Guiné > Região de Gabu > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fonte de Nova Lamego > O Virgílio Teixeira posando com uma bajuda e lavadeira do Gabu.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem enviada pelo Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69; natural do Porto, vive em Vila do Conde; gestor e empresário reformado; tem 205 referências no nosso blogue para o qual entrou em 19/12/2017):
Data - quinta, 3/07/205, 17:46
Assunto - Os filhos de tuga, restos de tuga, filhos do vento...
Falamos do 1º episódio da reportagem sobre os "Filhos de Tuga" (ontem na RTP1).
Ontem, foi da Guiné, suponho que os dois próximos sejam de Angola e Moçambique.
Para mim, ficou muito aquém da expectativa, salve-se ao menos de não falar da guerra e dos comentários dos ex-turras, hoje, guerrilheiros , como no passado com outros comentários, designadamente do Furtado. Fiquei enojado com isso.
Isto já foi passado noutras noutros reportagens, os filhos do Vento, foi assim que passei a conhecer a Isabel Levy, viúva do Pepito, que na altura nada me diziam.
Alertei toda a gente conhecida para ver o programa, alguns fizeram, outros nem viram a mensagem, ou então pelo titulo apagaram logo, pois não era sobre coisas da nossa juventude, como concertos, festivais, festas de verão, e outras modernices dos 18 aos 58 anos.
Já conhecemos a temática, e pelo que já li e vi de comentários vários, chego à conclusão que estas iniciativas têm em vista, por um lado, conhecerem os seus pais, por outro lado, obterem a cidadania de Portugueses, e as regalias inerentes, que a meu ver, no quadro de então, eram todos portugueses.
Não gosto que uma pessoa seja filha de pai incógnito, quando muitas vezes já sabem quem é o pai verdadeiro, e agora há os testes ADN que não deixam margem para dúvidas.
A verdade é que ainda hoje, em pleno Século XXI, ainda nascem muitas crianças sem pai (registado) , filhos de pai incógnito! Pai há, só que não querem dar o seu nome, por muitas e variadas razões, e outros não têm a certeza disso, nem querem ser submetidos aos testes ADN.
Mas isto é filosofia, e as entidades responsáveis que cuidem destas situações, no mínimo, tristes e degradantes, para os filhos acabados de nascer e pela vida fora.
Por isso não é, de facto, de estranhar, pois num cenário de conflito de guerra, não há leis, a não ser a da própria consciência de cada um.
Nas nossas guerras de África, e nas outras de séculos passados, quantos são os que fazem o papel de filhos do vento?
Como aprendi na instrução primária, no planeta Terra haviam 4 raças - Brancos, Pretos, Amarelos e Mongóis.
Não havia brancos mais brancos que outros, não haviam pretos com cor mais clara, os Amarelos eram de toda a Ásia, e os Mongóis, eram uma raça superior com os seus impérios. Não sei mais nada.
Este amaranhado de povos ao longo de séculos, foram se misturando, dando origem, hoje, a uma multiplicidades de raças e cores inimagináveis.
A maioria dessas pessoas oriundas de guerras entre povos bárbaros e afins, não faltando as árabes e muçulmanos, hindus e chineses, somos uma amálgama de várias origens, eu próprio com pele mais escura, até chego a confundir a minha raça.
Portanto das relações havidas, sejam elas forçadas ou consentidas, entre raças que nem imaginamos, saíram filhos, todos com mãe, mas muitos sem o nome dos pais, nem se sabiam quem eram.
Não me repugna que hajam ainda tantas pessoas na nossa ex-África, e províncias ultramarinas, que não conhecem os pais. Não acredito muito na tese de violência sexual, da qual nasceram tantas crianças. Não é de uma relação apenas que nascem logo filhos, na maioria são de relações prolongadas, e com consentimento de ambas as partes. Não havia proteções e o tempo não dava para isso, a avidez carnal ultrapassa tudo isso. Claro que nós, como gente eventualmente mais adiantada, devíamos ter esse cuidado, mas quem vai pensar nisso...
Sem fazer juízos de valor, acho que há aqui um entendimento, seja por razões culturais, económicas ou outras, tal como acontece aqui, nas nossas cidades e aldeias, com as várias casas de prostituição, só que está tudo mais evoluído.
Sem pudor nenhum, falo de um caso na minha familia, nem sequer o vou esconder, o meu irmãos mais velho um ano e meio, já falecido (**), era pior que esse algarvio (o Camarinha!, não me lembro do nome): o meu irmão enrolou-se com uma rapariga, que eu conhecia, por sinal irmã de uma outra com quem partilhei algum tempo, nada mais, e vai daí sai um filho, isto é uma filha, que dizem ser muito parecida com ele, meu irmão.
Mas não era só o meu irmão que ia lá vasculhar, outros seus amigos faziam o mesmo nas mesmas ocasiões, eu estou de fora.
Então a menina vai fazer queixa ao meu pai, que era de uma inflexibilidade e responsabilidade impecável.
Não sei os pormenores, mas o caso foi passando e o meu irmão sempre disse que pode ser ele ou dos amigos, devidamente identificados, mas ela, porque o meu irmão era já militar de carreira, lhe interessava mais, e a criança nunca teve o nome de nenhum pai. Ingrata situação.
Passaram décadas, o meu irmão morreu, a noticia percorreu rápido, pois era tudo muito perto. O meu irmão teve mais dois filhos, menina e menino, fora de casamento, mas ele normalmente os perfilhou.
Mas havia outro filho, de outra mulher, era o primeiro da série, que ele perfilhou, mas nunca casou com a mulher.
Sou mais tarde acusado por esta primeira e pelo filho, que o meu pai o adorava e queria que ele fosse para a Academia Militar, era a cara do meu irmão, mas que a mãe se opôs, e sou acusado de ser o responsável por este desvio, nem me passou pela cabeça. O rapaz foi sempre muito acarinhado pelos avós, em especial o meu pai, mas também a minha mãe e irmãos. Eu respeitava a outra e nunca interferi e vi que ele batia a bola mais pela nova do que pela primeira.
Quando o meu irmão morreu, também fui acusado, pela minha cunhada e filhos, de nunca ter tido uma vida mais perto deles, quando afinal os últimos vinte anos antes da sua morte, nós falávamos todos os dias, pessoalmente, no Norte Shopping do Porto. Mas não nos visitava lá em casa, ao contrário de os receber e bem na minha. Ele foi sempre, e tal como escrevi no ramo de flores no seu funeral: "Ao meu irmão, meu herói, meu amigo» . Nunca te esquecerei!
Mas não fica por aqui, as relações com o meu irmão eram ótimas e há coisa que só ele e eu sabemos, mais ninguém.
Mas a mulher por inveja, e não vejo mais, passou a não se dar connosco, depois de ter sido eu mesmo, a introduzi-la na minha familia, os filhos seguiram as pesadas da mãe. Morreu o homem sem a gente se ver algum tempo antes.
Passados uns tempos, ele morreu a 9 de Maio de 2021, por doença prolongada, a nossa familia toda fez-se representar condignamente no seu funeral, com bandeira e guarda de honra, fotografei tudo.
Neste ano, ou fins do ano passado, sou confrontado com um mail, de uma pessoa que se identificou com o nome e morada, dizendo que era o meu cunhado, marido da alegada filha do meu irmão, e que estavam muito zangados por o meu irmão nunca ter ido visitar o neto e filha, etc....
Refutei tudo, e perguntei que tenho eu a ver com isso, porque não o fizeram diretamente com o meu irmão enquanto ele era vivo?
Foi uma conversa de lá para cá e vice versa, sem se chegar a nada.
Nunca percebi como esse senhor arranjou o meu email pessoal, sem nunca nos conhecermos . Fiquei a pensar que terá havido conversas com ele, meu irmão, antes de morrer, mas com a intervenção da minha cunhada, sua mulher e dos seus filhos, que chutaram a bola, dando o meu email! Felizmente não deram o telefone.
Espero que o caso esteja encerrado, mas admito que o meu irmão tenha muitas culpas no cartório, sempre lhe disse, mas era tipo tarado, não tenho outras palavras. Já a nossa vizinhança, ele teria os seus 15 ou 16 anos, era o terror das raparigas vizinhas, amigas ou não da nossa casa.
Deus o tenha em paz.
Eu gostava e continuo a gostar dele, sem limitações. Há um Poste dessa data com fotos, que pode ser consultado (**).
Teve vários problemas disciplinares na tropa - era do quadro - por causa e sempre das mulheres e dos seus desenfianços.
Em 1969 quando eu regressei , tive de o safar de muitas coisas, utilizando ainda o meu cartão de alferes, junto do Quartel General e o seu comandante, nosso amigo e vizinho passado.
Foi sempre muito respeitador da nossa familia, em especial a minha mulher à qual ele tinha elevado respeito, e vice versa.
Nunca fomos de beijinhos, íamos a muitos sítios os quatro, mas sempre nos cumprimentávamos de mão, jamais houve beijos.
Então quando eu cheguei e face ao que eu lhe contava da Guiné, ele ficou com a ideia, talvez não clara, que não era terreno para ele. Tinha sido mobilizado para lá como Técnico de Radio Transmissões, era um especialista que aprendeu em Paço de Arcos.
Ele já tinha tido dois anos na Índia, 6 meses como prisioneiro, depois em Angola durante 28 meses, percorreu de lés a lés, foi o responsável pela primeira chamada via rádio de Cabinda para o meu Pai.
Confrontado como nova mobilização para a Guiné, arranjou um esquema altamente sofisticado, de modo a nunca ter ido, mas com contornos do arco da velha.
Passou à disponibilidade em 1969, pela minha mão, com a Pensão de Invalidez respectiva. Mais tarde veio a pensão de prisioneiros, uma bela molhada de massa. Vitalicia, pois ainda a mulher usufrui dela. Coincidências sem explicação.
Quando ele esteve como prisioneiro na Índia ainda não tinha conhecido a sua futura mulher, mas ela teve direito também à pensão.
Conclusão, após esta confusão que lancei aqui:
- não há crime nenhum de ter filhos sem os perfilhar;
- há culpas de carácter também reprováveis,
- muitos filhos de Tuga, nem os Tugas os conhecem nem sabem;
- outros sabem e nada fazem;
- são opções, depois de uma vida feita com outra familia;
- reprovo fundamentalmente as violações, sejam quais forem as situações, o homem não é um animal....
Lamento profundamente aqueles que vivem e morrem ser ter os nomes dos pais, nem sequer os conhecerem.
Abraços,
Virgilio Teixeira
_____________Notas do editor LG:
(*) Último poste da série > 2 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26975: (Ex)citações (435): Não tememos vir a público falar sobre os filhos que por lá ficaram nos três teatros de guerra, Angola, Guiné, Moçambique... (José Saúde, escritor, e ex-fur mil OE/Ranger, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74)
(*) Último poste da série > 2 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26975: (Ex)citações (435): Não tememos vir a público falar sobre os filhos que por lá ficaram nos três teatros de guerra, Angola, Guiné, Moçambique... (José Saúde, escritor, e ex-fur mil OE/Ranger, CCS / BART 6523, Nova Lamego, 1973/74)
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