Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Xico Allen. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Xico Allen. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26660: Tabanca Grande (570): Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 901



 Foto nº 1 >  O Armando Oliveira, ex-1º cabo: passa a integrar a Tabanca Grande sob o nº 901



Foro nº 2A e 2  > Reabastecimento da companhia no porto fuvial de Fulacaunda


Foto nº 3 > O célebre fortim de Fulacunda


Foto nº 4 > A casa do adminisyrador da circunscrição de Fulacaunda


Foto nº 5 > O "campo de futebol" de Fulacunda



Foto nº 6 > Vista do quartel de Fulacunda


Foto nº 7 > O nosso cabno Armando Oliveira junto ao rio Fulacunda



Foto nº 8 > Uma voltinha de "motoreta"


Foto nº 8 > Em dia ade anos do Armando Oliveira (à esquerda, na segunda fila) (?)...No grupo reconmhecemos o oficial de dia, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto (era o cmdt do 3º Pelotão)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fotos do álbum do Armandfo Oliveira, ex-1º cabo. natural do Marco de Canaveses, vive no Porto.


Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complemerntar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Na passada sexta, dia 4, tive o prazer de atender uma chamada do Armando Oliveira, que pertenceu à 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo integrado o 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo e camaradada Jorge Pinto. 


A esta companhia também pertenceu o José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, tal como o ex-alf mil Fernando Carolino.

Embora eu fosse em viagem, deu para registar o seguinte a respeito do Armando Oliveira:

(i) é conterrâneo da Alice Carneiro; nassceu no Juncal, a escassos quilómetros de Condoz, freguesia de Paredes de Viadores, concelho de Marco de Canaveses;

(ii) no Juncal ainda tem 3 irmãos, e um outro em Soalhães (outra freguesia, e antiga vila e sede de  c0ncelho, extinto em 1852);

(iii) vive hoje no Porto, tendo trabalhado 37 anos no Hospital Militar do Porto;

(iv)  já foi â Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda; 

(v) tem a melhor coleção de "slides" da Fulacunda do seu tempo: uma parte das imagens sobre o quartel e a tabanca  já foram publicadas no nosso blogue, tendo-as cedido ao seu amigo e camarada José Claudino da Silva;

(vi) já nos encontrámos pelo menos no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grandre, em Monte Real, em 5 de  maio de 2018;

(vii) foi amigo do Xico Allen; é amigo da Inês Allen (com quem foi a Empada, para em 23 de março de 2024 inauguar o Campo de Futebol Xico Allen);

(viii) é amigo da página do Facebook da Tabanca Grande (24 amigos em comum).


Armando Oliveira (Vila Nova de Gaia) e Carlos Vinhal. O Oliveira é "periquito" aqui em Monte Real...



Carlos Camacho Lobo (Maia) e Jorge Pinto. O camarada Camacho Lobo foi alf  mil médico do BART 6520/72 (Tite, 1972/74). É dermatologista, e veio da Maia. Convidei-o a integrar o nosso blogue...



Camacho Lobo (Maia) e Armando Oliveira (Vila Nova de Gaia)

Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >  >  Caras "novas" e "velhas"... Foi uma alegria ver gente desta geração que  faz 100, 200, 300 quilómetros para se encontrar e "matar saudades"... Outros vinha, pela primeira vez à procura dos camaradas da Guiné... Foi caso do Armando Oliveira (ao lado dpo Carlos Vinhal, na primeira fot;  e ao lado do Camacho Lobo (Maia), ex-alf mil médico do BART 6520/72 (Tite, 1972/74), na terceira foto. Na 2º foto, o Camacho Lobo e o Jorge Pinto.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





2. Excerto da página do Facebook de Armando Oliveira > 24 de junho de 2023 21:34

Faz hoje 51 anos que na Secretaria da unidade do Regimento de Infantaria 15 em Tomar, e sem a menor cerimónia, foi me dito: "você está mobilizado"...


Fiquei então a saber que tinha sido colocado na 3ª Companhia do Batalhão 6520 que estava a ser formado em Penafiel,com destino Guiné-Bissau.

Aqueles 10 dias de férias,sabendo a pouco,caíram que nem sopa no mel,tanto mais que me permitiram passar o S.João em família numa das Festas mais significativas da minha Cidade.

Terminadas as Festas São Joaninhas ,regresso a Penafiel,para no dia 25 todos o comboio com destino à capital,para no dia 26 rumar à Guiné. 

Havia, pois chegado a hora do pesadelo,se começar a tornar realidade ,no dia seguinte rumei à ilha de Bolama,para a realização da IAO.  .Logo em Bolama tivemos contacto com o inimigo,aquela noite de tréguas,os ataques insidioso daqueles minúsculos vampiros soube a uma estadia no Paraíso,na verdade,ainda nem sequer chegando ao aquartelamento de destino é já me sentia verdadeiramente flagelado.

Após a realização da IAO,  rumámos à Fulacunda.

Regressámos  a 21 de agosto de 1974.

Por último,quero aqui prestar a minha homenagem a todos os Combatentes da 3ª CART / BART 6520/72, que duma forma ou doutra viram as suas vidas condicionadas pela guerra,ou por causa dela,se viram na mesma vicissitudes Abraço a todos os Combatentes.
 

3. Comentário do editor LG:

Por todas as razões e mais uma (a de ser "conterrâneo", meu e da Alice), o Armando já cá devia estar desde 2018 na nossa Tabanca Grande. Expressei-lhe a minha vontade de o ver aqui entre nós, preenchendo o lugar de tantos camaraadas que deixaram a "Terra da Alegria", a começar pelo Xico Allen.  

Acabei de telefonar, para retribuir a gentileza de ter sido ele, há dias, a fazê-lo.  Aceitou, com entusiasmo, o meu convite. Já na sexta, dia 4, me tinha enviado montes de fotos da sua ida  a Empada, o ano passado, com a Inês Allen e outra malta dos "Metralhas". 

Vai-me mandar mais imagens dos seus excelentes "slides". (Um dos seus "hobbies" em Fulacunda era a fotografia.)

Fica doravente sentado à sombra do nosso poilão, sob o lugar nº 901. O seu nome passa a constar na lista alfabética dos nossos grãos-tabanqueiros. 

Prometemos encontrar-nos um dia destes no Porto ou na praia da Madalena. Desejo-lhe saúde e longa vida na continuação da sua caminhada pela picada da vida.

_____________

Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 2 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26544: Tabanca Grande (569): Vilma Crisóstomo, esposa do nosso camarada João Crisóstomo, que se senta no lugar n.º 900 sob o nosso "poilão sagrado"


sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25720: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (1): O meu cruzeiro no N/M "Ana Mafalda": ficámos contentes por saber que era só até à Guiné, e não até Timor...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor de Geba > CART 1690 (1967/68) > Cantacunda >  Abrigo... ou "bu...rako"



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) > O A. Marques Lopes em 1967, com duas beldades locais. Em 21 de agosto de 1967, seria ferido com gravidade na estrada de Geba para Banjara na sequência da explosão de uma mina A/C e, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. Voltou ao CTIG, em Maio de 1968, para acabar a sua comissão, tendo sido colocado então na CCAÇ 3, em Barro.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos da Conceição Guimarães, então com 29 anos. Foi um dos 24 capitães mortos no TO da Guiné




Guiné > Região do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Grupo Os Jagudis >  O ex-al mil  Marques  Lopes,   com o seu guarda-costa, balanta... "O meu guarda-costas chamava-se Bletche-Intete. Grande amigo. Um dia deu-me um grande empurrão durante um tiroteio... é que eu tinha-me virado de costas para o local de onde o IN estava a disparar (fiquei mal dos ouvidos desde que fui ferido em Geba)".


Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Viagem Porto-Bissau > Abril de 2006 > Percalços no deserto... e a solidarieade dos tuaregues... O Xico Allen, junto à traseira do jipe e o Hugo Costa, filho do Albano Costa, fazendo a cobertura fotográfica...

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > Restaurante Colete Encarnado > 21 de Abril de 2006 > O nossso camarada e amigo,  coronel de infantaria DFA,  ref, A. Marques Lopes  (à direita), jantando com o "inimigo de ontem", comandante Lúcio Soares e o comandante Braima Dakar. 

Sobre este último acrescentou: "O Braima Dakar, nome de guerra de Braima Cama,  é outro comandante que esteve ligado à morte dos três majores no chão manjaco. Disse-me que se disseram muitas coisas sobre isso que não são verdade, que não queria falar, e não me contou nada" (...) (*) 

Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... 


(ii) em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita

Os quatro fazem o pleno na Tabanca Grande em matéria de alferes milicianos de uma companhia: crieio que a CART 1690  é a única nessas condições... (Não temos notícias de nenhum deles há muito.)

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2007). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. No dia em que o nosso camarada e amigo A. Marques Lopes (foto à esquerda) chega ao fim da picada da vida, ao km 80 (*), temos a obrigação de mostrar aos mais novos do blogue, os recém-chegados,  os "periquitos, alguns dos melhores postes por ele publicados, e pôr em evidência o seu exemplo de vida e de coragem.

Ele esteve particularmente presente, sempre ativo e proativo,  no arranque do blogue: um 1/5 dos postes de um total de 385 publicados em 2005,  foram da sua autoria ou têm o seu nome (A. Marques Lopes) como "descritor". 

Foi particularmente participativo, no nosso blogue, até ao ano de 2008. Em 2006, em abril, fez a sua *romagem de saudade" à Guiné-Bissau, de jipe  com mais meia dúzia de camaradas (entre eles, Albano Costa, o filho Hugo, o Xico Allen, e a filha, Inês), e assinou algumas das melhores crónicas da série "Do Porto a Bissau", com abundante documentação fotográfica, revisitando as estações do seu calvário...

O A. Marques Lopes que em 1975 , beneficiando do seu estatuto de DFA, aproveitou a legislação que lhe  iria permitir voltar á vida ativa militar, e fez a carreira chegando ao posto de coronel, foi dos nossos primeiros "tertulianos" a relatar e a documentar, com recurso  a um numeroso e valioso espólio fotográfico, as aventuras e desventuras dos milicianos na Guiné: no seu caso, primeiro como alf mil na CART 1690, no subsector de Geba, região de Bafatá, zona leste, onde foi gravemente ferido (com direito a evacuação para a metrópole), e depois (ainda mal recuperado ) no Cacheu, em Barro, junto à fronteira com o Senegal, na CCAÇ 3, onde foi obrigado a completar o resto da comissão (1967/68).

O A. Marques Lopes era um profundo conhecedor da Guiné e do PAIGC, mantendo com os seus antigos guerrilheiros e comandantes uma relação próxima, não hesitando por exemplo em sentar-se à mesa com eles e partilhar "confidências" do tempo da guerra (vd. foto acima com o comandante Gazela, nome de guerra do Lúcio Soares)...  

Depois pediu-nos uma "licença sabática," porque estava a escrever um livro e tinha outros afazeres, incluindo a sua intervenção cívica nas escolas, associações e autarquias, mostrando e explicando o dossiê guerra colonial, no âmbito da A25A - Delegação Norte, a que pertencia.

 Pelo meio, meteu-se o projecto da Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, bem como da Associação Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano, de que foi o vice-presidente do Conselho de Administração.

Nado e criado em Lisboa, com costela alentejana (logo "mouro", sulista), vivia, há muito, disfarçado de "morcão", em Matosinhos...  Do seu segundo casamento, com uma nortenha, a Gena, teve um filho, o Francisco, que já terá os seus 30 anos. Tem ainda o Vasco, do primeiro casamento. Não falava muito da sua vida privada e familiar. Deixa-nos, entre outra produção literária, um grande livro de memórias, "Cabra Cega" (Lisboa, Chiado Books, 2015).

Dele guardo a grata memória de um grande homem, de fibra, de coragem, um bom amigo e camarada, que, mesmo na fase mais dramática da sua doença, era um otimista, um apaixonado pela vida. Costumava telefonar- lhe  no aniversário natalício.  O José Teixeira, seu vizinho, e que com ele conviveu e partilhou os projetos da Tabanca de Matosinhos, escreveu: 

"A sua grande vontade de viver fez com que travasse por longo tempo uma luta de vida. A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. 'Estou aqui para a luta', dizia-me ele há dias. Desta vez a doença foi mais forte" (*)...

Pedi ao Zé Teixeira que nos representasse, a todos nós, Tabanca Grande, na hora da despedida. Para a esposa, Gena, e os filhos,  Vasco e Francisco, vai a nossa solidariedade na dor por esta perda enorme, para eles e para todos nós, seus amigos e camaradas. (LG)


T/T Ana Mafalda



O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024):

O meu cruzeiro no "Ana Mafalda":  ficámos contentes por saber
 que era só até à Guiné, e não até Timor...


Tinha 103 metros de comprimento e 14 metros de largura, em linguagem de pescador de canoa em água doce, e tinha uma velocidade máxima de 13,5 nós, isto é, em linguagem de velho motorista de fim-de-semana, dava no máximo 25 km por hora.

Tinha 16 alojamentos em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira. Tinha 47 tripulantes (estou muito agradecido a um deles, um que me vendeu a máquina fotográfica com a qual tirei as fotografias que vocês conhecem). Alguns dos modernos "cacilheiros" que atravessam o rio Tejo não serão tão "grandes", mas aproximam-se.

Pois é verdade, meus amigos, foi neste transatlântico que a CART 1690 [Geba, 1967/69] largou do cais de Alcântara até à Guiné. Era a única unidade que lá ia, porque não cabia mesmo mais ninguém, penso eu.

Como alguns meses antes de embarcarmos nos tinham dito que íamos para Timor, ficámos satisfeitos por decidirem mandar-nos para a Guiné, pois pensámos que seria terrível ir num barco daqueles até à Oceânia...

Os alferes, sargentos e furriéis foram distribuídos pelos beliches dos "camarotes" de segunda e terceira classe. Em primeira classe ficou o capitão da companhia, o comandante do navio, o imediato, o oficial das máquinas, certamente, e uns mangas que se penduraram em nós à boleia, que eu não sei quem eram nem procurei saber.

O Zé Soldado, sempre o mais fodido nestas situações, foi para o porão onde estavam montados uns beliches de ferro com umas enxergas em cima, e onde casa de banho não havia.

Largámos às 12h00 do dia 8 de abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejetos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.

Mas deixem-me contar o que aconteceu antes do embarque. No dia 3 de Abril houve a cerimónia de despedida, assim lhe chamaram, no RAC (Regimento de Artilharia de Costa) de Oeiras, que era onde estávamos à espera de embarque. Houve missa na parada celebrada pelo padre Nazário, perdão, o senhor major-capelão Nazário, que, ainda por cima tinha sido meu "superior" quando eu fiz a instrução primária nas Oficinas de S. José, em Lisboa!

Não fui à missa nem ouvi o sermão que ele fez, e que me 
disseram que foi uma bela dissertação sobre o amor à pátria e a defesa do património nacional. Mas tive que o gramar mais tarde, porque ele, um dia, apareceu em Geba para ver como estava a guerra.

− Nós por cá todos bem, é claro − disse-lhe eu.

 Foto à direita: Nazário Domingues de Carvalho (salesiano) (capelão, CTIG, 1964/68)

Depois, no dia 8 de Abril, então, seguimos de comboio especial para a gare marítima. Fizemos um belíssimo e aprumadíssimo desfile, com a nossa mascote Morena à frente (...) ( coitada, não vem na lista, mas estava em Sare Banda, aquando do ataque, e foi morta durante ele; morreu em combate também; era uma cadela muito porreira) perante um representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército.

As senhoras do Movimento Nacional Feminino deram muitos santinhos, calendários e bolachas a todos. O representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército ainda fez uma preleção aos sargentos e oficiais dentro do navio. Aos soldados não deu trela. E lá embarcámos com as lágrimas dos familiares presentes.

Às 16h00 do dia 15 de abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de abril a companhia passou diretamente do navio para LDG e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca.

Foi engraçado e giro, como devem calcular, para o pessoal que ia enfiado, ouvir os fuzileiros que nos levaram ir dizendo, em cada curva ou ponto mais apertado do rio:

−  Olhem que aqui costuma haver ataques!...
 
Dormimos em Bambadinca, em tendas, ao pé do rio, porque não havia instalações. Foi o primeiro combate com a mosquitada.

A 17 de Abril seguimos de Bambadinca para Geba em coluna auto. E fomos render a CCAÇ 1426, do Belmiro Vaqueiro.

A brincar, a brincar, é o começo da nossa estória. (**)

(Seleção, revisão / fixação de fotps, edição e legendagem de fotos, título: LG)
__________

Notas do editor:

(*) 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(**) Vd. poste de 28 de junho de  2005 > Guiné 63/74 - P87: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (Marques Lopes)

sábado, 11 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25510: Facebook...ando (55): A nossa tabanqueira Inês Allen inaugurou, em 23 de março último, em Empada, o Estádio de Futebol Xico Allen, dos Metralhas de Empada FC

 










Guiné-Bissau > Região de Quínara >  Empada > Março de 2024 >  A Inês Allen foi inauguar o estádio do Empalhas Metralhas FC, que tem o nome de seu pai, Xico Allen (que foi 1º cabo at inf, CCAÇ 3566, "Os Metralhas", Empada, 1 972/74)  Um sonho tornado realidade. Um sonho lindo. 

Fotos: © Inês Allen / Metralhas de Empada FC  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A notícia já tinha sido dada aquii pelo nosso "histórico" (e grande amigo da Guiné-Bissau) Zé Teixeira (*):


(...) Um grupo de 19 pessoas, entre os quais, doze ex-combatentes, na sua maioria companheiros do Xico Allen dos tempos da guerra colonial, acompanham a Inês Allen, nesta sua viagem à Guiné-Bissau, mais propriamente a Empada, para participarem na inauguração do campo de futebol Francisco Allen.

Tudo começou em 2005, quando o Xico Allen descobriu que a placa em cimento com o totem da sua Companhia militar servia de tapete de entrada, numa casa de um importante cidadão local. Revoltado com o que viu, pegou na pesada pedra e trouxe-a para Portugal.

Na sua última visita àquela tabanca, onde esteve cerca de dois anos, ente 1972 e 1974, apercebeu-se de que o clube de futebol local, adotara o nome da sua Companhia operacional – Os Metralhas de Empada, e decidiu devolver a placa com o símbolo da Companhia, ao Clube de Futebol.

Infelizmente a morte montou-lhe uma emboscada antes de ele conseguir voltar a Empada, mas a sua filha Inês tomou a peito a sua decisão, cumpriu a promessa do pai, e foi, no ano passado, a Empada levar o símbolo.

Foi recebida em festa, tal como o pai era recebido. Ele era um filho da terra, muito querido.

Guião da CCAÇ 3566.
Cortesia de Carlos Coutinho (2009)
Não havia campo de futebol, apenas um espaço de terreno, onde se jogava a bola. A Inês, generosa e ativa, avançou com um projeto de angariação de fundos e o campo de futebol, o sonho dos jovens de Empada, ganhou forma. Hoje, é uma realidade, graças ao empenho solidário da Inês, do Ricardo Abreu, do Silvério Lobo, dos Metralhas e de outros camaradas que se uniram e deram forma ao sonho, tornando-o realidade.


O campo de futebol Francisco Allen vai ser 
inaugurado no próximo dia 23 de março 
com a presença da Inês Allen e dos amigos que já se encontram na Guiné-Bissau.

O Ricardo Abreu, grande amigo do Xico Allen e companheiro  
de várias viagens à Guiné-Bissau, nunca vai só. Procura levar na bagagem coisas de primeira necessidade para o povo guineense, nomeadamente medicamentos. Desta vez, levam cerca de 250 quilos em doações de farmácias, nomeadamente comida para bebé, biberões, seringas que vai deixar pelas tabancas por onde vão passar.

Partiram no sábado passado e logo à chegada fizeram uma romagem ao cemitério de Bissau, onde estão sepultados muitos soldados que tombaram ao serviço de Portugal. Vão de seguida dar uma volta pela Guiné-Bissau profunda, passando por, entre outras tabancas, Tite, Nova Sintra e Fulacunda.

No dia vinte e três, vão participar na festa de inauguração do campo de Futebol de Empada -Francisco Allen, com a presença da Inês Allen, a grande impulsionadora e financiadora do projeto da sua construção.

Nessa data será também inaugurada a descascadora de arroz, um projeto inovador que permite libertar as mulheres e sobretudo 
as crianças da tarefa do descasque manual no famoso pilão, 
o que permite libertar tempo às jovens para se dedicarem à sua valorização escolar. 

Zé Teixeira

2.  As fotos que publicamos, retiradas com a devia vénia da página do Facebook da Inês Allen e da dos Metralhas de Empada FC,  falam por si. (***)

Foram editadas por nós. A Inês herdou o amor pela Guiné, por via do pai e da mãe, dois dos primeiros "tugas" a irem à Guiné-Bissau em turismo de saudade (primeiro em 1992, depois, 1994, 1996 e 1998, e por aí fora). Ambos são dois históricos do nosso blogue. Infelizmente já faleceram. Mas a sua memória,  e em especial a do "metralha" Xico Allen, foi devidamemnte homenageada pelos homens, mulheres e crianças de Empada e as suas equipas de futebol (incluindo a equipa feminina), no passado dia 23 de matço.

 É espantoso como o futebol pode também gerar cadeias de solidariedade, emoção e amizade. Bem hajas, Inês. Os teus pais bem se podem orgulhar de ti, lá na estrelinha do céu donde irradiam amor,  sabedoria e inspiração.

____________


(**) Vd. poste de 30 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)

(***) Último poste da série > 10 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25501: Facebook..ando (54): as lindas e gentis mulheres Tandas, de Imberém, Cantanhez: foto da semana de 20 de junho de 2011, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Guiné 61/75 - P25412: 20.º aniversário do nosso blogue: (5): Vinte anos a construir memórias (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 2381 - Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)



VINTE ANOS A CONSTRUIR MEMÓRIAS

por Zé Teixeira


Q
uando libertos da pressão da guerra que tínhamos sido forçados a praticar e sentir na pele, na Guiné… que nos mantinha em silêncio. Doentio silêncio que nos abafava o espírito e que a pouco e pouco se foi curando…

Quando libertos da pressão que a liberdade trazida pelo 25 de abril, nos empurrava para um outro tipo de silêncio, porque segundo os mais extremistas, (alguns deles vindos do exterior, onde se refugiaram para evitarem a mobilização), nós, os combatentes, tínhamos sido lacaios do Estado Novo, do fascismo, e até de assassinos fomos apelidados…

Pois! Quando estas pressões se foram dissipando, começou a bailar dentro da nossa cabeça um vazio. E agora?!...

Eu sentia uma nova pressão. Precisava de falar dos acontecimentos, que o Estado Velho me tinha forçado a viver: das dores, das lágrimas, do sangue que vi derramar, dos camaradas que ficaram estropiados do físico e do espírito, dos camaradas que vi partir ingloriamente, na flor da juventude, sem lhes poder valer, dos “caguefes” que senti tantas vezes, os quais desapareciam, como por encanto, quando as balas começavam a assobiar por cima das nossas cabeças, ou quando os estilhaços das granadas se espetavam na terra à nossa frente, ou “cantavam” ao traçar a ramagem das árvores, atrás das quais nos protegíamos, em que o pensamento dava uma volta sobre si mesmo e nos punha a pensar – como sair daqui? Desapareciam os “caguefes” e começava a luta pela sobrevivência.

Precisava de fazer uma limpeza à caixa dos pirolitos, de fazer a catarse, como está cientificamente comprovado e é moda dizer-se.

Por onde começar? Com quem falar? Ninguém me queria ouvir. Apenas os meus filhos queriam que lhes contasse, à laia de aventura, o que tinha feito na guerra, como agora, os meus netos – conta Avô a história daquela menina que andava sempre ao teu colinho, ao debruçarem-se sobre as fotografias a preto e branco queimadas pelo tempo, perdidas num álbum carregado com o pó da história.

Pois?! E agora?

O Luís Graça, em boa hora, e já lá vão vinte anos, resolveu tirar o “tapa chamas” do computador e começou a disparar em todas as direções que a Internet lhe permitia, não com balas assassinas, mas com o seu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, mais propriamente o pomposo Blogueforanadaevaotres, falando de si, das suas vivências na guerra que não quis fazer, mas foi obrigado. Sim. Naquele tempo, ou se ia para a guerra, ou se escapulia a salto para França, confundindo-se ainda hoje o medo, com a dignidade da objeção de consciência, que poucos sabiam o que era e como se podia obter.
O nosso editor Luís Graça, sempre por detrás de uma máquina fotográfica, a sua imagem de marca

Então fugia-se, e, se fosse apanhado pela PIDE ou pela Guardia espanhola era devolvido à procedência e ganhava o direito de embarcar para a guerra, logo de seguida, antes que desse novamente corda às sapatilhas. Assim aconteceu com o meu amigo Fernando que foi “convidado” para ir passar umas férias a Gadamael em 1973 e andou desenfiado na bolanha, aquando do cerco ao quartel. Salvou-o o comandante da Corveta que andava por perto e à revelia das ordens emanadas de Bissau, recolheu umas centenas de jovens militares e civis que, para fugirem da morte que espreitava por todos os cantos de Gadamael, se refugiaram na perigosa bolanha, que rodeava o aquartelamento, ganhando um stress pós-traumático de guerra, que lhe destruiu o futuro.

Para espanto do Luís Graça, não tenho dúvidas, começaram a surgir de todos os cantos, companheiros da jornada que se prolongou por cerca de treze anos, sem armas, sem medos, mas com vontade de conversar, de partilhar as suas “guerras”, de contar as suas dores e suas angústias, as suas alegrias e tainas, o seu estado de alma, talvez o seu desespero. À data éramos um mundo de gente. Hoje, muitos já partiram, contrariados, para o aquartelamento eterno. Nós, os resistentes vamos aguentando a parada no BlogueForandaevãotrês, mais conhecido pelo blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, que surgiu na sequência do primeiro Blogue, que se esgotou no espaço.

Tudo começou em 23 de abril de 2004, quando o inspirado Luís Graça se lançou à aventura.


V. N. Gaia > Madalena > 26 de Dezembro de 2005 >  Na casa da irmã e do cunhado da Alice Carneiro, a Nita (1947-2023) e o Gusto > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné... > Da esquerda para direita: o nosso editor LG (cunhado dos donos da casa),  o A. Marques Lopes, o Zé  Teixeira, o Albano Costa e o seu filho Hugo Costa, e ainda o saudoso Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada, ou Xico Allen, 1950-2022).

Quem diria que estava aqui um dos embriões da Tabanca Pequena de Matosinhos (pequena só de nome), que iria surgir três anos depois, em 19 de Novembro de 2008. O A. Marques Lopes e o José Teixeira são dois dos "régulos" iniciais: os outros se seguiram, o Álvaro Basto e o Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017), o João Rebola (1945-2018), e agora o Eduardo Moutinho Santos, entre outros (corre-se sempre o risco de cometer a injustiça da omissão)

Foto (e legenda): © Hugo Costa / Albano Costa  (2005).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Logo sentiu uma “chuveirada”, não de estilhaços, mas de postes com testemunhos vivos, concretos, “disparados” por camaradas que à data não conhecia, como eu, por exemplo, que quando o descobri (fins de 2005) logo comecei a mandar bojardas e ainda vou dando uns “tiritos” de vez em quando, como este, que apenas pretende dar-lhe os parabéns pela iniciativa e agradecer-lhe, a ele, e a tantos camaradas a quem hoje me sinto ligado e preso por uma amizade solidificada neste “estar e sentir” de uma guerra em que participamos sem querer.

Obrigado, Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, por ser o meu intermediário na relação com tantos camaradas, muitos dos quais nunca tive a oportunidade de dar o meu abraço, mas a quem me sinto ligado por laços de profunda afetividade. Para todos vós, um abraço do tamanho do Geba.

Obrigado, mais uma vez, Luís Graça e Alice pela profunda amizade, meu mano querido, que nos une e que nasceu naquela véspera de Natal, na Madalena em 2005.

O meu profundo agradecimento, também, ao Carlos Vinhal, em especial, por me ter aturado tantas vezes, e a todos os co-editores que têm dado forma a este nosso grito de paz.

Agora, somos cada vez menos e estamos mais velhos. Muitos de nós já “esgotaram” as munições, ou perderam a vontade e a força de continuarem a escrever, mas continuam, pela calada, a visitar todos os dias o “nosso” Blogue, e de vez em quando, lá sai mais um comentário, ou num rebuscar de memória, mais um acontecimento que estava escondido num escaninho da massa cinzenta. Não desistam, por favor, porque se não formos nós a contruir a nossa história, outro virão, e a nossa verdade histórica corre o risco de ser deturpada.

Aos que deixaram a vida na Guiné e aos que já partiram ao encontro do Além, o meu profundo sentimento de que estejam, onde estiverem, se sintam em paz. Na certeza de que todos nós nos encontraremos por lá um dia.

Aos camaradas que, como eu, continuam a luta pela vida, que se sintam com a saúde possível e não desistam de viver.

Um Grande abraço do
Zé Teixeira

____________

Nota do editor

Último post da série de 6 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/75 - P25348: 20.º aniversário do nosso blogue (4): Alguns dos nossos melhores postes de sempre (IV): Um roteiro poético-sentimental para um regresso àquela terra verde-rubra (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)

terça-feira, 19 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25289: Ser solidário (266): Deslocação à Guiné-Bissau de um grupo de antigos combatentes acompanhando a Inês Allen, para assistirem à inauguração do Campo de Futebol Francisco Allen, de Empada. Nas malas coisas de primeira necessidade para entregar em diversas tabancas (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 17 de Março de 2024 com a notícia da ida à Guiné-Bissau de um grupo de antigos combatentes mais a Inês Allen, para assistirem à inauguração  do Campo de Futebol Francisco Allen em Empada:

Meus caros amigos: 

A Inês Allen partiu para a Guiné-Bissau com o objetivo de inaugurar o campo de Futebol dos Metralhas de Empada. Junto um pequeno texto, que gostava de ver publicado no nosso blogue.

Um forte abraço de amizade.
Jose Teixeira



A Inês Allen dá cumprimento à vontade do Pai – O saudoso Xico Allen

Um grupo de 19 pessoas, entre os quais, doze ex-combatentes, na sua maioria companheiros do Xico Allen dos tempos da guerra colonial, acompanham a Inês Allen, nesta sua viagem à Guiné-Bissau, mais propriamente a Empada, para participarem na inauguração do campo de futebol Francisco Allen.

Tudo começou em 2005, quando o Xico Allen descobriu que a placa em cimento com o totem da sua Companhia militar servia de tapete de entrada, numa casa de um importante cidadão local. Revoltado com o que viu, pegou na pesada pedra e trouxe-a para Portugal.

Na sua última visita àquela tabanca, onde esteve cerca de dois anos, ente 1972 e 1974, apercebeu-se de que o clube de futebol local, adotara o nome da sua Companhia operacional – Os Metralhas de Empada, e decidiu devolver a placa com o símbolo da Companhia, ao Clube de Futebol.

Infelizmente a morte montou-lhe uma emboscada antes de ele conseguir voltar a Empada, mas a sua filha Inês tomou a peito a sua decisão, cumpriu a promessa do pai, e foi, no ano passado, a Empada levar o símbolo.

Foi recebida em festa, tal como o pai era recebido. Ele era um filho da terra, muito querido.

Não havia campo de futebol, apenas um espaço de terreno, onde se jogava a bola. A Inês, generosa e ativa, avançou com um projeto de angariação de fundos e o campo de futebol, o sonho dos jovens de Empada, ganhou forma. Hoje, é uma realidade, graças ao empenho solidário da Inês, do Ricardo Abreu, do Silvério Lobo, dos Metralhas e de outros camaradas que se uniram e deram forma ao sonho, tornando-o realidade.

O campo de futebol Francisco Allen vai ser inaugurado no próximo dia 23 de março com a presença da Inês Allen e dos amigos que já se encontram na Guiné-Bissau.

O Ricardo Abreu, grande amigo do Xico Allen e companheiro de várias viagens à Guiné-Bissau, nunca vai só. Procura levar na bagagem coisas de primeira necessidade para o povo guineense, nomeadamente medicamentos. Desta vez, levam cerca de 250 quilos em doações de farmácias, nomeadamente comida para bebé, biberões, seringas que vai deixar pelas tabancas por onde vão passar.

Partiram no sábado passado e logo à chegada fizeram uma romagem ao cemitério de Bissau, onde estão sepultados muitos soldados que tombaram ao serviço de Portugal. Vão de seguida dar uma volta pela Guiné-Bissau profunda, passando por, entre outras tabancas, Tite, Nova Sintra e Fulacunda.

No dia vinte e três, vão participar na festa de inauguração do campo de Futebol de Empada -Francisco Allen, com a presença da Inês Allen, a grande impulsionadora e financiadora do projeto da sua construção.

Nessa data será também inaugurada a descascadora de arroz, um projeto inovador que permite libertar as mulheres e sobretudo as crianças da tarefa do descasque manual no famoso pilão, o que permite libertar tempo às jovens para se dedicarem à sua valorização escolar.

Juntamos algumas fotografias da partida.

____________

Nota do editor

Último post da série de 14 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25271: Ser solidário (265): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (Renato Brito)

domingo, 10 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24938: Estórias do Zé Teixeira (61): Crónica de uma tarde, em sábado de Festas Natalícias (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2023:

Olá Carlos e Luís
Espero que este sábado esteja a correr bem - é Natal.
Junto uma crónica do que me aconteceu hoje ao sair da Tabanca de Matosinhos depois do nosso almoço de Natal.
Se entenderdes que merece ser publicada, estai à vontade.

Aproveito para dar a infausta notícia da morte da Zélia Neno, a ex-esposa do falecido Xico Allen.

Um Grande abraço e continuação de bom fim de semana.

José Teixeira


Crónica de uma tarde, em sábado de Festas Natalícias

Não sei se a culpa foi do “pisca” que se recusou a acender, se foi do automóvel que usualmente por defeito, costuma não trazer “piscas” ou… talvez os seus condutores não se lembrem que os “piscas” são para usar sempre que necessário. Talvez tenha sido o homem que orgulhosamente, pensou que os “piscas” são para os outros usarem… Talvez não tenha acontecido nada disto.

O certo é que, deparei com dois carros parados, com os piscas apagados, atravessados na autoestrada, ao sair da cidade e dois homens engalfinhados na relva húmida da berma. Uma outra viatura, tinha parado. Vi dois/três homens a aproximarem-se e parei. Saltei da viatura e juntei-me ao grupo, com os meus respeitáveis setenta e tantos anos, e conseguimos afastá-los.

As línguas soltaram-se e espalhavam brasas por todo o lado:
- Seu filho deste… olha o pisca… (e mais uma tentativa de aproximação).
- O pisca, o carvalho, seu fils de…

Ora agora, insultas tu, ora agora, insulto eu, num vai e vem de palavras, que não constam no dicionário por serem ocas e vazias de sentido, mas que ferem e incendeiam o ego… e matam… se matam!

- Olha que eu, …seu (ver no dicionário) – e mais uma tentativa de chegar a roupa ao pelo do outro… mais uma corridinha… mais uma barreira. – O pisca está lá é para se usar! Seu…

Logo de seguida trava-se uma investida do outro, que está muito nervoso. Leva tudo à frente, mas… é melhor parar e dar mais duas de língua.
Qual deles está com mais medo? Não sei. Estranhamente, eu sinto-me sereno, como quando estava na Guiné, depois de apanhar com as primeiras, que me atiravam para o chão.

- Calma! Calma! Vamos ficar por aqui! Não estrague a sua vida… entre para o carro… vá, vá-se embora... despreze quem não respeita a Lei.

…E havia no meio de tudo isto havia um “pisca” de um dos carros que não tinha acendido na devida altura. Pelo andar da contenda, creio que o proprietário continuava sem saber que o “pisca” estava lá nos comandos da viatura para ele utilizar.

No meio de tudo isto, havia dois carros parados no meio da estrada, sem se tocarem, a olhar espantados para tudo isto, a apreciarem este espetáculo.
E o raio dos “piscas” continuavam apagados.

O mais gratificante para mim, foi sentir a gratidão de um dos contendores, que ajudei a acalmar. Ao partir, já mais sereno, olhou-me nos olhos e disse: OBRIGADO.

Entrei no meu carro. Dei dois murros no volante e deixei-me invadir pela comoção.

9 de dezembro, depois de um almoço de Feliz Natal na Tabanca de Matosinhos.
José Teixeira

____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23602: Estórias do Zé Teixeira (60): O Senhor Augusto - Parte III (Conclusão) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

Guiné 61/74 - P24937: In Memoriam (488): Zélia Neno (1953-2023), que foi casada com o Xico Allen (1950-2022) e mãe da Inês Allen... Velório a partir das 11h00 de hoje na Igreja de São Martinho de Lordelo do Ouro (Porto) e funeral amanhã às 14h30


Zélia Neno (1953- 2023). Foto: cortesia da página do Facebook de Inês Allen.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Ingoré > 1998 > Uma foto que correu mundo... ou que , pelo menos, já deu a volta à Tabanca Grande... A legenda é do Albano (Costa): “Esta foto vale pela imagem, e os brancos em África converteram-se? Não é que ficaram a ver a Zélia a puxar o burro, mulher de armas!"... O Albano fez questão de me mandar esta e outras fotos da viagem do Xico e da Zélia, em 1998, com o seguinte recado: "... para ilustrares o que entenderes, com a devida autorização da Zélia" (sic).

Foto: © Francisco Allen / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 


1. Por email de ontem,  às 19:40, do Zé Teixeira tivemos triste notícia do falecimento da nossa amiga Zélia Neno, a primeira mulher a integrar a nossa Tabanca Grande (em 19 de fevereiro de 2006; tem 14 referências no nosso blogue).

De seu nome completo, Zélia Neno Maria Cardoso, tinha sido casada com o Xico Allen (1950-2022) e era mãe também da nossa tabanqueira Inês Allen.

A Zélia estava internada no Centro Social Arcanjo Gabriel - ATRPT (Associação de Trabalhadores e Reformados da Portugal Telecom), onde os filhos ( a Inês e o irmão, que não conhecemos) a visitavam com frequência, em Vila Nova de Gaia,

A Inês deixou ontem, às 17:12, a seguinte mensagem na sua página pessoal e na página do Facebook da mãe:

Que grande exemplo de ser humano tu foste…
Para mim, e para quem se cruzou contigo na vida! 
Missão cumprida minha guerreira! Pra onde quer que vás…
Vai com tudo, e contagia-os com o teu lindo sorriso. 

Estará na Igreja de São Martinho de Lordelo (Lordelo do Ouro, Porto);
Entrada amanhã às 11:00;
Funeral : 2ª feira, às 14:30 (segue para o crematório  de Paranhos, Porto)
Missa do 7.º dia:  sábado, dia 16, às 18:30


2. Conhecia-a pessoalmente na Madalena, V. N. Gaia, em 2006, mas antes ele mandara-me o seguinte mail com data de 16/2/2006:

(...) Achará estranho receber este email enviado por uma mulher fã do Blogue-Fora-Nada, onde se encontram largas centenas de quilómetros de palavras sobre a Guiné.

(...) O senhor não me conhece, o mesmo não acontece comigo, pois não só através da escrita como por foto. Sou casada com o Xico Allen, que o senhor conhece mas ainda não é tertuliano, mas foi ele que há meses me alertou para a existência deste blogue e, como sou uma verdadeira amante da Guiné e da sua História, passada, presente e futura, que lamentavelmente teima em não vir a ser bem mais favorável para aquele seu povo tão sofredor, estou quase viciada a diariamente ler o que vão contando no blogue.

Por influência do Sr. Albano [Costa] e até do Sr. [José] Teixeira, que conheço pessoalmente pois ambos já foram à Guiné com o meu marido, fui incentivada a escrever contando algumas (pois são muitas) das minhas vivências naquela maravilhosa terra que conheci em março de 92, conforme conto no texto inicial e que enviei para o senhor no passado dia 15 Janeiro [por erro no endereço de -mail, não deve ter chegado, pelo que se volta a enviar]." (...)

Respondi-lhe nestes termos, em 19/2/2006, data em que passou a integrar a nossa Tabanca Grande, na altura conhecida apenas como tertúlia. Publicámos alguns postes dela ou com referência a ela, em 2006 (*):

(...) "A Zélia, de quem eu já tinha ouvido falar, no último Natal, na nossa minitertúlia do Porto-Matosinhos-Gaia, é o que se pode chamar, com toda a justiça, uma mulher de armas, uma mulher do Norte, uma caso sério de amor e de paixão (pelo seu Allen mas também pela Guiné e o seu povo)... Foi, por mor (como se diz no Norte) da guerra e do stresse pós-traumático da guerra, que ela acompanhou o marido à Guiné, em 1992, e já lá voltou várias vezes...

Fico muito honrado por publicar esta carta e, por desde já, convidá-la sem mais demoras a figurar no quadro de honra da nossa tertúlia (a ela e ao Allen, pois claro!). A Zélia (trato-o como se a conhecesse há anos!...) mandou-me mais documentos que serão inseridos no blogue ainda este fim de semana." (...)

À Inês Allen, ao seu irmão e demais família apresento as minhas condolências pessoais, a que se associam por certos os demais editores, colabiradores e restantes membros da Tabanca Grande.
____________

Notas do editor:

Vd. último poste da série de 22 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24783: In Memoriam (487): António Eduardo Jerónimo Ferreira, (15/05/1950 - 21/10/2023), ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 / BART 3873 (Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)

(*) Vd. postes de:


19 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P546: Zélia, um caso de amor e de paixão (II)