segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.









Fonte: Henrique Pinto Rema - "História das Missões Católicas da Guiné": Editorial Franciscana, Braga, 1982, pp. 709-712 (Vd. a extensa recensão bibliográfica feita pelo nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos)


1. Vendo a lista,  supra, dos capelães militares (sim, porque também há capelães hospitalares, há ou havia capelães nas prisões, nos navios da marinha mercante, etc.), que seviram no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, podemos fazer algumas leituras interessantes, em complemento dos comentários já feitos pelos nossos leitores (*):

O exército é de longe o ramo das forças armadas que mais mobilizou capelães: 102 num total de 113, ou seja, mais de 90%.  A presença de capelães na FAP (n=7) e na Marinha (n=4) é diminuta. Na Marinha, só há registo da presença do 1º capelão a partir de finais de 1965. E na FAP,  logo no início de 1964.




Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


Foram mobilizados, em média, 7 capelões por ano, no período entre o início (1961) e o fim da guerra (1974). Mínimo: 2 (em 1962) e máximo 13 (em 1969 e em 1970) (Gráfico nº 1).

Em dois casos (os nºs 92 e 93 da lista supra) sabe-se que terminaram a comissão em 23/9/1974, mas é omisso o ano de início: presumimos que fosse 1973.

Constata-se  que todos, no geral, cumpriram a comissão de 21/22 meses, que era a norma no TO da Guiné, para o pessoal do Exército. Um ou outro fez "mais do que uma comissão".

Um dos capelães que esteve mais tempo no CTIG é o Joaquim Dias Coelho (nº 16): esteve lá 5 anos, deu-se bem com a Guiné... Percebe-se: era o capelão-chefe (fevereiro de 1964/ março de 1969). E devia viver, em Bissau, no célebre "Vaticano",  a moradia reservada aos capelões-chefe.

O salesiano Serafim Alves Monteiro Gama (nº 15 da lista) também exerceu funções de capelania durante mais de 5 anos (de 1964 a 1969).

Mas deve ter sido o franciscano (OFM) Manuel Pereira Gonçalves (nº 91 da lista ) que deve ter batido o recorde em termos de tempo: 6 anos (maio de 1968 / junho de 1974).

OFM quer dizer Ordem dos Frades Menores, vulgarmente conhecidos como Franciscanos.  É o clero regular mais representado (, são 7 ao todo), nesta amostra de capelães militares. (O  meu parente  Horácio Neto Fernandes, nascido em Ribamar, Lourinhã,  nº 42 da lista, era franciscano, e esteve lá dois anos, primeiro em Catió e depois em Bambadinca e Bissau, de novembro de 1967 a novembro de 1969; pormenor intrigante, nunca nos encontrámos em Bambadinca, nem eu conheci nenhum capelão, entre julho de 1969 e maio de 1970,  em Bambdainca, no primeiro  batalhão, a que esteve adida a minha companhia, a CCAÇ 12: refiro-me ao BCAÇ 2852 (1968/70). É possível que não houvesse número suficiente de capelães militares para as necessidades do exército, no TO da Guiné. E o BART 2917 ficou sem capelão (que era o Arsémio Puim) ao fim de ano...

O restante clero regular está escassamente representado por: (i)  um dominicano (OP= Ordem dos Pregadores); (ii) dois salesianos; e (iii) três jesuitas (SJ=Sociedade de Jesus). O resto (a grande maioria, mais de 80%) é clero secular ou diocesano, dependendo portanto de um bispo...  Há 4 capelões-chefe, que muito provavelmente pertenciam ao quadro permanente do Exército, e que terão feito várias comissões, em diferentes teatros de operações (Guiné, Angola, Moçambique...). Vamos contabilizá-los à parte. Os restantes, terminadas as suas comissões, voltavam às suas dioceses ou casas religiosas.

Há, porém, dois ou três, que foram para casa mais cedo, dois deles, meus conhecidos (e membros da nossa Tabanca Grande), por "razões disciplinares" (, ou seja, "mal com Deus e com César"):

(i) Mário de Oliveira (nº 39 da lista): só cumpriu 3 a 4 meses (de outubro de 1967 a janeiro de 1968);

(ii) Arsénio Chaves Puim (nº 66): só cumpriu 12 meses (de maio de 1970 a maio de 1971). (**)

O Carlos Manuel Valente Borges de Pinho (nº 89) também só cumpriu a sua missão durante uns  escassos seis meses, de março a setembro de 1973. Sabemos, por informação do nosso camarada Fernando Costa, de 4 de setembro de  2014, que o alf mil capelão Carlos Manuel Valente Borges de Pinho pertenceu à CCS/BCAÇ  4513 (Aldeia Formosa, 1973/74).

O nº 1 da lista, António Alberto Alves Machado, também só cumpriu pouco mais de um ano (janeiro de 1961/fevereiro de 1962)... Pode ter adoecido, não sabemos...

Os que estiveram menos tempo (poucos meses) foram naturalmente os que vieram em finais de 1973/ princípios de 1974 ou até pós-25 de abril (há um caso, de um capelão da FAP, Eduardo Raposo do Couto Resende que veio em agosto de 1974 e regressou em outubro, não deu para "aquecer o altar"...).

O Augusto Pereira Baptista  (nº 50) também é membro da nossa Tabanca Grande. Pertenceu à CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70).

Obrigado ao Mário Beja Santos, por ter "recuperado" e disponibilizado esta preciosa lista... que presumimos esteja completa. (***)

Mais contributos precisam-se,  dos leitores do blogue, sobre os nossos capelães. Gostávamos sobretudo de saber a que batalhões pertenceram estes nossos camaradas, supracitados... Na maior parte dos casos, não ainda temos essa informação.

PS - Temos mais de 80 referências no nosso blogue com o descritor "capelães"... E pelos menos a mais os seguintes "nossos capelões":

(i) Abel Gonçalves (Força Aérea, agosto de 1970 / agosto de 1974); tinha passado anteriormente pelo exército: BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69) e pelo BCAV 1905  (Teixeira Pinto, Bissau e Bafatá, 1967/68).

(ii) Libório Tavares [nome completo: Libório Jacinto Cunha Tavares], açoriano, capelão no BCAÇ 2835(Nova Lamego, 17/1/1968 - 4/12/196).

_____________

(...) O Puim considera-se duplamente maltrado pela instituição militar e pela hierarquia religiosa. À data era capelão-mor, no CTIG, o Padre Gamboa [, Pedro Maria da Costa de Sousa Melo de Gamboa Bandeira de Melo, ] que tinha o posto de major, coordenando e supervisionando todo o trabalho de capelania (Vivia, em instalações próprias, em Bissau, conhecidas por Vaticano). Em Fevereiro de 1971, o Puim ainda tinha participado, em Bolama, num retiro espiritual, com os demais capelães da Guiné, dirigido pelo Major Capelão Gamboa. Houve discussão acesa, foi discutido o papel dos capelães na guerra colonial, a posição da Igreja, etc. (...)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como é que seria se a guerra fosse... hoje ? A Igreja Católica Portuguesa está a recorrer ao estrangeiro (Itália, Guiné-Bissau, por exemplo) para recrutar sacerdotes para as suas paróquias... A crise de "vocações sacerdotais" é também sintoma de uma crise mais vasta, a começa pela crise demográfica... Não temos padres, não temos trolhas para a construção civil, não temos voluntários para as Forças Armadas, etc.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como +e que se chegava a capelão-chefe ? Há dias um camarada nosso encontro o padre Bártolo, hoje reformado como mahor capeão, em Vila do Conde...

E eu encontrei aqui o seu currículo:


Nome completo: Bártolo Paiva Gonçalves Pereira

(i) Nascido 3 de Setembro de 1935 na freguesia da Lama, Santo Tirso

(ii) Frequentou Seminário diocesano de Braga onde fez o curso de Teologia e Filosofia
Sacerdócio; ordenou-se Sacerdote Diocesano de Braga no dia 15 de Agosto de 1959
1ª Paróquia

(iii) Foi colocado na Paróquia de Nossa Senhora da Oliveira, cidade de Guimarães.

Vida Militar:

(iv) Em 1961 embarcou para Angola como Alferes Capelão do Batalhão de Infantaria n° 231, numa comissão de 3 anos

(v) Em 1966, embarcou de novo para a Guiné com o posto de Capitão para chefiar o Serviço de Assistência Religiosa do Exército nesse Comando territorial Independente

(vii) Em 1973 embarcou para a Região Militar de Moçambique com o posto de Major para chefiar o Serviço de Assistência religiosa do Exército nessa Região Militar.

(viii) Em Portugal foi colocado em diversas unidades militares: Regimento da Polícia do Exército de Lisboa. Regimento dos Comandos da Amadora. Capelão e Professor do Instituto dos Pupilos do Exército de Lisboa. Capelão Chefe da Região Militar de Lisboa.

(ix) Em 1981 foi reformado com o posto de Major do Exército para assumir as funções na pastoral dos emigrantes na Suíça.

Migração

(x) Em 1981 foi convidado para reorganizar a assistência religiosa aos emigrantes da cidade de Genebra, onde esteve colocado cerca de 12 anos. Foi também, nesse espaço de tempo, responsável pela assistência dos emigrantes do cantão de Neuchatêl e Fribourg.

(xi) Em 1991 reorganizou a comunidade católica de língua portuguesa de Lucerna, onde permaneceu até 1994.

(xii) Em 1993 foi nomeado pela Conferência dos Bispos Suíços Delegado Nacional das Missões Portuguesas na Suíça, cujo cargo ainda exerce. Em 1994 foi colocado na Missão Católica Portuguesa de Zurique.

Fote: Jornaldo Coleginho > Segunda-feira, 25 de Setembro de 2006 > O Jornal da Comunidade Portuguesa na Suíça> Padre Bártolo agraciado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique

https://chefiadosar.blogs.sapo.pt/14587.html

Anónimo disse...

Grande e notável trabalho de pesquisa aqui presente neste Blogue. Eu que pensei que não havia nada de Capelães e lancei o meu Poste, e já deu muito que escrever e comentar, e ficar a saber tanta coisa que desconhecia, eu, e a maioria dos nossos militares.
Parabéns a este excelente trabalho.

O Padre Bártolo que eu encontrei e falei com ele assim à pressa, em Vila do Conde, está reformado da tropa, mas não da Igreja, continua a trabalhar normalmente como qualquer outro pároco. É um bom homem, a idade já não vai ajudando muito. Vive só.
Virgilio Teixeira


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, deixas-me "postar" aqui na caixa de comentários a conversinha que tiveste há dias com ele, aí em Vila do Conde ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio: obrigado, pelas tuas (in)confidênvias...

Reforço o meu pedido: vê se consegues levar o padre Bártolo ao "confessionário"...

Diz-lhe que gostávamos de o ver aqui ao lado dos "bravos da Guiné", na nossa Tabanca Grande...Somos já 776 entre vivos e mortos... O nome dele consta da lista dos 113 capelães que passaram pelo TO da Guiné (ele é nº 28)...

Vê se ele tem fotos (e histórias) que queira e possa partilhar... Diz-me que todos temos um "dever de memória" (e o "direto à memória"... antes que venha o diabo do alemão, o Alzheimer, de que Deus nos livre!)...

Abração, Luís

PS - Temos, até à data, apenas 4 (quatro) capelães inscritos como "camaradas da Guiné"... O que já não é mau...Capelões, médicos e... alferes SAM não fáceis de "emboscar" e "apanhar à mão"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... são eles e os vaguemestres.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

...e os antigos combatentes da liberdade da patria