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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27342: Agenda cultural (905): Exposição do artista plástico António Carmo, "Diálogo das Cores", patente ao público até Dezembro, com entrada gratuita, no Museu Municipal Santos Rocha na Figueira da Foz

Foto com a devida vénia ao Facebook do Museu Municipal Santos Rocha

1. Mensagem do artista plástico António Carmo, chegada hoje mesmo ao nosso Blogue através do Formulário do Blogger:

Acabei de encontrar o blogue numa pesquisa do google e a propósito da minha exposição que está patente no Museu Santos Rocha na Figueira da Foz.
Fica até fim de Dezembro com entrada gratuita.

Abraço cultural
António Carmo



Sobre o artista:

António Carmo nasceu em 1949 no Bairro da Madragoa em Lisboa, filho de gente ligada ao mar, mas foi criado pela madrinha de baptismo, tendo vivido sempre na capital.

Dada a sua apetência para o desenho e a conselho do seu professor, na adolescência, ingressa na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde cursou Pintura Decorativa. Ainda como estudante começa a frequentar as tertúlias de Lisboa, nomeadamente na Brasileira do Chiado, Café Tarantela, Café Vává, Leitaria Garrett, etc.

Na Brasileira, conheceu e conviveu com algumas das figuras conhecidas da cultura nacional, tais como Almada Negreiros, Abel Manta, Jorge Barradas e João Hogan que, em 1970 apadrinhou a sua exposição na Galeria Diário de Notícias, e outros que ainda hoje fazem parte do seu convívio diário, entre estes, Virgílio Domingues, Alberto Gordillo e Luís Lobato.

Dada a diversidade de interesses culturais que sempre manifestou, teve o privilégio de conviver com grandes vultos do mundo das artes, nomeadamente do bailado, cinema e literatura.

Amigo pessoal de alguns dos nossos cantores e compositores, tais como Adriano Correia de Oliveira (que homenageou com um painel de azulejos em Avintes), Carlos do Carmo (executou a capa do LP O Homem  no  País), Paulo de Carvalho, etc. Em 1968 faz a sua primeira exposição individual, na Galeria Nacional de Arte em Lisboa. Nesse mesmo ano, ingressa no Grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio, aí permanecendo por dezoito anos e onde conheceu alguns grandes nomes do bailado internacional. Nesse período, para além de participar como bailarino, fez ainda os figurinos e cenários para alguns bailados do Grupo.

Em 1970 é mobilizado para a Guiné (Guerra Colonial) e durante os 2 anos em que ali permanece, organiza algumas exposições e executa alguns murais; colabora no jornal A Voz da Guiné e faz uma pesquisa sobre a Arte Nalu.

Regressa a Lisboa em 1972 e no ano seguinte promove na Galeria Opinião, uma exposição de reflexão e denúncia dessa mesma Guerra Colonial.

Depois de 25 de Abril de 1974, executa grandes murais nas Festas do Avante em conjunto com outros nomes da pintura, tais como: Rogério Ribeiro, Cipriano Dourado, Querubim Lapa, Jorge Vieira e Rogério do Amaral.

A partir de então inicia uma carreira internacional sendo a sua primeira exposição na Galeria Solidair em Roterdão/Holanda, vindo a fixar-se temporariamente em Bruxelas onde há cerca de 25 anos mantém uma permanência constante nalgumas galerias, tais como: Galerie L’Oeil, Racines e, mais recentemente a Galerie Albert I.

Em Bruxelas, executa ainda dois murais de grandes dimensões para a ABEP (Associação de Portugueses Emigrados na Bélgica) que foram, recentemente, doados à Câmara de S. Gilles/Bruxelas.

Dentro do espírito de divulgação cultural que está sempre presente na sua postura social, ilustrou durante alguns anos o “Suplemento Cultural” do matutino O Diário bem como outros jornais. Formou ainda o Grupo Paralelo, na Primavera de 1974, juntamente com alguns pintores e escultores: Adão Rodrigues, Alberto Gordillo, Álvaro Perdigão, António Trindade, Cipriano Dourado, Estevão Soares, Guilherme Casquilho, Teixeira Lopes, Ribeiro Farinha, Rogério Amaral e Virgílio Domingues.

 A ele aderiram posteriormente vários outros artistas plásticos, entre os quais Boavida Amaro, João Duarte, João Hogan, Jorge Vieira, José António Flores, Lurdes Freitas, Maurício Penha, Noémia Cruz e Querubim Lapa.

Nascido numa época ímpar da nossa História, o Paralelo foi também produto do sonho partilhado por quase todos os Portugueses de então, de construir um Portugal melhor, onde até a Cultura e a Arte tivessem a sua oportunidade. Os seus fundadores propunham-se sobretudo promover a divulgação das corrente estéticas das artes plásticas portuguesas, mirando o território virgem que a província representava e, se possível, projectando o voo além fronteiras. O veículo de propaganda eram, naturalmente, as exposições.

Pode dizer-se que ainda hoje, passados 45 anos, o Grupo Paralelo mantém o mesmo espírito e actividade que norteou a sua criação – a divulgação de várias tendências estéticas.

Do seu curriculum fazem parte inúmeras exposições tanto nacionais como estrangeiras que convida a ver na rubrica “Esposições”.


Créditos: Página do artista António Carmo
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Nota do editor

Último post da série de 3 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Setembro de 2025:

Queridos amigos,
"Venham mais Cinco, O Olhar Estrangeiro Sobre a Revolução Portuguesa, 1974-1975", é uma exposição soberba como auxiliar da História, por nos trazer à memória eventos que acompanhámos na época, mais não seja pelos órgãos de comunicação social. Como se escreve na folha de sala, "De um dia para o outro aterraram em Lisboa fotógrafos das maiores agências internacionais, jovens e veteranos, que captaram imagens por todo o país, acompanhando a sucessão vertiginosa dos acontecimentos. Muitos vieram em missões de curta duração, outros instalaram-se vários meses para perceber e retratar o que se passava. Quase tudo era surpreendente para os estrangeiros: a situação política inédita num país europeu, o quotidiano dos portugueses, a forma como a política entrava na vida da população. Eram fotógrafos experientes. Tinham um olhar incisivo, procuravam imagens para as capas de revistas de maior tiragem, mas também revelavam empatia, encantamento e genuíno interesse antropológico. Durante cerca de um ano e meio fotografaram tudo e transmitiram ao mundo esse novo conceito: a revolução dos cravos. Após 50 anos, alguns arquivos desapareceram. Assim, em casos excecionais, quando não houve acesso a negativos nem a provas de papel, decidiu-se reproduzir fotografias publicadas em livros. À data de hoje é a única forma de partilhar imagens únicas, de um período decisivo da história e que nunca estiveram reunidas em Portugal."

Um abraço do
Mário



Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”.

Exposição de visita obrigatória, ajusta-se à Educação para a Cidadania, oxalá que percorra o País todo

Mário Beja Santos

A exposição decorre no Parque Tecnológico da Mutela, em frente das ruínas da Lisnave, pode ser vista até 23 de novembro. Porquê Venham mais cinco? É o título de uma canção de José Afonso, inicialmente escolhida para ser tocada na Rádio Renascença na madrugada de 25 de abril de 1974, como senha do início do golpe militar. Mas, como esta canção estava proibida na rádio, a senha acabou por ser substituída por Grândola, Vila Morena. Através deste título, os organizadores prestam homenagem a José Afonso.

Na folha de sala o curador da exposição, Sérgio Tréfaut, recorda in memoriam Margarida Medeiros, pelo seu papel essencial neste levantamento único de imagens:
“Venham mais cinco foi uma ideia que surgiu no verão de 1993, quando Margarida Medeiros e Ana Soromenho propuseram que se fizesse uma grande exposição com as imagens dos fotógrafos estrangeiros que haviam retratado o processo revolucionário português. No ano seguinte seria comemorado o vigésimo aniversário do 25 de abril. Margarida e eu rumámos a Paris e mergulhámos nos arquivos das grandes agências internacionais, vasculhando milhares de provas de contacto.
Três décadas depois, a expedição abre as suas portas. Entre o início da nossa pesquisa, no outono de 1993, em Paris, e o seu recente desaparecimento, Margarida Medeiros tinha-se transformado numa das maiores especialistas de fotografia em Portugal, autora de livros de referência, curadora de exposições e responsável pela formação de várias gerações de estudantes. Esta exposição nasceu da nossa amizade.”


Na primeira visita pus o foco nos acontecimentos ligados ao 25 de abril e às primeiras transformações sociopolíticas e económicas ocorridas no país. Senti, no entanto, que ainda havia algumas imagens a captar, seguindo depois para os acontecimentos da Reforma Agrária, as eleições do 25 de abril, as independências e o retorno de muitos, e, finalmente, o 25 de novembro, com este evento diminuiu drasticamente o interesse do olhar estrangeiro sobre a Revolução portuguesa. Vamos, pois, a este punhado de imagens que tenho o maior prazer em partilhar convosco.

Começa-se pelas secções A Festa da Liberdade e Novas Formas de Poder
Henri Bureau, Getty Images, 1º de maio 1974, Lisboa
Guy Le Querrec, Magnum Photos, julho 1974, Lisboa
Guy Le Querrec, Magnum Photos, maio 1975, Beira Alta. Campanhas de Dinamização Cultural, Veterinários do MFA vacinam suínos

Imagens representativas da Reforma Agrária e as mudanças no Alentejo:
Vojta Dukát, 1975, Aljustrel
Sebastião Salgado, 1975, Aljustrel. Trabalhadores na sede do PCP
Sebastião Salgado, julho de 1975, Alentejo. Conversas entre trabalhadores agrícolas
Sebastião Salgado, outubro 1975, Alcácer do Sal. Ocupação de um latifúndio por trabalhadores agrícolas
Guy Le Querrec, Magnum Photos, 25 de abril 1975, Baleizão. Primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte
Jean-Paul Paireault, 1975, Beja. Comício do PCP, Álvaro Cunhal, secretário-geral do partido, ao centro

Imagens das independências:
Jean-Claude Francolon, setembro 1974, perto de Tete, Moçambique. Imagem da reconciliação tirada a pedido do fotógrafo
Sebastião Salgado, dezembro 1975, Angola. Hospital recebe soldados feridos da Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA) e civis atingidos durante a fuga
Alain Mingam, Getty Images, 11 de novembro de 1975, Luanda. Crianças-soldado durante um desfile no dia da independência
Alécio de Andrade, ADAGP, Verão de 1974, porto de Lisboa. Retornados chegam da Guiné-Bissau
Alain Keler, Agence Myop, setembro de 1975, Padrão dos Descobrimentos, Belém. Caixotes dos retornados
Sebastião Salgado, 1974, Fátima. Antigo combatente vem agradecer à Virgem Maria

Imagens de um país dividido:
Alain Mingam, Sipa Press, 12 de novembro de 1975, Lisboa. Deputados passam a noite no Palácio de São Bento, cercado pelos manifestantes
Sebastião Salgado, 7 de julho de 1975, Rio Maior. Primeiro grande ataque às sedes do PCP

Imagem do 25 de novembro:
Alain Mingam, Getty Images, 26 de novembro de 1975, Tancos. Paraquedistas rendem-se às forças vitoriosas

(Fotos editadas por CV)
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Notas do editor:

Vd. post de 26 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27258: Agenda cultural (902): "Venham Mais Cinco", o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975, exposição fotográfica para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

Último post da série de 30 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27270: Agenda cultural (903): Convite para a Conferência Círculo do Mar - "Dar Voz Às Guarnições" - Ultramar 1961-1974, dia 16 de Outubro de 2025, pelas 17 horas, a ter lugar na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, Lisboa (José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista)

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27258: Agenda cultural (902): "Venham Mais Cinco", o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975, exposição fotográfica para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2025:

Queridos amigos,
Para mim, é a exposição do ano, poder mergulhar nas imagens que grandes fotógrafos estrangeiros tiraram do nosso período revolucionário. Exposição inigualável, seguramente irrepetível, goza de todos os condimentos para poder percorrer o país. Impressionou-me a afluência, a alegria e a espontaneidade das observações de quem observava as chaimites, os soldados prostrados pelo cansaço, aquele memorável 1.º de maio, a maior festa que houve em Portugal. Cingi-me às muitas dezenas de imagens que falam do período libertador, voltarei para mergulhar na revolução, nos conflitos militares, na reforma agrária, no desaguar do PREC. É bom sentir-me um octogenário que vibra com imagens daquele passado transformador, estão ali as raízes da nossa democracia, e este olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa dá-nos acalento.

Um abraço do
Mário



Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975:
De visita obrigatória, própria para a Educação para a Cidadania, oxalá que percorra o País todo


Mário Beja Santos

A exposição decorre no Parque Tecnológico da Mutela, em frente das ruínas da Lisnave, pode ser vista até 23 de novembro. Porquê "Venham mais cinco"? É o título de uma canção de José Afonso, inicialmente escolhida para ser tocada na Rádio Renascença na madrugada de 25 de abril de 1974, como senha do início do golpe militar. Mas, como esta canção estava proibida na rádio, a senha acabou por ser substituída por "Grândola, Vila Morena". Através deste título, os organizadores prestam homenagem a José Afonso.

Na folha de sala o curador da exposição, Sérgio Tréfaut, recorda in memoriam Margarida Medeiros, pelo seu papel essencial neste levantamento único de imagens:
“Venham mais cinco foi uma ideia que surgiu no verão de 1993, quando Margarida Medeiros e Ana Soromenho propuseram que se fizesse uma grande exposição com as imagens dos fotógrafos estrangeiros que haviam retratado o processo revolucionário português. No ano seguinte seria comemorado o vigésimo aniversário do 25 de abril. Margarida e eu rumámos a Paris e mergulhámos nos arquivos das grandes agências internacionais, vasculhando milhares de provas de contacto.
Três décadas depois, a expedição abre as suas portas. Entre o início da nossa pesquisa, no outono de 1993, em Paris, e o seu recente desaparecimento, Margarida Medeiros tinha-se transformado numa das maiores especialistas de fotografia em Portugal, autora de livros de referência, curadora de exposições e responsável pela formação de várias gerações de estudantes. Esta exposição nasceu da nossa amizade.”


Dá-se hoje ao leitor uma imagem muito parcelar da exposição, o nosso património histórico fica muitíssimo mais enriquecido com os olhares de grandes profissionais que por aqui passaram desde o golpe de Estado até ao fim do PREC. Procurei focar-me na primeira secção centrada nos atos libertadores, também tenho direito à comoção, a memórias que ganham eletricidade, podendo apanhar um metropolitano à porta de casa até ao Cais do Sodré, meter-me num barco Transtejo e um autocarro da Metropolitana, preferi uma visita mais cuidada, que irei continuar nas próximas semanas, esta exposição inesquecível merece que se venha e que se volte, há imagens luminescentes que vieram completar o nosso acervo e a obra dos nossos grandes fotógrafos. Prometo continuar.

Entrada do Parque Tecnológico da Mutela, Almada, exposição a aguardar visitas até novembro
Henri Bureau, Sygma/Corbis via Getty Images, 27 de Abril 1974, Lisboa
Jean-Claude Francolon, Gamma-Rapho via Getty Images, 26 de Abril 1974, Rua do Alecrim, Lisboa
Henri Bureau, Sygma/Corbis, via Getty Images, 26 de Abril 1974, Lisboa
Jean-Claude Francolon, 1º de Maio 1974, Lisboa, entrada do estádio onde tem lugar o comício
Henri Bureau, Sygma/Corbis, via Getty Images, 1.º de Maio 1974, Avenida Almirante Reis, Lisboa
Henri Bureau, Sygma/Carbis, via Getty Images, 28 de Abril 1974, Estação de Santa Apolónia, Lisboa, multidão espera Mário Soares, líder do Partido Socialista no seu regresso do exílio
Elementos da PIDE/DGS presos em Caxias, 1975
Jean-Claude Francolon, Gamma via Getty Images, 26 de Abril 1974
Largo do Carmo, Lisboa
Paola Agosti, Abril 1974, Lisboa
Jean-Paul Miroglio, Lisboa, 1975, Crianças saúdam a passagem de una manifestação
Serge July Fotolib/Bibliothèque Historique de la Ville de Paris
Abril 1975, Lisboa, Visita de Jean-Paul Sartre a Portugal
Jean-Paul Miroglio, 1975, Alverca, Cantina da Fábrica Mague, Arroz-doce
Guy Le Querrec Magnum Photos, maio de 1975, Parada de Ester, Beira Alta, Campanhas de Dinamização Cultural, Convívio de militares e camponeses
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Nota do editor

Último post da série de 23 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27247: Agenda cultural (901): Convite da Liga dos Combatentes para a Festa do Livro, a decorrer entre os dias 25 e 28 de Setembro nos Jardins do Palácio de Belém, conforme o programa

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27241: Notas de leitura (1840): Mais perguntas do que respostas nestas fotografias em tempos de Império (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Setembro de 2025:

Queridos amigos,
Foi uma muito bem organizada exposição representada no Padrão dos Descobrimentos, em 2021, com o foco do uso da fotografia ou memória fotográfica no período do colonialismo moderno. Se o leitor, ao folhear agora o livro-catálogo, estiver à espreita de encontrar respostas para este vasto acervo de imagens que se prendem com expedições científicas ou de demarcação de fronteiras, exibição de cerimónias ou mostra de usos e costumes, imagens associadas à "missão civilizadora", com escolas, professores missionários, aprendizagem de artes e ofícios, reordenamentos, as alvoradas do desenvolvimento e, inevitavelmente, as lutas de libertação, os diferentes instantes do conflito. Um belo livro-catálogo, um auxiliar que pode contribuir para modelarmos as respostas.

Um abraço do
Mário



Mais perguntas do que respostas nestas fotografias em tempos de Império

Mário Beja Santos

Com base na exposição que ocorreu no Padrão dos Descobrimentos, em 2021, intitulada "Visões do Império", coordenada por Manuel Bandeira Jerónimo e Joana Fontes, nesse mesmo ano a editora Tinta da China produziu um catálogo que referencia plenamente as matérias versadas no evento expositivo. Escrevia-se então:

“O que nos conta uma imagem? A fotografia foi um elemento fundamental da história do moderno colonialismo português. Sem ela, a idealização e o conhecimento sobre os territórios coloniais, seus recursos e populações, teriam sido diferentes. As imagens fotográficas foram encenadas e comercializadas, com diferentes propósitos: alimentaram a imaginação da dominação colonial, concorrendo para a sua concretização, ajudaram a moldar uma visão do “outro” como essencialmente diferente, nos seus modos de vida, costumes e mentalidades, mas serviram também para denunciar a iniquidade e a violência da colonização, acalentando aspirações de um futuro mais humano e igualitário – sonhos esses com diferentes matizes e orientações políticas. Os seus usos no passado e os seus legados no presente foram e são vastos, heterogéneos e duradouros.
As fotografias expostas são provenientes de várias coleções particulares e de inúmeras instituições, como o Arquivo Nacional Torre do Tombo, a Fundação Mário Soares/Maria Barroso, o Arquivo & Museu da Resistência Timorense, o Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe ou Centro de Documentação e Formação Fotográfica, em Maputo e algumas serão mostradas ao grande público pela primeira vez.”


Numa secção do catálogo escreve o historiador Aniceto Afonso:

“As visitas que fazemos a este período da recente História de Portugal dos novos países confronta-nos com um mundo que deixou subitamente de existir, mas cujas marcas se escondem nas sociedades herdeiras, que continuam magoadas.

A pertinência de um olhar historiográfico abrange, na procura do equilíbrio perante a extensa literatura colonial anterior, em que os temas antes na penumbra se tornam obrigatórios, como a violência, a discriminação, o racismo, a ausência, o domínio, a exclusão, não pode, ainda assim, excluir as influências mútuas, as lutas comuns, a construção de relações de cooperação e a visão de um mundo novo, emergente do fim dos impérios.

A fotografia é um documento fascinante, porque nos permite ‘ver’ um instante que existiu. A partir daí, a fotografia suscita infindáveis perguntas. Coloca-nos num tempo e num lugar, mas não resolve a nossa relação com os acontecimentos. Ou seja, cada uma das fotografias que analisamos sugere-nos questões, dificilmente responde às nossas interrogações, mas não deixa de nos inquietar.”


Em consonância entre a exposição e o catálogo, o que temos agora para folhear é suscetível de levantar mais perguntas do que oferecer respostas. O que aparece em diferentes secções tem como espaço e lugar o Terceiro Império, um branco no colonato do Limpopo parece contrastar com um operário negro moçambicano, isto como chamada de atenção para um vislumbre de uma História que tem pluralidade de visões, em todos os domínios abarcados na exposição. Logo as expedições, que podem até a ver com a delimitação de fronteiras, estudos geológicos, até curiosidades de um tempo em que se acreditava haver raças superiores e inferiores. Há os usos e costumes, destaque para as imagens que mostram o ‘gentio a civilizar-se’; e há o trabalho forçado que veio substituir a escravidão, como Manuel Bandeira Jerónimo analisa a propósito do cacau, por onde andaram chineses:

“Na viragem para o século XX, o caso do ‘cacau escravo’ em S. Tomé e Príncipe, alimentado pelo transporte forçado de milhares de trabalhadores negros oriundos sobretudo de Angola, mas também de Moçambique e até da China, foi um dos mais ampla e acerbamente debatidos. A situação acicatou o nacionalismo imperial, tão característico da época, alimentando teses mais ou menos conspirativas sobre a cobiça e as ambições estrangeiras (estiveram envolvidos missionários, sobretudo protestantes, industriais do cacau como os Cadbury, jornalistas, médicos e autoridades públicas). A fotografia assumiu um papel central, as imagens captadas serviram diversos propósitos: eram as ‘provas’ da ‘civilização’ contra as ‘provas’ da ‘selvajaria civilizada’ do colonialismo português e europeu.

Não faltarão imagens do que passou a ser designado como grandes operações de pacificação, a potência colonial trazia a administração, um posto médico ou de saúde, a escola missionária. Brancos de um lado, indígenas do outro, emergem no trabalho, em colonatos, em colheitas, nas escolas, como profissionais secundários na saúde, os missionários ganharão aqui relevo; com a chegada das administrações e com os planos das infraestruturas, lança-se igualmente a operação dos reordenamentos, fala-se em progresso social e do desenvolvimento, são expressões que acompanham a chamada ‘missão civilizadora’; dá-se a miscigenação cultural, criam-se bandas, grupos étnicos de bailado, emissões de rádio, há uma cidade para brancos e civilizados, cercada de musseques, onde vivem os indispensáveis para o funcionamento da indústria e do comércio; inopinadamente e com escassos anos de diferença, estalam as guerras de libertação, um regime imperial como o Estado Novo não estava preparado para aceitar a mudança dos tempos".


Como observa Afonso Dias Ramos:

“As insurreições eram apresentadas como primeiro e não último recurso dos rebeldes e, durante a guerra, esta lógica visual havia de ser levada ao cúmulo de converter a violência da ocupação colonial em simples e legítima autodefesa. Procurava-se extrair o máximo de capital político da exibição pública sensacional dos cadáveres das vítimas, utilizando fotografias escabrosas para justificar a guerra na Organização das Nações Unidas, mobilizar a sociedade civil, intimidar rebeldes e silenciar críticos. A intensa circulação das imagens impublicáveis focava-se no como e não no porquê dos ataques. Fixava-se nos seus aspetos irracionais para inviabilizar ideias políticas e invalidar as críticas à resposta desproporcional. Justapunha-se a retratos dos soldados como meros agentes da paz, civilização e ordem. Ao longo deste conflito, a brutal guerra foi sendo gradualmente rasurada da imprensa, enquanto as fotografias se iam reduzindo às inócuas vistas dos embarques e desembarques, entre os quais nada parecia ocorrer, até também estas serem proibidas, em 1969.”

Um livro-catálogo de 2021 que mantém flagrante a atualidade. Livro para guardar na estante.

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Nota do editor

Último post da série de 19 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27231: Notas de leitura (1839): A Festa do Outono de 1956 no Campo Grande, eu estive lá (Mário Beja Santos)

sábado, 19 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27033: Os nossos seres, saberes e lazeres (690): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (213): Uma deriva no Atlântico, a flamejante, trepidante, contemporaneidade na Arte (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Maio 2025:

Queridos amigos,
Trata-se de uma exposição permanente a ver no Centro Cultural de Belém, mas apresentada como exposição permanente em permanente transformação, fala-se no Atlântico, sobretudo a partir dos meados do século XX, verdadeiramente um espaço de trânsitos e exílios. Um dos aspetos marcantes da exposição é pôr o confronto entre os artistas portugueses e os demais, gera no visitante uma tremenda inquietação, parece que foi deliberado dar saltos cronológicos, obrigar o visitante a ir atrás , à procura de amarras nesta deriva que mete pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, é um percurso em ciclorama, para não nos esquecermos que na arte estão plasmadas as transformações sociais, artísticas e tecnológicas. Exposição a não perder, prometo que não haverá deceções com a altíssima qualidade da apresentação destas belíssimas obras de arte.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (213):
Uma deriva no Atlântico, a flamejante, trepidante, contemporaneidade na Arte


Mário Beja Santos

Mais do que um espetáculo para os sentidos e um desfrute estético, a exposição Uma Deriva Atlântica. As artes do século XX a partir da Coleção Berardo, tendo como curadora Núria Enguita, diretora artística do Museu da Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura do Centro Cultural de Belém implicam o visitante a procurar permanentemente as ligações num tremendo caleidoscópico de obras de arte, apercebendo-se rapidamente que a cronologia dos movimentos artísticos de toda esta plástica é coisa inexistente. Aliás, como se pode ler na abertura da exposição, temos aqui um arco temporal de 1909 a 1977, há como que uma provocação ou um desafio, a exposição tende a desarrumar ideias feitas, pois dissocia as referências e as formas artísticas: “Segue uma cronologia inconstante, mostrando ligações e confrontos entre as margens europeia e americana para indicar possíveis relações e derivas por vezes esquecidas ou ausentes da história de arte. Enquanto remontagem da coleção permanente, Uma deriva atlântica apresenta uma seleção de artistas portugueses e internacionais, entre pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, assim se exprime a arte na história do mundo e se mostra a modernidade enquanto eclosão múltipla de importantes transformações sociais, artísticas e tecnológicas".

Há momentos em que nos sentimos numa sala de espelhos, entre Picasso e Amadeo de Souza-Cardoso, Lourdes Castro e Marcel Duchamp, Lucio Fontana e Ana Hatherly. Num total de 170 artistas, é um percurso que começa antes da Primeira Guerra Mundial e se estende até à descolonização da década de 1970. A exposição só foi possível com o concurso de várias coleções em depósito e com obras emprestadas. É, no mínimo, uma apreciação original entre o que de mais incendiário se produziu na Europa e na América do Norte, ficamos perplexos com esta viagem das ideias estéticas, os trânsitos e os exílios, as novas afinidades geopolíticas, tudo como tendo berçário aquela Paris de cubistas, expressionistas, futuristas. Importa não esquecer que Amadeo de Souza-Cardoso, antes da guerra, expôs em Chicago, conjuntamente com alguns dos nomes mais sonantes das artes plásticas do seu tempo. Sugiro ao leitor que não perca esta exposição.

Não há que enganar, é um mobile de Alexander Calder, conheci esta obra de arte quando a Coleção Berardo assentou arraiais no antigo Casino de Sintra, a partir daí não o perdi de vista.
Sem título (Ponte), de Amadeo Souza-Cardoso, c. 1914. Observo a José-Augusto França que o melhor do génio do pinto de Manhufe se situa entre 1916 e 1917, mas olhando esta ponte persente-se o gérmen cubista, que ele soube tratar de uma forma muito singular.
Obras de Lyubov Popova.
No panorama artístico russo do começo do século XX, Lyobov Popova destaca-se pela procura de um vocabulário artístico que respondesse aos princípios do construtivismo a partir da pintura. Para Popova, a construção pictórica, entendida como “composição” de planos, era precursora da verdadeira construção tridimensional. Nas suas pinturas e colagens, mas também no trabalho em design têxtil, abordou a forma geométrica através do dinamismo e contraste que é criado pelas inter-relações entre formas semelhantes ou diferentes.
Tête de femme, por Pablo Picasso, 1909.
Tête de femme é um exemplo claro dos estudos que Pablo Picasso fez na procura da representação de tridimensionalidade por meios pictóricos, dando a ver diferentes perspetivas ao mesmo tempo. Aqui é possível observar múltiplas facetas que definem a cabeça da figura feminina, bem como um uso da cor e do traço que vinca e fragmenta superfícies. As zonas distintas que compõem o rosto e a definição dos seios compõem formas geométricas nítidas, constituindo uma espécie de grelha que se permite ao artista concentrar a sua atenção na estruturação formal do espaço, construída a partir da sobreposição de vários planos.
La petite, de Eduardo Viana, 1916.
É uma das personalidades mais apaixonantes do modernismo português, simultaneamente atraído por formas novas, tratando na sua pintura quer temas populares, mostrando em retratos a verdade do retratado, os seus nus opulentos foram um ponto de partida para essa longa viagem da desconstrução da figura.
Autorretrato, de Sonia Delaunay, 1916.
Apaixonou-se por Portugal, tal como o marido, Robert Delaunay, ele é sempre tratado como artista mais inovador do que ela, mas estes discos encantatórios, esta vibração da cor, são lhe muito próprios, vê-se e prontamente se diz: é da Sonia, não pode ser de outra pessoa.
Composição (amarelo, preto, azul, vermelho e cinzento), por Piet Mondrian, 1923. Temos poucos quadros deste gigante da pintura mundial, quando procuro deliciar-me com a trajetória de Picasso, Matisse e Mondrian, o meu coração balança, é fascinante tudo o que este holandês produziu, cedo remexeu nas formas e abandonou o figurativismo, viveu entusiasmado com a associação entre a arte e a arquitetura e nos últimos anos da sua vida injetou na telas estes quadrados de código labiríntico.
O abismo prateado, por René Magritte, 1926. Não há surrealista como ele, ponto final.
Hospital de bonecas, por Fernando Lemos, 1949-1952. Lemos ficará na história da arte portuguesa como um fotógrafo surrealista ímpar.
Conchas flores, por Max Ernst, 1929. Sim, é um dos génios do surrealismo, mas pôde gabar-se de tudo ter procurado experimentar, desde a fulgência das cores até ao imprevisto das formas, obriga-nos a interrogar onde está a concha ou se esta não passa de um botão de flor naquele enigmático fundo de horizonte.
O poeta diverte-se, ou o poeta e a sua musa, por Mário Botas, 1978. Ainda bem que os organizadores da exposição se lembraram desta figura invulgar do surrealismo português, olho para estas figuras e só vejo tormento, Botas era médico e não tinha ilusões da doença devastadora que o liquidou. Para esta inolvidável exposição escolhi o Botas e esta sua forma de olhar a vida e do destino que lhe coube.
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Nota do editor

Último post da série de 13 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27013: Os nossos seres, saberes e lazeres (689): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212): Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo (Mário Beja Santos)