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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

1. O meu concidadão, conterrâneo, vizinho, colega, companheiro, camarada, grão -tabanqueiro, amigo e  'mano',  Jaime Bonifácio Marques da Silva, faz hoje 79 anos.  E vou comer umas sardinhas grelhadas com ele, e outros amigos tabanqueiros como o Pinto Carvalho (somos todos membros da Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo). Faz cá falta o João Crisóstomo, o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona...  Que preza a nossa amizade e adora as nossas sardinhas.

Respiguei uns tantos tópicos da  vida do Jaime,  já longa, mas também sofrida... Vou-lhe oferecer como prenda de anos, a "Arte de Amar", de Ovídio (edição bilingue, português e latim com tradução, introdução e anotações de Carlos Ascenso André; Lisboa, Quetzal Editores, 2023, 221 pp.). 



Cortesia de Quetzal
Em  honra do Jaime (e também do grande poeta romano Ovídio, séc. I a.C.), e mostrando-o como exemplo da arte e engenho  não só de amar e ser amado como de promover o envelhecimento saudável e ativo, pedi a vários assistentes de IA que me fizessem  uns versinhos de parabéns, a ele Jaime, à moda do romano Públio Ovídio Nasão, em dístico elegíaco. Em português e depois em latim.  (Uma brincadeira, já que não tive tempo para mais.)

As versões, em português e em latim, foram revistas e fixadas por mim, em curto espaço de tempo , e  tanto quanto me permite o meu já muito esquecido e agora limitado domínio do latim clássico. (Já lá vai o tempo em que eu lia com fluência, e o Jaime também, os clássicos romanos, do Cícero ao Virgílio!).

Jaime Bonifácio Marques da Silva

(i) Nasceu no Seixal, Lourinhã, Portugal, na margem direita do Rio Grande que no tempo do poeta Ovídio, século I a.C., foi navegado pelas naus romanas... E em 711 era conquistada pelos mouros, novos senhores da Península Ibérica... Quatro séculos depois, em 1147, o primeiro rei português, Afonso Henriques, na sua marcha para Lisboa, conquista aquelas terras, donde se avista o "Mare Nostrum" de quinhentos, o Atlântico. A Lourinhã foi entregue aos cavaleiros francos, feros cruzados, cristãos. 

(ii)  Nasceu numa família de gente honesta e trabalhadora, tem ainda 3 irmãs vivas, que o adoram, sendo ele o mais velho. O pai trabalhou as terras dos senhores, a fértil várzea do Seixal e Areia Branca, até conseguir, por fim, montar o seu próprio negócio, como comerciante de frutas e legumes no mercado  da vila da Lourinhã. 

(iii)  Teve uma infância dura, uns vizinhos, ricos e com terras mas sem filhos, quiseram em vão adotá-lo. Era um menino pobre, lindo, de olho azul... Triunfou o amor dos pais e dos irmãos. 

(iv) Feita a escola primária, e sendo um miúdo inteligente, cursou o seminário, na esperança de vir a ser padre. Deus chamou-o mas o não ungiu, como um dos seus eleitos.

(v)  Fez a tropa e a depois a guerra colonial, em Angola, onde comandou um bravo grupo de paraquedistas (1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72). Foi forte e leal. Mas sempre atento aos seus valores humanos, portugueses e cristãos: na guerra não valia tudo.  Tem a cruz de guerra de 3a. classe.

(vi)  Ainda em Angola,  antes da independência, começou a tirar o curso de educação física. Foi professor nesta área, e durante 40 anos viveu e trabalhou  em Fafe, no Norte de Portugal. Para lá foi levado pela paixão pela Dina, que lhe deu dois filhos, o Pedro e a Sofia. Tem muito orgulho neles, que se doutoraram e são hoje professores. 

(vii)  Tem também muito orgulho no seu trabalho, como autarca, no município de Fafe onde foi vereador, em três mandatos, dos pelouros do desporto e da cultura (1986/97). Fala com um brilho nos olhos do seu legado em Fafe: sendo ele "mouro", português do Sul, levou a gente nobre, minhota,  do Norte,  a gostar tanto da música sinfónica tanto como do andebol feminino... 

(viii)  Foi um cuidador excecional da sua Dina, atingida pela terrível doença do Alzhemeir, e já falecida (Fafe, 1946-Lourinhã, 2022). Nunca se deixou abater pelo desânimo, a desesperança, a solidão, minas e armadilhas da sua picada da vida,  ou as suas próprias mazelas... 

(ix)  Cultiva a amizade como poucos e mais recentemente, há uns anos, deixou-se atingir novamente pela seta de Cúpido. O seu coração foi ganho por uma temível feminista e socióloga da Lixa, Felgueiras. Uma mulher culta, inteligente, lutadora e de coração ardente. A doutora Laura, amiga da Alice Carneiro e do padre Mário da Lixa. 

(x) E, com todo o mérito, arte e engenho, o Jaime tem sabido manter e conservar não só a sua saúde física e mental, bem como os seus amores (pela Laura, pelos filhos Pedro e Sofia, pelas manas, Natália, Esmeralda e Maria João, pelos amigos...).

(xi) Gosta de música, toca cavaquinho. Escreveu recentemente, em 2025, o livro "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"

2. Resposta dos assistentes de IA ao meu desafio. Interessante como a IA pega nas diferentes facetas da biografia do Jaime e quase instantaneamente (mais depressa que o diabo a esfregar um olho)  faz um poema em dístico elegíaco, conforme lhe foi pedido... E nunca sai igual. E tem, a IA,  a "humildade" de por enquanto  aceitar as sugestões e correções dos humanos... (Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

Perplexity ia

Eis os versos em honra do teu amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, primeiro em português e depois em latim, à maneira dos dísticos elegíacos de Ovídio:

Em Português:

Ó Jaime, que o Tempo não doma, menino do Seixal, herói de Angola,
tua vida é poema que se entrelaça: guerra, amor, dever, voz que não cala!

Da Lourinhã a Fafe, foste luz, levando a música aos rudes corações;
e até no luto, firme como a cruz, guardaste a graça em todas as estações.

Agora, aos setenta e nove anos (mais sábio que um romano, mais audaz),
mostras que o amor, em seus verdes anos, vence a velhice e o viço do rapaz.


In Latinum Versum (Dactylico Elegiaco):

O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli,
Vita tua carmen est, quod contexit arma, amor, officiumque voxque silentis.

A Laurinhâ Fafemque tulisti lux, ferens musicam duris cordibus;
Et quoque in luctus stans pede certa crux, gratia servasti omni tempore.

Iam septuagenus et novem annos tuos, praeclari prudentior Romanis, audax,
Ostendis amorem viridi praesente aetate vincere senemque iuvenemque.

____

Notas da IA;

(i) Forma e métrica geral: o dístico elegíaco é composto por um verso hexâmetro seguido por um verso pentâmetro. Tentei respeitar esse ritmo clássico para que o poema soe realmente como um epigrama ou elegia de Ovídio;

(ii) Primeiro dístico: “O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli"...

  • “O Iacome” (forma latina de Jaime);
  • "Numen” (uma força divina ou o espírito do tempo, uma palavra-poética para o tempo);
  • “quem Numen nihil domat” (quem o poder divino não subjuga);
  • “puer Seixalensis” (menino do Seixal, adjetivo derivado do nome), etc.

Gemini IA

Parabéns para o Jaime, à Maneira de Ovídio

Setenta e nove anos celebra o valoroso Jaime,
Nascido onde o Rio Grande outrora as naves romanas viu.
Do Seixal, terra fértil, onde o Atlântico se espraia,
Um homem de virtude, cujo espírito floresceu.

Em tenra idade, o trabalho e a honra o guiaram,
Dos pais, que o amaram, o pobre menino se fez forte.
Do seminário à guerra, onde a lealdade brilhou,
Comandou bravos, em Angola, mas a humanidade foi seu norte.

Em Fafe, o amor da Dina e filhos, Pedro e Sofia,
Na educação, um mestre, em quarenta anos de paixão.
Como autarca, a cultura e o desporto enriqueceu,
Unindo Norte e Sul, num só coração.

Na dor, cuidador fiel, sem se render ao desespero,
Sua Dina viu partir, mas sua alma permaneceu.
A amizade cultiva, e o amor o reencontrou,
Com a Laura, a feminista, seu coração renasceu.

Saúde e amores guarda, com arte e sabedoria,
Pelos filhos, irmãs, e amigos, o carinho infindo.
No cavaquinho a melodia, na escrita a memória,
Jaime, és exemplo de vida, um presente tão lindo!


Em Latim (em Dístico Elegíaco)

Septem et septuaginta annos Jaime noster celebrat fortis,
 Ubi flumen magnum naves Romanas olim vidit. 
Seixal terra fecunda, ubi Oceanus se ostendit, 
Vir virtutis, cuius animus floruit per saecla.

In teneris annis, labor et honor eum duxerunt, 
Parentes dilexerunt, puer pauper factus est fortis. 
A seminario ad bellum, ubi fides resplenduit, 
Ducens audaces, sed humanitas eius finis fuit.

Fafe in urbe, amor Dinae, filiorumque, Petri et Sophiae, 
In doctrinis magister, quadraginta annis cum amore. 
Ut magistratus, culturam et ludum auxit, 
Septentrionem et Meridiem univit, in uno corde.

In dolore, custos fidelis, spe non victus tristis,
Dina decessit, sed anima eius mansit integra. 
Amicitiam colit, et amor eum invenit rursus, 
Cum Laura, feminista, cor eius rediit iuvenile.

Salutem et amores servat, arte et sapientia mira, 
Filiis, sororibus, amicis, amor est infinitus.
 In cavaquinho melos, scriptis memoria vivit, 
Iacobe, vitae exemplum es, donum tam pulchrum!

Chatpgt

Parabéns elegíacos para o  Jaime (em português)

Jaime, que o tempo honra, com passos de herói persistente,
Setenta e nove outonos, vividos com alma ardente.

Da margem do Rio Grande, nasceu sob o céu lusitano,
De olhos de céu azul, menino pobre mas soberano.

Não foi o ouro que o moldou, mas o amor fiel dos pais,
Rejeitou adoções ricas, escolheu raízes reais.

No seminário sonhou com Deus, mas o destino era outro,
Na guerra foi justo e firme, com coração resoluto.

Em Angola, e depois em Fafe, ensinou corpos e almas,
Com saber e com paixão, promoveu saberes e palmas.

Do andebol ao concerto, o “mouro” domou o Norte,
Fez da Cultura um brasão, do Desporto, força e sorte.

Cuidou a sua Dina, com devoção e ternura,
E o Amor, como o vinho velho, voltou com nova doçura.

Hoje é pai, avô, amigo, guardião de um tempo digno,
E mostra como se vive com sentido e com ritmo.


 Salve, Jaime (em latim)

Iamus, quem decorat tempus, gressibus heros,
Septuaginta novem vitae complevit amoros.

Ex ripa fluminis magni natus sub caelo Lusitano,
Caeruleis oculis, pauper puer, sed urbano.

Non aurum formavit eum, sed amor parens fidelis,
Divites sprevit adoptantes, amplexus est originis melis.

In seminario deum quaesivit, sed fata vetabant,
In bello justus et firmus fuit, cor non vacillabat.

In Angola docuit, postea Favae manebat,
Corpora mensque regebat, scientia palmas dabant.

A ludo ad musicam, Maurus domuit Aquilonem,
Cultus signum fecit, ludum fortem coronem.

Dinam curavit amore, dulcedine plena fide,
Et amor rediit, ut vinum vetus, dulci ridente ride.

Nunc pater, avus, amicus, temporis custos honesti,
Et monstrat vivere sensu plenoque motu festi


Em português (à maneira de Ovídio):

Jaime, flor de virtude e vigor, na serena alvorada dos anos,
Tece com mãos firmes a trama do tempo: justo e fiel.

Filho da várzea pura, onde o vento romano passou,
Sul e Norte unindo, em teu peito há um fado imortal.

Nem guerra nem dor dobraram teu estofo de ferro e ternura,
Com alma cristã, encheste o mundo de luz sem igual.

A Dina, teu porto, amaste até à mais doce saudade,
E depois a Laura, chama viva, amante e igual.

Ergues os dias com riso, cavaquinho e memória,
Do passado fazes honra, teu ideal é real.

Aos filhos das tuas entranhas deixaste um legado de estrelas,
E a Fafe do teu labor canta-te em hino triunfal.

Hoje, ao sopro do tempo, brindamos à tua jornada,
Jaime, que sejas eterno, como o amor sem final.


 Em latim (meticulosa adaptação ao estilo elegíaco):

Iámius, exemplo virum, sub lucida tempora vitae,
Dextra tenet vitam, iustus et aequus homo.

Natus in ubertate, Seixale, ubi flamina Romae,
Cordis in ore canis,  lusus et arma tenens.

Nec bellum fractum, nec dolor flexere viriles,
Sed pietate valens, lumen in orbe tulit.

Dinam amavisti, dulcem usque ad limina somni,
Et Lauran postea, fortis amore pari.

Cantibus et risu surgis cum luce diei,
Praeteritae memorem, vivis et arte fide.

Filiis et Fafae lucem reliquisti perennem,
Te celebrant vates, gloria longa manet.

Nunc, inter annos, carmina tibi damus alma,
Iámi, vive diu,  amor aeternus erit!

_____________

Notas da IA sobre a composição:

O dístico elegíaco é composto por um hexâmetro seguido de um pentâmetro, utilizado pelos romanos sobretudo na poesia amorosa (elegia), mas também em epigramas laudatórios.

Busquei conservar o ritmo, a imagética, e sobretudo o tom celebratório e inesquecível que Ovídio poderia usar para um herói moderno como o Jaime.

Parabéns ao Jaime! Que continue a ser uma inspiração e que a sua vida seja celebrada como um verdadeiro clássico da humanidade!


Dísticos Elegíacos – Ao Jaime, aos 79 anos

Nas margens do Rio Grande  nasceu o Jaime, de olho azul,
Homem de honra e memória, firme como rochedo ao sul.

Na infância pobre e bela, recusou adoção dourada,
Preferiu o lar humilde, a alma pela fé guardada.

Serviu a pátria em Angola, bravo, íntegro, decidido,
Mas foi brando no gesto, jamais o ódio o teria vencido.

Fez-se mestre do corpo, e no Norte deixou marca viva,
Fafe ganhou com cultura, e com desporto em deriva.

Foi amante fiel, cuidador de alma e de dor,
Guardião de memória, um farol contra o temor.

Hoje, aos setenta e nove, Jaime é arte de viver,
Sabe amar, resistir, sem jamais se perder.

Louvor ao homem que canta, que escreve, que não cede,
Que viva cem anos, ou mais, com graça, saúde e sede!

Em Latim:

In Ripa Magna natus est Jaime, oculis caeruleis,
Virtute clarus erat, firmus ut rupes australis.

Pauper et pulcher puer, adoptari noluit umquam,
Parentes, patriamque fovit corde benignum.

In Angola militavit, fortis et mente valens,
Sed lumen humanum secutus, mitis et acer.

Magister motus factus, terras Borealis amavit,
Fafam donavit cultu, lusibus atque docuit.

Fidus amator erat, custos memor atque dolorum,
Firmus in adversis, lux inter nocte malorum.

Septem novem annos nunc Jaime laetus agit,
Amor et virtus illi sunt arma quibus sapit.


Laus tibi, qui cantas, scribis, sperasque serenum,
Vivas centenos annos, plus, si fata sinerent!

____________

Nota do editor:

Último poste da série: 18 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

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