Foto nº 1 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > As uvas estavam no ponto; nestas vindimas (as segundas e últimas, sendo a colheita destinada à Casa Aveleda; as primeiras, a 11, foram para fazer o !nosso vinho", Nita, Doc, Escolha, 2025)... O grau atingiu o recorde histórico de 13,8 graus de álcool provável...Muita gente, no Sul, não sabe que o vinho branco verde faz-se com uvas maduras, bem maduras, como se pode ver pelas fotos a seguir...
Foto nº 2 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > A 250/300 metros de altitude, em encostas roubadas à antiga floresta de carvalhos, sobreiros e castanheiros, com muros de pedra seculares ou reconstuídos, alguns de 2, 3, 4 metros de altura, é difícil a mecanização. Sobretudo em pequenas quintas como a de Candoz... Aqui fazer a vitivinicultura ainda é arte, não indústria... É um ato de amor, em que cada cacho é colhido como uma flor...

Foto nº 3 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Uvas da casta Pedernã... Ao fundo, a Linha do Douro, o viaduto da Pala, entre as estações do Juncal (Marco de Canaveses) e a Pala (Baião), ja na albufeira da barragem do Carrapatelo... É a partir daqui a Linha do Douro passa a acompanhar de perto as margens do rio Douro, o que a torna uma das linhas férreas mais cénicas do mundo. Fazer uma viagem de Mosteiró ao Pocinho é uma experiência que vale a fazer, pelo menos uma vez na vida!
Foto nº 4 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > A propriedade confina, a nascente, com a estrada municipal nº 642 (Paredes de Viadores, Marco de Canaveses). A vinha, que se prolonga para ponte, em cinco parcelas, todas suportadas po9r muros de pedra ("socalcos", como se diz aqui), pertence à subregião de Amarante, da Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Principais castas: Pedernã (ou Arinto) e Azal, e em menor quantidade, Trajadura, Avesso, Loureiro, Alvarinho...

Foto nº 5 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > A parcela principal, a que chamamos o "campo": há meio século era um campo de milho, e a vinha era de bordadura... Do lado esquerdo, junto à estrada (CM nº 642), no início da propriedade, há dois soberbos sobreiros (que aqui crescem, tal como os carvalhos e os castanheiros, a "olhos vistos").
Foto nº 6 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025
Foto nº 7 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 >
Foto nº 8 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (1): A Madalena (Lisboa), a Zezinha (Matosinhos)... Numa sexta feira, alguns tiraram férias...
Foto nº 9 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (2): A Susana (Porto)...
Foto nº 10 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (3): A Zezinha (Matosinhos) e a Susana (Porto), num momento de descontração...e de pose. Em segundo plano, o vizinho Zé do Chelo e o Adriano (Matosinhos)...
Foto nº 11 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (4): O Adriano, o Eduardo, ambos de Matosinhos..
Foto nº 12 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (5): O Eduardo...
Foto nº 13 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (6): A Joana (Lisboa)...
Foto nº 14 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (7): A Berta (Madalena / V. N. Gaia)...
Foto nº 15 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (8): Miguel (Matosinhos), Xico (Matosinhos), Adriano (Matosinhos), Gusto (V. N. Gaia)...Mas o pior são as bordaduras, é preciso escadote (1)...
Foto nº 16 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (9): mas o pior são as bordaduras, é preciso escadote (2)...
Foto nº 17 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (10): mas o pior são as bordaduras, é preciso escadote (3)
Foto nº 18 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Toda a gente ajuda, família, amigos, vizinhos (11):O Xico (Matosinhos), o Miguel (Matosinhos), o Luís F'lipe (Porto), o Gusto (Madalena / Vila Nova de Gaia)...O transporte dos cestos de uvas... Antigamente, era tudo às costas...Uma canseira, com aqueles desníveis todos...
Fotos (e legendas): © Luís Graça 2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. E as vindimas no Norte , assim são o que eram ?, perguntam-te cá no Sul.
Há dias vi, no Facebook, uma máquina de vindimar, gigantesca, marca New Holand (passe a publicidade) a operar numa empresa de vinhos, conhecida, da Península de Setúbal (tem mais de 500 hectares de vinha, mas só usa a vindima mecânica num terço das vinhas, já adaptadas para esse efeito)... Agora imagino o que serão as vindimas em grandes explorações, com milhares e mlhares hectares, em países como os EUA, a Austrália, a França, a Espanha, a Itália...
As nossas maiores empresas (Sogrape, Ermelinda, Aveleda...) produzem entre 50 a 20 milhões de litros de vinho). São empresas de pequena dimensão à escala global, onde as maiores produzem entre os 300 milhões e os 3 mil milhões de litros...
Não fiquei nem deslumbrado nem invejoso com o solitário vindimador mecânico, confortável na sua cabine climatizada... Despacha aquilo em meia dúzia de dias... Claro que o vindimador mecânico (amanhã um robô...) vem aumentar a produtividade das vindimas, baixar custos, "democrtatizar" o consumo do vinho, etc. Mas também vem acabar com o encanto, a magia, a alegria, a festa, o romantismo, a poesia, a convivialidade, a solidariedade, etc., que tinha a colheita da uva nosso tempo de meninos e moços... E que ainda tem hoje. Aqui, em Candoz... Passei lá quase 4 semanas, desde fins de agosto...
No passado, havia as "serviçadas", um termo que desgraçadamente nem vem nos nossos dicionários... Os especialistas da língua ainda não grafaram o termo que aqui se usa (ou usava) para designar o sistema de troca de serviços ou ajuda mútua entre vizinhos e membros da comunidade, especialmente em tarefas agrícolas sazonais, de grande esforço, como as vindimas, a malha do centeio, a desfolhada do milho, a espadelada do linho, a a limpeza dos "montes" (pinhais e carvalhais), a manutenção das levadas (a "água de Covas"), etc., e até a matança do porco e o fabrico dos enchidos...
A mão de obra era rotativa, não havia "jornaleiros", "ganhões", como no Sul: quando uma família tinha uma tarefa agrícola urgente e pesada (como a vindima), os vizinhos iam ajudar, oferecendo a sua mão de obra gratuitamente. A remuneração não era em dinheiro, mas em troca de serviços.
Numa agricultura de quase subsistência, numa economia fracamente monetarizada, e ainda no tempo de fortes laços comunitárias, em regiões de povoamento disperso, e com elevada percentagem de "rendeiros" (antes do 25 de Abril), não havia o "vil metal"... (Até as "rendas", pagas ao "fidalgo", eram em géneros!)...
Nas "serviçadas", o "patacão" era (é), em Candoz, a boa vizinhança, a solidariedade, o dom, a convivialidade, a festa.
O trabalho era duro, mas transformava-se em momentos de amziade, convívio, canto e alegria. O dono da terra que que beneficiava da "serviçada" esmerava-se em oferecer uma refeição abundante e vinho com fartura. As mulheres animavam a vindima com os seus fabulosos "cantaréus"... A família (de fora, os parentes do Porto) também vinham, nesses dias, reforçar a mão de obra... Alguns faltavam ao trabalho na fábrica para ir ajudar a família nas vindimas...
Outros tempos: nos anos 50, na Lourinhã, no meu tempo de escola primária, já não apanhei nada disso. As vindimas eram já feitas pelos "ratinhos"...
Os chamados "ratinhos" ou "malteses" era trabalhadores rurais sazonais, sobretudo das Beiras, que vinham em bandos (às vezes famílias inteiras!), em especial para as vindimas na Estremadura, as mondas no Ribatejo, as ceifas no Alentejo.
Eram mão-de-obra barata, muitas vezes maltratada, mal alojada e mal alimentada, mas indispensável ao funcionamento das médias e grandes quintas agrícolas no sul. Mas também das pequenas, quando a mão de obra familiar não bastava. (H0je , os "ratinhos" vêm da Ásia, da África..., para os morangos, a pera rocha, a abóbora, as hortícolas...)
Esse fenómeno (o dos "rationhos") insere-se numa tradição de migração interna que antecedeu as grandes vagas de emigração externa. Com o passar do tempo, sobretudo a partir dos anos 60, a miséria do campo, a guerra colonial, a falta de oportunidades e a repressão política levaram muitos a procurar futuro nas cidades de Lisbao e Porto e sobretiudo fora de Portugal: primeiro em França, Alemanha, Luxemburgo, depois espalhados um pouco por toda a Europa (e antes pelo Brasil, EUA, Canadá)...
Sou desse tempo, conheci os "ratinhos" que faziam as vindimas na Quinta do Bolardo, Nadrupe (de meus tios), e as quintas todas à volta... E tive vizinhos que começaram a ir para a Índia..., para a Angola, para a guerra...E depois tive colegas de escola e de rua que iam com os pais, de mala aviada, para as Américas... Até que começaram a desatar a fugir, muitos outros, "a salto", para França... E depois fui eu para a Guiné...E quando voltei o mundo estava a mudar... E tive dificuldade a reconhecer a minha terra... Acabei por ir para Lisboa...Regressei só agora...
Vindimas ? Já nada é como dantes... Aliás, na minha terra, arrancaram as vinhas todas. Mas hoje é a Região Demarcada da Aguardente da Lourinhã... Só há mais duas no mundo: Cognac e Armagnac... Já me perguntaram, no Norte, como é que a "a gente fazia aguardente sem vinho"... Claro, não tomei a pergunta como uma provocação, mas como simples ignorância...
Com paciência expliquei que há dois produtores, a Adega Cooperativa da Lourinhã e a Quinta do Rol... E que fazem excelentes aguardentes vinícas, regularmente premiadas, capazes de rivalizar com as outras duas, que há no mundo, o Cognac e o Armagnac... A única diferença é a tradição, o mareketing e a escala... A região de Cognac pode produzir 200 milhões de garrafas por ano... A de Armagnac 7 milhões... E a Lourinhã 200... mil.
É como Candoz e a Aveleda: mandamos para lá as melhores uvas, mas somos apenas um "quintal"... A Aveleda tem uma quinta, aliás tem várias, e centenas de fornecedores de uvas... e exporta para todo o mundo o nosso "binhinho berde", incluindo alguns milhares de litros de Candoz... A Aveleda produz 20 milhões de garrafas de vinho, tem uma máquina que engarrafa 6 mil por hora... Em Candoz, engarrafamos mil, à mão, e só estão prontas daqui a um ano, depois de estagiarem nas nossas minas (de água), à temperatura do interior da terra...
Mas ainda se diz, aqui no Norte, em tom de brincadeira: "Mas tu julgas que eu sou da Lourinhã ?!"...Em Penafiel, sede da Aveleda, devem perguntar o mesmo: "Mas tu julgas que eu sou de Candoz ?!"...
Em suma, felizmente que ainda há algumas coisas boas na vida que não têm preço. Mas o nosso "engenheiro", que é economista, lembra-nos que têm um custo... Tudo afinal tem um custo, direto, indireto, oculto... A começar pelo feroz individualismo, o mercantilismo, o imediatismo consumista, incompatíveis, no passado, com as "serviçadas"...
Respondendo à pergunta: as vindimas ainda são o que eram ? Hoje, já não, na maior parte dos sítios. Não, felizmente, por muitas razões. Não, infelizmente por outras... Mas em Candoz, sim, no essencial... (*)
(Contimua)
PS - Declaração de conflito de interesses: a Quinta de Candoz (passe a publicidade: tem um "site" próprio, visitáveç pro quem mais mais de 18 anos...) é apenas um dos menos de quatrocentos produtores-engarrafadores da região demarcada do Vinho Verde, num universo de mais de 13 mil produtores e de 24 mil hectares de vinha)... A vindima também já não é como era "antigamente", se bem que ainda seja (e será) manual, dada a pequena dimensão da propriedade. (A dimensão média das explorações na Região Demarcada dos Vinhos Verdes é inferior a dois hectares (1,832 ha), sabendo-se a área total é de 24 mil hectarea, mesmo assim uma das maiores da Europa, e o nº de produtores é de 13,1 mil.). A feituar do vinho, essa, modernizou-se, com a introdução das cubas de aço, o controço de frio, etc. (**)
(**) Vd. outros postes relacionados com as vindimas em Candoz:
24 de setembro de 2024 >
Guiné 61/74 - P25975: Manuscrito(s) (Luís Graça) (255): Tabanca de Candoz. Vindimas de 2024 - Parte I: menos quantidade, mas ainda de melhor qualidade do que em anos anteriores25 de setembro de 2024 >
Guiné 61/74 - P25979: Manuscrito(s) (Luís Graça) (255A): Tabanca de Candoz. Vindimas de 2024 - Parte II: à mesa, para 2 dezenas de "bicos", o prato forte foi dobrada à moda da "chef" Alice, uma variante mourica, com coentros, das tripas à moda do Porto
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