terça-feira, 2 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25707: Facebook...ando (59): Joaquim Martins, nosso grão-tabanqueiro desde 2015, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará (Ganjauará, 1972/74) - Parte I



Foto nº 1 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74>  "CCais de abicagem de Ganquecuta, na margem esquerda do Geba, em frente estava Porto Gole: o Rodrigues, eu ( sentado ) e o sargento Gonçalves."



Foto nº 2 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74> "Eu, junto do meu iate privado, no Rio Geba." (O Joaquim Martins, sentado num sintex, com morto fora de bodo...talvez um Mercury de 50 cavalos, acrescenta alguém


Foto nº 3 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74> > O fur mil at inf Joaquim Martins, natural de Gondomar.


Foto nº  4 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74> Reordenamento. Construção de moranças.


Foto nº 5 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Reordenamento (1) 


Foto nº 6 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Reordenamento (2)


Foto nº 7 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 >   "Três elementos da CCAÇ 4142/722, o Sequeira, o Dálio e o Virgílio Valente, no heliporto que também servia para campo de futebol."


Foto nº 8 > Guiné >  Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Dois dos nossos cozinheiros. Era a cozinha do nosso hotel, a ASAE não passou por aqui. Um Abraço para todos os que por aqui passaram". (O primeiro parece ser o Joviano Teixeira


Foto nº 9 > Arcos de Valdevez >
 XXI Encontro dos "Herdeiros de Gampará" > 26 de maio de 2018 > O  Bolo  com o brasão da CCAÇ 4142/72.




Foto nº 10 > Guião da CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74)


Fotos (e legendas): © Joaquim Martins (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Carta de Fulacunda (1955)> Escala 1/50 mil >  Parte da península de Gampará, banhada pelo Rio Geba e pelo Rio Corubal. Posição relativa de Porto Gole, Ganjauará, Ganquecuta.  (Na margem direita, a famigerada Ponta do Inglês, já na Foz do Rio Corubal; o PAIGC em 1972 controlava algumas posições no rio Corubal, como era o caso de Ponta do Inglês / Poindom,  no subsector do Xime, sector L1 (Bambadinca).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)



1. O Joaquim Martins é membro da nossa Tabanca Grande, desde 5 de junho de 2015, foi fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará", Ganjauará, 1972/74. Tem 74 anos, nasceu em Gondomar, em 19 de maio de 1950; vive em Águas Santas, Maia; trabalhou no Gabinete de Planeamento da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP); está reformado.

A sua subunidade partiu para o CTIG em 16set72. No Cumeré, a CCAÇ 4142/72 fez a IAO. Um mês depois, a 18out 72, foi colocada em Gampará, rendendo a CART 3417, os "Magalas de Gampará".

A sua missão era a defesa e segurança das populações da área, assim como a construção da 2.ª fase do reordenamento. "Dias difíceis se seguiriam, adaptação a tão duro ambiente, as más condições sanitárias, fraca alimentação, condições estas já descritas no Blogue pelo nosso camarada Amílcar Mendes da 38.ª CCmds aquando da sua passagem por este chão".


Da CCAÇ 4142 temos, além do Joaquim Martins, como repesentantes da Tabanca Grande,   mais para quatro camaradas, a saber:



2. Pela sua página do Facebook, vê-se que o Joaquim Martins é um camarada voluntarioso, que aparece nos convívios, tira e partilha fotos, recorda factos, figuras, topónimos, datas, etc. Da sua página espigámos alguns apontamentos e fotos desse tempo:


(i) 27 de maio de 2018 ·

Guiné, Gampará 72/74. Em 26/05/2018, em Arcos de Valdevez, foi levado a efeito mais um Convívio Anual da CCAÇ 4142/72, os "Herdeiros de Gampará". Foi um excelente convívio, num ambiente muito agradável de grande companheirismo e de muita animação. Parabéns ao organizador, o Martins, um Abraço para os que não puderam comparecer e, para os que já não estão no nosso meio, Paz à sua Alma, Até para o ano.

(ii) 16 de setembro de 2018 ·

Gampará 72/74. 16 de setembro de 1972, faz hoje 46 anos que a CCAÇ 4142/72 parte para a Guiné a bordo de um Boeing 707 dos TAM. Chegados ao aeroporto de Bissalanca, a Companhia dirigiu-se para o Cumeré onde iria ter a sua IAO. Terminada a instrução, a 18 de outubro  avança para a sua zona de ação, Gampará. onde iria render a CART 3417 e, onde se encontrava também a 38ª CCmds que iria abandonar a zona, deixando contudo dois de grupos de combate para colaborar no nosso treino (partiria  partido a 4nov72  e, a 15,  partia também a CART 3417). 

A 22nov72  chegaram a Gampará dois grupos de combate da 1ª CART/BART 6520/72 para colaborarem na actividade operacional da nossa companhia.

Durante os cerca de 23 meses de permanência na Península de Gamapará, percorremos vezes sem conta as matas, as bolanhas os núcleos de tabancas existentes. Construíram -se 42 moramnças para a população dando continuidade ao trabalho executado pela CART 3417.

Em agosto de 74 deu-se o nosso regresso a bordo do Uíge, ficando a Guiné para trás e com ela, 24 meses passados com sangue, suor e lágrimas. Vou terminar com a minha Homenagem aos bravos companheiros Silva, Soares e Mário ("Garrincha") que tombaram no chão de Gampará. Estejam onde estiverem ficarão sempre na memória da CCAÇ 4142/72, os "Herdeiros de Gampará". Um abraço para todos os ex-combatentes que passaram pela terra vermelha de Gampará, extensivo a todos os Ex- combatentes que passaram pela Guiné.



Em 25/05/2019, em Pedroso/Gaia, realizou-se o XXII Encontro da CCAÇ 4142/72, os "Herdeiros de Gampará". Foi um convívio muito animado pelos companheiros presentes e seus familiares, um abraço para todos e, também para os companheiros ausentes que também foram lembrados, extensivo a F. Silva nosso amigo e camarada de armas do BART 6520/72, que esteve presente na receção aos convivas e desejou um bom convívio. Até para o ano em Águeda.


Abril de 1974 / Abril de 2024, 50 anos se passaram.

Fui para a Guiné em 1972 e, estava cá a passar férias quando se deu o 25 de Abril de 74, no dia 26 Abril apresentei-me no QG na Praça da República para que me dessem indicações para o que devia fazer, uma vez que no dia 27 Abril, teria que viajar para Bissau e, assim aconteceu, lá fui eu novamente até à Guiné para em Agosto regressar a casa finda a comissão e a minha estadia pela terra vermelha de Gampará. Foi assim o meu 25 Abril de 74, para recordar e, um Abraço para todos os que por lá passaram.

(Seleção, numeração, legendagem e edição de fotos,  revisão / fixação de texto: LG) 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25706: Direito à indignação (17): Seco Mané, antigo Combatente da CCAÇ 6, não tem direito à nacionalidade portuguesa nem aos tratamentos a ferimentos recebidos em combate, nos anos 70, na então Guiné Portuguesa, ao serviço de Portugal (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de hoje, 1 de Julho de 2024:

Caros amigos
Fui alertado por amigos desta notícia saída na Revista Sábado, e que também foi transmitida no canal Now ontem ou sábado às 18.30
Trata-se de uma situação incrível, como é habitual, de desprezo e abandono daqueles que lutaram sob a bandeira portuguesa.
Sugiro que fosse objecto de publicação nos blogues, pedindo a quem puder e tiver influência para isso, a ajuda a este combatente guineense.
Afinal as gémeas brasileiras tiveram a nacionalidade de um dia para o outro, mas este camarigo que combateu ao nosso lado anda de "herodes para pilatos", num desprezo total pela sua vida.
https://www.sabado.pt/portugal/amp/amigos-na-guerra

Ainda sobre o assunto enviei hoje ao Presidente da República, ao Primeiro Ministro e Ministro da Defesa Nacional, o email que anexo.

"Exmo. Sr. Presidente da República
Reporto-me à notícia da Revista Sábado n.º 1052, que refere um antigo combatente guineense, Seco Mané, que serviu nas Forças Armadas Portuguesas, tendo sido ferido em combate, e que vive agora uma situação desesperada em Lisboa.
Trata-se de obter a nacionalidade portuguesa, (o que é estranho não lhe ser de imediato concedida, tendo ele sido para todos os efeitos um militar português, quando a outros sem essa condição já a têm), para que possa ter direito os tratamentos de saúde inerentes, ainda, aos seus ferimentos em combate por Portugal.
Sou um antigo combatente da Guiné, de 1971 a 1973, e esta situação, (para já não falar de outras) afigura-se-me uma vergonha para Portugal.
Venho assim, junto de V. Exa, solicitar todo o seu empenho para que tal situação seja resolvida no mais curto espaço de tempo, porque é de toda a justiça que tal aconteça para quem entregou parte da sua vida pela Pátria.
Tudo está explicado na referida notícia.

Com os melhores cumprimentos
Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves
Ex- Alferes Miliciano de Operações Especiais"

Páginas da Revista Sábado. Reprodução com a devida vénia

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2. Nota do editor:

É certo e sabido a falta de consideração e o abandono a que estão sujeitos os antigos Combatentes, sejam eles brancos ou pretos.
Vi, na Now TV, a reportagem do nosso confrade Fernando Jesus Sousa, que quis o destino encontrasse um seu velho camarada da CCAÇ 6, o Seco Mané, num corredor da Associação dos Deficientes da Forças Armadas, em Lisboa, que vive em condições precárias em Portugal, com o seu filho, para tentar, junto do Hospital Militar de Lisboa, resolver um problema que tem a ver com ferimentos recebidos em combate, em Bedanda nos anos 70, ao serviço do Exército Português.
Como reza a notícia, estranhamente não tem direito à nacionalidade portuguesa apesar de o seu cartão de militar exibir as cores da nossa, e da dele, bandeira.

Lendo o caso na Revista Sábado, o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves tomou a iniciativa de enviar ao Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro Ministro e Senhor Ministro da Defesa, uma mensagem a dar conhecimento desta injustiça, pedindo ao mesmo tempo os seus bons ofícios no sentido de que se resolva este assunto no mais curto espaço de tempo possível.

O que sugiro? Que cada um de nós envie mensagens similares, o Joaquim Mexia Alves não se importa que se utilize a mensagem dele, às entidades abaixo citadas para que sintam que estamos todos unidos, portugueses de Portugal e camaradas guineenses que não tendo optado pelo nacionalidade portuguesa, tenham direito a ela quanto mais não seja para terem acesso ao tratamento das mazelas advindas de ferimentos em combate.

Para vos facilitar a vida, indico a maneira mais prática de aceder aos respectivos formulários de contacto.
Presidente da República: https://www.presidencia.pt/contactos/formulario-de-contacto/
Primeiro Ministro: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/primeiro-ministro/contactos
Ministro da Defesa Nacional: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/area-de-governo/defesa-nacional/contactos

Não me lembro de alguma vez vos ter pedido alguma coisa, desta vez faço-o para que juntos façamos sentir a quem de direito que ainda existimos e que nem sempre as nossas petições são dinheiro, também queremos os direitos e o respeito que nos são devidos enquanto antigos Combatentes.
Não estamos a pedir, estamos a exigir.


Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último post da série de 10 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24467: Direito à indignação (16): Senhores da RTP, retirem dos arquivos aquelas provocatórias, hipócritas e desajustadas imagens da visita de 'Nino' Vieira ao marechal António de Spínola, no Hospital Militar Principal (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

Guiné 61/74 - P25705: Notas de leitura (1705): Recordações da guerra civil de Bissau, pelo então Vigário-Geral da Diocese, Padre João Dias Vicente (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
Trata-se do testemunho de um responsável franciscano que viveu do princípio ao fim a guerra civil, acompanhou as conversações onde esteve envolvido Dom Settimio, assistiu às pilhagens e destruições, viveu debaixo de fogo, colaborou na ajuda humanitária, invoca com propriedade o acolhimento que as missões deram aos fugitivos de Bissau enquanto troavam os canhões, de um lado e do outro. Dir-se-á que não há neste apontamento de memória absolutamente nada de novo quanto aos factos militares, mas compreende-se que este religioso queria expor à nossa lembrança o esforço em prol da paz e da mitigação do sofrimento humano nesse período trágico, ainda não se sabe exatamente o número de mortos que provocou, só se conhece o balanço da perda de património que empobreceu ainda mais um país que continua à espera de ver a palavra desenvolvimento com expressão real no quotidiano.

Um abraço do
Mário



Recordações da guerra civil de Bissau, pelo então Vigário-Geral da Diocese

Mário Beja Santos

O Padre João Dias Vicente, que foi Vigário-Geral da Diocese de Bissau durante a guerra civil publicou as suas recordações na revista Itinerarium, publicação semestral de cultura publicada pelos franciscanos de Portugal, n.º 228, julho/dezembro de 2022, referentes à guerra civil.

Começa por nos dizer: “Marcou-me profundamente por vários motivos: nunca ter experimentado ao vivo a sensação inquietante de estar debaixo de fogo real, contudo o que isso significa de ansiedade, de revolta interior e de habituação ao máximo risco.”

Nem todos os dias houve guerra durante aquele período que foi de junho de 1998 a maio de 1999, quando Nino assinou a sua capitulação. Havia uma clara alternância de fogo violento e paragens promissoras de cessar-fogo, de acordo com os diferentes protocolos assinados por ambas as partes, e nunca respeitados. O palco central da guerra foi Bissau, troavam os canhões e a população habituou-se a fugir para fora da cidade e a regressar logo que as armas se calavam, temiam, justificadamente, ver as suas casas e pilhadas. Não esconde que reserva no seu testemunho o papel revelante da Igreja Católica (sobretudo do seu bispo, Dom Settimio Ferrazzetta) no esforço de fazer calar as armas e procurar uma solução dialogada para o conflito. Lembra-nos que houve três acordos de paz, mal eram assinados, pouco tempo depois desrespeitados: o da cidade da Praia, em 26 de agosto de 1998; o de Abuja, Nigéria, em 1 de novembro do mesmo ano; e o de Lomé, no Togo, em 17 de fevereiro do ano seguinte.

As hostilidades foram desencadeadas pela chamada Junta Militar em 7 de junho, nesse dia morreram em Brá o guarda-costas e o chefe do protocolo do Presidente Nino. A causa direta e próxima fora a destituição de Ansumane Mané do cargo de Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas com o pretexto de estar implicado num negócio escuro de venda de armas aos separatistas do Casamansa. A Junta Militar revelou-se imediatamente eficaz, desencadeadas as hostilidades, Ansumane e as suas tropas garantiram o domínio dos postos militares mais decisivos: o quartel militar de Brá com os seus paióis de armamento; o aeroporto internacional de Bissau; e a estrada do aeroporto para Safim, única estrada para sair da capital até ao interior do país. Apercebendo-se da debilidade em que se encontrava, Nino apela à ajuda militar dos países limítrofes, virão tropas do Senegal e Guiné Conacri, aquele que foi a maior lenda da guerrilha não entendeu que estava a cometer o maior erro diplomático-militar de sempre.

O autor vai-nos dando conta de que se foi encontrar com Dom Settimio em Pirada e como se irão encaminhando até Bissau, o bispo começou logo diligências para a paz, conversando com os dois grupos em contenda, resultado nulo. Constituiu-se a Comissão de Cidadãos de Boa Vontade, era uma tentativa de ponte para o diálogo. O bispo conversa com a Junta Militar, esta exige a saída imediata das tropas estrangeiras. Regista-se fogo intenso das forças leais a Nino, alguns pontos de Bissau são bombardeados, a população foge, espavorida.

O bispo desdobra-se em reuniões, mas nesta fase o Governo manifestava-se ainda muito seguro de que tudo ia ser resolvido pelas armas. Nino é presidente numa capital semideserta, grande parte da população abandonou precipitadamente a cidade, uns foram para as missões próximas, os estrangeiros partiram para os seus países, iniciaram-se as pilhagens, parecia que se ia instalar o caos. Em 2 de agosto, o bispo manda abrir a Catedral ao público, outras igrejas seguiram-lhe o exemplo, queriam dar ânimo a quem sofria. Os ladrões não pouparam as instituições diocesanas, assaltaram os contentores com produtos variados de alimentação, materiais de construção destinados às missões, foi um saque quase total.

O autor conta detalhadamente como a Igreja procurou instituir uma ajuda humanitária eficaz. E dá-nos conta da evolução da guerra desde o cessar-fogo assinado em Cabo Verde até ao acordo de paz assinado em Abuja. No decurso das conversações, era argumento dominante da Junta Militar exigir a saída das tropas estrangeiras como condição para um acordo de paz definitivo, a parte fundamental recusava. E a guerra recomeçou em 9 de outubro, novas fugas da população com os sacos às costas. A 10, houve uma marcha pacífica de jovens e adultos desde Bissau até ao aeroporto. A 19, voltaram a vomitar fogo as armas pesadas. A 31, Nino decretou o cessar-fogo unilateral. Por essa altura, já quase todas as forças guineenses do Governo e uma parte significativa dos antigos combatentes se tinha passado para o lado da Junta Militar. Ansumane Mané concordou em respeitar uma trégua de 48 horas para que Nino verificasse a sua proposta de paz. As conversações prosseguiram em Banjul (Gâmbia), onde se deu o primeiro frente-a-frente entre Nino e Ansumane. Segue-se o acordo de paz de Abuja que estipulava a retirada total das tropas estrangeiras da Guiné-Bissau com o envio simultâneo de uma brigada de supervisão de cessar-fogo, a ECOMOG, o braço-armado da CEDEAO. A população começou timidamente a regressar às suas casas.

Segue-se a exposição sobre a evolução da guerra entre o acordo de Abuja até ao acordo de Lomé. Formou-se um Governo de Unidade Nacional e Francisco Fadul foi nomeado Primeiro-Ministro desse Governo. A guerra voltou a 31 de janeiro, pelas 19h30 caiu uma bomba sobre a varanda do refeitório da Cúria Diocesana, por milagre ninguém morreu ou se feriu. Seguem-se meses turbulentos, inesperadamente morre Dom Settimio. E assim se chegou aos acordos de Lomé, em 17 de fevereiro. Ansumane e Nino abraçam-se, há acordo sobre a saída das tropas estrangeiras. E temos agora a evolução da guerra desde este acordo em Lomé até à derrota final do Presidente Nino (período que vai de 17 de fevereiro a 10 de maio).

Com atraso significativo, tomou posse o Governo de Unidade Nacional, saíram as tropas estrangeiras, é publicado o relatório sobre a venda de armas que ilibou Ansumane e responsabilizou, sem margem para equívoco, a clique do Presidente Nino. Em março, começaram a ser desarmadas as tropas dos dois lados. O Conselho de Segurança da ONU aprovou a criação da Missão das Nações Unidas para o Apoio à Reconstrução da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS).

Inopinadamente, considerando a Junta Militar que o depósito de armas encontrado no aeroporto era a prova material de que Nino se recusava a aceitar que a sua Guarda Presidencial fosse desarmada recomeçou os bombardeamentos, à tarde as tropas da Junta Militar atacaram e venceram rapidamente os jovens militares (chamados os Aguentas) que defendiam o Palácio Presidencial. Depois de algumas peripécias, Nino pediu asilo político a Portugal, apresentou-se na embaixada portuguesa e assinou a sua rendição incondicional. Terminava a guerra civil e foi escolhido para Presidente da República interino o Presidente da Assembleia Nacional Popular Malam Bacai Sanhá. Tempos depois entrava-se numa nova onda delirante, era eleito como presidente um populista Kumba Yalá. A Guiné voltava a recuar.

Um relatório idóneo, foram acontecimentos que merecessem ser lembrados, compreende-se que um direto protagonista nas conversações, alguém que viveu ao lado de um bispo profundamente estimado pelos diferentes credos religiosos, quisesse deixar o testemunho do que viveu e sentiu.

Imagem icónica, mil vezes repetida, mostra o desaire das forças estrangeiras que vieram apoiar o Presidente Nino
Malam Bacai Sanhá, Presidente da Assembleia Nacional Popular, nomeado Presidente da República interino
Ansumane Mané e João Bernardo Vieira (Nino)
Cena da guerra civil, soldado leva um ferido às costas
Funeral durante a guerra civil
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Nota do editor

Último post da série de 28 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25696: Notas de leitura (1704): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1864 e 1865) (9) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25704: O nosso blogue em números (97): no 1º semestre de 2024, publicámos 661 postes, e tivemos 633 mil visualizações de página, atingindo um total acumulado de 15,2 milhões em 20 anos

 

Fonte: Blogger (2024)


1. No 1º semestre de 2024, de 1 de janeiro a 30 de junho de 2024, registámos um total de 633 mil visualizações de página, o que dá uma média mensal de 105,5 mil por mês (ou 3,478 por dia).  O total acumulado, desde 2004, é agora de mais de 15,2 milhões (*).

Como termo de comparação, registe-se que,  em todo o ano de 2023, o total de visualizações foi de 690 mil.

Vendo o gráfico acima, confirmamos que há picos, como em 3 de abril de 2024, em que se registaram mais de 47 mil visualizações,

Como já explicámos anteriormnete, estes picos não têm qualquer significado estatístico (são "outliers"): em geral estão associados à atividade de robôs que fazem capturas de páginas. O nosso blogue é seguido, regularmente, por exemplo, pelo Arquivo.pt   e pelo Internet Archive. Mas também ser explicados com a crescente utilização dos novos motores de busca baseados na IA (Inteligência Artificial),

Neste último período de seis meses, dos vinte países que mais nos visitaram, vêm três lusófonos: Portugal, em primeiro lugar, Brasil (7º) e Guiné-Bissau (11º). Depois há os países com  comunidade lusófonas: Estados Unidos (2º), Países Baixos (6º), Alemanha (9º), Suécia (10º), Reino Unido (12º), França (13º), Luxemburgo (14º), Espanha (15º) e Canadá (16º).

Neste período tivemos mais 7 novos membros da Tabanca Grande atingindo o total de 890. Faltam-nos 10 para chegar aos almejados 900 no final do ano de 2024 (**).

O número de postes publicados (n=661) foi, em média, de 110 por mês (3,6 por dia). O total acumulado é agora de 25703 postes editados (de 23 de abril de 2004 a 30 de junho de 2024).

Por seu turno, o total acumulado de comentários (limpos de SPAM) é agora de 102 234. Tivemos neste período pouco mais de 2,2 mil comentários, o que dá uma média de 3,4 por poste. O ano passado a média foi melhor (4,9) (***)

Estes números dão-nos algumas pistas de reflexão, indicando pontos fortes e fracos da nossa atividade bloguística. Apesar da idade e sobretudo do  "cansaço" e "saturação" de todos nós (a começar pelos editores e colaboradores permanentes)...

Obrigado a todos aqueles que vão mantendo a "chama viva": leitores, autores, comentadores, editores, colaboradores permanentes (****).

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Notas do editor:


domingo, 30 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25703: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (24): "A tolice por um fio"

Adão Pinho Cruz
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"


A tolice por um fio

Pensei logo que era tolo quando não vi nenhum fio preso ao ouvido do gajo. Aqui há uns anos, sempre que um tipo (ou tipa) falava sozinho na rua ou no café, era rotulado de tolo. Hoje em dia, com os auriculares do telemóvel, já não é assim. Sempre que topamos alguém a falar sozinho, olhamos logo para a orelha a ver se tem um fiozinho pendurado. Se tem, não é tolo, se não tem, é tolo.

O homem estava sentado numa mesa em frente à minha no café Turista. Foi há questão de uma hora. Lia o jornal enquanto falava, gesticulava, ria e fazia comentários. Claro que eu olhei logo para as suas orelhas. Numa delas não tinha nada pendurado. Na outra, que eu via mal porque o sujeito estava um pouco de esguelha, também não parecia haver qualquer ligação. Pelo sim pelo não, como quem não quer a coisa, levantei-me para espreitar melhor a sua orelha direita e cheguei à conclusão de que era tolo.

O advogado entrou e sentou-se ao seu lado. Presumo que fosse advogado porque, para além da pasta, tinha o ar que os advogados têm e que eu não sei descrever, por mais que tente. O homem calou de imediato o seu solilóquio e entre ambos apenas se interpôs um aperto de mão e um monte de papéis. O tolo, ou presumivelmente tolo, não abriu mais a boca. Moitacarrasco. O advogado, - só podia ser advogado - apenas lhe apontava o local onde devia assinar, assinatura que ele prontamente ali escrevinhava. Nem uma palavra.

Nem uma palavra. Assim se mantiveram cerca de dez minutos, tempo ao fim do qual, o advogado, presumo que não fosse outra coisa, estendeu-lhe a mão e, com discreto sorriso, pirou-se.

O homem que não tinha telemóvel nem auriculares irrompeu numa conversa pegada, falando não sei para quem, gesticulando de braços abertos, com esgares que podiam ser de escárnio, de gozo ou de raiva, fazendo do seu falar a solo uma espécie de comício em ponto pequeno. Voltei a concluir que era tolo. Mas seria mesmo tolo? Será que a diferença entre tolo e não tolo se resume a um fio pendurado do ouvido? Ora, aqui vos deixo a questão, sobre a qual nem Espinosa, nem S. Tomás de Aquino se debruçaram.

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Nota do editor

Último post da série de 23 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25676: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (23): "Os grelos"

Guiné 61/74 - P25702: Fichas de unidade (36): CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)



Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1968/70) > Dia do "santo patacão", o do pagamento do pré. Cap Mil Art Gomes de Araújo, sentado, alf mil Curado, de pé, à direita, o sargento Boiça, à esquerda  e o fur Mil Henrique, ao centro, em segundo plano. 

A foto é do nosso camarada Manuel Traquina, retirada e editada, com a devida vénia, do seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" (Abrantes: Palha de Abrantes, 2009, pág. 130).




Guião da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70), "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas"... Um trocadilho bem achado..., ó Zé do Olho Vivo!

Companhia de Caçadores nº 2382

Identificação: CCaç 2382

Unidade Mob: RI2 - Abrantes

Crndt: Cap Mil Art Carlos Nery de Sousa Gomes de Araújo

Divisa: "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas"

Partida: Embarque em 1mai68; desembarque em 6mai68

Regresso: Embarque em 3abr70

Síntese da Actividade Operacional

Em 18mai68, seguiu para Bula, a fim de efectuar a instrução de aperfeiçoamento
operacional com a CCaç 2312, sob orientação do BCav 1915, tendo tomado parte em operações realizadas nas regiões de Blequisse, Ponta Consolação e Bajope, nas quais obteve excelentes resultados. 

Entretanto, a referida instrução foi interrompida por razões operacionais e a subunidade seguiu para Aldeia Formosa, por fracções, em 3jun68 (dois pelotões) e em 8jun68, a fim de reforçar o dispositivo do BArt 1896 e depois do COSAF/COP 1, em face de pressão inimiga então verificada na região do Forreá.

Em 7jun68, dois pelotões ocuparam Contabane e em 11jun68, o comando e os outros dois pelotões instalaram-se em Mampatá; no entanto, em 18Jun68, a sede da subunidade passou para Contabane, ficando um pelotão
destacado em Mampatá. 

Em 1jul68, por evacuação de Contabane, voltou de novo a instalar-se em Mampatá, agora com dois pelotões destacados em Buba e Patê Embalá.

Em 13jul68, substituíu temporariamente a CArt 1612 no subsector de Aldeia Formosa até à chegada da CCaç 2381, em 8ag068, com os seus pelotões disseminados por Nhala, Mampatá, Chamarra e Patê Embalá, este até 3ag068 e depois deslocado para Buba, em reforço do BCaç 2834.

Em 12ag068, a subunidade foi então transferida para Buba, com um pelotão destacado em Nhala, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2834, e depois do COP 4, quando criado, com a missão de intervenção e reserva; nesta função, efetuou diversas operações na zona de acção e exerceu o seu esforço na contrapenetração, tendo capturado elevadas quantidades de armamento e material e de que se destaca uma emboscada efectuada a uma coluna de reabastecimentos inimiga, no rio Chinconhe, em 22nov68.

Em 290ut69 e 8nov69, foi rendida, por frações, pela CCaç 2616 e recolheu a Bissau, a fim de se integrar no BArt 2866 e colaborar na segurança e  protecção das instalações e das populações, tendo ainda um pelotão destacado em Sanfim e João Landim.

Em14mar70, foi substituída pela CArt 2411, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 96 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM). 

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 367/368.

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 d maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25466: Fichas de unidade (35): BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70)