1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2012:
Caro Carlos:
Não esperava vir a falar mais do livro que escrevi, mas acho que poderá ter interesse dar a conhecer, através do blogue, a recensão publicada por Réne Pélissier sobre o Na Kontra Ka Kontra, no nº 17 da publicação “Africana Studia”, edição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (2º semestre de 2011 a páginas 261 e 262).
O Prof. Dr. René Pélissier, um dos maiores historiadores da moderna colonização portuguesa, tem vários livros seus publicados em Portugal sobre o tema da nossa colonização e escreve regularmente na publicação “Africana Studia”.
Assim mando a referida recensão com vista à possível publicação, se assim o entenderes, para a série respectiva.
Segue em anexo cópia da recensão, a respectiva tradução e a capa do livro.
Um grande abraço.
Fernando Gouveia
(…) “Dois romances de antigos combatentes - aparentemente, no plano editorial português e pelos menos nos últimos cinquenta anos, apenas eles, para além de repórteres, usaram a Guiné como tela de fundo - chamam a nossa atenção para as realidades de uma guerra colonial que, não obstante um lusotropicalismo de propaganda, estava acima dos meios de um país como Portugal.
Ambos trazem um contributo bem vindo à história militar do seu país. O mais invulgar, NA KONTRA KA KONTRA, foi inicialmente difundido em 49 episódios num blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude. O autor, arquitecto de profissão, foi alferes na Guiné entre 1968 e 1970 e aí regressou recentemente com um grupo de antigos camaradas, numa “peregrinação” memorial. A originalidade do relato é dupla:
a) o autor - privilegiado - não parece ter estado envolvido nos combates, pois esteve essencialmente sediado em Bafatá e ainda numa povoação de Fulas, logo num chão politica e etnicamente alheado e até hostil ao PAIGC;
b) a intriga gira à volta da breve história de amor entre o autor e a bonita filha dum pequeno chefe de aldeia, muçulmano, que lha “cede” por um preço relativamente modesto tratando-se de um oficial: duas vacas e alguns cabritos.
A paixão amorosa satisfez-se rapidamente e o alferes “cede” a sua “esposa” a um miliciano local que casa com ela, mas é morto por uma mina. A mulher “casa-se” uma terceira vez com um outro Fula, amigo do autor. Este regressa a Portugal e arranja uma outra esposa.
Quarenta anos mais tarde, divorciado, volta a Bafatá e envolve-se numa relação platónica com a sua primeira bajuda, ainda bem conservada. O tema é, pois, o bom entendimento entre ex-colonizados e ex-militares.
E por que não?” (…)
____________
Notas de CV:
(*) Vd. postes da série Na Kontra Ka Kontra:
P7583, P7589, P7598, P7605, P7612, P7624, P7630, P7637, P7643, P7648, P7664, P7667, P7673, P7680, P7687, P7698, P7701, P7707, P7713, P7719, P7739, P7743, P7748, P7755, P7763, P7779, P7787, P7794, P7801, P7809, P7830, P7837, P7847, P7854, P7861, P7875, P7882, P7885, P7890, P7896, P7905, P7910, P7915, P7919, P7926, P7939, P7944, P7950
Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10070: Notas de leitura (372): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Olá Camarada
Li o romance e alguns textos de Pélissier. Raramente estamos em desacordo (eu e ele).
Os estudos que fez parecem-me exactos e cientificamente bem fundamentados. Louvo e registo o comentário ao "Na Konta...". Creio que este estrangeiro reconhece algo que pelo burgo não merece muito apoio.
Um Ab.
António J. P. Costa
Já conhecia o René Pelissier, tendo adquirido os livros que escreveu sobre a Guiné.
Ele fala em dois livros, mas apenas refere o teu Na Kontra Ka Kontra.
É de te dar os parabens.pela atenção que o René dispensou ao teu livro.
Já agora, para registo, creio que o livro de que ele não fala é de Inácio Maria Gois - O meu diário - Guiné 1964/1966 - Compª de Caçadores 674. Já foi aludido no blogue. É uma edição de autor.
Abraço
Registo com apreço que René Pélissier (que não é um tipo qualquer...) tenha reparado no livrinho do nosso amigo e camarada Fernando Gouveia... Ele é conhecido como um leitor compulsivo, tendo em sua casa uma biblioteca de 12 mil volumes...
Tomo também boa nota do que disse sobre nós, algo condescendente e paternalista: "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude"... Somos isso ? Ou só isso ?
Em entrevista ao Expresso, conduzida pelo jornalista José Luís Castanheira (vd. edição de 31 de Julho de 2010), respondeu do seguinte modo à pergunta " O que é, para si, um bom livro?":
(...) "Se um livro me traz coisas novas, considero-o bom; se me traz muitas coisas novas, é excelente, qualquer que seja a tendência política do autor. Como não tenho nenhuma opção política, se fizer bem o seu trabalho, não tem nenhuma importância que seja de esquerda ou de direita. Desde que faça bem o seu trabalho"...
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/rene-pelissier--falar-de-cinco-seculos-de-colonizacao-portuguesa-e-uma-burla=f597300#ixzz1yylTgvl7
Caros amigos,
Considero uma grande honra o facto do R. Pélissier, uma figura imponente, um Baobab na historiografia colonial portuguesa, ter feito a recensão do nosso livro. Sim, também, é nosso porque nasceu aqui no blogue amparado com as mãos carinhosas dos habitantes virtuais desta Tabanca Grande.
Desde que descobri, casualmente, em 1993, na biblioteca do ISCTE os dois tomos do seu livro "A história da Guiné, portugueses e africanos na Senegambia, 1841-1936" nunca mais me separei deles. Talvez pela sua visão muito critica e uma certa recusa de eurocentrismo primario.
Parece-me, no entanto, que não é muito apreciado pela classe intelectual portuguesa. Durante os dois anos que estive no ISCTE e nunca ouvi dos meus professores de história uma unica citação ou referencia do seu trabalho, apesar da sua vastíssima obra sobre a colonização e as relações de portugal com as suas antigas colonias, o que é de lamentar.
Cherno Baldé
Cherno:
Nunca o li, a vida é curta, são dois dias, nunca temos tempo para tudo... E quando temos tempo, lerpamos... Só o conheço de entrevistas. Lamentável da minha parte. Tenho respeito pelo seu monumental trabalho intelectual sobre a colonização portuguesa... É verdade, temos uma relação de amor-ódio em relação aos estrangeiros. Isso explica muita coisa...
Mas, atenção, ele nunca foi à Guiné, "nossa terra", nem antes nem depois da guerra colonial... Estranho, no mínimo. Os jornalistas franceses, alguns, foram lá, no tempo do Gen Spínola, e não eram propriamente (nem tinham que ser) "partidários" da causa portuguesa (na época)...
Aqui vai mais um excerto da citada entrevista:
(...) Reportagem mal-tratada pelo 'Le Monde'
- Visitou Moçambique?
- Duas vezes. Paguei uma vez, mas não vi muita coisa, fui apenas à Beira, Lourenço Marques e Gaza. A segunda foi em 1973; paguei a viagem até África e na Beira fiquei a cargo das autoridades militares e da administração. Visitei Tete (pouco depois do escândalo do massacre de Wiriamu), Metangula, Vila Cabral, Nangade (no Rovuma). Escrevi um artigo para o "Le Monde" sobre Nangade, que aliás foi mal-tratado por um jornalista da redação, que cortou o que eu dizia de bem dos portugueses, acusando-me de ser um propagandista da causa colonialista...
- Visitou a Guiné?
- Nunca. O que era normal. Gosto dos jornalistas, porque põem perguntas embaraçosas. E na Guiné sabiam que eu poria questões muito embaraçosas, a que não poderiam responder sem violar completamente a verdade.
- Visitou algum destes países depois da independência?
- Nunca. Nunca fui à África lusófona depois da independência. Fui a Goa por minha conta em 1979 e verifiquei que estava marginalmente mais desenvolvida que no tempo dos portugueses.
- Todos os seus livros estão traduzidos para português?
- Não e isso é uma pena. Tenho cinco livros e meio traduzidos para português (ao todo, cerca de 3500 páginas). Sou provavelmente o único historiador estrangeiro a ter cinco livros traduzidos em português: "História das campanhas de Angola", "História de Moçambique", "História da Guiné", "Timor em Guerra" e "As campanhas coloniais de Portugal" (que é a síntese dos quatro). E escrevi, juntamente com Douglas Wheeler, "História de Angola".
- Que foi o último a ser traduzido.
- Sim. O "Minotauro" nunca foi. Procuro um editor, mas são mais de 700 páginas. Não é apenas a guerra em 1961, é também a administração portuguesa nas véspera das revoltas. (...)
_______________
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/rene-pelissier--falar-de-cinco-seculos-de-colonizacao-portuguesa-e-uma-burla=f597300#ixzz1yzIgUmip
Mail enviado hoje pelo correio interno da Tabanca Grande:
Amigos e camaradas:
Estamos a entrar no verão, o que significa queda nas estatísticas sobre visita e leitura do nosso blogue...
Registe-se, todavia, o facto de termos atingido, há dias, os 3,8 milhões de visitas...
Noto, também, alguma quebra na produção e entrega de novos textos, fotos, etc...
O blogue é um animal voraz: tem de ser alimentado todos os dias...
A pensar nisso, está em curso uma sondagem. Alguém (o historiador francês René Pélissier) que nos visita regularmente (e que sabe português) diz que somos um !blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude" (perdida, presume-se)...
É verdade ? É isso ou só isso ? Gostava que se pronunciassem, dando a vossa opinião... Temos seis dias para responder...
Um abraço a todos/as. Luís Graça.
"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos."
René Pélissier, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes de 02.04.07
Aqui têm o grande historiador que manda um bitaites sobre quem nós fomos e somos, nunca foi à Guiné mas conhece-nos de gingeira.
Eu acho que também conheço este tipo de sumidades, historiadores
que não me merecem um mínimo de respeito.
Também escreveu uma recensão sobre o meu Diário
da Guiné há uns quatro anos atrás, (lembram-se?)e
conseguiu a proeza de ler o que não escrevi e virar tudo ao invés.
Porque ignorava a matéria sobre a qual escrevia, a Guiné 72/74.
Eu respondi na altura.
Pélissier tem os seus admiradores neste blogue, pessoas que acham que os seus "estudos parecem exactos e cientificamente bem fundamentados."
De facto, voltem a ler:
"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos."
René Pélissier dixit.
Abraço,
António Graça de Abreu
Amigo Fernando,
Pélissier, elogiou e muito bem o seu livro "Na Konta......"qualquer pessoa que o tenha lido, faria um elogio. O livro é muito bom.
Parabéns
Abraço
Filomena
Enviar um comentário