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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14046: A minha máquina fotográfica (14): Comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, numa loja de material fotográfico ao lado do forte da Amura, em Julho de 1968, com dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim. Eram todas iguais, marca “Fujica” (Fernando Gouveia)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70) com data de 12 de Dezembro de 2014:

Para todos os camaradas, com um grande abraço:

De início não contava escrever sobre este tema das máquinas fotográficas mas como “já que tanto insistem” aí vai.

Já em tempos referi a marca da máquina que me acompanhou na minha comissão na Guiné e com a qual tirei centenas de fotos.
Foi a páginas vinte e nove do livro “Na Kontra Ka Kontra”, que escrevi debaixo da adrenalina acumulada durante a visita que fiz à Guiné em Março de 2010.

O invólucro de couro da minha “Fujica” ajudou à sua longevidade.

Não posso deixar, mais uma vez, de agradecer ao blogue e ao próprio Luís Graça e Carlos Vinhal, não esquecendo o António Pimentel, este, que me incentivou a rever locais e gentes de há quarenta anos atrás.

Quanto à máquina, comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, em Julho de 1968. Eu próprio e mais dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim, compramos três máquinas iguais “Fujica”, numa loja de material fotográfico, ao lado do forte da Amura.

Se não me engano custaram-nos 1.500$00 cada. Vim depois a saber que os meus colegas de compra não ficaram muito satisfeitos com elas. No que me diz respeito gostei imenso dela pois além de me “fazer” a guerra ainda durou mais vinte anos. O seu fim só se deu com o colapso do fotómetro, com que já era equipada.

A existência do fotómetro permitia-me tirar fotos em modo automático. Assim, e pelo facto de com o polegar direito fazer a focagem bem como a passagem à foto seguinte, conseguia tirar fotografias seguidas só com a mão direita.

Durante a comissão tirei centenas de slides e, penso, só um rolo de fotos a preto e branco (reveladas por um qualquer camarada do Comando de Agrupamento em Bafata) e um rolo de fotos coloridas.

Durante os vinte e dois anos em que funcionou tirei quase sempre slides e da marca “Agfa” tendo sido todos revelados em Barcelona pois em 1968 não havia essa possibilidade em Portugal. Como curiosidade direi que nunca se extraviou um sequer.

Termino referindo mais uma vez, que agradeço aos camaradas atrás referidos e também à minha “Fujica” o inesquecível, emocionante e indelével prazer que senti ao entregar as três fotografias que se seguem às pessoas respectivas quarenta anos depois, quando da tal visita à agora Guiné-Bissau.

Ao mostrar a foto à Bobo, ela muito emocionada disse: Ah, ah, ah, ah, ah, ah a minha Maria.

A bajuda agora a mulher grande Kadidja, embora só nos tivéssemos visto uma vez, quarenta anos depois, ainda me reconheceu e soube referir o local onde lhe tirei a foto.

O Tchame já tinha morrido mas o filho não deixou de ficar altamente emocionado quando lhe entreguei a foto do pai.

Fernando Gouveia
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14045: A minha máquina fotográdfica (13): Tive, desse tempo, uma Kowa SE T que depois vendi; e tenho ainda uma Minolta SR T 101... Se um dia quiserem fazer um museu com as "máquinas de guerra", contem com a minha... Não a vendo, tem um grande valor sentimental... (Manuel Resende, ex-alf mil, CCaç 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10076: Notas de leitura (373): Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (Fernando Gouveia / René Pélissier)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2012:

Caro Carlos:
Não esperava vir a falar mais do livro que escrevi, mas acho que poderá ter interesse dar a conhecer, através do blogue, a recensão publicada por Réne Pélissier sobre o Na Kontra Ka Kontra, no nº 17 da publicação “Africana Studia”, edição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (2º semestre de 2011 a páginas 261 e 262).

O Prof. Dr. René Pélissier, um dos maiores historiadores da moderna colonização portuguesa, tem vários livros seus publicados em Portugal sobre o tema da nossa colonização e escreve regularmente na publicação “Africana Studia”.

Assim mando a referida recensão com vista à possível publicação, se assim o entenderes, para a série respectiva.

Segue em anexo cópia da recensão, a respectiva tradução e a capa do livro.

Um grande abraço.
Fernando Gouveia



(…) “Dois romances de antigos combatentes - aparentemente, no plano editorial português e pelos menos nos últimos cinquenta anos, apenas eles, para além de repórteres, usaram a Guiné como tela de fundo - chamam a nossa atenção para as realidades de uma guerra colonial que, não obstante um lusotropicalismo de propaganda, estava acima dos meios de um país como Portugal. 

Ambos trazem um contributo bem vindo à história militar do seu país. O mais invulgar, NA KONTRA KA KONTRA, foi inicialmente difundido em 49 episódios num blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude. O autor, arquitecto de profissão, foi alferes na Guiné entre 1968 e 1970 e aí regressou recentemente com um grupo de antigos camaradas, numa “peregrinação” memorial. A originalidade do relato é dupla: 

a) o autor - privilegiado - não parece ter estado envolvido nos combates, pois esteve essencialmente sediado em Bafatá e ainda numa povoação de Fulas, logo num chão politica e etnicamente alheado e até hostil ao PAIGC; 
b) a intriga gira à volta da breve história de amor entre o autor e a bonita filha dum pequeno chefe de aldeia, muçulmano, que lha “cede” por um preço relativamente modesto tratando-se de um oficial: duas vacas e alguns cabritos. 

A paixão amorosa satisfez-se rapidamente e o alferes “cede” a sua “esposa” a um miliciano local que casa com ela, mas é morto por uma mina. A mulher “casa-se” uma terceira vez com um outro Fula, amigo do autor. Este regressa a Portugal e arranja uma outra esposa. 

Quarenta anos mais tarde, divorciado, volta a Bafatá e envolve-se numa relação platónica com a sua primeira bajuda, ainda bem conservada. O tema é, pois, o bom entendimento entre ex-colonizados e ex-militares. 

E por que não?” (…)
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Notas de CV:

(*) Vd. postes da série Na Kontra Ka Kontra:

P7583, P7589, P7598, P7605, P7612, P7624, P7630, P7637, P7643, P7648, P7664, P7667, P7673, P7680, P7687, P7698, P7701, P7707, P7713, P7719, P7739, P7743, P7748, P7755, P7763, P7779, P7787, P7794, P7801, P7809, P7830, P7837, P7847, P7854, P7861, P7875, P7882, P7885, P7890, P7896, P7905, P7910, P7915, P7919, P7926, P7939, P7944, P7950

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10070: Notas de leitura (372): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

sábado, 26 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9099: (Ex)citações (159): O nosso mundo está a encolher (Fernando Gouveia)


1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 24 de Novembro de 2011:

Caro Carlos
Estou a quebrar o meu segundo período de silêncio (não quarentena como da outra vez), pois para tudo é necessário algum repouso, para refazer ideias.

Quanto ao tecer considerações sobre o blogue, o número de postes ou de visitas ao mesmo, repetirei o que disse na minha primeira comunicação ao Luís Graça: “já tenho que ler até ao fim da minha vida”.

Mais do que comemorar os dez mil postes ou os três milhões de visitas, quero dar o meu contributo para os onze mil postes e os quatro milhões de visitas com o “artigo” que se segue e que, desde já, gostaria que fosse comentado pelo Prof Luís Graça, pois é a ele que estes assuntos dizem respeito.

Um abraço.
Fernando Gouveia
P.S. – Brevemente apresentarei “contas” das vendas do Na Kontra Ka Kontra.


O NOSSO MUNDO ESTÁ A ENCOLHER

Quando no ano passado (daqui a dias terei que dizer “há dois anos”…) regressei da minha visita à Guiné, passados quarenta anos de lá ter estado, comentei com os meus familiares e amigos que, em Bafata, quando visitei a minha casa e o quartel do Comando de Agrupamento, ainda a funcionar como quartel, achei tudo muito mais pequeno. No quartel, os pés direitos e a platibanda do telhado pareceram-me mais baixos; os compartimentos, nomeadamente o meu antigo quarto, muito mais pequenos. A minha casa, que na altura a achava de dimensões normais, pareceu-me minúscula, tal como a varanda, onde, muitas vezes estive sentado e me sentei de novo, agora.

Sensação estranha. Pareceu-me que tudo tinha encolhido.

Não esquecendo o que se passou segui em frente. Mas eis que há dias fiquei surpreendido com um artigo que li numas “Seleções da Reader’s Digest” de Fevereiro de 1949, extraído da publicação ”The Christian Science Monitor”, que junto a seguir.


Tudo isso é então normal. Mais descansado fiquei…
Ainda na sequência de tudo isto relembrei um poema do livro “Magnetismo Terrestre” (Fevereiro de 2006) de Regina G.


BIG-BANG

Na minha infância, o Universo estendia-se
do Castelo até às Eiras, envolvendo a Praça
e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
À volta eram ladeiras que velavam o sono do rio
lá no fundo. Era assim o meu mundo
que, para mim, era maior que o infinito
e que em cinco linhas aqui ficou descrito,
contrariando assim, à evidência,
uma das conjeturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang
o meu Universo contrai-se, não se expande.


2010 - Edifício dos quartos dos oficiais do Comando de Agrupamento.

2010 - Um jagudi em cima da que foi a minha casa.

2010 - Na varanda da minha antiga casa.

Um abraço a todos
Fernando Gouveia
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8794: Agenda Cultural (154): Exposição de fotos e lançamento do Livro Na Kontra Ka Kontra de autoria do nosso camarada Fernando Gouveia, ocorridos no dia 13 de Setembro de 2011, na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9092: (Ex)citações (158): Homenagem aos nossos mortos não tem data! É quando um homem quiser! (António Matos)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8752: Agenda Cultural (150): Exposição de fotos e lançamento do Livro Na Kontra Ka Kontra de autoria do nosso camarada Fernando Gouveia, dia 13 de Setembro de 2011, na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 8 de Setembro de 2011:

Caro Carlos:
Desejo que tenhas passado um belo “verão”, para não dizer férias.

Nesta “rentrée” Bloguista queria dar conhecimento a todos, do seguinte:

1 – O meu objetivo de angariar alguns euros para as crianças da Guiné-Bissau com o livro Na kontra Ka Kontra foi conseguido. Em fins de Outubro apresentarei contas do montante conseguido (algumas centenas de euros), e isto porque está agendada a última apresentação do livro para o dia 13-Set-2011, em Alfândega da Fé, no meu Nordeste Transmontano. Será também nessa data inaugurada a minha exposição de fotos (já expostas no Porto): “Memórias Paralelas da Guerra Colonial 1968-1970”.

2 – Segue o cartaz do lançamento do livro e da exposição.

Um grande abraço a todos.
Fernando Gouveia



Casa da Cultura Mestre José Rodrigues
Largo S. Sebastião
5350-013 Alfândega da Fé

T | 279 460 020
F | 279 463 013
@ | geral@ccalfandega.com
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8751: Agenda Cultural (149): Apresentação do livro Moçambique: Memória Falada do Islão e da Guerra, de Abdoolkarim Vakil, Fernando Amaro Monteiro e Mário Artur Machaqueiro, dia 20 de Setembro, pelas 18h30 na Livraria Almedina Atrium Saldanha, em Lisboa

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8502: Agenda Cultural (141): Inauguração da Exposição de Fotografia Flores Que Não Existem e lançamento do livro Na Kontra Ka Kontra, dia 7 de Julho pelas 17 horas no Vivacidade - Espaço Criativo - Porto (Fernando Gouveia)

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 3 de Julho de 2011:

Na sequência da divulgação no blogue, pelo Luís Graça, do livro NA KONTRA KA KONTRA, tive a oportunidade de o apresentar no almoço em Monte Real* e também em Lisboa, no almoço da minha Unidade, o Comando de Agrupamento de Bafata. Foram vendidos bastantes exemplares mas torna-se necessário obter mais fundos com vista à sua doação, na totalidade, às crianças da Guiné-Bissau.

Estarei com os livros na próxima quarta-feira (06/Jul) no “Milho Rei” em Matosinhos e no dia a seguir, quinta-feira (07/Jul), pelas 17 horas no “Espaço Vivacidade” na Rua Alves Redol, 364 – B Porto (traseiras do edifício com o nº 376/372) onde ocorrerá uma apresentação.

Chegou a estar prevista a presença de um guineense a tocar korá, mas dado ele andar em digressão pelo Algarve talvez isso não se concretize.

Nesta data será também inaugurada uma exposição de fotografias da minha autoria.

Como não há duas sem três, estarei também no dia 09/Jul no almoço da “Tabanca dos Melros” em Gondomar, com a mesma finalidade.

Mais informo que posso enviar o livro pelo correio com um acréscimo de apenas 60 cêntimos sobre o preço de capa (10 euros).

Com um abraço.
Fernando Gouveia
fg4250@gmail.com


CONVITE



Monte Real, Palace Hotel,  4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande > Fernando Gouveia autografando o seu livro Na Kontra Ka Kontra (Encontros, desencontros)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8307: Agenda Cultural (124): Na Kontra Ka Kontra, a blogonovela de 49 episódios, passada na Guiné, em Portugal, no Brasil, entre 1969 e 2010, agora publicada em livro, a apresentar em Monte Real (4 de Junho) e no Porto, Espaço Vivacidade (7 de Julho) (Fernando Gouveia / Luís Graça)

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8490: Agenda Cultural (140): Inauguração da exposição: Cartas de Amor e Saudade, de Manuel Botelho, no Centro Cultural de Cascais, dia 1 de Julho de 2011, às 21,30h (Mário Beja Santos)

sábado, 21 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8307: Agenda Cultural (124): Na Kontra Ka Kontra, a blogonovela de 49 episódios, passada na Guiné, em Portugal, no Brasil, entre 1969 e 2010, agora publicada em livro, a apresentar em Monte Real (4 de Junho) e no Porto, Espaço Vivacidade (7 de Julho) (Fernando Gouveia / Luís Graça)








Capa e contracapa do livro Na Kontra Ka kontra (Encontros e desencontros). Porto: edição de autor. 2011.  Dedicatória autografada ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.






A. Duas mensagens de 11 do corrente, enviadas pelo nosso querido camarada Fernando Gouveia [, foto à esquerda, com a esposa,  Regina Gouveia, ambos membros do nosso blogue, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria,  IV Encontro Nacional da Tabanca Grande, 20 de Junho de 2009 ]:


(i) Luís, grande guru desta verdadeira irmandade personalizada pela Tabanca Grande e respectivo blogue: 

Como muitos camaradas, já por várias vezes referi que durante quarenta anos andei esquecido da Guiné e da guerra, e só agora fui infectado, como que por um vírus informático,  que, pelo menos comigo, não é da estirpe guerreira mas tão só daquela outra, ligada ao continente africano e sua gente. 


Pediste-me para escrever, para o blogue, meia dúzia de histórias e já lá vão cerca de quarenta. 

Revisitei a Guiné o ano passado e como tenho dito, “sabendo o que sei hoje, arrepender-me-ia para sempre se não tivesse ido”.  

Na sequência dessa visita surgiu, como por todos já é sabido, NA KONTRA KA KONTRA.  Muitos camaradas gostaram da estória, o que muito me sensibilizou. Também me incentivaram a continuar, com vista à publicação em livro. Assim o fiz. 


Agora, indo ao que verdadeiramente interessa, é preciso tratar da colocação dos livros junto dos leitores, tanto mais que o produto da venda se destina integralmente às crianças da Guiné-Bissau (ver carimbo na capa do livro). 


Como é sabido, actualmente é muito complicada a parte da distribuição. Quer distribuidores, quer livrarias só aceitam autores consagrados.  Assim sendo, penso fazer várias apresentações do livro, entre grupos de amigos, de camaradas, etc. Como primeira apresentação, entendo que não podia deixar de ser, a virtual, no blogue da Tabanca Grande. 

Venho pois pedir-te que consigas algum do teu pouco tempo disponível e sejas tu próprio a fazer essa primeira apresentação. Como deves entender, seria muito importante que acontecesse antes do nosso almoço anual em Monte Real, onde, mais informalmente teria lugar a segunda apresentação. 

Termino, dizendo-te que ainda não perdi a esperança que NA KONTRA KA KONTRA atinja o objectivo para que foi escrita [, a televisão]. 


Um grande abraço. 


Fernando Gouveia 



PS – Segue um livro pelo correio. 

(ii) Luís: Em complemento do e-mail anterior pedia mais o seguinte:

1 – Que indiques onde, a partir de agora, no Porto, se pode adquirir o livro.



Rua Alves Redol, 364-B, Porto 


 (traseiras do edifício com o nº 376/372)

(Telefone 220937093)


 2 – Que no mesmo espaço irá ser feita uma apresentação do livro, no próximo dia 7 de Julho,  pelas 17 h, que coincidirá com a abertura de uma exposição de fotografias do mesmo autor (oportunamente serão dados mais pormenores).



Um abraço

Fernando Gouveia
(Ex-Alf Mil Rec e Inf, Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70)


B. Comentário de L.G.:

Prometo escrever uma breve apresentação da obra, tal como ela merece, ela e o seu criador. Reli de um fôlego os 49 episódios que foram publicados diariamente, de segunda a sexta, no nosso blogue, durante semanas. Fico feliz por o Fernando Gouveia ter aceite a nossa sugestão de transformar esta originalíssima história de guerra e de amor em livro.  História (ou guião de um possível filme ou telenovela) que ele escreveu "debaixo da adrenalina acumulada durante a minha visita à Guiné-Bissau, em Março de 2010" (sic)-

Garantiu-me ele que os custos de produção ficaram por 3 euros e picos por exemplar, tendo o livro sido impresso em Espanha!!!... Tenciona vender o livro, com um preço de capa muito acessível, revertendo todas as receitas líquidas para um projecto de apoio às crianças da Guiné... Uma primeira apresentação pública (e venda directa) será feita por ocasião do nosso VI Encontro Nacional, em Monte Real, 4 de Junho próximo. 

Até lá, prometi escrever-lhe uma nota de leitura da obra, agora em livro, de 160 pp., profusamente ilustrado com fotos  do autor (dos anos 1968/70 e de 2010). O Fernando, como se sabe, foi Alf Mil Rec e Inf, em Bafatá (1968/70), tendo pertencido ao Agrupamento nº 2957, co0menado pelo então Cor Hélio Felgas.

A hora é de dar os parabéns ao promissor escritor que agora passa a concorrer lá em casa... com a consagrada Regina Gouveia. E é também a hora  de fazer votos para que alguém do cinema ou da televisão se "apaixone" por esta história, tal como me aconteceu a mim e a muitos de nós, leitores do blogue e fãs dos Na Kontra Ka Kontra, isto é, da vida que é feita de encontros e desencontros.

__________________

Nota do editor:

Último poste da série  > 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8303: Agenda cultural (123): Lançamento do Livro: "Picadas e caminhos da vida na Guiné"


quinta-feira, 24 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7989: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (86): Fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro...

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 22 de Março de 2011:

Carlos:
No rescaldo da publicação de NA KONTRA KA KONTRA gostaria que, inserido no tema "A Guerra Vista de Bafata", fosse publicado o agradecimento que se segue, bem como a capa do livro em causa.

Um abraço
Fernando Gouveia


Fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro…

Finda a publicação de NA KONTRA KA KONTRA*, estória que escrevi debaixo da adrenalina acumulada durante a minha visita à Guiné-Bissau, em Março de 2010, cumpre-me agradecer a todos os camaradas que ao longo da postagem dos episódios, por comentários ou outras formas, me apoiaram e me incentivaram a continuar.

Tendo ao longo destes dois anos, escrito para o blogue várias estórias sobre a minha vivência na Guiné, de 1968 a 1970, podem crer que até tornar a ir lá, faz agora um ano, nunca me tinha passado pela cabeça escrever algo que pudesse vir a dar um livro. Penso fazê-lo. Não me considero escritor e esse será provavelmente o meu primeiro e último livro.

Foram as diversas pessoas que, através dos referidos comentários, me “convenceram” a levar para a frente a publicação em livro. Só lamento não estar nas minhas mãos a questão do filme ou telenovela, como também muitos amigos sugerem.

Fazendo fé em tudo aquilo que o título supra encerra, tendo dois filhos, tendo plantado umas quantas árvores, só me faltava publicar um livro.

É o que espero, venha a acontecer.

Como já há projecto da respectiva capa, ele aí vai:


Um abraço a todos.
Fernando Gouveia
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Nota de CV.

(*) Vd. poste de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7956: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (85): Na Kontra Ka Kontra: 49.º e último episódio

quinta-feira, 17 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7956: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (85): Na Kontra Ka Kontra: 49.º e último episódio




1. Quadragésimo nono e último episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 16 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


49º EPISÓDIO

O miúdo que a foi chamar, talvez lhe tenha dito que género de pessoa a procurava. Talvez a arranjar-se demorou algum tempo, o que a Magalhães Faria pareceu uma eternidade. Sentado debaixo do alpendre lateral da oficina do Tchame não a viu chegar. Só deu por ela quando já estava junto dele.

Cedeu-lhe a cadeira e ficaram a olhar um para o outro como se nunca tivesse acontecido KA KONTRA, ela sorrindo, ele admirando talvez a forma impecável como vinha vestida e o rosto sem uma ruga. Conversaram tanto que, quando deram por isso, já tinha ido embora todo o pessoal que se tinha juntado com a chegada do visitante. Ela chegou a dizer-lhe que andava com alguns problemas de saúde e que ali em Bafata não sabiam o que ela tinha. Ele foi-lhe dizendo que se sentia muito só.

Asmau e Magalhães Faria.


EPÍLOGO

Asmau acaba por contar a Magalhães Faria tudo o que passou naquilo que, a seus olhos, foi uma longa existência: Desde que o Alferes a comprou por “vaca e meia”, tinha ela dezasseis anos, até agora com cinquenta e seis. Ou seriam cento e cinquenta e seis como diria Teresa Batista (Jorge Amado)?

Bafata tinha sido o seu destino quando, cansados de guerra, ela e a família, fugiram de Madina Xaquili. Não tinham ido por Galomaro para a tropa não os detectar. Em Bafata tinham familiares que os acolheram, até recomporem as suas vidas. O pai Adramane era parente do Régulo de Canquelifá, pai de Ibraim. Este ajudou a nova família a instalar-se. De imediato iniciou o relacionamento com a Asmau que conduziu, mais tarde, ao casamento dos dois. Tudo se encaixava, pensa Magalhães Faria: O Ibraim logo tinha sabido o que se tinha passado em Madina Xaquili, entre a Asmau e ele próprio.

Cada um sabia o que se tinha passado até à fuga para Bafata. Ela conta o que se passou daí para a frente. Refere que enquanto o Alferes esteve em Bafata, pouco saía das imediações da morança, por não querer encontrar-se com ele. O Ibraim levou-a pela primeira vez ao cinema só após o Alferes ter ido embora de vez. Logo a seguir casaram.

Demoram algum tempo a ter o primeiro filho mas logo vieram mais seis, ao todo quatro rapazes e três raparigas. Mas não demorou muito até morrer um, logo o mais velho. O Ibraim sofreu, talvez mais do que ela, com a morte desse filho por se tratar do primogénito e logo macho.

Ela, com vinte e tal anos, já tinha passado por muita adversidade: O divórcio do Alferes aos dezasseis anos, a morte trágica do marido Samba, a fuga para a nova vida e agora a morte de um filho.

Faltava ainda descrever muitas mais adversidades: O Ibraim, que já tinha tido um pequeno ataque de coração, não sobreviveu ao segundo. Sobreviveu ela. Sobreviveu ao divórcio do Alferes, ao Samba e agora ao Ibraim. Desgraças sucessivas. Só africana passa pelo que ela passou. Mais tarde, com a morte de dois outros filhos, com SIDA, carregou o fardo quase sozinha. Os pais pouca ajuda lhe deram antes de morrerem. Tudo suportou. Difícil diz ela, “foi aprender a chorar”, tal como diria Teresa Batista (Jorge Amado).

Gosto da maneira como vem vestida, interrompeu ele, tanto para fazer esquecer as tristes lembranças dela, como para mudar a conversa para assuntos mais prosaicos. E continuando:

Hoje, Asmau, já não vai haver tempo para irmos ao hospital ver o que se passa com a sua saúde, mas amanhã volto aqui e trataremos disso. No dia seguinte, bem cedo, chegava a Bafata, dirigindo-se directamente à morança da Asmau, aonde a tinha acompanhado no dia anterior.

Ir a um qualquer hospital procurar tratamento, pode ser muito complicado quando não se conhece ninguém, porém no de Bafata trabalhava lá uma médica portuguesa que muito facilitou o atendimento. À custa de um pequeno “óbolo” ao hospital por parte Magalhães Faria, tudo ficou à disposição para o tratamento de Asmau.

Já eram horas de almoço quando os dois se despacharam. Sem a convidar para almoçar, quando deram por eles estavam sentados no restaurante do seu amigo Dionísio Castro, situado no prédio da sede dos “Médicos do Mundo”. Talvez não tivessem reparado no que comeram mas o que é certo é que a conversa se prolongou por toda a tarde.

KA KONTRA foi o que cada um prometeu ao outro não mais acontecer. Ela estava a viver sozinha: O único filho vivo estava a trabalhar em Portugal e as três filhas estavam com os maridos, duas em Bissau e outra para os lados do Gabu.

Logo ali combinaram, que dada a mútua solidão, ele a viria buscar passados dois dias, o tempo necessário para ela reunir alguns pertences a levar para a que iria ser a sua nova casa.

Mas definiram bem que ela iria ter o seu quarto, que o que ambos precisavam era de afecto, que ela iria ter um ordenado para justificar o pouco trabalho que iria ter na empresa dele, como orientadora do pessoal menor. Também teria sempre um carro com condutor à disposição, para a levar quer a Bafata, quer a qualquer lugar, sempre que se quisesse encontrar com amigos e familiares.

Nem sempre ele a levava a Bissau. Lá tinha negócios e “negócios”, como homem que era. Quando a levava não se coibia de a “mostrar”. Compra-lhe os melhores vestidos, perfumes e algumas jóias embora para ela “qualquer latão fosse ouro”, mais uma vez como diria Teresa Batista (Jorge Amado).

O aeroporto fascinava-a por causa dos aviões. Quando ele ia esperar amigos de Portugal sempre ela o acompanhava. Pressentindo que ela gostaria de um dia voar, depressa programa uma viagem, num táxi aéreo, até aos Bijagós. Felicidade dos dois. Ele deliciou-se só de ver as expressões de felicidade dela ao contemplar, lá do alto, matas, tabancas, rios, ilhas, ilhotas. Viu pela primeira vez o mar aberto, com que ficou deslumbrada, como deslumbrado estava ele só de a contemplar.

Para recordar os velhos tempos, um dia, fizeram uma refeição em que a “bianda “ foi confeccionada por ela, agora com sal, tendo comido sentados numa esteira no chão, debaixo do grande mangueiro. Muito se riram, muitos olhares trocaram. Momentos de muita ternura.

Quando ao fim da tarde ele se senta sozinho debaixo do mangueiro desfilam na sua memória todos os casos “amorosos” e profissionais, mas agora, numa paz de espírito não supostamente alcançável, mas alcançada. A sua ex-bajuda torna-se numa fonte de ternura não antes imaginável. Paixão. Um amor casto.

Renovam-se os afectos expressos na ternura de palavras, sorrisos, olhares, gestos, como se de um casal de namorados se tratasse.

Sexo é coisa que agora, ele e também ela, sabem separar do amor e da ternura. Ele raramente a trata por tu, talvez por não querer recordar a intimidade que outrora houve mas que agora é outra, sublimada.

Todos os fins de tarde, sentados ou na varanda ou debaixo do mangueiro, ele não se cansa de olhar para ela. Muitas vezes ela faz o mesmo. Gosta muito de a ver dormir na cadeira de lona, especialmente encomendada por ele de Portugal.

Um dia descobre que o sexo o impedira de amar. (como diria a personagem do velho jornalista num dos últimos livros de Gabriel Garcia Márquez). Como que descobre a vida novamente. Desperta nele o amor julgado perdido. Os negócios passam a uma fase de excelência e os amigos regozijam-se ao vê-lo prosperar.

Vários anos se iriam passar. O Dionildo deixaria de vir África abaixo a trazer as carrinhas. A sua coluna ressentir-se-ia da vida agitada que sempre levou. A Sextafeira há muito que tinha deixado de lhe dar atenção.

Whisky ele, e ela uma “fanta”, era o que invariavelmente tomavam quando à noite ficavam até tarde na varanda da casa. Ela recostada na cadeira de lona portuguesa.

Xilogravura no tronco do mangueiro com um coração e as letras A e MF traduz um amor que tinha parecido inatingível.

Y(e, em crioulo), numa ida a Bissau, não se esquece de por em favor dela a sua apólice de seguro de vida.

Zumbidos de mosquitos era a única coisa que se iria ouvir naquela noite serena de fim da época das chuvas, com os dois dormitando sentados na varanda daquela casa para os lados de Safim. Notando ela que ele não se levantava para se irem deitar foi tocar-lhe ao de leve para lhe lembrar que já era tarde. Os dois, trôpegos, amparando-se mutuamente, dirigem-se para o quarto que agora já compartilham.


FIM de NA KONTRA KA KONTRA

**********

Agradecimentos:

Ao “Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné” em particular ao próprio Luís e ao editor Carlos Vinhal que me tem aturado todo este tempo.

A António Pimentel:
Por ter sido quem “provocou” tudo isto, na visita que ambos fizemos à Guiné-Bissau em Março de 2010, ao apresentar-me ao empresário que estava interessado em produzir a primeira telenovela guineense. Pelo apoio que deu ao longo destes meses de escrita.

A Francisco Allen pelo apoio dado na Guiné-Bissau e Artur Rêgo pelo seu apoio.

Ao verdadeiro Alferes:
Cuja sua história serviu de base para este seriado.

À verdadeira Asmau:
A “bajuda “ mais espectacular da Guiné Portuguesa.

Ao verdadeiro Dionildo:
Que pela sua maneira de ser proporcionou muitas dicas ao autor.

Ao verdadeiro Ibraim:
Grande amigo do autor, já falecido.

A João:
Que em Madina Xaquili muito ensinou ao autor.

À verdadeira Bobo:
Que sempre tinha um sorriso para com o autor.

A Sadjuma:
O milícia mais aprumado do seu Pelotão.

A Braima:
Que na “Tabanca” deliciou o autor com os seus acordes.

A Ibraim:
Que, além de dar o nome a uma personagem, muitos ensinamentos transmitiu ao autor, sobre os costumes do povo guineense.

Ao povo guineense:
Que pela sua afabilidade conquistou e motivou o autor para esta escrita.

À minha mulher com quem aprendi a gostar de ler.


Porto e Portugal: Agosto de 2010
Até sempre camaradas.
Fernando Gouveia
____________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7950: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (84): Na Kontra Ka Kontra: 48.º episódio

Vd. postes da série Na Kontra Ka Kontra:

P7583, P7589, P7598, P7605, P7612, P7624, P7630, P7637, P7643, P7648, P7664, P7667, P7673, P7680, P7687, P7698, P7701, P7707, P7713, P7719, P7739, P7743, P7748, P7755, P7763, P7779, P7787, P7794, P7801, P7809, P7830, P7837, P7847, P7854, P7861, P7875, P7882, P7885, P7890, P7896, P7905, P7910, P7915, P7919, P7926, P7939, P7944, P7950

quarta-feira, 16 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7950: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (84): Na Kontra Ka Kontra: 48.º episódio




1. Quadragésimo oitavo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


48º EPISÓDIO

Depois de tirar uma fotografia, despede-se e promete voltar para recordar os velhos tempos. Já no jeep, com ar condicionado, resolve definitivamente ir procurar a Asmau, quanto mais não fosse para a ajudar em alguma coisa que precisasse, caso ainda fosse viva. Pensa que será junto de algum africano que poderá obter informações do paradeiro duma mulher grande, de quem só sabe o nome. Lembrou-se do ourives de Bafata, de nome Tchame, que conhecera há quarenta anos na Tabanca da Ponte Nova. Ouvira dizer que na oficina, estava agora um filho. Para lá se dirigiu. Disse ao actual ourives que tinha conhecido o seu pai e que nesse tempo lhe tinha comprado umas peças. Achou a oficina igual à que conhecera quarenta anos atrás. Finalmente perguntou:

- Conhece uma mulher grande chamada Asmau?

Em dois segundos obtém a resposta.

– Conheço, mora aqui perto, se quiser mando-a chamar. O marido chamava-se Ibraim.

Asmau, Ibraim, podia apenas ser uma coincidência. Ibraims haveria muitos, por Ibraim ser o nome de um dos filhos do Profeta. Magalhães Faria, por momentos, fica paralisado. Como antigo guerreiro reúne forças e reage. Tinha que fazer uma pergunta:

– Tchame, esse Ibraim foi empregado do Cinema?

– Sim, foi.

Magalhães Faria como que mudou de cor, teve tremuras, pediu para se sentar, foi-lhe oferecida água. Esteve mudo por largos momentos. Ainda sem nada dizer começou a pensar:

- A Asmau foi casada com o meu melhor amigo guineense. Asmau era com certeza a namorada que o Ibraim nunca me quis mostrar. E isso teria acontecido por o meu amigo Ibraim sempre ter estado a par do que se passou em Madina Xaquili. Incrível, pensou.

Viria a saber ainda que o Ibraim tinha morrido com um ataque de coração, o que não deixou de relacionar com o não ingresso nos Pára-quedistas.

- Tchame, por favor mande-a chamar.

O miúdo que a foi chamar, talvez lhe tenha dito que género de pessoa a procurava. Talvez a arranjar-se demorou algum tempo, o que a Magalhães Faria pareceu uma eternidade. Sentado debaixo do alpendre lateral da oficina do Tchame não a viu chegar. Só deu por ela quando já estava junto dele.

Asmau recebeu Magalhães Faria com um sorriso.

Cedeu-lhe a cadeira e ficaram a olhar um para o outro como se nunca tivesse acontecido KA KONTRA, ela sorrindo, ele admirando talvez a forma impecável como vinha vestida e o rosto sem uma ruga. Conversaram tanto que, quando deram por isso, já tinha ido embora todo o pessoal que se tinha juntado com a chegada do visitante. Ela chegou a dizer-lhe que andava com alguns problemas de saúde e que ali em Bafata não sabiam o que ela tinha. Ele foi-lhe dizendo que se sentia muito só.

Asmau impecavelmente vestida.

Asmau e Magalhães Faria.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7944: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (83): Na Kontra Ka Kontra: 47.º episódio

terça-feira, 15 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7944: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (83): Na Kontra Ka Kontra: 47.º episódio




1. Quadragésimo sétimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 14 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


47º EPISÓDIO

Um dia resolve ir a Bafata, mais para reviver os velhos tempos e também os guineenses amigos que lá deixou. Na Asmau não deposita grande fé. Dada a apregoada esperança de vida dos guineenses o mais certo seria ter morrido. Se ainda viver, com cinquenta e muitos anos, deve estar velha e enrugada. Num Domingo mete-se à estrada. Passa por Safim onde é obrigado a parar por várias barreiras, policiais e do exército. São barreiras caricatas que obrigam os carros a parar com o auxílio de umas velhas cordas, com farrapos pendurados para se verem melhor. Uma pessoa é obrigada a parar e um guarda muito calmamente começa a dar voltas ao carro. Nada acontecerá enquanto o condutor não der o chamado “mata-bicho” ao polícia. Magalhães Faria depressa se apercebe como resolver a situação e passa a andar no “tabelier” com uma embalagem de barras de cereais. Em cada paragem uma barrita é suficiente para baixarem logo a corda.

Continuando a conduzir para Bafata, passa por Nhacra e Jugudul onde um velho amigo tem uma destilaria de aguardente de cana. No regresso parará ali para o cumprimentar. A estrada, agora uma recta com uns vinte quilómetros, atravessa as zonas de Madina Belel e Mato de Cão, ao tempo santuários do PAIGC. Não deixa de sentir alguma emoção. Chega a Bambadinca, que está perfeitamente irreconhecível. Tinha crescido imenso. Só consegue reconhecer o local do antigo quartel pelas antenas. O mercado de rua ajuda à confusão. Dentro da tabanca aparece um cruzamento. Para a esquerda diz Bafata 28 km, para a direita Xitole e Saltinho. Pára o Jeep. A placa com a palavra Bafata mexe com ele. Só ao fim de alguns minutos é que resolve arrancar.

A palavra Bafata “mexe” com Magalhães Faria.
(Foto de José Manuel)

Não virou à esquerda como devia mas sim à direita. Estava-lhe a custar enfrentar a realidade. Tinha acabado de resolver ir primeiro ao Saltinho, que não conhecia e sabia ser um local muito belo. Almoçaria lá e à tarde iria a Bafata. Nitidamente Magalhães Faria estava apreensivo em relação ao que podia vir a acontecer em Bafata. Chegado ao Empreendimento Turístico do Saltinho, que ocupa parte do antigo quartel e, antes de almoçar um óptimo prato de peixe bica, vai refrescar-se no Rio Corubal, que atravessa a nado depois de lhe confirmarem que por ali já não havia crocodilos. Embora tenha almoçado na esplanada, não deixa de ver na sala de refeições, as coloridas pinturas que as diversas Companhias da tropa portuguesa fizeram nas paredes. O Senhor Fernando, dono do empreendimento, leva-o a visitar todas as instalações mostrando-lhe até um tanque, com uma alta vedação de rede, onde tem os seus crocodilos de estimação. Magalhães Faria não deixa de ter um calafrio por ter andado a nadar calmamente no Corubal.

Magalhães Faria junto ao Corubal.

Despede-se do Senhor Fernando e ruma a Bafata. Em Bambadinca não pára, mas não deixa de reduzir a velocidade como dando tempo para os seus pensamentos se ordenarem, quiçá, dar meia volta e ir para casa. Absorto como ia, só dá conta que está a chegar a Bafata quando atravessa a ponte sobre o rio Colufe. Também não reconhece Bafata. Cresceu tanto que até há construções onde existia a pista de aviação. Resolve ir ver o que foi o seu quartel, o Comando de Agrupamento. Ainda funciona como quartel. Os militares presentes não põem quaisquer obstáculos e o ex-alferes chega a tirar uma fotografia sentado na, que deve ter sido, a sua cama de ferro, ainda utilizada. Uma grande emoção.

Magalhães Faria sentado no que pode ter sido a sua cama há 40 anos.

Princípio de tarde e o calor aperta. Magalhães Faria resolve ir beber uma cerveja a um café-restaurante, no rés do chão dum prédio situado na parte de construções coloniais, agora quase toda em ruínas. Por cima é a sede dos Médicos do Mundo. O restaurante pertence a um casal de portugueses mais ou menos da sua idade. Palavra puxa palavra, grande NA KONTRA, o dono é, nem mais nem menos, a mesma pessoa que há quarenta anos lhe deu boleia de Bambadinca para Bafata, na primeira vez que o ex-alferes regressou à Guiné, após férias na Metrópole.

O civil que há 40 anos deu uma boleia ao então
Alferes Magalhães.

Depois de tirar uma fotografia, despede-se e promete voltar para recordar os velhos tempos. Já no jeep, com ar condicionado, resolve definitivamente ir procurar a Asmau, quanto mais não fosse para a ajudar em alguma coisa que precisasse, caso ainda fosse viva. Pensa que será junto de algum africano que poderá obter informações do paradeiro duma mulher grande, de quem só sabe o nome. Lembrou-se do ourives de Bafata, de nome Tchame, que conhecera há quarenta anos na Tabanca da Ponte Nova. Ouvira dizer que na oficina, estava agora um filho. Para lá se dirigiu. Disse ao actual ourives que tinha conhecido o seu pai e que nesse tempo lhe tinha comprado umas peças. Achou a oficina igual à que conhecera quarenta anos atrás. Finalmente perguntou:

- Conhece uma mulher grande chamada Asmau?

O filho do célebre ourives de Bafata, Tchame.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7939: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (82): Na Kontra Ka Kontra: 46.º episódio

segunda-feira, 14 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7939: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (82): Na Kontra Ka Kontra: 46.º episódio




1. Quadragésimo sexto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 13 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


46º EPISÓDIO

Estabelecido a setenta quilómetros de S. Paulo, em Santos, cidade muito interessante com praia ao longo de uma avenida que faz lembrar Copacabana, tem oportunidade de conhecer toda a zona sul do Brasil. Visita as Cataratas de Iguaçú, vai à capital, Brasília, percorre a estrada marginal até ao Rio de Janeiro, passando pela maravilhosa cidadezinha de Parati com as suas casas tipicamente coloniais portuguesas.

Magalhães Faria e sua mulher apreciando a Baía de Santos

Porém, talvez um chamamento semelhante ao da negritude africana, agora a negritude brasileira faz com que esteja por períodos muito curtos em Portugal. Esta negritude vai novamente fazer mudar a sua vida. Agora é a sua mulher que se afasta, não aguentando as duplicidades. Magalhães Faria vê-se de novo em situação de KA KONTRA, semelhante à anteriormente vivida em Portugal.

A história repete-se e da mesma forma não quer também ficar dependente do agora ex-sogro. Regressa a Portugal e assume novamente a direcção da sua empresa, que vinha sendo gerida pelo Dionildo.

Ano de 2009. Dá-se a morte do Presidente Nino Vieira e do seu principal opositor, o Comandante-Chefe das Forças Armadas. Tudo aponta para que a partir de agora a democracia e a acalmia das armas vinguem. É neste contexto que Magalhães Faria toma a decisão de voltar à Guiné.

Ano de 2010. Chegado a Bissau, Magalhães Faria dá uma volta pela cidade. Bissau está muito modificada. Cresceu imenso para a periferia. O centro histórico está completamente degradado e em ruínas.

Uma rua de Bissau junto da Amura.

Vê a casa onde foi morto o Presidente Nino toda metralhada. Um Jeep de alta cilindrada, também furado de balas, está estacionado à porta desde os acontecimentos, há cerca de um ano.

A casa metralhada de Nino Vieira. 
(Foto de F. Allen)

Um jeep abandonado junto à casa de Nino Vieira.
(Foto de F. Allen)

As ruas têm os pavimentos cheios de buracos, no entanto há muito trânsito a ponto de se formarem engarrafamentos nas horas de ponta. Vê muita gente pelas ruas e pelas estradas. Na zona do mercado de rua, de Bandim, o aglomerado de viaturas e de pessoas é impressionante. Com a sua experiência empresarial começa a pensar que uma empresa ligada ao transporte de pessoas e mercadorias poderia ter sucesso. Meio dito meio feito.

O grande movimento na zona de Bandim.

Nos arredores da capital, para os lados de Safim, aluga uma casa e uns armazéns anexos, a preço muito mais em conta do que seria na capital. Começa a montar o negócio. Na sua mente já pairava a ideia de que o Dionildo o poderia ajudar muito, fazendo-lhe chegar de Portugal a desejada “mercadoria”: Carrinhas usadas. Iria concretizar-se a ideia que os dois tiveram na anterior estadia. Chegam as primeiras viaturas e o negócio prospera.

Magalhães Faria já não frequenta a “D. Berta”. Embora a velha senhora ainda esteja de boa saúde, o restaurante está decadente.

É no restaurante “O Porto”, perto do Grande Hotel agora em ruínas, que faz os encontros, quer de amizade quer de negócios, Por ali passam todos os europeus: Negociantes, cooperantes e turistas. Também por lá passam políticos guineenses com quem se relaciona. A vida parece sorrir-lhe. De quando em vez lá ouve à distância um c… f… É o Dionildo que acaba de chegar com mais uma carrinha, depois de percorrer cinco mil quilómetros África abaixo. Porém Magalhães Faria sente-se afectivamente só, principalmente à noite quando se encontra no silêncio da sua casa. O seu pensamento não deixa de fazer “paragens” na Asmau.

Nesse aspecto com o Dionildo as coisas eram bem diferentes. Todos os momentos livres aproveitava-os para estar com a sua amada Sextafeira. Amor platónico diziam alguns.

Magalhães Faria no restaurante “O Porto”.

Um dia resolve ir a Bafata, mais para reviver os velhos tempos e também os guineenses amigos que lá deixou. Na Asmau não depositava grande fé. Dada a apregoada esperança de vida dos guineenses o mais certo seria ter morrido. Se ainda viver, com cinquenta e muitos anos, deve estar velha e enrugada. Num Domingo mete-se à estrada. Passa por Safim onde é obrigado a parar por várias barreiras, policiais e do exército. São barreiras caricatas que obrigam os carros a parar com o auxílio de umas velhas cordas, com farrapos pendurados para se verem melhor. Uma pessoa é obrigada a parar e um guarda muito calmamente começa a dar voltas ao carro. Nada acontecerá enquanto o condutor não der o chamado “mata-bicho” ao polícia. Magalhães Faria depressa se apercebe como resolver a situação e passa a andar no “tabelier” com uma embalagem de barras de cereais. Em cada paragem uma barrita é suficiente para baixarem logo a corda.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P7926: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (81): Na Kontra Ka Kontra: 45.º episódio

sexta-feira, 11 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7926: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (81): Na Kontra Ka Kontra: 45.º episódio




1. Quadragésimo quinto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 10 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


45º EPISÓDIO

Um dia, encontrando-se Magalhães Faria a almoçar com o filho na “D. Berta”, chega o Dionildo e de chofre diz-lhe:

- C… sabe quem está ali em baixo à porta? A sua primeira mulher.

O filho do Magalhães Faria arregalou os olhos e este ficou lívido.

- E sabe quem está com ela? Aquela bajudinha muçulmana que nasceu em Madina Xaquili, quando lá estávamos e a quem puseram o nome de Sextafeira. Agora está uma mulheraça.

Um NA KONTRA inusitado.

Magalhães Faria não teve como fugir à situação criada pelo Dionildo. Tentou explicar ao filho que era uma brincadeira do Dionildo mas teve que descer ao rés do chão e ir ter com a Asmau e a Sextafeira. Conversaram uns minutos, o suficiente para ficar a saber que a Asmau estava casada, que tivera sete filhos dos quais um morreu, e que vivia em Bafata. Tinha vindo visitar a Sextafeira que vivia com os pais em Bissau. Se Sextafeira estava uma mulheraça no dizer do Dionildo, Asmau com os seus 36 anos, bonita como sempre foi, agora bem vestida, com uma pujança física de fazer inveja até a Sextafeira, podia por a cabeça à roda a qualquer mortal. Se a pôs ou não a Magalhães Faria não se ficou a saber. Despediram-se e aparentemente tudo ficou na mesma.

Com o Dionildo é que as coisas não ficaram na mesma. A Sextafeira mexeu com ele. Um autêntico amor à primeira vista. Fizeram promessas de se tornarem a encontrar.

Decorrem alguns dias até que a guerra parece novamente instalada em Bissau. Ouvem-se tiros, rebentamentos e mais tarde, como sempre acontece, os boatos. A pretexto de uma tentativa de golpe terá sido feita uma nova depuração, e, inexplicavelmente, mais uma vez de balantas por balantas. Ambos, pai e filho, começaram a acusar a instabilidade que agora se estava a viver e resolvem regressar a Portugal.

No Porto, tentando refazer a sua vida profissional Magalhães Faria cria uma pequena empresa de transitários, privilegiando os transportes para a Guiné, destino pouco explorado. Parecia que a África, ou melhor a Guiné, ou porventura ainda a Asmau não lhe saía do pensamento.. O Dionildo passa a ser o seu “braço direito”.

Magalhães Faria não se sente bem a viver só, sem uma mulher a seu lado.

Conhece entretanto uma senhora brasileira com quem vem a casar depois de um curto namoro. Logo na viagem de núpcias, passada no Brasil, entusiasma-se com o país e, chegado a Portugal, prepara as coisas no sentido de o Dionildo ficar à frente do negócio. Parte novamente para o Brasil acompanhado da mulher para, com o apoio do sogro brasileiro, iniciar nova vida profissional. Mantém-se lá alguns anos, com vindas regulares a Portugal.

Magalhães Faria vai a Brasília e visita a Catedral.

O Rio de Janeiro foi visita obrigatória para Magalhães Faria.

Magalhães Faria e a terceira mulher
no Cristo Rei.

Estabelecido a setenta quilómetros de S. Paulo, em Santos, cidade muito interessante com praia ao longo de uma avenida que faz lembrar Copacabana, tem oportunidade de conhecer toda a zona sul do Brasil. Visita as Cataratas de Iguaçú, vai à capital, Brasília, percorre a estrada marginal até ao Rio de Janeiro, passando pela maravilhosa cidadezinha de Parati com as suas casas tipicamente coloniais portuguesas.

Magalhães Faria e sua mulher apreciando a Baía de Santos

Porém, talvez um chamamento semelhante ao da negritude africana, agora a negritude brasileira faz com que esteja por períodos muito curtos em Portugal. Esta negritude vai novamente fazer mudar a sua vida. Agora é a sua mulher que se afasta, não aguentando as duplicidades. Magalhães Faria vê-se de novo em situação de KA KONTRA, semelhante à anteriormente vivida em Portugal.

A história repete-se e da mesma forma não quer também ficar dependente do agora ex-sogro. Regressa a Portugal e assume novamente a direcção da sua empresa, que vinha sendo gerida pelo Dionildo.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7919: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (80): Na Kontra Ka Kontra: 44.º episódio