quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7401: A minha CCAÇ 12 (10): O inferno das colunas logísticas Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho, na época das chuvas, 2º semestre de 1969 (Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Coluna logística Bambadinca -Mansambo - Xitole - Saltinho > Viaturas civis passando pelo destacamento da Ponte dos Fulas.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Bambadinca - Xitole > A secção do Humberto Reis, do 2º Gr Comb, deslocando-se num burrinho (Unimog 411).


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > 1969 > Vista aérea do aquartelamento da CART 2339 (1968/69).


Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) > Vista aérea do aquartelamento e povoação do Xitole 





Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole > Efeitos da explosão de uma mina A/C


Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole > Rodado de viatura e ao lado o buraco de uma mina A/C detectada e levantada a tempo.




Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) >  CCAÇ 12 (1969/71 ) > Uma GMC transportando bidões (de água, de areia ou de combustível ?)




Guiné > Zona Leste < Sector L1 (Bambadinca) >  CCAÇ 12 (1969/71 ) > Chegada ao Saltinho.. Ponte Craveiro Lopes sobre o Rio Corubal... O troço de estrada a seguir, para Aldeia Formosa, estava interdita... Na imagem,  em primeiro plano os Fur Mil Reis (Humberto) e Levezinho (Tony)... De costas, o Fur Mil Henriques (L.G.)


Fotos: © Arlindo Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados






Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça [, ex-Fur Mil Henriques, foto à esquerda, na companhia do Sold Cond Auto Dinis Giblot Dalot, na estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole]:




1. Dizem que há dias de sorte: na vida, na guerra, no jogo, no amor… Recordo-me bem dessa operação logística em que perdemos uma heróica GMC do tempo da guerra da Coreia (daquelas que gastavam 100 aos 100, lembram-se ?) (*).


O Dalot adorava conduzi-las. Ninguém melhor do que ele para livrar uma GMC de cair na cratera de uma mina coberta de água da chuva, de atolar-se na berma da estrada ou afocinhar numa bolanha… Ninguém melhor do que ele para conduzir este mamute de ferro, carregado com três toneladas de sacos de arroz… Ninguém melhor do que ele, enfim, para desatascar outras viaturas, civis ou militares… Nem que para isso tivesse que trazer o semi-eixo agarrado ao cabo de aço, como aconteceu mais do que uma vez (que eu vi!)...


Na galeria dos meus heróis desta guerra (há sempre heróis em todas as guerras), eu poria também as GMC, os condutores das GMC e os picadores… Mas não há heróis perfeitos: por exemplo, o Dalot (leia-se Dalô, que o apelido é francês), o Dinis Giblot Dalot,  só não tinha faro para as minas, que isso era tarefa dos picadores [. Continua, aos 63 anos, a conduzir camiões por essas estradas fora... E continua a ser o mesmo reguila que eu conheci... O Cap Brito deu-lhe uma porrada, mas eu nunca cheguei a saber porquê...].


O que aconteceu exactamente nesse já longíquo dia 18 de Setembro de 1969 ? Tínhamos saído, na véspera, de Bambadinca, de manhã muito cedo, como de costume, para fugir ao inferno do calor e da humidade do dia. Estava-se em plena época das chuvas. Era um enorme coluna de viaturas militares carregadas de material para três companhias, unidades de quadrícula, em Mansambo (CART 2339), Xitole (CART 2413) e Saltinho (CAÇ 2406).


Ao todo viviam nestas unidades e seus destacamentos mais de meio milhar de homens, fora a população local, guias e picadores que dependiam inteiramente dos abastecimentos feitos pela tropa. Nós levávamos-lhes praticamente tudo: o gasóleo (para as viaturas e o gerador eléctrico), o petróleo (para os frigoríficos), o arroz, a massa, o feijão, a carne, o bacalhau, as batatas, as cebolas, e os demais mantimentos para um mês ou um mês e meio. Além dos cunhetes de munições, as granadas de morteiro, bazuca e obus, etc. E claro, o correio, e às vezes até umas bajudas de Bafatá a que os brasileiros chamariam hoje  garotas de programa...sem esquecer as pastilhas de quinino e as bisnagas de pomada antivenérea. 


Um dia seria interessante publicar a lista completa dos artigos e as respectivas quantidades que faziam parte dos nossos comboios de reabastecimento. Comboios, era o termo correcto: dezenas e dezenas de viaturas civis e militares, formando uma fila de quilómetros... Não me perguntem de onde vinham as viaturas civis: não faço a mínima ideia... De Bissau, seguramente que não vinham já que a estrada de Bissau-Bafatá, ao longo a margem direita do Geba, estava interdita nalguns pontos (por exemplo, entre Porto Gole e Missirá).


Na galeria dos heróis desta guerra também estão os que alimentavam o nosso ventre insaciável , os homens da manutenção militar e os que faziam chegar os mantimentos, desde Bissau, rio Geba acima,  em LDG até ao Xime  ou até Bambadinca (onde havia uma destacamento do BINT - Batalhão de Intendência), no caso dos barcos civis e depois daí em colunas até às sedes de sector ou comando operacional (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego…). As Berliet e as GMC (e, mais tarde, as camionetas civis) transportavam a carga, mas o condutor levava sempre escolta, uma secção ou menos.


Para se chegar a qualquer uma das unidades acima referidas não havia mais nenhuma alternativa (terrestre). Tanto quanto me lembro, a estrada de Galomaro-Saltinho estava interdita (opu podia ficar na iminência de ficar interdita), pelo que as NT ali colocadas dependiam do abastecimento feito a partir de Bambadinca (,embora pertencessem a Galomaro, sede do Sector L5). No entanto, a própria estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole estivera interdita entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969, no troço entre Mansambo e Xitole.


O Op Belo Dia, a 4 de Agosto de 1969,  destinou-se justamente a reabrir esse troço fundamental para as ligações do comando do sector L1 com as principais unidades de quadrícula a sul. Um mês e tal depois fez-se uma segunda operação para novo reabastecimento, patrulhamento ofensivo e reconhecimento .


Também as peripécias dessa operação (Op Belo Dia II) já aqui foram relatadas (*). 

Em contrapartida, as colunas de abastecimento da guerrilha e das suas populações eram feitas feitas por carregadores, a pé, descalços, em bicha de pirilau, incluindo mulheres e até crianças e muitas vezes sem escolta militar, correndo o risco de serem interceptados pelas NT, como acontecia com alguma frequência na região de Missirá, a norte do Rio Geba (vd. relato do que se passou em Chicri, a 12 de Setembro de 1969: muitas vezes as NT não faziam a distinção entre combatentes, armados, e elementos civis da população controlada pelo PAIGC que servia de carregadores; neste caso, levavam artigos comprados nas nossas barbas, em Bambadinca, onde só havia duas lojas, nas mãos de tugas, a loja do Rendeiro e a loja do Zé Maria)…


Porquê falar em sorte ? É que eu ia justamente à frente da viatura que accionou a mina, justamente do lado do pendura, com uma perna de fora… À turista, como quem vai num alegre e matinal safari algures num parque no Quénia… A pouco e pouco, o periquito ia ganhando confiança… Com três meses e meio de Guiné, e baptismo de fogo ainda muito recente (na Op Pato Real, a 7 de Setembro, na região do Xime, Ponta do Inglês: vd a propósito o post de 8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) considerava-me já quase um veterano…


Recordo-me da viatura: um Unimog 404… Apesar da relativa tranquilidade que nos davam a experiente equipa de 12 valentes picadores que iam à nossa frente com dois grupos de combate apeados, eu tinha recomendado ao condutor do Unimog que seguisse milimetricamente o rodado da viatura da frente… Um desvio de um milímetro podia ser fatal para o artista… O Dalot, que ia a atrás de mim, levava um bicho que tinha dez rodas, dois rodados duplos atrás, várias toneladas de ferro, mais três de arroz… Daquela vez vez foi ele e a sua GMC que voaram… Eu fiquei para a próxima, já lá mais para o fim da comissão..


A estrada (se é que se podia chamar estrada aquilo!), invadida pela floresta, as bolanhas e os afluentes de diversos rios, era mais estreita que as viaturas em certos pontos… Uma delícia para os sapadores do PAIGC, um quebra-cabeça para os nossos picadores, um stresse desgraçado para aqueles de nós que faziam guarda de flancos… 


Em suma, gastávamos uma boa parte da nossa energia física e mensal a abastecer-nos uns aos outros em vez de fazer a guerra ao IN…

2. Para dar uma ideia do carácter quase pioneiro das primeiras colunas que a CCAÇ 12 efectuou na estrada Mansambo-Xitole, com viaturas exclusivamente militares e num itinerário em muitos troços intransitável, esburacado pelas minas e pela erosão das chuvas, invadido pelo capim e pelos arbustos, em que se tornava necessário fazer a picagem de mais de 30 Km, e sempre com o fantasma do IN a acompanhar as NT, vale a pena transcrever aqui um trecho do relatório da Op Belo Dia III, em que participaram o 2º e o 4º Gr Comb da CCAÇ 12, juntamente com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Dest A (A distância de Bambadinca, a Mansambo, Ponte dos Fulas, XItole e Saltinho era, respectivamente, 18, 33, 35 e 55 quilómetros, segundo as cartas militares do sector:


Op  Belo Dia III



"A coluna de reabastecimento atingiu Mansambo, proveniente de Bambadinca, às 17.30h do dia 7 de Novembro de 1969, tendo 1 Gr Comb da CART 2339 patrulhado e picado o itinerário até ao limite N da sua ZA

[Na prática, percorreu a distância de 18 km., entre Bambadinca e Mansambo à velocidade de 1 quilómetro e meio por hora].


"O Dest A [CART 2339 e CCAÇ 12] partiu de Mansambo às 5.00h do dia seguinte para cumprimento da sua missão [ou seja, prosseguir com a coluna até ao Xitole]. A escassas dezenas de metros a sul da ponte do Rio Bissari foram detectadas e levantadas 2 minas A/P [antipessoal], tendo-se verificado pela sua análise que se encontravam montadas há muito tempo (fazendo parte provavelmente do campo de minas implantadas pelo IN e detectadas no decurso da Op Nada Consta).

"Entretanto fora tentada por várias vezes a montagem de guardas de flanco, sem contudo se ter conseguido devido à densa arborização do terreno, o mesmo se verificando a partir do Rio Bissari por a natureza do terreno, bolanha com muita altura de água, capim bastante alto com densas manchas de lianas entrançadas, impossibilitar a progressão.

"Num troço de 3 Km, compreendido entre 1 Km após a ponte do Rio Bissari e 1 Km antes da ponte do Rio Jagarajá, a coluna ia sofrendo atascamentos sucessivos conjugados com avarias [mecânicas] que impossibilitavam uma progressão normal.

"Entretanto verificou-se o atascamento da 7ª viatura que ficou completamente enterrada no lodaçal do itinerário, e de mais algumas viaturas que se Ihe seguiam e que foi impossível desatascar.

"Foi decidido então fraccionar o Destacamento A [CART 2339 e CCAÇ 12] deixando 2 Gr Comb no local a tentar desatascar as viaturas e mandar prosseguir o resto da coluna até ao encontro do Dest B [CART 2413, Xitole], o que se verificou pelas 15.30h.


"Feito o transbordo, foi decidido pelo PCV [posto de comando volante] que o Dest B regrasse ao Xitole, vindo no dia seguinte transportar a restante carga. Entretanto deixaria um Gr Com (-) a reforçar o Dest A que pernoitou junto das viaturas, montando segurança próxima à estrada.

"Às 5 da manhã do dia 9 [dois dias depois do início da operação], iniciou-se o transbordo da carga para as viaturas que estavam à frente da viatura imobilizada e que entretanto fora desatascada, embora continuasse avariada. Pelas 8h, contactou-se com o Dest B que entretanto se aproximara, fez-se o transbordo da carga, reorganizou-se a coluna e empreendeu-se o regresso a Mansambo que foi atingido pelas 11.45, não sem ter havido mais alguns atascamentos".

Op Alabarda Comprida



A próxima coluna logística realizar-se-ia a 30 de Novembro de 1969, segundo um novo conceito de execução (Op Alabarda Comprida). Foram constituídos 3 Destacamentos:


(i) Ao Dest A (2 Gr Comb da CCAC 12) coube a missão de escoltar a coluna até ao Xitole, formando três fracções (na testa, no meio e na rectaguarda) e reagindo pelo fogo e pela manobra a toda e qualquer acção IN;

(ii) Os Dest B e C (6 Gr Comb, das CART 2339 e 2413) constituíam uma força de segurança descontínua ao longo do itinerário Bambadinca-Mansambo-Xitole (cerca de 35 km), patrulhando e montando emboscadas nos locais de mais provável utilização pelo IN para uma eventual acção contra as NT.


A coluna decorreu normalmente, tendo chegado ao Xitole por volta das 11h da manhã e regressado nesse mesmo dia, contrariamente ao que se estava previsto (e se temia), uma vez que o estado do itinerário era péssimo. Pelo Dest C (CART 2413, Xitole) foram detectados vestígios recentes dum grupo IN, estimado em 20/50 elementos, que teria vindo do Galo Corubal em acção de reconhecimento.


A 14 de Novembro, a CCAÇ 12 efectuaria a última coluna logística para Xitole/Saltinho, integrada numa operação. Após o regresso, os Gr Com das unidades em quadrícula na área, empenhados na segurança da estrada Mansambo-Xitole, executariam um patrulhamento ofensivo entre os Rios Timinco e Buba, não tendo sido detectados quaisquer vestígios IN (Op Corça Encarnada).


A partir de então, estas colunas de reabastecimento das NT em unidades de quadrícula, aquarteladas em Mansambo, Xitole e Saltinho, tomariam um carácter de quase rotina, passando a realizar-se periodicamente (duas vezes por mês, em média), e com viaturas civis, escoltadas por forças da CCAÇ 12. A segurança ao longo do itinerário continuava, no entanto, a movimentar seis Gr Comb das unidades em quadrícula de Mansambo, Xitole e Saltinho. Na prática, isto significava que o abastecimento das NT nestas tês unidades implicava a mobilização de forças equivalentes a um batalhão (3 companhias). No tempo seco, o inferno, para além das minas, era o pó, o terrível pó que cobria tudo e todos...


O Saltinho, embora passasse a depender operacionalmente do Sector L5 (Galomaro), a partir da data em que as NT evacuaram Quirafo, continuava no entanto ligada ao Sector L1 para efeitos logísticos, uma vez que a estrada Galomaro-Saltinho se mantinha parcialmente interdita desde o início das chuvas devido à actividade do IN na região.



Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: CCAÇ 12. Cap. II.

Diário de um Tuga, de Luís Graça (arquivo pessoal)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série

__________


Nota de L.G.


(*) 28 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7354: A minha CCAÇ 12 (9): 18 de Setembro de 1969, uma GMC com 3 toneladas de arroz destruída por mina anticarro (Luís Graça)

13 comentários:

Anónimo disse...

"Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Coluna logística Bambadinca -Mansambo - Xitole - Saltinho > Viaturas civis passando pelo destacamento da Puta dos Fulas."

Atencao a legenda da foto... sera ponte dos fulas..ou p... dos fulas ?

Nelson Herbert

Anónimo disse...

A estrada Xitole-Aldeia Formosa cheguei a fazê-la sozinho com um condutor em jeep ainda em 67 e sem problemas.

José Brás

Torcato Mendonca disse...

Caro Luís Graça
Que não restem dúvidas. Cruzamos os nossos olhares nessas loucas colunas. Li,por alto, as notas na agenda/69 e na História da 2339. Engraçado. Recordo com saudade aquela balburdia. Fui montar uma emboscada a 21 á viatura "voadora", em 18. Nada...
Três dias, na época das chuvas, para percorrer 15 Km é boa média. Ficamos peritos em atascanços. O Land Rover, já cá na Metrópole, quando atascava...lá vinha a experiência.
Das colunas da 2339 feitas a Bambadinca recordo:se regressávamos no mesmo dia a velocidade dependia do uísque; se o regresso era no outro, podia haver "garota de programa" vinda, de taxi, de Bafatá. Um amigo, boa gente, disponibilizava um quarto na tabanca...barato o programa. O que era o dinheiro nesse tempo se uma hora depois podias...estava lá na véspera do 1º ataque a Bambadinca...A foto de Mansambo é depois de 1969 e a 30 de Noven«mbro a coluna foi feita pela 2404, que nos rendeu. A ultima operação foi a 19 Nov e saída a 22. Fomos o ultimo Grupo a sair.
Naquelas colunas o "material" era da responsabilidade da Intendência e dos Sargentos das Companhias a serem abastecidas. Nós era a segurança e os etc. Se voava material...paciência.
Fez bem ler e recordar depois do parco almoço. Nesse aspecto...lá, como cá...mas tenho mais 3 /4 Kg.A falta de exercício invernal...ou de programa?
Abraço amigo T.

Luís Graça disse...

Nelson: Não é Puta, é Ponte dos Fulas!... Mas que raio de gralha!... Ficava a 3 km, a norte do Xitole, sobre o Rio Pulom...

O Joaquim Mexia Alves mata-me!

Vou já emendar. Obrigado pela atenção!... Corro o risco de ofender, gratuitamente, a susceptibilidade dos/as fulas... meus amigos/as.

Luís Graça disse...

Pois é, Zé Brás, a situação degradou-se a partir de 1968... Só conheci o Saltinho no 2º semestre de 1969... Ia a jurar que tinha visto um "ninho" de metralhadoras no final da ponte Craveiro Lopes, quando lá estive... Mas deve ser lapso meu, de memória... Gostava de poder confirmar este dado...

Com o abandono de Madina do Boé, de Beli e do Cheche, a parte meridional do "chão fula" ficou mais vulnerável...

Voltei a fazer essa estrada (ou melhor, outra, paralela, alcatroada), de Bambadinca ao Saltinho, em Março de 2008... E depois dali até Guileje... Revivi muitas emoções das heróicas colunas logísticas do 2º semestre de 1969...

Luís Graça disse...

Meu caro Torcato:

Tu podes e sabes dar valor ao esforço que tanto vocês (Mansambo, Xitole, Saltinho) como nós (CCAÇ 12, Pel Caç Nat, Pel Rec Daimler)tínhamos de despender para levar a "bianda" e o material de guerra, a partir de Bambadinca para as vossas unidades de quadrícula...

Gostava de poder saber quanto consumia o "ventre" da guerra na zona leste que no meu tempo estava dividido em 5 sectores: Bambadinca, Bafatá, Geba, Galomaro e Nova Lamego, se não erro. Grosso modo, a cada sector correspondia um batalhão (4 companhias) mais umas tantas subunidades (companhias independentes, pelotões de morteiros, pelotões de artilharia, pelotões de reconhecimento, pelotões de caçadores nativos, etc.)... A partir do eixo Xime-Bambadinca abastecia-se todo o leste, muitos milhares de homens...

Infelizmente não tenho grandes fotos das colunas logísticas no tempo das chuvas... Vou "repesca" as tuas fotos falantes...

Gostava que aparecessem vagomestres e malta da intendência para falar da "carga" que a gente levava... e que às vezes ficava, alguma, pelo caminho... por causas das minas,. atascansos, destruição das viaturas e... alguns roubos.

Quantas caixas de cerveja, por exemplo, levávamos para a CART 2339, a tua companhia, em Mansambo ?... Essas coisas não sei... Sei que cada militar tinha direito a 24$50 por dia para comer... Duzentas bocas eram 5 contos, por dia, 150 por mês... Muita guita...

paulo santiago disse...

Nos primeiros meses que passei no
Saltinho,as colunas logísticas
ainda seguiam esse itenerário:
Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho
Houve uma,não sei a data,onde andei
com o 53,entre Xitole-Ponte dos Fulas.Lembro-me da chegada ao
Saltinho da malta da CCAÇ12,onde no
1ºUnimog 404 vinha o AlfMil Carlão,
e comentava os camaradas da 2701,
que ele não gostava de apanhar...pó
Assim é possível que ainda tenha
encontrado,no bar do Saltinho,o
Henriques,o Humberto,o Levezinho...
sei lá,era muito piriquito na altura.
Depois abriu-se uma picada que
aproveitou o carreiro dos dgilas, e
as colunas logísticas para o Saltinho,passaram a ter o itenerário:Galomaro-Duas Fontes-
Chumael-Saltinho.Este percurso,até
ao fim da minha comissão,era seguro
não havia "picagem"...era percorrido,com frequência,pelos
camiões do Jamil e do Rachid...

Torcato Mendonca disse...

Meu Caro

Há ,de certeza, fotos de buracos de minas e do estado da picada. Umas até aparecem as GMC e uns Unimog. Não sei onde estão. Melhor estão nos álbuns, slides e, se digitalizadas,no Disco Externo e em teu poder.

O ninho de metrelhadora não seria na Ponte do Pulom (ou das Virgens...limpa a gafe)??

Galomaro no meu tempo não era Sector. Devido ao abandono da margem direita do Corubal -Boé etc - essa zona foi reforçada, logicamente. Eu trabalhei lá ,COP 7 - dependente da 2405, Sector L1.

##?... Essas coisas não sei... Sei que cada militar tinha direito a 24$50 por dia para comer... Duzentas bocas eram 5 contos, por dia, 150 por mês... Muita guita...## (do comentário).
Não entres aí. É terreno com mais buracos ou minas e armadilhas do que as picadas que estamos a falar....

Cá, na Metrópole havia custos diferentes para:Cães, Oficiais, Sargentos e Praças....

Fico-me..AB do T

Anónimo disse...

Camarigo Luís Graça

Referes uma situação em que a "tua montada", e não sei quantas antes, passou e a seguinte "voou", dizendo que tinha sido sorte, a tua.
Ora, quantos de nós tivemos sorte, uma vez...n vezes, enquanto outros nem uma vez a tiveram?

Foi por essas situações de "sorte", do "acaso" ou seja lá de outra coisa, que às tantas, lá na Guiné, me comecei a interrogar e a "filosofar" comigo. Será isto o destino? Será que o destino está mesmo traçado? Será que ao nascer a nossa vida já está de facto pré-definida? Podem crer que a partir de algumas situações que ocorreram comigo e que me levaram a esses questionamentos interiores, passei a acreditar nesse determinismo.

Quanto às vias de comunicação, a que chamas "estrada", sempre que escrevo algo sobre as paragens que pisei, uso "itinerário", com excepção dos percursos, Bissau-Mansabá e Bissau-T.Pinto-Bachile, onde uso "estrada", uma vez que eram asfaltadas e dignas desse vocábulo. Todas as outras por onde circulei, não passavam de "picadas".

Os abastecimentos, a Logistica em geral, das NT movimentavam e ocupavam de facto muitos efectivos.
Mesmo no Sector de Mansoa, quando lá estive, isso era uma realidade.
Por Mansoa passavam, várias vezes por mês, colunas de abastecimentos para Bissorã e Olossato, em que o pessoal da CCaç 2589 destacado em Braia e no Infandre tinham de assegurar a "limpesa" do itinerário até ao alto de Namedão, bem como a segurança com emboscadas nos pontos "mais vulneráveis". Quanto às colunas para Mansabá, não havia necessidade de "picar" a estrada, mas montar a segurança, pelo pessoal destacado em Cutia, quase no limite da zona, visto haver um "cruzamento" com um dos "carreiros IN Sara/Canjambari-Morés".

Abraços
Jorge Picado

Anónimo disse...

ESCLARECIMENTO
Quando me refiro ao pessoal da CCaç 2589 (Mansoa, Braia Infandre e Cutia), quero indicar, todo aquele que dependia desse comando e não apenas o da subunidade orgânica.

Jorge Picado

Joaquim Mexia Alves disse...

Caros camarigos

Tal como já referi noutro comentário, estas colunas no tempo do BART 3873, faziam-se sem problemas, mas apenas com muito pó e cansaço, sobretudo daqueles que montavam segurança, pois era um dia inteiro no mesmo local.

Aí, nessa estrada e por causa de uma coluna levantei uma mina conforme descrevo aqui

http://pontedosfulas.blogspot.com/2008/06/1-mina-do-bart-3873.html

e que os editores podem aproveitar se quiserem, embora me pareça que há uns anos talvez tenha havido um poste sobre isso.

Refiro também, (e também acho que já o tinha feito), a realização de uma coluna da CART 3492, (por causa salvo o erro de um funeral de um guineense), pela estrada Saltinho/Galomaro que estava fora de uso há já largo tempo.

Todos consideravam uma temeridade tal coluna mas ordens, são ordens.

O meu "tio" Jamil Nasser, que tudo sabia, tentou dissuadir-me de fazer tal coluna, ao que eu obviamente não acedi.

No dia da coluna lá estava ele com duas camionetes carregadas, colocando-se como passageiro também.

Tirando o cansaço nada mais aconteceu!

Grande e camarigo abraço para todos

Anónimo disse...

Mais uma achega.

No 2º Semestre de 1968, pelo troço de estrada entre Aldeia Formosa e o Saltinho, fora efectuada uma coluna auto, tendo eu seguido na mesma como mecânico de coluna. Sem incidentes com o IN.

Breve contarei "estorias" havidas na mesma.

Arménio Estorninho
C.Caç.2381 "Os Maiorais"

Torcato Mendonca disse...

És um algarvio, um lagoense com sorte. Acabei de escrever, em resposta ao Ventura silvense. Eu nasci entre um e outro mas antes de vocês.

Na Aldeia Formosa estava o Cherno Rachid e o libanês do Xitole e etc gente que não jogava com um pau de dois bicos. Jogava com diz um outro algarvio, lacobrigense, do Barão- jogavam com uma moca da idade média...e nós a embrulhar e a saber e a não darem um segundo para a "pressão no indicador"...
AB do T