
Queridos amigos,
Dá-se sequência à visita ao Museu da Cerâmica das Caldas da Rainha, fica provado e comprovado que o 2º Visconde de Sacavém foi um infatigável colecionador de peças de cerâmica de diferentes formas e feitios; a museografia e a museologia ajudam muito a saborear a visita, o interior do palacete ganhou nova vida e quem contempla estes tesouros cedo se apercebe que independentemente de um passado glorioso da nossa azulejaria, o dínamo desta indústria foi um génio chamado Rafael Bordalo Pinheiro, daí a procura de imagens deste talento colossal, uma imaginação desbordante; é de toda a conveniência que o visitante venha com tempo, o museu e parque merecem atenção e há dois centros de arte ali à volta, enfim, são aspetos promissores para quem queira passar uma tarde na observância de diferentes vetores culturais, o que afianço, sem hesitar, é que este Museu da Cerâmica, pela sua riqueza, pelo adequado aparato museográfico e museológico, merece a visita, ninguém sairá daqui defraudado.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (200):
O Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, este meu ilustre desconhecido – 2
Mário Beja Santos
Já subi ao 1.º andar do velho palacete tardo-romântico do 2.º Visconde de Sacavém, e na presunção de que o leitor olha pela primeira vez estas imagens, recordo que os sites de divulgação revelam sobre este museu:
“Criado oficialmente em 1983, corresponde a um desejo antigo da população das Caldas da Rainha, centro cerâmico de reconhecida tradição. Instalado na Quinta Visconde de Sacavém, adquirida para o efeito em 1981, o Museu da Cerâmica situa-se na zona histórica da cidade, junto ao Parque D. Carlos I e próximo da atual Fábrica Bordalo Pinheiro.
As coleções são constituídas por uma síntese representativa de vários centros cerâmicos portugueses e estrangeiros, desde o século XVI aos nossos dias. Predomina a produção local, desde as formas oláricas e a produção artística do século XIX, com autores como Manuel Mafra, introdutor neste centro do estilo naturalista de Bernard Palissy, até às criações contemporâneas de alguns ceramistas caldenses, como Ferreira da Silva ou Eduardo Constantino.
Merece destaque a notável coleção de peças de Rafael Bordalo Pinheiro, executadas na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, bem como a produção Arte Nova de Costa Motta Sobrinho. Mostram-se ainda núcleos de azulejaria, assim como de miniatura, com destaque para as obras de Francisco Elias.
A Quinta Visconde de Sacavém, conjunto arquitetónico revivalista de final do século XIX, é constituída por um palacete tardo-romântico que abriga a exposição permanente assim como áreas anexas, remodeladas, onde se situam a sala de exposições temporárias, a loja, olaria e centro de documentação. Os jardins da Quinta, de traçado romântico, constituem um interessante conjunto evocativo do gosto do final do século XIX, com as suas alamedas, canteiros, floreiras e um auditório ao ar livre.
São de realçar as decorações cerâmicas que ornamentam todo o conjunto, onde se podem encontrar azulejos dos séculos XVI ao XX, estatuária, elementos arquitetónicos cerâmicos, como as gárgulas em forma de dragão ou de javali que se veem nas fachadas do palacete e se aliam aos painéis de azulejo, friso e cercaduras. Estas decorações favorecem a fruição de um importante património cerâmico, tornando-o também um local privilegiado de lazer.”
Vamos então apreciar tesouros da cerâmica dos séculos XIX, XX e XXI.
Imagens de faces laterais do palacete que alberga o Museu da Cerâmica
Estamos agora na sala do ateliê cerâmico, é uma criação do 2.º Visconde de Sacavém, José Joaquim Pinto da Silva (1863-1925), aqui funcionou uma pequena oficina e nela se produziram, a par de peças de reconhecido valor artístico, diversos elementos arquitetónicos que ornamentam as fachadas do palacete. Neste ateliê colaboraram ceramistas com Avelino Belo, discípulo de Rafael Bordalo Pinheiro, e Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro. A produção desta oficina revela uma notável qualidade, inserindo-se no movimento revivalista de inspiração neorrenascentista e neobrarroca, corrente estética que marcou o final do século XIX. Esta pequena fábrica teve uma duração efémera (entre 1892 e 1896).Prato de Rafael Bordalo Pinheiro com dedicatória ao fotógrafo Camacho, 1892
Peça de grande delicadeza, caso de ornamentação das folhas
Estas duas imagens referem-se à criação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, tratou-se de um projeto industrial cerâmico de grande envergadura, foi iniciativa de Feliciano Bordalo Pinheiro (irmão de Rafael Bordalo Pinheiro), assentava na introdução de novas tecnologias e na adoção de um modelo de financiamento (de subscrição por ações) e de gestão (gestão separada da propriedade) modernos. O projeto entrou em funcionamento em 1884.Dois pratos saídos do génio de Rafael Bordalo Pinheiro
Hansi Stäel (1913-1961) foi uma artista húngara que trabalhou nas Caldas da Rainha e deixou notáveis trabalhos como se podem ver nestes dois pratos.Mísula, Rafael Bordalo Pinheiro, 1891
Ainda conheci as Caldas da Rainha com placas indicativas de ruas deste tipo
Pormenor de pintura sobre uma porta do palacete
O gosto pelo hispano-árabe será recorrente em todas as manifestações do revivalismo neogótico, as fábricas de cerâmicas caldenses do século XIX deram grande impulso a este padrão.E chegamos ao fim, foi uma agradável surpresa, advirto o leitor que neste Avenal há centros de arte, prepare-se, talvez valha a pena ir com tempo e bater à porta destas capelinhas.
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Nota do editor
Último post da série de 5 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26655: Os nossos seres, saberes e lazeres (676): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (199): O Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, este meu ilustre desconhecido – 1 (Mário Beja Santos)