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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21598: (In)citações (173): Padre José Marques Henriques, com 44 anos de vida sacerdotal na Guiné-Bissau, sobretudo como missionário mas também como capelão militar (menos de 6 meses, a seguir ao 25 de Abril): convite para integrar a Tabanca Grande (João Crisóstomo, Nova Iorque)


João Crisóstomo (Nova Iorque)


José Marques Henriques (Faro)


1, Mensagem de João Crisóstomo (Nova Iorque), enviada ao Padre José Marques Henriques (Faro), com conhecimento ao editor LG (*)


 Data -  30 nov 20200 17:09  


Caríssimo P. José Marques,

(Mais um E mail comprido…oxalá arranjes pachorra para me ouvir…)

"Seja por caridade!"... Assim mesmo, à maneira franciscana!… Como "não é o hábito que faz o monje", desde que "tomei o hábito” em Varatojo, mesmo depois de ter oficialmente deixado os claustros , “franciscano" nunca deixei de ser, ou pelo menos tento tentado… neste mundo tão confuso e egoista,  que tantas vezes me leva a sentir asco do que vejo, felizmente que há alguns oasis de paz e serenidade que nos ajudam a sobreviver… 

Felizardos os que alguma vez deste oásis franciscano tomaram conhecimento. Até no Vaticano podemos ver isso!

A propósito , deixa-me dar-te um grande abraço, atrasado mas não menos sentido, pelo teu 50º aniversário, de 17 de maio passado. Só agora (graças a um blogue de que te vou falar a seguir) dele tive conhecimento. Mas vou chatear o teu irmão Luís Marques… embora eu não pudesse ter ido aí pessoalmente este ano, ele podia-mo ter dito. Puxa vida!...

Não sabia que tinhas estado tanto tempo na Guiné [, 44 anos,] e não só como capelão militar. Teria tido "pano para mangas" para falarmos quando estivemos juntos em Vila Real no 50º aniversário do P. Maciel.

A experiência na Guiné também me ficou bem vincada na minha vida. De vez em quando até chego a imaginar-me ir lá ver de novo os lugares por onde passei...

Mas se tal visita provavelmente não vai mais acontecer, gostava mesmo muito que te juntasses a este grupo de indivíduos que por lá passaram e que,  partilhando entre nós as nossas experiências,   nos ajudamos uns aos outros… 

Tu não precisarás talvez de ajudas, mas acredito que o teu testemunho e a tua experiência podem ajudar muitos de nós. Aliás, mesmo sem o saberes a tua experiência já foi bem beneficente, como tive ocasião de verificar. E acredito que quando tiveres algum tempo livre gostarás de ler algo do muito que sobre a Guiné se tem abordado neste blogue “Luis Graca & Camaradas da Guiné”.

"Convida o teu amigo e nosso camarada para se juntar aos 821 camaradas e amigos da Guiné (, entre vivos e mortos)",  assim me instruiu o meu “camarada” mais velho e a muitos outros títulos meu querido irmão Luís Graça. É que além do mais até somos vizinhos….

E ficas já convidado para um encontro muito especial que tenciono organizar em Varatojo tão cedo quanto seja racionalmente possível . Eu explico:

Eu tenho a mania de encontros e abraços ( o poder dar um abraço destes levou-me a ir a Portugal de propósito no 50º do P.Maciel!); e quando vou a Portugal, sempre que possível ( meia dúzia de vezes já ) junto as minhas famílias ( “Crisóstomos" por parte do meu pai e “Crispins" por parte de minha mãe”) para o que convido sempre alguns bons amigos que gostaria de visitar pessoalmente , mas a quem evidentemente não me é possível visitar individualmente . 

Tenho organizado estes encontros (com a presença dos meus primos P. António Sabino, P. Crispim, P. Melícias, P. Estevão Crisóstomo, etc.,  etc...) num clube perto da minha casa [, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras]. 

Para este ano preparava-me para o fazer no claustro de Varatojo ( e já tinha o OK dos meus irmãos franciscanos). Aliás os dois primeiros encontros (há quase 20 anos), bem simples , foram em Varatojo que tiveram lugar.

Quando o próximo encontro for possível,  espero que me dês a grande satisfação de vires com o Luís Marques. Além das minhas famílias,  tenciono convidar outros bons amigos, como em anos anteriores , onde estiveram também alguns antigos "colegas de seminário” , camaradas da Guiné e outros amigos de coração.

Mais uma vez Muito Obrigado pela tua muito apreciada resposta.

E espero que me (nos) dês uma resposta afirmativa ao convite para te juntares ao nosso blogue. Para bem de todos nós.  (**)

A propósito já estiveste por estes sítios? Se alguma vez vieres até cá… espero que aceites a simplicidade da minha casa: é modesta mas “acolhedora” , costumam dizer. 

Um grande abraço de Paz e Bem
João e Vilma
__________

Notas do editor:

(*) Vd.postes recentes:


30 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21594: Os nossos capelães (13): José Marques Henriques, ofm, esteve no CTIG, de 28/4/1974 a 9/10/74 (João Crisóstomo, Nova Iorque)

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21595: (De)Caras (166): Frei José Marques Henriques, da Ordem dos Frades Menores, 44 anos de vida sacerdotal na Guiné-Bissau, antes e depois da independência, como capelão militar e missionário


Frei José Marques Henriques (1970)


Frei José Marques Henriques (2020)

Fonte: Folha do Domingo, Faro, 18 de maio de 2020 (com a devida vénia...)


1. O frei José Marques Henriques,  da OFM -  Ordem dos Frades Menores (franciscanos), celebrou em 17 de maio de 2020,  em Faro, os  50 anos de vida sacerdotal, dos quais 44 foram vividos na Guiné-Bissau, antes e depois da independência, tendo sido também capelão militar, de 28 de abril a 9 de outubro de 1974. (*) 

Do jornal Folha do Domingo, Faro, edição de 18 de maio de 2020, retiramos alguns excertos e algumas partes do testemunho deste sacerdote português (e nosso camarada) sobre a sua experiência pessoal e religiosa na Guiné-Bissau. (**)


Os anos difíceis a seguir à independência


(...)  
Ordenado em Lisboa no dia 17 de maio de 1970, com mais quatro padres, pelo cardeal D. Manuel Cerejeira, seguiu para terra de missão. “A minha ideia é que seria melhor se me desse totalmente aos outros. E totalmente seria como missionário”, explicou o frei José Henriques ao Folha do Domingo, garantindo que os “primeiros anos da independência” “foram mais difíceis ainda” do que os já “difíceis” anos da guerra. 

“Não havia nada e era difícil até encontrar um fósforo. Durante muito tempo não tinha nada para comer de manhã. E ao almoço era só arroz. Se havia batatas, era uma ou duas para três ou quatro pessoas”, relata.

A guerra colonial: tiros das NT contra a missão franciscana 
[em Bula ] e intervenção de Spínola


(...) Antes, já tinha vivido a dura e traumatizante realidade de uma guerra colonial que ninguém compreendia. “Uma vez fomos atacados de noite e eu estava no internato com as crianças”, conta, lembrando os tiros nas portas “porque a 100 metros havia um quartel”.

 “Uma vez, os militares portugueses dispararam uns tiros para a nossa missão [em Bula ]. Então o Superior avisou o general Spínola de que estávamos a ser atacados pela nossa própria tropa e ele disse-lhes que nunca mais um tiro poderia cair naquela missão”, relata, explicando que os guerrilheiros do movimento de libertação da antiga colónia nunca atacaram a sede franciscana porque as crianças à sua guarda eram os seus próprios filhos. 

“O próprio Spínola é que os tinha posto lá”, conta, explicando tratar-se de crianças de povoações que tinham sido invadidas.


Pós-indepedência: prisões e fuzilamentos


Já no tempo da independência chegou a presenciar a prisão de dois jovens que estavam a preparar a festa de Santo Antão. Só a missiva que enviou ao então primeiro-ministro 'Nino' Vieira diz ter motivado a sua libertação. 

Na memória permanece-lhe ainda a ocorrência de um fuzilamento de cinco pessoas no campo de aviação da sua missão [Canchungo]. “Levaram as crianças das escolas para assistir, dizendo que iam assistir a um comício”, recorda com mágoa.


44 anos na Guiné: 10 anos em Bissau
 e os restantes no mato


(...) À pergunta se nunca pensou regressar nessa altura a Portugal, dá uma resposta perentória. “Nem nessa, nem nunca. Vim em 2014 porque vi que as forças já não davam mais”, assegurou.

Os primeiros três anos na Guiné passou-os como coadjutor da paróquia da catedral de Bissau e o ciclo da sua vida missionária naquela antiga colónia portuguesa em África completou-se com o regresso àquela comunidade para ser pároco nos últimos dois anos, antes de regressar a Portugal. 

No total esteve 10 anos em Bissau, tendo nos restantes cinco passado por mais duas paróquias que ajudou a desmembrar noutras. “Algumas, só na catequese tinham 3000 pessoas”, lembra, fazendo contas aos quilómetros percorridos por “acessos dificílimos”. 

Ao longo daqueles anos foi fundador de muitas comunidades perdidas no mato.


O regresso definitivo a Portugal, em 2014, 
apenas por razões de saúde


(...) Regressou a Portugal em 2013 e rumou ao Algarve por problemas de saúde e durante sete meses manteve-se por cá. Ainda voltou ao país africano, mas regressou à diocese algarvia definitivamente em 2014 para fazer parte da comunidade franciscana no Algarve e hoje é o guardião da Fraternidade Franciscana de Faro. 

Sobre o balanço deste meio século de ministério sacerdotal em que diz ter procurado “ser fiel”, entende que “só Deus é que poderá fazê-lo”. Assegura, no entanto, terem sido “anos de muita felicidade, mas também de sofrimento e muitas dores”. 

De entre os momentos positivos destaca ter testemunhado a cura de uma criança guineense com paludismo cerebral por quem rezou e que entregou aos cuidados médicos. (...)

Fonte: Excertos do jornal Folha do Domingo, (Faro) > 18 de maio de 2020 > Frei José Henriques celebrou 50 anos de sacerdócio, 44 na Guiné e os restantes no Algarve

[Adaptação, subtítulos, revisão, fixação de texto para efeitos de edição neste blogue. LG]

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21594: Os nossos capelães (13): José Marques Henriques, ofm, esteve no CTIG, de 28/4/1974 a 9/10/74 (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P21594: Os nossos capelães (13): José Marques Henriques, ofm, esteve no CTIG, de 28/4/1974 a 9/10/74 (João Crisóstomo, Nova Iorque)



José Marques Henriques, sacerdote
da Ordem dos Frades Menores (Franciscanos)ofm), 
vigário paroquial da Conceição de Faro e Pechão.
 

1. Do João Crisóstomo (Nova Iorque) recebemos a seguinte mensagem;

Date: domingo, 29/11/2020 à(s) 21:26
Subject: Resposta ao email sobre os capelães

Caro Luís Graça,

Ainda sobre os capelães na Guiné… acabo de receber algo:

A 24 de Outubro enviei um email ao P. José Marques [Henriques] que está no Algarve. Acredito que esse email nem chegou ou o computador dele considerou-o como "junk" e o meu amigo nem o chegou a ver. 

Há dias liguei para o irmão dele (que era do meu curso) e chegou mesmo a ser franciscano mas saiu e vive agora no Algarve. 

E através dele confirmei os contactos e,  depois de falar com ele ao telefone,    enviei novo email, ( de que te fiz conhecimento em Bcc). 

Aqui está a resposta que acabo de receber. A informação não é muita mas mas é mais uma "janela" , a meu ver interessante e elucidativa.

Um abraço de saudades de nós dois para vocês os dois...

João e Vilma

2. Mensagem de José Marques Henriques, enviada ao João Crisóstomo (e que este partilha com a Tabanca Grande);

Subject: Resposta ao email sobre os capelães

Date: November 29, 2020 at 2:15:54 PM EST

Amigo João Crisóstomo, aqui vão alguns dados sobre a minha vida de capelão militar:

Parti para a Guiné como capelão, num avião da força aérea, no dia 27 de abril de 1974 (apenas dois dias depois do 25 de abril). 

Fui colocado no batalhão de cavalaria, em Bula, mas assistindo mais outros dois batalhões, estacionados em Canchungo e Cacheu. 

O meu trabalho desenvolveu-se, portanto, no território dos mancanhas e manjacos. Regressei a Portugal em outubro deste mesmo ano de 1974, num paquete cujo nome não recordo perfeitamente neste momento, mas que julgo ser o Niassa.

Antes de partir para a Guiné como capelão, estive a trabalhar no quartel da Amadora, desde o início de fevereiro de 74, como ajudante do capelão que aí estava colocado. Não fui para a Guiné logo a seguir ao curso, como pretendia, e apesar de ter sido o único a disponibilizar-me para partir para lá, porque fui rejeitado. Colocaram-me na Amadora para me conhecerem melhor. 

Tinha vindo da Guiné para o curso de capelães e, como é natural, durante esse curso dei o meu testemunho sobre o que se estava lá passando, e sobre os reais motivos que estiveram na origem da guerra desencadeada pelo PAIGC contra o regime colonial, mas parece que esse testemunho não agradou a Marcelo Caetano nem aos oficiais superiores do regime, a célebre brigada do reumático

Esta a razão por que só me deixaram partir para a Guiné como capelão, depois do 25 de abril. Aí assisti ao arrear da nossa bandeira e ao içar da bandeira dos Libertadores. O comandante de Bula - o coronel César - não se conformava. Dizia mesmo que tinha vergonha de ser português. 

Perante esta atitude, os capitães de abril e majores, tenentes e alferes, que estavam no terreno, resolveram, através dum abaixo-assinado, proceder ao seu saneamento. O que aconteceu, com a minha anuência. Só pus uma condição: não ser o primeiro a assinar.

Um abraço bem apertado deste teu amigo José Henriques 

3. Comentário do editor LG:

Obrigado, João. Tu nunca "brincas em serviço",  levas as coisas até ao fim e a "carta a Garcia". Agora, e na volta do correio, convida o nosso capelão a juntart-se à Tabanca Grande: tenho um lugarzinho bom para ele, à sombra do nosso poilão, o nº 822.

Recolhemos, na Net, mais os seguinte dados sobre o teu amigo e colega e nosso camarada José Marques Henriques_

(i) é da colheita de 1944 (faz anos a 3 de agosto);

(ii) natural de Ourém;

(iii) foi ordenado padre em 17  de maio de 1970;

(iv) foi missionário na Guiné-Bissau durante 44 anos, antes e depois da independência;

(v) mora em Faro;

(v) é o vigário paroquial da Conceição de Faro e Pechão.

Fonte: Directório da Diocese do Algarve > Pe. José Marques Henriques

Fonte: Jornal Folha do Domingo, (Faro) > 18 de maio de 2020 > Frei José Henriques celebrou 50 anos de sacerdócio, 44 na Guiné e os restantes no Algarve

Tem página no Facebook onde se vê que continua a ser muito acarinhado pelos cristãos da Guiné-Bissau, e nomeadamente os do chão manjaco (, ele esteve como missionário no Canchungo até há uns anos atrás, voltando a Portugal por razões de saúde)... 

Veja-se aqui este testemunho de Rita Gomes, em 22 de maio de 2020:

(...) Pai Henrique, todo o mundo está a sentir a sua falta, o seu ensino, a nossa igreja em Canchungo,  Cacheu nunca mais vai ser a mesma, alguns de nós eram crianças, pre-adolescentes e adolescentes, que saudade,  estou emocionada,  a presença do Senhor naquela época deixou a marca no coração de cada um de nós, que Deus lhe abençoe e protega cada dia da sua vida o nosso Pai Henrique, Amén. (...)
_____________

Nota do editor:



17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.