Foto nº 1A e 1 > Jovens balantas de Encheia à porta da sede da Impar Lda, na Av Domingos Ramos, 43 D, Bissau, CP 489
Foto nº 2 > Antiga piscina do Clube Militar de Oficiais, hoje integradas num complexo hoteleiro (que começou por ser, a seguir à independência, o Hotel 24 de Setembro)
Guiné-Bissau > Bissau > 15 de junho de 2025
Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
![]() |
Patrício Ribeiro |
Português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado desde criança em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola (1969/72), a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e ex-director técnico da firma Impar, Lda; é um "histórico" nossa Tabanca Grande (que integra desde 6/1/2006): é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses; é o nosso "embaixador" em Bissau, colaborador permanente para as questões de ambiente, geografia e economia, autor da série "Bom dia, desde Bissau": tem cerca de 190 referências no nosso blogue.
1. Mensagem do Patrício Ribeiro
Data - 15/06/2025, 14:00
Assunto - Bom dia, desde Bissau
Bom dia, desde Bissau...
Hoje domingo, um grupo duas dezenas de jovens vieram visitar a Praça de Bissau.
Estes 3 jovens que estão na foto, informaram que fazem parte da “cultura balanta”, vieram das tabancas balantas da região de Bissorã, estes 3 são de Encheia.
Nesta época, final da campanha de caju, os camponeses têm algum dinheiro, para poderem fazer as suas cerimónias.
Há muitos “choros”, são precisas muitas vacas e porcos, as pessoas ficam com dívidas para pagar durante muito tempo, porque o dinheiro não chega e as festas são grandes, para não ficarem atrás das cerimónias dos amigos.
Como hoje é domingo, vou dar um mergulho à piscina da antiga messe dos oficiais, junto ao QG e almoçar lá.
Como hoje é domingo, vou dar um mergulho à piscina da antiga messe dos oficiais, junto ao QG e almoçar lá.
Quando cheguei á Bissau, em 1984 , vai fazer agora uns anos, acompanhado por uma equipa de colegas, era aqui que tomávamos banho, com sabão e toalha de banho, com água pelo joelho, não havia água em mais nenhum local do Hotel 24 de Setembro,
Era assim o nome que o hotel tinha naquela data… depois já mudou de nome 2 vezes (ver foto da piscina).
A chuva hoje vai deixar dar o mergulho… ela chegou com força no início de junho, praticamente chove todas as noites, a humidade e o calor é aquela o que vocês conheceram quando por cá andaram.
Abraço. Patrício
_________________
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 24 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26610: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (56): Bubaque, o mercado de rua no cais de embarque
Último poste da série > 24 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26610: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (56): Bubaque, o mercado de rua no cais de embarque
6 comentários:
Já passaram 40 anos , parece que foi ontem!
Com a ajuda do Gemini IA / Google, procurámos responder à pergunta: "Os 'choros' na Guiné-Bissau, entre os balantas e outras etnias, ficam muito caros e quem os realiza hipoteca-se... É verdade ?"
Resposta (sem indicação de fontes específicas):
Sim, a afirmação de que os "choros" na Guiné-Bissau, especialmente entre os Balantas e outras etnias, se tornaram muito caros e levam à hipoteca das famílias é amplamente reconhecida e uma preocupação social significativa.
Os "choros" são cerimónias fúnebres tradicionais que desempenham um papel crucial na cultura e nas crenças de muitas etnias na Guiné-Bissau, incluindo os Balantas. Estas cerimónias são ricas em rituais e simbolismo, e são vistas como essenciais para garantir o repouso do falecido e a continuidade das tradições familiares e comunitárias.
No entanto, ao longo do tempo, os custos associados a estas cerimónias têm vindo a aumentar exponencialmente. Isso deve-se a vários fatores, entre os quais:
(i) Pressão social: existe uma forte pressão social para realizar choros grandiosos e dispendiosos, como forma de honrar o falecido e demonstrar o estatuto da família; não cumprir estas expectativas pode levar ao ostracismo social;
(ii) Despesas com alimentação e bebida: os choros frequentemente envolvem a alimentação de um grande número de pessoas por vários dias, o que acarreta custos elevados com produtos alimentares, bebidas e até mesmo animais para sacrifício;
(iii) Roupas e adornos: as famílias gastam somas consideráveis em roupas tradicionais e outros adornos para os participantes e para o falecido;
(iv) Transporte e alojamento: para famílias que vivem fora das suas aldeias de origem, os custos de transporte e alojamento para os participantes também podem ser significativos.
(v) Ofertas e presentes: é comum fazerem-se ofertas e presentes a figuras importantes da comunidade e a outros participantes.
Consequências da onerosidade dos choros
O impacto financeiro desses eventos é devastador para muitas famílias, levando a consequências como:
(i) Endividamento: as famílias frequentemente contraem empréstimos a juros elevados ou vendem bens valiosos, como terras, gado ou imóveis, para cobrir os custos dos choros. Isso pode levar a um ciclo de dívida difícil de quebrar;
(ii) Pobreza: o alto custo dos choros pode empurrar as famílias para a pobreza extrema, afetando a sua capacidade de investir em educação, saúde ou outras necessidades básicas;
(iii) Disputas familiares: a pressão para contribuir financeiramente pode gerar conflitos e tensões dentro das famílias e das comunidades;
(iv) Interrupção do desenvolvimento: a canalização de recursos financeiros para os choros pode desviar investimentos potenciais que poderiam impulsionar o desenvolvimento económico e social das comunidades.
Em suma, embora os "choros" sejam uma parte vital da cultura guineense, a sua crescente onerosidade representa um desafio sério, com consequências sociais e económicas profundas para as famílias e comunidades, levando muitas vezes ao endividamento e à hipoteca de bens.
Que me lembre, assisti numa tabanca balanta, nos arredores de Bambadinca, a um "choro"... Alguém tinha morrido umas horas ou um dia antes... Havia já um grande ajuntamento de pessoas à volta da morança. E manifestações de dor, como em qualquer parte do mundo. Mas o que retive na memória foi o espetáculo, macabro, de um bando de "jagudis" (abutres) poisados na cobertura de colmo da morança...O "jagudi" sente o cheiro da morte à distância...
Outro espetáculo macabro: num operação do outro lado do rio Geba (margem esquerda), entre o Enxalé e Portogole, num trilho, mas protegido por densa vegetação, encontrámos o cadáver de um guerrilheiro morto : já não era cadáver em decomposição, era um simples esqueleto, vestido de caqui amarelo (!)....
A morte teria ocorrido há uma semana, na opinião dos meus soldados... Mas já não havia um pedaço sequer de pele... As formigas e outros predadores limparam, literalmente, o cadáver... Na natureza nada se perde...
A propósito do "choro" na Guiné-Bissau...Lembro-me, há muitos anos, um médico guineense, meu aluno (mancanhe ou manjaco), me dizer que tinha de ir à terra fazer o choro de um familiar...Já se tinham passado 2 anos depois da morte da mãe (ou do pai, já não posso precisar...). Nesses dois anos andou a trabalhar em Portugal para juntar dinheiro...
E quando lhe perguntei o número de pessoas que ia convidar para o "choro", lembro-me de ter ficado surpreendido: 200 pessoas numa "festa" de muitos dias...
Nem com o socialismo soviético se alterava a situação.
Luís Graça, se acharmos que estava errado ou certo, estas atitudes seculares ou milenares, nem com mais 500 anos com ou sem Amilcar se alterava nada.
Nem devia alterar, a vida é de cada qual.
Enviar um comentário