1. Embora um pouco desfasado no tempo, por sugestão da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio, deixamos aqui, para ler com calma no fim de semana, este artigo de autoria do jornalista Eurico Mendes.
Memorial Day
Esta segunda-feira, 28 de maio, os EUA comemoraram o Memorial Day (Dia da
Memória), honrando os seus militares mortos na guerra. Assinalado a primeira
vez em 1860 com o nome de Decoration Day e honrando os soldados da União
mortos na Guerra Civil, o Memorial Day é dedicado hoje aos mortos de todas as
guerras e feriado nacional desde 1971, numa espécie do Dia dos Fiéis Defuntos
em Portugal, que pouco se preocupa com os seus veteranos vivos, quanto mais
mortos e não tem nenhum feriado semelhante.
Da Guerra da Independência à atual Guerra do Afeganistão, muitos portugueses ou seus descendentes pegaram em armas pelos EUA e alguns figuram na lista dos 1.529.230 mortos que os EUA sofreram até hoje na guerra. Na Murtosa, distrito de Aveiro, estão por exemplo sepultados três filhos da terra mortos em guerras dos EUA: Manuel Evaristo, II Guerra Mundial; Manuel Branco, Guerra da Coreia e Jack Rebelo, Vietname.
Logo na primeira guerra, a Guerra da Independência também conhecida como
Revolução Americana (1775-1783), morreram portugueses.
Da tripulação do primeiro navio da Continental Navy precursora da US Navy,
o Bonhome Richard que o rei Louis XIV de França ofereceu aos nacionalistas,
faziam parte 28 portugueses recrutados por John Paul Jones no porto francês
de L’Orient e onze morreram no histórico combate com o navio inglês Serapis.
A história guarda também o nome de Joseph Diaz (José Dias), baleeiro que se
fixou em 1770 na localidade de Tisbury, ilha de Martha’s Vineyard, vindo
provavelmente dos Açores. Casou em 1780 com uma rapariga da terra e aderiu à
causa revolucionária. Capturado pelos ingleses em 1780, foi mandado para
Inglaterra, mas foi libertado e regressou à ilha em dezembro desse ano; voltou a
cair prisioneiro em 1781 e desta vez morreu a bordo do navio inglês Jersey.
Uma das primeiras baixas da Guerra da Independência foi Francis Salvador ou
Francisco Salvador, nascido em 1747 em Londres, numa rica família judaica
portuguesa oriunda de Tomar e que escapara à Inquisição fugindo para a
Holanda e depois para Inglaterra.
O bisavô de Francisco, José Salvador, foi diretor da Companhia das Indias e
adquiriu por duas mil libras 405 km2 de terras na Carolina do Sul, que o
bisneto veio ocupar em 1773. A mulher de Francis, Sarah Salvador era também
uma das herdeiras dos 810 km2 de terras da família Mendes da Costa.
O jovem luso-descendente foi eleito deputado pelo distrito 96 ao Congresso
Provincial (independentista) e morreu em 31 de julho de 1776 em combate com
os índios Cherokees, que os ingleses tinham armado para fazerem frente aos
colonos.
Salvador cavalgou a Carolina do Sul a alertar os colonos dos ataques dos
índios e ficaria por isso conhecido como o Paul Revere do sul. Em Charleston
foi descerrada há anos uma placa a lembrar que Francis Salvador foi o
primeiro judeu a exercer um cargo político no território que viria a tornar-se os
EUA e o primeiro luso-descendente, acrescente-se.
Na Guerra Civil (1861-1865), quando 11 estados do sul tentaram separar-se
dos Estados Unidos da América e formar a sua própria união com o nome de
Estados Confederados da América e cujo ministro da Defesa, Judah Benjamin,
descendia de portugueses. Ao tempo, viviam nos EUA mais de 4.000 portugueses e um
número maior de descendentes e muitos combateram dos dois lados.
A União sofreu 140.414 mortes e os Confederados 72.524 e alguns foram
portugueses. Nesse tempo viviam na Louisiana algumas centenas de açorianos
contratados para trabalhar nas plantações de açúcar e muitos combateram pelos
Confederados. Em New York e do lado da União, seguindo o exemplo dos irlandeses,
que formaram a Brigada Irlandesa, dos polacos com a Legião Polaca e dos
italianos com a Legião Garibaldi, espanhóis e portugueses formaram a companhia
Caçadores Espanhóis.
A Medalha de Honra do Congresso, o maior reconhecimento que um militar pode
receber por feitos em combate, foi atribuída a um luso-descendente
combatente da Guerra Civil, o cabo Joseph H. de Castro, do 19º Regimento de
Massachusetts e natural de Boston, onde viviam ao tempo 500 portugueses.
Distinguiu-se na batalha de Gettysburg, Pensilvânia, a 3 de julho de 1863.
O soldado Frances Silva, nascido a 8 de Maio de 1876 em Hayward, CA, é
outro luso-descendente Medalha de Honra. Era tripulante do USS Newark e teve
comportamento heróico entre 28 de junho e 18 de agosto de 1900, durante a
célebre Revolução Boxer, em Pequim.
Na I Guerra Mundial (1914-1918), perderam a vida 20.000 americanos e a
primeira morte foi o luso-americano Walter Goulart, de New Bedford, onde existe
um pequeno monumento em sua memória.
Na II Guerra Mundial (1939-1946), que provocou a morte de 292.000 americanos, perderam a vida dezenas de luso-americanos, um dos quais Charles Braga, a
7 de Dezembro de 1941, no ataque japonês a Pearl Harbor. Foi o primeiro
residente de Fall River morto na guerra e dá hoje o nome à Ponte Braga sobre o
rio Taunton.
Dois luso-descendentes mereceram a Medalha de Honra durante a II Guerra
Mundial: o soldado Harold Gonsalves, da Califórnia, morto em combate a 15 de
abril de 1945, em Okinawa e o paraquedista George Peters, de Cranston, Rhode
Island.
Caso curioso o do sargento Harry B. Queen, de Onset, MA, cuja mãe, Mae
Ávila, era filha de imigrantes açorianos. A 25 de janeiro de 1944, um
bombardeiro B-24 pilotado por Queen desapareceu quando voava da China para a Índia e
os oito tripulantes foram considerados desaparecidos em combate. Contudo, em
2007, decorridos 63 anos, os destroços do avião e os restos mortais dos
tripulantes foram encontrados.
Na Guerra da Coreia (1953-1957), morreram 50.000 americanos, um dos quais o
sargento Leroy A. Mendonça, natural de Honolulu e de ascendência portuguesa
e filipina. Morreu a 4 de julho de 1951. Ficou a proteger a retirada de um
pelotão e, até chegar a sua hora, abateu 37 inimigos.
Na Guerra do Vietname (ou Guerra Americana, segundo os vietnamitas),
morreram mais de 58.000 americanos e só de Massachusetts e Rhode Island há 53
nomes portugueses no Vietnam Veterans Memorial existente em Washington. Um é o
soldado Ralph Ellis Dias, nascido em 1950, em Shelocta, PA e detentor da
Medalha de Honra do Congresso e várias Purple Heart. Alistou-se nos Marines em
1967, seguiu para o Vietname em 1969 e morreu em combate a 12 de novembro
desse ano, na província de Quang Nam.
Nas modernas guerrras dos EUA no Médio Oriente tivemos a Operation Freedom
2001, com uma baixa portuguesa, Miguel Rosa; e Operation Freedom 2003, com
quatro: Arlindo Almeida, David Botelho, Andrew Cunha e Diane N. Lopes.
Os EUA estão presentemente empenhados em conflitos no Iraque (onde sofreram
4.474 mortes) e no Afeganistão (2.853 mortes). No Afeganistão morreram os
seguintes luso-descendentes: Christopher Luis Mendonça, Jorge Oliveira,
Carlos A. Aparício, Rafael P. Arruda, Anthony J. Rosa, Ethan Gonçalo, Francisco
Jackson, Joaquim Vaz Rebelo, Scott Andrews, Robert Barrett e Chad Gonsalves.
No Iraque, morreram Michael Arruda, Michael Andrade, Joseph M. Câmara,
Charles Caldwell, Peter Gerald Enos, Todd Nunes, Brian Oliveira, Scott C. Rose,
Humberto Timóteo e David Marques Vicente.
O cabo marine David Marques Vicente, 25 anos, integrava o 2º Batalhão da 1º
Divisão de Marines. Foi morto em 2003 e está sepultado em Methuen, MA, onde
nasceu e residem os pais, naturais de Lisboa. Dias antes do funeral, um
familiar do malogrado jovem deslocou-se a New Bedford e pediu ao então cônsul
de Portugal, Fernando Teles Fazendeiro, uma bandeira portuguesa para Vicente
a levar no caixão. Embora tenha dado a vida pelos EUA, David Vicente levou a
bandeira portuguesa no caixão.
Com a devida vénia ao jornalista Eurico Mendes do jornal de língua portuguesa dos Estados Unidos Portuguese Times
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Caros amigos,
Eurico Mendes, jornalista do Portuguese Times que se publica em New Bedford, MA, nasceu em Lisboa e vive nos EUA desde 1973.
Frequentou o CISMI, Tavira, em 1958. Foi colocado no Regimento de Infantaria 1, na Amadora.
Já na disponibilidade, com o eclodir do terrorismo em Angola, foi chamado novamente às fileiras do Exército, tendo sido colocado como monitor na Escola de Oficia, em Mafra, onde foi mobilizado pra o Batalhão de Caçadores 317.
Em Setembro de 1961, com o posto de 2° Sargento, seguiu para Angola, onde cumpriu a sua comissão de serviço, que terminou em Fevereiro de 1965.
Após o serviço militar fixou residência em Carmona, no Norte de Angola, onde dirigiu a Rádio Clube de Uíge.
Um abraço amigo.
José Câmara
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