperamos com alguma ansiedade que nos façam chegar decisões que sejam a solução para os problemas que enfrentamos.

Sua Excelência
Kay Rala Xanana Gusmão
Primeiro Ministro da República Democrática de Timor Leste

Com os nossos melhores cumprimentos, vimos agradecer a Vossa Excelência a visita surpresa que nos fez por ocasião da celebração do VII aniversário da Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, em Boebau, nas montanhas de Liquiçá, suco de Leotalá. A presença de Vossa Excelência, bem como de todas as pessoas que o acompanharam, foi para todos nós motivo de honra e satisfação, que deu a esta escola projeção ímpar tanto em Timor Leste como noutras partes do mundo, sobretudo no país irmão Portugal. 

Apreciamos muito a sua simplicidade e a sua empatia com as crianças e adultos presentes, e vamos guardar bem nos nossos corações e nas nossas memórias este dia extraordinário da visita do Sr. Primeiro Ministro Kay Rala Xanana, personagem muito querida e respeitada por esta gente das montanhas. 

Dia 22 de março de 2025 fez-se história em Boebau, fez-se história na Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”

MUITO OBRIGADO SENHOR PRIMEIRO MINISTRO, em meu nome pessoal (abô Rui), em nome do Coordenador da ESFA (Pai Nino), em nome da Escola São Francisco de Assis(ESFA), em nome da Associação de Amigos de Timor Leste de Portugal (ASTIL) eda Associação de Amigos de Timor Leste de Manati/Boebau (ASTILMB), em nome de todas as crianças e pessoas de Boebau e localidades mais próximas.

Queremos também manifestar a nossa disponibilidade para colaborar, segundo as nossas possibilidades, na educação e desenvolvimento deste país irmão, ao qual estamos intensamente ligados por laços culturais e de amizade. Timor Leste, e particularmente as crianças mais necessitadas das montanhas e dos bairros mais pobres de Dili, estão no nosso coração. Que São Francisco de Assis a todos nos abençoe…

Com muita estima e consideração

Professor Rui Chamusco / Coordenador João Moniz Sobral


27.03.2025, quinta– A Elisa


A menina Elisa é a filha mais nova de 14 irmãos da família Vitor, veterano da resistência de quem muito tenha falado nas minhas primeiras crónicas. A Elisa já não conheceu o pai porque ele faleceu antes ou pouco tempo depois de ela nascer. Devido à situação degradante em que esta família vivia – um verdadeiro caso social –
tentamos logo resolver alguns problemas, através da angariação de meios económicos que permitissem a construção de uma casa digna para habitação. Conseguimos também que quatro dos seus filhos fossem apadrinhados por sócios da Astil. E foi sempre nossa preocupação que as crianças em idade escolar frequentassem a escola.

Este ano, logo quase no início da minha estadia, os padrinhos da Elisa enviaram um donativo bastante generoso, e por isso a Elisa foi convocada (eles habitam aqui em Ailok Laran) para vir receber o donativo. E a menina(já vai a fazer 9 anos no mês de Junho) apareceu ao final da tarde. Limpinha e bem vestida(creio que o vestido foi alugado para a ocasião). E, perante a pergunta que lhe fiz “em que classe andas na escola?”, a Elisa, triste, respondeu: “Eu não vou à escola”. Parece que explodiu em mim uma bomba. “O quê? Esta menina não anda na escola? Então não se entrega o donativo enquanto este assunto não for esclarecido e resolvido.” E lá fui eu e o
Eustáquio a casa da família Vítor, ver o que se passava. O irmão mais velho, José, explicou então que a Elisa ainda não foi matriculada na escola porque não tem a certidão de batismo. Em Timor Leste, a certidão do batismo é um documento oficial, que substitui a certidão. E não vale a pena fazer mais perguntas, porque todas as respostas que nos possam dar não conseguirão justificar a negligência desta gente.

Ainda lhes disse que, se isto fosse em Portugal era a polícia que vinha ter com eles, porque é um crime privar uma criança de frequentar a escola. “Então nós (eu e o Eustáquio) vamos tratar disto”. E lá fomos nós ao Cartório Paroquial da Sé tentar obter
a certidão de batismo. Foi uma trabalheira, porque os nomes não batiam certos. Nós pensávamos que a filiação era o pai e a mãe que tods conhecemos, mas afinal, o José e a Rita (o irmão e a cunhada) perfilharam a menina que já foi batizada depois de o verdaeiro pai morrer. Ao fim de alguns dias ou semanas lá conseguimos a dita certidão que nos vai permitir deslocarmo-nos até uma escola das redondezas para matricularmos para matricular a Elisa.

28.03.2025, sexta – A matrícula da Elisa

Logo de manhã, a Marcelina (Akai) telefona ao Eustáquio para dizer que espera por nós às 10 horas para ir connosco à Escola de Hudi Laran falar com o diretor sobre a matrícula. Passamos pela casa do Vítor para apanhar a Elisa, que depois de algum tempo de espera porque tinha de se preparar, lá vem a menina. Enquanto esperávamos, algo nos chamou a atenção. Primeiro o filho Valente, que nós ajudamos a reintegrar na escola há alguns anos mas sem grande êxito porque só estudou até ao nono ano.

Educadamente veio cumprimentar-me, e depois tentou disfarçar ou encobrir o que se estava a passar. Junto a ele estava um grupo de jovens, alguns já casados e com filhos, bêbados que nem um cacho, alguns já na ressaca e sem saberem o que diziam ou faziam. Tinham junto deles um garrafão de 5 litros de sabu. Uma bebida alcoólica extraída das palmeiras parecida com a aguardente. Começaram a beber ontem à noite e esta manhã ainda tinham lá uma pinguinha. Hoje é para a ressaca, também ela cheia de peripécias que nem vale a pena contar. 

“O timorense é assim. Tem dinheiro e gasta logo em cigarros e sabu”, diz o Eustáquio. É pena que assim seja. Há tanta coisa a emendar por aqui!... 

Mas vamos ao que interessa. Chegados à escola, fomos recebidos pelo diretor que logo nos disse: ”Agora já é tarde para fazer a matrícula porque os dados desta escola já foram enviados para o ministério da educação". 

Então pedimos que a Elisa, mesmo sem estar matriculada, pudesse informalmente ir a esta escola para conviver e assistir às aulas e para o começar logo no início. O diretor aceitou, e ficou de falar com uma das professoras. 

E assim a Elisa, na próxima segunda feira já pode ir à escola. Depois, lá fomos nós comprar duas fardas, meias e sapatos, mochila e material escolar para que a Elisa se sinta integrada neste novo mundo, no seu ambiente escolar. Que este seja o princípio de uma nova vida…


(Revisão / fixação de texto para publicação no blogue: LG)
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Notas do editor:

(**) Vd. postes de:

30 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26630: Facebook...ando (70): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte I

31 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26631: Facebook...ando (71): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte II

segunda-feira, 31 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26633: Facebook...ando (72): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - III (e última) Parte



Fotos nº 15 e 16










Fotos nºs 17, 18, 19, 2o, 21 e 22

  O 1º ministro da República Democrática de Timor-Leste, Kay Rala Xanana Gusmão faz uma visita-surpresa â Escola de São Franscisco de Assis (ESFA), em Manati Boebau, Liquiçá, na festa da celebração do 7º aniversário.   E deixa uma mensagem de esperança com vista à resolução dos problemas pendentes (o mais grave, a falta de professores diplomados, fornecidos e pagos pelo governo da RDTL: ao fim de 7 anos, continua a funcionar com 5 professores voluntários, sem as habilitações exigidas por lei; a escola, privada,   é frequentada por 102 alunos, 54 meninas e 48 rapazes, que vivem no suco de Leotela,  sem acesso à esc0la pública).

Legendas: 

(i) o primeiro ministro ladeado pelo "Eustáquio", coordenador da ESFA e pelo nosso Rui Chamusco, reepresentante da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste, a quem se deve a fundação da Escola (que também possui casa para professores) (15); 

(ii) recorde-se que o Eustáquio (16), irmão (mais novo) do Gaspar Sobral (cofundador da ASTIL, que vive em Coimbra, e foi topógrafo em Angola, antes da independència), andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família, durante três anos e meio, refugiado nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação do território pelas tropas indonésias (em 7 de dezembro de 1975) (tinha "apenas" 14 anos);

(iii) embora a paisagem seja deslumbrante,  e a região tenha "potencialidades turísticas", o isolamento da aldeia de Manati / Boebau, suco de Leotela, posto administrativo de Liquiçá, município de Liquiçá, a 50 km a leste de Díli,  é ainda muito grande (17, 18, 19, 2o, 21 e 22);  

(iv) está em construção uma estrada rural, no valor de perto de meio milhão de dólares (moeda de Timor Leste); prevê-se a sua conclusão no final de agosto de 2025 (23).


Créditos fotográficos: Média - GPM / RDTL (República Democrática de Timor-Leste, com a devida vénia)... Fonte: Página do Facebook do 1º Ministro da RDTL, Kay Rala Xanana Gusmão



1. Aqui vai o discurso do Coordenador da ESFAMB, Escola de S. Francisco de Assis, Manati Boebau, "Eustáquio"
 (João de Araújo Moniz Sobral),  na receção ao Primeiro Ministro de Timor-Leste,  Kay Rala Xanana Gusmão, que fez uma visita de surpresa! 

O texto traduzido obedece rigorosamente ao que foi dito em tétum. Há frases que mostram falta de contexto, principalmente frases soltas, e com alguma dificuldade de compreensão, depois de traduzido.

Segue-se o discurso traduzido (, reproduzido coma  devida vénia da página do Facebook da ASTIL, 27 de março de 2025, 23:23):

Uma grande surpresa para todos nós, povo rural, onde falta quase tudo. Estamos muito contentes. 

Como coordenador da escola, desta escola, tenho um respeito muito especial pelo fundador da escola, que, com os seus 78 anos, vem de tão longe, e ainda está a dar o seu contributo para erigir esta escola, servindo o povo desta terra... 

Porque aqui, a maior dificuldade que nós enfrentamos durante tantos anos,  são as crianças da aldeia e deste suco, principalmente nesta aldeia em se encontra a escola: estas crianças frequentam o primeiro e o segundo ano do ensino básico... E, nalguns casos, por aqui ficam, porque a distância que vai desta escola para a outra (para poderem continuar os estudos no secundário) fica muito grande; têm que atravessar ribeiras, mato, caminhos difíceis durante o inverno, (encostas íngremes). 

Por isso, com esta escola queremos encurtar caminho para as nossas crianças, porque nós, como filhos de Timor, o que é que temos para oferecer ao nosso país ? Fazer coisas boas.

As nossas autoridades estão mais preocupadas com as coisas da nação; nós,. povo, na nossa pequenez, podemos levantar as nossas forças e ajudar; mas acreditamos no apoio das nossas autoridades para nos ajudar a chegar onde queremos atingir... As nossas forças têm um limite e já as atingimos; queremos continuar mas já nos faltam forças! 

Assim, esta oportunidade, o nosso pai, a raiz da nossa terra, que apareceu perante nós, e sentimo-nos muito contentes, porque estamos com dificuldades para avançar e assim poder ajudar este povo. 

Porém enfrentamos neste momento dificuldades de toda a espécie; com o nosso pai, o nosso irmão, a raiz da nossa terra, sentimos que, talvez possamos ter alguma esperança. Porque nós aqui, como professores, sem esconder nada, apenas temos o ensino básico, o pré-secundário, o secundário, e estamos a ensinar. 

Somos voluntários, com um grande coração, queremos mesmo desenvolver esta terra no tocante à educação, principalmente na área rural; porque o povo da cidade tem possibilidades de ter muitas coisas boas, mas aqui, o povo, para ter uma formação elementar,  torna-se muito difícil, e por isso estamos aqui. 

Aproveito esta oportunidade para também lembrar que durante e desde o funcionamento da escola, a conclusão da construção em 2017 e a inauguração em 2018, tenho trabalhado como voluntário, porque pensei para mim, o meu nome é filho de Timor, o que é que devo contribuir para a minha nação, talvez não tenha dado o melhor do meu contribuo para melhorar a educação, mas dedico-me de corpo e alma naquilo que faço, principalmente nas áreas rurais, pensando no futuro...

Na eventualidade de perdermos os que hoje nos governam, talvez com a graça e ajuda de Deus eles (as crianças) possam avançar (nos seus estudos) e poder substituí-los no lugar que hoje é exercido pelos mais velhos, dando a possibilidade às pessoas dos povos mais pequenos poderem também exercer os cargos das actuais autoridades. 

Enfrentamos agora desde a entrada em funcionamento da escola um grande problema: no início começamos com o pré-escolar; entretanto a escola evoluiu e avançamos para o 1º ciclo; nós, professores, não temos formação adequada. 

Já refleti sobre o problema e pergunto se é mesmo importante, no nosso caso concreto, se é mesmo importante esta formalidade de ter um diploma. Em vez de olharmos para o diploma, talvez olhássemos mais para estas pessoas que se dedicam mesmo de alma e coração, no sentido de levar as coisas por diante; eu e os professores somos voluntários desde o início. 

Neste momento não auferimos qualquer vencimento. Também eles se entregam totalmente à causa, com grande coração; alguma compensação no sentido de comprarem os cigarros e nada mais, e já lá vão 7 anos.

 
(Revisão / fixação de texto para publicação no blogue: LG)

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Nota do editor:

Postes anteriores da série > 

31 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26631: Facebook...ando (71): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte II

domingo, 30 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26630: Facebook...ando (70): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte I




Fotos nºs 1, 2 e 3 > O 1º ministro da República Democrática de Timor-Leste, Kay Rala Xanana Gusmão, acompanhado do administrador do município de Liquiça, Rogério dos Santos,  faz uma visita-surpresa  â Escola de São Franscisco de Assis, em Boebau / Manatti, município de Liquiçá, é recebido pelo Rui Chamusco ("avô Rui"), português, dirigente  da ATIl, e nosso grão- tabanqueiro, e pelo coordenador da escola João de Araújo Moniz Sobral  ("Eustáquio").








Fotos nºs 4, 5, 6 e 7>  Houve muitos vivas, balões, muita alegria, discursos de boas vindas e... música!... O nosso grão-tabanqueiro, o "avô" Rui anda sempre com o seu acordeão atrás dele... É um homem prevenido...


Foto nº 8 > A placa da inauguração da Escola, em 19/3/2018... O "corta-fitas" foi o nosso régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, o luso-americano João Crisóstomo.


Foto nº 9 > Uma aspeto da escola já com o muro exterior, construído recentemente.


Foto nº 10 > O 1º ministro da RDTL com o grupo de professores, mais o Rui e o "Eustáquio"

Imagens da Média - GPM / RDTL (República Democrática de Timor-Leste, com a devida vénia)... Fonte:  Página do Facebook do 1º Ministro da RDTL, Kay Rala Xanana Gusmão


1. Damos a feliz notícia... mas em tétum... Pode ser que haja alguma alma caridosa que traduza para português... O doutor Google diz que já faz traduções do tétum para português, mas deu-me agora uma nega... Em próximo poste, reproduziremos o discurso do "Eustáquio", em versão portuguesa... Do tétum apanham-se uma série de vocábulos que são de origem portuguesa...


𝐄𝐒𝐊𝐎𝐋𝐀 𝐒A𝐎 𝐅𝐑𝐀𝐍𝐂𝐈𝐒𝐂𝐎 𝐃𝐄 𝐀𝐒𝐒𝐈𝐒 𝐄𝐙𝐈𝐒𝐓𝐄 𝐓𝐈𝐍𝐀𝐍 𝐇𝐈𝐓𝐔, 𝐏𝐌 𝐗𝐀𝐍𝐀𝐍𝐀 𝐀𝐆𝐑𝐀𝐃𝐄𝐒𝐄 𝐏𝐑𝐎𝐅𝐄𝐒𝐎́𝐑 𝐍𝐀𝐈’𝐍-𝐋𝐈𝐌𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐔𝐍𝐓𝐀́𝐑𝐈𝐔 𝐇𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐍 𝐄𝐒𝐓𝐔𝐃𝐀𝐍𝐓𝐄

LIQUIÇA, 22 Marsu 2025

Primeiru-Ministru (PM), Kay Rala Xanana Gusmão agradese ba profesór foin-sa’e Timor-oan na’in lima (5) kompostu hosi feto tolu no mane rua ne’ebé ho de’it diploma sekundáriu voluntáriu tinan hitu ona fahe matenek ba estudante sira iha eskola São Francisco de Assis, Liquiça.

Apresiasaun ne’e Xefe Governu hato’o bainhira hala’o vizita supreza hodi partisipa selebrasaun aniversáriu Eskola São Francisco de Assis “PAZ E BEM” iha Aldeia Hatumasi, Suku Leotala, Postu Administrativu Liquiça, Munisípiu Liquiça, sábadu (22/03/2025).

Vizita s
upreza ne’e PM Xanana halo hafoin simu karta ne’ebé hakerek hosi Fundadór Eskola São Francisco de Assis, Rui Fernandes Manuel Chamusco dirije bá PM Xanana hodi relata prokupasaun ne’ebé estudante no inan-aman sira hasoru.

Eskola ne’e harii hosi Associação de Amigos Solidárioa com Timor Leste (ASTIL-Portugál), iha tinan 2019 ho sala aula tolu, haris-fatin ida, ne’ebé inaugura iha loron 10 fulan-Marsu hosi fundadór ASTIL, João Crisóstomo e Criança de Boebua, eskola ne’e harii ho intensaun ajuda estudante sira iha área rurál asesu ba edukasaun ho besik liután.

“𝐇𝐚’𝐮 𝐦𝐚𝐢 𝐭𝐚𝐧𝐛𝐚 𝐢𝐦𝐢-𝐧𝐢𝐚 𝐞𝐬𝐤𝐨𝐥𝐚 𝐬𝐞𝐥𝐞𝐛𝐫𝐚 𝐭𝐢𝐧𝐚𝐧-𝐡𝐢𝐭𝐮, 𝐡𝐚’𝐮 𝐦𝐚𝐢 𝐚𝐭𝐮 𝐚𝐠𝐫𝐚𝐝𝐞𝐬𝐞 𝐛𝐚 𝐀𝐯ó 𝐑𝐮𝐢 𝐅𝐞𝐫𝐧𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 𝐌𝐚𝐧𝐮𝐞𝐥 𝐂𝐡𝐚𝐦u𝐬𝐜𝐨 𝐡𝐨 𝐧𝐢𝐚 𝐦𝐚𝐥𝐮𝐤 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐞’𝐞𝐛𝐞é 𝐡𝐨 𝐥𝐚𝐫𝐚𝐧 𝐛𝐨’𝐨𝐭, 𝐟𝐮𝐚𝐧 𝐛𝐨’𝐨𝐭 𝐡𝐨𝐝𝐢 𝐚𝐣𝐮𝐝𝐚 𝐦𝐨́𝐬 𝐠𝐨𝐯𝐞𝐫𝐧𝐮 𝐚𝐭𝐮 𝐡𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐞𝐝𝐮𝐤𝐚𝐬𝐚𝐮𝐧 𝐧𝐨 𝐩𝐫𝐞𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐢𝐭𝐚-𝐧𝐢𝐚 𝐨𝐚𝐧 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐢𝐚 𝐞𝐝𝐮𝐤𝐚𝐬𝐚𝐮𝐧. 𝐇𝐚’𝐮 𝐦ó𝐬 𝐡𝐚𝐤𝐚𝐫𝐚𝐤 𝐚𝐩𝐫𝐞𝐬𝐢𝐚 𝐦𝐨́𝐬 𝐛𝐚 𝐏𝐚𝐢 𝐍𝐢𝐧𝐨 (𝐉𝐨ã𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐫𝐚ú𝐣𝐨) 𝐡𝐨 𝐩𝐫𝐨𝐟𝐞𝐬ó𝐫 𝐧𝐨 𝐩𝐫𝐨𝐟𝐞𝐬𝐨𝐫𝐚 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐥𝐚𝐫𝐚𝐧 𝐥𝐮𝐚𝐤 𝐡𝐨𝐝𝐢 𝐡𝐚𝐫𝐞𝐞 𝐛𝐚 𝐢𝐦𝐢-𝐨𝐚𝐧 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐢𝐚 𝐟𝐮𝐭𝐮𝐫𝐮. 𝐒𝐞́ 𝐡𝐨 𝐯𝐨𝐥𝐮𝐧𝐭á𝐫𝐢𝐮 𝐡𝐚𝐧𝐞𝐬𝐚𝐧 𝐧𝐞’𝐞 𝐦𝐚𝐤𝐚, 𝐩𝐫𝐨𝐟𝐞𝐬ó𝐫 𝐓𝐢𝐦𝐨𝐫-𝐨𝐚𝐧 𝐡𝐨𝐭𝐡𝐨𝐭𝐮 𝐛𝐞𝐥𝐞 𝐤𝐨𝐧𝐭𝐫𝐢𝐛𝐮𝐢 𝐚𝐭𝐮 𝐡𝐚𝐝𝐢’𝐚 𝐢𝐭𝐚-𝐧𝐢𝐚 𝐫𝐚𝐢𝐧,” PM Xanana hateten.

Xefe Governu haktuir, Ministériu Edukasaun rezolve hela problema edukasaun no problema profesór sira. Maibé iha área rurál hanesan iha Aldeia Hatumasi profesór sira hanorin voluntáriu tinan hitu ona, nunka reklara sira-nia direitu más sakrifika a’an atu hanoin de’it oinsá mak fahe sira-nia matenek ba estudante sira nia futuru, no ida ne’e asaun fraternidade importante ida.

PM Xanana ne’e apela ba estudante sira atu badinas estuda, mezmu sira iha área rurál hasoru dezafiu oin-oin.

Iha ámbitu ne’e, PM Xanana orienta estudante sira kanta múzika Hino Nasionál “Patri-Patria” no fahe livru ba estudante, dosi, bebida ba estudante inklui inan no aman sira.

Iha biban hanesan, Koordenadór Eskola São Francisco de Assis, João de Araújo Moniz Sobral agradese ba prezensa Xefe Governu ne’ebé hakat ona to’o sira-nia fatin hodi haree no rona rasik preokupasaun ne’ebé sira hasoru.

𝐀𝐯ó X𝐚𝐧𝐚𝐧𝐚 𝐦𝐨𝐬𝐮 𝐦𝐚𝐢 𝐝𝐞𝐫𝐞𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐡𝐚𝐧𝐞𝐬𝐚𝐧 𝐧𝐞’𝐞 𝐬𝐮𝐩𝐫𝐞𝐳𝐚 𝐛𝐨’𝐨𝐭 𝐛𝐚 𝐢𝐭𝐚 𝐩𝐨𝐯𝐮 𝐧𝐨 𝐞𝐬𝐭𝐮𝐝𝐚𝐧𝐭𝐞 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐞’𝐞𝐛é 𝐬𝐮𝐬𝐚𝐫 𝐛𝐚 𝐛𝐮𝐚𝐭 𝐡𝐨𝐭𝐮-𝐡𝐨𝐭𝐮. 𝐀𝐦𝐢 𝐧𝐚’𝐢𝐧-𝐥𝐢𝐦𝐚 𝐡𝐨 𝐝𝐢𝐩𝐥𝐨𝐦𝐚 𝐬𝐞𝐤𝐮𝐧𝐝á𝐫𝐢𝐮 𝐡𝐨 𝐟𝐮𝐚𝐧 𝐧𝐞’𝐞𝐛é 𝐡𝐚𝐤𝐚𝐫𝐚𝐤 𝐚𝐭𝐮 𝐝𝐞𝐳𝐞𝐧𝐯𝐨𝐥𝐯𝐞 𝐫𝐚𝐢 𝐢𝐝𝐚 𝐧𝐞’𝐞 𝐥𝐢𝐥𝐢𝐮 𝐩𝐫𝐞𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐧𝐨 𝐞𝐝𝐮𝐤𝐚 𝐨𝐚𝐧 𝐬𝐢𝐫𝐚 𝐬𝐚𝐢 𝐦𝐚𝐭𝐞𝐧𝐞𝐤,” João de Araújo hateten.

Estudantes hamutuk na’in-102 kompostu hosi feto na’in-54 no mane 48 mak tuir aprendizajem iha tinan 2025. Estudante sira ne’e maioria hela ho distánsia dok, la’o de’it hosi ai-laran, hakur mota hodi ba to’o iha eskola.

Problema seluk ne’ebé eskola ne’e hasoru mak menus livru, kadeira no meja balun komesa aat, armari la iha atu tau livru no la iha biblioteka.
Maski nune’e, eskola ne’e komesa harii ona moru haleu hodi proteje estudante sira bainhira tuir prosesu aprendizajem bele seguru no evita animal tama ba resintu eskola.

Prezensa PM Xanana nian apoia mós “𝐇𝐚’𝐮 𝐓𝐚𝐬𝐢, 𝐇𝐚’𝐮 𝐓𝐢𝐦𝐨𝐫” fahe fahe kamiza Fronteira Marrítima no apoia nesidade bázika ba estudante sira, atividade ne’e taka ho hasai foto hamutuk nu’udar rekordasaun.

Akompaña PM Xanana iha eventu ne’e mak Administradór Postu Liquiça-Vila, Rogério dos Santos no reprezentante Komandu PNTL.
(Média-GPM)
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26534: Facebook...ando (69): A União de Freguesias de Freigil e Miomães, no Concelho de Resende, Honram os seus Combatentes do Ultramar (Fátima's)