1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 13 de Janeiro de 2011:
Amigo Carlos,
Aqui seguem,com um grande abraço, mais quatro sextilhas para "QUISERA".
QUISERA EU... (10)
Quisera ter poderes de tribunal,
a força de mandado judicial,
julgar nojentos crimes do pós-guerra.
Descolonizador sentar no "mocho",
quer fosse branco, preto ou até roxo,
culpado dos massacres de nhô terra...
Quisera ver Guiné desenvolvida
com hospitais, escolas, outra vida,
erradicada a fome e a doença...
Quisera ver os braços ocupados
nas fábricas, no campo, atarefados
na aposta da mudança, da diferença...
Quisera ver Guinéu bem sorridente,
à cata dum futuro de homem crente
sabendo um amanhã a ter lugar...
Está cerecido o mundo de mudança,
é tempo de chamar certeza à esp`rança,
suster a incompetência a governar...
Aviso também, visa o lusitano
na Ibéria, fácil alvo dum insano
governo d`incapazes, carreiristas...
Há urgência na mudança dos comandos,
p`ra ver chegar o fim destes desmandos,
d`ineptos e de vis oportunistas...
MM
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7617: Blogpoesia (108): HERÓIS e heróis (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 5 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7383: Blogpoesia (93): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (9) (Manuel Maia)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
domingo, 5 de dezembro de 2010
Guiné 63/74 - P7383: Blogpoesia (93): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (9) (Manuel Maia)
1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 2 de Dezembro de 2010:
Carlos,
Aqui seguem mais meia dúzia de sextilhas relacionadas com o tema supracitado.
Abraço
manuelmaia
QUISERA EU... (9)
Quisera ter de um vate o saber, veia,
p`ra enaltecer a bela epopeia,
por terras da Guiné, da tropa lusa...
Criar venustos versos de eloquência,
cantando a paz, o fim à violência,
bebendo ensinamentos de uma musa...
A guerra também foi tempos de paz,
de são convívio, que a amizade traz,
tu cá tu lá, com africanas gentes...
A "guerra" foi solidariedade,
apoio dado em hora de verdade,
nas áreas em que mais eram carentes...
A "guerra" foi ensino e foi saúde,
comida e protecção dada amiúde,
a "guerra" foi um raio de esperança...
Protagonistas lembram com saudade,
o clima, o cheiro, as gentes, a amizade,
prazer de ver sorriso de criança...
Mau grado horrores, medos, sofrimento,
a guerra também deu conhecimento
a quantos nela um dia se embrenharam...
Foi ela a permitir-me conhecer
paisagens belas, lindas de morrer,
que os olhos regalados registaram...
Que em ritual de vida se consagre,
o renascer diário, qual milagre,
trazido pela aurora da manhã...
A sinfonia alegre inigualável,
trinado, pio, grito admirável,
nas margens junto ao rio Cumbidjã...
Enquanto o lindo ocaso multicor,
soltando últimos bafos de calor,
não fechar ciclo vida, um`outra vez...
Em sincronia, as aves estão bailando
e os símios, galho em galho ali saltando,
na mata desse belo Cantanhez...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7374: Blogpoesia (91): Peregrinação (Manuel Maia) (3): Cabo Miliciano, o eterno explorado
Vd. último poste da série Quisera eu... de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7263: Blogpoesia (85): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (8) (Manuel Maia)
Vd. último poste da série Blogpoesia de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7380: Blogpoesia (92): Sinfonia (Felismina Costa)
Carlos,
Aqui seguem mais meia dúzia de sextilhas relacionadas com o tema supracitado.
Abraço
manuelmaia
QUISERA EU... (9)
Quisera ter de um vate o saber, veia,
p`ra enaltecer a bela epopeia,
por terras da Guiné, da tropa lusa...
Criar venustos versos de eloquência,
cantando a paz, o fim à violência,
bebendo ensinamentos de uma musa...
A guerra também foi tempos de paz,
de são convívio, que a amizade traz,
tu cá tu lá, com africanas gentes...
A "guerra" foi solidariedade,
apoio dado em hora de verdade,
nas áreas em que mais eram carentes...
A "guerra" foi ensino e foi saúde,
comida e protecção dada amiúde,
a "guerra" foi um raio de esperança...
Protagonistas lembram com saudade,
o clima, o cheiro, as gentes, a amizade,
prazer de ver sorriso de criança...
Mau grado horrores, medos, sofrimento,
a guerra também deu conhecimento
a quantos nela um dia se embrenharam...
Foi ela a permitir-me conhecer
paisagens belas, lindas de morrer,
que os olhos regalados registaram...
Que em ritual de vida se consagre,
o renascer diário, qual milagre,
trazido pela aurora da manhã...
A sinfonia alegre inigualável,
trinado, pio, grito admirável,
nas margens junto ao rio Cumbidjã...
Enquanto o lindo ocaso multicor,
soltando últimos bafos de calor,
não fechar ciclo vida, um`outra vez...
Em sincronia, as aves estão bailando
e os símios, galho em galho ali saltando,
na mata desse belo Cantanhez...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7374: Blogpoesia (91): Peregrinação (Manuel Maia) (3): Cabo Miliciano, o eterno explorado
Vd. último poste da série Quisera eu... de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7263: Blogpoesia (85): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (8) (Manuel Maia)
Vd. último poste da série Blogpoesia de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7380: Blogpoesia (92): Sinfonia (Felismina Costa)
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Guiné 63/74 - P7263: Blogpoesia (85): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (8) (Manuel Maia)
QUISERA EU... (8)
Por Manuel Maia*
Quisera ter regresso à mocidade,
e ver com outros olhos realidade,
do mundo de mudanças tão tardias...
Quisera analisar com atenção
a fauna e flora belas, mesmo à mão,
sem medos nem cautelas doentias...
Quisera na Guiné ver finalmente,
projecto dum futuro bem presente,
rasgando, par em par, os horizontes...
Aposta no Turismo e Agricultura,
transformaria a míngua em fartura,
servindo `inda outras áreas como pontes...
Quisera no país ver um processo,
capaz e retumbante de sucesso,
motor de arranque a impor o tal sistema...
Turismo e Agricultura, já vos disse,
assim mundo quisesse e permitisse
Guinéu viver aspiração suprema...
Já chega de intestinas vãs disputas,
de caos, destruição, fraternas lutas,
espaço à intolerância é já nenhum...
P`la guerra hipotecado não avança...
país que se quer rumo à abastança
carece sim de opção p`lo bem comum...
E essa opção aponta um só sentido
o dar de mãos, fazer país unido,
gerir, correctamente, a aposta certa...
Na Educação, sucesso a base assenta,
com formação, processo se apresenta,
e um novo sentimento então desperta...
É urgente, é necessário e expectável,
premente, obrigatório, indispensável,
o acordar dum povo adormecido...
A instrução e o pão, fundamentais,
(a insistência aqui nunca é demais...)
impondo ao dirigente, o dirigido...
Quisera cumprir sonho que acalento
p`ra estar lá no Saltinho o tal momento,
de ver apregoado macaréu...
Perder-me em pensamento no remanso,
das águas de bolanha no descanso,
olhar as aves, contemplar o céu...
Quisera eu reviver caça à gazela,
em noite bréu ver silhueta bela
escapulir por entre o arvoredo...
Aos tiros disparados pelo Ginja,
sem que nenhum sequer a peça atinja,
seguiu-se a angústia, a dúvida, o medo...
A zona era onde o IN circulava,
a cada vez que a tropa atacava,
flagelação intensa, intimidante...
naquele dia a sorte foi presente,
p`raquela meia dúzia "inconsciente",
alferes, sargentos, mesmo o comandante...
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. poste de 18 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6868: Blogpoesia (80): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (7) (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7242: Blogpoesia (84): Por vezes... Regresso lá (Juvenal Amado)
Por Manuel Maia*
Quisera ter regresso à mocidade,
e ver com outros olhos realidade,
do mundo de mudanças tão tardias...
Quisera analisar com atenção
a fauna e flora belas, mesmo à mão,
sem medos nem cautelas doentias...
Quisera na Guiné ver finalmente,
projecto dum futuro bem presente,
rasgando, par em par, os horizontes...
Aposta no Turismo e Agricultura,
transformaria a míngua em fartura,
servindo `inda outras áreas como pontes...
Quisera no país ver um processo,
capaz e retumbante de sucesso,
motor de arranque a impor o tal sistema...
Turismo e Agricultura, já vos disse,
assim mundo quisesse e permitisse
Guinéu viver aspiração suprema...
Já chega de intestinas vãs disputas,
de caos, destruição, fraternas lutas,
espaço à intolerância é já nenhum...
P`la guerra hipotecado não avança...
país que se quer rumo à abastança
carece sim de opção p`lo bem comum...
E essa opção aponta um só sentido
o dar de mãos, fazer país unido,
gerir, correctamente, a aposta certa...
Na Educação, sucesso a base assenta,
com formação, processo se apresenta,
e um novo sentimento então desperta...
É urgente, é necessário e expectável,
premente, obrigatório, indispensável,
o acordar dum povo adormecido...
A instrução e o pão, fundamentais,
(a insistência aqui nunca é demais...)
impondo ao dirigente, o dirigido...
Quisera cumprir sonho que acalento
p`ra estar lá no Saltinho o tal momento,
de ver apregoado macaréu...
Perder-me em pensamento no remanso,
das águas de bolanha no descanso,
olhar as aves, contemplar o céu...
Quisera eu reviver caça à gazela,
em noite bréu ver silhueta bela
escapulir por entre o arvoredo...
Aos tiros disparados pelo Ginja,
sem que nenhum sequer a peça atinja,
seguiu-se a angústia, a dúvida, o medo...
A zona era onde o IN circulava,
a cada vez que a tropa atacava,
flagelação intensa, intimidante...
naquele dia a sorte foi presente,
p`raquela meia dúzia "inconsciente",
alferes, sargentos, mesmo o comandante...
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. poste de 18 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6868: Blogpoesia (80): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (7) (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7242: Blogpoesia (84): Por vezes... Regresso lá (Juvenal Amado)
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Guiné 63/74 - P6868: Blogpoesia (80): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (7) (Manuel Maia)
QUISERA EU... (7)
por Manuel Maia*
Vi matadores e mortos perfilarem
e um estranho ritual iniciarem,
psicostasia egípcia, surreal...
Vi mortos reclamarem por justiça
gritando o envolvimento nessa liça
de ver "pesagem d´alma", enquanto tal...
Em Haia, vi sentar no tribunal,
culpados do imenso lodaçal,
descolonização dita exemplar...
De um lado militares de alta patente,
do outro, onde a vergonha é sempre ausente,
a corja da política a julgar...
Vermelhos almirantes, generais,
ignóbeis vis farsantes, amorais,
capazes das vilezas mais horrendas...
Rasgando acordos dão a uma facção
poder e armamento em profusão,
gerando e fomentando mais contendas...
Milhares serão os mortos nessas terras,
agora fruto d`intestinas guerras,
riquezas mil havia p`ra sugar...
Envoltos no negócio d`armamento,
ligados com o tráfico nojento,
alguns de alta patente militar...
Sabendo d`asquerosa conexão,
ministro da defesa da nação,
prepara dossier denunciador...
O gesto foi sabido p`la escumalha,
que célere contrata um vil canalha,
do crime enorme expert sabotador...
Atrasa Boeing/Tap a descolagem,
que "empurra" chefe AD para viagem
no Cessna sabotado no hangar...
Ministro da defesa e Sá Carneiro,
sucumbem na explosão deste "ligeiro"
mais quatro a quem a morte foi buscar...
Urdida e bem montada a ratoeira,
ao povo é atirada então poeira,
com comissões d`inquérito à rajada...
A Yard enviou o criminoso,
P.J.soltou logo o "mafioso",
não fosse ele implicar a canalhada...
De crocodilo as lágrimas vertidas,
politiqueira corja, mal fingidas,
palavras de pesar, soltou então...
Da guerra alguma tropa já arredia,
juntara-se à escumalha que queria
avolumar nos bancos seu cifrão...
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. poste de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6860: (Ex)citações (91): A Guerra Colonial, todos querem ser heróis (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 8 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6837: Blogpoesia (79): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (6) (Manuel Maia)
por Manuel Maia*
Vi matadores e mortos perfilarem
e um estranho ritual iniciarem,
psicostasia egípcia, surreal...
Vi mortos reclamarem por justiça
gritando o envolvimento nessa liça
de ver "pesagem d´alma", enquanto tal...
Em Haia, vi sentar no tribunal,
culpados do imenso lodaçal,
descolonização dita exemplar...
De um lado militares de alta patente,
do outro, onde a vergonha é sempre ausente,
a corja da política a julgar...
Vermelhos almirantes, generais,
ignóbeis vis farsantes, amorais,
capazes das vilezas mais horrendas...
Rasgando acordos dão a uma facção
poder e armamento em profusão,
gerando e fomentando mais contendas...
Milhares serão os mortos nessas terras,
agora fruto d`intestinas guerras,
riquezas mil havia p`ra sugar...
Envoltos no negócio d`armamento,
ligados com o tráfico nojento,
alguns de alta patente militar...
Sabendo d`asquerosa conexão,
ministro da defesa da nação,
prepara dossier denunciador...
O gesto foi sabido p`la escumalha,
que célere contrata um vil canalha,
do crime enorme expert sabotador...
Atrasa Boeing/Tap a descolagem,
que "empurra" chefe AD para viagem
no Cessna sabotado no hangar...
Ministro da defesa e Sá Carneiro,
sucumbem na explosão deste "ligeiro"
mais quatro a quem a morte foi buscar...
Urdida e bem montada a ratoeira,
ao povo é atirada então poeira,
com comissões d`inquérito à rajada...
A Yard enviou o criminoso,
P.J.soltou logo o "mafioso",
não fosse ele implicar a canalhada...
De crocodilo as lágrimas vertidas,
politiqueira corja, mal fingidas,
palavras de pesar, soltou então...
Da guerra alguma tropa já arredia,
juntara-se à escumalha que queria
avolumar nos bancos seu cifrão...
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. poste de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6860: (Ex)citações (91): A Guerra Colonial, todos querem ser heróis (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 8 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6837: Blogpoesia (79): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (6) (Manuel Maia)
domingo, 8 de agosto de 2010
Guiné 63/74 - P6837: Blogpoesia (79): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (6) (Manuel Maia)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 6 de Agosto de 2010:
Caro Carlos,
Com um abraço amigo, envio mais umas oito sextilhas que reflectem o meu estado de espírito depois de um sonho bom.
Se entenderes por bem, edita na segunda-feira ou até domingo (sei que estás a juntar o dinheiro das horas extras deste trabalho (onde ganhas que te fartas...) para comprares um avião que nos leve a todos de volta à Guiné.
Em duas viagens, iremos todos.
Manuel Maia
QUISERA EU... (6)
Um dia, tive um sonho emocionante,
cerrando breve os olhos, curto instante,
qual flash fotográfico a reter...
Vi silos, vi tractores, placas solares,
artesianos furos, luz nos lares,
e muitas outras coisas a saber...
Vi pratos, vi talheres, toalhas, pão,
panelas cozinhando num fogão,
vi camas, vi colchões, casas de banho...
Vi redes, aparelhos, anzóis, corda,
vi barcos com motores fora de borda,
vi peixe já na fase do amanho...
Vi arcas frigoríficas, conserva,
vi peixe ser guardado p`ra reserva,
vi caça, dìgual modo ser tratada...
Vi hortas tão bonitas de viçosas,
vi gentes radiantes e formosas,
vi fácies de alegria bem estampada...
Vi feiras, armazéns, lojas do povo,
de artigos recheadas, como um ovo,
vi gentes a comprar e a vender...
Vi roupas e calçado em profusão,
nos corpos e nos pés do nosso irmão,
Guinéu, já tão cansado de sofrer...
Vi risos de criança rumo à escola,
os livros e a bola na sacola,
às costas pela alça pendurada...
Cantina para todos é paragem,
crescidos e também a miudagem,
que ali faz refeição equilibrada...
Vi gente trabalhando em suas terras,
liberta dos terrores, medos das guerras,
na usina ensaiando ocupação...
Vi braços já treinados em mesteres,
ignotos para homens e mulheres,
até servirem como ganha pão...
Vi olhos curiosos, perscrutantes,
de saber ansiosos, indagantes,
à cata do que é novo, que absorvem...
Vi gente mãos vazias, resignada,
com pressa de ver dias de abalada
no seu livro da vida, caos, desordem...
Quem espera desespera, diz ditado,
e o tempo dessa espera está esgotado,
sei bem, na afirmação nada é já novo...
Insensatez, supera o razoável,
estupidez opera o impensável,
nas lutas p`lo poder, quem perde é o povo...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6819: Blogpoesia (78): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (5) (Manuel Maia)
Caro Carlos,
Com um abraço amigo, envio mais umas oito sextilhas que reflectem o meu estado de espírito depois de um sonho bom.
Se entenderes por bem, edita na segunda-feira ou até domingo (sei que estás a juntar o dinheiro das horas extras deste trabalho (onde ganhas que te fartas...) para comprares um avião que nos leve a todos de volta à Guiné.
Em duas viagens, iremos todos.
Manuel Maia
QUISERA EU... (6)
Um dia, tive um sonho emocionante,
cerrando breve os olhos, curto instante,
qual flash fotográfico a reter...
Vi silos, vi tractores, placas solares,
artesianos furos, luz nos lares,
e muitas outras coisas a saber...
Vi pratos, vi talheres, toalhas, pão,
panelas cozinhando num fogão,
vi camas, vi colchões, casas de banho...
Vi redes, aparelhos, anzóis, corda,
vi barcos com motores fora de borda,
vi peixe já na fase do amanho...
Vi arcas frigoríficas, conserva,
vi peixe ser guardado p`ra reserva,
vi caça, dìgual modo ser tratada...
Vi hortas tão bonitas de viçosas,
vi gentes radiantes e formosas,
vi fácies de alegria bem estampada...
Vi feiras, armazéns, lojas do povo,
de artigos recheadas, como um ovo,
vi gentes a comprar e a vender...
Vi roupas e calçado em profusão,
nos corpos e nos pés do nosso irmão,
Guinéu, já tão cansado de sofrer...
Vi risos de criança rumo à escola,
os livros e a bola na sacola,
às costas pela alça pendurada...
Cantina para todos é paragem,
crescidos e também a miudagem,
que ali faz refeição equilibrada...
Vi gente trabalhando em suas terras,
liberta dos terrores, medos das guerras,
na usina ensaiando ocupação...
Vi braços já treinados em mesteres,
ignotos para homens e mulheres,
até servirem como ganha pão...
Vi olhos curiosos, perscrutantes,
de saber ansiosos, indagantes,
à cata do que é novo, que absorvem...
Vi gente mãos vazias, resignada,
com pressa de ver dias de abalada
no seu livro da vida, caos, desordem...
Quem espera desespera, diz ditado,
e o tempo dessa espera está esgotado,
sei bem, na afirmação nada é já novo...
Insensatez, supera o razoável,
estupidez opera o impensável,
nas lutas p`lo poder, quem perde é o povo...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6819: Blogpoesia (78): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (5) (Manuel Maia)
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Guiné 63/74 - P6819: Blogpoesia (78): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (5) (Manuel Maia)
1. Do nosso camarada Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74, mais um poema da série Quisera eu..., enviado em mensagem do dia 30 de Julho de 2010.
QUISERA EU... (5)
Quisera à terra eu ver suas entranhas,
em campos bem tratados por gadanhas,
tractores, boas enxadas, laborando...
Quisera eu ver searas feitas pão,
centeio, trigo, milho, neste chão
parado, improdutivo,descansando...
Quisera ver espelhado na criança,
sorriso reflector de uma mudança,
sem vítreos olhos, ventres dilatados...
Quisera ver na escola a refeição,
perpetuar-se em uso, pois então
melhores serão, por certo, os resultados...
Quisera ter de artista a mão sagrada
que grava, que regista, imaculada,
a imagem que da alma traz a esp`rança...
Quisera p`ra Guiné ter garantia,
de um deus, Eolo ou Zeus, que um qualquer dia
trocasse a tempestade p`la bonança...
Quisera ver feliz aquele povo
acreditando, firme, em mudo novo,
na senda do sucesso feito paz...
Quisera ver progresso, ali à porta,
entrando, sem bater, porque o que importa
é férrea vontade e ser audaz...
Nascido sob a sina do azar
sofrido por contínuo penar,
rendido à malapata do destino...
Guinéu, povo credor do meu respeito,
às malhas da desdita, sempre atreito,
carece de amor próprio, intestino...
Num espatulado pau, ponta é rasgada,
p`ra atar lata/conserva, bem espalmada,
e conseguir alfaia artesanal...
Cingida ao pano, às costas, traz criança,
mulher sustento activo da morança,
em sociedade arcaica, algo imoral...
A "enxada" da Balanta evidencia,
que a terra que esta "alfaia" acaricia,
é fácil de domar e generosa...
Se houvera um bom tractor como instrumento,
melhor seria a safra e o sustento,
erradicando a fome, indecorosa...
Se eu fosse o deus Plutão, rei dos infernos,
com Júpiter, Saturno, bem fraternos,
familiares laços me ligando...
Às chamas condenava alguns algozes,
carrascos deste povo, tão ferozes,
tão logo a "foice" os fosse "libertando"...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 > P6804: Blogpoesia (77): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (4) (Manuel Maia)
QUISERA EU... (5)
Quisera à terra eu ver suas entranhas,
em campos bem tratados por gadanhas,
tractores, boas enxadas, laborando...
Quisera eu ver searas feitas pão,
centeio, trigo, milho, neste chão
parado, improdutivo,descansando...
Quisera ver espelhado na criança,
sorriso reflector de uma mudança,
sem vítreos olhos, ventres dilatados...
Quisera ver na escola a refeição,
perpetuar-se em uso, pois então
melhores serão, por certo, os resultados...
Quisera ter de artista a mão sagrada
que grava, que regista, imaculada,
a imagem que da alma traz a esp`rança...
Quisera p`ra Guiné ter garantia,
de um deus, Eolo ou Zeus, que um qualquer dia
trocasse a tempestade p`la bonança...
Quisera ver feliz aquele povo
acreditando, firme, em mudo novo,
na senda do sucesso feito paz...
Quisera ver progresso, ali à porta,
entrando, sem bater, porque o que importa
é férrea vontade e ser audaz...
Nascido sob a sina do azar
sofrido por contínuo penar,
rendido à malapata do destino...
Guinéu, povo credor do meu respeito,
às malhas da desdita, sempre atreito,
carece de amor próprio, intestino...
Num espatulado pau, ponta é rasgada,
p`ra atar lata/conserva, bem espalmada,
e conseguir alfaia artesanal...
Cingida ao pano, às costas, traz criança,
mulher sustento activo da morança,
em sociedade arcaica, algo imoral...
A "enxada" da Balanta evidencia,
que a terra que esta "alfaia" acaricia,
é fácil de domar e generosa...
Se houvera um bom tractor como instrumento,
melhor seria a safra e o sustento,
erradicando a fome, indecorosa...
Se eu fosse o deus Plutão, rei dos infernos,
com Júpiter, Saturno, bem fraternos,
familiares laços me ligando...
Às chamas condenava alguns algozes,
carrascos deste povo, tão ferozes,
tão logo a "foice" os fosse "libertando"...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 > P6804: Blogpoesia (77): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (4) (Manuel Maia)
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Guiné 63/74 - P6804: Blogpoesia (77): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (4) (Manuel Maia)
QUISERA EU... (4)
Quisera eu prolongar minha experiência,
poder lá retomar velha vivência,
um mês que fosse a respirar seu ar...
Mirar bolanha/vida tão intensa,
e vislumbrar lá longe a mata densa,
que acobertava o IN p´ra atacar...
Queimado por comandos,se renova,
telhado das moranças, palha nova,
desesperança ali não faz escola...
A cada punição realizada,
renovam intenção consolidada,
e outra operação se desenrola...
Espreitar Cafal, mirar seu laranjal,
rever local da absurda e surreal
vivência feita lar, em covas nuas...
Mostrar ao "grande herói", tão afamado,
anota Bruno, AB, que o "tal farpado",
apenas protegia as costas suas...
Lá longe no bem-bom da vida calma,
da cama limpa, "um aconchego d`alma",
Bissau do luxo e ar condicionado...
"Negreiro a quem os homens corajosos,
comandos africanos, mui briosos,
garantem o seu dólmen medalhado...
Que um pingo de vergonha `inda lhe sobre,
p`ra ter na vida um gesto, digno, nobre,
de retratar-se ìnda antes de morrer...
P´ra instituição à qual está agregado
a honra e dignidade são legado,
que o berço desenvolve e faz crescer...
Quisera sentar junto ao Cumbidjã,
no cais improvisado, p`la manhã,
que a pescaria cedo "é de bom tom"...
Sentir peixe picar, algo emotivo,
sem medo de ali estar, é positivo,
relaxa, acalma a alma, é um sonho bom...
Tomar, sob a caleira a chuva fria,
p´ra eliminar coceira, que arrelia,
foi prática antilíquen, Deus me acuda...
Banhar, sem enxugar, corpo dorido,
melhor seria o mar, é bem sabido,
à falta de melhor, a chuva ajuda...
Quisera ter de um Deus toda a sageza,
p`ra recriar um Éden de beleza,
que ali me inspiraria p`ra fazer...
Viçosos seus mangueiros e arrozais,
frondosos cajueiros, palmeirais,
bajudas, corpos lindos de morrer...
Manuel Maia*
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)
Quisera eu prolongar minha experiência,
poder lá retomar velha vivência,
um mês que fosse a respirar seu ar...
Mirar bolanha/vida tão intensa,
e vislumbrar lá longe a mata densa,
que acobertava o IN p´ra atacar...
Queimado por comandos,se renova,
telhado das moranças, palha nova,
desesperança ali não faz escola...
A cada punição realizada,
renovam intenção consolidada,
e outra operação se desenrola...
Espreitar Cafal, mirar seu laranjal,
rever local da absurda e surreal
vivência feita lar, em covas nuas...
Mostrar ao "grande herói", tão afamado,
anota Bruno, AB, que o "tal farpado",
apenas protegia as costas suas...
Lá longe no bem-bom da vida calma,
da cama limpa, "um aconchego d`alma",
Bissau do luxo e ar condicionado...
"Negreiro a quem os homens corajosos,
comandos africanos, mui briosos,
garantem o seu dólmen medalhado...
Que um pingo de vergonha `inda lhe sobre,
p`ra ter na vida um gesto, digno, nobre,
de retratar-se ìnda antes de morrer...
P´ra instituição à qual está agregado
a honra e dignidade são legado,
que o berço desenvolve e faz crescer...
Quisera sentar junto ao Cumbidjã,
no cais improvisado, p`la manhã,
que a pescaria cedo "é de bom tom"...
Sentir peixe picar, algo emotivo,
sem medo de ali estar, é positivo,
relaxa, acalma a alma, é um sonho bom...
Tomar, sob a caleira a chuva fria,
p´ra eliminar coceira, que arrelia,
foi prática antilíquen, Deus me acuda...
Banhar, sem enxugar, corpo dorido,
melhor seria o mar, é bem sabido,
à falta de melhor, a chuva ajuda...
Quisera ter de um Deus toda a sageza,
p`ra recriar um Éden de beleza,
que ali me inspiraria p`ra fazer...
Viçosos seus mangueiros e arrozais,
frondosos cajueiros, palmeirais,
bajudas, corpos lindos de morrer...
Manuel Maia*
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Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)
QUISERA EU... (3)
por Manuel Maia*
Quisera um tempo breve em permanência,
viver de novo agora a experiência
que a guerra me impediu de "enriquecer"...
Ouvir as gentes, conhecer saberes,
fruir dos gastronómicos prazeres
das étnias várias conhecer...
Com horizontes muito limitados,
apenas com balantas vivenciados,
mau grado "mil locais de permanência"...
A sede, de saber de outras gentes,
de povos, de culturas tão diferentes,
impele-me à viagem com urgência...
Quisera ver o sonho realidade,
vivido com a força, intensidade,
dos tempos d`outro tempo, aqui vos digo...
Quisera um nome dar a esta ideia
de achar para a Guiné a panaceia,
p`rós males de que enferma, qual castigo.
Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança...
Nos centros de abastança e vida estável,
sorriso de criança é inigualável,
qual dom do céu, dos deuses um presente.
No mundo da africana condição,
da fome, da doença, sem ter pão,
dos rostos, essa imagem está ausente...
Quisera ter poderes p`ra libertar,
da malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p`ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...
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Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. postes da série de:
14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
e
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)
por Manuel Maia*
Quisera um tempo breve em permanência,
viver de novo agora a experiência
que a guerra me impediu de "enriquecer"...
Ouvir as gentes, conhecer saberes,
fruir dos gastronómicos prazeres
das étnias várias conhecer...
Com horizontes muito limitados,
apenas com balantas vivenciados,
mau grado "mil locais de permanência"...
A sede, de saber de outras gentes,
de povos, de culturas tão diferentes,
impele-me à viagem com urgência...
Quisera ver o sonho realidade,
vivido com a força, intensidade,
dos tempos d`outro tempo, aqui vos digo...
Quisera um nome dar a esta ideia
de achar para a Guiné a panaceia,
p`rós males de que enferma, qual castigo.
Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança...
Nos centros de abastança e vida estável,
sorriso de criança é inigualável,
qual dom do céu, dos deuses um presente.
No mundo da africana condição,
da fome, da doença, sem ter pão,
dos rostos, essa imagem está ausente...
Quisera ter poderes p`ra libertar,
da malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p`ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...
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Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. postes da série de:
14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
e
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)
QUISERA EU... (2)
por Manuel Maia*
Quisera eu ver as aves aos milhares,
esvoaçando em nuvens, nesses ares,
mal dia amanhecia, em frenesim.
Auroras, fontes luz de amanhecer,
ocasos quentes lindos de morrer,
nos dias de sossego de Fatim...
Fatim, das Quintas, Sábados, Segundas,
de peitos espetados, rijas bundas,
bajudas lavadeiras do quartel.
Fatim das noites longas, feitas jogo,
gargantas ressequidas pelo fogo
e fumo dos cigarros a granel...
Tainadas cabra, porco ou cabritinho,
regadas a cerveja ou melhor vinho,
que o "canforado" e militar ruim...
Por vezes, frita a gosto, a pardalada,
batata, pouca, mista era a salada,
no "Gourmet Michelin" lá de Fatim...
Quisera aquela terra ver de novo,
revisitar lugares,rever seu povo,
sentir o cheiro d`África profundo.
Quisera estar à sombra do mangueiro,
colher à mão o fruto ao cajueiro,
e ser parte integrante desse mundo...
Quisera ter a força da mudança
que trava o desespero e abre a esp`rança,
p`ra suspender tamanho desatino.
Guiné, hoje é central do ilegal,
da droga plataforma mundial,
em clara oposição ao seu destino...
P`ra esse antigo espaço lusitano,
traçado pelos deuses, há um plano,
de paraíso pleno para o homem.
Turismo pode ser caminho certo,
se usado bem, e sê-lo-á, decerto,
urgente é pois que a paz, cedo retomem...
Quisera eu ver milícias de Bissum,
acaso a vida preservasse algum,
tão monstruoso crime ali se fez...
Fuzilamento foi a arma usada,
contra a milícia e mesmo a garotada
ante um silêncio/nojo, português...
Quisera um dia eu voltar ali,
sentir e recordar onde vivi,
por terras de Bissum e de Fatim.
Descer até ao sul p`ro Cantanhez,
mirar Cafal, Cafine, um`outra vez,
`inda`ntes de chegar meu tempo ao fim...
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. primeiro poste da série de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogpoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
por Manuel Maia*
Quisera eu ver as aves aos milhares,
esvoaçando em nuvens, nesses ares,
mal dia amanhecia, em frenesim.
Auroras, fontes luz de amanhecer,
ocasos quentes lindos de morrer,
nos dias de sossego de Fatim...
Fatim, das Quintas, Sábados, Segundas,
de peitos espetados, rijas bundas,
bajudas lavadeiras do quartel.
Fatim das noites longas, feitas jogo,
gargantas ressequidas pelo fogo
e fumo dos cigarros a granel...
Tainadas cabra, porco ou cabritinho,
regadas a cerveja ou melhor vinho,
que o "canforado" e militar ruim...
Por vezes, frita a gosto, a pardalada,
batata, pouca, mista era a salada,
no "Gourmet Michelin" lá de Fatim...
Quisera aquela terra ver de novo,
revisitar lugares,rever seu povo,
sentir o cheiro d`África profundo.
Quisera estar à sombra do mangueiro,
colher à mão o fruto ao cajueiro,
e ser parte integrante desse mundo...
Quisera ter a força da mudança
que trava o desespero e abre a esp`rança,
p`ra suspender tamanho desatino.
Guiné, hoje é central do ilegal,
da droga plataforma mundial,
em clara oposição ao seu destino...
P`ra esse antigo espaço lusitano,
traçado pelos deuses, há um plano,
de paraíso pleno para o homem.
Turismo pode ser caminho certo,
se usado bem, e sê-lo-á, decerto,
urgente é pois que a paz, cedo retomem...
Quisera eu ver milícias de Bissum,
acaso a vida preservasse algum,
tão monstruoso crime ali se fez...
Fuzilamento foi a arma usada,
contra a milícia e mesmo a garotada
ante um silêncio/nojo, português...
Quisera um dia eu voltar ali,
sentir e recordar onde vivi,
por terras de Bissum e de Fatim.
Descer até ao sul p`ro Cantanhez,
mirar Cafal, Cafine, um`outra vez,
`inda`ntes de chegar meu tempo ao fim...
__________
Notas de CV:
(*) Manuel Maia foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.
Vd. primeiro poste da série de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogpoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Guiné 63/74 - P6737: Blogpoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
1. Mensagem de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2010:
Caro Carlos,
Aqui seguem algumas sextilhas que sintetizam as saudades que tantos de nós, senão todos evidenciam...
Se entenderes que são publicáveis, força...
Abraço
manuelmaia
QUISERA EU... (1)
Quisera eu ter na vida amplos suportes
p`ra ver terra à partida "ganha em sortes"
Bissum, no norte, tida de "buraco"...
Mais "vozes do que nozes", felizmente,
o grau de risco dado àquela frente,
perigosa sim por "venerarmos Baco"...
Quisera eu lá voltar antes do fim
da areia da ampulheta que de mim
se escoa em movimento acelerado.
Sentar no baga-baga, protector,
sentir da terra o cheiro e o calor,
fruir tempo de paz agora achado...
Quisera um periquito a vir à mão,
depenicar na fruta, comer grão,
e passeá-lo ao ombro, sem atilho.
Quisera ao Cumbidjã lançar granada,
pescar o que der jeito à caldeirada,
sem medo de hipotético sarilho...
Falar-vos do Morés, do Cantanhez,
correr de lés a lés, tudo outra vez,
Por verdes matos, terra ocre/amarela...
Cruzar o Cumbidjã, o Armada em botes,
palpar bajuda sã, fruir seus dotes,
de um corpo escultural de moça bela...
Quisera eu ter de volta os tempos idos,
calcorrear espaços percorridos,
bolanha, lama, lodo pestilento...
Quisera os vinte anos da loucura
perdidos nesses matos da lonjura,
que evoco de memória, em pensamento...
Quisera ser de novo o furriel,
anti, mas cumpridor do seu papel,
e firme na vontade e no querer...
No palco desta vida atribulada,
tão prenhe de ilusões, cheia de nada,
os anos pesam muito, podem crer...
Descer o Cumbidjã rumo a Cufar,
bem cedo p`la manhã e experimentar,
satisfação, prazer, risco, aventura.
Sentir a brisa fresca ante o "voar",
do barco em lençol d´agua, a chapinar,
num ziguezaguear toda a largura...
Comer um peixe frito com casqueiro,
jogar um king a seco ou a dinheiro,
marcar um golo em jogo de emoção...
Ganhar "subbuteo" em rifa terminal,
testemunhar "fanado", algo "irreal",
e choro/ronco, mesmo ali à mão...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6660: Parabéns a você (127): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6571: Blogpoesia (73): Viva Portugal! (Felismina Costa)
Caro Carlos,
Aqui seguem algumas sextilhas que sintetizam as saudades que tantos de nós, senão todos evidenciam...
Se entenderes que são publicáveis, força...
Abraço
manuelmaia
QUISERA EU... (1)
Quisera eu ter na vida amplos suportes
p`ra ver terra à partida "ganha em sortes"
Bissum, no norte, tida de "buraco"...
Mais "vozes do que nozes", felizmente,
o grau de risco dado àquela frente,
perigosa sim por "venerarmos Baco"...
Quisera eu lá voltar antes do fim
da areia da ampulheta que de mim
se escoa em movimento acelerado.
Sentar no baga-baga, protector,
sentir da terra o cheiro e o calor,
fruir tempo de paz agora achado...
Quisera um periquito a vir à mão,
depenicar na fruta, comer grão,
e passeá-lo ao ombro, sem atilho.
Quisera ao Cumbidjã lançar granada,
pescar o que der jeito à caldeirada,
sem medo de hipotético sarilho...
Falar-vos do Morés, do Cantanhez,
correr de lés a lés, tudo outra vez,
Por verdes matos, terra ocre/amarela...
Cruzar o Cumbidjã, o Armada em botes,
palpar bajuda sã, fruir seus dotes,
de um corpo escultural de moça bela...
Quisera eu ter de volta os tempos idos,
calcorrear espaços percorridos,
bolanha, lama, lodo pestilento...
Quisera os vinte anos da loucura
perdidos nesses matos da lonjura,
que evoco de memória, em pensamento...
Quisera ser de novo o furriel,
anti, mas cumpridor do seu papel,
e firme na vontade e no querer...
No palco desta vida atribulada,
tão prenhe de ilusões, cheia de nada,
os anos pesam muito, podem crer...
Descer o Cumbidjã rumo a Cufar,
bem cedo p`la manhã e experimentar,
satisfação, prazer, risco, aventura.
Sentir a brisa fresca ante o "voar",
do barco em lençol d´agua, a chapinar,
num ziguezaguear toda a largura...
Comer um peixe frito com casqueiro,
jogar um king a seco ou a dinheiro,
marcar um golo em jogo de emoção...
Ganhar "subbuteo" em rifa terminal,
testemunhar "fanado", algo "irreal",
e choro/ronco, mesmo ali à mão...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6660: Parabéns a você (127): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6571: Blogpoesia (73): Viva Portugal! (Felismina Costa)
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