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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Guiné 63/74 – P4478: Iniciativas da ADFA em Lisboa (3): Almoço/Convívio do pessoal da BA 12 (Pilotos, Mecânicos e Enf Pára-quedistas (Luís Nabais)

1. Promovendo uma das iniciativas da ADFA (Associação dos Deficientes da Forças Armadas), recebemos esta mensagem do nosso camarada Luís Nabais, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa 1969/71, com data de 6 de Junho de 2009:

Caros Eduardo e Carlos,

Como vos havia já dito e vocês tão amavelmente haviam publicado, quando esta ideia era ainda era apenas uma intenção, gostaria de vos pedir agora a publicação, no blogue, do almoço/convívio do pessoal da BA 12 (Pilotos, Mecânicos e Enfermeiras Pára-quedistas) que, enfim, conseguimos agendar.

Este evento está já publicitado, também, no blogue da malta da BA 12 e, definitivamente, terá lugar no próximo dia 27 de Junho, na sede da ADFA.

Será uma homenagem, onde recordaremos todos aqueles que não conseguimos, nem queremos esquecer.

Alguns fazem questão de cá estar deslocando-se de bem longe, em cadeiras de rodas e, outros, ainda, comparecerão com as suas próteses, mas não querem deixar passar em branco esta homenagem.

São DFA’s, que querem dizer também: EU ESTOU PRESENTE!

As esposas podem e devem participar também.

A cada uma das pessoas inscritas, além da festa e do convívio, será entregue uma medalha comemorativa do evento.

O preço será de 20 €!

NOTAS:
Aquando da publicação do texto inicial, fomos questionados sobre a eventual presença, ou não, nesta confraternização, das “nossas” enfermeiras Paraquedistas!

Estamos à espera que, entre todos os “tertulianos”, muitos as conheçam e as contactem. Peçam-lhes, por favor, para elas marcarem a sua indispensável e tão desejada presença também.

ATENÇÃO: INSCREVAM-SE JÁ… SÓ DISPOMOS DE 15O LUGARES (o espaço não dá para mais).

Localização e estacionamento há e vocês conhecem.

Agradecendo a publicação desta convocatória, bem hajam e um abraço,

Luís Nabais
(Sócio efectivo da ADFA, nº 9724)

___________

Notas de M.R.:

As inscrições podem ser feitas directamente para aquele blogue (especialistasdaba12@gmail.com) ou para a ADFA, ao cuidado da Dª Conceição Valente, nº Tel-217 512 600. Já agora, a ADFA localiza-se entre a Av Padre Cruz e Av Rainha D.Leonor, no Lumiar. Perto tem o Instituto Ricardo Jorge, e é perto do Estádio do Sporting, parecendo não haver problemas de estacionamento.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3948: FAP (14): Um dia rotineiro na Base Aérea nº 12, em Bissalanca (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, 1972/74)

Guiné > Bissalanca > BA12 > O Ten Pilav Miguel Pessoa (1972/74). O Miguel foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido por um Strela (em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje) (1). Efectuou mais de 400 missões no TO da Guiné. Esteve 4 meses em Lisboa, hospitalizado, a seguir à queda do seu Fiat.

Foto: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados


1. Mensagem de Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanaca, 1972/74):

Luís: Aqui vai um texto para o blogue, se quiseres publicá-lo. Podes pensar que soa a romance barato, mas foi a maneira que arranjei de exorcisar os meus fantasmas, sem falar deles directamente...
Abraço, Miguel


2. FAP (14) > UM DIA ROTINEIRO NA BA12
por Miguel Pessoa

O mecânico acompanha-me enquanto faço a inspecção de 360º ao Fiat G-91 estacionado na placa, na BA12. Sinto a ansiedade habitual nos últimos voos. Também não admira - quando sabemos que vamos encontrar fogo de anti-aérea e possíveis Strela, é natural que fiquemos preocupados.

Como tem vindo a ser habitual, a tensão dá-me voltas ao estômago enquanto continuo a inspecção exterior ao avião. Parece que tenho vontade de vomitar mas nada sai. Tento disfarçar, que o mecânico continua ao meu lado e ninguém gosta de dar parte de fraco ao pé dos outros.

Mas os antecedentes não ajudam muito... Já fui ao charco uma vez e não gostei. E o problema é que matematicamente tenho as mesmas hipóteses que os outros de ser abatido - não me parece lá muito justo! Só voltei à Guiné há poucas semanas e a readaptação tem sido difícil; é muito penoso para mim recordar o tempo que estive sozinho no mato, depois da minha ejecção, sempre na iminência de ser apanhado à mão, por isso é natural que esteja preocupado.

Aliás, também os mecânicos andam preocupados. É grande a sua responsabilidade - o avião tem que funcionar que nem um relógio, o armamento não pode falhar, a Martin-Baker (*) tem que funcionar se tudo o resto correr mal - nenhum quer ser responsável pela perda de um piloto.

Logo hoje, que era o meu dia de folga! Bom, nesta bagunçada nada é garantido e temos que ser adaptáveis às mudanças... Mas a Esquadra foi solicitada para uma série de missões importantes que podem contribuir para diminuir o fluxo de pessoal e material que se interna na Guiné, vindos do exterior. Se resultar, poder-se-á reduzir a intensidade das flagelações aos nossos aquartelamentos; este esforço já se prolonga há dois dias e todos juntos não somos demais.

Neste momento sou o oficial mais antigo (um tenente!) a seguir ao Comandante de Esquadra, por isso, como oficial de operações (nome pomposo!) cabe-me a mim indicar os pilotos para as missões. Naturalmente, o meu nome tem que aparecer lá (o exemplo tem que começar por nós) e a folga, paciência!, fica para outro dia.

O avião está OK, o armamento pronto, como normalmente - o pessoal da linha não falha, como de costume - e eu dirijo-me para a escada para ocupar o meu lugar no cockpit - controlo um último espasmo e, enquanto subo a escada verifico, penduradas nela, as diferentes cavilhas de segurança que o mecânico retirou.

Coloco o capacete, o mecânico ajuda-me a colocar os cintos. Percorro com os olhos o check-list para confirmar que fiz todos os procedimentos correctamente antes de pôr em marcha. O chefe da formação, no avião ao meu lado, faz sinal com a mão para pormos em marcha. Primo o botão do cartucho de arranque do motor, este começa a rodar e estabiliza nas rotações normais. Executo os restantes procedimentos, acciono a descida da canopy (**) e faço sinal ao mecânico para tirar os calços das rodas.

Tudo OK! Aumento as rotações do motor para sair do estacionamento e inicio a rolagem do meu avião atrás do outro, fazendo antes um aceno de despedida ao mecânico que me deu a saída.

Toda a excitação acumulada anteriormente parece abandonar-me. Estou ali só, dentro do avião, controlando os meus medos de modo a que não interfiram com o cumprimento da missão. Temos de esquecer tudo e concentrarmo-nos totalmente no voo que temos pela frente, vigiando o espaço à nossa volta, tentando detectar alguma ameaça para o nosso ou para os outros aviões.

Finalmente estamos no ar e dirigimo-nos para o alvo definido no briefing antes do voo. Tudo corre normalmente e sinto uma estranha sensação de calma que contrasta com o nervosismo anterior. Os Tigres da Esquadra 121 estão no ar para mais uma missão de rotina nos céus da Guiné...


Miguel Pessoa
(Cor Pilav Ref)
_______

Notas do autor

(*) Cadeira de ejecção do Fiat G-91 R4

(**) Cobertura da cabina

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

19 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1675: 28 de Março e 5 de Abril de 1973: cinco aeronaves da FAP abatidas pelos toscos mísseis terra-ar SAM-7 Strella (Victor Barata)

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91

29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strelado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strelas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

1 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3826: FAP (3): A entrada em acção dos Strella, vista do CAOP1, Mansoa, Março-Maio de 1973 (António Graça de Abreu)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

(2) Vd. último poste da série FAP > 16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3485: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (13): Os MAN - Mecânicos de Material Aéreo e o outro lado da guerra (Manuel João Coelho)

Foto do João Coelho (ou Manuel João Coelho), membro da nossa Tabanca Grande, Especialista MMA, 3ª/63, AB1, Terceira - Açores:

Fonte: Blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1965/74 (Com a devida vénia ...)

1. Mensagem, com data de 7 de Janeiro de 2008 (*):

Felicitações pelo excelente blogue!

Voluntário na Força Aérea, de 1963 a 1966, fui colocado no então AB 1- Aeródromo Base n.º 1 no Aeroporto da Portela, em Lisboa, de 1964 até final do tempo de tropa.

Escapei à mobilização para África, mas tornei-me, com outros camaradas, testemunha de episódios que poucos conheceram. Refiro-me à chegada dos aviões de evacuação, DC-4, Skymaster e DC-6, dos Transportes Aéreos Militares, que traziam para Lisboa, os feridos e acidentados da guerra.

Os vôos normais desembarcavam os passageiros a par dos aviões civis, no estacionamento frente ao Terminal... os de evacuação chegavam à noite, por vezes de madrugada, e eram deslocados para a placa no interior do AB1, longe dos olhos da população.

Como Cabo Especialista MMA (Mecânico de Material Aéreo) fazia parte da equipa que recebia o avião: reboque com tractor, ajuda na abertura da porta e colocação da escada de saída, para além de outras tarefas.

Este momento de abertura era sempre de tensão, a porta abria-se e saía um bafo terrível, mistura de suor, éter, sangue, restos de comida, as macas sobrepostas, os feridos de todos os tipos... rebentamento de minas, amputados, cegos, queimados, cacimbados, feridos à bala, com estilhaços.

E depois a confusão da saída das macas, levanta à frente, baixa, baixa atrás, aguenta, segura!...o despacho e presteza das enfermeiras-páras que, por vezes, acompanhavam o pessoal, o ar pálido/horrorizado das madames da Cruz Vermelha, com as suas capas cinzentas, e que com os seus belos penteados eram um anacronismo ali, pese a sua boa vontade.

Nestes vôos eram particularmente difíceis os que vinham da Guiné. A viagem era mais curta, tínhamos a sensação de que alguns daqueles desgraçados tinham ferimentos ainda frescos: camuflados rasgados, ligaduras empapadas em sangue, um ar esgazeado mostrando a surpresa, a incredulidade face ao sucedido.

Recordo-me, como se hoje fora, de uma noite em que chegaram dois aviões quase em simultâneo. Não havia capacidade de transporte para o Hospital da Estrela e anexos, de tanta gente, as ambulâncias não chegavam e lá vieram os autocarros da Academia Militar para transportar os feridos que pudessem viajar sentados.

Tenho dois amigos, açorianos como eu - Ponta Delgada, S. Miguel - ambos furriéis milicianos, que estiveram na Guiné, julgo que a partirde 66 até 68 ou 69. Um, o Tibério Branco, andou por Catió e Buba, tanto quanto recordo, o outro, Álvaro Lemos, em Aldeia Formosa.

Os dois contavam, no regresso, como tinha sido a vida deles naquele território e, anos depois, já com o país independente, visitei a Guiné: Bissau, Nhacra, Bafatá, Cacheu e, na carrinha que percorria a estrada, olhando em redor, para aquela vegetação, as bolanhas, os rios e as jangadas, as tabancas - numa delas a inscrição numa parede "Viva o Benfica" - pensei neles, nos meus amigos de adolescência, no seu sacrifício. E nalguns colegas que morreram na guerra em África: o Martins, o Norberto, o Amaral, o João Manuel Cordeiro e outros cujo nome esqueci.

Ao mesmo tempo interrogava-me: se eu tivesse vindo aqui parar, teria conseguido, será que aguentava isto?

Um abraço e continuação do bom trabalho

Manuel João B. Ferreira Coelho

2. Comentário de L.G.:

Fiz questão de voltar a publicar esta mensagem do nosso amigo e camarada João Coelho que foi poupado à guerra do Utramar mas não aos seus horrores, ao espectáculo deprimente dos feridos graves que chegavam, nos aviões dos TAM, quase às escondidas, a caminho do Hospital Militar Principal, na Estrela.

Decidi, por outro lado, recuperar essa mensagem, inserindo-a nesta série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras. Pilotos, Especialistas Melec, Especialistas MMA e e tantas outras categorias de especialistas da Força Aérea que eu nem sei descodificar (Marme, Opc, etc.), todos eles cabem nesta expressão, que eu quero que seja bem-hmorada mas também solidária, honrosa e generosa, de Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras...

Não faço distinção entre camaradas do ar, terra e mar... Estive fisica e emocionalmente mais próximo de uns do que de outros, mas também usei a LDG e também agradeci aos deuses o bendito heli que veio, várias vezes, com as enfermeiras pára-quedistas, fazer evacuações Ypsilon, nas matas do Xime ou do Corubal, em operações em que participei...

O saudoso capitão Zé Neto, o nosso primeiro bloguista ou tertuliano a deixar-nos, por traição do seu coração que deixou de bater, costumava contar-me com graça, que havia, na Guiné, três ramos das Forças Armadas (**), começados por Ch: (i) a tropa de choque (o Exército); (ii) a tropa de chique (a Marinha); (iii) e a tropa de cheque (a Força Aérea)... São/eram velhos estereótipos que hoje apenas nos fazem sorrir, e que não retiram nada à nobre condição dos homens (e de algumas mulheres) que fizeram a guerra da Guiné, nos rios e braços de mar, no ar e na terra, com a G-3, com a caneta, com a pica, com o estojo de primeiros-socorros, com o heli, com a LDG...

O João Coelho, que é um leitor atento e apaixonado do nosso blogue, e membro da nossa Tabanca Grande, é daqueles camaradas das Força Aérea que, nunca tendo estando em serviço na BA 12, Bissalanca, Guiné, esteve perto de nós, dos nossos feridos graves, recambiados para Lisboa, para esse outro inferno que era (imagino!) o Hospital Militar Principal, à Estrela, mais os seus anexos...

É estranho que ao fim de 3 anos e meio de blogue ainda não tenhamos aqui o testemunho, na primeira pessoa do singular, de um camarada que tenha passado pela Estrela...

Onde estás, camarada Marques, grande herói, que foste projectado comigo por uma brutal mina anticarro, na nossa velhinha GMC, em Nahbijões, em 13 de Janeiro de 1971, e que depois conheceste o pesadelo dos hospitais militares, o de Bissau e o de Lisboa, e onde também fizeste amizade com o meu amigo Patuleia e teu vizinho de cama, futuro dirigente da ADFA, e que continua a ser hoje, para mim, um dos exemplos mais tenazes e surpreendentes da capacidade humana de lutar contra o infortúnio e contra as marcas horrorosas da guerra...

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Notas de L.G.:

(*) Originalmente publicado em 10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2425: O Nosso Livro de Visitas (1): Manuel João Coelho, Cabo Especialista da FAP (Aeroporto da Portela)

(**) Vd. poste de 4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P933: Pensamento do dia (2): as três tropas (Zé Neto)

(...) O Zé Neto escreveu-me há dias a protestar, e com razão, por lhe mandar a correspondência para o SPM errado... Aproveitou para se queixar das mazelas do corpo e da alma. Ele tem sido um herói, resistindo estoicamnente à tentação do cigarro... Mas agora vem a factura: o organismo a libertar-se da nicotina, os sintomas da síndroma da abstinência, etc.

(...) "Continuas a usar o meu endereço inicial da Clix, o tal dos poucos megas, embora em tempo oportuno eu te tivesse pedido para mudar para este, ou seja, para js.neto@clix.pt".

Mas o bom humor vem felizmente ao de cima neste homem - o nosso veterano - com quem tive o privilégio, há dias, de falar, pelo telefone, permitindo-me conhecê-lo um pouco melhor.

Diz o Zé:

"Agora que a poeira já assentou quero apenas dizer-te que fiz três comissões em África e sempre convivi com a dura realidade das três tropas, a saber: Tropa de Cheque (a FA e seus subsídios), Tropa de Chique (a Marinha e as suas vaidades) e a Tropa de Choque (os Zés da macaca). Tenho, nas minhas memórias, passagens de rir e chorar que vivi com essa gente. Pela minha parte não valem as cinco ou seis batidas no teclado que estou a gastar com eles.

"Já vai longa a birra.

"Um abração do
Zé Neto"