quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19030: Em busca de... (290): Mais elementos informativos sobre o memorial em Bachile, na região do Cacheu, com os nomes dos fur mil op esp José Duarte Franco Verde, e sold Humberto dos Santos Aires, da CCAÇ 2572, "Os Sem Pavor", mortos por acidente com arma de fogo em 26/11/1969 (António Salvada, CCAÇ 2584 / BCAÇ 2884, Có, 1969/71)


Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) >  Dois camaradas que passaram por Bachile: os fur mil José Romão (à direita) e Bernardino Parreira (à esquerda), dois algarvios de Vila Real de Santo António e Faro, respetivamente. Ao fundo, no memorial, lê-se: "Para uma Pátria una e indivisível, a Companhia Manjaca [,CCAÇ 16, constituída em 1970] está defendendo o seu chão da cobiça de estranhos, ainda que tenha de derramar o seu sangue". 

Sobre a CCAÇ 2572, dos infortunados fur mil op esp João Verde e sold Humberto Aires, que aqui morreram em 26/11/1969, não temos infelizmente qualquer referência.

Foto: © José Romão (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor e camarada, que esteve na Guiné, António Salvada, com data de hoje, às 11h19

Bom dia,  caros amigos. Estive na Guiné,  de 69/71, na CCAÇ 2584 / BCAÇ 2884. Estive em Có.

Como todos nós, também eu fiquei, de algum modo, ligado àquela terra.

Contacto-vos porque conheci uma rapariga da Guiné que, depois das nossas conversas sobre sua terra, me disse ter conhecimento de uma sepultura de 2 camaradas nossos que lá  ficaram.

Como os nossos amigos têm tentado informar alguém, calhou agora comigo.

Creio que talvez possam ajudar.

Esse monumento ou memorial é no  Bachile, região do Cacheu,  e os nomes que estão gravados são: 

Fur mil José Verde Apelido: VERDE; e o soldado Humberto S.Aires, Os nomes estão juntos, a data não é legível (só se lê 07).

Deu me as referências: Bachile, aldeia Punguran onde mora seu pai, Adriano Pimpão Fernandes (conhece o local do monumento ou memorial).

A miúda chama-se Júlia Fernandes e é funcionária no Hospital dos SMAS.  Tem fotos da sepultura.

Seria bom que todos pudéssemos ajudar.

Obrigado e, se conseguirem algo, digam. Ok!

Um abraço António Salvada.

Enviado a partir do meu smartphone.


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada Salvada, por nos fazeres chegar esse pedido da tua amiga guineense. A nossa missão é justamente não deixar "ninguém para trás", física ou simbolicamente falando... Não queremos que nenhum camarada ninguém morra no esquecimento ou esteja sepultado na "vala comum do esquecimento", como acontece, infelizmente, com a a maior parte...

Infelizmente, não temos, no nosso blogue, nenhuma referência à CCAÇ 2572, "Os Sem Pavor" (1969/71)... Os camaradas em causa terão sido os únicos mortos dessa Companhia. E sabemos que morreram em 26/11/1969, por acidente (ao que parece, com arma de fogo).

Fica aqui o apelo aos nossos leitores. Presume-se que o alegado monumento, em Bachile, com os nomes destes dois infortunados camaradas, seja um memorial e não uma sepultura... Nessa altura, os restos mortais dos militares portugueses eram já trasladados para o cemitério da sua terra natal...

Apelido: VERDE
Nome: JOSÉ Duarte Franco
Posto: Furriel
Ramo: Exército
Teatro de operações: Guiné
Data: 26/11/1969
Motivo: Acidente

Apelido: AIRES
Nome: HUMBERTO dos Santos
Posto: Soldado
Ramo: Exército
Teatro de operações: Guiné
Data: 26/11/1969
Motivo: Acidente

Sobre o José Duarte Franco Verde, conseguimos apurar, através de consulta do portal Ultramar Terra Web (o Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, que está "on line" desde 2006),  o seguinte: (i) era natural de Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha; (ii) tinha o posto de furriel miliciano de operações especiais; (iii) pertencia à CCAÇ 2572 / BCAÇ 2845; (iv) morreu, de facto, por acidente com arma de fogo, em 26/11/1969; e  (v) está sepultado na sua freguesia natal. (O concelho de Caminha teve 7 mortos na guerra do ultramar.)

Qualquer outra informação dos nossos leitores será bem vinda, e nomeadamente sobre o Humberto dos Santos Aires, cujo concelho de naturalidade desconhecemos.

Quanto ao nosso camarada António Salvada: ficas desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande, na qual estão estão listados, desde 23/4/2004, os nomes de 777 amigos e camaradas da Guiné, dos quais 66 já falecidos. Só é preciso mandares duas "chapas",  digitalizadas, uma foto atual e outra do "antigamente da guerra"... E duas ou três linhas para complementar a tua apresentação... No caso de teres uma álbum fotográfico da Guiné, com interesse documental, melhor ainda: podes partilhá-lo com todos nós. LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18968: Em busca de... (289): Camaradas de armas do ex-Fur Mil João António (1950-2010) do Batalhão do Serviço de Material da Guiné (Brá, 1972/74), de quem vai ser inaugurada uma exposição de pintura na Associação 25 de Abril, em Lisboa (Dulce Afonso/A25A)

11 comentários:

manuel carvalho disse...

Caros camaradas

Sobre este assunto na História do Batalhão 2845 que na data estava em Teixeira Pinto e ao qual estava agregada a 2572 e outras unidades, consta o seguinte "em 26 de Nov 69 Devido a acidente com armadilha montada pelas N T do destacamento de Bachile, faleceram 01 Furriel Mil e 01 Soldado, ambos da C Caç 2572". Só isto sem nomes mais nada.
A 2572 e a 2571 andavam há algum tempo a atuar nesta zona tanto que em 21 de Nov um Furriel da 2572 João Carlos Figueiredo Nobre acionou uma mina anti-pessoal e ficou gravemente ferido.No dia 28 de Nov. a 2571 numa emboscada naquela zona um morto dois feridos graves e um ferido ligeiro.
Em Fevereiro de 69 com a chegada do C A O P 1 a Teixeira Pinto começou toda esta saga com a intenção de fazer a paz no Chão Manjaco que no dia 20 de Abril de 70 deu naquilo que todos nós bem sabemos.Durante cerca de um ano também andei a dar para este peditório mas embora com algumas marcas no corpo ainda cá ando coisa que infelizmente alguns nossos camaradas não podem dizer.
Um abraço para todos

Manuel Carvalho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Manel, a verdade é que não tínhamos, até agora, qualquer notícia desta rapaziada, do meu tempo, a CCAÇ 2572... Abraço, Luis

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... correspondendo à solicitação de identidade (e outros dados, relacionados com o Memorial do Bachile):
- HUMBERTO DOS SANTOS AIRES
- natural da freguesia do Vale de Gouvinhas, concelho de Mirandela;
- filho de Palmira da Glória Laureana, e de Manuel Joaquim Aires;
- solteiro;
- soldado atirador de infantaria n/m 03823969, mobilizado pelo RI16-Évora e colocado na CCac2572, destinada ao reforço operacional do BCac2845 (aquartelado no noroeste da Guiné);
- na 4ªfeira 26Nov1969, pouco mais de três meses após chegar ao TO-Guiné, encontrando-se nas imediações do destacamento do Bachile, quando auxiliava o furriel miliciano 'oesp' José Duarte Franco Verde na montagem de armadilhas, em uma delas ocorreu inopinada deflagração, causando a morte instantânea de ambos aqueles militares;
- veio a ser trasladado e ficou inumado no cemitério paroquial da sua naturalidade.
A sua Alma repousa em Paz.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigadao ao JC Abreu dos Santos, colaborador permanente do portal UTW - Ultramar Terra Web (Dos Veteranos da Guerra do Ultramar). Ficamos, pois, a saber que o Humberto dos Santos Aires era um transmontano de Mirandela.

Morreram 32 camaradas de Mirandela na guerra do ultramar.

http://ultramar.terraweb.biz/Aerograma/03Mortos%20na%20Guerra%20do%20Ultramar/LetraM/MEC_150n.pdf

Deve-se ao nosso camarada JC Abreu dos Santos o trabalho mais exaustivo, rigoroso, válido e fiável, disponível na Net, no Portal UTW, sobre a identificação e a listagem dos nossos camaradas mortos na guerra do ultramar, por concelho de naturalidade. Recorremos sistematicamente a esta fonte para pesquisar elementos informativos sobre os nossos bravos, mortos no ultramar.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... Caro Luís Graça,
Agradeço as simpáticas palavras que me dirigiu.

Uma primeira questão:
Desconhecia a existência da ligação [url] que reproduziu, na qual consta [...]/Aerograma/[...].
O 'link' correcto, é...
http://ultramar.terraweb.biz/03Mortos%20na%20Guerra%20do%20Ultramar/LetraM/MEC_150n.pdf
Sobre aquele apêndice "aerograma", irei indagar por que motivo surgiu disponível na net.

Um outro assunto, este relacionado com a seguinte sua observação/opinião:
- «Nessa altura [Nov1969], os restos mortais dos militares portugueses eram já trasladados para o cemitério da sua terra natal... »
Ora, tal pressupõe que - anteriormente -, "os restos mortais dos militares portugueses" ainda não seriam "trasladados".
Para além da legislação coeva (que bem conheço não apenas os meandros como os respectivos normativos e aplicações práticas), o meu conhecimento, directo, pessoal, de inúmeros 'casos' - muitos dos quais por visitação a familiares e/ou a cemitérios e campas -, não permite nem consente dar créditos à recorrente e divulgada ideia, segundo a qual "os nossos mortos não vinham/vieram porque as famílias tinham de pagar" (etc, etc, etc.).
Tal, não é verdade.
Desejando não elaborar nem discorrer, neste meu comentário, sobre tal matéria - para muitos, controversa -, queira aceitar os meus cordiais cumprimentos.

Manuel Carvalho disse...

Caros camaradas

Sobre a trasladação dos nossos mortos quero dizer o seguinte:
Eu não digo "que os nossos mortos não vieram porque as famílias tinham que pagar" até porque sei muito bem os motivos porque nalguns casos não vieram e não tem nada a ver com qualquer pagamento.O que digo é que nalguns casos que conheço e um é meu familiar directo, foi pedido aos pais o pagamento de cerca de doze contos, para ter cá o corpo do seu filho de volta, que lhe tinham levado obrigado, para combater ao serviço da Pátria, diziam eles.Não conheço a lei que rege este assunto, mas também não estou a pensar que só fizeram esta patifaria a este meu tio e a mais meia dúzia que tiveram azar, sei é que ele só se recriminava porque achava que não tinha feito o suficiente para safar o filho daquele fim trágico.Agora imaginem o ambiente em minha casa depois desta má notícia embarquei para a Guiné passados dois meses, nem tive coragem de me despedir, saí de casa como se viesse no próximo fim de semana, passados uns meses embarcou outro meu irmão para Angola.A maneira como eram transportados os nossos Praças nos porões daqueles barcos, podia dizer muito mais, mas fico-me por aqui.Um abraço.

Manuel Carvalho

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... por excepção, em vista de Manuel Carvalho aqui ter vindo com explítica intenção de me contraditar, regresso ao 'off-topic'.
1.- Deverá indicar o nome do seu familiar directo, a que alude no seu comentário;
2.- Tendo afirmado desconhecimento de legislação coeva sobre a matéria em apreço, mandaria a mais elementar prudência evitar pronunciar-se sobre o assunto, ademais em vista de enunciar gereralidades e 'casos' não identificados;
3.- As questões que agrega - como sejam o tempo e circunstâncias de embarques, seu e de um ser irmão, para determinados teatros-de-operações -, em bom rigor nada adiantam para clara e justa "apreciação de causa"; o mesmo, relativamente às condições de transporte das NT para o Ultramar:
4.- Por fim, mas não menos importante, é rotundamente falso - repito (e assino por baixo), falso! -, que fosse "pedido o pagamento" como condição 'sine qua non' para que restos mortais de um militar falecido em campanha no Ultramar, viesse a ser trasladado para a sua naturalidade, não podendo nem devendo ser confundida a "prestação de uma caução" - note-se, caução -, caso em que familiares directos desejassem a "imediata" - note-se, imediata - trasladação (caução aquela que, por impedimento económico dos interessados, poderia ser - como o foi, bastas vezes, substituída por "atestado de pobreza passado pela respectiva junta de freguesia"), dizia, confundir a "imediata trasladação", com a "exumação e consequente trasladação, meses (e alguns casos um ou dois anos) depois, no primeiro transporte marítimo entre o respectivo teatro-de-operações e a Metrópole ou Ilhas Insulares ou outros territórios portugueses da respectiva origem".

Mas, ao fim e ao resto, a ideia genérica, supra transmitida por Manuel Carvalho, é a mesmíssima que desde há décadas a esta parte fez o seu caminho, o mor das ocasiões, não no sentido do respeito pela memória dos nossos mortos e dignidade dos respectivos familiares; (chegando-se a ponto de surgir na 'net' reproduções de "telegramas expedidos pelo DGA" para familiares, sem contudo breve notação explicativa).

É meu desejo, e intenção, não retomar, relativamente ao presente tópico exposto neste 'P19030', quaisquer diálogos.

Melhores cumprimentos,
João Carlos Abreu dos Santos (CC-1085961)

Anónimo disse...

Caros camaradas:
Antes de mais, e depois de ler alguma legislação coeva do período da guerra colonial, nomeadamente a datada de 1961, 1963 e 1966, parece-me importante distinguir a transladação das ossadas da transladação do corpo integral. E, sem mais delongas, quero confirmar o que disse o meu irmão Manuel Carvalho quanto aos 12 contos que teve que pagar o nosso tio para fazer transladar o corpo do seu filho de Angola até ao cemitério de Medas- Gondomar. De resto, em legislação de 27 de Fevereiro de 1961 refere-se que a família do militar falecido para além de requerer a transladação do corpo tem ainda que entregar uma caução de 10 a 15 mil escudos substituível por compromisso de pessoa ou entidade idónea assumindo a responsabilidade pelas despesas inerentes ao serviço solicitados. E reitero o que disse o meu irmão: um Estado que pede o sacrifício da vida de um jovem em prol da defesa de um política anacrónica e não devolve aos seus pais, gratuitamente, o respectivo corpo, é um Estado de patifes. Mais ainda, teve o meu tio condições de reunir esse dinheiro, mas, a maioria das famílias portuguesas não tinha 12 mil escudos, nessa altura.
Um abraço
Carvalho de Mampatá.

Anónimo disse...

Caros camaradas

Estou a imaginar essa negociata com o meu tio e com os outros pais dos nossos camaradas, se der doze ou quinze contos poderá demorar uns meses senão poderá demorar um ano ou dois e os Senhores com o coração todo partido com a notícia que tinham recebido e agora onde é que eu vou arranjar o dinheiro ou então um atestado de indigência? Que lata eles tinham, nem que fossem cinco centavos, então eles não nos levavam para combater obrigados, porque é que não nos entregavam no mesmo sítio quando morríamos ao seu serviço, o mais rápido possível e sem qualquer pagamento.
Quero dizer ao Sr. João Carlos Abreu que dispenso lições sobre moral e respeito pela memória dos nossos camaradas mortos e pelos seus familiares.

Manuel Carvalho

Antero Santos disse...


Manuel Carvalho recomendo a leitura do Post do José Marcelino Martins de Outubro de 2012. Depois da leitura do texto sentir-te-ás minimamente informado e também que a tua ignorância sobre este tema (que é igual à minha) não é uma forma de te sentires menorizado. Quando me dói um dente foi ao dentista e se alguém precisar de alguma informação sobre o fabrico de fechos de correr fico à disposição.
Para acederes à publicação usa o endereço abaixo -
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012_09_30_archive.html

Continuarei a ser um leitor assíduo do blogue do Luís Graça pela qualidade da informação mas não enviarei qualquer texto para publicação nem comentarei qualquer tema. Este meu comentário foi uma excepção.
Cumprimentos
Antero Santos - CCAÇ 3566 Empada - CCAÇ 18 Aldeia Formosa - 1972/74

Anónimo disse...

Obrigado amigo Antero agora já sei mais do que sabia há uns dias sobre este assunto. De qualquer maneira eu só dizia aquilo que ouvi do meu pai dito a ele pelo meu tio seu irmão, que tinha pago ao estado Português cerca de doze contos para reaver o corpo do seu filho morto ao serviço desse mesmo estado e para dizer isto eu não precisava de conhecer nenhuma lei.
Leio muito do que escreves e uma vez ou outra posso não concordar contigo mas tenho uma certeza, falas do que sabes e abordas os assuntos duma forma séria.
Aparece um dia destes no Bando. Um abraço e mais uma vez obrigado.

Manuel Carvalho