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1. São as páginas talvez mais pessoais, mais sentidas, do autor: com 26 anos, minhoto, solteiro, sacerdote católico, acabado de ordenar (há ano e meio), "soldado sem instrução", oferece-se para o serviço religioso do exército em 1961, já em plena guerra de Angola,
Graduado em alferes capelão, segue com o BCAÇ 321 para Angola em outubro de 1961. Descobre uma nova "família", a sua terceira (depois da família biológica e do seminário). E descobre que a sua Pátria é o Hélder...
No dia 27 de maio de 1962, sete meses depois de chegar a Angola, participava voluntariamente numa operação, em Cabinda. "Caímos numa emboscada, na localidade de Sanda Massala, norte de Cabinda. À minha frente, o Hélder, cai atingido e logo morreu" (pág. 17).
Se calhar foi ali, nesse dia, que o padre Bártolo descobriu verdadeiramente o que era a Pátria. Não, não é uma figura de retórica, a Pátria são as pessoas, as pessoas que têm uma identidade, um rosto, uma história de vida:
(...) "A minha Pátria andava mal definida no coração (...). O meu patriotismo nunca me levou às terras carismáticas do mundo e dos homens. Nem aos Lugares Santos. Nunca visitei o cemitério de Vimieiro. Nem me sai da cabeça a cova, onde enterrámos o Hélder" (...) (pág. 17).
(...) A cova onde enterrámos o Hélder foi logo ali, após o inimigo nos deixar. O seu corpo, mais tarde, foi recuperado por camaradas, que cumpriram um dever militar" (...) (pág. 18).
Mas o autor não acrescentou que os restos mortais do 1º cabo Hélder Tavares Amaral, foram inumados em Sanda Massala (no cemitério local ?), Cabinda, Angola, a 8 mil km da sua terra natal, Vila Cortês da Serra, Gouveia.
Foi o único morto do batalhão... Comenta o antigo capelão,citando o filósofo alemão Peter Sloterdijk: "A ossatura simboliza o fim que cada ser vivo traz já consigo". E acrescenta, agora da sua lavra: "Em teatro de operações, deixar 'essa ossatura' brada aos céus. Aconteceu, infelizmente, com muitos cadáveres. no início da guerra, onde tudo era mais precipitado que arrumado" (pág. 19).
Excertos da caderneta militar do nosso camarada Bártolo Paiva Gonçalves Pereira (pág. 35)
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Nota do editor LG:
4 comentários:
Capelão, convenhamos que as "bajudas" de Maiombe deviam ser sereias, só com aqueles panos lindos a tapar as "vergonhas"... Felizmente que aqui no blogue ainda não há bolinhas vermelhas, se fosse no Facebook já nos tinham retirado o poste...Andam muito púdicos os "feicebuqeiros"... Não há margem de tolerância, lá no grande Império da MAGA, para o nu, nem sequer o nu etnográfico... Quando nos tiram o direito de usufruir as coisas boas e belas da vida, temos que ir pregar para outra freguesia... Bem faz o capelão, que chegou aos 90 anos, com essa energia toda (já escreveu uma dúzia de livros!) sem ter email, telemóvel, página do Facebook, nem sabe o que é isso...
O capelão Bártolo Paiva Pereira escreveu: «(...)no dia 27 de maio de 1962, numa operação de ataque a um grupo inimigo (...) Caímos numa emboscada, na localidade de Sanda Massala, norte de Cabinda. À minha frente, o Hélder, cai atingido e logo morreu.»
Entretanto, passaram-se aproximadamente onze anos e nove meses, até que...
Em janeiro ou fevereiro de 1974, chegou ao posto de rádio do destacamento que eu comandava uma mensagem destinada a um furriel meu subordinado. A mensagem informava que um irmão desse furriel tinha sido ferido em Cabinda e se encontrava internado no Hospital Militar de Luanda, aguardando a sua evacuação para a Metrópole. Fiz logo todas as diligências necessárias para que o furriel se pudesse deslocar imediatamente a Luanda, a fim de visitar o seu irmão.
O que agora vou passar a narrar é o que eu recordo daquilo que o furriel me contou depois de regressar ao pelotão.
Quando o furriel chegou ao Hospital Militar de Luanda e viu o estado em que encontrou o irmão, ficou chocado: o irmão tinha ficado sem um braço e cego de uma vista.
O irmão ter-lhe-á contado então que, algures na floresta do Maiombe, no norte de Cabinda, caiu numa emboscada montada por um grupo de guerrilheiros do MPLA, que se tinham infiltrado a partir do Congo-Brazzaville e que, logo após o ataque, voltaram a atravessar a fronteira de volta para o mesmo país.
Entre os dois incidentes passaram-se quase doze anos e durante todo esse tempo a situação em Cabinda não só não melhorou, como nos últimos meses anteriores ao 25 de Abril se estava a agravar.
Além disso, acho inqualificável que os governantes portugueses daquela época tenham enviado para a guerra dois irmãos ao mesmo tempo, num manifesto desprezo pelos sentimentos dos pais, que assim viam dois dos seus filhos arriscando a vida a milhares de quilómetros de distância. Não bastava àqueles pais terem um filho na guerra? Teriam que ter dois?
Acerca do falecido soldado Hélder que salvou a vida ao padre BARTOLO, diz ele que lhe contaram o seguinte.
O Hélder no local da emboscada foi enterrado no local e devidamente localizado.
Passados uma semana um grupo foi proceder à sua exumação já com o respectivo caixão.
Aberto o buraco nada se encontrava, vazio.
O caixão foi enviado para a sua terra vazio sem corpo cheio de pedra e terra.
Acho que há mais casos destes.
Abraço
Virgílio Teixeira
Não era normal nem estava legislada esta forma.
Segundo o padre BARTOLO, diz que isso após os primeiros anos deixou de ser aplicada. Na guerra vale tudo, mesmo que contra todas as leis e o bom senso.
Infelizmente isso aconteceu muito.
Lembro do filme do soldado Ryan, para encontra lo na frente da guerra 2a guerra mundial.
Porque já tinha um irmão na mesma época e em sobreposição.
Acho que era isso!
Abraço
Virgílio Teixeira
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