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domingo, 7 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13982: Fotos à procura de... uma legenda (47): Os primeiros combatentes do Xime, colocados lá a partir de 1/7/1963, a nível de pelotão (Libério Lopes, ex-2º sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)




Foto nº 7  > Nesta estou com um chapéu colonial.




Foto nº 8 >  Nesta estou com um chapéu colonial.


Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ 536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) >  Mais duas fotos do álbum do Libério Lopes (*).

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. O Libério Lopes, ex-srgt mil inf, pertenceu à CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) e é um dos nossos veteraníssimos camaradas, do tempo do caqui amarelo e do chapéu colonial... Professor primário reformado, é de Aranhas, Penamacor, E, é justo referi-lo, foi o principal impulsionador do monumento aos combatentes da guerra do ultramar existente em Penamacor.

Também terá sido um dos primeiros "tugas" a andar pelo regulado Xime, no início da guerra, em 1963. Terá sido inclusive o primeiro professor do Xime, quando lá esteve, em 1963/64, com um pelotão.

Onde estarão estes camaradas que, com uma só pelotão, aguentaram o início da guerra no subsetor dao Xime que, por sua vez, pertencia ao subsetor de Bambadinca, mais tarde, setor L1 que correspondia ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, uma vasta região de 1500 km2, duas vezes superior à superfície da Ilha da Madeira. (***).




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca ) >  Xime > CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes > Da esquerda para a direita, fur mil Virgílio e Tibério (falecido), allf mil Correia Pinto (falecido) e fur mil Libério Lopes. Em primeiro palnos, "meninos do Xime". (**)

Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4457: Memória dos lugares (27): Álbum fotográfico do Xime, CCAÇ 526, 1963/65 (Libério Lopes)


(**) Vd. postes de:

3 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)


(...) Resumo da actividade operacional da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65):


(i) Mobilizada pelo RI 7;

(ii)  embarcou, a 2 de maio de 1963, a bordo do paquete «India», juntamente com o Comando dos BCAÇ n.º 506, 507, 599, e 600;

(iii) comandante da subunidade: Cap Inf Luís Francisco Soares de Albergaria Carreiro da Câmara;

(iv) até 30 de junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em Brá; 

(v) ainda neste período, de a 28/6/63, partiu um pelotão para Catió, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam;

(vi) a  1/7/63, partiu a Companhia para a Zona Leste ficando a depender do Batalhão de Bafatá;

(vii) foi-lhe atribuído um subsetor com a área aproximada de 1500 km2 constituída pelos Regulados de Badora, Xime, Cossé, Cabomba e Corubal (parte Norte);

(viii) o Comando da Companhia ficou instalado em Bambadinca, tendo sido destacado um pelotão para Xime, nesse mesmo dia 1 de julho de 1963;

(ix) A 15/7/63, outro pelotão da Companhia seguiu para o Xitole, em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5/8/63;

(x) em 26/8/63, assumiu o Comando da Companhia o Capitão Hleder José François Sarmento;

(xi) no subsetor, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

8 de julho de 1963 e 12 de julho 63 na margem direita do Rio Corubal;
Op Inglês  - janeiro de 1964; 
Op Marte - fevereiro de 1964;
Op Bala . março de 1964;
Op Vai à Toca - novembro de 1964
Op Brinco - dezembro de 1965
e Op Farol -  janeiro de 1965.

(xii) Fora do subsetor, atuou nas seguintes operações:

Op Verde - novembro de 1963;
Estrada do Xitole - Agosto - Outubro - Novembro de 1963
Mato Madeira - Chicri - janeiro de 1964;
Paton - agosto de 1964.

(xiii) No sector à sua responsabilidade,  o IN que já actuara a Oeste e Sul de Xime até ao Rio Corubal, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para Leste para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas;

(xiv) A Companhia, por uma permanente atividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a Leste de Xime e levar a guerrilha a acantonar-se no mato;

(xv) Durante os 21 meses de permanência no subsetor, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN;

(xvi) Em resultado dessas ações, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros;

(xvii) Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos;

(xviii) Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um jipe e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados; as 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população;

(xix) A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.

Quartel em Bissau, 2 de Abril de 1965. Adaptado de História da unidade,  CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65).
(Para saber mais, clicar aqui)


(***) Último poste da série > 5 de dezembro de 2014 > Guiné 53/74 - P13978: Fotos à procura de... uma legenda (46): Portugueses do Xime, posando com a bandeira portuguesa (Libério Lopes, ex-sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Guiné 53/74 - P13978: Fotos à procura de... uma legenda (46): Portugueses do Xime, posando com a bandeira portuguesa (Libério Lopes, ex-sgrt mil inf, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)






Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ 536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) > "Foto 9 - O homem do chapéu colonial era nosso guia e morava junto ao quartel. O mais alto, acho que era o chefe da tabanca. Ia connosco para o mato e, devido á sua altura, salvou-me de morrer afogado numa bolanha perto do Xime, num dia para esquecer." (*)

Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. O Libério Lopes, ex-srgt mil inf, pertenceu à CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) e é um dos nossos veteraníssimos camaradas, do tempo do caqui amarelo e do chapéu colonial... Professor primário reformado, é de Aranhas, Penamacor, E, é justop referir, foi  "o principal impulsionador do monumento aos combatentes da guerra do ultramar existente em Penamacor" (, segundo informação do nosso camarada C. Caria).

Também sido um dos primeiros "tugas" a andar pelo regulado Xime, no início da guerra, em 1963. Terá sido inclusive o primeiro professor do Xime, quando lá esteve, em 1963/64, com um pelotão. Sobre a população do Xime, escreveu (*):

(...) "A maioria da população do Xime era simpática connosco, e de vez em quando juntávamo-nos para umas danças africanas, nas quais eu gostava de participar.

Além disso os putos conheciam-me porque ainda os juntei para lhe dar umas aulas. Foi uma tentativa que não resultou, devido a não me ter sido concedido o tempo necessário para isso.

No Xime estava só um pelotão e éramos poucos para a missão militar que tínhamos em mãos. Foi pena porque a minha profissão era professor e, certamente, teria feito um trabalho mais útil. " (...).

A foto, editada por nós e publicada em em cima, com quatros enquadramentos diferentes, merece uma legenda, um comentário, um pequeno texto (**)....

Quem seria o guia nas NT em 1963/64 ? Pela estatura, parece-me ser o malogrado Seco Camará, morto em 26/11/1970, na Op Abencerragem Candente. (Morto à roquetada, fizemos uma trouxa, com os seus poucos restos mortais; vieram embrulhados numa capa impermeável; guia e picador das NT, era assalariado da CCS/BART 2917,  tendo passado a viver em Bambadinca; dizia-se que era hostilizado pelos outros mandingas do Xime).

Talvez o "menino do Xime", o José Carlos Mussá Biai nos possa ajudar a identificar estes dois homens, um deles, o mais alto, acompanhado da esposa e filha ou das duas esposas...  A jovem, com ar envergonhado, segura uma das pontas da bandeira; o homem de chapéu colonial (o Seco Camará?) segura a outra ponta... Pareece ser um clara manifestação de apoio à causa nacional, num regulado em que grande parte da população "fugiu para o mato" no início da guerra (Samba Silate, Poindom...).

Por outro lado, a lealdade dos mandingas do Xime, ou de um parte deles, era sempre posta em causa pelos sucessivos batalhões que passaram por Bambadinca, sede do setor L1... Pelo menos até ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Leia-se o que eles escreveram,  nas respetivas histórias da unidade (Cito dois batalhões do meu tempo):


(i) BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70),Cap II:

(...) "No Sector L1 podemos considerar duas raças (sic) distintas: para Leste da estrada Bambadinca-Xitole onde predomina a raça Fula, e para Oeste da mesma estrada onde predominam as raças Balanta e Beafada.

"A população Fula de um modo geral é nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora, que tem como Chefe / Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido do meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população, fortes dúvidas se tem, especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero.

"Com o início do reordenamento da população em auto-defessa, num futuro próximo o IN se verá com sérias dificuldades, pois deixará de ter apopio e de ter a possibilçidade de roubar para deste modo poder sobreviver" (...)


(ii) BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Cap II:

(...) 2 – Os ”Mandingas”

(...) A sua atitude perante o terrorismo deve ser interpretada com todo o bom senso, eles viram no PAIGC a oportunidade de reaver a sua independência política, em face aos Fulas, e vingar um Século de prepotências a que estiveram sujeitos pelos Fulas; depois, nos primeiros anos de terrorismo, Mandingas era sinónimo de terrorista e temos de ter a coragem para admitir os erros de procedimento que as NT e Autoridades tiveram perante os indivíduos que eram rotulados de “terroristas”.

Hoje os Mandingas estão convictos de que não é mais possível, no Sector, ser-se acusado pelas Autoridades de “terrorista” apenas porque se pertence a esta etnia ou, se denunciam erros de indivíduos ligados às Autoridades, Militares ou Civis, Europeus ou Africanos (embora ainda existem no Sector alguns residentes Europeus a assimilados que, por convicção ou interesse, propalam, especialmente a quem chega de novo, que todos os Mandingas são “terroristas”).

Tal convicção associada ao seu desencantamento em relação ao PAIGC onde “calcinhas e oportunistas” ocupam lugares de mando que os Mandingas julgam deveriam ser concedidos aos seus Chefes, criou uma brecha que, a curto prazo, pode levar, se bem explorada pelas NT ao divórcio total desta etnia com o PAIGC." (...)

(...) Zona controlada pelo IN

- Todos os dados de que se dispõe são estimados e as notícias contraditórias, podemos contudo, sem grande margem de erro, avaliar em cerca de 5400 pessoas na sua maioria de etnia Balanta, Beafada ou Mandinga, a população controlada pelo IN no Sectir L-1 dividida pelos seguintes núcleos:

- A NW do Sector espalhada pelos Regulados do Enxalé e Cuor – 1900 Pessoas.

- No Regulado do Xime, ao longo do Rio Corubal e a Sul da Ponta do Inglês – 2000 pessoas.

- No Regulado do CorubalL ao longo deste rio e para jusante da foz do Rio Pulom – 1500 pessoas.



 Pessoalmente, tinha a ideia de haver mais mandingas no Xime [, presumo que haja um erro na história do BART 2917: de um total de 872 habitantes recenseado no regulado do Xime  (Xime, Amedalai, Taibatá e Demba Tacó),    745  eram fulas e os restantes, 127, mandingas, concentrados no Xime; apenas 22 mandingas, como vem no documento, parece-me um erro grosseiro; só a famíla, alargada, do José Carlos Mussá Biai deveria ser bem superior a 22...]. (LG)


(iii) BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Cap II:

(...) 1 – Na Zona controlada pelas NT

- É a seguinte a distribuição de população recenseada por grupos éticos e por Regulados:

Cuor: Mandingas:  221 pessoas;

Enxalé:  Balantas:  400 pessoas; Mandingas e Beafadas: 350 pessoas;

Xime: Fulas:745 pessoas; Mandingas 127 [e não 22]  pessoas; [ nº de habitantes: Xime: 250; Amedalai: 160; Taibatá, sede de Regulado do Xime: 228; Demba Tacó: 234];

Corubal:  Fulas: 1460 pessoas; Mandingas; 85 pessoas; Beafadas; 6 pessoas; Outros; 17 pessoas;

Badora; Fulas: 5934 pessoas; Mandingas: 2551 pessoas; Balantas; 2418 pessoas; Mansoancas: 403 pessoas; Beafadas; 52 pessoas; Outros: 540 pessoas (...)  
(LG)


2. Comentário de L.G.:

Não, não é o Seco Camará... Fui dar uma volta aos arquivos, e tenho aqui aqui uma mensagem do "menino Xime", o José Carlos Mussá Biai, de 3 de junho de 2009, a dizer o seguinte:

(...) Caro Luís: Fico sempre com muita emoção quando vejo fotos, sejam elas de paisagens ou gentes da minha terra natal. Por isso deste vez não foi excepção.


Quanto as pessoas que estão nas fotografias, apenas a foto 9 é que tem duas caras que me são familiares. Trata-se de um primo e um tio.

Mas de qualquer maneira por alguns bons minutos voltei a Xime.

Um abraço e muita saúde,

José C. Mussá Biai (...)

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13973: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): Uma foto velhinha, com mais de meio século, do ferryboat BOR, navegando ao longo da margem direita do Rio Geba, junto ao Enxalé, a caminho de Bambadinca (Libério Lopes, sgrt mil inf, CCAÇ 526, Xime e Bambadinca, 1963/65)



Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ  536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) >  O Bor navegando junto à margem direita do Rio Geba, junto ao Enxalé e ao Xime, a caminho de Bambadinca. (*)

Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Libério Candeias Lopes
1. O Libério Lopes, 2º Sarg Mil Inf,  pertenceu à CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) e  é um dos nossos veteraníssimos camaradas, do tempo do caqui amarelo e do chapéu colonial... Professor primário reformado, é de Penamacor. Terá sido o primeiro professor do Xime, quando lá esteve, em 1963/64, com um pelotão. Mandou-nos ontem mais uma foto (velhinha) do seu álbum. com a seguinte mensagem:

Caro Luís

Depois de consultar o meu álbum fotográfico, encontrei esta foto da embarcação BOR a navegar no Rio Geba, em frente ao Xime e em direcção a Bambadinca. Navegava sempre do lado do Enxalé, talvez com o receio de algum ataque do lado da Ponte do Inglês.

Já vi uma foto no blog, mas não quis deixar de dar também o meu testemunho.

Viajei na Bor três vezes: duas de Bambadinca para Bissau e uma no sentido inverso. A minha companhia regressou a Bissau nela. Para a época, a Bor era considerada um autêntico paquete.

A foto já perdeu qualidade (tem 51 anos) e as máquinas da altura não eram como as de hoje.

Aproveito para responder ao inquérito. Na altura havia muito poucas máquinas e eu, certamente não a teria se a não tivesse ganho no jogo da lerpa.(**)

Um abraço
Libério Lopes 





Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ  536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) > Foto nº 1 >  O Libério Lopes com um grupo de mulheres, mandingas,  do Xime. Foto do álbum do Libério Candeias Lopes (*).

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2009). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13969: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (90): Foto do ferryboat BOR que levou a CART 730, de Bissau para Bolama, um dia depois de desembaracar do T/T Niassa (João Parreira, ex-fur mil op esp e cmd, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Guiné 63/74 – P8986: Efemérides (77): Memorial aos combatentes em Penamacor (Libério Lopes)


1. Mensagem enviada pelo Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65.



Caro Luís Graça,

Obrigado pelas palavras que escreveste a meu respeito no P8852, após o nosso casual mas feliz encontro, no qual tive o maior prazer em conhecer-te pessoalmente.

Como prometi e após ajuda externa, junto uma notícia referente à inauguração de um MEMORIAL na vila raiana de Penamacor, dedicado aos combatentes do concelho.


Memorial aos combatentes em Penamacor

Embora tardiamente, não quero deixar passar em claro a cerimónia realizada no passado dia 1 de Junho, na vila de Penamacor. Cerimónia simples, mas com um significado profundo.

Uma comissão. composta pelos senhores Dr. Domingos Torrão, Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, Professor Libério Candeias Lopes e Major-General João Afonso Bento Soares, preparou e levou a cabo uma justa e merecida homenagem aos ex-combatentes da Guerra do Ultramar, oriundos do concelho de Penamacor, com destaque para os que lá morreram.

É verdade que já passaram muitos anos desde o nosso regresso e o esquecimento estava instalado. Contudo, após exposto este assunto à Câmara Municipal, a mesma aderiu prontamente à construção de um memorial alusivo, dando todo o apoio, financeiro e logístico, para a sua concretização.

O belo monumento, que hoje se encontra às portas da Vila, e honra todos os penamacorenses, é da autoria de Mestre Eugénio Macedo, que o construiu em puro granito da região. É formado, no essencial, por três lajes verticais, cada uma delas rasgada com um mapas vazios, a representar Angola, Moçambique e Guiné. No chão, defronte de cada laje, uma lápide metálica com os nomes dos militares que morreram naqueles territórios ultramarinos.

Eis os nomes:

Falecidos em Angola
Amílcar Augusto Jacinto Martins
António Cardoso Saraiva
António Fernando Ramos
António Manuel Borrego Carreto
João Caria Ramos
João Lourenço Matos
João Manteigas Martins
José Costa Martins
José Marques
Manuel Moiteiro Leitão

Falecidos em Moçambique
António Lopes Salvado
Daniel Pereira Dias
João José da Fonseca Nabais
Joaquim Moiteiro Ribeiro
José António Landeiro Ribeiro
José dos Anjos Silva
Manuel Campos Cardoso
Manuel Joaquim Coelho Proença

Falecidos na Guiné
António Mota Carlos
Augusto Figueira Caria
Domingos Ramos Rodrigues
Fernando Pereira Lopes Raposo
Joaquim António Cardoso Firme
José Maria da Silva
Júlio Antunes Sapo.


Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2011). Todos os direitos reservados.

Inauguração do Monumento aos Combatentes – O prof Libério Candeias Lopes usando da palavra na qualidade de ex-combatente. À sua esquerda o Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, dr. Domingos Torrão; à direita o Presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues

Inauguração do Monumento aos Combatentes – Pormenor da assistência
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Descerramento das lápides com os nomes dos militares falecidos 
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Grupo de ex-Combatentes da Guiné
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

 1. A prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande, é ir encontrar um camarada de Penamacor, um raiano, no Jumbo de Alfragide, a fazer compras...

Estávamos os dois, lado a lado, na secção do leitinho meio gordo... Foi ele quem me reconheceu... Ou melhor, pusemo-nos a olhar um para o outro, feitos parvos... Demos um abraço e desatámos logo a falar do Xime, de Bambadinca, do blogue, de Penamacor, dos seus médicos, o Martins, o Ribeiro Sanches, e por aí fora... 

Quem haveria de ser ? Não o conhecia pessoalmente, só do blogue... Pois tratava-se do  Libério Lopes, Libério Candeias Lopes, professor do ensino básico reformado, 2º Srgt Mil,
CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)...  

Faz parte da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2009.  Com 71 anos, está em grande forma... mas não escreve mais coisas, no nosso blogue,  porque não se considera um às em informática...  Numa pesquisa na Net, encontrámos mais alguns elementos informativos sobre este camarada, que tem uma rica história de vida... e a quem eu desejo muita saúde, longa vida, e boa escrita!

O Prof Libério Lopes fez parte, recentemente,  da comissão de homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Penamacor (, iniciativa sobre a qual ele, de resto, me prometeu escrever, à despedida). Também conhece pessoalmente o nosso camarada C. Martins.


Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes
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Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes >  "À esquerda a nossa vivenda; á  direira o comércio do libanês Amin" (LCL)



Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes >  Da esquerda para a direita,  Fur Mil Virgílio e Tibério (falecido), Alf Mil Correia Pinto (falecido) e Fur Mil Libério.




  Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Saltinho > O Fur Mil Libério Lopes na ponte do Saltinho

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2009). Todos os direitos reservados.

2. Resumo da actividade operacional da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65):

Recorde-se aqui os passos essenciais da vida do Libério Lopes, no TO da  Guiné, entre 19634 e 1965:

(i) Mobilizada pelo RI 7, a CCAÇ 526 embarcou, a 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «India», juntamente com o Comando dos BCAÇ n.º 506, 507, 599, e 600;

(ii) Comandante da subunidade: Cap Inf Luís Francisco Soares de Albergaria Carreiro da Câmara;
 
(iii) Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em Brá; ainda neste período, de a 28/6/63, partiu um pelotão para Catió, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam;

(iv) A 1/7/63, partiu a Companhia para a Zona Leste ficando a depender do Batalhão de Bafatá;.

(v) Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2  constituída pelos Regulados de Badora, Xime, Cossé, Cabomba e Corubal (parte Norte);

(vi) O Comando da Companhia ficou instalado em Bambadinca, tendo sido destacado um pelotão para Xime, nesse mesmo dia 1 de Julho;

(vii) A 15/7/63, outro pelotão da Companhia seguiu para o Xitole,  em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5/8/63;

(viii) Em 26/8/63, assumiu o Comando da Companhia o Capitão Hleder José Franbçois Sarmento;

(ix) No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»;
«INGLÊS - JAN64»; 
«MARTE - FEV64»;
«BALA - MAR64»;
«VAI À TOCA - NOV64»; 
«BRINCO - DEZ6»;
e «FAROL - JAN65».

(x) Fora do sub-sector, actuou nas seguintes operações:

«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; 
«ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»;
«MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; 
«PATON - AGO64».

(xi) No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de Xime até ao Rio Corubal, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para Leste para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas;

(xii) A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a Leste de Xime e levar a guerrilha a acantonar-se no mato;

(xiii) Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN;

(xiv) Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros;

(xv) Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos;

(xvi) Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um jipe  e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados; as 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população;

(xvii) A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole. (Para saber mais, clicar aqui).


3. Reproduzido, com a devida vénia, do Jornal do Fundão, edição 'on line' de 29 de Abril de 2009 (Recorde-se que o prestigiado jornal  beirão, onde trabalha a nossa mui querida Ana Mendonça, foi fundado pelo António Palouro em 1946) (**)


Raia (JF Diário)

Medalha de Mérito chegou 43 anos depois  >  Libério Candeias Lopes [, foto a seguir, do nosso blogue,] teve uma surpresa há dias quando o informaram da atribuição de uma medalha de mérito
 
Após regressar da Guiné onde cumpriu serviço militar como sargento miliciano, Libério Candeias Lopes, [ , foto a seguir, crédito fotográfico do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,] , volta à actividade na vida civil, professor do ensino primário. 

Decorria o ano 1965, tinha então vinte cinco anos. Desempenhou a profissão em diversas escolas do distrito de Castelo Branco, tendo sido posteriormente destacado na Educação de Adultos e Ensino Recorrente, exercendo nas freguesias de Salvador, Aranhas, Penamacor e Benquerença, entre outras do concelho. Foi delegado sindical, criou e dirigiu o Posto da Telescola de Aranhas, proporcionando, então, o acesso ao 2.º ano, aos jovens de Salvador e Aranhas.

As actividades sociopolíticas são no entanto os motivos justificativos do nosso trabalho. É que o professor Libério foi, à data, muito provavelmente, o presidente da Junta de Freguesia mais jovem do país. Tinha vinte e sete anos quando o presidente da Câmara, dr. António Moutinho,  lhe endereçou o convite. Recusado inicialmente, a persistência foi tanta que não lhe restou alternativa. Acabou por encabeçar a única lista concorrente e foi eleito presidente da Junta de Aranhas, sendo sucessivamente reeleito até 1975.

Cargo de difícil manutenção, pois as autarquias não dispunham de qualquer tipo de financiamento, como actualmente dispõem. As receitas provinham de alguns atestados, venda de sepulturas, e do que fosse conseguido junto do presidente da Câmara Municipal. A persistência do jovem presidente era de tal ordem que o presidente da Câmara ao vê-lo comentava: “lá vem o jovem pedinchão”.

Conseguidas algumas centenas de escudos, Libério Lopes pedia ao pároco da freguesia para anunciar uma reunião com o público na sede da Junta. O povo comparecia. Era informado das receitas conseguidas e indicava-lhes dois ou mais caminhos a precisar de arranjo. A população decidia qual o mais necessitado. Como o dinheiro era pouco, o professor “tocava” o coração do povo de modo a que cada família com propriedades servidas pela via a reparar, contribuísse com um dia de trabalho efectivo ou o seu valor monetário. E o caminho era reparado.

 Por este e outros motivos, aquando do 25 de Abril, as Forças Armadas na sua passagem por Penamacor sugeriram a substituição de todos os órgãos autárquicos eleitos antes da revolução, o que aconteceu em diversas localidades. Em Aranhas a população apareceu em massa defendendo a continuidade do professor Libério à frente da Junta de Freguesia. Só mais tarde, a lei o destituiria. Mas no decurso da sua vida mais activa, conquistou um palmarés invejável, no desempenho de várias actividades, tendo dificuldade em definir do que mais gostou de fazer ou que teve pena de não ter feito.
 
“O maior prazer foi a criação da Liga dos Amigos de Aranhas e mais tarde o Centro de Dia. Isto ajudou a resolver inúmeros problemas a nível cultural, recreativo, desportivo e social dos habitantes de Aranhas”, refere.

A construção da ponte sobre a ribeira da Baságueda, no sítio do Freixal, foi uma excelente conquista. O dr. Moutinho opunha-se, mas o jovem através de amizades e conhecimentos levou a sua àvante. Outra coroa de glória prende-se com a reactivação do Rancho Folclórico de Aranhas,  em 1971, tendo para além das deslocações, uma semana no Casino Estoril e outra no Hotel Balaia, no Algarve, conseguindo que o mesmo fosse admitido na Federação Portuguesa de Folclore em 1983. 

Inúmeros episódios dignos de nota fazem parte do seu historial, porém destacaremos os mais significativos. Numas eleições para o qual foi nomeado presidente da mesa de votos, – “após encerrar a mesa peço para contarmos os votos. Os meus colegas de mesa (todos com mais de 60 anos) dizem-me que era hábito descarregar alguns nomes. Eu opus-me. Um deles, polícia reformado, disse-me: o sr. professor é que manda, mas olhe que vai ter chatices. Não liguei. Contámos os votos, 126, e mandei os resultados para a Câmara Municipal. Mal adivinhava a noite que iria passar. Por volta da meia-noite o dr. Moutinho foi a minha casa pedir explicações porque não tinha descarregado os votos. Queria saber se o povo de Aranhas estava descontente e porquê. Passámos a noite a elaborar um relatório, a explicar o porquê de só aparecer aquele número de votantes. No dia seguinte o jornal 'O Século' noticiou que Aranhas teve a percentagem de votantes mais baixa do país. Na verdade no concelho de Penamacor e talvez do país, Aranhas foi o que apresentou a votação real”.

Na última manifestação “espontânea” dos portugueses a Marcelo Caetano, foram colocados autocarros gratuitos para a população se deslocar a Lisboa. Cabia aos presidentes de junta mobilizar o povo. O de Aranhas não fez caso do assunto. Da terra ninguém foi a Lisboa. Entretanto a Junta candidatou-se à atribuição de um televisor para a Delegação da Casa do Povo em Aranhas. Todas as localidades foram contempladas. Menos Aranhas. Quando inquiriu o presidente da Casa do Povo de Penamacor do porquê da sua exclusão, foi-lhe respondido que a delegação de Aranhas não a merecia, pois não mandaram ninguém a Lisboa.

Invulgar e digno de nota, foi a surpresa que Libério Lopes teve há alguns dias. Um amigo, militar no activo, em conversa sobre a guerra colonial informou-o que tinha lido por acaso, a atribuição da Medalha de Mérito Militar de 4.ª classe, com base num louvor, por ter participado em acções de combate, ao furriel miliciano Libério Candeias Lopes. Ora a data da condecoração é de 28 de Fevereiro de 1966. O condecorado soube disso, casualmente 43 anos depois.
Jolon

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Notas do editor:


(**) Do seu sítio institucional, na Net:

(...) "O Jornal do Fundão, fundado em 1946 por António Paulouro, é hoje um marco referencial no panorama da imprensa regional portuguesa. Com uma tiragem semanal de 14.000 exemplares e um universo de audiência que atinge os 53.000 leitores, foi distinguido com a Ordem do Infante D. Henrique e tem no seu historial outros galardões como o Prémio Gazeta, homenagens das Universidades de Salamanca e da Comunidade Portuguesa em França.

"O Jornal do Fundão faz parte da matriz de identificação da Beira Interior e é reconhecidamente um elemento da sua coesão social bem como do desenvolvimento económico e cultural da região.
 

"O Jornal do Fundão tendo vindo a reforçar a sua influência no eixo geográfico que vai desde a região da Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. É líder destacado de audiência da Imprensa Regional no distrito de Castelo Branco e tem ainda expressiva audiência nacional." (...)