1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 2 de Dezembro de 2010:
Carlos,
Aqui seguem mais meia dúzia de sextilhas relacionadas com o tema supracitado.
Abraço
manuelmaia
QUISERA EU... (9)
Quisera ter de um vate o saber, veia,
p`ra enaltecer a bela epopeia,
por terras da Guiné, da tropa lusa...
Criar venustos versos de eloquência,
cantando a paz, o fim à violência,
bebendo ensinamentos de uma musa...
A guerra também foi tempos de paz,
de são convívio, que a amizade traz,
tu cá tu lá, com africanas gentes...
A "guerra" foi solidariedade,
apoio dado em hora de verdade,
nas áreas em que mais eram carentes...
A "guerra" foi ensino e foi saúde,
comida e protecção dada amiúde,
a "guerra" foi um raio de esperança...
Protagonistas lembram com saudade,
o clima, o cheiro, as gentes, a amizade,
prazer de ver sorriso de criança...
Mau grado horrores, medos, sofrimento,
a guerra também deu conhecimento
a quantos nela um dia se embrenharam...
Foi ela a permitir-me conhecer
paisagens belas, lindas de morrer,
que os olhos regalados registaram...
Que em ritual de vida se consagre,
o renascer diário, qual milagre,
trazido pela aurora da manhã...
A sinfonia alegre inigualável,
trinado, pio, grito admirável,
nas margens junto ao rio Cumbidjã...
Enquanto o lindo ocaso multicor,
soltando últimos bafos de calor,
não fechar ciclo vida, um`outra vez...
Em sincronia, as aves estão bailando
e os símios, galho em galho ali saltando,
na mata desse belo Cantanhez...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7374: Blogpoesia (91): Peregrinação (Manuel Maia) (3): Cabo Miliciano, o eterno explorado
Vd. último poste da série Quisera eu... de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7263: Blogpoesia (85): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (8) (Manuel Maia)
Vd. último poste da série Blogpoesia de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7380: Blogpoesia (92): Sinfonia (Felismina Costa)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Manuel Maia
A tua poesia passa, eu leio e hoje,por esta e pelas outras, esperando mais e mais, mando forte e fraterno abraço T.
Manuel Maia
De novo saltaste para as asas da tua Alma, sobrevoando um itinerário de uma parcela de vida que te marcou no coração. Gosto.
Um grande abraço
Luis Faria
Caro camarigo MMaia
Já faz algum tempo que não comento trabalhos teus.
Não porque não os aprecie, não lhes dê valor, apenas porque há que dar oportunidade a novos apreciadores.
Hoje, no entanto, apetece-me referir a continuidade da excelência da tua poesia, assente nas tuas sextilhas que se leêm com agrado, com ritmo e a fluidez necessária para a boa compreensão do poema e sua mensagem.
Hoje eu li o que entendi ser uma lembrança do passado, da 'guerra guerreira' e 'guerra construtiva', e também da esperança de hoje projectada no futuro, com base dos ecos que nos chegam do Cantanhez.
Continua, amigo Maia!
Um abraço
Hélder S.
Caro Manuel Maia
O povo diz que "sofrer também é viver", e, é sem duvida no sofrimento, que amadurecemos, que somos capazes de avaliar a dor alheia e nos tornamos mais solidários e capazes de dar valor às pequenas grandes coisas que nos cercam:
--Numa palavra--(crescemos)!
No seu poema, que regista um tempo supostamente difícil, o amigo consegue valorizar o ambiente que o cercou, e vai para além, da contenda...
"Mau grado horrores, medos, sofrimento
a guerra também deu conhecimento
a quantos um dia nela se embrenharam...
Foi ela a permitir-me conhecer
paisagens belas, lindas de morrer
que os olhos regalados registaram...)
Fantástico!
O bucolismo... lembrado, de um tempo...de matar e morrer!
São as capacidades do ser humano, as múltiplas capacidades, entre elas as de ser capaz (de encontrar a beleza no meio da destruição), que nos torna, resistentes, crédulos, confiantes... e até... agradecidos!
O meu obrigada pela sua visão de um tempo...do nosso tempo!
Felismina Costa
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