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sábado, 9 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25256: Ser solidário (264): Relatório da viagem a Suzana em Fevereiro de 2024 (Manuel Rei Vilar Presidente da Associação Anghilau)

RELATORIO DA VIAGEM A SUZANA EM FEVEREIRO DE 2024

Introdução

Este é o relatório da nossa visita à Guiné-Bissau entre os dias 11 e 22 de fevereiro de 2024 e em particular a Suzana entre os dias 14 e 18 de fevereiro. Relatamos aqui todos os pontos que tínhamos anteriormente programado antes de realizarmos esta viagem. Um programa foi assim previamente elaborado para ser um guião da nossa visita. A realização deste programa ajudar-nos-ia a ter uma melhor ideia sobre a situação escolar e a avaliar a nossa colaboração com a Comunidade de Suzana e o seu Agrupamento Escolar.

Nesta viagem participaram Manuel Rei Vilar e Duarte Rei Vilar, Claude Piétrain (respetivamente Presidente, Vice-Presidente e Tesoureiro da Anghilau) e Marie-Christine Vickridge, uma nova madrinha da Associação. É necessário salientar que os custos desta viagem foram integralmente pagos por cada um dos viajantes e sem qualquer encargo para a Associação Anghilau.

A viagem foi iniciada em Lisboa no dia 11 com um embarque em atraso de mais de três horas do voo da Royal Air Maroc, o que nos levou a perder a ligação para Bissau na escala em Casablanca no mesmo dia e que nos obrigou a passar um dia inteiro nesta cidade à espera do próximo voo para Bissau. Chegámos a Bissau no dia 13 de madrugada. Marie-Christine chegou diretamente de Paris a Bissau no dia 12 de madrugada sem qualquer problema.

Logo no dia 13 pela manhã, pudemos ter uma conversa com Olálio Neves Trindade da Associação VIDA que tem sido uma ajuda preciosa no nosso trabalho e que se deslocou ao hotel Coimbra onde estávamos alojados com o propósito, sobretudo, de abrirmos uma conta conjunta no Banco da África Ocidental (BAO) em S. Domingos. O Olálio já tinha iniciado uma conversa com o responsável desta Agência Bancária, o que se revelou muito útil e facilitou as nossas démarches.

A partida para Suzana ocorreu no dia 14 de fevereiro de manhã com a viatura “Land Cruiser” da Missão Católica de Suzana que a Associação tinha mandado reparar anteriormente. Para seguirmos para Suzana, a viatura foi conduzida primeiramente por um motorista chamado António até S. Domingos. Ao sairmos de Bissau, tivemos uma pequena avaria que foi prontamente reparada numa estação de serviço. Em S. Domingos, encontrámos o segundo motorista de nome Setímio, um rapaz franzino que mais parecia um miúdo mas que já tinha 42 anos e 4 filhos e era um ótimo chofer. As coisas, porém, não correram tão bem e a segunda avaria ocorreu num sitio ermo da estrada de S. Domingos para Suzana, cujo estado continua deplorável, toda esburacada. O diferencial avariou-se num sitio absolutamente ermo da floresta e onde a rede telefónica era praticamente inexistente, foi muito mais grave pois. Depois de muitas tentativas para alertar a Missão de Suzana, pedindo ajuda aos raros carros que passavam, o Duarte conseguiu finalmente encontrar um sitio com rede e pediu auxílio ao Padre Vítor que pouco tempo depois chegou com o outro carro da Missão. O “Land Cruiser” teve de ser abandonado no local para ser rebocado e reparado posteriormente. Toda esta aventura ficou esquecida, pois o acolhimento à chegada a Suzana foi extraordinário com danças e cantares por muitas mulheres que nos vieram esperar para nos dar as boas-vindas.
1 - Segunda pane no meio da floresta
2 - Acolhimento das Mulheres de Suzana à nossa chegada.

Durante a nossa estadia em Suzana, residimos em Varela no Aparthotel Casa Aberta Kassumayaku. Em Suzana não há qualquer possibilidade de alojamento. Varela fica a à volta de 15 km de Suzana é uma estação balnear e tem dois aparthotéis onde há possibilidades de alojamento em pequenas cubatas bastante confortáveis. A estrada Varela-Suzana também se encontra num estado deplorável, tendo muitas vezes que se sair da própria estrada e ir pelo campo, porque a condução em certos sítios da estrada se torna puramente impossível. Nos dias seguintes, o Setímio ia-nos buscar de manhã e no final do dia reconduzia-nos a Varela, o que nos deu a possibilidade de tomar alguns banhos de mar durante a nossa estadia pois a praia de Varela é magnifica. Esta praia que faz parte dum parque natural está neste momento ameaçada por um projeto chinês que pretende explorar as areias pesadas para extrair entre outros metais raros, tais como o zircónio e o titânio numa zona de 5 km de areal. Isso está a preocupar particularmente os habitantes de Varela. Em particular, a nossa amiga Valentina Cirelli que é a proprietária do aparthotel onde ficámos, tem lutado com a comunidade de Varela contra esse projeto para evitar uma catástrofe ecológica.

Foi também nesta praia que encontrámos um português de Cascais de nome Armando Jaime Pinto Ferreira que constituiu uma Associação (As Pedras do Caminho) e circula pela Guiné acompanhado de quatro médicos bastante jovens com o objetivo de prestar assistência médica às populações. Os médicos foram formados na Guiné-Bissau pela Faculdade de Medicina Cubana e contratados pelo Jaime Ferreira. Têm feito centenas de consultas por toda a Guiné.

Ficámos ao todo 5 dias em Suzana, do dia 14 até ao dia 18 de fevereiro. No dia 18, regressámos no carro da Missão Católica conduzido pelo Padre Vítor: o Duarte para Bissau, donde partiu para Lisboa e nós, os três restantes, para um pequeno périplo nos Bijagós, Património Natural da Humanidade. Ficámos no pequeno ilhéu Keré nos Bijagós que se encontra entre duas grandes ilhas, a ilha de Carache e a ilha da Caravela, que tivemos a oportunidade de visitar. Aí, tivemos a sorte de assistir a dois eventos excecionais: em Carache, a um “Tchoro”, cerimónia do regresso da alma dum defunto à sua tabanca natal e na Caravela, a outra cerimónia a que eles chamam “Fanado” que consiste na passagem dos rapazes da adolescência à idade adulta. Dois eventos inesquecíveis!
3 -Poilão - A árvore sagrada da Guiné-Bissau.

• Abertura de uma Conta Bancária na Agência de São Domingos do Banco da África Ocidental (BAO).

Quando fomos de Bissau para Suzana, parámos em São Domingos para irmos à Agência do Banco da África Ocidental (BAO) abrir uma nova conta. De facto, a conta antiga é obsoleta pois ainda estar no nome do Padre Abraão que já não está na Missão Católica. Os titulares da nova conta bancária são agora o Presidente e o Vice-Presidente da Associação Anghilau, Manuel e Duarte Rei Vilar, respetivamente, e da parte de Suzana, o Padre Vítor e o nosso amigo Olávio Neves Trindade. Como cotitulares ficaram dois Professores da Escola de Suzana, o Professor Orlando e o Professor Alfredo que nós já conhecemos das visitas anteriores a Suzana. Só falta, agora, as assinaturas dos quatro titulares de Suzana. A conta é vantajosa também para podemos seguir as operações por “homebanking”.

1 - VISITA ÀS BENFEITORIAS REALIZADAS E SEU APROVEITAMENTO E UTILIZAÇÃO:

• Visita ao Jardim-Escola frequentado por mais de 60 crianças.

As infraestruturas estão em bom estado com exceção da pintura exterior que se encontra bastante deteriorada. O telhado, as pérgulas e as latrinas estão em bom estado de conservação. A mobília encontra-se bastante danificada, em especial as cadeirinhas. Muitas encontram-se partidas e terão de ser reparadas. Teremos de criar um pequeno orçamento para a manutenção da escolinha.

Existe agora um fontanário com agua corrente mas não foi instalado nenhum lavatório para as crianças utilizarem. Propõe-se a instalação de um lavatório duplo. Por outro lado, o Material Escolar é praticamente inexistente e deverá ser fornecido ainda este ano, visto que já se encontra contemplado no Programa de Atividades e Orçamento de 2024.

• Educadoras do Jardim-Escola

Atualmente o Jardim-Escola tem três Educadoras com quem falámos: a Adélia, a Virgínia que vai começar agora a sua formação e a Elisabeth. Enquanto a Virgínia faz a sua formação de 6 meses a Adélia e a Elisabeth asseguram o funcionamento do Jardim-Escola. Quando a Virgínia voltar para o Jardim-Escola, irá a Adélia fazer o Curso de Formação.

• Inauguração da Residência dos Professores e Visita

4 - Inauguração da Residência Cascais-Suzana.

A Residência Cascais-Suzana foi inaugurada solenemente pelo presidente da ANGHILAU. O nome escolhido é o mesmo do projeto que a Associação Anghilau promoveu com o apoio da Câmara Municipal de Cascais que subsidiou uma parte da construção da Residência. Esta encontra-se em ótimo estado em termos de infraestruturas e de mobiliário. Há água corrente na cozinha, nas casas de banho e nas retretes e a eletricidade é fornecida por painéis solares. Os quartos estão cuidadosamente arrumados. A taxa de ocupação da Residência é de 100 %: há 7 quartos duplos ocupados por 14 professores e um outro quarto ocupado pelo Diretor do Liceu onde se encontra arrumado algum material da Residência. Os Professores pediram um retrato do Capitão Rei Vilar para a Residência dos Professores.
5 - Inauguração da Residência Cascais-Suzana e da Biblioteca Camões.

Mais uma vez as mulheres de Suzana nos brindaram com danças e cantares.
6 - Inauguração da Residência Cascais-Suzana com danças e cantares das mulheres de Suzana.

• Inauguração da Biblioteca
7 - Inauguração da Biblioteca Camões.

A Biblioteca Escolar foi também inaugurada solenemente com a denominação de “Biblioteca Camões” em honra do maior poeta da Lusofonia, pois o Português é a língua oficial da Guiné-Bissau que partilhamos com este país.
8 - Reunião com a Comissão de Acompanhamento e outros elementos da Escola de Suzana.

O estado da sala é impecável assim como o mobiliário que foi adquirido igualmente pela nossa Associação e construído por uma empresa jovem da cidade de Bula. Os livros encontram-se distribuídos pelos diferentes anos escolares, arrumados em estantes. Por enquanto, não há um responsável pela Biblioteca mas a Escola secundária EVA e o Liceu vão eleger um responsável entre os Professores, eventualmente o Professor Orlando que já se encontra reformado. A Sala é ampla e a mobília é de boa qualidade e adaptada às visitas organizadas por cada turma. Há lugares suficientes para acolher 30 alunos acompanhados pelo Professor.

• Sala de Informática

Ao lado da Biblioteca Camões situa-se uma outra sala que está disponível onde se poderá instalar uma futura Sala de Informática da Escola de Suzana. No entanto, esta sala encontra-se bastante deteriorada sobretudo no telhado e com uma parede rachada de alto abaixo. Assim, para a utilizarmos ter-se-á de reparar o telhado e a parede. O Professor Alexandre Apaiam encontra-se à espera de formação de um curso de informática e manutenção do material informático a fim de ensinar os Professores e alunos e se poder responsabilizar pelo equipamento informático.

• Fontanários

O abastecimento de água corrente em Suzana é agora realizado por mais do que uma dúzia de fontanários que foram em parte subsidiados pela nossa Associação. O funcionamento destes fontanários não é contínuo visto que alguns deles dependem de bombas alimentadas em eletricidade por painéis solares… e quando não há Sol não há água.

• Painéis solares

Vários painéis solares foram instalados pela Associação Anghilau (Residência dos Professores e Fontanários) e encontram-se em bom estado de funcionamento.

• Computadores

Existem três computadores oferecidos pela Associação Anghilau e cedidos pelo Banco Alimentar: um está com o P. Vítor, o outro está com o Prof. Nicodemos, Diretor do Liceu e o terceiro com o Prof.

Alexandre Apaiam. O computador do Professor Alexandre não funciona bem e bloqueia ao fim de pouco tempo. Não temos informação sobre o estado de funcionamento dos outros dois computadores.

• Refeições do Jardim-Escola

As refeições do Jardim-Escola têm funcionado. A preparação é feita pelas cozinheiras da Missão Católica. A aquisição dos produtos alimentares não é fácil. Há necessidade de implementar o desenvolvimento duma horta para a produção de hortaliças e legumes. Para isso ter-se-á de falar com a Senhora Palmira Djata para envolver a Associação de Mulheres de Suzana.

Formação Profissional

Não foi possível realizar encontros com os alunos que estão em formação profissional fora de Suzana. Lembro que o Gino Djata está a tirar a Carta de Condução de Pesados, o Óscar Djedjo está a tirar o curso de eletricista e o Ermano Ebidja, o curso de canalizador. O Alexandre Apaiam ainda não conseguiu arranjar lugar num curso de informática e manutenção de computadores. 2 - REUNIÕES

• Reunião com os Diretores da Escola EVA, do Liceu de Suzana e da Comissão de Acompanhamento no dia 16 às 16 horas locais.

Tivemos uma reunião com a Comissão de Acompanhamento e com vários Professores, alguns deles bastante jovens, muito implicados, além do Professor Orlando, o Senhor Ujdili, Responsável do Registo Civil, da Senhora Palmira Djata, que é Presidente da Associação das Mulheres de Suzana e sogra do nosso amigo Olálio Neves Trindade e com o Padre Vítor Pereira, Prior de Suzana além de alguns membros da Assembleia dos Homens Grandes e outros habitantes de Suzana. Após uma homenagem ao Capitão Rei Vilar por parte da comunidade e agradecimento pelos benefícios que a nossa Associação tem trazido a Suzana, coube-nos a nós agradecer em nome da Associação a participação de todos nas cerimónias da inauguração da Residência Cascais-Suzana e da Biblioteca Camões. Duarte Rei Vilar lembrou que a nossa comitiva estava em Suzana para representar os 60 associados da Associação Anghilau e que sem eles não teria sido possível realizar os benefícios que foram introduzidos em Suzana. Manuel Rei Vilar enumerou os nove projetos contidos no Plano de Atividades de 2024. Uma das senhoras presentes declarou que todo o dinheiro implicado nos projetos da Associação Anghilau em Suzana tem sido totalmente utilizado pela Comunidade e não é atribuído a famílias ou a particulares. Esta declaração foi fortemente aplaudida pela audiência. Um dos presentes, afirmou que tudo o que fizemos deveria ter sido realizado pelo Governo, mas como não foi… “vós sois o nosso Governo”. Foi mencionado que algumas salas de aula não podem ser utilizadas durante o período das chuvas devido ao mau estado dos telhados por entra chuva. Falou-se de algumas necessidades de Suzana, entre outras da criação duma horta para a produção de hortaliças de legumes. Falou-se também da necessidade de painéis solares e duma televisão para as crianças ou outros meios audiovisuais para a Escola de Suzana. Pouco antes do final da reunião, houve um pedido de uma ambulância que é considerada uma necessidade de extrema importância para Suzana. Manuel Rei Vilar respondeu que a nossa Associação não tem meios para comprar uma Ambulância. No entanto, iremos trabalhar no sentido de apresentar um pedido de subsídio a várias instituições suscetíveis de conceder o financiamento para essa aquisição. Um dos participantes Bissau-Guineenses pediu que a Associação oferecesse uma fotografia do Capitão Rei Vilar para se expor na Residência dos Professores. Manuel Rei Vilar agradeceu a constante ajuda do Padre Vítor Pereira e do nosso amigo Olálio Neves Trindade.

Em relação aos Diretores das Escolas de Suzana, tivemos contacto com o Diretor do Liceu, o Professor Nicodemos Djata que é natural de Cassolol, uma tabanca vizinha de Suzana antes de Varela. O Diretor da Escola Eva (Escola de Verificação Ambiental) de Suzana que é o Professor Ismael Djata, natural de Suzana, não se encontrava pois estava ausente em Bissau. Com o Diretor do Liceu abordou-se a questão da atribuição e gestão das Bolsas de Estudo (Universidade ou Cursos técnico-profissionais) que a curto prazo deverá ser formalizada, mediante a definição de algumas orientações. O jovem Diretor do Liceu, Professor Nicodemos, manifestou o desejo de seguir um curso de Ciências da Educação.

No final da nossa visita, a Equipa REI VILAR brindou-nos com um pequeno desafio de Futebol.
9 - Equipa de Futebol de Suzana (REI VILAR – Associação Anghilau)

3 - SITUAÇÃO ATUAL DE SAÚDE EM SUZANA.

A Missão Católica de Suzana dispõe de um pequeno Centro de Saúde que conta com a ajuda da Irmã Eurizanda, Bissau-guineense e de uma jovem irmã, além de uma outra senhora da tabanca de nome Manuela. Alem disso, elas contam com o serviço de uma parteira tradicional de Suzana. Quando visitámos o Centro de Saúde havia pessoas que estavam a ser tratadas: um rapaz que tinha caído de uma palmeira e que estava com os braços esfolados, um menino acompanhado com o seu pai com dores de cabeça e uma mãe com um bebé que tinha um mês e só pesava 2,700 kg porque a mãe não tinha leite para lhe dar. As irmãs queixaram-se que não têm medicamentos para dar aos enfermos. A Irmã Eurizanda reforçou a ideia da necessidade urgente de uma ambulância para Suzana.
10 - Centro de Saúde da Missão Católica de Suzana

4 – Visita A Budjim

Fizemos ainda uma visita à Escola de Budjim, uma tabanca já muito próxima da fronteira do Senegal. O capitão Rei Vilar tinha aí mandado construir uma Escola que já não existe e foi substituída por outro edifício maior. Em Budjim há escolaridade desde o Jardim-Escola até ao quarto ano. Há cerca de 70 alunos dos quais cerca de 30 no Jardim-Escola. Há grandes necessidades e os professores querem instituir mais dois anos de escolaridade. Pediram-nos para enviarmos algum material escolar para o Jardim-Escola.
11 - Partida de Bissau

Este é o relato da nossa viagem a Suzana e ao seu Agrupamento de Escolas. As necessidades são enormes mas tenho confiança que a nossa Associação continuará a estabelecer pontes para ajudar a comunidade Felupe de Suzana, as suas Escolas e as suas crianças.

Em nome das crianças de Suzana, agradeço a vossa implicação!

Manuel Rei Vilar
(Presidente da Associação Anghilau
____________

Nota do editor

Último post da série de24 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24883: Ser solidário (263): Relatório da nossa 38.ª Missão Solidária que decorreu entre os dias 28 de Outubro e 04 de Novembro de 2023 na Guiné-Bissau (Afectos Com Letras)

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22576: Ser solidário (240): Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar e Residência dos Professores de Susana "Os Sopitos", duas magníficas obras da Associação Anghilau (Manuel Rei Vilar / José d'Encarnação)




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 13 de julho de 2021 > Depois da escola cap ri, foi construida a residência de professores do Agrupamento Escolar de  Susana, com início em novembro de 2020. Tem 7 quartos e 2 salas comuns.


Fotos (e legendas): ©  Manuel Rei Vilar (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Manuel Rei Vilar

1. Duas mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar, membro da nossa Tabanca Grande (nº 812), líder do projeto Kasumai, irmão do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Suzana, 1970) (*)

Data - 19 jul 2021 20h37
Assunto - Nova Residência de Professores da Escola de Suzana

Caríssimo Amigo Luís Graça

A construção de uma Residência de Professores foi o grande objetivo da Associação Anghilau para 2021. 

De facto, a necessidade de fixar os Professores da Escola de Suzana numa Residência com condições dignas de habitabilidade foi um pedido a Direção do Agrupamento Escolar de Suzana nos solicitou para assegurar a continuidade do ensino e a presença dos Professores nesta localidade.

As obras da Residência terminaram agora e esta foi já entregue aos professores do Agrupamento Escolar de Suzana, esperando pela Inauguração oficial será efetuada posteriormente logo que as condições sanitárias o permitirem pelos membros da nossa Associação.

Falta agora unicamente completar com o mobiliário, os equipamentos da cozinha e da casa de banho assim como a canalização da agua corrente, o que será realizado nas próximas semanas.

Temos de agradecer aqui a preciosa ajuda de do incansável Padre Vítor, Prior de Susana e do nosso amigo Olálio Neves Trindade, responsável da ONG VIDA assim como da comunidade de Susana que respondeu com o seu trabalho à edificação desta linda Residência.

Kassumai (Felicidade, Paz e Liberdade)

Manuel Rei Vilar



Data- 26 ago 2021 15h03
Assunto - A história de uma inesperad surpresa

Caríssimo Luís Graça

Há uns dias enviei-lhe um texto intitulado "A HISTÓRIA DE UMA INESPERADA
SURPRESA" e publicado num blogue

https://duaslinhas.pt/2021/08/a-historia-de-uma-inesperada-surpresa

Não sei se o recebeu... Trata-se de um pequeno resumo da nossa história e do nosso trabalho em Suzana na Guiné-Bissau. Foi escrito por um amigo meu que gostou da história. O José d'Encarnação é de Cascais e andou connosco na Escola Salesiana do Estoril. Foi ai que ele conheceu o meu irmão. Atualmente, ele é Professor Catedrático reformado da Universidade de Coimbra e exerce muitas vezes o jornalismo. Penso que seria interessante publicá-lo no blogue dos Combatentes e pedia-lhe que se
estivesse de acordo, os meus irmão e eu também gostaríamos que o fizesse.

Um grande abraço e muita Saúde

Manuel Rei Vilar (**)


2. A HISTÓRIA DE UMA INESPERADA SURPRESA – O JARDIM-ESCOLA CAPITÃO LUÍS FILIPE REI VILAR!

por José d'Encarnação

  
Nesse dia do ano 2000, a cabeleireira do lar não estava disponível e D. Maria do Carmo precisava mesmo de lavar a cabeça e pentear-se. Decidiu, pois, sair e ir até à cabeleireira do bairro. Conversa puxa conversa (a gente sabe como é…) e a surpresa apareceu assim de repente, completamente inesperada, mais inesperada do que todas as surpresas. 

A mãe do capitão

Não era a primeira vez que D. Maria do Carmo ia ali. Contudo, desta feita, vendo que a cabeleireira era uma senhora africana, teve curiosidade em saber donde viera. 
– Da Guiné – respondeu. 
– E donde exactamente. 
– De uma aldeia chamada Susana. Fica situada a 5 km da fronteira com o Senegal, no noroeste da Guiné-Bissau. 
– Susana? Mas foi em Susana que o meu filho esteve e aí comandou a sua Companhia… 
– Mas a Senhora é da família do senhor capitão que morreu na guerra, o capitão Luís Filipe Rei Vilar? 

D. Maria do Carmo estremeceu ao ouvir soletrar o nome completo do filho. 
– Sim, sou a mãe. Ele morreu, sim, em combate na Guiné. A 18 de fevereiro de 1970… Mas a senhora, que é tão nova, como sabe o nome do meu filho? 
– É que, em Susana, nós veneramos muito a memória dele! 

D. Maria do Carmo estremeceu ainda mais. 
– Sim? Porquê? 

E a cabeleireira começou a desfiar, com entusiasmo, o rosário de benefícios que o capitão conseguira trazer para a aldeia, quando ali estivera em serviço com a sua companhia. Lutara, sim, ele e os seus homens, para defenderem a população, garantiu a cabeleireira; mas o mais importante ainda foi toda a obra social aí levada a cabo, nomeadamente no domínio da instrução, mediante a construção de uma escola, uma escolinha de 25 x 10 metros. 

«Lutando, construindo e ensinando» era a sua divisa! Em Susana chamavam-lhe o Capitão dos Pretos! As crianças eram recolhidas num raio de 5 km para irem à escola e, antes de serem levadas para casa, partilhavam o rancho dos soldados, da sopa deles… Por isso, esses meninos eram apelidados de “sopitos”. E ainda hoje o são! 

A surpresa da família 

A novidade caiu inesperada. 

Sobre a comissão de Luís Filipe Rei Vilar, nascido em Cascais a 12 de Novembro de 1941, e, sobretudo, acerca das circunstâncias da sua trágica morte,  chegaram a divulgar-se informações contraditórias e a família, contristada, preferiu continuar a ficar com a recordação do excelente percurso académico e militar que o filho tivera. 

Fora brilhante aluno na Escola Técnica e Liceal Salesiana de Santo António, no Estoril; praticara hóquei em patins no Grupo Dramático de Cascais; notabilizara-se na Academia Militar e, nomeadamente, na equitação, tendo participado em vários concursos no Hipódromo de Cascais, que tem hoje o nome de Manuel Possolo, mestre de equitação do Luís. 

Essa informação trouxe, pois, de novo à memória os momentos bons e também os maus. 

D. Maria do Carmo viria a falecer em 6 de Janeiro de 2004. Os filhos Duarte, Manuel e Miguel é que não ficaram sossegados enquanto não tiraram a limpo o que acontecera e qual a razão dessa veneração dos Felupes pelo seu irmão mais velho. 

Fora-lhe atribuída, a título póstumo, a Medalha de Serviços Distintos Prata com Palma («Diário do Governo» de 11-5-1970), tendo sido destacado, na circunstância, que «no campo da acção psicológica actuou como um verdadeiro apóstolo, conquistando o respeito e admiração das populações, que nele confiavam cegamente; no campo operacional salientou-se pela firme determinação em bater o inimigo nas zonas de refúgio e pelo exemplo da sua presença nos locais de maior risco». 

Soube-se depois que, também em Susana, após a sua morte, fora colocada uma placa em sua memória, hoje desaparecida. 

O Município de Cascais, por deliberação unânime de 5 de Junho de 1970, dera o nome ‘Capitão Rei Vilar’ a um arruamento do Bairro Navegador, no mesmo dia em que foi decidido homenagear, no mesmo bairro, a memória de outro cascalense, o Furriel João Vieira, que, aos 23 anos, fora morto em combate, em Angola, a 6 de Agosto de 1965. Aluno da Escola Salesiana do Estoril também ele. 

A obra em marcha 

Em primeiro lugar, a notícia dada pela cabeleireira causou na família muito espanto e alguma dúvida. 

Sucedeu, porém, que, em Abril de 2016, o irmão Miguel recebeu a mensagem de um desconhecido, um certo Luís Costa, antropólogo, recém-chegado da Guiné, aonde fora em preparação da sua tese de doutoramento e que vivera quatro meses em Susana. O teor era o seguinte:

 «Quero-lhe dar conta que a Memória do seu irmão, Cap Cav Luís Filipe Rei Vilar, comandante da CCAV 2538 […] continua bem viva e respeitada. Os habitantes de Susana falam com entusiasmo e saudade do seu irmão e contam o interesse e respeito que ele tinha pelas gentes da Guiné, em especial pelos Felupes». 

E, assim, em Janeiro de 2017, no seguimento desta mensagem, os três irmãos Manuel, Duarte e Miguel partiram para a Guiné. Escreve o Manuel, a 30 desse mês: 

«Quando chegámos a Susana, a surpresa! À chegada, tínhamos uma recepção de cerca de 200 crianças a cantarem e a bailarem, todas lindamente penteadas, limpas e bem vestidas. Não estava a acreditar! Toda a população nos esperava! Permanecemos em Susana 4 dias, alojados na missão católica. Foram 4 dias a conviver com a população, com os Felupes, a etnia local. Fomos ao sítio onde tudo se passara. Ainda há alguns guias felupes vivos que incorporaram a Companhia nessa altura e os seus pormenorizados relatos, nomeadamente das circunstâncias da morte do Luís, foram para nós testemunhos muito importantes». 

Entre outros, o do Padre Zé (José Fumagalli), já com 80 anos, que dirigia a Missão Católica nesse tempo e que conheceu e conviveu com o Capitão, também confirmou essas informações. 

As autoridades locais (o Conselho dos Homens Grandes) acolheram-nos, pois, de braços abertos; e a Missão Católica (liderada então pelo Padre Abraão e, posteriormente, pelo Padre Vítor) proporcionou-lhes um básico alojamento, porque, na verdade, Susana é aldeia pobre, minguada de meios.

 O resultado dessa primeira viagem a Susana foi a promessa dos irmãos Rei Vilar de continuarem a obra, no que respeitava à educação das crianças, em tão boa hora iniciada pelo irmão Luís Filipe, em circunstâncias assaz adversas. Foi assim que surgiu, espontaneamente e com esse objectivo, o Projecto Kassumai, que deu origem, em 2020, à constituição da Associação Anghilau («criança», em língua felupe). 

Foram assim apadrinhadas 35 crianças: a Adelaide da Silva, o André Djejo, a Bequita Ampabagai, o Davide N’Manga, a Necas Sambu, o Olívio Bussa, por exemplo, que aparecem, felizes e tímidas, no vídeo Kassumai, que Casper Steketee e Manuel Rei Vilar realizaram, não apenas para dar conta da vida do irmão Luís, mas, de modo especial, para fazerem jus ao bom acolhimento havido por parte da população e, sobretudo, para motivarem os amigos e familiares a aderirem a este projecto educacional. 

Kassumai, o nome do projecto, é a saudação felupe, que significa simultaneamente «felicidade, paz e liberdade». E quando alguém saúda outrem – «Kassumai»! – o outro deve responder «Kassumai Kep», que quer dizer «para sempre!». Um toque de humanidade a reter dos nossos irmãos africanos! 

Daí até à sugestão de reabilitar a escola e de fazer um edifício a condizer com as necessidades foi um passo. O Jardim-escola, que se encontrava decrépito, foi completamente reabilitado: renovação do telhado, pavimentação das salas, pinturas das paredes, aquisição de nova mobília adequada ao ensino pré-escolar, arranjos das portas totalmente danificadas, novas instalações sanitárias com duas fossas sépticas, criação duma pérgula para as crianças tomarem as refeições e brincarem nos dias de chuva e elaboração duma cerca para maior protecção da miudagem. 

Em 2017, os irmãos Rei Vilar tinham encontrado em Susana um homem branco, da ONG VIDA – Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento Africano, organização criada em 1992, com sede em Lisboa, na Rua Nova do Almada (http://vida.org.pt), que focou muito da sua actividade na Guiné, em prol de contribuir para acudir às prementes necessidades de nutrição, mormente das crianças, através duma implementação correcta do Programa Nacional de Nutrição da Guiné-Bissau que contribua para a sua sustentabilidade. Como é lógico, gerou-se, de imediato, uma útil parceria com a futura ‘associação’ das boas vontades que a família conseguira congregar em torno de si. 

A partir desse encontro, a figura de um felupe, o Sr. Olálio Neves Trindade, hoje responsável da ONG VIDA na Guiné-Bissau, veio a ser o homem de campo do Projecto, em colaboração com o Prior de Susana Padre Vítor Pereira. Os media foram indispensáveis para manter uma ligação quase quotidiana com Susana e para difundir as actividades do Projecto. 

E, a 18 de Fevereiro de 2020, 50 anos depois da morte do Capitão, dia após dia, as novas instalações pré-escolares foram solenemente reinauguradas, com o nome Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar, nome escolhido pela Direcção do Agrupamento Escolar de Susana, na presença de doze padrinhos e madrinhas, que se deslocaram a Susana para esse fim, das autoridades locais (administrativas, religiosas e escolares) e do Comité das Mães. Actualmente, o Jardim-Escola tem uma capacidade para mais de 70 crianças e o Agrupamento Escolar de Susana, que resultou da pequena escola criada pelo Capitão Rei Vilar, é frequentado por mais de 700 alunos. 

A construção de uma Residência dos Professores de Susana foi o segundo objectivo do projecto, crucial para fixar os docentes em alojamentos condignos. A nova residência encontra-se terminada e apta a acolher os professores a partir do próximo ano lectivo: foi entregue nas últimas semanas às entidades escolares. 

A reabilitação do Jardim-Escola assim como a construção da nova Residência para professores foram totalmente pagas com os donativos do apadrinhamento das crianças. 

O que falta? 

Compreende-se, porém, que projectos deste teor nunca podem considerar-se terminados e, após uma solução encontrada, outro problema por resolver se depara com premência. Neste sentido e neste momento, um terceiro projecto tem como objectivo reabilitar os restantes edifícios escolares, incluindo o acabamento do Liceu, que foi inteiramente construído pela comunidade de Susana. 

Em Março de 2020, a Associação Anghilau, recentemente constituída, decidiu dar conhecimento do trabalho realizado em Susana à Câmara Municipal de Cascais, tendo sido pedida, para esse efeito, uma reunião com a Divisão das Relações Internacionais. Nessa reunião, a Câmara dispôs-se a analisar este terceiro projecto, baptizado de Projecto Cascais-Susana, que se encontra ainda em apreciação. 

A aprovação desse projecto seria, de facto, o reconhecimento de todo o trabalho realizado até aqui e também, de certa forma, uma maneira de o Município poder honrar, tal como os Felupes o fizeram, a memória do Capitão Luís Filipe Rei Vilar, um filho de Cascais, sempre presente nesta vila e no coração dos habitantes de Susana. 

José d’Encarnação

___________


(**) Último poste da série > 7 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22521: Ser solidário (239): Para as crianças deslocadas em Moçambique, a Escola é uma primeira casa - Uma iniciativa da Helpo - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil)

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21164: Tabanca Grande (498): Manuel Rei Vilar, líder do projeto Kasumai, irmão do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Suzana, 1970)...Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 812

1. Mensagem de Manuel Rei Vilar, nosso leitor e amigo, líder do projeto Kassumai, presidente da direção da Associação Anghilau:

Date: sábado, 4/07/2020 à(s) 12:38

Subject: Luís Reis Vilar (1941-1970), o Projeto Kasumai e a Tabanca Grande

Caríssimo Luís Graça:

Obrigado pelo convite [, vd. ponto 2, mensagem, de 4 do corrente, do nosso editor LG]. 

Fico muito honrado por me sentar à sombra do vosso poilão e pertencer à vossa Tabanca que também representa um fantástico acto de Paz e de confraternização entre os povos, e em especial entre os povos assombrosos da Guiné e a nossa Pátria. Contem comigo! Agradeço muito o vosso honroso convite e aceito.

Também podemos dizer que a Tabanca Grande teve um grande papel no início da nossa Ação em Suzana pois, devido ao pedido inicial que vos transmiti pedindo informações sobre o nosso irmão Luís [Rei Vilar, Cascais, 1941 - Suzana, 1970], o meu nome ficou associado ao vosso Blog. (**)

Um outro Luís, mas esse Luís Costa,  [antropólogo,] há quatro anos esteve em Suzana durante vários meses e ouviu falar do nosso irmão e da recordação que ele deixou nessa Tabanca!

Por isso, também deixo aqui o meu agradecimento à Tabanca Grande!

Neste momento estamos precisamente a preparar a ficha de inscrição na nossa nova Associação Anghilau (criança em língua felupe). Podemos transmiti-la à Tabanca Grande.

De facto, estamos a ser solicitados por novos desafios agora noutra aldeia do Cacheu, Batau, que visitámos durante a nossa viagem e onde a população precisa de arranjos na Escola e de um debulhador de arroz. (*)

Neste momento temos 35 apadrinhamentos, o que começa a ser demasiado pouco para todas as solicitações de ajuda que nos foi pedida no decurso da nossa viagem. Obras na Escola secundária de Susana, construção de uma residência para Professores etc...

Talvez a Tabanca Grande nos possa dar uma ajuda nesta nova campanha de apadrinhamento. Seria possível?

Logo que tiver uma informação mais completa, posso-vos enviar. A vossa ajuda ser-nos-ia preciosa!

Se há uma coisa que nunca nos poderemos esquecer na vida, é o investimento educacional que damos para que estas crianças da Guiné possam ser os homens e mulheres que este magnifico Pais, um dos mais pobres do Mundo, precisa para desenvolver o seu futuro.

Um grande abraço... e, na linguagem dos nossos amigos felupes,

Kassumai!
Manuel Rei Vilar




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos Rei Vilar (da esquerda para a direita, Manuel, Miguel e Duarte), em dia de homenagem ao seu irmão mais velho, o cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.



Foto ( e legenda): © Manuel Rei Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Mensagem do nosso editor LG:

Data - 04/07/2020 à 12:36,

Obrigado, Manuel, Miguel e Duarte:

publiquei e comentei no nosso blogue [os  Relatório de Atividades do Projeto Kassumai, a  constituição da Associação Anghilau, além de reportagem  da viagem dos irmãos Rei Vilar à Guiné-Bissau que se realizou no passado mês de fevereiro que teve como objetivo reinaugurar o Jardim-Escola de Suzana depois do restauro e dar a conhecer a realidade do Chão Felupe, de Suzana e também da Guiné-Bissau.] (*)

Bolas, que "inveja"!... Que grande exemplo!...

É a mais sentida e bela homenagem que uma família enlutada pode fazer a um dos seus entes queridos, vítima da insanidade mental da guerra, voltando ao "local do crime" para, através das crianças felupes, erigir um monumento à paz e à solidariedade humana, contra a estupidez, a violência gratuita, o ódio...
Luis Rei Vilar, enquanto
cadete da Academia Militar.
Foto: cortesia de cor Morais da Silva

Eu gostava que um dos irmãos, talvez o Manuel, por ser o mais velho, aceitasse o nosso convite para integrar, formalmente, a nossa Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão no lugar do seu saudoso irmão e nosso camarada Luís Rei Vilar... Faz todo o sentido, sendo ele para mais o presidente da nova associação Anghilau...

O nosso blogue (e a comunidade de amigos e camaradas da Guiné que o suportam) foi criado, há 16 anos, em 23/4/2004, justamente para construir pontes com uma terra e um povo que continuam no nosso coração, apesar de todos os erros e crimes ocorridos durante a nossa história comum.

Um grande abraço, Manuel, Miguel e Duarte... O vosso/nosso Luís estará sempre presente na nossa memória.

O editor Luís Graça


3. Comentário do editor LG:

Manuel, podemos tratar-nos por tu, mesmo não tendo sido camaradas de armas. Sou amigo e antigo colega de curso do teu mano mais novo. Somos académicos, eu já aposentado. Enfim, já nos conhecemos, ser pessoalmene, daqui, do blogue, desde há  uns largos anos e temos em comum o mesmo amor por aquela terra martirizada, que é a Guiné, e a mesma esperança de que o precioso sangue derramado por todos os antigos combatentes da guerra de 1961/74 não tenha sido em vão.  O teu mano Luís, que eu não conheci pessoalmente, foi meu comporâneo no CTIG, embora eu tenha estado no setor L1 (Bambadinca). 

Recordo-me bem do pedido que nos formulaste, publicado em 30/7/2007 (***):

(...) O  meu irmão foi morto em Fevereiro de 1970. Era Capitão de Cavalaria e chamava-se Luis Filipe Rei Vilar. Ele estava localizado em Susana.

Gostava de saber mais pormenores deste trágico acontecimento que a minha família viveu, além dos que nos foram transmitidos pelas vias oficiais.

Não sei quem me poderia ajudar. Pensei dirigir-me a si. Se me pudesse dar alguma informação ou então onde ou a quem me dirigir, agradecer-lhe-ia muito. Conto visitar a Guiné-Bissau para o ano e com os meus irmãos fazer uma romagem a Susana. (...)


 E a resposta que na altura eu te dei,  foi esta (***):


(...) Querido amigo e camarada, irmão de um camarada nosso: É de grande nobreza o seu gesto. Vamos seguramente ajudá-lo na pesquisa da informação que nos pede. De momento, não tenho grandes elementos na minha posse, para além da carta de Susana. É verdade que também não tem aparecido muita gente que tenha estado naquela zona do noroeste da Guiné. Mas nós temos aqui alguns especialistas na áerea do reconhecimento e informações... Seguramente que vamos encontrar alguma pista que nos leve ao conhecimento, mais detalhado, das circunstâncias em que morreu o seu irmão. Se souber qual era a sua unidade (companhia ou batalhão), melhor ainda. Até breve.(...)

Treze anos depois (!), vais-te tentar no lugar nº 812, à sombra do poilão da Tabanca Grande (****). E vais continuar a ter, tu e os teus irmãos, o nosso blogue à vossa disposição para divulgar as atividades solidárias da vossa Associação Anghilau (, criança, em felupe), e continuar a pesquisar, se for caso disso e se for essa a vossa vontade, as circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas em que morreu o vosso irmão e nosso camarada. (Estranhamente, ainda não temos nenhum camarada da CCAV 2538, a  sentar-se aqui ao nosso lado, na Tabanca Grande, à sombra do nosso poilão.)

Deixo-te aqui um link com as nossas 10 regras editoriais que todos os membros da Tabanca Grande devem conhecer, aceitar e respeitar.

4. De acordo com a sua página no Facebook, Manuel Rei Vilar é ou foi:

(i)  presidente da direção da Associação Anghilau (*);

(ii) professor auxiliar no  Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisoa;

(iii) maître de conférence na Université Paris 7 - Denis Diderot;

(iv) ingénieur de recherche na Université Paris 6 - Pierre et Marie Curie;

(v) ingénieur de recherche no  Centre national de la recherche scientifique (CNRS);

(vi) diretor na Residência André de Gouveia_Cité internationale universitaire de Paris;

(vii) engenheiro química  pelo Instituto Superior Técnico;

(viii)  estudante nos Salesianos Estoril;

(ix) natural de  Cascais, vivendo em Paris;

(x)  o seu irmão, mais velho, Luis Rei Vilar, cap cav, comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876 (Susana, 1969/71), foi morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21138: Ser solidário (233): Viagem à Guiné-Bissau (de 15 a 28/2/2020), homenagem em Suzana ao cap cav Luis Filipe Rei Vilar (1941-1970), relatório e contas do projeto Kasumai, e a nova associação Anghilau (criança, em felupe) (Manuel Rei Vilar)


(**) Vd. postes de:


16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4962: In Memoriam (31): Cap Cav Luís Rei Vilar, meu irmão e meu herói (Miguel Vilar)


14 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6592: In Memoriam (44): A última foto do Cap Cav Luis Rei Vilar e o agradecimento da família ao blogue (Duarte Vilar)


18 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20745: Ser solidário (229): Projecto Kasumai e homenagem ao cap Luís Rei Vilar (1941-1970), em Susana, 50 anos depois da sua morte (Duarte, Manuel e Miguel Rei Vilar)

4 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20703: Ser solidário (226): Projeto Kassumai: almoço de convívio, seguido de reunião para aprovar os estatutos e eleger os órgãos sociais da nova Associação AGNHILAU: Restaurante da Quinta de Stº António, Alcabideche, Cascais, domingo, 8 de março de 2020, às 12h30 (Manuel Rei Vilar)


14 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6592: In Memoriam (44): A última foto do Cap Cav Luis Rei Vilar e o agradecimento da família ao blogue (Duarte Vilar)

sábado, 4 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21138: Ser solidário (233): Viagem à Guiné-Bissau (de 15 a 28/2/2020), homenagem em Suzana ao cap cav Luis Filipe Rei Vilar (1941-1970), relatório e contas do projeto Kassumai, e a nova associação Anghilau (criança, em felupe) (Manuel Rei Vilar)


A nova Associação Anghilau (criança, em felupe)


1.  Mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar, irmão do nosso saudoso camarada cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), primeiro comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71):


Data - quarta, 1/07/2020, 23:00

Assunto - Relatório de Actividades do Projecto Kassumai 2019-2020



Caríssimos Padrinhos, Madrinhas e Amigos do Projeto Kassumai (*)

Aqui vos envio os Relatório de Atividades do nosso Projeto de Apadrinhamento e as primícias da nova Associação Anghilau. 

Incluo neste relatório intermediário de 2020, uma récita da nossa viagem à Guiné-Bissau que se realizou no passado mês de fevereiro que teve como objetivo reinaugurar o Jardim-Escola de Suzana depois do restauro e dar a conhecer a realidade do Chão Felupe, de Suzana e também da Guiné-Bissau.

Espero encontrar-vos todos de ótima saúde nestes momentos que difíceis que todos vivemos. Todo o cuidado é pouco! O vírus ainda anda por aí e precisamos de muita prudência.

Kassumai
Manuel Rei Vilar



RELATO DA NOSSA VIAGEM À GUINÉ-BISSAU 
DE 15 A 28 DE FEVEREIRO DE 2020  (**)

A nossa viagem à Guiné correu sem incidentes. No momento do desembarque em Bissau, fomos rodeados por uma equipa de técnicos de saúde que nos mediram a temperatura e nos pediram para assinarmos uma ficha de saúde. 

Foi muito estranho, pois isto passou-se muito antes do primeiro caso de COVID em Portugal (2 de março) ter aparecido.

Depois de chegarmos a Bissau e termos pernoitado no Hotel Coimbra onde encontrámos o nosso guia e amigo Adriano Djaman, seguimos para Suzana no minibus que o Adriano se tinha encarregado de alugar para a nossa viagem. 

A viagem para Suzana faz-se bem até S. Domingos com estradas alcatroadas e pontes que ligam canais, rios e riachos ao longo do itinerário até S. Domingos. Depois as coisas mudam de figura e temos de enfrentar uma picada de 30 km até Suzana em que cheia de covas e buracos de grande densidade superficial. 

Aos safanões lá se chega a Suzana que fica assim bastante isolada visto que o estado da estrada a torna impraticável a muitas viaturas. 

A nossa chegada foi festejada por um grupo de mulheres de Suzana e as entidades da Escola que nos vieram esperar. E aí, perante tanta alegria e votos de boas-vindas, já os buracos e as covas da Estrada de S. Domingos caíram no esquecimento. Com muitas danças e sorrisos fomos assim acolhidos pelos nossos amigos Felupes. Com muita emoção e muito regozijo reconhecemo-nos uns aos outros com muitos abraços e sorrisos. É emocionante a humanidade que encontramos neste pais e neste Chão Felupe.

Fomos recebidos na Missão Católica e tivemos a alegria de encontrar o Padre Zé (Giuseppe Fumagalli que conheceu o Capitão), um pouco vergado pela idade mas cheio de satisfação e brilho nos olhos por nos ver. Disse que neste momento estava a compor uma Missa Crioula. 

Também encontrámos a Irmã Rute que é quem trata da população e que tem uma enfermaria na Missão Católica. Pela primeira vez conheci o meu amigo Olálio, dirigente local da ONG VIDA assim como o Padre Vítor que tanto nos têm ajudado nas nossas realizações. 

Depois de termos uma pequena reunião com os professores e começarmos a analisar as necessidades da Escola, dirigimo-nos para Varela, uma localidade a 15 km de Suzana, junto a uma bela praia. 

Depois de nos instalarmos no confortável Aparthotel da Avó Aniza que dispõe de um bom restaurante, fomos até à praia tomar uma rica banhoca. A praia é grande é linda apesar do mar ir fortemente devastando a orla marítima.

No dia seguinte mela manhã dirigimo-nos para Suzana onde deveríamos participar na reinauguração do Jardim-Escola que ficaria batizado Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar. 

Curioso, realmente o passado colonial português. Num momento em que tantas estátuas, ligadas ao colonialismo são derrubadas, em Suzana o nome do Comandante da Companhia que ficou na memória dos Felupes por mais de 50 anos, foi dado ao seu Jardim-Escola, celebrando assim a fundação da Escola de Suzana pelo Capitão. 

Alguns dos antigos alunos vieram-nos cumprimentar apresentando-se como “sopitos”, nome dado às crianças que antes de regressarem às suas casas, eram reconfortadas, partilhando do rancho dos soldados. 

Também foi uma ocasião de reencontrarmos alguns dos nossos afilhados. Um grupo de várias dezenas de crianças bem vestidos e impecáveis cantou e encantou-nos com as suas canções, algumas bem conhecidas dos portugueses. Uma delas foi o “Hino dos Combatentes” recordando os combatentes do PAIGC caídos durante a guerra e recordando-nos a todos que houve combatentes que caíram dos dois lados. 

O Padre Vítor fez um poema ao Capitão que ele recitou com três meninos mais crescidos. Foi então que a placa do Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar foi destapada. 

Depois visitámos as novas instalações completamente restauradas desde o chão até ao telhado, com a nova mobília adequada às atividades escolares das crianças e as novas instalações sanitárias munidas de uma fossa sética. No entanto, a água ainda terá de ser conduzida até às instalações e será necessário instalar um grande lavatório para a higiene das crianças. Um gradeamento envolve o espaço escolar permitindo uma maior segurança para as crianças.



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos Rei Vilar (da esquerda para a direita, Manuel, Miguel e Duarte),   em dia de homenagem ao seu irmão mais velho, o  cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.


A escola de Suzana tem hoje 734 alunos, do Jardim-Escola até ao nono ano, tendo 36 professores dos quais 24 diplomados. No entanto, um dos principais problemas é o facto de não haver uma residência para os Professores. Do facto, estes não se fixam em Suzana e têm tendência a partir.

Quando estivemos em Suzana em 2018, encontrámos 35 alunos no Jardim-Escola. Atualmente, este número duplicou e vai ser necessário duplicar as instalações. Também nos foi pedido material e jogos educativos e filmes para as crianças. A Missão Católica assegura a compra de um televisor para as projeções.

Depois de termos tido mais algumas reuniões com os professores, com homens e mulheres do Conselho de Suzana dirigimo-nos para fora da Tabanca, para o sítio onde o Capitão foi mortalmente atingido, precisamente no dia 18 de fevereiro de 1970. Faria 50 anos! 

Quem nos diria que tudo isto aconteceria 50 anos depois desse malogrado dia em que tive de anunciar à minha mãe que o Luís tinha morrido. Essa tragédia nunca a esqueceremos! Desta forma transformamo-la em algo de positivo!




Voltámos para Varela onde outros deliciosos banhos de mar nos esperavam antes de partirmos no dia seguinte para outra tabanca do Cacheu, Batau, a tabanca do Padre Vítor que não nos pôde acompanhar nessa visita. 
Batau fica numa zona recuada do Cacheu perto de Calequisse. 

Saímos de manhã em direção a S. Domingos onde esperamos durante algumas horas a embarcação que nos levaria a Cacheu, uma cidade importante na Rota da Escravatura. Depois da travessia através Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, chegámos à cidade de Cacheu, situada na margem esquerda do rio. 

Cacheu foi um dos primeiros estabelecimentos portugueses na Guiné e serviu durante vários anos como um centro dedicado ao comércio de escravos. Ai, visitámos a fortaleza portuguesa do século XVI, onde foram depositadas várias estátuas de navegadores e governadores portugueses da Província. Cacheu foi durante várias décadas um centro importante do comércio de escravos. 

Em frente da fortaleza, encontra-se um Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro. Entrámos no Memorial onde estava a decorrer o I Simpósio Internacional "Cacheu caminho de Escravos, Histórias e memórias da escravatura e do tráfico na África ocidental". 

No Memorial descreve-se em vários quadros a história desta página negra da Humanidade. Esta história não é só portuguesa mas o comércio de escravos também foi alimentado, infelizmente, pelos próprios africanos. De qualquer forma aqui é relembrada e explicada no interior deste Memorial. 

Uma excelente exposição de tecidos guineenses encontrava-se nesse momento dentro do Memorial. É de referir aqui os lindíssimos tecidos que são produzidos na Guiné. 

Passámos a noite em Canchungo [ex-Teixeira Pinto] num hotel de uma estrela no máximo. Conseguimos arranjar jantar...mas foi difícil! Frango para todos. Estava tudo muito bom! Ninguém se queixou, nem ficou doente... mas devo dizer que aqui houve improvisação. Somos uns estoicos!

No dia seguinte, rumámos para Batau [, a sul de Calequisse, a oeste de Canchungo,] onde nos esperava uma grande comitiva. Toda a aldeia nos veio receber. Ai, visitámos a Escola que foi construída pela população assim como uma horta organizada pelas senhoras da aldeia para poderem pagar aos professores. O Daniel Gomes, um homem de Batau, chefe de uma família numerosa e polígama, acompanhou-nos na visita à horta da Escola
. 

A Escola encontra-se em muito mau estado, a precisar de pinturas e arranjos. As carteiras são feitas de grandes pranchas de poilão, a árvore sagrada da Guiné. As pessoas da aldeia acompanharam-nos nessa visita. Também eles nos pediram ajuda para as obras na Escola e para comprarem uma debulhadora de arroz. Como fazer para os ajudarmos? Se alguém tiver alguma ideia, será sempre bem-vinda. 

Os alunos da escola todos reunidos brindaram-nos com cantos luso-guineenses à sombra acolhedora do poilão. Foi um dia cheio de emoção ao encontrarmos esta gente acolhedora e generosa, oferecendo-nos um almoço muito saboroso. Depois, conversamos sobre as necessidades da população em geral e da Escola em particular. 

Despedimo-nos com lágrimas nos olhos. Gente boa e organizada neste país, um dos mais pobres do mundo. Há poucos dias, o Daniel Gomes escreveu-me a anunciar a morte do seu filho de 20 anos. Teve uma dor de barriga e dois dias depois faleceu! Provavelmente, uma apendicite. É assim a vida na Guiné, onde a assistência médica é praticamente inexistente! 

Depois de regressarmos a Bissau e passarmos a noite no Hotel Coimbra, navegamos numa lancha rápida no arquipélago dos Bijagós durante 4 horas até atingirmos a ilha de Orango onde tínhamos reservado no Orango Park Hotel. Este hotel diz que o produto das estadias é reservado à educação das crianças da tabanca mais próxima. No entanto, as crianças da tabanca não parecem muito bem tratadas. 


Em Orango deu para relaxarmos todas as emoções da viagem. Tivemos algum contacto com a população das tabancas mais próximas e visitámos a ilha de Uno, com uma paisagem variada com bosques de mangais e grandes poilões robustos e naturalmente esculpidos junto a uma grande lagoa circundada por plantações de arroz. A população da tabanca vizinha foi muito acolhedora. As mulheres a extrair o óleo de palma e os homens a observarem os visitantes.

Para terminar, regressamos a Bissau ao célebre Hotel Coimbra, o tal da livraria, no dia 24 de fevereiro. No dia 25 era terça-feira gorda, portanto em pleno carnaval, o Adriano levou-nos ao desfile que neste ano se realizava no Estádio de Bissau. Estava um sol abrasador! O Adriano, com os conhecimentos dele, entre outros o Ministro da Cultura da Guiné-Bissau, conseguindo-nos lugares de pé ao lado da tribuna presidencial. 


Manuel Rei Vilar
(2010)
Foi aí que assistimos a um espetáculo absolutamente grandioso. Cada etnia da Guiné tinha preparado uma representação com danças e acrobacias, tudo isto acompanhado por uma trupe de músicos e cantores. Um grande certame das competências de cada grupo. E finalmente, foi o grupo de Cacheu que saiu vencedor. [Vd. vídeo na página do Facebook do Manuel Rei Vilar.]

No dia 27 foram as eleições acompanhadas de um Golpe de Estado.

Ainda deu para visitarmos o Museu Etnográfico de Bissau, deveras interessante, guiados pelo diretor do Museu.




TRABALHOS REALIZADOS EM 2019

Com a vossa preciosa ajuda conseguimos renovar completamente o edifício do Jardim-Escola de Suzana, instalarmos durante 2019 novos sanitários, um Espaço para as Refeições e abrigo das intempéries assim como uma cerca à volta da Escola. 


Além disso pudemos também adquirir mobiliário necessário para a educação das crianças do Jardim-escola, construído por uma cooperativa de carpintaria de jovens. 

Atualmente, as crianças dispõem de um ambiente propício à instrução e educação graças à vossa solidariedade. Não esquecemos também a ajuda dos diversos intervenientes da aldeia, nomeadamente, a Missão Católica por intermédio do Padre Abraão e do Padre Victor, a ONG Vida através do nosso dinâmico amigo Olálio Neves Trindade, a dedicação dos operários que participaram na obra assim como o entusiasmo da População de Suzana. 

A todos, as crianças de Suzana agradecem. 



ASSOCIAÇÃO ANGHILAU 

Pensámos também que neste momento, seria útil modificarmos o nosso estatuto de Projeto Kassumai para passarmos a ser uma Associação com fins não lucrativos. 
Assim, reconhecidos oficialmente, este novo estatuto poder-nos-á trazer vantagens do ponto de vista tributário e igualmente do ponto de vista legal. 

De qualquer forma, continuaremos a funcionar exatamente da mesma maneira que temos funcionado até agora, sempre com os mesmos objetivos. 

Criámos assim a ASSOCIAÇÃO ANGHILAU (Anghilau significa criança em língua Felupe) no dia 11 de fevereiro de 2020. No dia 8 de março realizámos uma Assembleia Eleitoral para elegermos os Órgãos Sociais. Foram eleitos: 

MESA DA ASSEMBLEIA GERAL 

Presidente - Ivone Maria Domingues Félix
Secretária - Ana Maria da Conceição Ferraria
Relatora - Mónica Bento Lopes da Silva


DIREÇÃO 

Presidente - Manuel Rei Vilar
Vice-Presidente - Duarte Rei Vilar
Vice-Presidente - Miguel Rei Vilar
Secretária - Júlia Ribeiro dos Santos
Tesoureiro - Claude Piétrain

CONSELHO FISCAL


Presidente - Carlos José Vaz
Secretária - Ana Maria Botelho do Rego
Relator - José Constantino Costa



Dentro em breve, ser-vos-á enviada uma Ficha de Inscrição que vos pedia o favor de preencherem para a admissão como associado na Associação Anghilau. 



RELATÓRIO DE CONTAS DO PROJECTO KASSUMAI



Projeto Kassumai
Resultados do Ano 2019
Donativos (desde o inicio)
21.611,08 €
Despesas (desde o inicio)
13.846,35 €
Donativos em 2019
5.662,50 €
Despesas em 2019
9.237,62 €
Saldo
7.764,73 €

Despesas bancárias 2019/2020 = 258,11 € 


PERSPECTIVAS PARA 2020 

As perspetivas para este ano 2020 estão apresentadas no quadros seguintes.

Em resumo, as necessidades são:

· Instalação de água e lavabos nos sanitários;

· Compra de Material Escolar Educativo, Lúdico e Cultural

· Trabalhos de acabamento do Liceu de Suzana;

· Participação na criação duma Residência para os professores;

· Participação na Formação de duas educadoras. 









Fotos: © Manuel Rei  Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]