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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27293: Notas de leitura (1848): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte IV: "Até 1966 eram todos voluntários" (Luís Graça)

 

A legenda e a foto são do padre Bártolo Paiva Pereira... Vêm na página 23 do livro que estamos a recensear. Podem surpreender o leitor, se tivermos em conta que o autor é capelão major reformado, serviu nas Forças Armadas durante 30 anos e tem pelo menos duas condecorações (ele, por modéstia, não o diz). 

Além disso, "não se trata da despedida de um Batalhão, mas de um contingente da PSP; o fardamento (nomeadamente os capacetes com a estrela de seis pontas do respetivo crachá) e a presença do Ministro do Interior, Santos Júnior na ponta direita da foto assim o indiciam"
 (A explicação é dada pelo nosso  camarada Eurico Dias, ex-alf mil, CCaç 4142/72, "Os Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74).

Fonte: "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira (ed. de autor, Vila do Conde, 2025, pag. 23).


1. Não é seguramente o padre Bártolo Paiva Pereira que aparece na foto a benzer (com o hissope ou o asperge) o guião de mais um  batalhão que partia para Angola, ou melhor, de um contingente da PSP (Polícia de Segurança Pública). 

Não lhe façam essa maldade, a  ele que passou pelos 3 TO (Angola, 4 anos, Guiné, 2 anos, Moçambique, 4 anos), que foi capelão do Copcon e do Regimento de Comandos da Amadora, em 1975,  que demonstra grande estima, afeto e admiração pelo seus militares, e em especial pelos seus "comandos", enfim, alguém que, voluntariamente (!), passou a 1/3 da sua vida ao serviço da sua "família militar"...  Enfim, um homem e sacerdote que diz: "A minha Pátria é o Hélder" (o 1º cabo que ia à sua frente, e que morreu numa emboscada, em Cabinda, em 1962, na floresta do  Maiombe, e que terá salvo a vido seu "capelão") (*)

Não se consegue identificar a unidade que parte para Angola. Mas sabemos que não é do Exército, e um contingente da PSP. Pela legenda, terá sido  nos anos de 1961/62, portanto ainda no princípio da guerra. 

Ampliando a imagem, vê-se que o capelão da foto é já graduado em capitão. O Bártolo ainda era nessa data um alferes, com 26/27 anos (será graduado em tenente em 1963, capitão em 1965 e em major já em 1973; além disso, a sua experiência como capelão militar é no Exército.

A fotografia que encima o capº 2 ("Assistência Religiosa às Forças Armadas: Orgânica e Pressupostos" (pp. 23-44) merece uma legenda crítica por parte do autor do livro, o padre Bártolo Paiva Pereira, hoje major na situação de reforma:

  "A fotografia que abre este capítulo, é uma provocação " (sic) (pág. 23).

Uma "provocação" ?  Não, na época, mas à luz dos dias de hoje... O "aggiormanento" da Igreja Católica, mal começara. (O Concílio Vaticano II, vai de 11/10/1962, 1ª sessão, até 8/12/1965, 4ª e última sessão)... 

O que o autor pretende dizer é que os capelães não serviam (nem podiam servir) para "turiferar a guerra e as máquinas de guerra" (pág. 39)...  "Turiferar", diz o dicionário é  "queimar incenso em honra de; incensar" (em sentido figurado,  adular; lisonjear).

Este é um velho debate, entre a "corporação" e os historiadores, que ultrapassa o âmbito desta simples recensão. Segundo o autor, esta "cerimónia de despedida", esta encenação, centrada na figura do capelão, benzendo guiões e flâmulas, terá sido de "curtíssima duração" (sic) (pág. 23).

Não nos parece: visionámos vídeos antigos da RTP Arquivos (um de 1961 e outro de 1971): em ambos ainda vamos encontrar o capelão perfeitamente integrado na cerimónia de despedida, munido da sua "caldeirinha de água benta" e do "hissope" (ou asperge):
(vídeo 2' 17'')  (sem som)

"Vila Nova de Gaia, Serra do Pilar, contingente militar do Regimento de Artilharia Pesada Nº 2 (RAP 2) recebe a bênção e guião durante a cerimónia de despedida, a propósito da sua partida em missão de serviço para o Ultramar".
(vídeo 2' 44'') (sem som)

"Vila Nova de Gaia, Serra do Pilar, contingente militar do Regimento de Artilharia Pesada Nº 2 (RAP 2) recebe a bênção, guiões e flâmulas durante a cerimónia de despedida, a propósito da sua partida em missão de soberania para o Ultramar".

No espaço de 10 anos a cerimónia não mudou, pelo menos na Serra do Pilar, no RAP2: os militares já não usam é capacetes de aço... mas o capelão não dispensa a caldeirinha da água benta e o hissope...

Fica-se com a ideia de que o autor, enquanto capelão, perdeu um pouco o contacto com o "terreno", ao  passar, na Guiné, em 1965/67,  a chefiar o serviço religioso, a trabalhar no QG/CTIG ou a viver  no  "Vaticano" (o edifício ou moradia onde estava instalado o capelão-chefe, em Bissau), longe dos quartéis do mato). (Curiosamente, ainda não descobrimos a localização do "Vaticano", na Bissau Velha.)

Neste 2º capítulo faz-se também o "historial" da capelania militar, desde a I Grande Guerra. Dispensamo-nos de entrar aqui em grandes detalhes. Mas recomendamos a sua leitura a quem quiser saber mais sobre o tema.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > 1941 > O primeiro Natal passado na ilha. Foto: arquivo de Luís Henriques (1920-2012) / Luís Graça (202o)


Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Também houve (e muitos, algumas dezenas de milhares de) expedicionários na II Guerra Mundial. Alguns dos nossos pais estiveram em Cabo Verde, outros nos Açores, ou na Madeira, quiçá em Angola e Moçambique.

Estranhas-se,  por isso, que, no auge da "glória" do Estado Novo, no princípio dos anos 40, não houvesse capelões militares,  ou pelo menos um embrião de serviço de assistência religiosa aos nossos militares, destacados em missão de soberania para as ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde) bem  para outras partes do império (nomeadamente Angola e Moçambique). Diz o autor:

"Portual não entrou na 2ª guerra mundial (1939-145). Por isso, não houve capelães destacados para esse conflito mundial" (pág. 24)...

Não é bem assim, estimado padre Bártolo, está a esquecer-se do caso de Timor onde, numa lista dos cerca de uma centena de portugueses mortos durante a ocupação japonesa (1942-1945),  há pelo menos quatro padres católicos:
  • Padre António Manuel Pires, missionário (assassinado em Ainaro, a 2 de outubro de 1942);
  • Padre Norberto de Oliveira Barros, missionário (idem);
  • Padre Abílio Caldas. missionário, natural de Timor (assassinado em Barique, em data ignorada):
  • Padre Francisco Madeira, issionário (foragido, morto no mato, na região de Lacluta, em data ignorada).
E de entre os mais de 40 mil timorenses que se estima terem morrido (ou sido mortos), durante a ocupação japonesa, muitos seguramente seriam católicos ou cristãos.

Ficamos a saber, isso sim, é que "só em 29 de maio de 1966 foi erigida canonicamente a Diocese Castrense", por acordo entre a Santa Sé  e o Governo de Portugal (pág. 24), sendo essa data a da "oficialização" do serviço  de assistência religiosa nas Forças Armadas, cinco anos e tal depois do início da guerra em Angola. 

O primeiro bispo castrensne seria o próprio Patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira. E só no ano seguinte, 1967, se realizou o 1º curso  de capelães.

Isto quer dizer que até então todos os capelães militares eram voluntários, foi o caso do padre Bártolo.

(...) "De início os capelães eram mobilizados na base do voluntariado. Aconteceu comigo e com muitos outros. 

As Forças Armadas pediam à Igreja um sacerdote para enquadrar os seus batalhões. E a Igreja arquitetou um plano militarmente bizarro, pastoralmente muito acertado. (...) 

A Igreja nunca concedeu padres ao Estado, apenas os emprestava por um período de vinte anos, ou até se alcançar o poste de major. Findo esse tempo, voltavam à diocese. A imposição aparece com o primeiro Curso Oficial de Capelães, em 1967 (...) (pág. 52, negritos do autor).

E parece que essa medida eclesiástica não foi de todo pacífica:

(...) "Começa a obrigatoriedade  da mobilização. Começa o conflito eclesiástico. Começa o sarilho  da relação de muitos padres com os seus superiores religiosos, Começa o choro da  consciência  de alguns reverendos que não desejavam  exercer a pastoral castrense  em clima de guerra" (pág, 52)...

Temos no nosso blogue várias histórias desse conflito, que começa por ser um conflito de consciência... 

O padre Bártolo também refere e analisa o caso de vários antigos capelães, três dos quais mais polémicos, o meu  primo Horácio Fernandes, o Padre Mário de Oliveira (ou Mário da Lixa) e o Arsénio Puim... Todos eles membros da nossa Tabanca Grande. O Mário da Lixa, já falecido, infelizmente. Os outros dois acabaram por pedir a "redução ao estado laical", um tabu antes do Concílio Vaticano II. (**)

 (Continua)
___________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. postes anteriores da série:




(**) Poste anterior da série > 29 de setembro de 2025 > 7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27291: Notas de leitura (1847): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte II: "Ó Beatle, queres mesmo ir para a Guiné ?", perguntou-lhe o antigo patrão, o sr. António Muchaxo... (Luís Graça)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27253. Timor-Leste: passado e presente (33): tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895 - Díli, 1944): os timorenses não o esqueceram, Portugal levou muito tempo a reabilitar a sua memória




Homenagem de Timor- Monumento erigido em Dili: "Ao adminsitrador Ten. Manuel de Jesus Pires (1895-1944)". Foto: Ludwig Müller. Cortesia: Wikimedia Commons


O actor Marco Delgado no papel de Tenente Pires, na série "Abandonados" (realização de Francisco Manso, produção RTP, 2022). 
A série, em sete episódios, pode ser vista iu revistra na RTP Play.

Imagem: cortesia de RTP e
 

1. Oitenta anos depois da rendição do Japão aos Aliados e da retirada das suas tropas do território de Timor-Leste, a patir de 6 de setembro de 1945 (*), há uma história que não pode ser esquecida, a do tenente e administrador colonial Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895 - Dili, 1944). Os timorenses não o esqueceram. Portugal levou muitos anos a reabilitar a sua memória. Tem oito referências no nosso blogue.

(...) "É uma história de filme, um drama épico. A história de um oficial português que ajudou a evacuar de Timor, invadido pelos japoneses, centenas de portugueses, em três operações heróicas. Morreu às mãos do invasor".

In: Tenente Pires | São José Almeida | Público, 10 de Fevereiro de 2008, 0:00


Deste artigo, de 10/2/2008, permitimo-nos fazer uma condensação, a partir de alguns excertos. Este homem, este militar, este português, merece ser melhor conhecido. Morreu, há 81 anos, às mãos dos carrascos, sem ver a terra, Timor, que ele tanto amava, liberta dos seus invasores e ocupantes nipónicos.

Maria de Lourdes Cal Brandão, viúva de Carlos Cal Brandão (1906-1973) tinha 93 anos quando deu esta entrevista ao "Público", em 2008. Ficamos a saber, por este valioso  trabalho de pesquisa da jornalista São José Almeida, que:

  • em 1943 tinha 27 anos;
  • era a esposa de um deportado político (em Timor desde 1931), o dr. Carlos Cal Brandão, jovem advogado do Porto;
  • nesse ano conheceu Elisa Pires, a filha do tenente Manuel de Jesus Pires, e de uma timorense, Domingas Boavida, que tinha apenas 8 meses;
  • tornou-se amiga da Elisa e da mãe num campo de refugiados na Austrália.


Maria de Lourdes havido fugido de Díli com mais 80 pessoas. O grupo havia atravessado a ilha pelo Monte Ramelau ( "Foho Ramelau", em tétum, a mais alta montanha da ilha, que se eleva a quase  3 mil metros). A fuga fora organizada pelo marido e pelo tenente Pires.

(...) Quando chegou ao sul, embarcou num dos navios australianos que transportaram 700 pessoas, todas brancas, a partir da praia de Betano.(...)

A Elisa e a mãe, timorense, embarcariam a 10 de janeiro de 1943, na praia de Aliambata, com mais 54 pessoas, num navio holandês. O embarque foi organizado pelo tenente Pires. Foi o primeiro, com destino à Austrália, em que foram evacuados timorenses.

(...) Este é o resultado (...) de uma bem sucedida pressão do tenente Pires e de Cal Brandão junto dos australianos para que a evacuação inclua também timorenses. (...).

A jornalista cita o investigador António Monteiro Cardoso em "Timor na 2ª Guerra Mundial - O Diário do Tenente Pires" (editado pelo ISCTE). (O historiador morreu, entretanto, aos 65 anos, em 2016.)

A partir da Austrália, e com apoio dos australianos, os dois resistentes portugueses, o Cal Brandão e o tenente Pires, empenham-se em salvar mais gente, e nomeadamente mulheres e crianças.

(...) Um mês depois, a 10 de fevereiro de 1943, a partir da praia de Barique, o tenente Pires aceita ser evacuado com um grupo de timorenses e portugueses num submarino americano, porque acredita que fazer contactos diretos na Austrália será mais eficaz para salvar os que ficaram para trás. (...)

E até junho desse ano, de facto, o tenente:
  • desdobra-se em contactos com as autoridades australianas;
  • escreve a diversas personalidades (Salazar e Getúlio Vargas, presidente do Brasil, entre outros outros);
  • o seu apelo ("libertem Timor e salvem os portugueses e timorenses escondidos nas montanhas") não é atendido;
  • tem, contra si, um conjuntura geopolítica e militar desfavorável.

Timor, de facto,  era um mero peão no "tabuleiro de xadrez" da guerra do Pacífico. Os Aliados (a começar pelos EUA) tinham outras prioridades.

Salazar, por outro lado,  sempre se manifestara contra toda e qualquer evacuação: os portugueses residentes em Timor tinham o dever de ficar, mesmo à custa da vida de alguns (ou até da maior parte), sendo essa a única forma de garantir a recuperação, a reafirmação e o reconhecimento da soberania portuguesa no final do conflito.

Era, além disso, contra toda e qualquer manifestação de hostilidade em relação aos japoneses (com medo, nomeadamente, de perder Macau). Cautelosamente devia esperar que o peso das armas começasse a pender para o lado dos aliados.

Estima-se que terão morridos mais de 10 por cento 
(c. 40 mil) da população da ilha 

(...) "É então que o tenente Pires, persistente, consegue que os australianos o levem de novo para Timor com um pequeno grupo de operacionais portugueses - Patrício Luz, Casimiro Paiva e Alexandre Silva. (...)

No início de julho de 1943, ele e os seus companheiros juntam-se ao grupo de Cal Brandão. Fiel à sua palavra, a 3 de agosto faz evacuar para a Austrália, a partir de Barique, mais 87 civis, portugueses e timorenses.

Fica em Timor, à espera de boas novas dos Aliados e do Estado Português. Um mês e tal depois, já em setembro, o tenente Pires tem a infelicidade de ser ferido numa anca. Num terreno extremamente acidentado como o Timor, isso era fatal. É feito prisioneiro pelos japoneses, ele e os companheiros. Já não chegará a conhecer a alegria da vitória, morre mais de um ano antes. No cativeiro, em Dili, em circunstâncias que nunca foram esclarecidas.

Nessa altura, a pequena Elisa Pires, f vivia há nove meses no campo de refugiados de Armidale, com a jovem mãe, timorense, assim como Maria de Lourdes Cal Brandão.

Restabelecida a paz, regressam todos a Timor, em setembro de 1945. Carlos Cal Brandão e a mulher não 
são autorizados a desembarcar pelas autoridades portugueses da ilha.

Num gesto que só podia ser de grande amor maternal, Domingas Boavida, entrega a pequena Elisa, com 3 anos, a Maria de Lourdes e Carlos Cal Brandão, para que a possam educar no Porto. Os Cal Brandão passaram a ser os seus padrinhos.

A viagem de regresso a Portugal é penosa, o navio pára em todas as colónias, até que aporta em Lisboa em fevereiro de 1946. Os três chegam, finalmente, ao Porto onde Cal Brandão, advogado, tem os pais e o irmão Mário (que virá a ser governador civil do Porto a seguir ao 25 de Abril de 1974),

Em 2008, com 65 anos, quando dá esta entrevista ao jornal "Público", "a imagem que Elisa tem do pai biológico é construída":

(...) Uma espécie de memória dos outros que lhe foi transmitida. Elisa Pires nunca conheceu o pai, Manuel de Jesus Pires, oficial português que ficou para a história como o tenente Pires e viveu mais de 20 anos em Timor.(...).

Cal Brandão e a mulher, os padrinhos de Elisa, ensinaram-lhe a preservar a memória do pai. Fala dele, à jornalista, com orgulho:

(...) "Penso que, como militar republicano respeitava a pátria e a honra e que pôs isso em prática. Depois, a responsabilidade do povo que governava, fê-lo realmente lutar por aquilo que achava melhor para os timorenses. Foi uma pessoa de bastante coragem. Que se sujeitou a tudo para levar as ideias dele para a frente". (...)

Elisa nasceu a 22 de abril de 1942, em Baucau, distrito timorense de que o tenente Pires foi administrador. A mãe tinha então 16 anos.

(...) A minha mãe nunca me escreveu, apesar de educada numa missão católica. Conheci-a, quando [já adulta] regressei a Timor. Veio ver-me a Díli. Foi uma visita e um encontro não como mãe e filha, porque éramos desconhecidas. Gostei de a conhecer, mas éramos desconhecidas. Nessa altura já tinha outros filhos, já tinha refeito a sua vida. Ainda hoje vive perto de Baucau (...).

Elisa manteve o contacto com Timor, a mãe e os seus meios-irmãos, de acordo com o desejo expresso pelo casal Cal Brandão.

(...) "Os meus padrinhos, principalmente o meu padrinho, tiveram sempre a preocupação de não me deixar esquecer o meu pai. Levou-me aos meus avós paternos que viviam no Porto, fui várias vezes fazer visitas" (...)

Ao fim de quatro anos no Porto, Elisa entra, como interna, no Colégio da Liga dos Combatentes. Por outro lado, sendo filha de oficial, era pressuposto poder ingressar no Instituto de Odivelas. Mas em 1952 a sua entrada foi recusada.

(...) "A explicação que me deram foi que o meu pai não era casado com a minha mãe, isto quando um oficial português era proibido de casar com gentios. Não sei se foi por isso, se foi pela atitude do meu pai durante a guerra." (...)

Elisa fez então a escola comercial e, em 1967, volta a Timor, onde trabalhou durante dois anos na Repartição Provincial dos Serviços de Administração Central.

Em 1969, com o irmão Jaime destacado em Angola, na Força Aérea, Elisa vai para Luanda. Fica lá até à descolonização, altura em que veio para Lisboa como funcionária da empresa na qual trabalhava, a Celcat. Estava reformada quando deu a entrevista.

Quando regressou a Timor, Elisa Pires é confrontada com a força da memória do pai e o seu prestígio entre os timorenses.

(..) "Toda a gente me falava dele e depois, mais tarde, construíram-lhe um monumento [em 1973], mas antes já havia a Ponte Tenente Pires, em Viqueque. Era uma pessoa conceituada, até pelos próprios indígenas, porque lutava por Timor e por eles. Sempre foi muito igualitário, contribuiu para que houvesse evacuação de timorenses durante a guerra." (...)

Essa memória não se perdeu também em grande parte por mérito dos Cal Brandão que trouxeram, além de Elisa, os cadernos com o diário do tenente Pires.

A partir do Natal de 1942, em plena fuga pelo interior de Timor, o tenente Pires começara a escrever um diário. Que continuou na Austrália.  O último registo é anterior á sua entrada  no submarino no qual regressou a Timor para morrer.


2. O diário fora entregue ao Carlos Cal Brandão por um amigo comum. Chegou a Portugal escondido na bagagem de uma amiga de Maria de Lourdes.

(...) Para António Monteiro Cardoso, este diário é "o brado de um homem isolado e abandonado pelo seu país e pelos Aliados e que, não obstante não desiste, movido pelo cumprimento da palavra dada. O relato de um drama humano de alguém a quem ninguém dá ouvidos. A sua honestidade leva-o para a missão que sabe que não tem saída".(...)

Manuel de Jesus Pires nasceu no Porto, a 6 de março de 1895 Estudou na Faculdade de Ciências do Porto. Na Escola de Guerra, acabou o curso de Infantaria em 1917. No verão desse ano, foi para França, integrado no Corpo Expedicionário Português. Regressado a Portugal, ajudou a combater a Monarquia do Norte e a depor Paiva Couceiro no ano seguinte.

(...) Em junho de 1919 é requisitado pelo ministro das Colónias, João Soares, pai do ex-Presidente Mário Soares, para ir para Timor. O então alferes Pires chega a Timor a 25 de setembro de 1919, com 24 anos. É aí que passará o resto da sua vida até morrer, em 1943, aos 48 anos, como prisioneiro de guerra dos japoneses.(...)

(...) Logo em novembro de 1919 foi nomeado comandante militar de Viqueque, cargo que exerceu até 1928. Foi também chefe dos serviços de Fomento Agrícola, ajudante de campo do governador, comandante militar do enclave de Oecussi, administrador civil de Manatuto, governador de Fronteira e, a partir de 1937, governador de Baucau. (...)

(Recensão, condensação, fixação / revisão de texto: LG)


3. Recorde-se que, de entre alguns dos heróis (portugueses e timorenses) que resistiram à ocupação nipónica, estão sem sombra de dúvida (**):

  •  o chefe de posto de Laga, Augusto Leal de Matos e Silva, 
  • o chefe de posto de José Plínio dos Santos Tinoco 
  • e o tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de Baucau. 

Os três morreram na prisão, às mãos dos japoneses, em 1944. Foram esquecidos na hora de honrar os mortos. Tinham cometido o erro de se  "aliarem" aos australianos, o que era imperdoável aos olhos de Salazar...

Todos deveriam ter sido louvados por atos heróicos... Recorde-se que  em 3 de agosto de 1943 ajudaram a embarcar, em duas vedetas australianas, perto da "alfândega" de Barique, um grupo de foragidos portugueses e timorenses (com destaque para mulheres e crianças). Mas em Timor ficou um grupo de voluntários, em missão, de observação, de que faziam parte os seguintes portugueses:

  • Tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895-Díli,1944);
  • Chefe de posto Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944);
  • Chefe de posto José [Plínio dos Santos] Tinoco;
  • Enfermeiro Serafim [Joaquim] Pinto;
  • Radiotelegrafista Patrício Luz;
  • Cabo de infantaria João Vieira. 

Todos eles morreram na prisão japonesa de Díli [em 1944] , com exceção do Patrício Luz que logrou  esconder-se entre timorenses, amigos da sua família.
_________________

Notas do editor LG:

(*)  Último poste da série > 19 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27230: Timor-Leste: passado e presente (32): a rendição dos japoneses foi há oitenta anos, foram-se embora, sem castigo, lá deixando mais de 40 mil cadáveres de timorenses, portugueses, australianos, holandeses...


(**) Vd. postes de:



quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27119: A nossa guerra em números (33): colonos, administradores coloniais e colonos de ocasião


Moçambique > Colonato do Limpopo > c. 1950 > Fotograma do documentário da RTP, História de África > Episódio 6 > Colonato do Limpopo (com a devida vénia...)


(...) A estratégia para o povoamento das províncias africanas por parte do Estado português é alterada nos anos 50. Pretendia-se um modelo eminentemente rural, maciço, branco, e totalmente dirigido pela administração estatal. Na base desta opção estava a ameaça de descolonização que se fazia sentir por toda a África. Para fazer face à hipótese de subversão dos nativos, impunha-se nacionalizar, com gente, os territórios ocupados.

Em Moçambique constrói-se o maior colonato, a partir das margens do Rio Limpopo, no sul do país. 13 aldeias para onde são atraídas famílias rurais portuguesas, a quem é entregue casa, gado, terreno para cultivo, sementes e alfaias.

Em troca, os colonos amortizavam a dívida para com o Estado com gado, parte da produção agrícola e impostos, além de trabalharem em regime de exclusividade. Em Angola, um projeto semelhante é construído na Cela, na província do Cuanza Sul.(...)



A. Como definir, sociologicamente, a figura do "colono" (por exemplo, em Angola e Moçambique, até 1974/75) ? (*)

Do ponto de vista sociológico, o termo "colono", aplicado ao contexto português em Angola e Moçambique até 1974/75, designa um indivíduo oriundo, em geral, da metrópole (Portugal continental ou ilhas atlânticas, incluindo Cabo Verde) que se estabelecia de forma permanente ou prolongada num território colonial, com o objetivo de nele viver, explorar recursos e, muitas vezes, exercer atividades económicas, políticas ou administrativas.

(i) Origem e estatuto:
  • o colono era normalmente cidadão da metrópole que migrava para o ultramar ao abrigo do regime colonial português ...
  • mas também das ilhas da Madeira e dos Açores,  do arquipélago de Cabo Verde (para a Guiné e São Tomé), do Líbano (para a Guiné), de Goa, Damão e Diu (para Moçambique);
  • beneficiava de um estatuto jurídico e social privilegiado em relação à população local, fruto da hierarquia racial e cultural implícita no sistema colonial.
(ii) Função e motivação:

  • procurava melhores oportunidades económicas e sociais (agricultura, comércio, serviços, pesca, indústria extrativa);
  • ou ocupava postos administrativos;
  • muitas vezes, tinha acesso a terras e recursos por via de políticas de expropriação ou reordenamento que marginalizavam comunidades indígenas (por ex., o colonato de  Cela, em Angola, em território ovimbundo).

(iii) Integração e relações sociais:

  • a vivência do colono estava frequentemente marcada por algum tipo de segregação socioespacial (bairros, escolas e serviços diferenciados para europeus e para africanos);

  • embora não houvesse um regime de "apartheid" institucionalizado,  como na África do Sul (em vigor de 1948 a 1994);

  • a sua presença fazia parte de uma estratégia, embora tardia, de povoamento e “portugalização” do território, legitimada pelo discurso oficial do “Império” e da “missão civilizadora” de Portugal;

  • a política de povoamento do Estado Novo sob a forma de colonatos (como de Cela, em Angola, e do Limpopo, em Moçambique), acabam por ser um fracasso, em termos políticos, sociais, econõmicos e demográficos (vd. aqui documentário da RTP sobre o colonato do Limpopo, 2017, 30' 52''),

(...) "Os planos de povoamendo dirigidos terminam em Angola ainda na década de 60, embora em Moçambique se tenham mantido até 1973. Os colonatos acabariam por não ser mais do que uma manobra de propaganda do Estado Novo, já que não serviram para aumentar a população branca em África – que, em 1970, era menos de cinco por cento do total em Angola e menos de 2 por centro em Moçambique -, nem para desenvolvimento económico dos territórios"- (...)


(iv) Dimensão simbólica e ideológica

  • o colono representava, para o Estado Novo, a presença física e cultural de Portugal no ultramar, funcionando como um instrumento de consolidação do domínio político e económico;
  • ao mesmo tempo, para muitos africanos, simbolizava a desigualdade estrutural e a perda de soberania e de idemtidade;
  • após as independências (1974/75), o termo “colono” passou também a ter uma conotação  política  e uma carga emocional forte, muitas vezes associado à memória do domínio e exploração colonial.

B. Diferenças entre “colono”, “administrador colonial” e “colono de ocasião”, que ajudam a perceber a diversidade de perfis destes migrantes.

Aqui vai a distinção sociológica e histórica entre os três perfis acima citados:


(i) Colono (no sentido mais restrito e clássico)
  • origem: migrante europeu (no caso português, vindo da metrópole e illhas atlânticas) que se fixa de forma permanente na colónia (sobretudo Angola e Moçambique);

  • objetivo principal: criar raízes, explorar terras, desenvolver negócios ou trabalhar em setores chave (agricultura, minas, comércio, indústria, serviços).

  • posição social: beneficia de estatuto legal e social privilegiado em relação à população africana, com acesso facilitado a recursos e direitos;

  • exemplo: agricultor estabelecido no planalto de Angola; empresário com loja em Lourenço Marques (Maputo).

(ii) Administrador colonial
  • origem: funcionário do Estado nomeado para exercer funções políticas, jurídicas ou militares no território;
  • objetivo principal: manter a ordem colonial, aplicar leis e decretos, representar a autoridade do governo português;
  • posição social: pertence à elite administrativa, com forte ligação ao aparelho de Estado e, normalmente, sem intenção de permanência vitalícia (regressava após o fim da comissão de serviço);
  • exemplo: Govrenador-geral (Angola e Moçambique); Governador de distrito em Moçambique ou chefe de posto administrativo no interior da Guiné.

(iii) Colono de ocasião (ou migrante temporário no ultramar)

  • origem: portugueses que iam para o ultramar por períodos curtos ou médios (alguns anos), muitas vezes para aproveitar incentivos económicos;
  • objetivo principal: ganhar dinheiro, obter experiência profissional ou aproveitar um momento de oportunidade (obras públicas, comércio sazonal, serviços técnicos);
  • posição social: embora também beneficiem de privilégios coloniais, não criam raízes profundas e regressam à metrópole quando a oportunidade ou contrato termina;
  • exemplo: engenheiro civil que vai supervisionar obras de estrada em Angola ou comerciante que abre um armazém durante um boom económico; professora, que acompanhou o marido militar, do QP ou miliciano, durante a guerra de 1961/74 (em Angoloa, Guiné, Moçambique); 
(iv) Resumo: podemos ver estes perfis como três camadas:

  • colono → raízes permanentes + exploração económica e social;
  • administrador colonial → poder político e jurídico, ligado ao Estado;
  • colono de ocasião → presença temporária, motivada por oportunidade económica.


Quadro comparativo: Colono × Administrador Colonial × Colono de Ocasião


Categoria/
Critério
ColonoAdministrador ColonialColono de Ocasião
OrigemMigrante da metrópole
ou ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde)
Funcionário público da metrópole ou ilhas atlànticasMigrante temporário da metrópole oulhas atlânticas
Objetivo
principal
Fixar-se e explorar recursos / localAdministrar e manter a ordem colonialGanhar dinheiro ou experiência a curto/médio prazo
PermanênciaLongo prazo / vitalíciaTemporária (missão de serviço)Temporária (contrato ou oportunidade)
Vínculo&
Ligação
ao Estado

Indireta (apenas enquanto cidadão)Direta e oficialIndireta (pode trabalhar para empresas privadas ou contratos públicos)
Estatuto
social
Privilegiado face à população localElite colonial, poder formalPrivilegiado, mas com menos influência política
Tipo
de atividade
Agricultura, ,minas, comércio, indústria, serviçosAdministração, legislação, segurançaComércio, obras, serviços técnicos 
Relação com a população localSegregada, mas com contactos económicosDistante e autoritáriaGeralmente limitada e pragmática
Exemplo típicoAgricultor no planalto angolanoGovernador de distrito em MoçambiqueEngenheiro civil contratado para obra

_________________________

Fonte: IA | ChatGPT | LG

Nota sociológica:

Apesar de partilharem o privilégio de serem europeus (ou predominantemente europeus) num sistema colonial, estes grupos tinham funções, relações com o território e horizontes de vida bastante diferentes. Esta diversidade ajudava a sustentar o sistema colonial em várias frentes, económica, política e simbólica.

No quadro a seguir, pode perceber-se a linha temporal mostrando como o peso relativo destes três grupos mudou entre 1900 e 1974/1975, o que é muito útil para se entender o fim do colonialismo português.

Linha temporal (1900–1975) > Evolução do papel de colonos, administradores coloniais e colonos de ocasião em Angola e Moçambique

    Categorias / PeríodoContexto históricoColonoAdministrador ColonialColono de Ocasião
1900 / 26
(Final da Monarquia/ 1.ª Repú-
blica)
Fraca presença
europeia; colonização limitada; predomínio  de missões religiosas 
 e militares; "campanhas de pacificação"
Poucos, concentrados em zonas agrícolas 
 de fácil acesso;  continuação do recurso a degredados/ desterrados
Forte presença: a administração assegura controlo básico.Quase inexistentes (custos e riscos elevados).
1926 / 45
(Ditadura
Militar,
início do Es- do Novo e crise mundial)
Consolidação autoritária, políticas
de povoamento limitadas; economia centrada em
matérias-primas.
Crescimento lento; colonos mais estáveis começam a instalar-se.Administração estruturada e centralizada.Ainda raros; apenas em setores estratégicos como obras públicas.

1945 /61 

(Pós-guerra/ início da industriali-
zação colonial)
Expansão económica
no ultramar; incentivos
à migração; obras
públicas e agricultura mecanizada.
Cresce o número  de amílias fixas, sobretudo
em áreas agrícolas (como os colonatos de Cela e Limpopo)
Administração reforça poder e controlo social.Surge com mais força: técnicos, comerciantes e empresários de curto prazo.
1961 / 74
(Guerra
colonial)
Conflito armado, aumento do investimento estatal e privado; tentativas de “portugalização” acelerada.Maior entrada de colonos, mas também maior insegurança; comunidades europeias atingem
 o seu pico numérico.
Administração militarizada; funções civis misturam-se com funções militares.Expansão temporária devido a contratos ligados ao esforço de guerra e obras  infraestruturais.
1974/75
(Revolu-
ção, desco-
loniza-
e indepen- dência)
Colapso
do sistema colonial português.
Emigração massiva; maioria abandona o território.Quase todos regressam à metrópole.Saída rápida após término dos contratos; raros permanecem.
__________________________________

Leitura sociológica da linha temporal: 


Até 1945, a administração era o pilar principal do domínio português, com os colonos ainda em número reduzido.
  • Entre 1945 e 1961, o colono fixo tornou-se central na economia local, ao mesmo tempo que cresciam os colonos de ocasião ligados a obras públicas, comércio e serviços.

  • Após 1961, o sistema dependeu simultaneamente de três pilares: administração militarizada, colonos fixos e influxo de trabalhadores temporários especializados.

A queda foi abrupta em 1974-75, com a descolonização rápida e a saída em massa de todos os 
grupos (c. 600 mil "retornados").(**)

Fonte: IA/ChatGPT /LG (Revisão / fixação de texto: LG)

___________________________

Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 14 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27118: A nossa guerra em números (32): A Administração Colonial (que, no caso da Guiné, foi completamente ultrapassada, para não dizer "cilindrada",  pelas Forças Armadas)

domingo, 27 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27057: E os nossos assobios vão para...(4 ): o programa "Linha da Frente", reportagem "Marcados pela Guerra", que passou na RTP1, no passado dia 24, às 21h00: a montanha pariu um rato (Ramiro Jesus, ex-fur mil cmd, 35ª CCmds, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)


Ramiro Jesus: membro da Tabanca Grande
 desde 9/9/2012; mora em Aveiro



1. Mensagem de Ramiro Jesus  (ex-fur mil cmd, 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

Data - s
ábado, 26/07/2025, 22:34 
Assunto - TV

Boa-noite, Luís e restantes camaradas ex-combatentes.

Deixei passar dois dias para ver se via no nosso blogue alguma reação ao programa que a RTP transmitiu na passada quinta-feira, acerca das nossas saudosas guerras. (*)

Como ninguém se manifestou, vinha eu, deste modo, perguntar ao grupo se terei sido o único que achou aquilo uma verdadeira pobreza franciscana.(**)

E aproveitar para perguntar aos responsáveis do canal que pagamos diariamente, se não encontram alguém que saiba história e seja capaz de enquadrar, com respeito por essa história, as entrevistas que tenham feito, com gente também capaz de exprimir as verdades e realidades da mesma, bem enquadradas com as tais imagens reais das lutas no mato, picadas ou bolanhas e não com os "filmes" que nos pediam para fazer (no meu caso, sempre negados) na época do Natal, normalmente desenroladas ao lado das pistas dos aviões ou pertinho do arame farpado dos quartéis. 


Parece-me que, isso sim, seria uma boa homenagem aos ainda sobreviventes que por cá andamos e um bom contributo para o ensino - aos nossos filhos e netos - da verdadeira Históra da guerra colonial/ guerra do ultramar.

Propunha ainda que, se porventura fosse viável fazer o que sugiro, por uma equipa com verdadeiros conhecimentos, os trabalhos fossem separados por episódios, por cada uma das antigas colónias/províncias, pois creio estar certo de que as realidades em cada terreno eram bem diferentes entre a Guiné, Angola ou Moçambique.

E pronto. Agora que desabafei e fiz a minha sugestão, agradeço que analises se vale a pena publicá-la. Ficas à vontade.Entretanto, agradeço a dedicação dispensada ao blogue por todos os editores e despeço-me com um forte abraço. Ramiro Jesus.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


2. RTP > Linha da Frente > Marcados pela Guerra :

Episódio 19 de 48 | Duração: 30 min

Sinopse: Entre 1961 e 1974 cerca de 800 mil jovens portugueses partiram para combater nas colónias africanas. Hoje, 60 anos depois, a guerra mantém-se viva na memória dos que estiveram nas três frentes de batalha: Angola, Guiné e Moçambique.

"Marcados Pela Guerra" mostra a profundidade e persistência do impacto psicológico da Guerra Colonial nos ex-combatentes.

O stress pós-traumático, frequentemente não diagnosticado e silenciado ao longo de décadas moldou vidas e deixou marcas invisíveis na saúde mental de milhares de homens.

"Marcados Pela Guerra" é uma reportagem da jornalista Sandra Claudino, com imagem de Emanuel Prezado, e edição de Nuno Castro.


Próximas emissões deste episódio:

27 Jul 2025 | 10:30

27 Jul 2025 | 11:20 | RTP3

28 Jul 2025 | 02:45 | RTP3

29 Jul 2025 | 13:30 | RTP3

30 Jul 2025 | 05:20 RTP Internacional

Fonte: RTP > Programa > TV
_________________

Notas do editor:

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27039: Agenda Cultural (897): Programa "Linha da Frente", reportagem "Marcados pela Guerra": RTP 1, quinta-feira, dia 24, às 21h00... Um dos participantes é o nosso camarada José Saúde (ex-fur mil OE/Ranger, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74; vive em Beja)



O nosso camarada José Saúde (ex-fur mil OE / Ranger, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74; vive em Beja; tem 254 referências no nosso blogue) é um dos participantes  no programa “Linha da Frente": esta semana, dia 24 de julho, quinta-feira, às 21h, na RTP1. A não perder.

Imagens: O Zé Saúde, fotrograma do "trailer" do documentário, e página do Facebook do programa "Linha da Frente" (  com a devida vénia...


Sinopse

“Marcados Pela Guerra” é uma reportagem da jornalista Sandra Claudino, com imagem de Emanuel Prezado, e edição de Nuno Castro,  para ver no “Linha da Frente, esta semana, dia 24 de julho, quinta-feira, às 21h, na RTP1.

Entre 1961 e 1974 cerca de 800 mil jovens portugueses partiram para combater nas colónias africanas. 

Hoje, 60 anos depois, a guerra mantém-se viva na memória dos que estiveram nas três frentes de batalha: Angola, Guiné e Moçambique.

“Marcados Pela Guerra” mostra a profundidade e persistência do impacto psicológico da Guerra Colonial nos ex-combatentes.

O stress pós-traumático, frequentemente não diagnosticado e silenciado ao longo de décadas,  moldou vidas e deixou marcas invisíveis na saúde mental de milhares de homens.
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 20 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27037: Agenda cultural (896): 9ª edição da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro 1808: Lourinhã e Vimeiro, 18, 19 e 20 de julho de 2025 - II ( e última) Parte

terça-feira, 8 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26994: S(C)em Comentários (73): Filhos do vento, náufragos do império: e tudo o vento levou... (Domingos Robalo / Luís Graça)

O nosso Zé Saúde
com a menina do Gabu
(c. 1973/74)
1. Sobre o documentário "Filhos de Tuga", realizado opro João Gomes e Catarina Gomes  (série de 3 episõdios que começou na RTP1 no dia 2 de julho, e que vai continuar nos dias 9 e 16, às quartas, às 22:29) (*), ficam aqui dois comentários:

(i) Domingos Robalo:

Estou expectante em ver a série de 3 episódios que se inicia hoje na RTP1, sobre o tema em questão (Filhos de Tuga").

Tema nada fácil de abordar entre nós, soldados combatentes, não só porque estamos a uma distância de 50 anos, mas porque muitos de nós já partiram, sem sentirem uma palavra de conforto como reconhecimento por uma entrega nem sempre bem compreendida.

Mas a história tem destas coisas: ela é simplesmente escrita pelos vencedores e aqui os combatentes foram os vencidos e sempre ostracizados. Ainda assim, atrevo-me a divagar sobre o assunto de uma forma indisciplinada.

Fui para o CSM, nas Caldas, com 20 anos e 3 meses de idade. Passei à disponibilidade 43 meses depois, sendo que os últimos 24 meses foram cumpridos na Guiné 69/71.

Não estou comprometido com descendentes “filhos do vento”, embora conheça dois ou três casos, um dos quais assumiu com a desmobilização, a paternidade de uma criança que trouxe com ele e aceite pela namorada.

A vida desta família teve um desenvolvimento igual a todas as outras ditas normais. Mas, a questão parece ser a seguinte: porque não foram assumidas muitas outras paternidades?

Na sequência do movimento dos capitães e posterior revolução, toda a relação entre colonizador e colonizados ficou inquinada e hoje, as relações com esses países independentes há 50 anos continuam pouco amistosas, para além das relações Estado a Estado de forma envergonhada. A própria CPLP é um flop.

Restaram então filhos não reconhecidos, militares fuzilados em alguns desses países, nomeadamente na Guiné e uma quase proibição de se falar da “ guerra colonial “ como forma de carpir tempos traumáticos para uma juventude, que tinha sido muito mal tratada pelo poder colonial.

Muitos problemas têm origem nesta proibição que eu designo como “suportar em silêncio” o que devia ter sido proclamado ao vento. No envolvimento destes silêncios estão os “filhos do vento” que não puderam ser proclamados. Durante anos viveu- se em silêncio, constituíram-se famílias e os ventos dissolveram os “filhos do vento”. Fico a aguardar pelo primeiro episódio de hoje na RTP 1, às 22h00.

(ii) Luís Graça (*)

Vi o 1º episódio do documentário realizado por João Gomes e Catarina Gomes, que me despertou sentimentos contraditórios...São seres humanos com histórias pungentes, que não pedem mais nada do que o sonho (impossível, na maioria dos casos) de ainda virem a conhecer o pai biológico e sobretudo ver reconhecido o seu direito a ter a nacionalidade portuguesa...

São homens e mulheres na casa dos 50/60 anos (o mais velho terá nascido em 1963, o mais novo em 1975)...Têm uma associação ("Fidju di Tuga"), onde se reunem de tempos a tempos, são poucos, tratam-se por irmãos e irmãs, vão todos os anos depositar uma coroa de flores ao "pai desconhecido", no talhão dos combatentes portugueses, no cemitério de Bissau...

Têm uma visão idealizada do pai (que só conhecem pelas histórias contadas pelas mães...) bem como do longínquo Portugal... Tiveram infâncias tristes, magoadas, cruéis, vítimas de racismo, de bullying, de maus tratos... Sobreviveram...

Temos a obrigação, enquanto blogue, de fazer algo mais por estes homens e mulheres que, apesar de tudo, ostentam dignidade, querem ser conhecidos, reconhecidos, ouvidos... É o mínimo a que têm direito. Nem sequer são "portugueses"... Precisam de apoio psicológico e jurídico (que a embaixada portuguesa em Bissau podia dar, enquanto não há uma "solução política" para este drama humano e social..., afinal os "filhos de tuga" não são mais do quer  do "náufragos do império", como tantos outros").

Com tantas ONG a trabalhar na Guiné, e ainda ninguém se "lembrou" e teve compaixão por "estes restos de tuga" (a não ser alguns de nós, como a Catarina Gomes, o José Saúde, o Pepito, o Cherno Baldé...). (Apesar de tudo, há uma centena de referências no nosso blogue aos "filhos do vento"...).(**)

 (Revisão / fixação de texto: LG)
________________


Notas do editor LG:


Vd. t6ambém poste de 4 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26981: Diálogos com a IA (Inteligència Artificial) (5) : a origem da expressão "Filhos do Vento" (="Filhos de Tuga") e a "paternidade" do José Saúde

(**) Último poste da série > 12 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26910: S(C)em comentártios (72): Em Fulacunda, a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação, quanto mais alimentar 400 bocas civis e muçulmanas (Cherno Baldé, Bissau)

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26981: Diálogos com a IA (Inteligència Artificial) (5) : a origem da expressão "Filhos do Vento" (="Filhos de Tuga") e a "paternidade" do José Saúde




21 "filhos do vento" ou "fidju di tuga" (10 homens, 11 mulheres), membros da associação "Fidju di Tuga", criada em 2013 (com a ajuda da jornalista e escritora Catarina Gomes)

Fotogramas: Filhos de Tuga > Ao Pai Desconhecido | Episódio 1 de 3 | Duração: 52 min | RTP 1 | Episódio 1 | 02 Jul 2025 (realização: João Gomes e Catarina Gomes, 2025) (*)

 (Cortesia de  RTP > Programas TV)

Edição de imagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


(...) A Associação Fidju di Tuga/Filho de Tuga-Associação da Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes na Guiné-Bissau foi criada em 2013 para representar os chamados Fidju di Tuga, expressão que traduzida do crioulo significa Filho de Tuga, e que durante todas as nossas vidas foi usada para nos designar/ insultar na Guiné-Bissau.

Somos filhos de ex-combatentes portugueses que estiveram na Guiné-Bissau durante a guerra colonial/guerra da libertação e que tiveram filhos com mulheres guineenses e os deixaram para trás. Muitos de nós até hoje apenas sabem os apelidos e patentes dos nossos pais, dados incompletos que não nos permitiram saber quem é nosso pai português e tentar entrar em contacto com ele.

Criámos esta associação para representar todos estes filhos que ficaram. Somos actualmente cerca de meia centena de membros, apenas em Bissau. Estimamos que existam pelo menos meio milhar de "filhos de tuga" espalhados pelo país, todos nascidos durante os anos da guerra ou no ano imediatamente a seguir ao regresso definitivo das tropas portuguesas.

Os nossos pais estiveram na Guiné-Bissau ao serviço do Estado Português. Os abaixo-assinados vêm por este meio pedir o reconhecimento do seu legítimo direito à nacionalidade portuguesa como filhos de pais portugueses, solicitando que a sua causa seja debatida no Parlamento português. (...)

 

I. Perguntámos à IA (Inteligêrncia Artificial) qual a origem da Expressão "Filhos do Vento" ? (**)

(i) Resposta do ChatGPT:

A expressão "filhos do vento" tem origens e significados variados, dependendo do contexto cultural, histórico e simbólico em que é usada. Aqui estão algumas das principais origens e interpretações:

1. Origem Poética e Simbólica

A expressão "filhos do vento" é frequentemente usada de forma metafórica ou poética para descrever pessoas ou seres associados à liberdade, velocidade, evasão, natureza ou espiritualidade.

"Vento" simboliza o que é invisível, livre, incontrolável e poderoso, e "filhos do vento" seriam aqueles que compartilham essas qualidades. Pode referir-se a espíritos livres, nómadas, viajantes, povos indígenas, ou mesmo animais velozes.

2. Ciganos e Povos Nómadas

Em algumas culturas, "filhos do vento" é uma expressão associada ao povo cigano, por causa de sua vida nômade e da forma como se movem livremente pelo mundo.

O termo expressa tanto a admiração pela liberdade do estilo de vida quanto, por vezes, um olhar romântico ou exótico sobre esses povos.


II. E no contexto da guerra colonial na África Portuguesa, nos anos 60/70 ?

(ii) Geminia IA / Google:

A expressão "filhos do vento" em blogues sobre a Guerra Colonial Portuguesa em África refere-se às crianças nascidas de pais militares portugueses e mães africanas durante o conflito.

O termo evoca a ideia de que essas crianças eram, de certa forma, "levadas pelo vento", ou seja, deixadas para trás, muitas vezes sem o reconhecimento paterno ou o suporte dos seus pais biológicos após o fim da guerra e o regresso dos militares a Portugal.

É uma expressão que sublinha o abandono, a falta de raízes e a identidade complexa que muitas dessas crianças enfrentaram, sendo muitas vezes estigmatizadas ou tendo dificuldades em serem integradas tanto na sociedade africana quanto na portuguesa.

Essa expressão tornou-se mais conhecida, por exemplo, com a obra "Furriel Não É Nome de Pai",  de Catarina Gomes, que explora precisamente as histórias e o destino dessas crianças.

É importante notar que, em outros contextos, "filhos do vento" também é uma expressão usada para se referir ao povo cigano, devido ao seu estilo de vida tradicionalmente nómada e livre. No entanto, no contexto da Guerra Colonial, o significado é específico e está ligado ao legado humano do conflito.


III. O que quer dizer a expressão "filhos do vento", ou também "fidju di tuga", usada por exemplo em blogues como "Luís Graça & Camaradas da Guiné" ?


(iii) ChatGPT:

A expressão "filhos do vento" ou "fidju di tuga" (em crioulo guineense, literalmente "filho do português") tem um significado simbólico e histórico profundo, especialmente em contextos relacionados com a Guerra Colonial Portuguesa e os seus desdobramentos sociais, culturais e identitários.

1. "Filhos do vento"

Esta expressão é usada para se referir a indivíduos, muitas vezes mestiços ou filhos de soldados portugueses com mulheres locais (guineenses, angolanas, moçambicanas, etc.), nascidos durante ou após o período da Guerra Colonial (1961–1974). 

O termo "vento" sugere algo efémero, transitório ou invisível — como se essas pessoas fossem o resultado de encontros passageiros ou relações informais durante o tempo da guerra.

Conotações:
  • Pessoas sem paternidade reconhecida oficialmente.
  • Crianças deixadas para trás por soldados portugueses ao regressarem a Portugal.
  • Vidas marcadas por um certo abandono ou ausência de raízes claras.

2. "Fidju di tuga"

Em crioulo guineense: "Fidju" = filho | "di" = de | "Tuga" = português (forma informal, muitas vezes usada para referir-se ao colonizador)

Este termo pode ser usado de forma neutra ou afetiva para designar:

  • Filhos de portugueses com mulheres guineenses;
  • Pessoas mestiças, vistas como pertencentes a dois mundos (o africano e o europeu);
  • Às vezes também tem uma carga crítica ou irónica, dependendo do contexto.

No contexto do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné":

Este blogue é mantido por ex-combatentes da Guiné e muitos dos textos são memórias pessoais, reflexões sobre a guerra, e histórias humanas. Nesses textos, "filhos do vento" são frequentemente mencionados com um tom nostálgico ou reflexivo, abordando o legado humano da presença portuguesa em África, sobretudo as ligações afetivas que deixaram marcas profundas, tanto nos soldados como nas populações locais. (...
)
 

IV.  O escritor e antigo combatente José Saúde ("Um ranger na guerra colonial", Edições Colibri, Lisboa, 2020) reivindica a "paternidade" da expressão. Certo ?

(iv) ChatGPT:

Sim, está certo: o próprio José Saúde — ex‑furriel na Guiné e autor de Um ranger na guerra colonial — reivindica a paternidade da expressão “filhos do vento”. 

Foi ele quem, num post no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, pela primeira vez, em 2011,  utilizou essa metáfora para designar os filhos nascidos de relações fugazes entre militares portugueses e mulheres guineenses, e que ficaram na Guiné sem pai identificado após o regresso dos soldados a Portugal (...)

Nesse post, Saúde lançou o tema ao desafiar os camaradas a partilharem relatos:

“Camaradas: quantas crianças mestiças, cuja paternidade era imputada a militares, 'tugas'… vocês conheceram…?” (...) 

Outros ex‑combatentes começaram a usar a expressão “filhos do vento” e reconheceram que ela surgira exatamente da iniciativa de Saúde .

Assim, de facto, José Saúde é considerado o criador do termo, e não apenas um dos que o popularizou.



(v) Gemini IA / Google:

É um facto que José Saúde, autor do livro "Um ranger na guerra colonial", é uma figura proeminente na discussão sobre os "filhos do vento" e reivindica ter sido o primeiro a utilizar e divulgar essa expressão para se referir às crianças nascidas durante a Guerra Colonial Portuguesa, fruto das relações entre militares portugueses e mulheres africanas.

Em vários blogues e publicações sobre o tema (...),  é possível encontrar referências onde se agradece a José Saúde por ter cunhado ou popularizado a expressão "filhos do vento", reconhecendo o seu papel na visibilidade desta questão. A sua contribuição foi fundamental para trazer à tona este aspeto sensível e muitas vezes silenciado do legado da Guerra Colonial.

A expressão "filhos do vento" ("fidju di tuga" é outra designação comum, usada pelos próprios e que carrega o estigma da sua origem) capta a essência da situação dessas crianças: a sua condição de terem sido, muitas vezes, deixadas para trás, sem o reconhecimento do pai e sem um lugar social definido, vivendo num "limbo" identitário.


V. Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", queres tu dizer ?!


(vi) Gemini IA / Google

Sim, é precisamente esse blogue!

O blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" é uma referência importante e amplamente reconhecida para a memória da Guerra Colonial Portuguesa, especialmente no que diz respeito à Guiné-Bissau. Ele serve como um vasto arquivo de testemunhos, fotografias e discussões entre ex-combatentes, historiadores e interessados no tema.

Como pode ser visto nos resultados da pesquisa, o blogue tem um histórico de abordar a questão dos "Filhos do Vento" e faz menção a José Saúde, reconhecendo o seu contributo para a visibilidade deste assunto. É um espaço onde se partilham memórias, se promovem debates e se procura reconstituir o "puzzle" da experiência da guerra, incluindo os seus legados humanos e sociais.

É um recurso valioso para quem procura aprofundar o conhecimento sobre a Guerra Colonial e as suas diversas dimensões.



VI. Contrariamente ao que se passou na guerra do Vietname, relativamente às "dust children", em Portual náo existem estimativas sobre o número de crianças nascidas de relações, fora do casamento,  entre militares portugueses e mulheres africanas (angolanas, guineenses, moçambicanas) durante a guerra colonial (1961/75)... Porquè ?


(vii) ChatGPT:

Essa questão é muito pertinente e toca em temas sensíveis da história recente portuguesa. A ausência de estimativas sobre o número de crianças nascidas de relações entre militares portugueses e mulheres africanas durante a guerra colonial (1961–1975) pode ser explicada por vários fatores, tanto políticos como sociais e culturais.

Aqui estão algumas das razões mais relevantes:
 
1. Silêncio e negação pós-colonial

Após o fim da guerra colonial e a descolonização (1975), Portugal passou por um processo de transição política (Revolução dos Cravos) que tentou, em grande parte, “virar a página” da era colonial. Este desejo coletivo de esquecer ou silenciar o passado contribuiu para que muitos temas, como estas relações e as crianças delas resultantes, não fossem alvo de estudo nem debate público.

2. Estigma e discriminação

As crianças mestiças (ou "filhos da guerra") muitas vezes enfrentaram discriminação nas sociedades africanas e portuguesa. Em muitos casos, essas crianças foram marginalizadas ou não reconhecidas pelos pais portugueses, o que contribuiu para o apagamento da sua existência oficial.

3. Falta de registos oficiais

As relações entre militares e mulheres locais, muitas vezes casuais ou não institucionalizadas, raramente eram registadas oficialmente. Mesmo quando havia reconhecimento, este nem sempre se traduzia em registos civis. Sem dados oficiais, torna-se muito difícil fazer estimativas fiáveis.

4. Diferenças de contexto em relação ao Vietname

Nos EUA, o caso das “dust children” ou "Amerasians" foi muito mediatizado, e houve até programas de repatriação. Isso nunca aconteceu em Portugal, onde não houve pressão internacional ou movimentos sociais significativos para o reconhecimento ou proteção destas crianças.

5. Falta de investigação académica

Só mais recentemente a historiografia portuguesa começou a olhar com mais atenção para a dimensão humana e social da guerra colonial. O foco esteve durante décadas mais centrado em aspetos militares, políticos ou estratégicos.

Apesar desta invisibilidade, há um crescente interesse académico e social em Portugal sobre estas memórias silenciadas. A recuperação destas histórias é essencial para compreender o impacto humano da guerra colonial. (..:)


 
VII. Dz-me algumas fontes


(viii) ChatGPT:

 (...) Em síntese

Estima-se que existam centenas — talvez milhares — de crianças nascidas de relações entre militares e mulheres africanas, mas não há dados oficiais nem registos sistemáticos .

O tema foi documentado no jornalismo (como por Catarina Gomes) e em projetos académicos (CES-UC).

A maioria das fontes enfatiza o silêncio institucional, o estigma social e a falta de reconhecimento legal.


(Pesquisa, seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)
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Notas do editor:

(*) ´Vd. poste de 1 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26972: Agenda cultural (892): "Filhos de tuga": documentário em três episódios, com a duração de 52 minutos cada: começa amanhã na RTP1, às 22:29