1. O "boneco" do nosso António Rosinha (*), "tuga", "colon", "retornado", leva-nos a fazer a seguinte pergunta: quantos "retornados" houve, no séc. XX, nos outros países europeus, para além de Portugal, com colónias ou protetorados que acederam à independência política ? Casos nomeadamente da França, da Holanda, Grão-Bretanha...
Como termo de comparação, partimos da estimativa mais consensual do total geral de “retornados” (1974/76), oriundos de Angola e Moçambique: c. 500 mil / 520 mil pessoas.
Aproximadamente menos de 2/3 vieram de Angola, e pouco mais de 1/3 de Moçambique; das restantes colónias (Cabo Verde, Guiné, São Tomé) os números são residuais (**).
A. Quantos foram os "pieds-noirs" que sairam da Argélia, com a independência em 1962 ? (***)
É arriscado avançar com números, por causa das fontes, das metodologias, dos enviesamentos, etc. Mas os números são necessários para termos uma noção mais aproximada das realidades complexas. É verdade que também servem para mentir, ocultar, branquear, etc.
O número exato varia conforme a fonte:
(i) vários relatos históricos estabelecem que cerca de 800 mil foram evacuados para França e aproximadamente 200 mil permaneceram temporariamente na Argélia, sendo que o número dos que permaneceram foi se reduzindo rapidamente;
(ii) algumas fontes falam em “quase 1 milhão” de refugiados (outro termo que também não é "neutro");
O êxodo ocorreu de forma acelerada, em poucos meses, tal como em Angola e Moçambique, fruto do temor de represálias e das mudanças políticas, económicas e sociais radicais após o fim do domínio francês.
B. Quanto a holandeses (ou neerlandeses, como se diz hoje), saídos das ex-colónias dos Países Baixos...
(i) Índias Orientais Holandesas (Indonésia):
(ii) Suriname:
(iii) Antilhas Holandesas:
(iv) África do Sul:
Em resumo: a saída dos holandeses das ex-colónias foi significativa na Indonésia (após 1949) e em Suriname (após 1975), mas comparativamente menos dramática que a dos "pieds-noirs" na Argélia. ou das colónias / províncias ultramarinas portuguesas (há quem não goste do termo "colónias),
C. Quanto aos britânicos, não há um número consolidado ou uma estimativa global de “retornados”, na sequência das várias independências dos territórios do império onde o sol nunca se punha no tempo da Raínha Vitória...
Os retornos existiram, mas dispersos, com destaque para expulsões pontuais (ex: Uganda, 1972, cerca de 27.000).
O fenómeno é amplamente documentado no caso português, mas não tem equivalente em escala ou identificação no caso britânico.
D. Os espanhóis, por sua vez, não tiveram um fenómeno de "retornados" semelhante ao caso português.