Queridos amigos,
Em hora feliz verifiquei que a CP tem uma gama de excursões de dia inteiro, não hesitei em ver os cerejais do Fundão em flor. Sorte no dia, ensolarado, depois de praticamente duas semanas de céu pardacento e mesmo pluvioso; o Tejo a correr em galope, bem caudaloso, e é sempre um prazer, mesmo vendo de raspão, as portas do Ródão. Foi bem gentil o apoio dado pelos guias autárquicos, à chegada a visita a um núcleo interpretativo, um regalo de muito boa qualidade museográfica e museológica. E depois viagem para ver deslumbrantes cerejais, o espetáculo da paisagem passando pela Cova da Beira até às faldas da Serra da Estrela; e depois a aldeia histórica de Castelo Novo, nunca aqui estivera, abençoado programa de aldeias históricas de Portugal que permite requalificações de Almeida até Trancoso. Fiquei confiante em novas deambulações com a marca CP, sou amante de viajar em comboios, lá para os lados do Reguengo Grande estou sempre à espreita que abra a linha do Oeste e anseio que o mesmo aconteça com a linha da Beira Alta para ir visitar um querido amigo a Trancoso.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212):
Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo
Mário Beja Santos
Deu-me para abrir no site da CP, queria fazer uma pesquisa sobre passeios organizados, logo me chamou à atenção a rota da cereja, viagem da Gare do Oriente até ao Fundão, boas-vindas por um guia da autarquia, visita ao Núcleo de Interpretação da Moagem do Centeio (reconstituição do circuito de maquinaria de processamento do cereal da antiga empresa A Moagem do Fundão), passei pelo Fundão, comes e bebes à escolha do visitante, rota da cereja, com passeio em Alcongosta, ver os cerejais em flor e seguir de autocarro para a aldeia histórica de Castelo Novo, regresso ao Fundão, mais comes e bebes à escolha do visitante e regresso até à Gare do Oriente. Gostei do preço, 49€, tive sorte com o dia, segue viagem, o Tejo está caudaloso, as Portas do Tejo, depois de Vila Velha do Ródão, deixam correr a água em cachão, tempos depois arribamos ao Fundão. Cumprimentos efusivos, o grupo segue para a moagem do centeio, era este o cereal que se dava na região, dele se guarda boa memória. Como vamos ver, todo este património está cuidadosíssimo tratado, tenho todo o gosto em exaltar o que me parece tão boa museografia e museologia.
O que estamos a ver chama-se tarara, era equipamento que servia para limpar o centeio com o apoio de um ventilador, que separava as impurezas. Tem um tambor de rede metálica com orifícios de menor diâmetro que o centeio.
Este aqui chama-se ensacadora, é maquinismo onde termina o processo da moagem. O controlo da operação era feito manualmente. O produto era conduzido pelo bico de enchimento para o saco, que era preso por uma mola ou cinta. As farinhas e as sêmolas eram embaladas em sacos de serapilheira.
Para que o visitante fique a saber o que era o sistema de moagem Austro-Húngaro
A imagem fala por mil palavras
Duas imagens de tão impressionante maquinaria
Já percorremos a avenida principal do Fundão, estamos diante da câmara, edifício que já teve outras utilidades, temos à frente vistoso pelourinho, espaço bem ajardinado, bancos ocupados por gente que veio aproveitar o dia ensolarado.Já foi casino, agora é casa de cultura. Impressionou-me na avenida principal a remodelação do cineteatro da Gardunha, no turismo tive acesso à programação cultural no segundo trimestre de 2025, há cinema, exposições, feira ibérica de teatro do Fundão, festival internacional do Fundão, e muito mais, já que vim à procura de cerejais em flor, descobri que existe o motoclube Os Trinca Cereja.
Começou a rota da cereja, Alcongosta é um espaço de eleição. Não me resisto a transcrever de um folheto que me entregaram no turismo: “A rota da cereja é um calendário dos sentidos. Na primavera, as cerejeiras vestem-se de branco, pintando a Gardunha num espetáculo único. No verão, o verde das árvores é pontuado pelos frutos vermelhos que deliciam o paladar. No outono, os tons ocre amarelo-alaranjado das folhas inundam a serra de matizes e cores magníficas. A rota da cereja tem duas portas de entrada localizadas junto à entrada de Alcongosta e na casa da floresta de Alcongosta.” Repito que tive sorte com o dia, a semana precedente fora de dias enevoados, é um espetáculo ver-se com a ilusão de que estamos próximos da Serra da Estrela a partir da Gardunha.”
Tirei fotografias a fio, como é de prever o cerejal domina as paisagens, seguimos num daqueles comboios rodoviários, para-se nuns miradouros, contempla-se a deslumbrante paisagem sobre a Cova da Beira, que se estende até aos limites do sul da Serra da Estrela, fiquei com vontade de voltar, e percorrer Alcongosta com mais cuidado, os seus miradouros e a levada. Há para aqui nomes muito bonitos, como Ribeira da Bárbara ou Vale de Alcambar.
Prossegue a viagem até Castelo Novo, os cenários paisagísticos são deslumbrantes. Leio noutro folheto que esta aldeia histórica se abriga no regaço da Gardunha, teve origem em tempos medievos, a ribeira chama-se Alpreada, foi aliás o primeiro nome deste bastião templário que teve floral em 1202. Por aqui me passeio cheio de contentamento, e o que mais gostei nesta igreja da terra foi este agrupamento de anjinhos, devemos ter aqui nesta estatuária o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Nunca vi uma fonte como esta, poderá ser ilusão minha ou o escultor quis fixar a concha de Santiago, é de uma impressionante singeleza.
O leitor, se assim o entender, tem aqui o essencial da história de Castelo Novo
A torre sineira domina a povoação, fica-me a dúvida se não era também Atalaia, dá para ver até dezenas de quilómetros, os templários esmeravam-se na prevenção do seu sistema defensivo, Castelo Novo deve ter conhecido um grande abandono, mas agora o visitante tem acessos seguros para andar de cima a baixo.Já conheceu melhores dias, mas ainda é um pano de muralha que mete respeito.
Andava-se em digressão lá por cima e chegava-nos a estridência dos Dire Straits, algures havia festa rija. E havia mesmo. Um candidato a deputado apresentara-se pela sua comitiva e oferecera uns comes e bebes, quem vinha na excursão da CP beneficiou da festa, resta dizer que o pelourinho está muito bem mantido bem como a praça envolvente.Estamos regressados ao Fundão, ainda sobra tempo para umas mastigações e beberragens. Mas não quis despedir-me do Fundão sem fotografar este lobo com que Bordalo II brindou o Fundão. E até à próxima viagem, da CP ou outra.
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Nota do editor
Último post da série de 5 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26986: Os nossos seres, saberes e lazeres (688): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (211): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 2 (Mário Beja Santos)
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