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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27392: Efemérides (471): Convite do Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, para a cerimónia Comemorativa do 107.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra e 51.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar, que se realiza no dia 18 de novembro de 2025, pelas 10h00, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, durante a qual será condecorado, com a Medalha de Honra ao Mérito, grau Ouro, da Liga dos Combatentes, o nosso editor Luís Graça


DIA DO ARMISTÍCIO

18 DE NOVEMBRO DE 2025
Convite

O Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, tem a honra de convidar V. Ex.ª para a cerimónia Comemorativa do 107.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra e 51.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar, que se realiza no dia 18 de novembro de 2025, pelas 10h00, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa


********************

Nota do editor CV:

Embora a cerimónia seja aberta ao público (e em especial a todos os antigos combatentes), este convite foi expressamente enviado ao nosso editor Luís Graça, em nome do tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes.

Em contacto telefónico prévio do secretário geral da Liga, cor Faustino Hilário, o nosso editor foi informado que fora escolhido para, no decurso daquela cerimónia, ser condecorado com uma medalha da Liga por bons serviços prestados à causa dos antigos combatentes.

O nosso editor aceita a distinção, com a ressalva de que, a haver mérito pessoal no seu trabalho em prol da salvaguarda e divulgação das memórias dos antigos combatentes, ele tem de ser também associado a um vasto coletivo, que são todos os editores, colaboradores permanentes, autores, comentadores e outros que desde 2004 produzem, diariamente, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

O blogue não tem, naturalmente, o estatuto jurídico de pessoa coletiva.
 

domingo, 2 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27376: Humor de caserna (219): Heróis de quatro patas que bem mereciam uma cruz de guerra: Bambadica, 1963, o Lobo e a sua matilha de cães rafeiros (Alberto Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 83, 1961/63)




Cartoon: adaptação e edição por Chat Português (GPT-5 Thinking mini). Disponível em https://gptonline.ai/. Ideia original: LG sob imagem original de João Sacoto  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > Meados de 1969 > Um periquito em Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70),   o editor deste blogue, quando noutra incarnação foi Fur Mil Armas Pesadas Inf, pertencente à subunidade de intervenção CÇAÇ 2590 / CCAÇ 12... Nas suas costas, a grande bolanha de Bambadinca... (Bambadinca ficava num morro, 30 e tal metros acima do mar, tendo a Norte o rio Geba e a Sul a bolanha.)

Um anos depois, já após a chegada do BART 2917, os cães vadios enxameavam a parada do aquartelamento e tornavam-se um pesadelo, à noite, não deixando ninguém dormir... (Dentro do aquartelamento, ou do perímetro de arame farpado ficavam ainda as instalações civis: posto administrativo, escola primária, missão católica capela, reservatório de água, etc.)

Foi na sequência dessa situação que se decidiu preparar e executar a Op A Noite das Facas Longas, de que resultou talvez a maior mortandade em canídeos de toda a guerra da Guiné... Como tantas outras ações das NT, esta não ficará certamente para a História, mas já aqui foi evocada e sumariamente contada (*).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


    

O boxer Toby, um cão
que foi um bravo
combatente,
mais do que mascote.

Foto do João Sacôto.
1. Os cães também fazem parte da nossa "pequena história", ou das nossas "pequenas histórias" que pouco ou nada irão interessar à História com H grande. 

Temos pelo menos dez referências a este descritor. Até tivemos "cães de guerra". CCAÇ 763, "Os Lassas" (Cufar, 1965/67) teve "cães de guerra". Tinha uma secção cinotécnica. Mas a sua utilização, eficaz e eficiente, naquela guerra e naquele terreno, deparou-se com vários obstáculos. E a experiência foi abandonada. O maior inimigo do cão de guerra ainda era, afinal, o macaco- cão. Quando se encontravam no mato, não havia quem os segurasse.

Mas dalemos de outros cães que, à partida, não foram treinados para operações de guerra. E que mesmo assim participaram na guerra. 

Se há uma cão que merecia uma cruz de guerra, era o Toby, ferido em combate, bravo e leal companheiro do nosso João Sacôto e do seus camaradas da CCAÇ 617 (Catió, 1964/66) (**).

Cães que foram, mais prosaicamente, mascotes iu animais de companhia certamente os houve, na Guiné, ao longo da nossa guerra, um pouco por toda a parte. 

De um lado e do outro. O IN também os tinha, nas "barracas"  e tabancas", com a missão de o alertar da chegada das NT, no mato. 

Alguns dos nossos cães, infelizmente, como o Boby e o Chicas, que viveram connosco em Bambadinca, acabaram por ser vitimas do "fogo amigo" (*).

 Mas falando de cães que conviveram connosco, temos  de lembrar aqui, mais uma vez, nem que seja em registo  humorístico (***), o Lobo (também um Boxer)   e a sua matilha de cães rafeiros que no início  oficial da guerra, no 1º trimestre de 1963,  terão abortado  um ataque do IN a Bambadinca, ao tempo 
do Alberto  Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).
 

O Lobo e a sua matilha de cães rafeiros

por Alberto Nascimento


Alguém apareceu um dia no quartel, com dois cachorros recém desmamados, que foram imediatamente adotados e batizados com os nomes de Gorco, ele, e Djiu, ela.

Adaptaram-se facilmente ao hotel e, quando começaram a vadiar pelas imediações, devem ter feito grande publicidade porque passado pouco tempo veio outro e mais outro e mais uns quantos, até perto da dezena de rafeiros que, agora bem nutridos, não mostravam vontade nenhuma de voltar à antiga vida de privações e maus tratos.

Mais tarde, o tenente Castro, comandante do destacamento, juntou à matilha um boxer, o Lobo que, pelo seu pedigree, foi aceite como comandante da tropa canina, que passou a segui-lo para todo o lado.

Embora alguns dos rafeiros se desenfiassem durante algumas horas de dia, a hora das refeições e a pernoita eram sagradas e, após a última refeição, esparramavam-se num espaço entre as duas construções que constituíam o quartel, formando uma roda de cães no meio da qual, não sei se por estratégia, se acomodava o Lobo.

Uma noite, estava eu num posto guarda a trocar umas palavras com o sargento Leote Mendes, quando o Lobo se levantou subitamente e saiu a grande velocidade, seguido com grande algazarra pelo resto da matilha. 

Atravessaram a estrada e durante algum tempo continuámos a ouvir um barulho infernal, sem conseguirmos compreender o que se estava a passar, até que os latidos cessaram e pudemos vislumbrar o regresso da matilha.

Ficámos preocupados a pensar que a reacção dos cães se devia à passagem de algum viajante, já que era hábito quando a distância a percorrer era grande, fazerem os percursos de noite a pé enquanto mastigavam noz de cola e mais preocupados ficámos quando vimos que o Lobo trazia na boca um cantil de plástico cheio de leite. 

Deduzimos e desejámos que alguém tivesse tido a ideia de desviar a atenção dos cães, das suas canelas para o cantil de leite, largando-o enquanto fugia.

Depois da operação de Samba Silate (****), alguns prisioneiros disseram que nessa noite o quartel estava já cercado e seria atacado, não fora o alarme dado pelos cães, o que os levou a pensar que factor surpresa já não surtiria efeito.

Felizmente para nós, enganaram-se. Não sei que armas traziam mas a nossa surpresa ia com certeza ser grande. Nunca se soube com certeza absoluta, eu pelo menos não soube, com que apoios esta operação contava do exterior e do interior do quartel, mas um dia depois, um cabo indígena de Bafatá que reforçava o nosso destacamento, desertou.

Depois deste episódio, que recordamos sempre nos nossos encontros anuais, a matilha começou a desaparecer. 

Uns nunca mais voltaram ao quartel, outros voltaram doentes, acabando por morrer por envenenamento e nós passámos a redobrar a nossa atenção aos sistemas de vigilância e defesa, que dependiam mais de nós que do equipamento que possuíamos, na altura limitado às G3, granadas e uma metralhadora fixa num ponto estratégico.

Todos os camaradas que estavam na altura em Bambadinca sabem, julgo eu, o que ficaram a dever àqueles animais que, por acção indirecta, acabaram por ser as únicas vítimas, pelo seu natural instinto de guardiães e defensores de um território, que também era seu.


Alberto Nascimento

 
(Revisão / fixação de texto, títiulo: LG)

2. Ficha deunidade: CCAÇ 84

Companhia de Caçadores nº 84
Identificação:  CCaç 84
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Crndt: Cap Inf Manuel da Cunha Sardinha | Cap Mil Inf Jorge Saraiva Parracho
Divisa: -
Partida: Embarque em 06Abr61 e 09Abr61; desembarque em 06Abr61 e 09Abr61 | Regresso: Embarque em 12Abr63

Síntese da Actividade Operacional

Foi colocada em Bissau, onde manteve a sua sede durante toda a comissão, inicialmente na dependência directa do CTIG e depois integrada no BCaç 236.

A partir de 24Ag061, destacou efectivos da ordem de pelotão e secção para várias localidades, nomeadamente para Teixeira Pinto, Farim, Mansabá e Bambadinca, em missão de soberania e segurança das populações, onde foram atribuídos aos batalhões responsáveis pelos sectores respectivos.

A partir de 15Fev62, embora mantendo o comando em Bissau, os pelotões foram todos atribuídos a outros batalhões, instalando-se em Empada, em reforço do BCaç 237 em Piche e Nova Lamego, com secções destacadas em Buruntuma, Pirada e Nova Lamego, em reforço do BCaç 238 e continuando um pelotão estacado em Bambadinca, em reforço do BCaç 238.

Em 01Abr63, a subunidade foi toda reagrupada em Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte:  Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág, 305.

(***) 30 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27365: Humor de caserna (218): Análise interpretativa da história de Fernandino Vigário, "O jovem alferes graduado capelão, cheio de sangue na guelra, que queria ensinar o padre nosso ao...Vigário"


(...) " a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá.

"O primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje. Seguiu-se o destacamento de Nova Lamego, conforme é dito no seu blogue (P 1292 - Contributos) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá.

"Só estou a mencionar o 1º pelotão da Companhia, porque à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões só voltei a ver nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.

"Como a memória se perde no tempo por indocumentação, ou porque a essa memória se teve medo de atribuir qualquer importância (existiam e ainda existem muitos complexos sobre a guerra colonial), resolvi dar o meu contributo para esclarecer uma dúvida colocada no seu blogue, sobre quem teria participado nos massacres de Samba Silate e Poindom, no início de 63.

"Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia, se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate" (...).

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27318 Louvores e condecorações (18): os bravos de Contabane, naquela longa e pavorosa noite de 22 de junho de 1968, posteriormente condecorados com a cruz de guerra: fur mil inf Joaquim de Oliveira S. Gonçalo, 1º cabo inf, Amândio da Conceição Justo e sold inf Fernando Gomes da Silva




Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1968/70) > Dia do "santo patacão", o do pagamento do pré. Cap Mil Art Carlos Nery de Sousa Gomes de Araújo, sentado; alf mil Curado, de pé, à direita; o sargento José Boiça, à esquerda e o fur Mil Henrique, ao centro, em segundo plano; ao fundo,  o Ernesto Vasconcelos, identificado pelo nosso amigo e camarada José Manuel Cancela, também da CCAÇ 2382, e que estava em Contabane na noite do ataque.

A foto é do nosso camarada Manuel Traquina, retirada e editada, com a devida vénia, do seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" (Abrantes: Palha de Abrantes, 2009, pág. 130).





Foto nº 1 e 1A  > Guiné > Região de Tombali >_ Sector S 2 (Aldeia Formosa) > Contabane > Manhã de 23 de junho de 1968 > Chegada do heli com a enf pqdt Ivone Reis que vem evacuar os feridos, depois do ataque da noite anterior >

Legenda (Foto nº 1A)
  • creio que este ponto de vista é o do lado oposto ao da instalação inimiga e, portanto, menos atingido.; julgo que o lado Norte/Nordeste da tabanca;
  • veem-se algumas casas poupadas ao incêndio (E):
  • para cá da Mesquita (C), está um abrigo em princípio de construção (B);  o solo foi cavado e, junto, estão já colocados alguns troncos de palmeira;
  • o caminho bem marcado que se vê à direita, junto da cabeça do piloto, será o que vai em direcção ao Saltinho (F) (que ficava a Norte/nordeste de Contabane);
  •  mais abaixo, do lado esquerdo da foto, para cá do abrigo em início de construção (B), vê-se perfeitamente uma das fiadas de arame farpado (H); havia duas; esta creio que foi a lançada pela minha companhia (a amarelo); a outra, lançada pela 5ª. Companhia de Comandos, parece estar logo atrás, embora não tão fácil de ver, por estar mais escurecida;
  • militares e elementos da população inspecionam os estragos (A);
  • a parte mais destruída e queimada é visível no lado esquerdo da foto (D).

Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Contabane > Manhã de 23 de junho de 1968 > Chegada do heli com a enf pqdt Maria Ivone Reis (1929-2022)  que vem evacuar os feridos, depois do ataque da noite anterior. (**)


Maria Ivone Reis (1929-2022)

 Esta segunda foto foi tirada de mais perto e de um ângulo um pouco diferente. É perfeitamente visível o que restou de diversas casas consumidas pelo fogo. Dispersos pela tabanca vêem-se militares e cívis examinando as consequências do ataque.

Nas duas fotos parece perpassar um ambiente de perplexidade e de angústia. Aquela Contabane plena de vida e de simpatia tinha sido ferida de morte. Porém, a Companhia de "periquitos" tinha batido o pé a 'Nino' e aos seus morteiros e canhões sem recuo. Haveria tempo para outros recontros com o comandante lendário.

Olhando para as duas fotos oferecidas pela Enfermeira Ivone Reis, tenho dificuldade em perceber de que ângulo foram feitas. É perfeitamente visível, nas duas, a Mesquita. Era a única construção feita com alguma solidez em Contabane. Dentro dela se refugiaram, durante o ataque, muitos cívis e alguns militares

(---) "É talvez difícil de explicar o importante que era para nós, combatentes, a chegada de uma mulher ao local de combate onde sofrêramos baixas e estávamos ainda sob o efeito dessa traumatizante experiência. Senti-o intensamente em Contabane, na tabanca destruída por um dos ataques mais violentos da Guerra da Guiné.

A enfermeira paraquedista Ivone Reis quando se me dirigiu, tenho de o confessar, era a Pausa, o Lenitivo, a Mãe distante, a Noiva, a Mulher... Que sei eu? A sua decisão em ficar connosco, contrariando o estabelecido, enquanto os helicópteros levavam a Aldeia Formosa os feridos ligeiros, prestando os primeiros cuidados aos feridos graves que, em seguida, seriam levados para Bissau, foi de uma importância enorme para afastar a nossa angústia, para pôr uma pausa no nosso desespero!

Trocámos umas palavras, disse-lhe que aquela tinha sido a "minha noite mais longa"... Ouvi-lhe palavras apaziguadoras, que ainda guardo no meu íntimo.

Passadas semanas, já em Buba, recebo uma cartinha sua referindo essa "noite longa" acompanhada por duas fotos da tabanca destruída, tiradas por ela do helicóptero. Não serão muito bem tiradas mas são o objecto mais precioso das minhas recordações da Guiné" (...) (*)




Fotos (e legendas): © Maria Ivone Reis / Carlos Nery (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Bafatá > Carta de Contabane  (1959) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, Saltinho, Rio Corubal (Nesta altura não havia Sinchã Sambel, a um escasso quilómetro do Saltinho, na margem esque5ra, e não direita, do rio Corubal, portnteo dentro do "chão" do regulado de Contabane, com o ataque de 22 de junho de 1968 ficou completamente despovoado; Sinchã Sambel é já do primcípiodos anos 70).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. No ataque a Contabane, no sector S2 (Aldeia Formosa), na noite de 22 de junho de 1968 (**), distinguiram-se três militares da CCAÇ 2382, que foram posteriormente condecorados com a Cruz de Guerra (***).


Cruz de Guerra de 3ª e 4ª Classes para 3 militares da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)


Furriel Miliciano de Infantaria
JOAQUIM DE OLIVEIRA DOS SANTOS GONÇALO

CCac 2382 - RI 2
GUINÉ
3ª CLASSE


Transcrição da Portaria publicada na OE n. o 5 - 3. a série, de 1971.


Por Portaria de 12 de Janeiro de 1971:


Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 3." classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
Furriel Miliciano de Infantaria, Joaquim de Oliveira dos Santos Gonçalo, da Companhia de Caçadores n.º 2382 - Regimento de Infantaria nº 2.


Transcrição do louvor que originou a condecoração (Por Portaria da mesma data, publicada naquela OE):

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar o Furriel Miliciano de Infantaria, Joaquim de Oliveira dos Santos Gonçalo, da Companhia de Caçadores n.º 2382, do Regimento de Infantaria nº 2 e na dependência operacional do Batalhão de Artilharia n.º 2866, pela forma briosa e eficiente como comandou a sua Secção e mesmo o seu Grupo de Combate, quando eventualmente chamado a desempenhar essa função.

Salienta-se a sua actuação no decorrer de um violento ataque inimigo a um aquartelamento em que, com evidente e absoluto desprezo pelo perigo, pegou na metralhadora e, debaixo de intenso fogo, aproximou-se do arame farpado, utilizando eficazmente a sua arma, conseguindo pôr em debandada os agressores, sendo ainda o primeiro a sair,  na perseguição movida a esses elementos.

Nas flagelações, acorria logo à primeira salva, ocupando o local onde se encontrava instalado o morteiro 81, desprezando posições mais abrigadas, para orientar com precisão a resposta ao fogo adverso; e foi, justamente numa dessas situações, quando corria a descoberto numa zona fortemente batida por ajustado e contínuo fogo, que ficou gravemente ferido, ao ser atingido por estilhaços de uma granada de morteiro.

Astucioso e hábil na implantação e levantamento de minas e armadilhas colocou-as em grande número, conseguindo deste modo criar ao inimigo um clima de insegurança, muito contribuindo para o abandono por parte deste de um tradicional corredor de reabastecimentos.

Excepcionalmente dotado de qualidades de coragem e rara agressividade, aliadas a uma invulgar determinação no cumprimento do dever, tornou-se, o Furriel Gonçalo, credor da estima e apreço dos seus superiores e subordinados, devendo os seus serviços em campanha ser considerados de elevado mérito.


pp. 368/369

1º Cabo de Infantaria, n.º 09558167 AMÂNDIO DA CONCEIÇÃO JUSTO
CCaç 2382 - RI 2
GUINÉ
4ª CLASSE

Transcrição da Portaria publicada na OE nº 5 - 3. n série, de 1971.

Por Portaria de 12 de Janeiro de 1971:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4ª classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
1.° Cabo de Infantaria, Amândio da Conceição Justo, da Companhia de Caçadores
n.º 2382 - Regimento de Infantaria nº 2.

Transcrição do louvor que originou a condecoração. (Publicado na OS n. 047, de 12 de Novembro de 1970, do QG/CTIG):


Que, por seu despacho de 06Nov70, louvou o 1º Cabo n.009558167, Amândio da Conceição Justo, da CCaç 2382, porque durante a sua permanência nesta Companhia, se revelou um elemento altamente positivo no desempenho das suas funções de graduado, mesmo quando, eventualmente, foi chamado
ao comando da sua Secção.

Elemento muito aprumado e modesto, demonstrou grande energia e coragem num violento ataque a um destacamento das nossas tropas, pois que, ao ver incendiar-se o tecto de colmo de uma casa perto de um abrigo abandonado pelos seus camaradas, nele entrou sozinho a fim de retirar um lança-granadas aí deixado, bem como as respectivas munições, em sério risco de explodirem, em virtude do calor abrasador proveniente do incêndio.

Apontador de metralhadora Iigeira e de lança-granadas, ocupou sempre os primeiros lugares, tendo em todas as situações de combate acção destacada, como aconteceu na reacção a uma emboscada montada às forças de segurança e picagem aos trabalhos de abertura de uma nova estrada, em que o 1.° Cabo Justo actuou corajosamente, fazendo vários disparos de lança-granadas, de pé e em posição desabrigada, devendo-se em parte a esta atitude a debandada do inimigo, com baixas prováveis.

Pelas qualidades evidenciadas, soube o 1º Cabo Justo ganhar a admiração e apreço de superiores e camaradas, creditando-se como militar de muito mérito
.

pp. 374/375

Soldado de Infantaria, n." 09043667 FERNANDO GOMES DA SILVA
CCaç 2382/BArt 2866 - RI 2
GUINÉ
4." CLASSE

Transcrição da Portaria publicada na OE n. o 6 - 3. a série, de 1971.

Por Portaria de 04 de Fevereiro de 1971:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4." classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o Soldado n." 09043667, Fernando Gomes da Silva, da Companhia de Caçadores
n." 2382/Batalhão de Artilharia n." 2866 - Regimento de Infantaria n." 2.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.
(Publicado na OS n. o 34, de 13 de Agosto de 1970, do QG/CTIG):

Que, por seu despacho de 10Ago70, louvou o Soldado nº 09043667, Fernando Gomes da Silva, da CCaç 2382, porque durante a sua permanência nesta Unidade se tem revelado elemento correctíssimo e aprumado, evidenciando elevados dotes de coragem, valentia e serena energia debaixo de fogo, em inúmeras circunstâncias.

Estando a Companhia sediada numa tabanca fortemente pressionada pelo inimigo que pretendia intimidar a população e quebrar o tradicional bom entendimento havido, salientou-se o Soldado Gomes da Silva porque durante um violentíssimo ataque, e apesar do abrigo adjacente à posição do morteiro 60 de que era apontador ter sido atingido em cheio por uma granada, ficando ferido um camarada seu, utilizou com extraordinário rendimento a referida arma, procurando sempre as melhores posições ainda que desabrigadas, alternando-as quando se sentia detectado, mas sem nunca desistir de fazer fogo.

De assinalar ainda o ocorrido na reacção a um ataque inimigo contra as nossas tropas em que, fazendo parte da emboscada colocada na zona NE do alto da pista, voltou a ter acção destacada, contribuindo para que fosse posto em  debandada um efectivo inimigo cerca de dez vezes mais numeroso do que o das NT.

Por tudo isto tornou-se o Soldado Gomes da Silva credor da estima e apreço dos seus superiores e camaradas, sendo digno de ser apontado como um exemplo a seguir.

pp. 392/393

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971. Lisboa, 1994, pp. 368/369, 374/375, 392/393

(Revisão / fixação de texto, negritos, itálicos: LG)
________________

Notas do editor LG:

(*)  Vd. poste de 29 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6489: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (15): A minha homenagem à enfermeira pára-quedista Ivone Reis que ficou em Contabane a cuidar dos feridos graves (Carlos Nery)

(**) Vd-. poste de 9 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27300: Casos: a verdade sobre... (58): O inferno de Contabane, na noite de 22 de junho de 1968... Não consta do livro da CECA sobre a actividade operacional no ano de 1968... Felizmente temos a versão do Manuel Traquina e Carlos Nery, da CCAÇ 2382 


sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27143: Louvores e condecorações (17): Mamadu Bonco Sanhá, tenente de 2ª linha, comandante da CMil 14 / BART 1904 (Bissau e Bambadinca, 1967/68), régulo de Badora: cruz de guerra de 4ª classe

 

Tenente de 2ª Linha MAMADU SANHÁ

CMil 14 - CTIG

GUINÉ

CRUZ DE GUERRA 4ª CLASSE


Transcrição do Despacho publicado na OE nº 5 - 2ª série, de 1968.


Agraciado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, nos termos do artigo 12º do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto nº 35 667, de 28 de maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 03 de fevereiro de 1968, o tenente de 2ª linha, Mamadu Sanhá.

Transcrição do louvor que originou a condecoração:

(Publicado na OS n.O06, de 08 de fevereiro de 1968, do QG/CTIG):

Que, por seu despacho de 02 do corrente e por proposta do Cmdt Agr 1980, louvou o  tenente de 2ª Linha, Mamadu Sanhá, Comandante da Companhia de Milícias nº 14/BArt 1904, porque, ao ter conhecimento de que grupos itinerantes inimigos, muito numerosos e armados com o mais moderno material, se infiltravam no regulado de Badora, do qual é régulo, imediatamente organizou um grupo constituído por milícias, caçadores nativos e pessoal civil armado, num total de cerca de 550 homens e moveu tenaz e impiedosa perseguição ao ln, tendo conseguido com o seu dinamismo, coragem e serena energia, restabelecer o moral das populações que co
meçavam a acusar indícios de perturbação. 

Conseguiu assim, em proveito do seu 


Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


próprio grupo, obter a iniciativa das operações, fazendo com que o ln, sentido-se hostilizado por todos os lados, pela própria população nativa, acabasse por retirar da região, depois de ter sofrido pesadas baixas em dois contactos com os homens de Mamadu Sanhá,

No primeiro contacto, em 03 jan, continuando implacável perseguição ao ln, acabou novamente por com ele contactar na tarde de 06jan68, tendo o seu grupo infligido desta vez, onze mortos confirmados, capturando mais uma pistola metralhadora e diverso material. Mas nem mesmo assim abandonou Mamadu Sanhá a sua perseguição que só terminou no dia oito depois de se ter convencido de que o ln abandonara definitivamente a região.

Demonstrou assim o  ten 2ª linha Mamadu Sanhá, extraordinárias qualidadesde chefe, coragem e fina tempera, pelas quais merece ser distinguido pela sua brilhante ação levada a cabo no regulado de Badora.


Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo V: Cruz de Guerra (1968-1969). Lisboa, 1993, pp. 127/128


(Revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 3 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25710: Louvores e condecorações (16): Aurélio Trindade, ten gen ref (1933-2024), ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): Cruz de guerra de 2ª classe e Medalha de Valor Militar, Prata com palma

terça-feira, 10 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26903: Efemérides (458): foi há 52 anos, o 10 de junho de 1973, Dia de Portugal, o último sob o regime do Estado Novo ("Diário de Lisboa", 11 de junho de 1973)


Dia de Portugal, 10 de junho de 1973, o leitor que adivinhe! Foto de primeira página, sem título de caixa alta, apenas com a seguinte legenda;



Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06817.167.26386 | Título: Diário de Lisboa | Número: 18126 | Ano: 53 | Data: Segunda, 11 de Junho de 1973 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Observações: Inclui supl. "Exclusivo" | Fundo: DRR - Documentos Ruella RamosTipo Documental: Imprensa  (Com a devida vénia...)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
 


1. O jornal, o "Diário de Lisboa", que não se publicava em dias feriados, reproduz na página 14 (e não 12, como vem indicado na notícia de primeira página) o discurso do então Chefe de Estado, Almirante Américo Tomás (Lisboa, 1894-Cascais, 1987).  Seria o último 10 de junho, Dia de Portugal,  realizado na vigência do regime do Estado Novo.  (O jornalista não podia adivinhar que era o último, mas hoje sabemos; o leitor habitual também náo precisava de título para saber do que tratava.)

Na primeira página, ao canto direito,  publica-se apenas a foto que reproduzimos acima: o chefe do Governo a entregar uma condecoração a título póstumo (a uma mulher, carregada de luto, uma viúva de um militar morto em combate,  deduz-se). A imagem, escolhida foi esta, sempre pungente,  e não  outra (por exemplo, a dos "Torre e Espada" desse ano).  E não era por acaso, tendo em conta a orientação do jornal, "conotado com a oposição democrática".

A notícia das cerimónias (que o jornal não podia deixar de dar...) é remetida para a página 14...

Ficamos a saber que nesse  10 de Junho de 1973 foram distribuídas, em Lisboa e outras cidades,  mais de 4 centenas e meia de condecorações a militares dos 3 ramos das Forças Armadas, que se destacaram nos TO de África:

  • em Lisboa, 89 militares;
  • no Porto, 86; 
  • em Coimbra, 34;
  •  em Santarém, 46; 
  • em Évora, 4; 
  • no Funchal, 7; 
  • em Ponta Delgada, 6; 
  • em Luanda, 8 (além de  três civis africanos);
  • e, em Lourenço Marques, 59. 

Um major de cavalaria  dois capitães de infantaria e um alferes receberam em Lisboa a mais alta condecoração, oficial da Ordem Militar da Torre Espada com palma. (O jornal não diz os nomes,  mas sabemos que foram o maj cav J. Almeida Bruno, os cap inf F. Lobato de Faria e A.J. Ribeiro da Fonseca e o alf  pqdt A. Casal Martins.)

Condecorado com Medalha de Ouro de Valor Militar com Palma foi o  gen J. M. Bettencourt Rodrigues, que, ainda provavelmente sem o saber, seria o próximo com-chefe e governador da Guiné, substituindo o gen António Spínola (que cessaria funções em 6 de agosto de 1973).


Duas companhias do navio-escola brasileiro "Custódio de Melo" associaram-se ao desfile final. em que participaram mais de três mil elementos dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas, das corporações e dos estabelecimentos militares (pág, 14). (O Brasil, recorde-se, ainda vivia sob ditadura militar, 1964-1985).

Do discurso do almirante Américo Tomás, o último presidente da República do Estado Novo,  publicado na edição do "Diário de Lisboa", de 11 de junho de 1973, reproduzem-se alguns excertos... 

Doze anos depois do início da guerra em África, parece haver preocupação,  por parte do então chefe de Estado,  com a coesão, a solidez e o moral das Forças Armadas, numa altura em que havia já sinais de pré-rotura do gen Spínola com o regime (ou  com a ala mais radical do regime) e quando o manuscrito do livro  "Portugal e o Futuro" estava já na forja, mas ainda em segredo e sem título. (Seria concluído, nesse verão, nas célebres termas do Luso onde Spínola passava sempre uma temporada.)

Pergunta-se: será que esta mensagem do então presidente da República chegou a todos os seus destinatários, e sobretudo aos que defendiam a bandeira de Portugal nos "até por vezes inconfortáveis quartéis do mato africano" (sic) ? E, se sim, terá sido bem acolhida e compreendida ?

Pessoalmente não me lembro do meu Dia de Portugal no TO da Guiné, nem em 1969 (em Contuboel) nem em 1970 (em Bambadinca ou algures no mato). 


(...)





quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26858: (De) Caras (233): Estêvão Alexandre Henriques, ex-fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858, Catió, 1965/67: um bom camarada e um grande colecionador de bússulas e outros equipamentos para traineiras e barcos de pesca do alto, que eu visitei na sua casa, Seixal, Lourinhã (João Crisóstomo, Nova Iorque)

 


Foto nº 1 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025 >  
O João Crisóstom o, à esquerda, com o Estêvão Alexandre Henriques...
visivlemente felizes por se reencontrarem


Foto nº 2 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025 > Uma casa que é um museu (1): 
a Maria do Rosário e o Estêvão e a sua coleção de réplicas de barcos

 

Foto nº 3 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>
Uma casa que é um museu: réplicas de barcos


Foto nº 4 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>  Fotos da Guiné (1)


Foto nº 5 >  Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025> Fotos da Guiné (2)



Foto nº 6 > 
Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025> Bússulas


Foto nº 7 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>Rádios



Fotro nº 8 > Louvor do Comandante do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estêvão Alexandre Henriques (ex-furriel mil mecânico radiomontador, CCS/ BCAÇ 1858, Catió, 1965/67):


(i) nasceu em 2 de setembro de 1942, há 82 anos, em Fonte Lima, freguesia de Santa Bárbara, concelho de Lourinhã, rodeado de mar e de gente ligada à terra e ao mar.heiro / Lourinhã);

(ii) fez o serviço militar em 1964, tendo frequentado em Tavira o CSM - Curso de Sargentos Milicianos;

(iii) nesse mesmo ano fez o curso de Radiomontador, na Escola de Sargentos, localizada em Paço d'Arcos;

(iv)  conheceu, entre outros, em Catió, o João Bacar Jaló, ainda conviveu com os seus conterrâneos:


(v)  regresssou a casa em 1967,  tendo trabalhado como  Radiotécnico na firma Electrónica Naval - com sede em Peniche;

(vi)  estabeleceu-se deppois como empresário em 1970, constituindo firma na Rua 13 de Infantaria, em Peniche;

(vii)  em 1973, transferiu definitivamente  a empresa para a Rua José Estêvão, n.º 102, com oficina de reparação e stand de vendas de equipamentos eletrónicos e eletricidade para traineiras e barcos de pesca do alto;

(vii) durante mais de 40 anos impulsionou, a nível nacional, diversas marcas no setor das pescas: 

  • Sistemas: Loran Morrow / Omega Sergel / Omege Diferencial; 
  • Sondas: MJC /Kelvin & Hughes; 
  • Sonares: Wesmar; 
  • Radares: Anritsu; 
  • Rádio goniómetro: Ben-Tem. 

(ix)   fez centenas de instalações elétricas em traineiras e barcos de pesca do alto, bem como em embarcações de pequeno porte e recreio;

(x)  nos anos 70 equipa o primeiro barco de pesca do alto, o "Trio de Ribamar" , com toda a eletrónica e instalação elétrica a 24V DC e geradores a 380VAC, para alimentação do inovador sistema de frio, sendo este um dos primeiros barcos a pescar fora das águas do território nacional;

(xi) ainda no âmbito da sua atividade profissional, visitou feiras internacionais de inovação marítima, quer na área da pesca, quer na dos equipamentos eletrónicos e negociou em diversos países: 
  • Espanha, 
  • Marrocos, 
  • Senegal, 
  • Mauritânia, 
  • Guiné- Bissau,
  • Angola 
  • e Moçambique;

(xii) é conhecida a sua paixão por bússolas (que vem do tempo em que prestou serviço militar na Guiné, e onde adquiriu uma bússola de bolso, aquela que viria a ser a primeira da sua, atual, vasta e riquíssima coleção);

(xiii) empresário reformado, ainda hoje divide o seu tempo entre a paixão pelas bússolas e a construção de pequenas réplicas de embarcações de pesca e caravelas. 

(xv)  já realizou, em Peniche, diversas exposições temáticas com espécimes das suas coleções;

(xvi) em 2017 foi inaugurado, em Ribamar, Lourinhá.
o espaço museológico "Olhar o Mar" (uma das  exposições permanentes é da sua da autoria: exibe m vasto conjunto de equipamentos desenvolvidos para a comunicação e orientação dos pescadores no mar);

(xvi) vive no Seixal, Lourinhã, e é casado com a Maria Rosário Henriques.

(xvii) tem página do Facebook;

(xviii) é nosso grão -tabanqueiro nº 751, desde 2/9/2017 (mas já frequentava antes a Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã).


2. Mensagem de João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, de visita a Portugal (regressa a Noca Iorque em 3 de junho próximo):


Data - segunda, 26/05/2025, 23:29 

Assiunto - Estêvão Henriques

 
Caro Luís Graça,

Tens razão no que se refere à confusão que levou a que o nosso camarada Estêvão e sua simpática esposa Dona Rosário não nos encontrássemos ontem em Varatojo. Mas "não fiques triste por isso” porque também "há bens que nascem de males”. 

Ontem não teríamos tempo nem ambiente para falarmos com calma como nos foi possível fazer hoje.Reviver e falar dos tempos da Guiné e da sua vida de muitos sucessos, como tu sabes, foi o que fizémos hoje.

Quando me sugeriste que o contactasse, eu fui ver os links dos posts que me enviaste. E logo me lembrei que já o tinha encontrado: contigo, em Ribamar, no dia da inauguração dum “Espaço Museológico" e Exposição “navegar no passado”, em Setembro de 2017. Recordo que altura fiquei impressionado com o que aí vi.

Hoje fiquei de boca aberta logo que entrei na sua casa. Quando puderes arranja tempo e vem ver por ti mesmo que aquela casa é um verdadeiro museu. De dobrado valor porque, ao contrário dos museus onde tudo está manuseado e preparado para turistas, aqui tu vais ver o ambiente e lugar de trabalho, onde as suas muitas e variadas obras-primas têm sido feitas/ construídas desde a sua idéia e concepção até serem realidade.

Embora todos os reconhecimentos que lhe sejam dados agora são sempre pouco para aquilo que ele merece, eu não quero ser redundante , pois no post 17721 nos seus dados biográficos dás uma idéia geral do que ele fez e é. Mas acredita que uma coisa é ler e saber; e outra é experimentar e viver como hoje me foi dado ocasião.

Envio-te pois algumas fotos. Pena tenho que a minha ignorância em coisas digitais leve a que as minhas fotos sejam de fraquíssima qualidade. Quando lá fores terás oportunidade de fazer as fotos como devem ser vistas. Entretanto talvez estas fotos despertem a curiosidade e interesse de quem as vir agora para não perderem melhor ocasião no futuro. Se achares que é melhor esperar por essa ocasião, não sou eu que vou discordar. Mas se achares que estas podem ajudar a fazer uma idéia do que lá se encontra e as quiseres publicar está à vontade. O Estêvão deu-me autorização para fazermos delas o que bem entendermos. Mas sei que ele espera com antecipação uma visita tua quando te for possível.

As fotos nºs 1, 2 e 3  não necessitam explicação: creio que é evidente a satisfação de podermos estar juntos e partilhar as nossas vidas. Mais ainda por termos logo lembrado que demos entrada para a tropa na mesmo ano, 1964, e estivémos na Guiné na mesma altura 1965/ a 1967. 

Nunca nos encontramos lá: Eu estive no Xime , Bambadinca, Missirá e Enxalé,sempre junto de ou perto do Geba. Ele este em Catió e aí conviveu com o nosso Horário Fernandes de Ribamar e um primo meu Germano Estêvão,  da Bombardeira ( o nome é simples coincidência ) que esteve em Tite e Catió. Mas,  como sabes estas simples circunstancias de tempo e conhecimentos de mútuos amigos, são por vezes o suficiente para uma aproximação mais rápida ainda.

As fotos nºs 4 e 5  são a evidência de que os seus muitos sucessos na vida não lhe diminuiram o seu interesse pelo passado na Guiné. As fotos, mapas, diplomas e reconhecimentos que estão em quadros nas paredes por cima de aparelhos de toda a espécie, são apenas uma pequena parte do que está guardado por falta de espaço disponível para exposição.

A foto nº 8 é de especial interesse pois mostra já as suas habilidades que irão fazer dele quase um génio depois va vida civil : entre os vários reconhecimentos recebidos relacionados com a Guiné, destaca-se um pelos seus conhecimentos e perícia em trabalhos de electricidade com que procedeu à reparação e eletrificação do destacamento e Vila de Catió, onde tudo estava às escuras quando chegou.

As fotos nºs 2 e 3  mostram  também alguns dos belíssimos barcos, muitos deles réplicas, que o nosso camarada Estêvão fez e guarda em sua casa. Na minha opinião são um verdadeiro tesouro, embora eu deva avisar e confessar o meu pouco conhecimento e perícia, em tudo isto. Em alguns casos quase posso garantir o seu muito valor; e noutros casos, como me sucede quando vejo uma obra-prima que não compreendo mas me fascina sem saber porquê, limito-me a dar a minha opinião muito subjectiva : Eu gosto dela. E neste caso eu gostei do que vi.

As fotos  nºs 6  mostra parte da sua larga coleção de bússulas, e outros objectos náuticos, algumas delas feitas por ele mesmo, outras ( a maioria) verdadeiras antiguidades de muito valor.

A foto nº 7 mostra dois dos vários rádios feitos por ele. Alguns deles foram inovações que permitiram comunicações impossíveis antes do seu aparecimento.

Não fiz fotos das muitas cartas náuticas, mapas e outros documentos que merecem ser conhecidos e uma visita também.

PS - Teor do louvor que consta na sua caderneta militar (Foto nº 8):

"Louvado pelo Exmo. Comandante do BCAÇ 1858 porque durante o tempo em que serviu nesta Província se mostrou ser um militar correto e disciplinado e tendo boa vontade em bem servir.  Por falta de ténicos neste Batalhão, foi o mesmo destinado para dirigir e colaborar na recontrução elétrica do Quartel e da Vila. Nessas funções mostrou ter bons conhecimentos e esforçou-se por levar a bom termo a tarefa para que foi designado, tornando-se assim um bom colaborador do Comando de Batalhão. É por todas estas qualidades o furriel Henriques digno de ser apontado como exemplo (O. S. nº 100, de 27d e abril de 1967, do BCAÇ 1858).

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26850: (De) Caras (232): Mamadu Baio & Amigos, 16ª edição do "Junta-te Ao Jazz", Palácio Baldaya, Benfica, Lisboa, 25 de maio de 2025... Como disse o Mamadu Baió (viola baixo, voz, compositor): "a música não tem fronteira, nem tem cor, não tem raça"

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26525: Casos: a verdade sobre ... (52): o major cav Matos Guerra foi presidente da câmara de Bissau de mar71 a out73... Em 1966, a comandar a CPM 1489, nunca poderia ter discutido com os vereadores nenhum plano para arrasar o Pilão, contrariamente às memórias (baralhadas) do "Cadogo Pai"...


 O documento, de 26 páginas, que me foi entregue pessoalmente pelo autor, em Bissau, em 7 de março de 2008, e que tem por título: "
Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008."

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)






1. Diz-se, no poste P26522 (*):

(...) Temos apenas umas trinta e tal referências sobre o Pilão: famigerado, para uns; triste, para outros, vergonhoso, para os mais puritanos e conservadores... Houve um presidente da Câmara municipal de Bissau, o major Matos Guerra, que por volta de 1966 o terá querido arrasar (segundo  o comerciante Carlos Domingos Gomes, "Cadogo Pai", vereador na altura) ... 

Ainda bem que prevaleceu o bom senso... (A ideia teria partido do próprio Governador e Comandante-Chefe, Arnaldo Schulz: alegava-se que o Pilão era umn "ninho de terroristas.) (...)

2. Esta história está mal contada pelo "Cadogo Pai" (Bolama, 1929 - Coimbra, 2021), o empresário e político Carlos Domingos Gomes, cujas memórias já aqui publicámos no blogue. E-nos impossível verificarr, caso a caso, por falta de contradeitório,  a veracidade factual de tudo aquilo que aqui se escreve pelos nossos amigos e camaradas da Guiné. A não ser a posteriori, muitas vezes, cruzando com outras fontes.

"Cadogo Pai" engana-se nas datas: em 1966,  o major Matos Guerra ainda não era major nem muito menos presidente da Câmara Municipal de Bissau, cargo que só exerceu durante  dois anos anos e meio, de mar71 a out73 (portanto, no tempo do gen Spínola e não do gen Schulz).

Em 1966, José Eduardo Matos Guerra  era simplesmente cap cav, cmdt da CMP  1489 (Bissau, Amura e Sta Luzia, out65/jul67). (**)

Segundo o portal UTW - Dos Veteranos da Guerrra do Ultramar (nota de obituário do cor cav na situação de reforma, Eduardo Matos Guerra, 1931-2016), este antigo combatente, depois da comissão na Guiné (out64/jul67), em 23jul68,  encontrava-se colocado como adido na GNR,  sendo então "promovido a major"...

Logo a seguir, em 10 de setembro desse ano, regressa a Bissau, tendo sido "nomeado pelo CCFAG para chefiar a Secção de Reordenamentos e Autodefesas da Rep ACAP/QG"...

Em 24fev70, e ainda segundo a mesma fonte, é  agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma  (...) "pela forma altamente eficiente, dinâmica e devotada como desempenhou as funções de chefe da divisão de organização e defesa das populações, do gabinete militar do comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné, que estruturou e organizou de forma modelar, e ultimamente corno chefe de secção no quartel-general do comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné, gerindo os mesmos assuntos" (...)

E mais se acrescenta sobre o teor do louvor, citando a mesma fonte:

(...) "Tendo chegado à Guiné em setembro de 1968 e sendo-lhe confiada a missão de estruturar e impulsionar o reordenamento e autodefesa das populações, o major Matos Guerra, no curto prazo de dezasseis meses, planeou e executou uma vasta obra neste sector. (...)

(...) "Foi ainda o major Matos Guerra pedra fundamental no estudo e elaboração da recente Iegislação sobre o recenseamento e controle da população, documentos de alto interesse e oportunidade na actual vida das populações da Guiné." (...)

Em 23out70 regressa à metrópole, ficando colocado no RC3, Estremoz. Em 1mar1971, "tendo sido requisitado pelo Ministério do Ultramar para desempenhar comissão de âmbito civil na Província da Guiné Portuguesa, volta a Bissau"...

Quinze dias depois, em 16mar71 no palácio do governo provincial da Guiné Portuguesa, "é empossado no cargo de presidente do município de Bissau", cargo que exerceu até 18out73.




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Da direita para a esquerda: (i) em primeiro plano, o general Spínola, e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrásm (iii) o 
Guerra Ribeiro, transmontano. antigo administrador do concelho de Bafatá, e nesta altura  intendente  em Bafatá (e não em Bissau)

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A menos que quisesse referir-se a outro militar ou administrador civil (como, por exemplo, o Guerra Ribeiro, administrador da circunscrição  nos anos 60 e depois intendente em Bafatá, no tempo de Spínola), o então comerciante e vereador "Cadogo Pai" nunca poderia ter trabalhado, em 1966, com o Matos Guerra, que era capitão da Polícia Militar, e não presidente da Câmara Municipal de Bissau.

Repôe-se aqui a verdade dos factos (***).


3. Há um camarada nosso, membro da nossa Tabanca Grande, 0 Evaristo Reis, que trabalhou na Câmara Municipal de Bissau como "mestre de obras", ao tempo do maj cav  Matos Guerra: leia-se aqui o seu depoimento (****).

O Evaristo Pereira dos Reis descreve o maj cav Matos Guerra, então requisitado pelo Ministério do Utramar, para exercer funções civis no CTIG.  como um "homem duro, aliado e bastante protegido pelo Governador" (o gen Spínola).

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26522: Humor de caserna (104 ): "Ontem fui ao Pilão, o que não quer dizer que fui às p..." (Bissau, 16 de dezembro de 1973, in: António Graça de Abreu, "Diário da Guiné", Lisboa, Guerra e Paz, 2007).


(**) Vd. ficha de unidade:

Companhia de Polícia Militar nº 1489

Identificação CPM 1489

Unidade Mob: RL 2 - Lisboa

Cmdt: Cap Cav José Eduardo Matos Guerra

Divisa: -

Partida: Embarque em 200ut65; desembarque em 260ut65 | Regresso: Embarque em 27Ju167


Síntese da Atividade Operacional

Ficou instalada em Bissau, no Forte da Amura, substituindo a CPM 590, com vista a desenvolver a actividade inerente à sua especialização, tendo efectuado acções e operações de policiamento, nomeadamente patrulhamentos, guardas, rusgas e escoltas.

Em 26Nov65, transferiu o seu aquartelamento para Santa Luzia, também em Bissau.

Em 26Ju167, foi substituída pela CPM 1751, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 83 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 581


(***) Último poste da série > 27 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26316: Casos: a verdade sobre... (51): a terrível emboscada na estrada Ponte Caium-Piche, em 14/6/1973 (ex-sold cond auto, Florimundo Rocha, c. 1950-2024; ex-fur mill Ribeiro, natrural de Braga, CCAÇ 35446, Piche, 1972/74)

(****) Vd, poste de 12 de janeiro de 2017 >  Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente


(...) Voltando à minha chegada,  fui colocado na secção do ficheiro, no Quartel General, local aparentemente privilegiado em relação aos meus camaradas, local onde comecei a ter consciência do que se passava naquela província em guerra. Nesse serviço estavam arquivadas as fichas de todos os intervenientes naquele teatro de guerra que eu considero de tortura física, mental e psicológica,

No arquivo assinalava os mortos, os desaparecidos, os evacuados, os que tiveram a sorte de já ter regressado e os que se encontravam presentes. Claro que a curiosidade principal foi ver a ficha do maestro da banda. Tive oportunidade de estar bem perto dele, diversas vezes, Refiro-me ao homem da lupa pelo qual nunca tive qualquer simpatia.

Passado um mês tive oportunidade de concorrer a um cargo de Mestre de Obras, para a Cãmara Municipal de Bissau para o qual estava talhado, Chefiada pelo major [cav Eduardo} Matos Guerra [1931-2016] como Presidente da Câmara, homem duro, aliado e bastante protegido pelo Governador,

A partir desse dia a minha farda foi arquivada no armário até ao dia do regresso, Foi muito difícil desempenhar tal cargo, a Câmara não tinha recursos, imaginem que tinha que fazer os remendos das ruas com cimento, porque não tínhamos alcatrão.

Mesmo assim consegui fazer obras de algum vulto praticamente sem recursos, recorrendo a máquinas da engenharia militar, chefiada pelo então Cap Branquinho e Furriel Guedelha, sobre os quais nunca mais tive noticias.

Também existia uma empresa civil de construção ali sediada com o nome de TECNIL. Esses eram os meus fornecedores gratuitos.


Fiz uma messe para Sargentos e renovei o bar de oficiais dentro do Hospital Militar. Alarguei parte da estrada de Bissalanca, para o aeroporto, arrancando dezenas de mangueiros. Fiz uma vala de drenagem e alargamento da estrada para o Quartel General, Enfim, fiz várias obras de beneficiação para melhorar aquela cidade, passando nestas lides diárias os restantes e difíceis 23 meses. (...)


(Negritos nossos).