Vídeo 0' 15'' > Trabalho da execução das rachas de cibe.
Até parece fácil...o martelo pesa de 15 a 20 kg.
O rachador usa duas cunhas, uma em madeira e outra em metal...
Foto nº 1 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela > Catão > 5 de março de 2025 > Casa felupe (1)
Foto nº 2 > Guiné- Bissau > Região de Cacheu > Varela > Catão > 5 de março de 2025 > Casa felupe (2)
Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela > Catão > 5 de março de 2025 > Casa felupe > Troféus...Na foto, da varanda de uma casa Felupe...podem ver (desta vez) diversas queixadas de porco...(Fazem parte do cerimonial do pedido de casamento das meninas de 6 ou 7 anos aos respetivos pais, pelos rapazes com 18 a 20 anos, mas os casamentos só são celebrados quando elas têm 20 anos !)
Fotro nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Maio de 2021 > A minha casa ao entardecer, às 6h30
Foto nº 5 > Guiné- Bissau > ERegião Cacheu > Varela > 5 de março de 2025 > A minha "datcha" felupe... E tudo o fogo levou...
Foto nº 6B, 6A e 6 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela > 5 de março de 2025 > Rachar cibes, para a cobertura da minha casa (1)
Foto nº 7 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela > 5 de março de 2025 > Rachar cibes, para a cobertura da minha casa (2)
Vídeo e fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado desde criança em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola (1969/72), a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e ex-director técnico da firma Impar, Lda; é um "histórico" nossa Tabanca Grande (que integra desde 6/1/2006): é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses; é o nosso "embaixador" em Bissau, colaborador permanente para as questões de ambiente, geografia e economia, autor da série "Bom dia, desde Bissau" (*)
1. O Ribeiro Patrício mandou-nos, no passado dia 5, uma série de fotos da sua morança, em Varela, que está a ser reconstruída, depois de consumida pelo fogo, além de um pequeno vídeo sobre o trabalho de "rachar cibes", com cunha e martelo...
Luis: Tentei enviar algumas fotos que não sei se passaram todas, a Net em Varela não é uma ciência excata. ciência exata.
As fotos nº 1 e 2 mostram casas felupes em Catão, nos arredores de Varela.
Na foto nº 3, na varanda de uma casa Felupe, podem ver (...desta vez) diversas queixadas de porco...São usadas nas cerimónias de pedido de casamento das meninas de 6 ou 7 anos aos respetivos pais, pelos rapazes com 18 a 20 anos... (Mas os casamentos só são celebrados quando elas têm 20 anos !)
Na foto nº 4 (tirada em maio de 2021), eis como era minha querida palhota na praia de Varela... Ardeu, com o fogo que veio do mato sem controle....Eis o que resta, ao fim de 27 anos, da minha casa de praia (Foto nº 5)... A palha é bonita...mas aconteceu também a uma tabaca Felupe próxima. Este ano tem estado vento muito forte, são as alterações climáticas.
Estou a reconstrui-la. E ficam a saber como se arranja "rachas de cibes" (que eram utilizadas nos reordenamentos). É a forma, muito antiga, de arranjar barrotes para cobrir as casas. É um trabalho difícil, duro (Fotos nºs 6 e 7). O produto final serve para cobrir 90% das casas da Guiné (Foto nº 8).
Envio também um pequeno vídeo. Até parece que é fácil rachar cibes...Mas martelo pesa de 15 a 20 kg.
Fiquem também com uma informação metereológica: Carnaval em Varela durante o dia, 28 graus, à noite muito, frio 18 graus... Para quem não tem roupa quente passa mal.
Último poste da série > 8 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26475: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (54): a caminho de Bubaque, contando os 30 navios de pesca industrial junto à ilha de Rei e à illha dos Pássaros, fora as centenas de canoas nhomincas...
Mantenhas. Patrício
_______________
Nota do editor:
6 comentários:
Patrício, lamento que a tua "datcha" tenha tido, ao fim de 27 anos, este fim pouco glorioso... Mas tu não és homem para capinar sentado... E muito menos para ficar a carpir... Boa reconstrução...
Vi milhares e milhares de cibes a serem desembarcados no porto do Xime para a construção do gigantesco reordenamento de Nhabijões... Nunca tinha visto o trabalho, penoso, de rachar cibes... Mas lembro-me ainda do preço por que ficava, à tropa, cada racha de cibe: 7,5 pesos...(=3 maços de SG filtro).
Patrício, tirando o João Uloma (da 1ª CCmds Africanos), não conheci mais nenhum felupe na Guiné...E nunca fui para esses lados, o noroeste da Guiné...
Diz-me uma coisa, para ver se eu percebo: qual o significado das queixadas de porco expostas na parede na morança ? Todos os anos o pretendente tem que oferecer um porco ao futuro sogro ? Dos 6 aos 20 anos (das meninas), seriam 14 porcos, 14 queixadas...Ou então: é a morança de um homem com muitas filhas, e muitos genros... Tu falas em "troféus"...Tu, que também és etnógrafo, explica lá isso à gente...
Meu bom amigo Patrício, lastimo a perda da tua "datcha" naquela bela Varela... Passámos lá muitos bons "bocados", já lá vão oito anos, mais propriamente em Março de 2017... Sei que de pouco te adiantará para o imediato mas, se eu puder ajudar na sua reconstrução, espera mais umas semanas e poderás ter mais um par de braços para te auxiliar... Quem sabe? Para o nosso amigo Luis Graça, para falar sobre as tradições Felupes, não quero opinar nada perante quem tem tão profundos conhecimentos como o Patrício! Eu, limitei-me a fazer companhia ao amigo Patrício na visita a uma aldeia Felupe onde, naquele tempo, foi fazer a aquisição de colmo para a cobertura da casa que agora ardeu... Bem hajam!!!
Ninguem terá montado tantas casas (em madeira) em Bissau, mas não era com cibes.
Já aqui escrevi sobre a "epopeia" dos reeordenamentos no tempo do Spínola:
" (...) Já não nos lembramos quantas rachas de cibe levava uma casa... Só a estrutura do telhado, com cobertura de folha de zinco, deveria levar pelo menos umas 20... Mais outro tanto, para suportar o telhado ao longo do varandim a toda a volta.
O total de casas em construção em Nhabijões era de 350, fora os equipamentos coletivos ou sociais... Na altura falava-se que cada racha de cibe ficava ao exército em 7$50 (sete pesos e meio)...
Um total de 15 mil rachas de cibe, é nossa estimativa do material transportado do Xime para Nhabijões, com um custo direto de mais 100 contos. (Em 1970, a preços de hoje, seria qualquer coisa como 33,5 mil euros)...
Se, entre 1969 e 1974, as Forças Armadas no CTIG ajudaram a construir 15 mil casas, no total das tabancas reordenadas e, admitindo que cada casa, com colmo ou chapa de zinco, levasse pelo menos 50 rachas de cibe, temos um total de 750 mil rachas de cibe, com um custo de 5,6 mil contos (a preços de 1971 representariam hoje cerca de 1 milhão e 700 mil euros...
Uma tal quantidade de rachas de cibe (e admitindo que um tronco dava 4 rachas) terá implicado o abate de 187,5 mil palmeiras, dependendo da altura de cada uma (o que, num pequeno território como o da Guiné, corresponderia a um gigantesco palmeiral; o nome científico desta palmeira é Borassus aethiopum; tem tradicionalmente grande importância na construção civil; pode atingir os 20-30 metros de altura, pelo que o seu espique ou tronco dará mais do que 4 rachas)." (...)
4 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25336: A nossa guerra em números (25): Reordenamentos populacionais: materiais (das rachas de cibe às chapas de zinco) e custos
Caro Patricio e amigos,
Acho que seria mais correto chama-los de rachas de palmeiras, pois cibes nao sao e, se calhar nem de boas palmeiras se trata, pois nao tem a consistencia necessaria para aguentar as chuvas tropicais da Guine-Bissau com uma cobertura de palha que tambem ja perdeu suas antigas qualidades.
Cdte,
Cherno AB
Enviar um comentário