Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta etnografia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta etnografia. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27535: Documentos (46): Brochura "Missão na Guiné", da autoria do Estado Maior do Exército. 3ª ed. (Lisboa, SPEME, 1971, 78 pp.) - Parte IV: "aspecto humano" (pp. 25-38)




- 33  - 
Dançarinos bijagós


 - 34 -
"Homerns Grandes" da Guiné, um dos quais é oficial de 2ª linha


- 35 -
 Tabanca fula


- 37 -

Edifício dos CTT em Bissau


- 38 -

Bolama


Capa do livro: Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". 

Lisboa: SPEME, 1971, 77, [5] p., fotos.


1. Tem valor sentimental e documental esta brochura do Estado Maior do Exército, que nos era distribuída já a bordo do navio que nos transportava para a Guiné (ou do avião dos TAM, a partir de finais de 1972). Estamos a reprodiuzir a brochura da 3ª edição,  de 1971.

Tem 77 páginas (mais 5 inumeradas) e é ilustrada com  9 fotos.  Tudo a preto e branco. Baratinho. A edição é do SPEME (Serviço do Publicações do Estado Maior do Exército).  Em 1967 (de 1958 a 1969) era Chefe do Estado Maior  (CEME) o gen Luís Câmara Pina (1904-1980). 

É constituída por três partes: 

(i) Missão no Ultramar; 
(ii) Monografia da Guiné: aspeto físico, humano e económico; 
(iii) Informações úteis. 

Vamos agora reproduzir a II parte da "monografia da Guiné: aspecto humano" (ou seja, sucinta caracterização etnográfica dos povos que habitavam, na época, o território).

 A ordem é pelo  peso demográfico de cada um (segundo o  censo de 1960 que registou cerca de 544,2 mil habitantes): dos grupos étnico-linguísticos mais importantes (balantas e fulas, com < de 100 mil) aos "minoritários" (> 10 mil) (Felupes, baiotes, sossos, nalus)... 

No meio (> 100 mil e < 10 mil) posicionavam-se os restantes: 

  • manjacos (65 mil), 
  • mandingas ( 60 mil), papéis (40 mil), 
  • beafadas (ou biafadas) (13,5 mil), 
  • brames ou mancanhas (12,5 mil), 
  • bijagós (12,5 mil), 
  • futa-fulas (10 mil). 

Na altura, há 65  anos, antes do início da guerra,  os balantas (150 mil) e os fulas (120 mil) representavam praticamente metade (49,6%) da população total (ou 51,5%, se juntarmos os futa-fulas aos fulas).

A leitura deste livrinho também contribuiu para a replicação de alguns estereótipos, criados pela antropologia colonial portuguesa: por exemplo:

  • islamizados  (em vez de muçulmanos, de pleno direito, impuros,continuando a adorar o "Irã" e/ou a beber o vinho de palma;
  • por seu turno,não há "cristianizados",  mas só cristãos;
  • balanta = ladrão de gado, bêbedo, brigão, homem do mato, "cabeça dura", turra, cabr-macho,  excêntrico como o  Pansau Na Isna;
  • fula= polígamo, que põe as mulheres a trabalhar no campo; semi-feudal;  "cão dos tugas";
  • futa-fula = casta superior;
  • manjaco = marinheiro;
  • mandinga = artesão (ourives, ferreiro, músico); "o antigo dono daquilo tudo";
  • papel = o malandro de Bissau (como o 'Nino' Vieira);
  • biafada = "robusto mas indolente";
  • bijagó = pobre diabo subjugado pelo matriarcado;
  • felupe = caçador de cabeças; ferozmente independente;
  • nalu = o anáo da floresta do Cantanhez em vias de extinção;  
  • mancanha= reguila (como Vitor Sampaio, da CCAÇ 12), etc.
Estes estereótips multiplicam-se  nas história das unidades...(Teremos oportunidade de selecionar alguns exemplos em próximos postes).

PS - Se nos reportarmos à realidade de hoje, a populaçáo total mais do que quadriplicou em 65 anos: 2,272 milhões (no final de 2025), com a seguinte distribuição (em %) dos principais grupos étnicos: 

  • fulas (28,5)
  • balantas (22,5)
  • mandingas (14,7)
  • papéis (9,1)
  • manjacos (8,3)
  • beafadas (3,5)
  • mancanhas (3,1)
  • bijagó (2,1)
  • felupe (1,7)
  • mansoanca (1,4)
  • balanta mané (1)
  • outros (4,1)
Total=100

Religião: muçulmanos (50%), animistas (40%), cristãos (10%)

Principais aglomerados populacionais (em milhares, por arredondamento)
  • Bissau: 709,1 (quase 40 vezes mais do que em 1959, que era estimada em 18 mil);
  • Bafata: 22,5 (4 mil, estimativa de 1959; 
  • Gabu:  14,4 (antiga Nova Lamego);
  • Bissorã: 12,7;
  • Bolama: 10,8 (3 mil, estimativa de 1959);
  • Cacheu:  10,5.
Total= 780 mil (=34,3% do total da população)

- 25 - 



- 26 -

- 27 - 



- 28 - 



- 29 - 



- 30 - 


- 31 -

- 32- 


- 36 - 


Fonte: excertos de Portugal. Estado Maior do Exército: "Missão na Guiné".  Lisboa: SPEME, 1971, pp. 25-38.

(Seleção, edição de fotos e páginas, fixação de texto: LG)

__________________

Nota do editor LG:

(*) Vd. postes anteriores da série :


domingo, 26 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27353: S(C)em Comentários (80): o "Toca-choro" entre os mancanhas de Bula e Có




Guiné- Bissau > Bissau > 15 de junho de 2025 > Jovens balantas de Encheia à porta da sede da Impar Lda, na Av Domingos Ramos, 43 D, Bissau, CP 489


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto do poste P26948 (*):

Esccreveu o Patrício Ribeiro:

(...) Estes 3 jovens que estão na foto, informaram que fazem parte da “cultura balanta”, vieram das tabancas balantas da região de Bissorã, estes 3 são de Encheia.

Nesta época, final da campanha de caju, os camponeses têm algum dinheiro, para poderem fazer as suas cerimónias.

Há muitos “choros”, são precisas muitas vacas e porcos, as pessoas ficam com dívidas para pagar durante muito tempo, porque o dinheiro não chega e as festas são grandes, para não ficarem atrás das cerimónias dos amigos. (...)


´

Guiné > Zona Leste > Regiáo de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento e reordenamento de Nhabijões > 1970 > O furriel miliciano Henriques, da CCAÇ 12, junto a um dos locais de culto dos irãs (espíritos da floresta), conhecidos por "baloubas".. A população era maioritariamente balanta, animista. Era conhecida a sua colaboração com o PAIGG, sobretudo com as populações e os guerrilheiros de Madina/Belel, no limite do Cuor, a Noroeste de Missirá.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
.

2. Nota do editor LG sobre o "Toca-choro" (***)

Escreveu o Aua Silá (**)

(...) A realização do Toca-Choro para os Mancanhas supõe a crença na imortalidade da alma e a ideia de valorização da solidariedade com os nossos ancestrais, pois o Toca-Choro nos permite manter esse laço de convivência simbólica entre o mundo dos vivos e dos mortos. 

Por outro lado, (...) se o ritual do Toca-Choro não for feito, a alma da pessoa morta vagueia, pode voltar ao mundo dos vivos para fazer mal a família.

A cerimônia de Toca-Choro realiza-se logo após a morte e sepultamento de um falecido, por vezes, acontece um ano depois ou mais, depende das condições da família em conseguir os recursos necessários para a realização da cerimônia, de modo que, neste ritual,  são sacrificados vários animais para comunhão  (...). 

(...)  O Toca-choro é realizado através da cotização (abota) feito por parentes do falecido para ajudar na realização da cerimônia, de modo que se verifica a predominância de várias comidas e bebidas. Nesta cerimônia são sacrificados muitos animais, a exemplo de: vacas, porcos e cabras. 

Normalmente, este ritual acontece durante três dias:
  • O primeiro dia se inicia com o toque de bombolom para comunicar o resto da família para participar na mesma cerimónia.
  • No segundo dia se começa com cântico e dança no momento de sacrificar os animais (karmusa).
  • O terceiro ou o último dia é marcado pela manifestação (festa) em que predomina a “música moderna”. 
Também, se verifica carnes em quantidade e bebidas; tudo isso é criado por diferentes grupos participantes (mandjuandadi) (... ) no ritual. 

Esse é um dia de muita animação em que são consumidas bebidas alcoólicas (carni ku binho mangadel), muita carne e vinho, isso em homenagem aos que já partiram. 

Na prática de Toca-Chora existe sempre um indivíduo responsável pela realização da cerimônia de um falecido. Essa pessoa tem a função de fazer de tudo em colaboração com o restante dos familiares para realizar essa cerimónia, para poder garantir com que a sua cerimonia seja feita após a sua morte também e assim sucessivamente.(...)

Acrescenta o editor LG:


(...) Que me lembre, assisti numa tabanca balanta, nos arredores de Bambadinca, a um "choro"... Alguém tinha morrido umas horas ou um dia antes... 

Havia já um grande ajuntamento de pessoas à volta da morança. E manifestações de dor, como em qualquer parte do mundo. Mas o que retive na memória foi o espetáculo, macabro, de um bando de "jagudis" (abutres), poisados na cobertura de colmo da morança...O "jagudi" sente o cheiro da morte à distância...

segunda-feira, 23 de junho de 2025 às 08:51:00 WEST 

(...) Outro espetáculo macabro: num operação do outro lado do rio Geba (margem esquerda), entre o Enxalé e Portogole, num trilho, mas protegido por densa vegetação, encontrámos o cadáver de um guerrilheiro morto : já não era cadáver em decomposição, era um simples esqueleto, vestido de caqui amarelo (!)....

A morte teria ocorrido há uma semana, na opinião dos meus soldados... Mas já não havia um pedaço sequer de pele... As formigas e outros predadores limparam, literalmente, o cadáver... Na natureza nada se perde.. Mas este desgraçado não teve ninguém que lhe fizesse o "choro"...

.segunda-feira, 23 de junho de 2025 às 09:01:00 WEST 

(...) A propósito do "choro" na Guiné-Bissau...Lembro-me, há muitos anos, um médico guineense, meu aluno (mancanha ou brame), me dizer que tinha de ir à terra fazer o "choro" (a cerimónia do luto) da mãe...Já se tinham passado dois anos depois da morte da mãe...  Nesses dois anos andou a trabalhar em Portugal para juntar dinheiro...

E quando lhe perguntei o número de pessoas que ia convidar para o "choro", lembro-me de ter ficado surpreendido: 200 pessoas numa "festa" de muitos dias...

segunda-feira, 23 de junho de 2025 às 09:39:00 WEST
____________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 22 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26948: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (57): jovens balantas de Encheia à porta da Impar Lda... e um mergulho na piscina do antigo Clube Militar de Oficiais

(**) SILÁ, Aua. O povo Brame ou Mancanha da Guiné-Bissau: um estudo sobre ritual fúnebre Toca-Choro (Toka Tchur). 2019. 28 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Humanidades) - Instituto de Humanidades e Letras, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, São Francisco do Conde, Disponível em formato pdf em: https://repositorio.unilab.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1482/1/2019_proj_auasila.pdf

(***) Último poste da série > 23 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27343: S(C)em Comentários (79): Das "Vinhas de Ira" às "sopas de cavalo cansado", passando pelos verdes que me faziam azia... Tudo isto para dizer que prefiro...os maduros (Virgílio Teixeira, Vila do Conde)

domingo, 24 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27148: Felizmente ainda há verão em 2025 (22): Em Angola, nem todos os sobas eram regedores e nem todos os regedoreseram sobas


Foto de capa da página do Facebook do FAAT-Fórum Angolano das Autoridades Tradicionais (com a devida vénia...). A página foi criada em setembro de 2021 mas parece não estar ativa.  

"Quimbo", ou sanzala, no português de Angola, é o equivalente a tabanca (na Guiné): conjunto de casas que formam uma aglomeração rural (termo que vem do quimbundo, kimbo).



1. Angola, a joia da coroa do "império colonial português" (no tempo do Estado Novo), merece que o blogue da Tabanca Grande fale dela de vez em quando. Tem, de resto, mais de 600 referências... Afinal, fomos parar à Guiné...por causa de Angola!... 

O tema de hoje,  ainda em pleno verão (*), é sobre:


Sobas e Regedores: Autoridades Coloniais Locais, em Angola


António Rosinha, Patrício Ribeiro, Fernando Ribeiro, Jaime Silva, João Rodrigues Lobo e "outros angolanos" da Tabanca Grande não precisam de ser convidados: a vossa experiência vivida de Angola dá-vos autoridade para "meter a vossa colherada"  na discussão deste tema que também interessa aos "amigos e camaradas da Guiné"...

É um tema da área da antropologia e da história da administração colonial... Alguns de nós, como eu, gostariam de saber mais. (**) 

Havia uma diferença semântica e conceptual entre sobas e regedores, na Angola do tempo colonial. Embora muitas vezes fossem usados  indevidamente como se fossem sinónimos. Não são sinónimos. (O termo usado em Angola não era régulo, mas regedor, de acordo com a oportuna chamada de atenção do Fernando Ribeiro; como, de resto, vem consagrado na carta orgânica do Império Colonial Português, Decreto-lei 23228, de 15 de Novembro de 1933).

Na Angola do período colonial, os termos soba e regedor eram frequentemente utilizados para designar as autoridades tradicionais africanas (ou "gentílicas"), mas existia uma diferença fundamental entre eles, assente na origem da figura (e do vocábulo ) e na relação com a administração portuguesa. 

Soba vem do quimbundo "soba"... Essencialmente, soba era a designação endógena e ancestral,  enquanto regedor ou  régulo era a terminologia colonial que implicava uma integração no sistema colonial e na subordinação ao poder português (o termo "régulo"era usado na Guiné e e Moçambique)

O soba era a figura de autoridade tradicional, um chefe que já existia nas estruturas sociais e políticas dos diversos reinos e povos de Angola muito antes da chegada dos portugueses. 

O seu poder emanava de linhagens ancestrais, do controlo da terra e de uma legitimidade cultural e espiritual reconhecida pela sua comunidade. 

Os sobas desempenhavam um papel crucial na:
  • administração da justiça, 
  • distribuição de terras, 
  • condução de rituais;
  • defesa e segurança do seu povo. 

A sua autoridade era intrínseca à organização social local. Existia uma hierarquia entre eles, com a figura do "soba grande", que detinha poder sobre um conjunto de  outros sobas e sobados (territórios governados por um soba).

Por outro lado, sabe-se que em determinadas regiões de Angola há (ou havia no passado) um conselho de sobas que escolhe o soba: noutras a sucessão é (ou era)  realizada por linhagem em que o sobrinho, filho de uma irmã, toma(va) o lugar do seu tio por morte deste. Não sabemos como as coisas se passam hoje, cinquenta anos depois da independência de Angola.

 Por outro lado, o termo régulo, que deriva do latim  regulu(m)  (da palavra regulus, -i, rei jovem, rei de um pequeno estado), ou melhor, regedor,  era a designação que a administração colonial portuguesa atribuía aos chefes locais que eram incorporados na sua estrutura administrativa.

Ao se referir a um soba como regedor (ou "régulo", como , de resto, ainda vem nos dicionários portugueses para agravar a confusao!), o poder colonial não só traduzia a sua função para a sua própria compreensão hierárquica, mas também o diminuía simbolicamente, em termos de estatuto: de líder soberano tradicional, carismático,  passava a "pequeno rei" subalterno...

A transformação de um soba em regedor ocorria, na prática, quando este passava a atuar como um intermediário da administração colonial. As suas principais funções enquanto regedores incluíam;

  • a cobrança de impostos:
  • o recrutamento de mão de obra forçada (o "chibalo") (***):
  •  e a manutenção da ordem, de acordo com os interesses portugueses. 

Em troca, o regedor podia receber certos privilégios ou "honrarias",  como uma pequena remuneração, uniformes ou o reconhecimento e apoio militar da administração colonial contra rivais. 

Na Guiné, uma das formas de captação das simpatias dos régulos, ainda no tempo do governador,  gen Arnaldo Schulz,  era a organização de viagens a Meca, a expensas do Estado português: vd. aqui imagens de Lisboa > Aeroporto > 1968 > Partida de régulos da Guiné para a peregrinação a Meca, depois de visita oficial a Portugal. Vídeo da RTP Arquivos (Noticiário Nacional de 1968 > 3 de março de 1968 > Preto e branco, duração 56 segundos. Sem som.)

É importante notar que nem todos os sobas eram regedores ou se tornaram regedores. Muitos resistiram à dominação portuguesa e foram, por isso, combatidos e, por vezes, substituídos por indivíduos mais dóceis à administração colonial, que eram então empossados como regedores.

Em suma, a principal diferença residia na origem e na legitimação do poder:

(i) Soba:  

  • termo de origem africana, já existente antes da colonização;
  • designava um líder com autoridade tradicional e legitimidade interna na sua comunidade ou grupo étnico, anterior e, em muitos casos, independente do poder colonial;
  • o cargo era hereditário e estava ligado às tradições, linhagens e rituais locais;
  • tinha funções políticas, jurídicas (resolução de conflitos), espirituais e sociais, sendo uma figura central na organização das comunidades.
(ii) Regedor: 
  • termo de origem portuguesa (régulo só se usava na Guiné e em Moçambique);
  • régulo: derivado de regulu(m) e usado em contexto colonial para traduzir ou reinterpretar a figura dos chefes locais africanos;
  • regedor é o que dirige uma regedoria (unidade administrativa, que na metrópole era a freguesia, até 1974);
  • designava um líder local a quem a administração colonial reconhecia e delegava certas funções, inserindo-o na sua estrutura de poder e tornando-o, na prática, um funcionário subalterno do Estado colonial;
  •  não era necessariamente o mesmo que o soba, mas no terreno, muitas vezes, os colonizadores usavam o termo para designar esses chefes;
  • no fundo, era  uma categoria administrativa colonial.

  • o Estado colonial reconhecia oficialmente alguns chefes como regedores e subordinava-os à sua hierarquia, atribuindo-lhes funções de autoridade local no quadro da administração indireta ("indirect rule", dos ingleses).


Portanto, embora na prática um mesmo indivíduo pudesse ser um soba para o seu povo e um regedor para os portugueses, os termos carregam conotações e realidades políticas distintas que refletem a complexa e, muitas vezes, contraditória e tensa relação entre as autoridades tradicionais angolanas e o poder colonial português.

 Em resumo:
  • Soba = conceito autóctone, com legitimidade tradicional;

  • Regedor = conceito colonial, oficializado para fins administrativos, podendo coincidir ou não com a figura do soba.

Muitos sobas foram convertidos em regedores pela administração portuguesa, mas nem todos os régulos eram vistos como verdadeiros sobas pelas comunidades, o que gerava tensões e até conflitos.

Apresenta-se a seguir um quadro comparativo simples  para se perceber melhor a distinção entre soba e regedor na Angola colonial (que passou a ser "província ultramarina" com a reforma de 1951):


AspetoSoba (conceito autóctone)Regedor  (conceito colonial)


Origem do termo
Línguas banto (ex.: umbundo, quimbundo)Português (tal como régulo, derivado de regulu(m) (pequeno rei; o que rege)
Natureza
Cargo tradicional e espiritual, enraizado na cultura local
Categoria administrativa criada pelo poder colonial
Legitimidade
Hereditária, baseada em linhagem, tradição e rituais
Reconhecimento e nomeação pela administração colonial
Funções
Mediação de conflitos, chefia política, autoridade espiritual, guardião dos costumes
Autoridade local no quadro da “administração indireta”, recolha de impostos, apoio ao controlo colonial
Reconhecimento
Pela comunidade, segundo costumes próprios
Pelo Estado colonial, como “autoridade gentílica” oficial
Perceção localFigura respeitada, parte integrante da identidade culturalMuitas vezes visto como uma imposição externa (quando o regedor não coincidia com o verdadeiro soba)


Em suma: 

  • o soba representava a continuidade da tradição, a legitimidade pré-colonial; 
  • o regedor representava a adaptação (e em muitos casos apropriação) dessa autoridade ao sistema colonial.

Vejamos como a distinção entre sobas e regedores afetou as relações entre colonizadores e populações em Angola durante o período colonial:

(i) Administração indireta
  • o Estado colonial português não tinha capacidade para controlar diretamente todas as regiões  (por exemplo Angola, com 1,2 milhões de km2 era cerca de 14 vezes maior que a "metrópole", o "Puto", como lhe chamavam os colonos);

  • por isso, utilizava os sobas já existentes, reconhecendo-os (ou substituindo-os) como regedores;

  • isso permitia que a autoridade colonial chegasse ao nível local através de figuras tradicionais, mas com funções adaptadas aos interesses coloniais (o mesmo se passou com o império colonial britânico).

(ii) Tensões de legitimidade

  • quando o verdadeiro soba era reconhecido como regedor, a comunidade aceitava-o com relativa naturalidade;

  • mas, quando o governo colonial nomeava como regedor alguém que não tinha legitimidade tradicional, isso gerava conflitos internos:

    • uns seguiam o “soba legítimo” (mesmo sem reconhecimento colonial);

    • outros eram obrigados a obedecer ao “regedor oficial”, imposto pela administração.

  • Esse “duplo poder” minava tanto a coesão das comunidades como a própria confiança nas autoridades locais; as suas contradições foram exploradas pelos movimentos nacionalistas que lutavam pela independência.

(iii) Instrumentalização política
  • Muitos regedores passaram a ser usados como instrumentos do poder colonial:

    • recolha de impostos;

    • organização do trabalho forçado (contratos e recrutamento) (trabalho forçado que existiu até 1961);

    • fiscalização e denúncia de resistências (implicando, por vezes, a colaboração com as autoridades militares e policiais durante a guerra colonial).

  • Isto fez com que alguns regedores  fossem vistos como colaboracionistas, perdendo 
    prestígio junto da sua própria comunidade.


(iv) Resistência e negociação
  • houve sobas que se recusaram a aceitar o estatuto de regedor, mantendo apenas a sua autoridade tradicional, mesmo sob risco de represálias;

  • outros souberam negociar: aceitavam o papel de regedor para garantir alguma margem de manobra e proteger a comunidade, mas continuavam a agir como guardiões dos costumes;

  • assim, muitos sobas/regedores desempenhavam uma função ambígua, entre mediadores e representantes do poder colonial;

  • depois da independência, houve ajustes de contas (mais violentos na Guiné e em Moçambique do que em Angola, mas isso é outra história; no caso da Guiné, por exemplo, terá havido uma "militarização" da figura do régulo, que também podia ser um cabo de guerra, comandante de uma companhia de milícias).


Em suma:  a distinção entre soba e regedor, em Angola,  criou uma fratura entre legitimidade tradicional e legitimidade colonial. Isso foi explorado pelos colonizadores para controlar as populações, mas também abriu espaço para resistências subtis ou abertas, conforme cada comunidade e cada líder.

Leitura complementar > Trabalho de um grupo de alunos da Universidade Católica de Benguela , Departamento de Ciências da Educação, 2012 >  O Sobado. Blogue Pedagogia e Vida. 27 de junho de 2013. 

Índice da monografia (com cerca de 3 dezenas de páginas):

 Introdução |  Sanzala e Sobado | Sobado | Autoridade tradicional (Soba)  | Eleição dos sobados | Poderes | Privilégios  fundamentais dos sobas | Sobas em relação ao matrimónio | Lugares sagrados | Estrutura do poder mágico-religioso | Sobetas | Conselheiros | Conclusão | Sugestões | Referências bibliográficas.



Selo da Companhia do Niassa, 1901, no valor de dois réis e meio. Cortesia de Wikipedia.


(***) Chibalo é o conceito de servidão por dívida ou ou uma forma trabalho forçado, que esteve em vigor  nomeadamente em Moçambique (...)
 
Em 1869, a monarquia constitucional portuguesa aboliu oficialmente a escravidão, mas mantiveram-se resquícios (como o trabalho forçado para efeitos de obras públicas: pro exemplo, a construção do caminho de ferro de Benguela).

Em Moçambique, o trabalho forçado era conhecido como "chibalo". Este sistema estava intrinsecamente ligado à cobrança do "imposto de palhota", um imposto de capitação que obrigava os africanos a procurar trabalho assalariado e a entrar no circuito da economia monetarizada para poderem pagar. Quem não pagava,  era compelido a trabalhar para o Estado, muitas vezes em condições piores do que as oferecidas pelo setor privado,

Chibalo foi usado para construir infraestruturas (pontes, estradas, portos, aeródromos, etc.).  Apenas os colonos portugueses e assimilados recebiam educação e estavam isentos deste trabalho forçado. (...)

Sob o regime do Estado Novo, os o chibalo foi usado em Moçambique, por exemplo,  para cultivar algodão . A Companhia do Niassa  (uma "companhia majestática") é um exemplo do tipo de empresas que poderiam florescer desde que tivessem acesso a uma força de trabalho não remunerada. (...)
 
 Todos os homens de idade adequada tiveram que trabalhar nos campos de algodão, que se tornaram inúteis para a produção de alimentos, levando à fome e desnutrição. (Fonte: Adapt de Wikipedia)

chibalo
(chi·ba·lo)

nome masculino

1. [Moçambique] [História] Regime de trabalho forçado através do qual a administração colonial fornecia mão-de-obra barata aos colonos de grandes propriedades (ex.: a duração do chibalo era estipulada pelas autoridades locais). (...)

2. [Moçambique] [História] Trabalhador submetido a esse regime de trabalho.

Sinónimo geral: Xibalo

Origem: do tsonga.

"chibalo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/chibalo.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27064: As nossas geografias emocionais (56): a Nhacra que eu conheciu no final da guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)



Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 > Foto 249 > Fonte do Vale,  desvio para a estrada para Cumeré

Foto nº 249 do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav , MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)




Guiné > Bissau > Nhacra > Agosto de 1971 >  O João Moreira em cima do espaldão do morteiro 81

Foto nº 212  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 >Posto retransmissor da Emissora Oficial da Guiné, com anti-aéreas

Foto nº 227  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

Fotos (e legendas): © João Moreira  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
 


Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Aspeto da entrada e porta-de-armas do quartel


Foto (e legenda): © Eduardo Campos   (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério":  esteve aqui, em Cadique, em pleno coração do Cantanhez, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de dezembro de 1972 a 17 de agosto de 1973.

 Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007)./ Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Condensação de 2 textos do  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano. Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008.

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas das suas memórias de  Nhacra, que ficava as escassas duas dezenas e meia de quilómetros, a norte de Bissau.


A Nhacra que eu conheci no final da guerra

por Eduardo Campos 




1. Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”


A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o subsector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

A área do subsector de Nhacra, tinha por limite:

  • a Norte o Rio Mansoa, 
  • a sul o Rio Geba, 
  • a Oeste o Canal do Impernal 
  • e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa. Havia também a ligação entre Nhacra e Cumeré, em estrada asfaltada.

As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas.

Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaraterísticas, em que os relevos praticamente não existiam. Er apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… 

Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal.

Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”.

A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies. Além dos animais considerados domésticos (bovinos, caprinos, suínos e galináceos), destacavam-se as gazelas, os porcos-espinhos, os macacos, as hienas e as cabras do mato.

Nas aves destacavam-se os pelicanos, as garças os periquitos, além das perdizes, rolas, codornizes, galinha-do-mato, patos, sem esquecer  os jagudis. (...)



2. Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329, aquartelado em Oco Grande,  e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.


O IN não possuía dentro da nossa ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma atividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7; e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram:

  •  a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra,
  •  o itinerário Bissau–Mansoa;
  •  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia distribuíam-se por dois regulados: 
  • o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe; 
  •  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais. 

Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, com a condicionante, porém,  do ancestral costume tribal que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. 

Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um ato não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. 

O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres ("choros").

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar,  em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham:
  • apoio médico/sanitário, 
  • transporte em viaturas militares, 
  • assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia,
  •  sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)


______________

Nota do editor LG:


terça-feira, 22 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27043: Notas de leitura (1822): 2ª edição do livro do nosso José Saúde, "Aldeia Nova de São Bento" (Lisboa, Edições Colibri, 2021, 299 pp.)



Foto nº 1 > Aldeia Nova de São Bento, concelho de Serpa,  anos 30 > O Poço do Lobo  (1)... Hoje fica na Rua do Poço do Lobo. A povovoação, cuja origem remonta à guerra da restauração (Séc. XVII) foi elevada à categoria de vila em 1988.


Fotos nºs 2 > Aldeia Nova de São Bento, concelho de Serpa, anos 30 > O Poço do Lobo  (2)


Foto nº 3 > Aldeia Nova de Sáo Bento, concelho de Serpa > s/d > Rapariga com "enfusa" à cabeça


Foto nº 4 >  Aldeia Nova de Sáo Bento > Serpa   > José saúde, o autor quando jovem... Aos 9 meses, em 1951...Vê-se o braço da mãe, que o ampara...

José Saúde > Página do Facebook > Fotos do seu álbum (Com a devida vénia...). Presume-se que as fotos nºs 1,2 e 3 sejam do domínio público. (LG)


Fotos (e legendas): © José Saúde (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso José Saúde,  jornalista e escritor, ex-fur mil OE/Ranger, CCS/BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74), antigo desportista, "aldeano", hoje a viver emn Bejam membro da nossa Tabanca Grande, com 255 referências no nosso blogue, publicou em 2021 o seu decimo livro;

José Saúde - "Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Gentes" 2.ª ed. Lisboa: Edições, 2021, 299 (Prefácio de David Monge da Silva) (Preço de capa atual: 14,40 €).

Apraz-nos registar que a obra foi muito bem aceite pelos seus conterrâneos, pelo que já saiu uma 2ª edição. Vão daqui as nossas palmas para ele e os demais "aldeanos".

Aproveiutamos para publicar, editadas, algumas fotos do seu álbum, disponíveis na sua página do Facebook.


Sinopse

Recanto de imensas conversas, a bica, onde o pessoal da nossa aldeia recorria para encher mais uma “enfusa” de água ou para atestar mais uma pipa instalada num carro de animais que se protegiam debaixo de um enorme chorão ali existente, era um local deveras enternecedor.

(…) Mulheres trajando com os xailes pretos, assim como outras com lenços atados à cabeça, outras com “enfusas” já cheias e transportadas irrepreensivelmente sobre a nuca, outras esperando, gentilmente, que chegasse a sua vez para chegarem às bicas de água, que eram duas, uma menina de pé descalço, um burro que bebia na pia localizada a meio. Enfim, pedaços de histórias que ficam aqui retratadas e que visam trazer à opinião pública um passado que merece um inexcedível respeito.

***

(...) "Ao ler estas deliciosas crónicas regresso de imediato à minha infância e adolescência, a um tempo de felicidade em que todos os nossos familiares e amigos estavam connosco para nos ajudar a crescer e descobrir, sem sobressaltos, o mundo e a vida.

(...) Tudo hoje é diferente. O passado apenas subsiste na minha memória, nas minhas recordações. Somos as nossas memórias. Somos quem fomos. É a nossa história que nos caracteriza e define.

(...) Eu e o Zé Saúde vivemos a nossa infância e juventude nas décadas de 50 e 60, conhecemos a nossa aldeia com a sua população máxima, e acompanhámos o seu progressivo decréscimo.

(...) As memórias que nos são trazidas nesta obra situam-se, sobretudo, nestas duas décadas, trazem-nos personagens, profissões, modos de vida, relações sociais e formas de convívio que não voltarão mais. Há que ler atentamente para que os mais idosos recordem as suas vivências e os mais novos conheçam um pouco do que foi a vida dos seus pais e avós. Este livro é serviço público." (...)


David Monge da Silva | Fonte. Edições Colibri, página do Facebook, 19de dezembro de 2021 


Sobre o autor, José Saúde:

(i) nasceu em Aldeia Nova de São Bento no dia 23 de novembro de 1950, todavia, o seu registo oficial de nascimento reporta-se a 23 de janeiro de 1951;

(ii) desportivamente, iniciou a sua carreira futebolística no Despertar Sporting Clube e aos 16 anos ingressou no Sporting Clube de Portugal;

(iii) como jogador sénior representou o Desportivo de Beja, o FC Serpa e em 1974 foi um dos grandes impulsionadores do futebol de competição na Aldeia Nova de São Bento ao reativar a atividade no Clube Atlético Aldenovense;

(iv) tem colaborado ativamente na Imprensa Regional e Nacional como comentador desportivo.e como cronista do que foi a vida dos seus pais e avós;

(v) tem uma dezena de livros publicados, sobre a sua história de vida,  incluindo  a sua experiència omo militar na Guiné, durante a guerra colonial.


__________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 18 de julho de 202 > Guiné 61/74 - P27030: Notas de leitura (1820): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) - 3 (Mário Beja Santos)