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terça-feira, 1 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15812: Inquérito 'on line' (37): O moral das tropas... lá no cu de Judas! (António Rosinha / José Colaço)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Pessoal do 2º Grupo de Combate, atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba, no regulado do Cuor, em frente a Bambadinca (que pertencia ai regulado de Badora). O destacamento que havia mais a norte, era o de Missirá (guarnecido pelo Pel Caç Nat 52, no tempo do alf mil Beja Santos, 1968/70, e depois pelo Pel Caç Nat 63, do al

A tabanca de Finete, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se não erro), vê-se o fur mil op esp Humberto Reis e o 1º cabo António Branco.

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) >  c, 1969/1970 > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete, No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali,   vê-se o fur mil at inf Tony Levezinho, ao meio (com o tapa-chamas da sua G3 devidamente protegido por uma cápsula de plástico verde, cuidado que era raro haver entre as NT), ladeado pelo 1º cabo António Branco (à sua direita, com duas granadas defensivas à cintura) e pelo 1º cabo José Marques Alves, de alcunha, o "Alfredo" (à sua esquerda) (infelizmente, já desaparecido, em 2013),


Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: LG)


Comentários ao poste P15807 (*)

I. António Rosinha 

[ ex-fur mil, Angola,1961/62; viveu no Brasil,
 no pós-25 de abril;  foi topógrafo da TECNIL,
como "cooperante", na Guiné-Bissau, em 1979/93]



Nunca houve quarteis no interior em que a moral não fosse do piorio, mesmo sem guerra, nem tiros, nem ataques, nem baixas.
Exceptuando as unidades nas cidades, com especialidades burocráticas, o chamado apoio de rectaguarda, transmissões, abastecimentos, administrativos, que teriam algum alheamento do perigo e do isolamento, tudo o resto, em qualquer território africano, a tropa vivia ansiosa a dar baixa dos dias no calendário da parede.

Como vivi, por necessidade de ofício no interior de Angola (estradas, pontes e levantamentos) acampei em Angola durante anos, em lugares em que geralmente ou havia uma companhia, ou um pelotão ou uma secção, por perto.

E como fui furriel na guerra e não me sentia bem com arame farpado, capitães, e majores, aliás, acima de alferes nunca acertei, só tive duas porradas leves, mas por ser bom rapaz, como digo que para mim foi chata a tropa, custava-me ver a tropa da metrópole naqueles cus de judas, como chamou o Lobo Antunes umas terras lindíssimas, só que fosse livre de arame farpado.

Mas um dos martírios da tropa do interior, era não haver um programa de rotatividade de pequenos grupos se deslocarem às cidades para um pequeno banho de civilização (mudar de ambiente, mudar o óleo, e até de comida do mesmo cozinheiro).

Mas o pior, é que a tropa nem convivia com africanos, por não falar a mesma língua, nem com os europeus como eu, a quem por exemplo um capitão me atirou à vara que estava ali, porque eu tinha andado a tratar mal os pretos.

Ou seja, além da falta de moral, ainda havia a revolta.

Luís e António, não podiamos abandonar aquilo sem guerra. Entregar ao Amílcar Cabral, jamais, que ainda era novo, precisava viver.

Mas era preciso 13 anos? Porque não parou a meio, quando o homem de Santa Comba caíu da cadeira?

Porque os capitães de Abril ainda só eram alferes nesse tempo?

Luís Graça, quando tornares a fazer um inquérito,  questiona tudinho, mais do que questionavam os comandantes

Cumprimentos, Antº Rosinha.


II. José Colaço  

[ex-soldado trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]

Respondendo ao nosso inquérito, assinalo os seguintes pontos:

(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança...


Sou do início da guerra da Guiné, fui lançado na Operação Tridente só com um mínimo de preparação, eu e os meus camaradas de especialidade, inclusive o furriel (transmissões) e todas os outras especialidades até os atiradores; devido a nossa inexperiência e falta de conhecimentos houve alguns acidentes com a desconhecida G3...Por outro lado, receber uma mensagem era repetição constante dos grupos fonéticos e ter que pedir para o emissor transmitir devagar, pausado, que o operador era (maic) (maçarico)... mas como nós somos um povo do desenrasca tudo se resolveu.

Para transmitir para Catió nós não conseguíamos, comunicávmos com alguma dificuldade (principalmente durante a noite) com o BCAÇ 490 que estava em Cauane, no outro lado da Ilha do Como, e eles retransmitíam a nossa mensagem. Devido a esta dificuldade alguém do comando mandou ao Cachil um segundo sargento electromecânico e ensinou-nos como montar (e montou ele) uma uma antena horizontal.

Com este aparte, é só para dizer que concordo com todos os pontos que o meu primeiro comandante chefe na Guiné, Brigadeiro Louro de Sousa, mencionou pois tive oportunidade de os comprovar no terreno.

Mas discordo do ponto nº 1 em 50%: que os milicianos tivessem essa deficiência, concordo em absoluto, mas os quadros não: são ou eram profissionais de carreira, tinham por obrigação, dever de profissionalismo, estar preparados a 100% para todos os reveses que a profissão reserva.

Um abraço, Colaço.

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Nota do editor: