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segunda-feira, 10 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26569: (In)citações (263): Palavras de homenagem e de agradecimento da família do Valdemar Queiroz da Silva (1945-2025): "Perdi um pai mas encontrei muitos tios! (José da Silva) | "Pai, como você diria de uma forma muito teatral, no final de uma boa garrafa de vinho: Deste..? Deste já não há mais! " (Maaike da Silva)






1. Mensagem José da Silva, filho do nosso já saudoso e sempre querido Valdemar Queiroz (1945-2025) (*), seguida do texto que a esposa, neerlandesa, Maaike da Silva, leu na cerimónia fúnebre, no sábado à tarde, no Cacém (**):


Data - domingo, 9/03/2025 23:18  

Boa noite,  sr. Graça.

Escrevi um pequeno texto de agradecimento que, se possivel, gostava que publicasse no blog.
Repito os meus agradecimentos pelos ultimos dias, sr. Graça.
Cumprimentos,
Zé da Silva


Caros camaradas,

Alguém deve de ter dito um dia que quando algo perde, algo de novo se encontra. Essa é a ideia com que fiquei dos atribulados e emocionantes dias que se passaram. As palavras que foram chegando através de emails, mensagens e dos diversos post no blog da Tabanca Grande, deram força e acima de tudo transmitiram uma amizade por parte dos camaradas do meu pai. 

Durante a cerimónia funebre de sábado dia 8 de março, um camarada disse (e peço desculpa mas não me recordo quem foi...) " Desde que nos lembramos de alguém, esse alguém está sempre presente", e é assim que o meu pai estará sempre presente. Basta nos lembrar dele. 

Contaram-se histórias e aventuras ( eu nem sabia que o meu pai tinha veia para locutor de rádio....) mas tenho que confessar do que mais gostei de ouvir foi o orgulho que o meu pai tinha do seu filho e especialmente dos seus netos.

Perdi um pai mas encontrei muitos "tios"!

Muito, muito obrigado por parte do filho, da nora e dos netos do Valdemar Queiroz.

Bem haja a todos e ficou a promessa de um até uma próxima oportunidade.


2. Texto da esposa do José da Silva, Maaike da Silva:


Meu querido pai,

Sento-me aqui em Colares a olhar para o salgueiro chorão que está aqui em frente à casa. O salgueiro chorando como metáfora para a montanha-russa dos últimos dias. Sinto-me especialmente triste pelo período difícil que teve. Mas,  quando olho atentamente para os ramos do salgueiro chorão, vejo a nova vida de uma primavera se aproximando e, ao mesmo tempo, também sinto gratidão pelos anos que pude conhecê-lo. 

Muitas lembranças passam pela minha mente. Lembro-me do nosso primeiro encontro, do casamento com o seu filho e do leitão que levou na bagagem de mão no avião. Uma bela história que continua a ser contada anos depois. Memórias dos primeiros anos, quando as crianças ainda eram pequenas. 

Que avô orgulhoso você sempre foi para nossos filhos, fez quilómetros de material de filme e fotos durante as férias . O suficiente para nos enviar nos meses seguintes. 

Lembro-me dos anos em que se sentava à nossa mesa com a mãe e a avó Joana durante a época natalícia. Belas lembranças ..... 

As histórias e anedotas que você poderia transmitir como nenhum outro. Os guardanapos que foram dobrados em tops de biquíni. Isso para a grande hilaridade dos netos e de nós.

 Apesar de a sua saúde se ter deteriorado ao longo dos anos, manteve-se positivo. Mesmo quando já não podia estar connosco durante as férias, que grande tristeza e perda. A sua forma de se manter em contacto connosco, enviando emails com vídeos da história de Portugal, fotos e filmes de seus netos que você fez durante a temporada de Natal e férias. Sempre em contato,  sem raiva e deceção. Isto apesar de também ter dado tristeza por a distância ser tão grande. 

Sempre cheio de interesse pelos netos, especialmente quando você tem um smartphone, o contato entre você e os netos se tornou mais rápido e fácil. Nos anos seguintes quando as crianças cresceram e puderam ir para Portugal de forma independente e visitar os avós. Você poderia viver e reviver essas tais visitas por meses. 

Muitas vezes desejei e esperei que fosse diferente, que pudéssemos viver mais juntos. No entanto, a vida correu de outra maneira. O lar é onde está o coração e você sempre estará no meu coração. 

Pai, vou sentir sua falta. Levamos as histórias e memórias connosco para a memória coletiva da Família da Silva. E,  para terminar como você diria de uma forma muito teatralmente no final de uma boa garrafa de vinho: "Deste..? Deste já não há mais!"

Boa viagem meu pai

Até nos encontrarmos novamente
muitos beijinhos, tua filha Maaike.


______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé: são palavras que vão calar fundo nos nossos coração.

Um beijinho para as tuas "meninas". Chicoração para ti. Luis (esquece o senhor...)

PS - Antes de ires embora (daqui a quinze dias), manda-te por email o teu número de telefone e repete o nome da cidadezinha (de 50 mil habitantes), que fica perto da fronteira com a Bélgica... Sou duro de ouvido, não fixei...

Anónimo disse...


Antonio Duarte (by email)
10 mar 2025 09:25

Bom dia, Luís

Obrigado pela partilha.

Textos comoventes e que nos fazem dizer... "valeu a pena viver".

Abraço e obrigado pela tua disponibilidade para partilhar,
António Duarte

Anónimo disse...

Eduardo Francisco
10 mar 2025 10:23

Os " irmãos" do Valdemar agradecem as profundas e sentidas palavras do seu filho e nora, doravante nossos " sobrinhos ", nas memórias do homem que fica nos nossos corações como exemplo de lutador, solidariedade e humanismo.
Bem hajam. Obrigado
Que sejam muito felizes.

Abraço fraterno

Eduardo Estrela

Anónimo disse...

Quero agradecer à família do Valdemar o modo como nos mostram o quanto estão próximos de nós, a maneira como se nos dirigem e nos deixam o seu afecto. Obrigado.

Um grande abraço para os filhos e netos do nosso querido Valdemar.
Carvalho de Mampatá

Fernando Ribeiro disse...

Como não sei fazer versos, deixo aqui a minha homenagem ao Valdemar sob a forma de um poema de Pedro Homem de Melo, que foi um apaixonado por Afife, a terra natal do Valdemar. A região de Afife é evocada neste poema onde se lê: «...a terra a que chamei — minha mulher —». Quase no fim do poema, Pedro Homem de Melo refere dois lugares concretos situados na região de Afife, chamados Adro e Cabanas. Em Adro está o poeta enterrado e em Cabanas tinha ele uma residência secundária, onde se refugiava sempre que podia.


Eternidade

A minha eternidade neste mundo
Sejam vinte anos só, depois da morte!
O vento, eles passados, que, enfim, corte
A flor que no jardim plantei tão fundo.

As minhas cartas leia-as quem quiser!
Torne-se público o meu pensamento!
E a terra a que chamei — minha mulher —
A outros dê seu lábio sumarento!

A outros abra as fontes do prazer
E teça o leito em pétalas e lume!
A outros dê seus frutos a comer
E em cada noite a outros dê perfume!

O globo tem dois pólos: Ontem e hoje.
Dizemos só: — Meu pai! ou só: — Meu filho!
O resto é baile que não deixa trilho.
Rosto sem carne; fixidez que foge.

Venham beijar-me a campa os que me beijam
Agora, frágeis, frívolos e humanos!
Os que me virem, morto, ainda me vejam
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!

Nuvem subindo, anis que se evapora…
Assim um dia passe a minha vida!
Mas, antes, que uma lágrima sentida
Traga a certeza de que alguém me chora!

Adro! Cabanas! Meu cantar do Norte!
(Negasse eu tudo acreditava em Deus!)
Não peço mais: — Depois da minha morte
Haja vinte anos que ainda sejam meus!


Pedro Homem de Melo

Anónimo disse...

Até sempre Valdemar, um dia nos vamos encontrar, já que nesta terra nunca cheguei a conhecer-te. Já estamos a sentir a tua falta nos comentários sempre oportunos e todos os dias !
Obrigado por nos ensinares também muita coisa,
Fé para a tua familia, que vai ultrapassar estes momentos trágicos.

Um amigo deste blogue

Virgilio Teixeira





Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ele que precisava de alento, é que nos dava força... Recordo a sua mensagem natalícia de 18/12/2024:

(...) É com grande entusiasmo que vos desejo Boas Festas, embora não esteja de boa saúde, ainda cá estou e sem me esquecer da rapaziada que esteve na guerra da Guiné há mais de meio século. (...).

Vamos ter muitas saudades tuas, meu Lacrau.