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quarta-feira, 12 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24472: Historiografia da presença portuguesa em África (376): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Há momentos nesta viagem presidencial em que se pressente, que mesmo discretamente na retaguarda, é o ministro do Ultramar que regozija com o legado deixado em cerca de 3 anos de governação. Onde quer que chegue a comitiva presidencial, Sarmento Rodrigues é recebido com a maior cordialidade, tanto pelos agentes coloniais, empresários, administrativos, como pelas autoridades gentílicas e o povo que desassombradamente o saúda. O que se passou em Bissau é flagrante, está tudo marcado pela gestão de Sarmento Rodrigues, dos equipamentos de saúde à educação, às infraestruturas desportivas, às melhorias da ponte do cais de Pidjiquiti. A viagem a Bolama de certo modo deixa o jornalista consternado, fala nas populações em delírio, mas não esconde a dor e a melancolia que aquela cidade ao abandono provoca, houve manifesta incapacidade de gerir com equilíbrio a transferência da capital, Sarmento Rodrigues ainda tentou um acordo com os potentados económicos para estes se manterem firmes naquela região agrícola tão exuberante, mas os negócios foram-se transferindo para Bissau, inexoravelmente Bolama caiu no esquecimento, o que assombra quando o seu património era tão interessante.

Um abraço do
Mário



O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2)

Mário Beja Santos

Salazar não viajava, mas pôs os seus presidentes da República a visitar parcelas do império. Eleito em 1951, o general, a sua mulher, o ministro do Ultramar e a sua mulher, partem do aeroporto da Portela em 2 de maio de 1955, pelas 7h30 e aterram em Bissalanca pelas 15h locais. É governador da Guiné Diogo de Melo e Alvim. O jornalista de serviço tece laudas à comitiva e ao séquito político que se vai despedir do presidente da República para esta viagem que não será curta. Fizeram-se obras em Bissalanca para haver uma pista capaz de receber uma aeronave daquele tamanho.

Já estamos a 5 de maio, Craveiro Lopes começa o dia visitando o Dispensário do Mal de Hansen, percorreu três exposições que o jornalista (presume-se Rodrigues Matias, ele aparece como coordenador dos dois volumes a que aqui se faz referência do diário da viagem) classifica a primeira como consoladora, a segunda como banal (à primeira vista) e a terceira macabra. O ilustre visitante recebe uma lembrança, um bordado com as palavras “Seja bem-vindo”, trabalhado a linhas encarnadas sobre linho branco. Das três mulheres doentes que haviam bordado aquele pano, uma não tinha dedos nem mãos. O jornalista foi ao seu encontro e dá-nos um quadro comovente. Enquanto Craveiro Lopes se mantém no Dispensário, o jornalista visita a Cumura, povoação do posto de Prábis, escolhida em tempos pelo comandante Sarmento Rodrigues para local de isolamento dos leprosos contagiosos. E diz-nos o jornalista que ali vivem, num mundo reduzido em pouco, mais de duas centenas de infelizes de ambos os sexos.

Bor, onde Craveiro Lopes se dirigiu após a visita ao Dispensário, é um desconhecido éden da ilha de Bissau, a 6 km da cidade. Ali foi criado um Reformatório de Menores e Asilo de Infância Desvalida, a cargo das Missões Católicas. A designação foi mudada para Asilo de Infância Desvalida de Bor. O ilustre visitante distribui a cada criança um pacote de rebuçados. Craveiro Lopes foi inesperadamente visitar o posto de Prábis. No caminho passou sob um maravilhoso túnel de cajueiros, e diz-nos o jornalista que se tratava de um pormenor que iria ter ocasião de apreciar largamente pelo interior: milhões de cajueiros plantados ao longo de todas as estradas da Guiné.

Findo o programa da manhã, vamos ao da tarde. Craveiro Lopes comparece ao grande festival militar, escolar e desportivo no Estádio de Bissau. Ao centro do campo de futebol formavam a tropa, a mocidade portuguesa, uma companhia de caçadores indígenas, 60 filiados do Centro de Milícias; atrás deste contingente, estão centenas de alunos das escolas oficiais e missionárias, 200 atletas dos clubes desportivos e uma coluna de tropa de segunda linha. Depois do desfile, realizou-se a final de um torneio de futebol entre o Sport Lisboa e Bissau (o Benfica local) e o Clube Futebol Os Balantas (o Belenenses local), ganhou o primeiro. Seguidamente, foram agraciados clubes desportivos e 17 chefes indígenas do concelho de Bissau. Craveiro Lopes sai do estádio em apoteose.

É nesta circunstância que o jornalista aproveita para descrever o concelho de Bissau lembrando que da sua população de 30 mil habitantes, há 22 mil da etnia Papel e 5 mil da etnia Balanta. A 6 de maio, a ilustre comitiva parte para Bolama no aviso Bartolomeu Dias, sem, porém, o jornalista nos ter descrito ao pormenor a nova ponte do cais do Pidjiquiti. Ele trata Bolama como a capital que foi, a visita presidencial é um tanto apresentada como uma romagem de saudade, um misto de peregrinação e desagravo. Faz-se a história da ocupação da primeira capital da Guiné e subitamente surge-nos uma referência a Silva Gouveia, o homem que criou um potentado económico na Guiné: “Silva Gouveia, que chegara à Guiné tão moço como pobre, dedicava-se à pesca; depois abrira padaria e casa de comidas para as praças da guarnição, na rua Marquês d’Ávila; em seguida, arranjara-se a construir edifícios de pedra e cal e requerera licença para lançar um muro-cais em frente da sua maior instalação. Era o colosso a desferir o voo para o grande triunfo que o esperava.”

Há laivos de melancolia nas descrições que se seguem. Bissau, em crise de crescimento repentino, comprava, para cobrir mais casas, as telhas que os proprietários bolamenses arrancavam das suas moradias abandonadas. Mas o jornalista está ali para pintar a cena em cores triunfais, temos a população em massa a acompanhar a viagem de Craveiro Lopes até aos Paços do Concelho, este o edifício da mais elevada categoria arquitetónica. Seguem-se os discursos do presidente da autarquia e do representante do comércio local – todos sonham com o revigoramento de Bolama. No final da sessão, foi lida a portaria que concede escudo de armas e bandeira própria à cidade de Bolama, Craveiro Lopes entregou nas mãos do presidente de autarquia a bandeira já com brasão, entre os calorosos aplausos de toda a assistência.

Segue-se um curioso desfile regional de gentes congregadas no largo Teixeira Pinto, não vai faltar dança frenética. Depois ficamos a saber que no concelho de Bolama não predominam em número os Bijagós, mas sim os Mancanhas. Por entre os dançarinos, um velho exótico passeava despreocupadamente um crocodilo pela arreata de um cordel de juta, o bicho arrastado pela trela dava sinais evidentes de um aborrecimento quase mortal.

Depois do almoço, um trepidante programa de visitas: ao quarte da Companhia Indígena de Engenhos; ao Hospital Regional de Bolama; à Missão Católica e à Igreja de S. José. E vem um encómio do jornalista: “Deixou esta visita ao sr. general Craveiro Lopes a impressão de que a cidade de Bolama se não resigna à condição de vencida pelo facto de ter deixado de ser a capital.”

Segue-se a visita à propriedade Gã Moriá, da firma Silva Gouveia, Craveiro Lopes é recebido pelo administrador D. Diogo de Melo. A Câmara de Bolama ofereceu um Porto de Honra no salão de festas da sede dos Bombeiros Voluntários, a que estiveram presentes todas as autoridades e “a melhor sociedade de Bolama”. À noite, da varanda do Palácio, Craveiro Lopes assistiu às danças Bijagós. O jornalista esmera-se a descrever tais danças, diz que é quase um teatro, logo na intenção do bailado, o bailarino, ajudado pelo corpo de baile que o acompanha, descreve as fases do seu envolvimento com a mulher pretendida, vê-se que esteve atento e que sentiu a densidade daquele processo cultural e artístico.

A 7 de maio, a ilustre comitiva reembarca de regresso às terras do continente. Antes, o jornalista refere que se avista o plano de água em que desciam as grandes aeronaves das primeiras travessias, pista maravilhosa de 6 km de comprimento e 1,8 de largura, no braço de mar chamado Gã Pessoa. Fala-se do desastre aéreo que vitimou os aviadores italianos. Estamos agora a caminho de Fulacunda.


Os dois volumes respeitantes à viagem de Craveiro Lopes à Guiné e Cabo Verde, Agência Geral do Ultramar, 1956
Retrato oficial de Craveiro Lopes no Museu da Presidência, pintura de Eduardo Malta
Dispensário do Mal de Hansen, Guiné Portuguesa
Imagem de uma reportagem da RTP na Guiné no tempo do governador Peixoto Correia
Paços do Concelho de Bolama, já em adiantado estado de ruína
Igreja de S. José, Bolama
Uma das mais admiráveis fotografias de Bolama, publicada no livro "Bijagós: Património Arquitetónico", pelos arquitectos Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade e o fotógrafo Francisco Nogueira; Edições Tinta-da-China, 2016

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24452: Historiografia da presença portuguesa em África (375): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23551: Historiografia da presença portuguesa em África (330): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Se acaso existe algum valor nestas impressões de viagem e no cuidado posto pelo Padre António Joaquim Dias quanto à história da presença missionária franciscana na Guiné, dar-se-á o caso o estudioso ou curioso poder reter o olhar de um missionário que ali viveu intensamente na década de 1930 e transitou para a seguinte. Não faz o panegírico da missionação franciscana, mas não ficamos com dúvidas que foi uma pequena saga a sua instalação, o seu fervor apostólico. Como homem do seu tempo, deixou registado o seu olhar sobre aquele mosaico étnico que deixava qualquer viajante assombrado, como era possível em território tão diminuto encontrar-se aquela riqueza multiétnica, multilinguística, aqueles usos e costumes que variavam radicalmente no mesmo espaço e lugar, numa convivência alegadamente pacífica, sem qualquer radicalismo religioso, que se prolonga aos dias de hoje. Tenho vários cartapácios ainda para ler, vamos ver quantas mais surpresas nos reserva o Padre António Joaquim Dias.

Um abraço do
Mário



Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (3)

Mário Beja Santos

Que grande surpresa, estas Impressões da Guiné escritas por um missionário que ali viveu mais de oito anos, são documentos que ele vai publicando ao longo dos anos no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, ainda não sei o que nos reserva este conjunto de cartapácios, a verdade é que há imagens magníficas sobretudo no noticiário guineense. O Padre António Joaquim Dias regressou a Portugal depois de oito anos e meio de apostolado missionário em terras da Guiné e resolveu vazar no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira a partir do número de novembro de 1942 em diante impressões e dados históricos da presença missionária franciscana na antiga Senegâmbia Portuguesa. Elaborou um texto sobre os missionários franciscanos na Guiné e conta que em 1931 foram desviados do campo apostólico de Moçambique os primeiros missionários, não foi operação indolor, como ele escreve:
“Antigos e prestimosos obreiros de Deus e da Pátria, lamentavam o abandono a que eram condenados. Na Guiné havia míngua de obreiros. Durante anos, um único sacerdote foi todo o clérigo da colónia. Gostosamente prestamos aqui homenagem cordial ao Padre José Pinheiro, ainda vivo e reformado após mais de 30 anos de serviço na Guiné, o qual soube trabalhar sozinho e aguentar-se, esperando contra toda a esperança dias melhores, menos agrestes. Estes surgiram em 1931, com modesto reforço, ao qual se seguiu outra um pouco mais nutrido, em 1932”.

E recorda o seu estabelecimento na vila de Cacheu, as bases da missão central de Bula, em chão de Brâmes ou Mancanhas, a primeira missão da Guiné depois de séculos de entorpecimento religioso e paralisação missionária. Relata os acontecimentos entre 1934 e 1937, não ilude a falta de recursos, começam a aparecer escolas em Farim, em Có, refere que o Governador Carvalho Viegas não era grande apoiante do trabalho missionário, mas que, no entanto, sabia fazer propaganda da presença missionária, iam surgindo artigos anónimos aludindo à obra de assistência social e às missões religiosas, isto quando na prática era o próprio governador que as não apoiava. Nesse ano de 1935 apareceu o Reformatório de Menores e Asilo de Infância Desvalida de Bor, com o auxílio de mais quatro irmãs Franciscanas Hospitaleiras. As baixas eram enormes, em 1936, Padre Pedro, absolutamente exausto, era forçado a sair da Guiné. No ano seguinte era inaugurada a Escola do Sagrado Coração de Jesus de Pelundo. Interrompe aqui o Padre Dias a sua descrição para nos falar de aspetos etnográficos e etnológicos que julga pertinentes divulgar, e espraia-se sobre o mosaico étnico da Guiné.

À luz dos conhecimentos da época, refere a seguinte tipologia: Fulas e Mandingas provenientes de uma mistura de Etíopes e de Nigríticos (negros sudaneses e nilóticos); as demais tribos constituiriam o grupo dos Nigríticos litorais ou guineenses, que não usam línguas Bantus. Diz faltarem estudos sobre a origem e parentesco etnográfico destas gentes africanas e alude a algumas referências sobretudo da literatura de viagens sobre as gentes da Guiné, caso das obras de Valentim Fernandes e de Duarte Pacheco Pereira, pondo ênfase que no século XVI já figuravam na Guiné os Balantas, os Felupes, os Banhuns, os Beafadas e os Nalus. Há também referências à tribo Papel, eram situados na chamada Costa de Baixo, nas ilhas de Pecixe e Jata e provavelmente também na ilha de Bissau.

Os Bijagós também não são esquecidos. André Alvares de Almada, no seu "Tratado Breve dos Rios da Guiné", cita e localiza diferentes etnias, com exceção dos Baiotes, Manjacos, Fulas e Futa-Fulas, e depois o Padre Dias lança-se numa apreciação do mosaico étnico.
Os Felupes já nos primeiros anos do século XVI ocupavam a posição geográfica atual; os Baiotes estavam agora confinados entre o rio Cacheu, os Felupes, os Banhuns e a fronteira, mas não são referenciados na já citada literatura de viagens e o Padre Dias diz mesmo que o Padre Marcelino Marques de Barros dá os Baiotes como uma subdivisão dos Felupes; os Banhuns tinham um território que constituía centro comercial das ilhas de Cabo Verde, estendiam-se pela margem esquerda do rio Casamansa avançando por cima dos Felupes, e eram cingidos ao sul pelos Brâmes, que já lá não existem, e por cima e pelos lados por Cassangas; estes, assentavam no local que cingia os Banhuns, o Padre Marcelino Marques de Barros faz dos Cassangas uma subdivisão dos Beafadas; os Mandingas apareciam agora instalados nas regiões de Farim, Paxisse e Oio (onde tomam o nome de Oincas), alargaram durante o século XVI o seu espaço territorial para a região de Mansoa até às margens do estuário comum aos rios Geba e Corubal; os Balantas terão descido do rio Casamansa para as zonas em que hoje vivem: Barro, Bissorã, Mansoa e Nhacra; os Buramos ou Brâmes comprimiram-se inicialmente entre o rio Cacheu e os Banhuns, foram-se espalhando por toda a região de entre os rios Cacheu e Geba, contam hoje com os regulados de Bula, Có e Jol, o Padre Marcelino diz que os Brâmes são uma subdivisão dos Banhuns; os Papéis podem ser confundidos com os Brâmes por ocuparem territórios afins e estendem-se hoje por toda a ilha de Bissau; os Manjacos são os marinheiros da Guiné, permanecem um ponto de interrogação no quadro etnográfico da colónia, Brâmes, Papéis e Manjacos mantêm afinidades etnográficas e linguísticas; os Beafadas ou Beafares já no século XVI ocupavam as regiões onde hoje vivem, do Quínara ou Guinala, e do Cubisseque e Bissegue, é dado como seguro existiram afinidades linguísticas entre Beafadas e Manjacos; os Nalus mantêm-se igualmente no território que habitavam no século XVI, a sul do rio Tombali; os Fulas constituíam no passado o Grande Império Fula ou Grão-Fula, que principiava no rio Senegal e se estendia para o Sudão, em concorrência com o Grande Império Mandé ou Mandinga, Fulas-Forros e Fulas-Pretos representam migrações Fulas, que foram deslocando para o litoral grupos étnicos instalados primitivamente a leste, são os autóctones mais bronzeados da colónia e ocupam atualmente as zonas do Gabú, Bafatá e Forreá; os Futa-Fulas ou Fulas do Futa Djalon, enviados outrora ao Forreá para extensão da supremacia política, é o tipo mais aproximado do Fula clássico, não foram mencionados pelos escritores de Quinhentos, por não existirem então no nosso território, povoam atualmente a região do Boé; os Bijagós são indígenas de cor preta, encontrando-se porém nalguns sinais evidentes de mestiçagem, dialetos e costumes variam quase de ilha para ilha, podendo admitir-se talvez a hipótese de imigrações várias.

Depois desta exposição sobre os grupos étnicos, o Padre Dias especula o número de habitantes da Guiné, mas diz claramente que falta um recenseamento seguro. O seu poder de observação vai até aos usos e costumes, como se exemplifica:
“As tatuagens estão em moda em alguns grupos étnicos. Usam-nas Manjacos, Brâmes, Papéis, Balantas e Bijagós, no peito, no ventre, nas costas e braços. São produzidas por escarificações à faca ou agulha e infetadas ou cheias de massa de azeite de palma com cinza. Os Mandingas usam tatuar-se na testa e frontais. Os Futa-Fulas tatuam os lábios a azul, pintam da mesma cor as pálpebras inferiores e abrem sinais particulares nas palmas das mãos. Notam-se penteados exóticos em quase todas as etnias, são feitos com pente indígena de madeira, semelhante a largo e comprido garfo de muitos dentes. Os Felupes ornam a carapinha, depois dos dez anos, confiadas de búzio; os Papéis de Biombo (ilha de Bissau) usam risca ao meio ou então tranças isoladas apertadas na base ou ainda tranças em torno da cabeça, de onde pendem anilhas de latão. Os exóticos penteados das mulheres Futa-Fulas, sobremontados por alta forma de palha, são adornados com fita de palha tingida de negro e abastecida de moedas e contas. Os Balantas penduram anéis e anilhas de latão da carapinha torcida e besuntada de azeite de palma e carvão moído, ou então rapam a cabeça, à faca ou a vidro, deixando somente algumas placas de cabelo, de forma redonda, ou valada, longitudinais ou transversais. Das pequenas tranças das mulheres Beafadas pendem conchas e moedas, em toda a volta da cabeça. Finalmente são inconfundíveis os dois sistemas de penteado Bijagó: tufos de cabelo soerguidos no alto da cabeça ou então empastada a carapinha toda em azeite de palma, barro ou carvão moído".

(continua)
Guiné - Catedral de Bissau
Guiné - A Igreja de Cacheu, única relíquia dos velhos tempos
Mancanha em dia de festa
Missão do Felupes. A casa que serve de igreja, escola e residência missionária
Bolama. A procissão na festa de S. José
Guiné. Tipo bijagó
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23533: Historiografia da presença portuguesa em África (330): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20589: Notas de leitura (1258): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (42) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Entrou-se numa fase tranquila no BCAV 490, o bardo anda disfarçado de polícia militar e não se queixa.
Alguém que acompanha o blogue, que foi alferes em Moçambique, veio à estacada falar do seu irmão, um furriel miliciano do BCAV 490, louvado e condecorado. Impossível não acolher tão oportuna e benfazeja intervenção, oxalá que apareçam mais.
Põe-se termo às intervenções de Dutra Faria, o primeiro dos jornalistas que veio até à Guiné (uma série a que se podem juntar nomes como os de Amândio César, Horácio Caio e José Manuel Pintasilgo, série essa que culminará com um conjunto de reportagens de Avelino Rodrigues com uma polémica entrevista a Spínola onde se aflora a autodeterminação, pasme-se). E na linha do contraditório, dá-se a palavra a alguém que virá a ter reputação mundial como escritor e investigador dos movimentos revolucionários, Gérard Chaliand, que entre maio e junho de 1966 acompanhou Amílcar Cabral e outros dirigentes do PAIGC na região do Morés.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (42)

Beja Santos

“Continuamos a trabalhar
a missão desempenhámos.
Acabámos de rondar,
à Amura regressámos.

A placa contornando,
vemos as pernas às mocinhas.
Vão-se dando umas voltinhas
pela rua das montras passando,
à esquerda do sinaleiro voltando,
segue-se na rua à beira-mar.
Vêm-se os namoricos a gozar
nos bancos do jardim
e, com esta vidinha assim,
continuamos a trabalhar.

Voltando pelo mesmo lugar,
tomamos a rua do Hospital
e antes do quartel-general
tornamos à esquerda a voltar.
Aos Bombeiros vamos passar
e as duas gémeas miramos.
Ao Alto-Crim chegamos
e seguimos até à Flor do Minho.
E nas tabancas por outro caminho
a missão desempenhamos.

Passando ao Alto-Crim, novamente,
perto do Capitão se vai torcer
e as estudantes vamos ver
ao avançar prudentemente
à esquerda da rua em frente.
Vê-se a Milú a passear.
Ouve-se o Concha a tocar
com sua amabilidade
e correndo o resto da cidade
acabamos de rondar.

Temos que incomodar a rapaziada,
mandando apertar os botões
e manda-se desarregaçar os calções
e andar de farda asseada.
A malta às vezes é tarada,
e com eles nos chateamos
alguns malandrecos encontramos
que só obedecem a bastão
e levando-os ao nosso Capitão
à Amura regressamos.”

********************

O bardo prossegue a cantilena do quotidiano com roupagem de polícia militar, patrulham Bissau e não esquecem os namoricos. Aqui se faz um desvio e profundo. Acontece que quem acompanha o bardo escreve com regularidade num jornal de Tomar, com lastro de pergaminhos, O Templário. A propósito de uma recensão sobre Tomar e os seus tesouros, um leitor interveio com várias sugestões, Tomar não é só cidade, há tesouros pelas redondezas como Alviobeira, Asseiceira, S. Pedro da Beberriqueira, Bezelga, Carregueiros, Casais, Junceira, Madalena, Olalhas, Paialvo, Pedreira, Sabacheira e Serra, toca de inventariar tais tesouros de tais localidades. E depois de se apresentar como alferes miliciano de Cavalaria em Moçambique, onde permaneceu de outubro de 1972 a janeiro de 1974, na região de Cahora Bassa e de fevereiro a outubro de 1974 na Beira, lembrou que um seu irmão fora furriel miliciano de Cavalaria do BCAV 490. E deu pormenores, desta maneira:  
“Aqui vai a foto da Cruz de Guerra de 3.ª Classe com que o (então) Fur. Mil. Cav. António Augusto Pimenta Henriques Simões da CCav 488 do BCav 490 foi agraciado (entregue nas cerimónias do 10 de Junho em Tomar) pelos feitos em combate, designadamente em S. Nicolau na Ilha do Como - Guiné na Operação Tridente.
Irei fotografar o louvor do CMDT de Batalhão TCor Cav Fernando Cavaleiro que deu origem à condecoração e tempestivamente enviar-lho-ei.”


Mais tarde chegou o seguinte mail:

“Aqui vai a foto de um quadro com os louvores do meu irmão António Augusto Pimenta Henriques Simoes da CCava 488 BCav 490.”



E por fim o seguinte mail:
“Como prometi aqui remeto quatro fotos do meu irmão António Augusto Pimenta Henriques Simões (Fur. Mil. Cav. da CCav 488/BCav 490) em operações na Guiné 1963.1965.”





Um agradecimento profundo a João Manuel Pimenta Henriques Simões pelas cativantes lembranças que nos ofereceu sobre o seu irmão.
E voltamos a Dutra Faria e ao conjunto de textos intitulados “Na Guiné Portuguesa junto da Cortina-de-Ferro” que foram dados à estampa no jornal “Diário da Manhã”, inequivocamente ligado à ideologia do Estado Novo. O diretor da ANI – Agência de Notícias de Informação aproveita a oportunidade para referir movimentos rivais do PAIGC e não lhe escapou o despotismo de Sékou Touré e entrevista inclusivamente um fugitivo ao regime que se abrigou na colónia portuguesa. Deplora que uma boa parte dos portugueses não perceba que Portugal está em guerra contra o seu inimigo de estimação, o comunismo. Há a guerra, ele está absolutamente convicto que o terrorismo será em pouco tempo pulverizado, a rejeição dos verdadeiros guineenses é inequívoca. A sua reportagem culmina com uma visita a Bor, um asilo que tem funcionamento primoroso:
“Em Bor, os rapazes permanecem até aos sete ou oito anos, idade em que transitam, com largo pranto dos garotos e muitas lágrimas, também, nos olhos das Irmãs para outro asilo; as raparigas, porém, ficam até se casarem – ou até aos vinte e um anos, se acaso não se casam antes dessa idade. Aqui aprendem a ler e a escrever, a cozinhar e a costurar, a ter uma casa bem arrumada e a cuidar dos filhos que lhes hão de nascer um dia. Nas horas vagas, bordam, e das suas mãos saem então maravilhas só comparáveis aos bordados da Madeira e dos Açores.”

E a reportagem termina com um certo desconcerto:
“Ao sair pergunto à Irmã Rosa se os terroristas alguma vez as ameaçaram ou importunaram.
A resposta é encantadora:
- Porque haviam de fazê-lo? Nós educamos-lhes aqui as filhas…
Só Deus sabe, efectivamente, quantos dos indígenas que vemos pelos campos, debruçados para a terra a cavar, não trocam, à noite, a enxada pela pistola-metralhadora – ou, ao menos, não têm na palhota, bem escondido, o distintivo do PAIGC. Mas, se os pais ainda podem ser suspeitos, os maridos das raparigas que saem de Bor já são todos – e em grande parte graças à benéfica influência que sobre eles exercem as mulheres – portugueses dos melhores. E assim também combatem o terrorismo – à sua maneira – as seis boas freirinhas da Missão-Asilo de Bor”.

Findo este texto apologético de Dutra Faria, procura-se um contraditório, a viagem que Gérard Chaliand fez à Guiné entre maio e junho de 1966, é um dos primeiros brancos que acompanha Amílcar Cabral, atravessam a fronteira senegalesa, embrenham-se pelo mato, de piroga chegam a terra firme que os conduz ao Oio. Gérard Chaliand não esqueceu esta viagem e mais tarde no seu primeiro livro de memórias “La Pointe du Couteau”, Robert Laffont, 2011, revelará o entusiasmo que tal incursão lhe provocou, ficou marcado pela personalidade do líder do PAIGC. O seu livro “Lutte armée en Afrique” foi editado na Livraria François Maspero em 1967.
Investigador de reputação mundial em movimentos revolucionários, Chaliand começa por dizer que a luta armada mais consequente do continente africano era a que se desenrolava na Guiné, e menciona um comunicado do PAIGC, emitido em Conacri em 9 de maio de 1966, acerca da viagem em que Chaliand acompanhou Cabral. Tratou-se de uma itinerância pelo Norte, Cabral e a sua comitiva visitaram escolas, dispensários, bases de guerrilha e unidades das forças revolucionárias. O líder do PAIGC era acompanhado por Osvaldo Vieira e Francisco Mendes bem como por um responsável do MPLA e pelo jornalista e escritor francês Gérard Chaliand. Uma visita em que se percorreu Djagali, Maké e toda a base do Morés. Segue-se a narrativa da incursão.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 17 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20567: Notas de leitura (1256): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (41) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20577: Notas de leitura (1257): Um relato que se vai aprimorando de edição para edição: Liberdade ou Evasão, por António Lobato (3) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20290: Historiografia da presença portuguesa em África (182): Dados Informativos 4, publicação da Agência Geral do Ultramar - Guiné, 1968: Os números da educação e saúde (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
Estes dados são uma mera curiosidade, podem servir para quem pretenda estudar este período. O sistema educativo era de fresca data, o trabalho missionário, por natureza, não possuía a consistência que o sistema educativo público veio permitir, tanto no liceal como no técnico-profissional, acresce que a própria Agência Geral do Ultramar proporcionava bolsas de estudo para a metrópole. Onde podia haver, com legitimidade, orgulho era no setor da saúde, tanto o sistema público como a atividade missionária, pense-se na Cumura, no Asilo de Bor, no Hospital Central de Bissau, na Missão do Sono, no Combate às Tripanossomíases, nas tabancas-enfermarias, o período colonial marcou pontos na prevenção e combate às doenças tropicais mais agressivas, o Instituto de Medicina Tropical era apresentado como uma entidade de excelência.
Foi o que foi.

Um abraço do
Mário


Guiné, 1968: Os números da educação e saúde

Beja Santos

Um achado na Feira da Ladra, esta edição da Agência Geral do Ultramar, dados informativos sobre todas as províncias ultramarinas.
Retenhamos o que se escreve sobre a Guiné, logo quanto à educação e ensino:
“Na Guiné, a instrução na sua primeira fase e até meados do século XIX, esteve inteiramente confiada aos missionários, que não só catequizavam como ensinavam português.
Em 1883 havia já professores oficiais em Bolama, Bissau, Cacheu, Buba, Geba e Farim, e em 1890 foi publicado o primeiro Regulamento Escolar da Província, tornando-se o ensino primário obrigatório para as crianças de ambos os sexos, dos 7 aos 15 anos de idade. Este ensino primário incluía a leitura, escrita e gramática do português, a aritmética, a História de Portugal, a corografia e a geografia, a doutrinação cristã, elementos de agricultura e economia doméstica”.

Dá-se igualmente conta das alterações do sistema educativo na I República e na Ditadura Nacional, e assim se chega aos anos mais recentes já na década de 1960, onde se lê o seguinte:
“No ano lectivo de 1964/65 havia 123 escolas primárias, com 188 professores para 11.664 alunos, e 33 postos escolares, com 53 professores e 1376 alunos. Em 1965/66 os estabelecimentos oficiais, dispondo de 98 agentes de ensino para 3644 alunos, compreendiam 15 escolas e 22 posto escolares. As missões religiosas ensinaram em 36 escolas primárias e 52 postos escolares, com o total de 147 professores para 9800 alunos. Os números provisórios relativos a 1966/67 indicam a existência de 105 escolas primárias, com 280 professores e 12.105 alunos, e de 52 postos escolares, com 64 professores e 4900 alunos.
Os cursos nocturnos, especialmente para adultos, funcionam nas escolas de Bissau, Bolama, Bafatá, Mansoa, Bissorã, Catió, Farim, Nova Lamego, S. Domingos e Teixeira Pinto, e ainda outras. Fazendo parte do ensino primário, embora estranho ao plano oficial, há a contar (1966/67) com 276 escolas muçulmanas, com 278 professores e 4100 alunos.
Em 1958, dado o aumento da frequência do instituto de ensino liceal, foi a Guiné dotada com o Liceu Honório Barreto, em Bissau, com os três ciclos liceais. Em 1961 criou-se o Serviço Liceal Extraordinário, para adultos, em alas nocturnas. O Liceu Honório Barreto, no ano lectivo de 1966/67, teve 417 alunos, leccionados por 21 professores.
Quanto ao ensino técnico-profissional, em 1958, tinha sido instituída em Bissau uma escola técnica elementar, como um primeiro passo para a criação de estudos mais desenvolvidos. Aquela escola foi convertida, no ano seguinte, na Escola Industrial e Comercial. Em Dezembro de 1966, tinha 30 professores e 643 alunos.
Para a formação de quadros dos serviços públicos contava-se em 1966/67, com dois institutos (Correio e Telecomunicações, e Obras Públicas) com 6 professores e 26 alunos”.

Passando para a saúde e assistência, o Regulamento dos Serviços de Saúde e Assistência da Guiné, publicado em 1966, estipula a missão destes serviços: promover a defesa e proteção da saúde das populações, incluindo a prevenção e combate das doenças endémicas e epidémicas; estabelecer normas de salubridade urbana, rural, habitacional, de higiene de trabalho e das indústrias; promover o saneamento do território da Província; manter-se sempre atualizado o estudo das necessidades efetivas de assistência sanitária contra os grandes flagelos sociais e as endemias.

A rede sanitária incluía o Hospital Central de Bissau, 3 hospitais regionais, 6 hospitais rurais, 10 delegacias de saúde, 53 postos de saúde, 10 maternidades regionais nas sedes das delegacias de saúde e outras 12 maternidades rurais.
O Hospital Central de Bissau era assim apresentado:
“É um estabelecimento hospitalar e policlínico, com 356 camas, compreendendo, além dos serviços de medicina e cirurgia geral, as especialidades de pediatria, obstetrícia, oftalmologia, estomatologia, neurologia e psiquiatria, traumatologia e ortopedia, dermatologia e os serviços auxiliares de terapêutica e diagnóstico (de análises clínicas, anatomia patológica, anestesiologia, hemoterapia, radiologia, fisioterapia e dietética). Neste hospital são atendidos e tratados não só os doentes de toda a área do concelho de Bissau como também os doentes evacuados dos centros de saúde que não disponham de serviços especializados. O sempre crescente afluxo de doentes que se vem registando nas diferentes formações sanitárias determinou importantes obras de ampliação e adaptação no Hospital Central de Bissau, que conta hoje com dois blocos operatórios, uma enfermaria reservados exclusivamente a pediatria, encontrando-se em construção novos blocos de enfermarias e uma moderníssima cozinha”.

O documento da Agência Geral do Ultramar carateriza os hospitais regionais e os hospitais rurais, alude ao combate à tuberculose, às brigadas de radiorrastreio, à Missão de Combate às Tripanossomíases, bem como o combate à doença do sono.

Também se contextualiza a atividade missionária, recordando a elevação à categoria de prefeitura apostólica em abril de 1955, com sede em Bissau, compreendendo os três arciprestados de Bissau, Cumura e Bafatá, confiados, respetivamente, aos missionários franciscanos portugueses, padres franciscanos da província de Veneza e missionários do Instituto das Missões Estrangeiras de Milão. Em 1964, havia na prefeitura 22 sacerdotes, 9 irmãos auxiliares e 18 irmãs religiosas. As Irmãs, Hospitaleiras de Nossa Senhora da Conceição, trabalham no Asilo e Creche de Bor, no Hospital Central de Bissau e no Internato Feminino de Bafatá. No censo de 1960, havia cerca de 26 mil católicos e 8 mil catecúmenos.

As missões protestantes na Guiné eram Evangélicas e situavam-se em Bissau, Bissau Novo, Biombo, Bissorã, Teixeira Pinto e Orango. Também segundo o censo, os islamizados, principalmente Mandingas e Fulas, orçavam pelos 182 mil.
E escreve-se:
“Note-se que o avanço do islamismo na Guiné não se fez de uma maneira contínua, mas antes por períodos de expansão seguidos de outros de recuo. A ocupação europeia veio favorecer consideravelmente esse avanço.
A dispersão do islamismo encontra-se ligada ao sistema de confrarias (na Guiné Portuguesa, a dos Cadiriya e a dos Tidjaniya) derivadas do rito malequita. As confrarias são dirigidas por grão-mestres (cheiques), que detêm a emanação da santidade (baraca), sendo muito hierarquizadas. À volta delas gravitam os operadores de milagres, curandeiros, místicos ou iluminados (marabus) ”.


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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20245: Historiografia da presença portuguesa em África (180): “Duas descrições seiscentistas da Guiné”, de Francisco Lemos Coelho, introdução a anotações históricas por Damião Peres, Academia Portuguesa de História, 1953 (4) (Mário Beja Santos)