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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

 


Capa do mais recente livro do nosso camarada Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros)

Dedicatória ao nosso editor Luís Graça e esposa Maria Alice Carneiro: 

"Ao meu querido grande amigo Luís Graça e sua esposa, com muita estima e consideração e os melhores votos. Vila Franca do Campo, 27 de outubro 2024. Arsénio Chaves Puim".


Sinopse > A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores


«Com o livro '
A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

"O livro 'A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante 'Glossário Baleeiro', de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)".


José de Andrade Melo (autor do prefácio, op cit, 
pp. 17-20).

Sobre o autor: Arsénio Chaves Puim

(i) Nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, no lugar da Calheta,, freguesia de Santo Espírito, onde se situa o porto baleeiro do Castelo;

(ii) Fez os estudos primários na sua freguesia natal e completou, no Seminário de Angra do Heroísmo, o Curso de Teologia, tendo exercido o ministério sacerdotal até 1976;

(ii) No mesmo ano, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada e exerceu esta profissão até 1995;

(iv) Em Santa Maria, foi também professor de Português e História no Externato, exerceu os cargos de Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, e foi co-fundador do Museu Etnográfico de Santa Maria e do jornal “O Baluarte de Santa Maria”, do qual foi o primeiro diretor;

(v) Vive desde 1982 em Vila Franca do Campo, onde desenvolveu uma ampla participação cívica, designadamente como membro de diversos órgãos autárquicos, Mesário da Santa Casa e, ainda, como redactor principal do jornal “A Crença”;

(vi) Arsénio Puim publicou, desde 2001, quatro livros no domínio da história e etnografia açorianas, particularmente da ilha de Santa Maria;

(vii) Em 2009, foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal, atribuída pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.

Fonte: Letras Lavadas Ediçóes, Ponta Delgada

... (vii) "last but not the least", foi nosso camarada no TO da Guiné, como alf mil graduado capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); é membro da nossa Tabanca Grande, autor da série "Memórias de um alferes capelão"; tem 76 referências no nosso blogue.

1. Quando um autor escreve isto:

(...) "Nasci, criei-me e vivi num meio baleeiro. Assisti às arriadas e às varadas dos botes, vi muitas baleias e o seu processamemnto, quer de cardume quer bules (...) grados (um deles tinha o excecional comprimento de 21,80 metros), comi pão frito no azeite a ferver dos caldeiros, fui alumiado, em criança, pela luz do óleo de baleia, convivi dia a dia com baleeiros e aprendi a linguagem e cultura baleeiras desde os primeiros anos de vida" (...)

... Um leitor como eu fica logo rendido (e comovido), lendo o resto do livro de um fôlego (160 pp., ilustradas com 29 figuras, 6 mapas e 6 quadros, incluindo mais de 60 referências bibliográficas, 180 notas de rodapé, e mais de 4 dezenas de termos do "glossário baleeiro açoriano".

De repente, descobres que estamos a falar de um experiência humana do passado, única, irrepetível, fortemenete ligada à identidade e à sobrevivência de um punhado de homens e suas famílias, numa ilha (e num arquipélago) perdida no Atlàntico.... 

Felizmente que hoje já não se caçam cachalotes e outras espécies de baleias em águas territoriais portuguesas,  mas tu não podes ficar indiferente à saga baleeira nem à gesta dos nossos pescadores do bacalhau, e dos demais homens ( e mulheres) do mar. De resto, tens uma costela de toda essa brava gente que de há séculos afronta mas respeita o mar e todos os seres que nele habitam.

Arsénio, não é apenas por cortesia e por camaradagem que estou a fazer esta e outras notas de leitura do teu livro.  Obrigados, eu e a Alice,  pelo teu livro com dedicatória. Foi uma bela prenda de Natal. Vamos falando.

(Continua)

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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25960: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (14): Da Maia para Vila Franca do Campo (São Miguel, Açores), do Abílio Machado para o Arsénio Chaves Puim, falando "de baleias e outros mamíferos, .... e da amizade que é uma coisa sublime"



Título: A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores
Autor: Arsémio Chaves Puim
Editora: Letras Lavadas, Ponta Delgada, São Miguel, RA Açores
Ano: 2024
Nº de pp. : 160 
Preço de capa: 18,00 €

Sinopse: A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores

«Com o livro “A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria”, o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

O livro “A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria”, para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante “Glossário Baleeiro”, de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)».

José de Andrade Melo


 
Abílio Machado , o nosso querido "Bilocas" de Bambadinca, grande amigo dos velhinhos da CCAÇ 12, o Luís Graça, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Gabriel Gonçalves, entre outros; ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e foi também um dos fundadores do grupo musical "Toque de Caixa"; vive na Maia; é natural de Guardizela, Guimarães, tem uma forte ligação a Riba d'Ave; é autor, entre outros títulos, do "Diário dos Caminhos de Santiago" (Porto, 2013).


1. Mensagem de Abilio Machado, dirigida ao Arsénio Puim, ex-alf mil graduado capelão, CCS/ BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

Arsénio Puim, Vila Franca
do Campo (2023), São Miguel,
Açores

Assunto - Das baleias e outros mamíferos...

Data - quarta, 18/09/2024 , 18:30

Caro(íssimo) amigo Puim:

Vai esta com conhecimento - reconhecido - ao Luis Graça, pois foi ele que me deu conhecimento do lançamento do teu novo livro sobre a pesca à baleia na tua ilha querida de Santa Maria - um estranho às ínsulas açoreanas diria caça, dada a espécie e o avantajado do pescado. 

Mas como podemos nós, pobres pescadores de sardinha e atum e respigadores de cereais, meter foice em seara alheia? A foice é bem mais fácil de manejar que um arpão de uns bons quilos, que - imagino eu - exigirá, além de precisa pontaria, um poder de braço e pulso de que nem Teseu se ufanaria. 

Na verdade, só heróis mitológicos se alçariam a tais cometimentos, pensávamos nós, se desconhecêssemos que nas ilhas de bruma homens comuns se lançavam, ao sopro do búzio, em frágeis embarcações no encalço de seres mastodônticos que nem Deus saberá como criou. Não perseguiam nenhuma Moby Dyck, mas tão só o sustento diário para famintas bocas que em terra, mãe e filhos, rezavam para que a baleia cansasse e não arrastasse o pai - os pais todos - para os longes sem fim do oceano.

A amizade é uma coisa sublime, como sublimes são todas as coisas, como o amor, que mesmo não presenciais, têm a eficácia dos actos diários e rotineiros.

Ninguém nos arranca do peito nem deslaça o nó que sentimos quando, mesmo longe, pensamos nos amigos que a vida nos ofertou - porque é um ofertório e não destino o cruzarmos a nossa com outras almas que, diversas ou iguais, se engraçaram entre si. E foram muitas, para meu deleite, as que comigo se enlaçaram.

Como dizia o Luis, parabéns, parabéns, parabéns!!!, por mais uma obra que só do amor entranhado pela tua terra nasceria.

Grande, grande abraço para ti, esposa e filhos.
Do coração,
Abilio Machado

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25959: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (13):  no rio Corubal, na travessia para o  Cheche (e Madina do Boé), que agora tem jangada nova... (Cherno Baldé / Valdemar Queiroz "Embaló")

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24233: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (35): O novo porto de pesca do Alto Bandim: abundância de peixe mas mais caro (4,5 € / 3 mil CFA o kg)... metade segue para Dacar e a Europa


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bissau > O novo porto de pesca do Alto Bandim  > Vista geral das instalações portuárias. Vê-se ao fundo a mãe de água do Alto Crim, que já vem do tempo da Bissau colonial (, tendo sido contruída em 1947)... 


Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Bissau > O novo porto de pesca do Alto Bandim: as canoas nhomincas, em primeiro plano


Foto nº 2A >  Guiné-Bissau > Bissau > O novo porto de pesca do Alto Bandim: a venda do peixe na lota (cujo novo edifício ainda não funciona)


Foto nº 2 Guiné-Bissau > Bissau > O novo porto de pesca do Alto Bandim: as "videiras" ou peixeiras, em segundo plano

Guiné-Bissau > Bissau > Porto de pesca do Alto Bandim > 15 de abril de 2023 > 08:31 (Foto nº 1)  e 08:44 (Foto nº 2)

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné





1. Mensagem do Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue: autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau" (*):

Data - 17/04/2023, 12:12 
Assunto- Bom dia desde Bissau

Luís,

Envio umas fotos do novo porto de pesca, do Alto Bandim,  em Bissau, tiradas às 8.30h do dia 15 do corrente.

As obras do porto quase estão terminadas, a nova lota ainda não funciona, o prédio da fiscalização marítima também está pronto, mas não está a funcionar.

Neste local fui comprar peixe que estava a sair das canoas, onde centenas de pessoas estavam a fazer o mesmo.

Havia dezenas de canoas Nhomincas com pescadores a descarregar peixe, terão sido algumas toneladas pescadas nos últimos 3 dias. O gelo em escama para conservar o peixe não dura mais tempo.

Todos os dias chegam canoas a Bissau para descarregar o pescado e levar gelo e gasolina para uma nova pescaria.

Mesmo com esta abundância de peixe de todos os tipos, o preço do mesmo está mais caro.

Dentro do porto estão uma dezena de camiões frigoríficos à espera, que depois de carregados com peixe seguem para o Senegal para abastecer Dacar, muito será exportado para a Europa como se fosse pescado no Senegal.

As águas do Senegal já há muitos anos que não têm peixe. (Falo da minha experiência por lá andar a fazer caça submarina.)

A Guiné-Bissau ainda não consegue exportar o peixe fresco por não ter a certificação, o novo laboratório ainda não o consegue fazer.

Mas existe outro problema que é o transporte, os dez aviões semanais de Bissau/Lisboa, em que quatro são diretos, também não tem espaço para o transportar porque vão cheios de passageiros com as suas bagagens. (Ao fim 10 dias o pescado ainda é vendido na Europa como fresco.)

Resumindo: o peixe que é base da alimentação do povo guineense, está mais caro (4,5 euros /Kg,  de 1ª qualidade) (#) porque mais de metade do que é pescado entre as ilhas dos Bijagós vai para Dacar.

Nota final; por este motivo é que os que peixes que apanhava na praia de Varela,  já não os encontros, a minha comida agora é bagre ou latas de atum.

Abraço, Patricio Ribeiro

impar_bissau@hotmail.com

(#) igual a 3020,13 CFA (LG)





Planta da cidade de Bissau já no pós-independência (c. 1975/76). Localização dos bairros populares Bandim, Alto Crim e Pilão. Cortesia de A. Marques Lopes (2005).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)
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sábado, 20 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23540: Memória dos lugares (442): Rio Cacine, Cafal, Cananima, ontem e hoje

 

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine, em frente a a vila de Cacine. (*)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine,  Canoas.(*)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine, Construção de canoas. (*)

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio > Rio Cacine, perto do cais de Cacine: Tarrafo...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Era domingo, para nós, participantes (a maior parte estrangeiros...) do Simpósio Internacional de Guiledje, de visita ao sul do país... mas não para o pescador, que precisa de remendar as redes e ir à pesca..


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A simpatiquíssima Cadidjatu Candé (infelizmemte já falecida, segundo informação do Zé Teixeira), da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrou a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha..


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Depois de um belíssimo almoço em praia fluvial e porto piscatório de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, houve um grupo de cerca de 30 valentões (e valentonas) que se meteram numa canoa senegalesa, motorizada, de um pescador local, e aproveitaram a tarde para visitar a mítica Cacine.  Sem coletes salva-vidas!... A distância entre as as duas margens ainda é grande... A canoa a motor, carregada de pessoal, terá levado meia hora a fazer a travessia...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > O nosso amigo, o saudoso  Leopoldo Amado (1960-2021) , historiador, um dos organizadores do Simpós
o e conferencista, veio encontrar aqui um antigo condiscípulo de liceu, hoje administrador de Cacine (sector de Quitafine).


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Está na hora do regresso a Cananima... O pessoal deixa Cacine, já ao fim da tarde, de sapatos na mão, para tomar o seu lugar na canoa... Em primeiro plano, a Maria Alice Carneiro e o antigo embaixador cubano, na Guiné-Conacri, Oscar Oramas (estava lá, quando foi assassinado, em 1973, o fundador e dirigente histórico do PAIGC)..

Fotos  (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima >  9 de Dezembro de 2009 > c. 18h >  Pescador e canoa da aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, frente a Cacine. (**)

Foto  (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tomvali > Rio Cacine > Praia de Cafal, na margem direita do rio > 2022 > De costas, em primeiro plano, o padre Carlos, dos missionários  Oblatos da Maria Imaculada, que chegaram aqui há 10 anos, acrescentando  Cacine às duas missões ja existentes, a de Antula, Bissau, e a de Farim. Em Cacine têm duas escolas, uma em Cafal e outra em Quitafine  (que tem 270 alunos). O padre Costa conversa com os mototaxistas, que são o único transporte motorizado que aqui existe (para além das canoas)...


Guiné-Bissau > Região de Tomvali > Rio Cacine > Praia de Cafal, na margem direita do rio > 2022 > Um dos mototaxistas com uma T-shirt "made in China"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2022 > Uma loja de roupa

Fotos (e legendas) de Andre Cuminatto (2022), "Além-Mar" (revista dos Missionários Combonianos), abril 2022, pp. 44-45 (com a devida vénia)


1. Estivemos aqui há 12 anos, andámos por aqui (e comemos, ao almoço o belíssimo peixe do rio Cacine, um fabuloso chabéu de peixe), por altura  de uma visita ao Cantanhez, em 2 de março de 2008, no âmbito do Simpósium Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008). E escrevemos (*):

(...) A região de Tombali, com pouco mais de 3700 km2 (o que representa cerca de 10,3% do território da Guiné) e pouco mais de 90 mil habitantes (7,1% do total) tem grandes potencialidades, devido ao seu património ambiental e cultural, ainda insuficientemente conhecido e valorizado pelos próprios guineenses. A jóia da coroa é o massiço florestal do Cantanhez e os dois rios principais que o atravessam, o Cumbijã e o Cacine. (...)

(...) Cananima é uma praia fluvial e um aldeia piscatória. Gente de vários pontos, desde os Bijagós até à Guiné-Conacri, vêm para aqui trabalhar na actividade piscatória. No entanto, é preciso saber gerir os recursos do rio e do mar com sabedoria... A sobre-exploração de certas espécies pode ser um desastre... Por outro lado, as infra-estrututuras de apoio à pesca são precárias ou inexistentes. (...)

(...) No estaleiro naval artesanal, de Cananima, também se constroem barcos, segundo os modelos tradicionais. A matéria-prima, a madeira, é abundante. Abate-se uma árvore centenária para fazer uma piroga. Felizmente, as pirogas não são feitas em série. E hoje há, também felizmente, restrições ao abate de árvores no Cantanhez. O problema são, muitas vezes, os projectos megalómanos e inconsistentes, que acabam por morrer na praia, como estas embarcações senegalesas que viemos aqui encontrar. (...)

(...) Em frente, do outro aldo do rio, fica Cacine, que tem muito que contar, aos nossos camaradas do exército e da marinha... Alguns deles ficaram por aqui, enterrados e abandonados... A guerra e as suas memórias estão por todo o lado, não nos largam. (...)

(...) A areia não é fina, as águas não são azuis, nem a paisagem é a mais bela do mundo, mas tudo depende dos olhos com que se olha, dos ouvidos com que se ouvem, das emoções com que se capta o instante, o efémero, o diferente (..).

(...) É preciso salvar o Cantanhez, dando uma chance às crianças de Tombali. Projectos como o ecoturismo, ou o turismo de natureza, podem vir a ser um factor dinamizador de mudanças, a nível local e regional. (...)

(..) A diversidade étnico-linguística e cultural da Guiné-Bissau, em geral, e do Tombai, em particular, não deve ser vista como uma obstáculo, mas sim como um factor potenciador da cidadania e do desenvolvimento... Os demónios étnicos não podem é dormir descansados na Caixinha de Pandora... Combatem-se com as armas da saúde, da educação, da democracia, da integração, do desenvolvimento económico, social e cultural... (...)


2. Há dias lemos na revista "Além-Mar" um interessante artigo, "Evangelho e promoção social na Guiné-Bissau: Cacine, Missão Escolar", edição de abril de 2022 (pp. 43-45)... Tomamos a liberdade de reproduzir aqui este excerto do viajante e jornalista italano, Andrea Cuminatto.

(...) Na orla, entre as vacas que lambem o sal deixado pela maré alta, há também, um grupo de pescadores. Um é da Serra Leoa, outro da Libéria e ainda outro do Gana. Vêm da vizinha Guiné: sairam de Conacri,  com dois barcos de pesca e foram vistos a pescar, surpreendidos sem autorização nas águas da Guiné-Bissau. Há doze dias que estão à espera no pequeno cais de cimento que o seu chefe envie o dinheiro para pagar a multa do resgaste e poder zarpar. 

Até para os pescadores locais não é fácil tirar algo destas águas. Desde que os Coreanos compraram os direitos de pesca, a maior parte da captura é congelada  e enviada para a Ásia. E assim as pirogas,  feitas de madeira muito leve de ' fromager', tão ágeis nestas águas plácidas, descansam na areia, carregando pouquíssimos peixes nas panelas de Cacine. Estamos satisfeitos com o arroz, pelo menos não falta" (...) 

A vila de Cacine tem hoje 2 mil habitantes. E já nada é como dantes... (***)
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21847: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (16): O regresso dos lagostins... à bolanha



Guiné > Zona Leste >  Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 > 1969  

Na tasca do Zé Maria, comendo lagostins do Rio Geba e bebendo umas "bazucas"  da esquerda para a direita, o alf mil cav José António G. Rodrigues (já falecido, há uns anos largos) e os fur mil Tony Levezinho e Humberto Reis, meus queridos amigos e membros desta Tabanca Grande. A "chapa" foi batida por mim, membro assíduo desta tertúlia gastronómica.

Os lagostins do rio Geba, apanhados em zona sujeita ao movimento das marés,  eram muito apreciados. Não tinham nada a ver com o lagostim-vermelho-da-Louisiana ("Procambarus clarkii"), nativo do sul dos EUA e no nordeste mexicano, o terrível predador que invadiu, em 1979,  os nossos rios, lagoas e demais zonas húmidas como os arrozais, transformando-se num grave problema ecológico.

O barqueiro do Enxalé, celebrizado por Spínola, apanhava estes magníficos lagostins do rio do Geba, em "zona vermelha", que depois o Zé Maria comprava e cozinhava e que a gente pagava a peso de ouro (50 pesos o quilo!)... O preço era justificado pelo risco... (50 pesos era o equivalente a dois dias de alimentação de um militar na Guiné, ou  a uma garrafa de uísque novo...).

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné Portuguesa > Bilhete postal > Pescadora (Papel). Edição: Agência-Geral do Ultramar. s/d. Enviado pelo nosso camarada Beja Santos. Digitalizado por L.G.

Foto (e legenda): © Beja Santos (2006). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais uma pequena história do
Carlos Barros:

(i) ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;

(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 2 dezenas de referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado.
 

 

O regresso dos lagostins... à bolanha

por Carlos Barros


O 3º grupo de combate do 2ª CART / BART 6520, com quartel em  Nova Sintra, esteve de serviço de segurança à estrada de Tite -Enxudé e, como habitualmente, os soldados foram transportados em viaturas Berliet, ocupando cada grupo de dois soldados as suas posições ao longo da estrada, ladeada por extensas bolanhas onde abundavam muitos lagostins e camarões, por sinal saborosos.

Num desses dia, um condutor ia buscar o almoço à cozinha de Tite, e na viagem deu boleia, o que era proibido, a uma jovem africana que andava na apanha desse marisco e já tinha um enorme cesto cheio de lagostins. 



Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite (1955) > Escala 1/50 mil

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


Aconteceu então algo de inesperado, que poderia ter trágicas consequências. O condutor, com a jovem ao lado, despistou-se com o Unimog e foi tombar na bolanha, tendo-se virado o cesto com os lagostins que rapidamente ficaram no seu “habitat” aquático…

O furriel soube do sucedido e,  depois de ouvir o condutor, reflectiu sobre a situação e “branqueou” o acidente, não chegando ao conhecimento do capitão, o que, a acontecer, teria consequências, com castigo grave para o soldado. Neste acidente, milagrosamente, não se registaram feridos e foi apenas um grande susto!






Foi um momento infeliz do condutor que pediu imensa desculpa pelo sucedido, assumindo plenamente a culpa e livrando-se de um processo que traria vários dissabores para o condutor (por sinal, não me recordo presentemente do seu nome…). Prometeu futuramente não transportar mais civis na sua viatura.

O Furriel Barros que se encontrava de serviço com este seu grupo, deu uma “ajudazinha ao condutor” porque a guerra propiciava estas aventuras, por vezes pouco reflectidas, e que eram fruto da irreverência da juventude.

Naturalmente, após estes longos anos afastado da guerra, pude descrever, em liberdade, esta história , com um cunho muito real...

O Barros só teve pena do lagostim que se perdeu nas águas da bolanha mas podem acreditar que, no fundo do cesto, ainda ficaram alguns que tiveram o destino que os leitores estão a pensar…


Tite 1972 Nova |  Sintra 1974. 

Revisto, Esposende 1 de fevereiro de 2021

Carlos M. de Lima Barros
Ex.fur mil Barros, 2ª C/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74)
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Nota do editor:

Último poste de 26 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21694: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (15): Os pobres pelicanos...

sábado, 13 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21072: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (14): Pequenos caprichos - II: Concurso Provincial de Angola

Pedras Negras de Pungo Andongo


1. Em mensagem do dia 3 de Junho de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, mais uma a relembrar os seus bons tempos vividos em Angola


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 13

PEQUENOS CAPRICHOS II

Concurso Provincial de Angola

Ainda saboreávamos a aventura do concurso de pesca de Santo António do Zaire, e já se falava na representação Cabindense a participar no Concurso Provincial, a realizar junto à Praia da Caotinha, entre Lobito e Benguela. E, modéstia à parte, apostava-se muito numa participação honrosa. Éramos 3: os irmãos Neves (Campeões de Badmington) e eu.

Fomos apetrechados do melhor que havia. Boas canas (e fortes), fio especial e chumbeiras de modelos estudados/alterados, fundidas nas Oficinas Gerais. E mandei fazer uma mala, tipo caixão, de madeira pau-santo, cheia com um bloco de esferovite, com espaço vazio adaptado para o encaixe da cana e seus apetrechos. Ah! E estreámos umas camisas alusivas ao povo Fiote de Cabinda.

Quando o motorista do Mercedes Presidencial nos levou ao aeroporto, teve o cuidado de me transmitir que o Senhor Presidente mandou dizer que todos os dias enviasse informações, via telex.

No aeroporto fomos elucidados de que o pesadíssimo caixão não era necessário e que nos garantiam os necessários cuidados com o manuseamento de todo o material desportivo.

De Luanda para sul, seguimos em autocarro especial, com grande número de participantes, fiscais e dirigentes. Lembro-me bem de ter visto aquelas enormes fazendas, bem trabalhadas e visíveis ao longo da estrada.

Também me lembro que seguimos um percurso por forma a visitarmos alguns pontos de maior interesse. É pena que a minha memória, hoje, não possa especificar melhor esses importantes locais. Uma coisa fixei bem: as Pedras Negras do Pungo Andongo. Belas, gigantes e misteriosas, elas são património paisagístico invulgar.

Pedras Negras de Pungo Andongo

Por aqui, na região de Pungo Andongo, é bem marcante a imagem da Rainha Ginga, a quem atribuem (erradamente) as suas pegadas nas rochas. Reinou com forte oposição aos portugueses, entre 1620 e 1680 (data da sua morte)

Uma imagem da Gabela

A Restinga do Lobito é deslumbrante

Voltei ao sul de Angola e aqui, em Benguela, cheguei a assistir a um filme neste anfiteatro ao ar livre

Nunca tinha assistido a um frenesim igual. Corria-se de um lado para o outro, numa excitação invulgar. Parecia que algo de transcendental estava para acontecer. Fomos assistir (de longe) ao sorteio, na reunião de delegados. Alguém pôs a questão de que não havia isco nem peixe para fazer engodos. Tanto no Lobito como em Benguela, haviam “esgotado/açambarcado/boicotado” todo o pescado. Alguém, do Lobito, teve pena de nós e deu-nos 2 sardinhas para os três pescadores.

Foi neste local que organizaram o concurso, talvez escolhido pela sua singela beleza e não pelas desejadas condições para a pescaria.

Quando chegámos ao local, nem queríamos acreditar. Tudo nos surpreendeu e tudo nos correu mal.

Íamos a pensar em pescar peixes grandes e ao fundo, mas logo notámos ser impossível. Via os concorrentes a pescar peixinhos pequeninos na margem e não acreditava. Pensei que com os meus lançamentos para longe, iria naturalmente apanhar algum peixe de jeito. Enganei-me redondamente. As águas eram baixas e cheias de rochas, onde sempre se prendiam as chumbeiras.
Quem assistia, até ria do nosso esforço.
Lá foram as chumbeiras e as sardinhas. Desistimos e fomos assistir à luta dos outros.

Precisamente no pesqueiro ao meu lado direito, reinava o vencedor. Comodamente sentado, trabalhava com uma cana comprida, com fio 0,16 e um pequeno anzol. Nem utilizava o carreto. Levantava a cana e um dos seus TRÊS colaboradores metia o berbigão no anzol. O pescador deixava-o cair entre o cardume em luta, devido ao constante bombardeio de engodo, lançado por outro colaborador. O peixe era recolhido pelo mesmo que metia o isco. O outro colaborador fazia a ligação com o pequeno camião, carregado de material. Havia mais 6 colaboradores que trabalhavam com os outros dois pescadores da mesma equipa. Em pequenos intervalos, um deles, preparava pormenorizadamente outra cana, para possível troca imediata.

Fomos assistindo, conversando e sempre em tons amistosos. Por volta das 11h15, o pescador, oriundo da região de Aveiro, resolveu entrar numa de camaradagem e ofereceu isco igual para eu poder também pescar. Lá me adaptei o melhor que pude, até porque seria difícil pescar sem lançamento e sem chumbo, porque o meu fio era 0,55 e não corria. Bem, o certo é que ajustei de tal forma o meu esquema que passou a dar bons resultados. Quando soou o apito final ao meio dia, eu tinha tirado 62 peixes. O vencedor, meu vizinho, que ganhou com 221, interpelou-me com um sorriso amarelo:

- Foda-se, se lhe tenho dado o isco mais cedo, você ganhava!

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Nota: - O homem, que demonstrou ser muito competitivo, já era idoso e apoiava-se fortemente nos colaboradores.

Ah! Mas ainda consegui ficar num “honroso” “cagagésimo” 6.º lugar.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21049: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (13): Pequenos caprichos - I: Concurso de Pesca na foz do rio Zaire

sábado, 6 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21049: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (13): Pequenos caprichos - I : Concurso de pesca na Foz do Rio Zaire

Ponta do Padrão S. Jorge na Foz do Rio Zaire


1. Em mensagem do dia 18 de Maio de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, a segunda relembrando os seus bons tempos vividos em Angola


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 12

PEQUENOS CAPRICHOS - I

Todos os caprichos são pagos. Uns mais que outros.
Uns valem bem o que custam e outros nem por isso.
No entanto, é através deles que nos ultrapassamos, nos satisfazemos ou nos vangloriamos. Por outro lado, os caprichos são valorados conforme as suas circunstâncias e as suas possibilidades.
Adiante, que também não tenho a pretensão de filosofar.

Concurso de pesca na Foz do Rio Zaire

Desde que cheguei a Cabinda, foquei logo a pesca como tempo de lazer. Sozinho ou acompanhado pela minha Mulher, acabei por me relacionar com outros que comungavam do mesmo prazer. O grupo foi-se alargando com a mobilização para convívios. Não levou muito tempo para organizarmos concursos.
O entusiasmo dos concursos de pesca acentuou-se e tornou-se notório, chegando a merecer transmissões em directo pela rádio. (Não havia televisão…)
De sucesso em sucesso e com a colaboração da Delegação da Direcção Geral dos Desportos, fomos experimentando as praias ao longo da costa Cabindense e, até, as lagoas no interior.

Um dia, querendo ir mais além:
- Porque não irmos a Santo António do Zaire, atravessar o rio e participar lá num concurso?

Partimos de madrugada, num rebocador da firma Montez & Newman, para fazermos aqueles 60 quilómetros de costa congolesa.

Os pescadores de Cabinda foram de rebocador a Santo António do Zaire, participar/colaborar num concurso

Tudo normal, até que nos apareceu aquela corrente monstruosa vinda da foz do Rio Zaire, com o maior caudal do Mundo. Indescritível, sentirmo-nos tão pequeninos naquela diminuta “casca de noz” de 35 metros, a subir e a descer aquelas montanhas de água em movimento. Quase toda a gente vomitava, mas eu não me distraía a olhar as águas. Sentadinho na borda e bem agarrado, olhava bem para longe, seguindo a experiência de anteriores navegações. Porém, o meu amigo Carlos Guerra veio ao meu encontro, cambaleando, mas bem agarrado, sentou-se na minha frente e, já esgotado de tanto sofrimento e a afagar a barriga, diz-me:
- Estou “fodidinho” de todo. Nunca me senti tão enjoado em toda a minha vida.
Aí “explodi e sulfatei” tudo o que havia à volta. Foi uma pena, porque já não faltava muito para chegarmos.

Havia uma equipa de repórteres da Rádio Clube de Cabinda que, perante a dúvida de conseguirem entrar em directo a partir de bordo, mas com a certeza do que iria acontecer, deixaram na sede uma gravação simulando o tal “directo”. E “em cima do acontecimento”, transmitiu: “ …neste momento, a viagem está a ser difícil para as mulheres, que estão todas enjoadas e em sofrimento. Por acaso nós, os homens, estamos a saborear bem este doce embalar…”.

Padrão de S. Jorge na Ponta Padrão da Foz do Rio Zaire, assinalando a chegada de Diogo Cão, no ano de 1482. A largura do Rio Zaire, na sua foz é tão grande que não se vislumbra a outra margem. Diogo Cão flectiu para o interior, convencido de ter atingido o ponto mais a sul de África (Cabo da Boa Esperança).

Os pescadores de Cabinda não faziam ideia do tamanho dos peixes que passam pela foz do Rio Zaire.
Colocadas as canas na praia, aguardámos a subida da maré e a consequente entrada dos peixes. E, quando isso aconteceu, foram vários os pescadores que ficaram sem fio e outros sem a cana. Nem dava para lutar com os peixes. Eles levavam tudo.
Valeu-me o facto de ter um fio grosso (especial 90), com tenso de aço. Eu estava bem seguro e com o alicate cortante à mão para não ficar sem cana. Sobravam poucos metros para além das ondas e da praia. E, por isso, não podia atirar para muito longe.
Os pescadores locais, foram tirando alguns peixes: corvinas, sapudos e raias. Tudo isso dava pouca pontuação. Todos se queixaram que fora um dia de pesca para esquecer.
Diziam: - Hoje não deu nada.
Fisguei um pargo e não o larguei mais. Era relativamente pequeno (14,2Kgs) mas tinha uma pontuação elevada. E foi por isso que venci o concurso.

No final, quando vínhamos pesar o peixe, já se sabia quem ia ganhar.
Oiço o repórter, no seu directo:
- Ganhou o do costume (eu já tinha ganho 2 concursos, na altura como atleta da Rádio Clube de Cabinda). Foi aquele atleta que nos trocou pelo Clube da Câmara Municipal. Mas isto não vai ficar assim, porque a RCC ainda não recebeu o dinheiro da transferência.

Primeiro triunfo na Pesca


Quando Campeão de Cabinda, fui felicitado pelo Governador Brigadeiro Themudo Barata.

Equipa da Câmara Municipal de Cabinda com o pargo de 14,2Kg que nos deu o 1.º lugar em Santo António do Zaire

No banquete organizado/oferecido pelo Governo Civil de Santo António do Zaire, recebemos os prémios e lindos discursos assinalando o evento inédito.
Já no regresso, noto algumas ausências. Entre elas, a dos repórteres da RCC.
Perguntei por eles e informaram-me: - Ficaram tão acagaçados que preferiram ficar cá até que haja avião para Cabinda.

(Continua)

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21024: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (12): Feliz em África - II (e sem filmes)

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21037: Manuscrito(s) (Luís Graça) (184): a magia do pôr do sol no Mar do Cerro, Porto das Barcas, Lourinhã, na casa "Atira-te ao Mar!", dos "Duques do Cadaval"










Lourinhã > Porto das Barcas > 2 de junho de 2020 > Casa do meu amigo, camarada e grã-tabanqueiro Joaquim António Pinto Carvalho, onde ele mais a sua Céu(zinha)  têm passado o "confinamento"... O casal, que habitualmente vive em Carnaxide, e tem um turismo no Cadaval, nunca passou tanto tempo nesta casa de férias como agora...

De vez em quando eu e a Alice damos lá um salto, para beber um copo ou ver o pôr do sol e dar dois dedos de conversa...Os "Duques do Cadaval" (, como eu lhes chamo com ternura,) são excelentes na arte de bem receber... Enfim, também gostamos de os receber na nossa casa e partilhar com eles os petiscos da "Chef" Alice Carneiro. E pertencemos os quatro à Tabanca do Porto Dinheiro / Lourinhã... que continua triste depois da morte do nosso querido régulo Eduardo Jorge Ferreira.

E hoje (, ontem, dia 2...) até fomos juntos comer um choco frito  e uns caracóis no "100 Pratus" (, passe a publicidade,) na Praia da Areia Branca... Andamos a praticar a ciência & a arte do desconfinamento progressivo... Foi quando soubémos que o Pinto Carvalho tinha feito anos, no passado sábado, dia 30... (Toma boa nota,  Carlos Vinhal, que para o ano ele gostava de ver o boneco dele no blogue...).

Ainda a tempo, vai aqui, sob a forma destas fotos tiradas na sua casa do "Atira-te ao Mar!", a nossa manifestação (tranquila) de regozijo... Que a sua "picada" da vida seja longa (pelo menos, até ao km 100), e sem minas nem armadilhas (, que é o mais difícil para os SEXAS... como nós; aliás, SEXA é a Céu; SEPTUAS, somos nós, o Joaquim, eu e a Alice).

Parabéns, Joaquim, chicorações, ainda meio confinados da malta da Tabanca Grande que te conhece e estima.


Lourinhã > Porto das Barcas > 3 de junho de 2020 > 16h00 > Casa dos "Duques do Cadaval"

Foi bonito ver e ouvir (os motores de) as traineiras de Peniche (ontem contei 10,  a pescar sardinha, no nosso mar do Cerro, (aqui em frnte da nossa costa...que é um grande viveiro de sardinha... não sei por que é, bairrismos à parte,   lhe chamam sardinha de Peniche)... Hoje voltei lá para o  café o digestivo, e "partir mantenhas" a outro camarada da Guiné, o João Rebelo (, é cliente da Tabanca da Linha mas ainda não se fez grã-tabanqueiro por falta de pachorra...). À tarde, frente ao "miradouro envidraçado" do "Atira-te ao Mar!", havia já meia dúzia de traneiras... Dizem que ainda é pequenina e magricela...Mss até aos Santos vai engordar... Mais improtante: os nossos pescadores aindam felizes por poderem voltar à sardinha, cuja pesca estava proibida desde outubro passado... Oxalá a Dona Covide os deixe trabalhar...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): Paimogo, poema para dizer em voz alta à janela ou à varanda, uma boa terapia contra os "irãs maus" que infestam agora os poilões das nossas tabancas, em tempos de COVID-19